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CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 1 BACHARELADO EM DIREITO DIREITO EMPRESARIAL PROFESSOR: JOÃO PAULO LIMA CAVALCANTI DIREITO EMPRESARIAL – PARTE GERAL 1. DIREITO EMPRESARIAL: conjunto de normas jurídicas que disciplinam as atividades empresárias. Adota-se na lei brasileira a teoria da empresa, onde empresa é sinônimo de atividade econômica organizada e exercida por empresário (pessoa física/natural ou sociedade empresária). 2. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL FONTES PRIMÁRIAS: FONTES LEGAIS (leis). - Código Civil de 2002 (CC, matéria); - Legislações Esparsas (matérias específicas): - Direito Falimentar (Lei 11. 101/2005); - Direito Societário (Lei 6.404/1976); - Direito Cambiário (Lei Uniforme de Genebra, que regula as letras de Câmbio e as notas promissórias); - Lei 7.357/1985, que regula os cheques; - etc. FONTES SECUNDÁRIAS: USOS E COSTUMES MERCANTIS Para que os usos e costumes sejam reconhecidos, exige-se que a prática seja: - uniforme; - constante; - observada por certo período de tempo; - exercida de boa-fé; - não seja contrária à lei. 3. EMPRESÁRIO Não se fala mais em comerciante como sendo aquele que habitualmente pratica atos de comércio. Fala-se, agora, em empresário, que é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. CC, Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Como indicado pelo referido artigo, empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. - pessoalidade (“quem exerce”): aquele que pratica a atividade empresarial. Pode ser pessoa física ou jurídica. - profissionalmente: só será empresário aquele que exercer determinada atividade econômica de forma profissional, ou seja, que fizer do exercício daquela atividade a sua profissão habitual. Aquele que exercer atividade econômica de maneira esporádica, por exemplo, não será considerado empresário. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 2 - atividade econômica: a expressão atividade econômica enfatiza que empresa é uma atividade exercida buscando o lucro. - organizada: significa que o empresário é aquele que articula fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia). - produção ou circulação de bens e serviços: expressão que demonstra a abrangência da teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei. O empresário pode ser um empresário individual (pessoa física) ou uma sociedade empresária (pessoa jurídica). Quando se fala em empresário pessoa jurídica (sociedade empresária) deve-se entender que os seus sócios não são empresários: o empresário é a própria sociedade empresária, que possui patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios que a integram. OBS. Pessoa jurídica é nomenclatura utilizada no Direito para designar uma entidade que pode ser detentora de direitos e obrigações e à qual se atribui personalidade jurídica. 4. EMPRESA: empresa é uma atividade econômica organizada com a finalidade de fazer circular ou produzir bens e serviços. Empresa é, portanto, atividade, algo abstrato. Empresário, por sua vez, é quem exerce empresa. Assim, a empresa não é sujeito de direitos. Exemplo: a empresa faliu; a empresa importou mercadorias. Termo empregado erroneamente. Quem fale ou importa é o sujeito de direito que explora a atividade empresária, ou seja, o empresário. EMPRESÁRIO/ SOCIEDADE EMPRESÁRIA EMPRESA Sujeito de direito que pratica a atividade de empresa Atividade econômica organizada Quem é sujeito de direito é o titular da empresa, ou seja, o sujeito de direitos é o empresário (que pode ser pessoa física ou jurídica). Não se deve confundir empresa com sociedade empresária/empresário. Este, na verdade, é aquele que exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada. Empresa e empresário são noções que se relacionam, porém não se confundem. Também não se deve confundir empresa com estabelecimento empresarial. Este é o complexo de bens que o empresário usa para exercer uma empresa, isto é, exercer uma atividade econômica organizada. Exemplo: a empresa está pegando fogo; a empresa foi reformada. Termo empregado erroneamente. Quem pega fogo ou é reformada não é a empresa, que é uma atividade econômica, mas o estabelecimento comercial. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL EMPRESA Complexo de bens utilizados pelo empresário para a prática da empresa Atividade econômica organizada CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 3 5. NOME EMPRESARIAL Assim como as pessoas físicas/naturais possuem um nome civil, o qual nos identifica nas relações jurídicas de que participamos cotidianamente, os empresários – empresário individual ou sociedade empresária – também devem possuir um nome empresarial. O direito ao nome empresarial, segundo a doutrina majoritária, é um direito personalíssimo. Nome empresarial consiste na expressão que identifica o empresário nas relações jurídicas que eles formalizam em decorrência do exercício da atividade empresária. O nome é um sinal distintivo que identifica o empresário no exercício de sua atividade. O nome empresarial possui duas funções relevantes, uma de ordem subjetiva e outra de ordem objetiva. Subjetiva: individualizar e identificar o sujeito de direitos exercente da atividade empresarial. Objetiva: de lhe garantir reconhecimento, fama, renome etc. Ressalta-se a importância em distinguir o nome empresarial e outros elementos de identificação do empresário (marca, nome de fantasia, nome de domínio e sinais de propaganda. Marca: é sinal distintivo que identifica produtos ou serviços do empresário (art. 122 da Lei 9.279/1996). Sua disciplina é tratada no âmbito da propriedade industrial. Nome de fantasia: expressão que identifica o título de estabelecimento. Nome de domínio: é o endereço eletrônico dos sites dos empresários na internet. Exemplo: um empresário poderia se cadastrar na Junta Comercial como o nome Paulo Cavalcanti Comércio e Distribuição de Livros (nome empresarial). Contudo, para identificar o meu negócio adotaria o nome Livraria Veneza Brasileira (nome de fantasia). Caso o suposto empresário resolvesse identificar os livros por ele editados poderia criar uma marca chamada Veneza Brasileira, que identificaria seus próprios produtos e livros por ele editados (marca, pois identificaria seus produtos e que deveria ser registrada no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Por fim, ele poderia criar um site na internet (nome de domínio): www.livrariavenezabrasileira.com.br. O direito contempla duas espécies de nome empresarial: FIRMA: só pode ter por base o nome civil, do empresário individual ou dos sócios da sociedade empresária de pessoas (de responsabilidade ilimitada). Sempre conterá um ou mais nomes civis (de pessoa natural/física). Pode vir com ou sem referencia a atividade econômica. Serve como assinatura e pode ser social ou individual. A firma serve como assinatura, seja ela individual ou social, do empesário ou da sociedade, respectivamente Exemplo: Antônio Silva Pereira é empresário individual. A firma pode ser: Silva Pereira, Livros Técnicos ou simplesmente Silva Pereira. DENOMINAÇÃO: deve designar o objeto da empresa e pode adotar o nome civil (de pessoa natural/física) ou outraexpressão lingüística. Atentar para a necessidade de referência ao ramo da atividade econômica. É usada em regra pelas sociedades em CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 4 que todos os sócios respondem de forma limitada (sociedade limitada e sociedade anônima). Não serve como assinatura, apenas como elemento identificador. Apenas pode ser social. Exemplo: A. Silva & Pereira Cosméticos Ltda. (denominação baseada em nomes civis); Alvorada Cosméticos Ltda. (denominação baseada em elemento fantasia). A firma é privativa de empresários individuais e sociedades, enquanto a denominação é privativa de sociedades. Como diferenciar firma de denominação? Se não houver referência ao ramo da atividade econômica não pode ser denominação; se fundado em expressão diversa do nome civil, não pode ser firma. Observação: nome de fantasia identifica o título do estabelecimento. A grosso modo está para o nome empresarial assim como o apelido está para o nome civil. Exemplo: ARTHUR LUNDGREN TECIDOS S/A, cujo nome fantasia é CASAS PERNAMBUCANAS. O nome fantasia é protegido pelo direito nacional. De acordo com o tipo societário utilizado pela sociedade empresária (LTDA, AS, N/C, C/A etc) o nome empresarial usado variará conforme a espécie e até mesmo conforme a estrutura da sociedade constituída. O tema será melhor abordado no assunto sociedade empresárias. Por hora um pequeno resumo: Firma: Empresário Individual Sociedade em Nome Coletivo Sociedade em Comandita Simples Denominação: Sociedade Anônima Firma ou Denominação: Sociedade Limitada Sociedade em Comandita por Ações DA FORMAÇÃO DO NOME EMPRESARIAL O nome empresarial deve obedecer aos princípios da veracidade e da novidade, segundo o art. 34 da Lei 8.934/1994. Princípio da veracidade: o nome empresarial não poderá conter nenhuma informação falsa. Sendo a expressão que identifica o empresário em suas relações como tal, é imprescindível que o nome empresarial só forneça dados verdadeiros àquele que negocia com o empresário. Por obediência ao princípio da veracidade, pode ser que em alguns casos seja obrigatória a alteração do nome empresarial. Exemplos: quando se provar, após o registro, a coexistência do nome registrado com outro já constante da Junta Comercial; quando ocorrer a morte ou a saída de sócio cujo nome conste na firma da sociedade; quando houver transformação, incorporação, fusão ou cisão da sociedade. Princípio da novidade: consiste na proibição de se registrar um nome empresarial igual ou muito parecido com um já registrado. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 5 Art. 1.163, CC: Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga. PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL Cabe à Junta Comercial em que o empresário ou a sociedade empresária requereu o arquivamento de seus atos constitutivos proceder à análise da eventual colidência entre nome empresarial levado a registro e outro nome empresarial já registrado, consultando seus assentamentos. Salienta-se que a proteção ao nome empresarial quanto ao princípio da novidade se inicia automaticamente a partir do registro e é restrita ao território do Estado da Junta Comercial em que o empresário se registrou (art. 1.166, CC). Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial. Importante, também, é o ar. 11 da IN/DNRC (Instrução Normativa - Departamento Nacional de Registro do Comércio): Art. 11. A proteção ao nome empresarial decorre, automaticamente, do ato de inscrição de empresário ou do arquivamento de ato constitutivo de sociedade empresária, bem como de sua alteração nesse sentido, e circunscreve-se à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que o tiver procedido. Ou seja, nada impede que um empresário na Bahia registre um nome empresarial idêntico ao de um empresário, mais antigo, com atuação em Pernambuco, salvo se este obteve o direito de usar exclusivamente seu nome empresarial em todo o território nacional (parágrafo único do art. 1.166, CC). OBS. Para a proteção do nome em âmbito nacional, deve-se proceder o registro da “marca” junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), ou terá que registrar o nome na Junta Comercial de cada Estado em que pretenda atuar. O CC dispõe em seu art. 1.167, CC que: Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato. Por fim, aduz o art. 1.164, CC: Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 6 Ressalta-se que em muitas situações o deferimento, por parte das Juntas Comerciais, do arquivamento dos atos constitutivos de determinados empresários (PN ou PJ) é levado à apreciação do DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio), órgão que possui funções de orientação, coordenação, supervisão e normatização no âmbito do SINREM (Sistema Nacional de Registros de Empresas Mercantis) acerca de como proceder no caso de registros de nomes empresariais idênticos ou semelhantes a outros já registrados. Destaque para a Instrução Normativa 104/2007. Exemplo de caso apreciado pelo DNRC: já decidiu que não há colidência entre as denominações sociais Logística Ambiental de São Paulo S.A. – LOGA e LOGAJ Transportes e Logística LTDA., por não serem essas expressões iguais nem semelhantes, já que não são homógrafas (mesma grafia), nem homófonas (mesma pronúncia). Exemplo: decidiu que o uso de expressões originárias dos nomes dos sócios, de forma completa ou abreviada, sendo permitido por lei, não pode ensejar a colidência entre nomes empresariais. Portanto entendeu o DNRC que podiam coexistir normalmente os nomes empresariais Supermercados Bergamini LTDA. E Bergamini Comércio Virtual LTDA., já que a expressão Bergamini não pode ser objeto da alegada colidência. Ressalte-se também que os empresários individuais ou sociedades empresárias que se enquadrarem como microempresas ou empresas de pequeno porte deverão acrescentar aos seus respectivos nomes empresarias as terminações ME ou EPP, conforme o caso. Exemplo: Rafael Lima Cursos Contábeis – ME; JP Calçados LTDA – EPP). INFORMAÇÃO IMPORTANTE. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE EMPRESAS: MEI - ME - EPP 01.Quanto à Receita Bruta Anual - MIcroempreendedor Individual - MEI - Lei 123/06, art. 18-A - Até R$ 60.000,00 - Microempresa - ME - Lei 123/06 - Até R$ 360.000,00 - Empresa de Pequeno Porte - EPP - Lei 123/06 - De R$ 360.000,01 até R$ 3.600.000,00 02. Quanto ao número de Empregados O SEBRAE utiliza o critério por número de empregados do IBGE como critério de classificação do porte das empresas, para fins bancários, ações de tecnologia, exportação e outros. Indústria: Micro: com até 19 empregados Pequena: de 20 a 99 empregados Média: 100 a 499 empregados Grande: mais de 500 empregados Comércio e Serviços CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULOCAVALCANTI Página 7 Micro : até 9 empregados Pequena: de 10 a 49 empregados Média: de 50 a 99 empregados Grande: mais de 100 empregados Obs.: - O presente critério não possui fundamentação legal, para fins legais, vale o previsto na legislação do Simples (Lei 123 de 15 de dezembro de 2006). (fonte; SEBRAE) 6. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL. O complexo de bens reunidos pelo empresário (pessoa física ou jurídica) para o desenvolvimento de sua atividade econômica organizada (empresa) é o estabelecimento empresarial. O estabelecimento empresarial é a reunião dos bens necessários ao desenvolvimento da atividade econômica. Quando o empresário reúne bens de variada natureza, como as mercadorias, máquinas, instalações, tecnologia, prédio, etc., em função do exercício de uma atividade, ele agrega a esse conjunto de bens uma organização racional que importará em aumento do seu valor enquanto continuarem reunidos. Alguns autores usam a expressão “aviamento” para referir a esse valor acrescido, a esta aptidão do estabelecimento em gerar lucros. Exemplo: uma fábrica com toda sua aparelhagem possui maior valor comercial que o preço de suas máquinas e prédio vendidos separadamente. O estabelecimento empresarial é composto de bens corpóreos (mercadorias, instalações, equipamentos, utensílios, veículos etc. – e por bens incorpóreos – tal como marcas, ponto comercial, título de estabelecimento etc. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL Bens Corpóreos Mercadorias Instalações Veículos Etc Bens Incorpóreos Marcas Patentes Direitos Ponto Comercial NATUREZA JURÍDICA DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL As teorias adotadas pela doutrina são oriundas de Oscar Barreto Filho, chamadas de Teorias Universalistas. Universalidade, segundo a doutrina, é um conjunto de elementos que, quando reunidos, podem ser concebidos como coisa unitária, ou seja, algo novo e distinto que não representa a mera junção dos elementos componentes. No caso do estabelecimento empresarial, existe uma universalidade de fato, que corresponde àquela decorrente da vontade do empresário em reunir as coisas que a compõem. Diversamente da universalidade de direito que decorre, não da vontade, mas da lei (massa falida, espólio). CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 8 PONTO COMERCIAL. Dentre os elementos do estabelecimento empresarial, figura o chamado “ponto”, que compreende o local específico em que ele se encontra. Em função do ramo de atividade explorado pelo empresário, a localização do estabelecimento empresarial pode importar acréscimo, por vezes substantivo, no seu valor. Atualmente o ponto pode ter existência física ou virtual (site). PROTEÇÃO AO PONTO COMERCIAL (PONTO DE NEGÓCIO) A importância do ponto de negócio é caracterizada, basicamente, pela possibilidade de o empresário locatário permanecer no imóvel locado mesmo contra a vontade do locador. É o chamado direito à renovação compulsória de aluguel. A Lei que garante tal direito é a Lei 8.245/1991 (Lei do Inquilinato). Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; (requisito formal – contrato escrito) II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; (requisito temporal) Um ou mais de um contrato, desde a soma dos contratos seja ao menos de 05 anos e que não tenha havido interrupção entre eles. III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos. (requisito material) A Lei estende a proteção ao cessionário ou sucessor (trespasse) que o precedeu na locação: § 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário. Prazo para a renovação é dado pelo §5º: § 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor. Os requisitos procedimentais são trazidos pelo art. 71 da referida lei: Art. 71. Além dos demais requisitos exigidos no art. 282 do Código de Processo Civil, a petição inicial da ação renovatória deverá ser instruída com: I - prova do preenchimento dos requisitos dos incisos I, II e III do art. 51; II - prova do exato cumprimento do contrato em curso; III - prova da quitação dos impostos e taxas que incidiram sobre o imóvel e cujo pagamento lhe incumbia; CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 9 IV - indicação clara e precisa das condições oferecidas para a renovação da locação; V - indicação de fiador quando houver no contrato a renovar e, quando não for o mesmo, com indicação do nome ou denominação completa, número de sua inscrição no Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, endereço e, tratando-se de pessoa natural, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e o número da carteira de identidade, comprovando, em qualquer caso e desde logo, a idoneidade financeira; V – indicação do fiador quando houver no contrato a renovar e, quando não for o mesmo, com indicação do nome ou denominação completa, número de sua inscrição no Ministério da Fazenda, endereço e, tratando-se de pessoa natural, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e o número da carteira de identidade, comprovando, desde logo, mesmo que não haja alteração do fiador, a atual idoneidade financeira; (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009) VI - prova de que o fiador do contrato ou o que o substituir na renovação aceita os encargos da fiança, autorizado por seu cônjuge, se casado for; VII - prova, quando for o caso, de ser cessionário ou sucessor, em virtude de título oponível ao proprietário. Deve-se verificar que o direito à renovação compulsória do aluguel não é um direito absoluto, pois choca-se com o direito à propriedade do dono do imóvel (art. 5º, XXI, CF/88). Por essa razão, a Lei 8.245/1991 traz hipóteses legais em que o proprietário do imóvel poderá retomá-lo: Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: I - por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que importarem na sua radical transformação; ou para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade; II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente. Art. 72. A contestação do locador, além da defesa de direito que possa caber, ficará adstrita, quanto à matéria de fato, ao seguinte: I - não preencher o autor os requisitos estabelecidos nesta lei; II- não atender, a proposta do locatário, o valor locativo real do imóvel na época da renovação, excluída a valorização trazida por aquele ao ponto ou lugar; III - ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores; IV - não estar obrigado a renovar a locação (incisos I e II do art. 52). TRESPASSE (COMPRA E VENDA DE ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL) O contrato de compra e venda de estabelecimento empresarial é denominado de contrato de trespasse. Atualmente, a alienação do estabelecimento possui regras próprias, prescritas pelo Código Civil nos artigos 1.142 a 1.149. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 10 É importante destacar que o contrato de trespasse não pode ser confundido ou equiparado com a alienação de quotas de sociedade empresária ou de ações de uma sociedade anônima, sendo importante a seguinte ponderação: No trespasse, o estabelecimento empresarial deixa de integrar o patrimônio de um empresário (alienante) e passa para o de outro (adquirente). O objeto da venda é o complexo de bens corpóreos e incorpóreos envolvidos com a exploração de uma atividade empresarial. Já na cessão de quotas sociais de sociedade limitada ou na alienação de controle de sociedade anônima, o estabelecimento empresarial não muda de titular. Tanto antes como após a transação, ele pertencia e continua a pertencer à sociedade empresária. Essa, contudo, tem a sua composição de sócios alterada. Na cessão de quotas ou alienação de controle, o objeto da venda é a participação societária. (COELHO, Fábio Ulhôa) O valor do estabelecimento, em geral, é avaliado segundo a sua capacidade de gerar lucro e atrair a clientela, ou seja, pelo aviamento, e naturalmente é superior ao valor dos elementos que o compõe, razão pela qual é mais vantajoso se promover a alienação do estabelecimento empresarial, como uma universalidade de bens, do que promover a cessão individual dos bens corpóreos e incorpóreos que o integra. O art. 1143, CC, aduz que o estabelecimento pode ser negociado como um todo unitário (universalidade de fato): Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. Quando o estabelecimento empresarial é objeto de negociação (todo o estabelecimento de forma unitária) estaremos diante de um contrato de trespasse. Deve-se ressaltar que há no trespasse, igualmente, a transmissão da funcionalidade do estabelecimento. Pela leitura do art. 1.144, CC verifica-se que a condição de eficácia perante terceiros dá-se com o registro do contrato de trespasse na Junta Comercial e sua posterior publicação: Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. O art. 1.145. CC aduz que o empresário que visa à venda o estabelecimento empresarial tem que conservar bens suficientes para pagar as suas dívidas perante os credores ou, antes da venda, obter o consentimento deles para concretizar o contrato de trespasse. Os credores notificados deverão se manifestar em 30 dias, ou darão o consentimento tácito. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. Deve-se frisar que a alienação irregular do trespasse é considerada ato de falência. SUCESSÃO EMPRESARIAL (TRESPASSE) CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 11 O adquirente do estabelecimento empresarial obtido com o contrato de trespasse responde pelas dívidas existentes – contraídas pelo alienante – desde que regularmente contabilizadas. Deve-se frisar que embora o adquirente assuma todas as dívidas contabilizadas, o alienante fica solidariamente responsável por elas durante o prazo de 01 ano. Dívida já vencida: o prazo de 01 ano começa a contar da publicação do contrato de trespasse (art. 1.144, CC). Dívida a vencer (vincenda): o prazo é contado do dia do vencimento. Solidariedade passiva: quando um dos vários devedores (adquirente ou alienante, no caso) deva pagar tudo, como se fosse o único devedor. É necessário esclarecer que as dívidas objeto da sucessão empresarial são aquelas exclusivamente decorrentes da atividade empresária do alienante. As dívidas tributárias ou mesmo trabalhistas não contam para a sucessão empresarial (art. 1.146, CC). Falência e recuperação judicial: a alienação de estabelecimento empresarial em processo de falência ou recuperação judicial não acarreta para o adquirente do estabelecimento nenhum ônus, seja obrigacional (decorrente da atividade empresária), tributário ou trabalhista. CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA (TRESPASSE) Trazida pelo art. 1.147, CC: Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato. Solidifica o entendimento que mesmo na ausência de cláusula contratual expressa, o alienante tem a obrigação contratual implícita de não fazer concorrência ao adquirente do estabelecimento empresarial. O prazo de 05 anos visa evitar o desvio da clientela em detrimento do empresário adquirente do estabelecimento empresarial. Frisa-se que nada impede as partes de decidirem que o alienante pode se estabelecer a qualquer tempo (sem referência a qualquer prazo mínimo) ou estipular prazo diverso do trazido na lei (prazo maior ou menor). Qual o âmbito territorial de aplicação da cláusula de não concorrência? Não há espaço geográfico pré-definido. Caberá o estudo caso a caso pelo julgador. Deverá o julgador analisar se o restabelecimento do alienante configura concorrência ao adquirente e mesmo se essa concorrência provoca o desvio de clientela prejudicial. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 12 CLÁUSULAS IMPORTANTES NO CONTRATO DE TRESPASSE Art. 1.148, CC: Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação (transferência) do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. Como funcionaria o contrato de locação, nessa temática? Na Primeira Jornada de Direito Empresarial, foi decidido em seu Enunciado 08 que “A sub-rogação do adquirente nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de locação.”. Contudo, parte da doutrina entende não estar o contrato de locação aí abarcado por tratar-se de contrato de caráter pessoal (intuitu personae). A recomendação a cerca do assunto é de que se comunique ao locador sobre o trespasse e se obtenha dele concordância prévia, a fim de evitar inconvenientes. Devem ser inclusos nesse raciocínio os contratos de prestação de serviços, tal como o firmado com advogado ou contabilista, já que, em ambos os casos, os contratos possuem caráter pessoal, não se transmitindo automaticamente com o trespasse. Por último,verifica-se que o adquirente, ao mesmo tempo em que adquire as dívidas contabilizadas do alienante (art. 1.146, CC), obtêm, igualmente, todo o ativo contabilizado (art. 1.044, CC).. TÍTULO DO ESTABELECIMENTO (NOME FANTASIA). O elemento de identificação do estabelecimento empresarial não se confunde com o nome empresarial, que identifica o sujeito de direito empresário (pessoa física ou jurídica), nem com a marca, identidade do produto. Nome empresarial se difere de nome fantasia na medida em que ao primeiro cabe identificar o empresário que exerce a atividade empresarial e o segundo se refere apenas ao local onde é executada a atividade empresarial. Deste modo, um mesmo empresário pode desempenhar sua atividade em diversos locais mantendo um único nome empresarial, mas possuindo vários nomes fantasias referentes aos diferentes locais onde sua atividade empresarial é praticada. O nome de fantasia pode ser nominativo (expressões lingüísticas), figurativo (representações gráficas – também chamado insígnia) e misto (expressões lingüísticas grafadas de modo peculiar). Ele tem a função de diferenciar o empresário da concorrência (desta forma, não bastam apenas “expressões genéricas’’ como “café, restaurante, hotel”) e fazer publicidade de forma a atrair a clientela, além de ser importante para o próprio consumidor ter a oportunidade de optar qual o local prefere para que suas atividades sejam realizadas, decidindo de acordo com o nome fantasia onde se efetuarão suas compras. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 13 Exemplo: uma sociedade empresária (pessoa jurídica) pode chamar-se “Comércio e Indústria Antônio Silva Ltda”, ser titular da marca (nome do produto vendido) “Sabão Alvorada” e seu estabelecimento empresarial denominar-se “Loja da Esquina”. O ordenamento jurídico brasileiro reserva proteção específica ao nome de fantasia (título de estabelecimento). A Lei 9.279/1996 (Lei da Propriedade Industrial) em seus arts. 191, 194, 195, inciso V tratam do tema: Art. 191. Reproduzir ou imitar, de modo que possa induzir em erro ou confusão, armas, brasões ou distintivos oficiais nacionais, estrangeiros ou internacionais, sem a necessária autorização, no todo ou em parte, em marca, título de estabelecimento, nome comercial, insígnia ou sinal de propaganda, ou usar essas reproduções ou imitações com fins econômicos. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou expõe ou oferece à venda produtos assinalados com essas marcas. Art. 194. Usar marca, nome comercial, título de estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal de propaganda ou qualquer outra forma que indique procedência que não a verdadeira, ou vender ou expor à venda produto com esses sinais. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; Conforme leciona Fábio Ulhôa Coelho, "a proteção do título de estabelecimento se faz, atualmente, por regras de responsabilidade civil e penal, na medida em que caracteriza concorrência desleal (Lei de Propriedade Industrial, arts. 195, inciso V, e 209). O empresário que imitar ou utilizar o título de estabelecimento que outro havia adotado anteriormente deve indenizar este último pelo desvio eficaz de clientela". A prova no processo é, evidentemente, difícil. Não há um registro que demonstre quem foi o criador do título. Mesmo que se consiga comprovar quem o criou, não é nada fácil demonstrar a intenção do demandado de desviar a clientela. Deve se considerar, ainda, a possibilidade de ter ocorrido uma simples coincidência. COMÉRCIO ELETRÔNICO (NOME DE DOMÍNIO). A rede mundial de computadores (internet) tem sido largamente utilizada para a realização de negócios. Em razão disto, criou-se um novo tipo de estabelecimento, o estabelecimento virtual. Distingue-se do estabelecimento empresarial físico, em razão do meio de acesso. Nome de domínio: é o endereço eletrônico dos sites dos empresários na internet. Hoje é muito utilizado em virtude do desenvolvimento do chamado comércio eletrônico (e- commerce). Ressalta-se que, segundo o enunciado 7 da I jornada de Direito Comercial do CJF, o nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins do direito. Os estabelecimentos virtuais possuem endereço eletrônico, que é seu nome de domínio. Exemplo: o nome de domínio da Livraria Saraiva é o www.saraiva.com.br. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 14 7. AUXILIARES E COLABORADORES DE EMPRESÁRIO (PREPOSTOS) O empresário (pessoa física ou jurídica), como organizador de atividade empresarial deve necessariamente contratar mão de obra, que é um dos fatores de produção. Estes trabalhadores, sejam empregados ou prestadores de serviços, são chamados de prepostos. Exemplo: contabilista; gerente, funcionário. Uma regra importante diz respeito à proibição dos prepostos de fazerem concorrência com o empresário (art. 1.170, CC). Tal hipótese pode ainda configurar concorrência desleal (art. 195 da Lei de Propriedade Industrial – Lei 9.279/1996). O CC ainda estabelece que: Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor. Art. 1.177, Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos. Quando os atos contábeis forem praticados pelo preposto nos estabelecimentos dos preponentes, quem ficará responsável pelas conseqüências relativas à empresa será o próprio preponente, quando forem realizados fora de seu estabelecimento, ou seja, no escritório particular do preposto, este será responsável pelas conseqüências. É também responsável o contabilista que age de forma voluntária, conivente e dolosa junto com o preponente ou empresário. Isto reforça a posição de que o profissional deverá atuar com zelo, diligência e observância às normas legais, contábeis e de forma ética. O novo código civil enquadrou o contador e o técnico em contabilidade, que nas suas relações com seus clientes ou como empregado, são considerados prepostos, ficando assim, submetidos às determinações expressas do código e da legislação extravagante. O código trata a palavra contabilista em substituição a contador (inclui- se no art. o técnico em contabilidade). O preposto fica solidariamente responsável ao preponente, perante terceiros, quando pratica um ato doloso, risco de dano assumido, de forma intencional. Desta forma, se faz indispensável o contrato de prestação de serviços contábeis por escrito, devidamente assinando pelas partes e subscrito por duas testemunhas. Neste instrumento deverão constar de forma inequívoca os direitos e obrigações das partes. É importante também para a preservação da integridade profissional, moral, penal e patrimonial do contabilista, que se este for agir em nome do seu cliente ou preponente, exija sempre um instrumento procuratório, pois somente com uma procuração ou carta de preposição, poderá praticar os atos necessários, observando os limites dos poderes contidos no respectivoinstrumento de mandato. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 15 OBS: O termo caixa dois refere-se a recursos financeiros não contabilizados e não declarados aos órgãos de fiscalização competentes. Caixa dois é um dos instrumentos utilizados para sonegação fiscal. Quanto ao contabilista, só se pode dispensar seu auxílio se na localidade não houver nenhum. (art. 1.1182, CC). Quanto à escrituração do empresário: Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele. Lembrar da regra sobre responsabilidade solidária do art. 1.177, § único, no caso de conduta dolosa. Ou seja, um contador que crie, em suas funções, o chamado caixa dois, falsificando a escrituração do seu empresário de forma dolosa deve responder diante de terceiros. ESCRITURAÇÃO DO EMPRESÁRIO Uma das obrigações impostas ao empresário é a necessidade de seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o resultado econômico, segundo o art. 1.179, CC. Entende-se, portanto, que os empresários devem manter um sistema de escrituração contábil periódico, além de levantar, todo ano, dois balanços financeiros: o patrimonial e o de resultado econômico. A obrigação é tão importante que a legislação falimentar considera crime a escrituração irregular, caso a falência do empresário seja decretada (arts. 178 e 180 da Lei 11.101/2005). Ademais, pela importância que ostentam, os livros comerciais são equiparados a documentos públicos para fins penais, sendo tipificada como crime a falsificação, no todo ou em parte, da escrituração comercial (art. 297, §2º, Código Penal). Embora fale apenas em “livros”, os instrumentos de escrituração são: livros; conjunto de fichas e folhas soltas; conjunto de folhas contínuas; microfichas extraídas a partir de microfilmagem por computador. A escrituração do empresário é tarefa que a lei incumbe a profissional específico: o contabilista, o qual deve ser legalmente habilitado, ou seja, estar devidamente inscrito no órgão regulamentador de sua profissão (at. 1.182, CC). Ressalta, contudo, esse dispositivo que nos casos em que não exista contabilista habilitado na localidade, quando a tarefa de escrituração do empresário poderá ser exercida por outro profissional ou mesmo pelo próprio empresário. A doutrina aponta que, atualmente, o único livro obrigatório comum a todo e qualquer empresário é o livro diário que pode ser substituído por fichas no caso de adotada escrituração mecanizada ou eletrônica: Art. 1.180, CC. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Sendo o Diário o único livro obrigatório comum, são facultativos: os livros Caixa, no qual se controlam as entradas e saídas de dinheiro; o livro Estoque, Razão, que CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 16 classifica o movimento das mercadorias; Borrador, que funciona como um rascunho do Diário e o Conta Corrente, que é usado cara as contas individualizadas de fornecedores e clientes. Outros livros também poderão ser exigidos do empresário, por força de legislação fiscal, trabalhista ou previdenciária. Todavia, eles não podem ser considerados livros empresariais. Só recebem essa qualificação os livros que o empresário escritura em razão do disposto na legislação empresarial. No livro Diário devem ser lançadas “com individualização, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa”, podendo ser escriturado de forma resumida, conforme o disposto no art. 1.184 caput e §1º, CC. Também “serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária” (art. 1.184, §2º, CC). Alguns livros específicos, porém, são exigidos a certos empresários. É o caso, por exemplo, do livro de Registro de Duplicatas, exigido dos empresários que trabalhem com a emissão de duplicatas mercantis. É o caso, igualmente, das sociedades anônimas, que são obrigadas pela Lei 6.404/1976. A escriturar uma série de livros específicos, como o livro de Registros de transferência de ações nominadas, o livro de Registro da atas de assembléia, entre ouros (art. 100, Lei 6.404/1976). Também existem livros obrigatórios especiais, que são exigidos em virtude do exercício de alguma profissão. É o caso, exemplificando, dos livros impostos pela legislação comercial aos leiloeiros e aos donos de armazéns-gerais. Com efeito, o art. 7º, caput, do decreto 1.102/1903, que obriga o dono de armazém-geral a escriturar livro de entrada e saída de mercadorias. Fora esses livros obrigatórios, o empresário poderá escriturar outros, a seu critério (art. 1.179, §1º, CC). SITUAÇÃO ESPECIAL DO MICROEMPRESÁRIO E EMPRESÁRIO DE PEQUENO PORTE Art. 1.179, §2º, CC, dispensa ao pequeno empresário manter um sistema de escrituração e de levantar anualmente balanços: Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 17 O comando normativo contido no art. 970 abarca em sua expressão “pequeno empresário” o microempresário (ME) e o empresário de pequeno porte (EPP), tal como aduzido pelo Enunciado 235 do CJF e art. 68 da LC 123/2006:: 235 – Art. 1.179: O pequeno empresário, dispensado da escrituração, é aquele previsto na Lei n. 9.841/99. Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no § 1º do art. 18-A (60.000,00, sessenta mil reais). SIGILO PROFISSIONAL Os livros empresariais são protegidos pelo sigilo, conforme determinação contida no art. 1.190, CC: Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei. Observe-se que o dispositivo acima referenciado ressalva, de forma clara os casos previstos em lei, ou seja, a legislação poderá prever situações excepcionais em que o sigilo empresarial que protege os livros empresariais não seja oponível. O próprio Código estabelece uma dessas situações: Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais (exercício de fiscalização tributária).O STF, ponderando o direito a sigilo empresarial dos empresários e o direito à fiscalização tributária das autoridades fazendárias, entende que o exame dos livros e documentos constantes na escrituração deve ater-se ao objeto da fiscalização. Súmula 439, STF: STF Súmula nº 439 Fiscalização Tributária ou Previdenciária - Livros Comerciais - Objeto da Investigação Estão sujeitos a fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação. O sigilo que protege os livros empresariais também pode ser “quebrado! Por ordem judicial. A exibição dos livros empresariais, em obediência à ordem judicial pode ser total ou parcial, havendo tratamento distinto para ambos os casos. Art. 1.191, CC. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 18 Art. 381, Código de Processo Civil (CPC). O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros comerciais e dos documentos do arquivo: I - na liquidação de sociedade; II - na sucessão por morte de sócio; III - quando e como determinar a lei. Conclui-se, pela interpretação harmônica dos dois dispositivos que a exibição integral dos livros só pode ser determinada a requerimento da parte e somente nos casos expressamente previstos em lei. (liquidação, sucessão por morte de sócio, administração ou gestão à conta de outrem, falência ou outros casos previstos em lei). No caso de S/A, sua lei específica (Lei 6.404/1976), em seu art. 105 um caso particular: Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos, 5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia. Exibição parcial do livro: Art. 382, CPC. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos livros e documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções autenticadas. Art. 1.191, § 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão. A conjugação desses dois dispositivos leva a conclusão que a exibição parcial dos livros empresariais pode ser determinada pelo juiz, a requerimento ou até de ofício, em qualquer processo. Essa exibição parcial não atinge os livros que não são obrigatórios, por sua existência não ser presumida. Contudo, se o requerente conseguir provar a existência desse livro não obrigatório e que ele representa-se indispensável para a prova de determinado fato, a exibição poderá se determinada. EFICÁCIA PROBATÓIA DOS LIVROS EMPRESARIAIS Os livros empresariais são documentos que possuem força probatória, sendo, muitas vezes, fundamentais para a solução de determinado litígio. No exame de livros pode- se verificar a existência de relações contratuais, o seu respectivo adimplemento ou inadimplemento, uma fraude contábil, entre outras coisas. Por essa razão que a lei determina que devem os livros comerciais serem guardados até ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos nele designados (art. 1.194, CC) Art. 378, CPC: Art. 378, CPC. Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 19 Ao mesmo tempo, os livros empresariais também provam a favor de seu autor: Art. 379, CPC. Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes. 8. LIVROS COMERCIAIS Os empresários estão sujeitos a algumas obrigações que são comuns a todos tais como: 1. ter o seu registro regularizado no Registro de Empresas antes do inicio de suas atividades na forma disciplinado pelo (art. 967. CC); 2. manter a escrituração regular dos livros obrigatórios 3. levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (art. 1.179, CC). O fato da não escrituração das obrigações citadas acima, não exclui o empresário do regime jurídico-empresarial, contudo estas não observâncias importam outras conseqüências, que embora não tenham o condão de punir, mas o de estimular o comprimento destas obrigações, impedindo, por exemplo, que o empresário usufrua de benefícios como o de pedir falência ou entrar em licitações. Não quer dizer que tais conseqüências não tenham o caráter punitivo, já que em certos casos a não escrituração é considerada crime (irregularidade na escrituração, no caso de falência fraudulenta, por exemplo). Há apenas uma categoria de empresários que se encontra dispensada de escriturar os livros obrigatórios: os Microempreendedores Individuais (MEIs). A dispensa está prevista no Código Civil (art. 970 e 1.179,§ 2º). Microempresários e Empresários de Pequeno Porte ficam sujeitos a um regime de escrituração contábil específico, em que o único livro obrigatório é o Livro-Caixa (Lei Complementar 123/2006, art. 26, §2º). Os livros empresariais são de duas espécies: obrigatórios ou facultativos. Obrigatórios são o que sua escrituração é imposta ao empresário e que a sua ausência traz conseqüências sancionadoras. O único livro realmente obrigatório é o Livro Diário. Os obrigatórios também se subdividem em duas categorias: comuns e especiais. Como comuns temos os livros cuja escrituração é imposta a todos os empresários indistintamente (livro diário). Quanto aos especiais são aqueles cuja a escrituração é imposta apenas a uma determinada categoria de exercentes da atividade empresarial. São livros obrigatórios: a) diários (único unanimemente obrigatório), onde devem ser lançados todas as operações do comerciante além de títulos de crédito que emitir, aceitar ou endossar, fianças dadas; b) registro de duplicatas, se o comerciante as emitir (lei 5754/68), no caso de vendas a prazo superior a 30 dias; c) registro de empregados (CLT); d) livro de registro de inventário e e) Registro de compras ou entrada de mercadorias. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 20 São livros obrigatórios especiais ou específicos: Tratam-se dos livros obrigatórios para empresários de atividades específicas. Vejamos: - Registro de duplicatas, imposto a todos os empresários que emitem duplicatas. - S/A: Registro de ações nominativas; Transferência de ações nominativas; Registro de debêntures; Registro de partes beneficiárias nominativas; Transferência de partes beneficiárias nominativas; Presença de acionistas; Atas de reunião do CA e da diretoria; Atas e pareceres do conselho fiscal - Leiloeiros: Diário de entrada de mercadorias; Diário de saída de mercadorias; Contas-correntes; Livro-protocolo; Diário de leilões; Livro talão - Armazéns gerais: Registro de entrada de mercadorias; Registro de saída de mercadorias. Já os facultativos são os livros que tem para o empresário uma função de controle de seus negócios e de que a sua falta não importa nenhuma sanção. São facultativos ou auxiliares: o razão, caixa, contas/corrente,o Borrador e o Copiador de cartas/faturas. No direito comercial brasileiro há apenas um livro comercial obrigatório a todos, que é o livro "Diário", por força do art. 1.180 do Código Civil (CC). 8. FREGUESIA E CLIENTELA Freguesia: é um conjunto de pessoas que adquire produtos ou serviços de determinado estabelecimento, por razões subjetivas de conveniência, tais como: localização, vizinhança, horário de funcionamento. Clientela: é o conjunto de pessoas que adquire produtos ou serviços de determinado estabelecimento, por razões subjetivas referentes à qualidade da empresa ou de seu titular, tais como: atendimento personalizado, produtos exclusivos. 9. IMPEDIMENTOS LEGAIS AO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESÁRIA 1. os que não estão em pleno gozo da capacidade civil; 2. condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (Art. 1.011, § 1o, CC); 3. os servidores públicos federais (art. 117, X, Lei 8.112/1990); 4. magistrados (art. 36, I, da LC 35/1979); 5. membros do Ministério Público (art. 44, Lei 8.625/1993); 6. militares (art. 29, Lei 6.880/1980). O impedimento é para exercício de empresa, não sendo proibido que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, mas nunca empresários individuais. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas. A responsabilização será pessoal e atingirá o patrimônio particular do impedido. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 21 10. ATIVIDADES ECONÔMICAS CIVIS São quatro hipóteses de atividades econômicas civis excluídas da disciplina empresarial, pois não se encaixam no critério material de atividade empresária, previsto no art. 966, CC. Isso significa que o conceito de empresário previsto no art. 966, CC não é tão abrangente assim, já que não engloba toda atividade econômica organizada. Assim, existem agentes que mesmo praticando atividade econômica remunerada não são considerados empresários pelo legislador. 1. PROFISSIONAL INTELECTUAL (PROFISSIONAL LIBERAL). Não se considera empresário por força do parágrafo único do artigo 966 do Código Civil. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. O CC determina que enquanto o profissional intelectual exercer sua atividade intelectual, ainda que com o intuito de lucro e mesmo contratando alguns auxiliares, ele não é considerado empresário, para os efeitos legais. A exceção ocorre quando o exercício da profissão constitui elemento de empresa. Exemplo: médico recém-formado atendendo seus pacientes no consultório: não é empresário. Com o passar do tempo, a clientela cresce e o consultório amplia-se para um hospital, com muitos atendentes, contador, advogado, administrador e outros médicos contratados. O médico passou, então, a ser o organizador dos fatores de produção, tornando-se empresário. Esta Exceção ocorre, via de regra, quando há a impessoalização de sua atuação, passando a ostentar mais a característica de organizador da atividade envolvida do que aquele profissional intelectual que atua diretamente. Passa a dar,portanto, caráter empresarial ao exercício de suas atividades. Enunciados 193, 194 e 195 do Conselho de Justiça Federal (CJF): 193 – Art. 966: O exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa. 194 – Art. 966: Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida. 195 – Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. Salienta-se que, com regra, os profissionais intelectuais (liberais) não são considerados empresários, portanto não precisam se registrar nas Juntas Comerciais para que possam exercer suas atividades. No entanto, muitas das profissões intelectuais são regulamentadas, o que exige muitas vezes que os profissionais CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 22 liberais se registrem nos órgãos regulamentadores de suas respectivas profissões, caso do contabilista e do advogado, por exemplo. 2. AS SOCIEDADES SIMPLES A regra do parágrafo único do artigo 966 vale também para as sociedades uniprofissionais, formada por profissionais intelectuais que exploram suas respectivas profissões. A sociedade simples é a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial. A sociedade simples pode ser organizada de várias formas, conforme preceitua o art. 983, CC: Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Ressalta-se que os modelos da sociedade anônima e da sociedade em comandita por ações jamais poderão ser utilizados pela sociedade simples, tendo em vista regramento trazido no art. 982, CC (sociedades de ações sempre são empresárias): Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. Logo, a sociedade simples pode adotar, além da forma básica (responsabilidade ilimitada dos sócios correspondente a sociedade simples pura), o tipo de sociedade limitada, em nome coletivo ou uma em comandita simples. A sociedade simples pura é contratual, ou seja, seu ato constitutivo é oriundo de contrato social. Há a necessidade de contrato por escrito: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 23 Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. Contudo, frisa-se que esse rol não é exaustivo, conforme Enunciado 214, CNJ: “Arts. 997 e 1054: As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas na legislação pertinentepara fins de registro.”. Devem ser registradas no Cartório de pessoas jurídicas: Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede. Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. Quanto ao nome, pode ser firma ou denominação: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; Enunciado 213, CNJ – Art. 997: O art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social. É importante observar que as sociedades sejam Simples Puras ou Simples Limitadas, não são passíveis de falência e não têm a obrigatoriedade de se adequar às novas realidades contábeis (art.1179 a 1195), próprias das sociedades empresárias, e que terão repercussões fiscais, pois modificam conceitos como depreciação e controle de estoque, que irão afetar as escriturações e apuração de resultados. A sociedade simples (Pura ou Limitada) tem seus atos (constituição, alteração e extinção) registrados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Na sociedade simples pura os sócios respondem ilimitadamente pelas dívidas contraídas pela empresa, pode haver sócio que participe apenas com serviço, o nome empresarial não prescinde de parte do objeto social, não há necessidade de lavratura de atas de reuniões de sócios, dentre outros. Já na sociedade simples limitada, os sócios respondem limitadamente ao valor do capital social, desde que totalmente integralizado, o nome empresarial prescinde de que conste parte do objeto social, não pode ter sócio que participe apenas com serviço, tem que lavrar ata de reuniões de sócios, principalmente se tiver mais de 10 (dez) sócios, entre outros. Exemplo: sociedade formada por médicos para a prestação de serviços médicos; por professores para a prestação de serviços de ensino; por engenheiros, para a prestação de serviços de engenharia. 3. EMPRESÁRIO RURAL. CIÊNCIAS CONTÁBEIS. DIREITO EMPRESARIAL. PROF. JOÃO PAULO CAVALCANTI Página 24 Ressalta-se que todo empresário, antes de iniciar o exercício da atividade empresarial, tem que se registrar na Junta Comercial, seja empresário individual ou sociedade empresária. Para aqueles que exercem atividade econômica rural, contudo, o CC concedeu a faculdade de se registrar ou não perante a Junta Comercial de seu Estado. O Código Civil concedeu a faculdade de se registrar, ou não, perante a Junta Comercial da unidade federativa do empresário rural. Logo, se aquele que exerce atividade econômica rural e não se registrar na Junta, não será considerado empresário para os efeitos legais (por exemplo, não se submeterá ao regime jurídico da Lei 11.101/2005, que trata da falência e da recuperação judicial). Em contrapartida, se optar por se registrar, será considerado empresário para todos os efeitos legais. Art. 971, CC. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Deve-se acrescentar que pode configurar sociedade simples, cujo objeto constitui o exercício de atividade econômica rural, desde que seus sócios optem pelo registro do Cartórios de pessoas jurídicas e não na Junta Comercial. 4. COOPERATIVAS. Apesar de dedicarem-se às mesmas atividades dos empresários, não se submetem ao regime jurídico empresarial por expressa disposição legal. Porque, simplesmente, a lei assim determinou. Disciplina legal encontrada na lei nº 5.764/71 e nos artigos 1093 a 1096 do CC e seu estudo cabe ao Direito Civil. OBS. A empresa cooperativa é uma sociedade de pessoas cujo objetivo principal consiste na prestação de serviços ou desenvolvimento de produtos. A sua finalidade é colocar os produtos e serviços de seus cooperados no mercado em condições mais vantajosas do que eles teriam isoladamente. Desse modo, a cooperativa pode ser entendida como uma “empresa” que presta serviços aos seus cooperados. O associacionismo cooperativista tem por fundamento o progresso social da cooperação e do auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação desvantajosa de competição conseguem, pela soma de esforços, garantir a sobrevivência. Como fato econômico, o cooperativismo atua no sentido de reduzir os custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço, edificar instalações de uso comum, enfim, interferir no sistema em vigor à procura de alternativas a seus métodos e soluções. A cooperativa pode ser dirigida e controlada pelos próprios associados, que participam do planejamento e obtém vantagens na obtenção de crédito, com menor custo operacional em relação aos bancos.
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