Buscar

Apostila Fundamentos Socioantropológicos EAD Uniabeu

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 183 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 183 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 183 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Fundamentos 
Socioantropológicos
UniabeuRJ
uniabeuvideos
UniabeuRJCEAD www.uniabeu.edu.br
Fundamentos Antropológicos
02
CEAD
Fundamentos Socioantropológicos
1ª Edição
Robson Rodrigues de PUnidade
BELFORD ROXO
UNIABEU
2017
Fundamentos Antropológicos
CEAD
03
CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIABEU
U58f Uniabeu Centro Universitário. Pró Reitoria de Graduação, Pesquisa e Extensão 
 Fundamentos socioantropológicos [livro eletrônico] / Robson Rodrigues de 
 PUnidade.-- Belford Roxo: Uniabeu, 2017.
 183 p. 
 
 Modo de acesso: World Wide Web
 <HTTP://www.uniabeu.edu.br/index.php?p=ebooks>
 ISBN: 978-85-98716-22-0
 1. Fundamentos sócio antropológicos. I. PUnidade, Robson Rodrigues de. II. Título.
 CDD 301
Fundamentos Antropológicos
04
CEAD
SUMÁRIO
Unidade 01
Discussões preliminares I: a Sociologia e a Antropologia no quadro das Humanidades...................................05
Unidade 02
Discussões preliminares II: As circunstâncias históricas do surgimento da Sociologia e da Antropologia.......20
Unidade 03
Discursões preliminares Ill: circunstâncias intelectuais do surgimento da Sociologia e Antropologia.............33
Unidade 04
Introdução à Teoria Sociológica de Emile Durkheim...........................................................................................45
Unidade 05
Introdução à Teoria Sociológica de Karl Marx.....................................................................................................60
Unidade 06
Introdução à Teoria Sociológica de Max Weber....................................................................................................74
Unidade 07
As Obrigações da Empresa....................................................................................................................................89
Unidade 08
Em Busca Da Brasilidade: Cultura Brasileira Em Foco........................................................................................101
Unidade 09
Os Saberes Socioantropológicos E As Instituições Sociais: O Estudo Da Religião..............................................111
Unidade 10
Os Saberes Socioantropológicos e as Instituições Sociais: O Estudo Da Família...............................................127
Unidade 11
Etnicidade, Mercado de Trabalho e Ampliação de Direitos no Brasil .................................................................143
Unidade 12
Desenvolvimento Econômico, Crise Ambiental e Desigualdade Social na Sociedade Globalizada....................157
Referências Bibliográficas..................................................................................................................................171
Gabarito..............................................................................................................................................................172
Fundamentos Antropológicos
CEAD
05
Discussões preliminares I: a Sociologia e a 
Antropologia no quadro das Humanidades.
Unidade 01
Objetivos
• Capacitar o aluno para entender as diferenças e as semelhanças existentes entre os três tipos de 
conhecimento: senso comum, Filosofia e Ciência.
• Fazer o estudante identificar as peculiaridades existentes entre as Ciências Naturais e as Humanas.
• Localizar a Sociologia e a Antropologia no quadro das Ciências Humanas.
• Fazer com que o aluno compreenda o objeto de estudo da Sociologia e da Antropologia.
Fundamentos Antropológicos
06
CEAD
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Antes de começarmos a estudar o surgimento da Sociologia e da Antropologia na Europa no 
século XIX, bem como os principais pensadores e assuntos dessas disciplinas, é necessário apresentar 
as características dos três tipos de conhecimento. Em outras palavras, primeiramente temos que 
compreender as diferentes maneiras pelas quais os humanos concebem, experimentam e organizam 
a “realidade”.
Começaremos a Unidade, portanto, estabelecendo distinções entre o senso comum, filosofia e 
ciência; e posteriormente nos deteremos ao campo da ciência, uma vez que os saberes e conhecimentos 
de nossa disciplina integram as ciências sociais, um segmento das Ciências Humanas.
I) CONHECIMENTO HUMANO
A espécie humana é a única do reino animal capaz de compreender e de explicar suas práticas, 
ações e sentimentos, assim como fenômenos e eventos que ocorrem ao seu redor. Em outros termos, 
é dotada da capacidade de conhecer, de estabelecer “ordem onde havia caos” (CYRINO & PENHA, 
1992, p. 13).
Para ocorrência do conhecimento, três elementos são necessários:
1- O sujeito, que é o ente / ser que conhece.
2- O objeto, ou seja, o que sujeito almeja conhecer.
3- As ideias, concepções ou conceitos que são resultantes da relação estabelecida entre o sujeito 
e o objeto em questão.
De modo geral, os humanos estabelecem relações com o mundo por meio de três modalidades 
de conhecimentos:
SENSO COMUM
O senso comum é um conhecimento espontâneo, uma primeira compreensão do mundo, 
resultante da herança cultural de uma coletividade, que serve como referência para a formação 
dos indivíduos. Pode-se, portanto, dizer que as crenças, os costumes, as tradições de um grupo e o 
aprendizado do cotidiano constituem o senso comum.
O imaginário cultural está cheio dessas concepções e práticas apreendidas por nós, humanos, no 
convívio social. Uso de ervas nos tratamentos espirituais e físicos nas religiões de matrizes africanas 
é um bom exemplo deste tipo de conhecimento. A arruda - nome científico ruta graveolens - é usada 
como amuleto contra “mal olhado” e na cura de verminoses e feridas na pele.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
07
Nesse caso, a associação entre a referida erva e a doença não é feita a partir da realização 
de um estudo sistemático ou de uma pesquisa empírica, direcionada por um método, mas pelo 
conhecimento popular, passado de geração a geração.
Por meio deste exemplo, percebe-se que, por ser assistemático e ametódico - já que não existe 
um rigor ou critério para observação de um determinado fato - o senso comum não é valorizado na 
produção do conhecimento científico. A ciência, por sua vez, busca compreender o funcionamento da 
natureza, usando sobretudo o conhecimento objetivo, formulado através de métodos cuidadosamente 
preestabelecidos. Além disso, por mais que constitua a nossa visão de mundo - uma vez que é a própria 
cultura de um povo -, o senso comum pode nos levar a posturas preconceituosas, discriminatórias e 
até violentas em nossas relações familiares, na escola ou nas organizações empresariais.
Observa-se ainda em nossa sociedade a permanência de alguns estereótipos acerca da condição 
feminina, criados a partir do senso comum. Você já deve ter escutado a seguinte frase: “mulher no 
volante é um perigo”. Ou: “as mulheres são mais sensíveis do que os homens”. Embora as ciências 
refutem estas ideias, elas ainda permanecem em nosso imaginário social. Nestes casos, é necessário 
ter o bom senso e, por meio da reflexão, ver a realidade além de sua aparência. Quando se realiza 
este movimento reflexivo, saímos do senso comum e nos aproximamos da postura da filosofia diante 
do mundo.
FILOSOFIA
Há um debate efervencente a respeito da própria definição do termo filosofia entre os 
pensadores. Uns, inclusive, evitam conceituá-la por acreditarem que qualquer investida neste sentido 
seja insuficiente para designar a maneira dela se relacionar com o mundo. Numa análise a respeito da 
Fundamentos Antropológicos
08
CEAD
origem desta palavra, constataremos que ela vem do grego φιλοσοφία e queé resultante da junção de 
dois outros vocábulos: “philia” (φιλία) - cujo significado pode ser “amizade”, “amor fraterno” ou “respeito 
entre os iguais”- e “sophia” (φιλία), o qual significa, em português, “sabedoria” ou “conhecimento”.
Portanto, filosofar seria o amor pelo conhecimento ou a busca da sabedoria. Contudo, tal 
apresentação é por demais vaga, uma vez que não indica os modos e as formas como se busca 
esta virtude, assim como as singularidades deste conhecimento em relação aos demais. Debates 
e discurssões teóricas a parte, segue uma consideração de Paulo Brangatti sobre a importância da 
filosofia:
A filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ao contrário, ela 
é a própria manifestação humana e sua mais alta expressão (...) a filosofia traduz o sentir, o pensar e 
o agir do homem. Evidentemente, o homem não se alimenta da filosofia, mas sem dúvida nenhuma, 
com a ajuda da filosofia (BRANGATTI,1993, 31).
Na história do pensamento ocidental, cronologicamente, a filosofia surgiu na Grécia por volta 
do século VI (ou VII) a.C., tendo como um de seus principais expoentes o filósofo pré-socrático Tales 
de Mileto (623-546 a.C.).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tales_de_Mileto
Este pensador foi um dos primeiros a buscar uma explicação do mundo através de uma 
perspectiva mais racional e sistemática. Como será ressaltado na próxima Unidade, até então na 
Grécia, tanto a origem do universo como os acontecimentos sociais (nascimentos, pestes, guerras, 
doenças, mortes e etc.) eram explicados a partir da ação sobrenatural dos seres divinos e mitológicos. 
Sendo assim, diferente do senso comum, a filosofia genuinamente é racional e reflexiva.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
09
De acordo com Chauí (2000), as indagações filosóficas podem ser reunidas em três grupos, que
expressam questionamentos distintos realizados por nós humanos acerca do que sentimos, 
falamos e agimos. Tais reflexões ocorrem a respeito:
• Das motivações e das razões.
1) por que sentimos determinados sentimentos?
2) Por que dizemos o que dizemos?
3) Por que agimos de uma determinada maneira e não de outra?
• Dos conteúdos de nossos sentimentos, palavras e ações.
1- Qual o sentido dos nossos sentimentos, verbalizações e atos?
• Das intenções ou das finalidades. Noutros termos: quais os propósitos e os fins de nossos 
sentimentos, palavras e atuações?
Torna-se necessário dizer que tais reflexões, além de serem racionais, também são realizadas de 
modo sistemático, uma vez que a filosofia:
(...) trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos 
entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de 
demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. 
Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, 
nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de 
dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que” (CHAUI, 2000, p. 13).
A FILOSOFIA COMO FUNDAMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Como foi ressaltado, ainda na Antiga Grécia os filósofos da phisis - os pré-socraticos Socrátes 
e Platão - tenham formulado e defindo conceitos, seja na explicação mais racional acerca da 
existência e do funcionamento dos fenômeno naturais, ou no entendimento da vida civica na pólis, 
a ciência, como a conhecemos, só foi desenvolvida a partir final da Idade Moderna. Neste período, 
no âmbito da filosofia, alguns pensadores estabeleceram maneiras mais sistemáticas e metódicas 
para o desenvolvimento de suas investigações, formando outro tipo de conhecimento sobre os 
entes e o mundo: a ciência. Gradativamente, a partir daí, em razão aos objetos determinados pelos 
estudiosos, surguiram distintos campos científicos. Este processo de formação das ciências tomou 
força principalmente com contribuições de Galileo Galilei (1564-1642), a partir do século XVII. 
Muitos pensadores contribuiram para a evolução do conhecimento cientifico no Ocidente. 
Dentre eles, podemos citar:
Fundamentos Antropológicos
10
CEAD
• Nicolau Copérnico (1473-1543)
Comprovou que o sol fica no centro do Sistema Solar.
• Francis Bacon (1561-1626)
Ressaltou a importância da experimentação para a aquisição dos conhecimentos científicos.
• Galileo Galilei (1564-1642)
Defendeu a ideia da necessidade do experimento na produção científica.
• René Descartes (1596 -1650) Inventou a geometria analítica.
• Francesco Redi (1626 -1698)
Demonstrou que não existia a geração espontânea, uma idéia aristotélica.
• Isaac Newton (1642-1727)
Formatação da leis de reflexão e refração de luz. Construiu o primeiro telescópio reflexivo.
• Louis Pasteur (1822-1895)
Primeiro cientista a provar que os microorganismos, seres invisíveis a olho nu, eram os 
responsáveis por diversas doenças.
Em linhas gerais, podemos definir a ciência como:
Um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso 
por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira 
programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, 
podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado 
contéudo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser 
transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. (BOCK et alii, 2000:15).
Como se produz o conhecimento na ciência moderna?
A ciência moderna formula o conhecimento por meio dos seguintes passos:
1. observação;
2. experimentos;
3. explicação;
4. generalização e previsão.
Portanto, em síntese, o conhecimento científico:
• É produzido por meio da razão.
• Valoriza a observação empírica dos fenômenos analisados.
• Utiliza métodos e técnicas sistemáticas para estudar / conhecer um objeto.
• Formula, teorias e leis gerais.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
11
II) OS CAMPOS DAS CIÊNCIAS
Vimos até agora que, para ser considerado como científico, um conhecimento deve se respaldar 
na razão e se constituir por meio de métodos e sistematizações de procedimentos. Levando-se em 
conta a natureza do objeto a ser pesquisado, pode-se constatar a existência de inúmeras ciências. Para 
facilitar e tornar mais didático o ensino e o aprendizado das ciências, ao longo do século XX, vários 
pensadores procuraram agrupá-las em campos distintos, por meio de categorizações e classificações. 
A seguir apresentaremos uma das mais usadas na contemporaneidade.
Classificação segundo Odilia Fachin
Apresentaremos a seguir as características das Ciências Naturais e Humanas.
Fundamentos Antropológicos
12
CEAD
1- CIÊNCIAS NATURAIS
Natureza ou procedência do objeto:
• As Ciências Naturais estudam fenômenos simples, os quais presumivelmente possuem causas 
simples. Tais fenômenos se repetem e têm uma constância verdadeiramente sistêmica. Sendo assim, 
podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.
Exemplo: estudo do vírus da dengue
Fonte: https://www.google.com.br/search
Fundamentos Antropológicos
CEAD
13
Um biólogo pode estudar o vírus da dengue, isolando-o em um laboratório. Neste local, sob 
condições controladas (iluminação, temperatura, umidade do ar e etc.), o pesquisador poderá investigar 
o ciclo vital do referido ser vivo. Vale também ressaltar que o resultado, obtido por este biólogo, 
poderá ser alcançado por um outro cientista que seguir os mesmos procedimentos, desenvolvidos 
pelo primeiro. Dito de outra forma: uma mesma experiência poderá ser repetida e observada por dois 
ou mais cientistas em locais distintos.
Relação: sujeito e objeto nas Ciências Naturais:
• Nas Ciências Naturais, o sujeito (pesquisador) não é da mesma natureza do objeto.Os métodos 
científicos e as teorias são os únicos mediadores da relação: sujeito x objeto. Observe a seguir com 
ocorre essa relação no exemplo apresentado:
Fundamentos Antropológicos
14
CEAD
2) CIÊNCIAS HUMANAS OU HUMANIDADES:
“Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete”
Roberto DaMatta
Procedência ou natureza do objeto:
• As Ciências Humanas estudam fenômenos complexos, ocorridos no âmbito social, os quais 
possuem múltiplas causalidades e, com efeito, são difíceis de isolar e reproduzir.
Inspirados em DaMatta (1987), para abordamos a complexidade dos fenômenos sociais, 
usaremos os sentidos de se comer um bolo em nossa sociedade.
Come-se bolo:
a) com o objetivo de, simplesmente, saciar a fome;
b) após a refeição principal. Neste sentido, ele será concebido como um complemento alimentar 
e classificado com uma “sobremesa”;
c) numa cerimônia que festeja a data de nascimento de um indivíduo: aniversário;
d) num ritual de passagem que indica a mudança na condição social de duas pessoas: casamento;
e) para festejar e se relacionar com o sagrado. Um exemplo deste uso do bolo é nas festas de 
santos São Cosme e São Damião na Umbanda. Neste caso, observa-se que o bolo é concebido como 
uma oferenda religiosa.
Vimos que um simples ato de comer um alimento - no caso, o bolo - em sociedade, pode ter 
inúmeras motivações e ocorrer em distintas interações sociais. De modo geral, no âmbito das Ciências 
Humanas, torna-se difícil desenvolver uma teoria geral capaz de identificar, com precisão, uma causa 
única ou uma motivação exclusiva para os fenômenos estudados.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
15
As Ciências Humanas têm como objeto de estudo o homem e as diferentes instâncias das 
sociedades humanas. Neste sentido, além dos métodos e teorias serem os mediadores na produção 
de conhecimento, também há a possibilidade do sujeito interagir diretamente com o objeto, já que 
ambos fazem parte da mesma natureza. Em outras palavras, tanto o investigador como o investigado 
são humanos, sendo assim, dotados da capacidade de produzirem valores, crenças, ideias e outros 
elementos culturais, ainda que sejam oriundos de sociedades diferentes.
Vejamos mais um exemplo: um antropólogo, especialista em religião, ao estudar o segmento 
evangélico no Brasil, além de utilizar as metodologias e teorias formuladas no interior desta ciência 
social, também pode interagir com o objeto de estudo, participando de cultos, celebrações e de 
outros eventos promovidos por esta vertente do cristianismo. Sendo assim:
Nas humanidades, portanto, a interação entre o pesquisador e o pesquisado possibilita 
a ocorrência de uma reflexividade, ou seja, diante dos comportamentos e da visão de mundo do 
grupo estudado, podemos, enquanto cientistas, nos questionar e refletir sobre os nossos próprios 
paradigmas culturais. Na Unidade sobre o conceito de cultura, voltaremos neste ponto, por hora é 
importante ressaltar que, de modo geral, neste campo de ciências, o contato direto do pesquisador 
com o “outro” pode contribuir para a desconstrução de preconceitos e estereótipos e, como efeito, 
para uma visão mais tolerante acerca das diferenças culturais.
A Sociologia e a Antropologia fazem parte das ciências sociais, sendo desta maneira vertentes 
das humanidades. Ambas surgiram na Europa, no século XIX com teorias, objetos, metodologias e 
locais de atuação distintos, mas com a mesma pretensão de investigar e compreender as maneiras 
pelas quais os humanos se organizam e concebem o mundo. Quando foram constituídas no século 
XIX, a Sociologia e a Antropologia se distinguiam por terem as seguintes características.
Fundamentos Antropológicos
16
CEAD
ciências definições principais 
expoentes
principais metodos 
e abordagens iniciais
local de 
atuação
Antropologia
anthropos (pessoa/
homem) e logos 
(razão), ambos 
termos vêm do 
grego
ciência que 
estuda o 
homem e suas
realizações 
materiais e 
imateriais num 
etermindado
contexto social
Lewis H Morgan
Edwar B. Tylor
Franz Boas 
Bronislaw 
Malinowski
histórico comparativo
observação participante
estudo das so-
ciedades não-
-ocidentais
Sociologia sociu 
- latim (socio) e 
logos (razão) do 
grego
ciência que 
estuda as 
relações, as ins-
tituições sociais 
ou sociedade 
como um todo.
Auguste Comte 
Émilie Durkheim
Karl Marx
Max Weber
pesquisa histórica 
análise bibliográfica
estudo das 
sociedades 
ocidentais 
principalmente 
das europeias
A partir das contribuições dos pioneiros apresentados acima, ao longo do século XX, outros 
pensadores produziram teorias e interpretações sobre os fenômenos sociais, contribuindo, desta 
maneira, para o desenvolvimento das duas ciencias sociais em questão. Na contemporaneidade, num 
movimento de aproximação e de “quebra” de fronteiras nas ciência, ainda que as tradições teóricas 
sejam resguardadas, há um grande compartilhamento de ideia, autores, temas entre a Sociologia e 
a Antropologia. São os saberes e conhecimentos socioantropológicos que serão apresentados, de 
forma introdutória, a você, ao longo de nossa disciplina.
Antes de estudarmos as ideias e concepções dos formadores da Sociologia e Antropologia, 
precisamos compreender as circunstâncias históricas e intelectuais que contribuiram para o 
surgimento de ambas ciências. Esses serão os temas das duas próximas Unidades.
Sugestões de filmes:
Filme: “Descarte”Diretor: Roberto Rossellini (1974).
Tema : O método científico.
Link: www.youtube.com/watch?v=s8xU5OWBcP4
Fundamentos Antropológicos
CEAD
17
RESUMINDO
• As tradições, crenças e ideias que recebemos em nosso processo de formação 
como pessoa constituem o senso comum.
• O senso comum é um conhecimento que não se constitui por meio de um 
método ou por procedimentos sistemáticos.
• A filosofia é um conhecimento racional, que por meio de premissas e 
pressupostos definidos previamente, tem como propósito promover uma 
reflexão acerca do mundo.
• O conhecimento científico valoriza a razão, recomenda a observação empírica 
dos fenômenos analisados, opera a partir de métodos e técnicas científicas e 
formula teorias e leis gerais.
• Os fenômenos estudados nas Ciências Naturais possuem causalidades simples 
e podem ser isolados em experimentos em laboratórios.
• Os fenômenos estudados nas Ciências Humanas são complexos e, com efeito, 
possem multiplas causalidades. De modo geral, são irreproduziveis em 
laboratórios.
• Nas Ciências Humanas, a interação direta entre pesquisador e pesquisado 
pode produzir a reflexividade, ou seja, o confronto, a comparação entre valores 
e ideias.
Fundamentos Antropológicos
18
CEAD EXERCÍCIOS
1- Das alternativas a seguir, qual é a verdadeira?
 
EXERCÍCIOS
 
a) O senso comum é subjetivo, isto é, exprime sentimentos e opiniões individuais e de grupo, 
variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro. O conhecimento científico é objetivo, 
isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas.
b) O senso comum corresponde aos conhecimentos produzidos individualmente. É sistemático 
e metódico.
c) Enquanto no senso comum o homem busca os princípios lógicos que regem o pensamento 
coerente; a ciência afirma que, pela magia, o homem pode libertar-se do medo e das superstições.
d) O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância da população e 
necessariamente uma justificativa para o atraso econômico.
e) O senso comum corresponde a um conhecimento não científico utilizado como solução para 
os problemas cotidianos, geralmente ele é pouco elaborado, mas metódico.
2- (Inspirada no ENADE 2009)
LEIA o trecho abaixo:
Independentemente da maneira como uma determinada orientação filosófica esteja configurada, 
ela sempre concebe seu empreendimentonão tanto como investigação que tematiza diretamente 
este ou aquele objeto mas, sobretudo, enquanto um exame de como os objetos podem nos ser dados 
no processo de conhecimento, como eles se tornam acessíveis para nós. Mais do que aquilo que se 
tem diante da visão, a atividade filosófica privilegia o “voltar atrás”(reflectere)” (Brasil. Secretaria de 
Educação e Tecnologia/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio: Brasília: MEC, 2002, 
p.330).
Nessa perspectiva o filósofo é mais corretamente caracterizado como:
a) Um expositor de sistemas filosóficos e de ideias baseadas na emoção.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
19
b) Um intelectual que nasceu com um conhecimento diferenciado acima dos demais seres 
humanos.
c) Um verdadeiro professor que ministra variedades de conhecimentos, com a finalidade de 
indicar como as pessoas devem se comportar.
d) Um pesquisador que busca o conhecimento, por meio do questionamento e da crítica.
e) Um cientista curioso que busca novidades e que estrutura suas análises a partir da 
sistematização e mensuração da realidade.
3- Disserte sobre o fenômeno da reflexividade o qual é inerente da produção de conhecimento 
nas ciências sociais.
EXERCÍCIOS
Fundamentos Antropológicos
20
CEAD
Discussões preliminares II:
As circunstâncias históricas do surgimento da 
Sociologia e da Antropologia
Objetivos
• Fazer entender as características da Revolução Industrial.
• Capacitar o estudante a identificar os fenômenos causadores da Revolução Francesa.
• Fornecer saberes históricos para que o aluno consiga relacionar as Revoluções Industrial e Francesa 
com o surgimento da Sociologia e Antropologia.
• Compreender as circunstâncias intelectuais que fundamentaram a Sociologia.
Unidade 02
Fundamentos Antropológicos
CEAD
21
Unidade 02
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Na Unidade anterior, vimos as diferenças entre o senso comum, a Filosofia e a ciência. 
Indicamos como o conhecimento científico pode ser entendido como uma possibilidade de superação 
do senso comum, ao propor uma forma de compreensão da “realidade” mais racional e metódica. 
Estudamos também as características, as singularidades e peculiaridades das Ciências Naturais e 
das Humanidades. Agora, para que você compreenda como se deu o surgimento da Sociologia e da 
Antropologia, apresentaremos o contexto histórico-social no qual ambas surgiram.
Para começarmos a nossa investida, é importante frisar que no século XIX, no bojo das 
Humanidades, a Sociologia surgecom a finalidade de explicar e compreender os problemas e 
contradições das sociedades europeias; assim como a Antropologia se forma tendo como foco o 
estudo da diversidade cultural entre os humanos, por meio da investigação dos povos não ocidentais. 
Ambas com o propósito de compreender questões e dilemas humanos, com focos diferentes, num 
contexto em que a Europa passava por profundadas transformações, em função das consequências 
econômicas, políticas das Revoluções Industrial e Francesa. A seguir apresentaremos os principais 
aspectos da Revolução Industrial.
I) REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: A PROMOÇÃO DE UMA NOVA ORDEM PRODUTIVA
A Revolução Industrial ocorreu entre os séculos XVIII e XIX na Inglaterra e posteriormente se 
expandiu para outras sociedades ocidentais. Mais do que o aparecimento das indústrias, significou 
uma profunda mudança na forma como os humanos organizavam e estruturavam o processo 
produtivo. Após a Revolução Industrial, as relações de produção e consumo não foram mais as mesmas. 
Alguns fatores político-econômicos contribuíram para a ocorrência deste fenômeno histórico, cujas 
magnitude e consequências nunca tinham sido observadas até então na história da espécie humana. 
São eles:
• A grande disponibilidade de mão de obra
A partir do século XVI, com a liberalização econômica, a ascendente burguesia inglesa interviu, 
em maior escala, na vida e nas relações dos camponeses. Até então, tanto os campos abertos (open 
fields) quanto as terras comunais eram usadas pelos senhores feudais e pelos mais pobres para o 
plantio de alimentos - agricultura-ou para a criação de animais. Porém, com a apropriação burguesa, 
tais propriedades foram desmembradas e transformadas em unidades compactas, prática que ficou 
sendo conhecida como cercamentos das terras. Para atender à crescente demanda das emergentes 
manufaturas têxteis, as quais cresciam nas cidades, os burgueses adotaram a criação de ovelhas 
como atividade econômica.
Fundamentos Antropológicos
22
CEAD
Os cercamentos das terras ocasionaram, com efeito, a retirada de milhares de camponeses 
de suas propriedades. Sem terem nenhuma opção de trabalho, migraram para os grandes centros, 
formando, gradativamente, uma massa de mão de obra barata.
• Recursos naturais: grandes reservas energéticas disponíveis
Associado à abundância da mão de obra barata, a grande disponibilidade de fontes energéticas 
contribuiu para o desenvolvimento das indústrias na Inglaterra. À ocasião, aquele estado nacional 
possuía, em seu subsolo, uma enorme reserva de carvão mineral, uma principal fonte de energia 
usada como combustível nas máquinas, nos equipamentos, nas locomotivas à vapor, etc. Além deste 
importante recurso natural, contavam também com boas reservas de ferro.
• Adoção do Liberalismo Econômico
Até meados do século do século XVIII, as relações na ordem produtiva e nas atividades do 
comércio eram regidas pelo Sistema de Guildas. Grosso modo, nesta organização as interações tinham 
como finalidade a formação profissional dos colaboradores. O trabalho ocorria entre um mestre, o qual 
tinha o conhecimento técnico acerca do objeto a ser produzido ou da atividade desenvolvida, e seus 
aprendizes- rapazes que, depois de alguns anos de aprendizagem, também poderiam “passar” para 
outros os conhecimentos e saberes necessários adquiridos. Por valorizar os laços de reciprocidade, 
amizade e afetividade, esta lógica de produção inviabilizava a entrada de novos competidores nas 
atividades comerciais e industriais. Porém, com a liberalização da econômica, outros atores sociais 
puderam também apresentar e comercializar os seus produtos no país. Como resultado, a política 
econômica liberal produziu não só uma maior competitividade entre os comerciantes e industriais 
burgueses, como também impulsionou o desenvolvimento de novas tecnológicas em um curto 
período de tempo.
• Promulgação de novas leis
Aliado a estes fatores político-econômicos, podemos destacar ainda a criação de várias normas 
jurídicas, as quais, ao regularem a vida dos trabalhadores, contribuíram para a constituição de cenário 
sociocultural favorável para o desenvolvimento de uma nova ordem de produção: a indústria.
No quadro a seguir, apresentaremos algumas leis que contribuíram para a formação da ordem 
industrial-capitalista.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
23
Ano Leis Conteúdo
1601 Lei dos Poderes
Punia os indivíduos considerados como vagabundos com 
chicotas e a marca de ferro em brasa no corpo.
1662 Lei de Domicílio
Dificultava a circulação de pessoas das camadas mais 
pobres pelo país e autorizava a expulsão do não residente 
de uma paróquia a qual não fosse de sua origem.
1797 Lei Speehamiland
Estabelecia que todos os homens deveriam ter uma renda 
mínima, pelo Estado, em sua paróquia. Além de fixar o 
colaborador numa determinada localidade, esta lei acabou 
incentivando alguns empregadores a não pagarem uma 
remuneração justa e digna a eles.
1760 a 1840 Leis dos cercamentos Os cercamentos passaram a ser regulamentos por leis.
• A fundação das grandes indústrias a consolidação da burguesia no poder
As condições político-econômicas citadas anteriormente possibilitaram o surgimento de grandes 
indústrias na Grã-Bretanha, no final do século XVIII. Gradativamente, uma nova ordem de produção 
foi instituída,tendo em seu bojo a busca desenfreada pelo lucro. Nesta conjuntura, a organização e 
as relações de trabalho foram redefinidas. Passou a ser em série e os trabalhadores foram relegados 
à condição de proletários.
Fonte: http://www.ims.com.br/ims/explore/acervo/noticias/glossario-de-tecnicas-e-processos-graficos-e-fotograficos-
do-seculo-xix
Fundamentos Antropológicos
24
CEAD
Adotando estas medidas, os industriais conseguiram impulsionar o desenvolvimento econômico, 
seguido pelo avanço nas inovações científicas e na criação de uma malha de transportes moderna. 
Posteriormente, estas transformações econômicas foram expandidas para outros países da Europa - 
expansão da Revolução Industrial para outros países.
Dessa forma, como indica Martins, podemos dizer que a revolução industrial consolidou a 
dominação burgue-sa. Nas palavras do autor:
A revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e dos 
sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, 
capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e 
as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores 
despossuídos (MARTINS, 2004, P. 11-12).
Esta apropriação burguesa trouxe graves problemas à sociedade. Dentre eles, destacamos:
• Concentração populacional nas cidades
Por conta dos cercamentos das propriedades rurais já mencionado, milhares de camponeses 
migraram para as cidades, num curto período de tempo. Cidades como Manchester, Sheffield, 
Birmingham e Leeds, por exemplo, tiveram taxa de crescimento populacional superior a 40% entre 
1820 e 18301. A própria capital inglesa também sofreu este grande fluxo migratório. De acordo com 
Martins (2004), a população de Londres de 800 000 mil habitantes, em 1780, saltou para mais de 5 
milhões em 1880. Pela inexistência de um planejamento urbanístico adequado, os novos habitantes 
tiveram que se amontoar em locais insalubres, sem nenhuma ou insuficiente infraestrutura de 
saneamento básico e esgoto. Consequentemente, o inchamento das áreas urbanas trouxe inúmeros 
problemas sociais, como miséria, doenças, aumento da criminalidade, prostituição, etc.
• Aumento da desigualdade econômico-social
Os antigos artesãos e manufatureiros que não conseguiram ascender economicamente foram 
relegados à condição de operários. E nesta nova categoria profissional, eles passaram a viver em 
péssimas condições de trabalho. Acompanhe o que Karl Marx tem a nos dizer sobre isso:
A indústria moderna converteu a pequena oficina do mestre patriarcal na grande fábrica do 
industrial capitalista. Massas de trabalhadores, comprimidos nas fábricas, são organizadas como 
tropas. Como soldados do exército industrial, são colocados sob o comando de uma hierarquia perfeita 
de oficiais e sargentos. Não são somente escravos da classe burguesa e do estado burguês, mas são, 
a todo dia e a toda hora, escravizados pela máquina, pelo fabricante burguês” (MARX E ENGELS, 1997, 
p. 20).
Fundamentos Antropológicos
CEAD
25
1 BRIGS, Asa. História Social da Inglaterra, Lisboa: Presença, 1998. P.204.
Confinados nas fábricas, trabalhando 16 horas por dia (ou até mais) em péssimas condições, 
os proletários (homens, mulheres e crianças) garantiam a produção e o lucro da burguesia. A seguir, 
apresentaremos trechos de um relatório sobre a transmissão de doenças e o trabalho infantil nas 
fábricas na Grã-Bretanha, em 1796:
Está claro que as crianças e as outras pessoas empregadas no trabalho em grandes tecelagens 
de algodão estão sujeitas às febres contagiosas: quando uma fica doente, a doença propaga-se 
rapidamente, não somente entre aqueles que estão trabalhando no mesmo local, mas também entre 
as famílias às quais pertencem, e em toda a vizinhança (...). As grandes fábricas geralmente têm uma 
influência perniciosa sobre a saúde daqueles que nelas trabalham, mesmo sobre os que não possuem 
qualquer doença, pela vida reclusa que lhes impõem e pela ação enfraquecedora do ar contaminado 
e impuro (...). O trabalho à noite e as jornadas prolongadas, às quais são submetidas as crianças, não 
somente tendem a diminuir a soma de vida e a atividade dos que estão para nascer, pela alteração 
da força dessa geração, como favorecem os vícios dos pais que, contrariamente à ordem humana, 
vivem da exploração dos filhos (...). As crianças empregadas nas fábricas são geralmente privadas de 
qualquer oportunidade de se instruírem e de receberem educação moral e religiosa” (CLAUDE, apud 
ARRUDA, 1982, P. 134).
Fonte: http://cabanodatabauera.blogspot.com.br/2012_07_01_archive.html
Fundamentos Antropológicos
26
CEAD
Além disso, em busca de mais matérias primas e de novos mercados consumidores no século 
XIX, várias nações europeias se lançaram em uma nova perspectiva expansionista e colonizaram a 
África. Por meio do Tratado de Berlim (1884-1885), dividiram, de forma arbitrária, territórios africanos, 
com a finalidade de usurparem as riquezas materiais e imateriais dos povos que ali habitavam. Tal 
projeto político-econômico teve desdobramentos trágicos para os africanos: aprofundamento da 
pobreza; esgotamento de fontes de recursos minerais; extermínio de culturais; desenvolvimento de 
guerras entre grupos étnicos etc. Somente a partir em meados do século XX as potências europeias 
devolveram os territórios africanos aos seus verdadeiros donos.
Todos os fenômenos relatados acima, instigaram pensadores, os quais considerando premissas 
filosóficas, constituíram a Sociologia e a Antropologia. Além disso, não podemos deixar de destacar a 
importância da Revolução Francesa na formação das Ciências Sociais em questão.
II) A REVOLUÇÃO FRANCESA E O FIM DO ANTIGO REGIME
A Revolução Francesa, em 1789, foi um dos acontecimentos políticos mais importantes ocorridos 
no Ocidente e que, por essa razão, é usado, de modo geral, pela historiografia para marcar a transição 
entre as Idades Moderna e Contemporânea. Por conta deste processo histórico, as tradicionais formas 
e estruturas do Antigo Regime, alicerçadas na monarquia, foram extintas e a França passou a ser uma 
sociedade de classes republicana.
Quais os fatores sócio-políticos que contribuíram para a revolução na França?
Na época da revolução, a França tinha aproximadamente 25 milhões de habitantes, sendo que 
a maior parte, cerca de 20 milhões, vivia na zona rural. A população era dividida em estados (ou 
estamentos), uma forma de estruturação e organização social que surgiu na Idade Média. Desse 
modo, existiam:
• Primeiro Estado: segmento social composto exclusivamente pelo clero. Na época, havia cerca 
de 120 mil religiosos na França, os quais se subdividiam em:
o Alto Clero (bispos e abades - socialmente tinham o mesmo prestígio dos nobres).
o Baixo Clero (padres e vigários – tinham uma condição econômica inferior em relação aos 
primeiros).
• Segundo Estado: constituído pelos nobres:
o A nobreza palaciana, a qual recebia pensões reais.
o A nobreza, que garantia a sua subsistência desenvolvendo as atividades econômicas no campo.
o A nobreza de toga, a qual era composta por burgueses que compraram os seus cargos políticos 
e administrativos.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
27
Ao todo, este Estado era possuía cerca de 350 mil indivíduos.
• Terceiro Estado: todos os demais indivíduos, aproximadamente 98% da população francesa. 
Dentre eles:
• Alta burguesia (banqueiros, financistas e empresários).
• Média burguesia (profissionais liberais).
• Pequena burguesia (artesãos e lojistas).
• As classes populares da cidade.
• Classes populares rurais (servos).
Esta organização hierárquica e social foi um dos principais causadores da revolução de 1789 
na França. Nela, tanto os religiosos quanto os nobres tinham privilégios sociais, como a concessãode 
pensões e de cargos públicos pelo monarca. Somados a esses benefícios, os membros dos Primeiro 
e Segundo Estados tinham a isenção tributária, ou seja, não pagavam impostos. Sintomaticamente, 
todo o ônus do Estado recaía sobre o Terceiro Estamento. Era a população quem pagava as contas 
do governo. E isso era feito da pior forma possível. Como a administração Estatal era ineficiente, a 
cobrança dos tributos era feita por funcionários particulares, os quais exploravam ainda mais os 
populares.
Fonte: http://pt.slideshare.net/edgardhistoria/o-estado-moderno-13093255
Aliando a essa verdadeira “injustiça social”, todo o poder político estava concentrado nas mãos 
de uma só pessoa, o Rei Luís XVI, que deliberava irrestritamente em prol do clero e da corte. Tal 
política de favorecimento indignava ainda mais o Terceiro Estado, principalmente a burguesia, classe 
social que aumentou seus rendimentos, poder e reconhecimento, ao impulsionar o desenvolvimento 
Fundamentos Antropológicos
28
CEAD
econômico francês ao longo do século XVIII. Contudo mesmo se destacando por este feito, os 
burgueses, além de não terem acesso aos mesmos privilégios que a nobreza, também não podiam 
participar diretamente da gestão política.
Tendo como inspiração os ideais iluministas, este segmento populacional passou a pleitear o 
direito à liberdade e à igualdade. Nessa perspectiva, seguida por outros segmentos do Terceiro Estado, 
a burguesia participou diretamente em uma série de eventos, ocorridos entre 5 de maio de 1789 e 9 
de novembro de 1799, os quais constituíram o que chamamos de Revolução Francesa. Durante esse 
processo, a estrutura sociopolítica francesa sofreu profundas e inimagináveis transformações. Segue 
um quadro com alguns dos principais fatos e datas importantes deste momento histórico.
Ano- datas Fatos
1787 Revolta dos Notáveis
1789 Revolta do Terceiro Estado
14 de julho Tomada da Bastilha
26 de agosto Declaração do Homem e do Cidadão
1790 Confisco dos bens do Clero
1791
Constituição que estabeleceu a Monarquia Constitucional
Tentativa de fuga e prisão do rei Luís XVI
1792 Invasão da França pela Áustria e Prússia
1793
Oficialização da República e morte do Rei Luís
2ª. Constituição
Terro contra os inimigos da revolução
1794 Deposição de Robespierre
1795 Regime do Diretório- 3ª. Constituição
1799 Golpe do 18 de Brumário (9 novembro) de Napoleão.
Esquematicamente, para fins didáticos, a Revolução Francesa pode ser subdividida em cinco 
grandes momentos:
• Assembleia Constituinte: Em meio à crise econômica e às injustiças sociais, o rei Luis XVI 
convocou uma Assembleia dos Estados Gerais em maio de 1789. À ocasião, houve uma manobra 
política para que o Terceiro Estado continuasse a pagar os tributo, e não a nobreza e o clero. Como 
resposta, em 15 de junho de 1789, o Terceiro Estado, à revelia do governo, proclamou a Assembleia 
Nacional, a qual se transformou em Assembleia Nacional Constituinte em 9 de julho. Essa iniciativa 
foi seguida por vários levantes populares, como: a tomada da Bastilha, em 14 de julho, e a invasão 
do Palácio de Versalhes – residência oficial do rei-, em outubro do mesmo ano. Pressionado, em 1790, 
Fundamentos Antropológicos
CEAD
29
o Rei Luís XVI aprovou a Constituição Civil do Clero, separando a Igreja do Estado. A partir daí, os 
clérigos foram relegados à condição de funcionários assalariados do governo.
• A Assembleia Legislativa (1791-1792).
Como a aprovação da Constituição Civil do Clero, a França passou a ser uma Monarquia 
Constitucional em 1791. O rei deixou exercer um poder e foi estabelecida uma separação entre os 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Neste novo contexto político, os cidadãos foram divididos 
em:
• Ativos - homens que possuíam uma boa renda ou propriedades. Estes podiam participar da 
vida política - voto censitário.
• Passivos - os não-votantes, como mulheres e populares em geral.
Pode-se dizer que a Constituição de 1791 tinha como objetivo maior instituir uma ordem 
burguesa na França em substituição à estabelecida outrora pela nobreza - algo visível quando 
observamos a desproporcionalidade da representação popular na Assembleia Legislativa, já que 
havia uma predominância de indivíduos oriundos ou ligados à burguesia.
Em 1792, a França declarou guerra contra a Áustria. O exército austro-prussiano invade a França, 
com a colaboração secreta do próprio Rei Luís XVI, o qual, por meio desta investida bélica, procurava 
conter o movimento revolucionário. Como reação, o exército nacional francês foi convocado e as 
massas populares se rebelaram contra os nobres. No dia 20 de setembro deste mesmo ano, as tropas 
revolucionárias conseguem vencer os invasores austríacos. Como resultado, o rei foi preso e, em 
alguns meses de depois, executado.
• A Convenção (1792-1795)
Em 10 de agosto de 1792, a Assembleia Legislativa foi dissolvida e a monarquia extinta. Criou-se 
uma nova Assembleia Nacional Constituinte (a Convenção Nacional). As primeiras medidas tomadas 
pela Convenção foram a Proclamação da República e a promulgação de uma nova Constituição (21 
de setembro de 1792). Eleita sem a divisão dos eleitores em passivos e ativos, a alta burguesia 
monarquista foi derrotada. Este período foi considerado o mais radical da Revolução Francesa, com 
uma participação mais efetiva da população.
Sob o comando de líder jacobino Robespiere, instaurou-se, na França, um período de grande 
perseguição aos contrarrevolucionários. Milhares de pessoas foram executadas. Ainda neste período 
da revolução, foram instituídas inúmeras reformas sociais de grande impacto, como abolição da 
escravidão nas colônias francesas, a realização de uma reforma agrária e a criação do ensino público 
gratuito.
Insatisfeita por ter sido afastada do poder, a alta burguesia girondina articulou e conduziu um 
golpe político, cuja principal consequência foi a retirada de Robespierre e da pequena burguesia 
Fundamentos Antropológicos
30
CEAD
jacobina do governo - o Termidor.
O Diretório (1795-1799)
O diretório é considerado o momento mais conservador do processo revolucionário, caracterizado 
principalmente pelo retorno da alta burguesia ao poder e pelo aumento do prestígio do exército. 
Também se observa, nesta fase, uma série de golpes, promovidos seja por grupos da direita ou 
esquerda, os quais contribuíram para o estabelecimento de um cenário de instabilidade política. Para 
restabelecer a ordem, os burgueses pleitearam a ditadura militar e em 10 de novembro de 1799 - 18 
de Brumário - Napoleão toma o poder. Iniciava-se, o Consulado (1799-1802).
Nesta rápida incursão história, procuramos indicar os principais eventos que constituíram a 
chamada Revolução Francesa. Vimos que, em linhas gerais, depois de uma série de processos político-
sociais, a organização social francesa foi totalmente transformada. Contudo, isso não significou a 
tomada do poder pelas camadas populares, mas sim a ascensão política e econômica da burguesia. 
Tal processo favoreceu um determinado grupo social em especial, produziu conturbações, tensões 
e desestruturações, não somente nas interações entre os indivíduos, como também nas instituições 
sociais. Veremos nas próximas Unidades que a Sociologia Francesa - sobretudo a produzida por 
Augusto Comte e Émile Durkheim - se formou tendo como principal indagação a manutenção da 
ordem social. Dito de outro modo, em razão ao caos político e social motivados pela Revolução 
Francesa, pensadores vão procurar explicar a manutenção da organização social.
Além da Revolução Francesa, a Revolução Industrial também contribuiu para a constituição 
de um saber “científico” sobre a sociedade. Foi também ao tentar explicar a desarticulação social 
proveniente da consolidação do capitalismo, que alguns pensadores -como Karl Marx - elaboraram 
conceitos e teorias sobre os agrupamentossociais.
Sugestões de filmes
Filme: “ Tempos modernos”.
Diretor: Charlie Chaplin.
Ano 1925.
Temas: Revolução Industrial, produção em série, alienação do colaborador.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=CozWvOb3A6E
Filme: “Danton- o processo da revolução”.
Diretor: Andrzei Wajda.
Tema: Revolução Francesa.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=kcwmrh-R7T0
Fundamentos Antropológicos
CEAD
31
RESUMINDO
• Os fatores político-econômicos que contribuíram para a Revolução industrial 
foram a grande disponibilidade de mão de obra decorrente da política de 
cercamentos dos campos, volumosas reservas energéticas disponíveis 
(carvão mineral), processo crescente de mercantilização da mão de obra e 
a promulgação de várias leis que asseguravam um maior domínio sobre os 
trabalhadores, dentre outros.
• A Revolução Francesa possibilitou uma transformação na estrutura social da 
França. Até então sociedade era dividida em estamentos, onde o alto clero e a 
nobreza (respectivamente Primeiro e Segundo Estados) exploravam o restante 
da população (Terceiro Estado).
• A Sociologia Francesa surgiu com o proposto de explicar, de forma sistemática 
e racional, os dilemas políticos e sociais, resultantes da Revolução Francesa.
Fundamentos Antropológicos
32
CEAD
1- Com relação à Revolução Industrial, não é correto afirmar que:
a) Significou a ascensão do proletariado ao poder.
b) Transformou as relações de produção.
c) Produziu grandes desigualdades sociais.
d) Criou novos papéis sociais (proletariado e burguesia).
e) Foi caracterizada pela progressiva substituição da mão de obra humana por máquina.
2- (Inspirada em Lista de Exercícios Revolução Francesa on-line)
A Revolução Francesa constitui um dos capítulos mais importantes da longa e descontinua passagem 
histórica do feudalismo ao capitalismo. Com a Revolução (científica) do século XVII e a Revolução 
Industrial do século XVIII na Inglaterra e ainda a Revolução Americana de 1776, a Grande Révulution 
lança os fundamentos da histórica contemporânea (Mota, C. G. A Revolução Francesa)
Entre as transformações promovidas pela Revolução na França, iniciada em 1789, é CORRETO afirmar 
que:
a) a Revolução aboliu o trabalho servil e fortaleceu o clero católico instituindo uma série de medidas 
de caráter humanista.
b) os privilégios feudais e o regime de servidão foram abolidos destruindo a base social que sustentava 
o Antigo Regime absolutista francês.
c) os revolucionários derrubaram o rei e proclamaram uma República fundamentada no igualitarismo 
radical na qual a propriedade privada foi abolida.
d) a Revolução rompeu os laços coma Igreja católica iniciando uma reforma de cunho protestante 
que se aproximava dos ideais da ética do capitalismo moderno.
e) a Revolução, mesmo em seu momento mais radical, não foi capaz de romper com as formas de 
propriedade e trabalho vigentes no antigo regime.
3- Indique os principais fatores que contribuíram para a Revolução Industrial na Inglaterra:
EXERCÍCIOS
Fundamentos Antropológicos
CEAD
33
Discursões preliminares Ill: circunstâncias 
intelectuais do surgimento da Sociologia e 
Antropologia
Objetivos
• Fazer entender as principais características do Iluminismo.
• Capacitar o aluno a reconhecer a importância do Positivismo no processo de valorização do discurso 
científico.
• Promover uma reflexão com os alunos acerca das ideias e concepções básicas do Positivismo.
• Entender a tradução de proposições da linguagem simbólica para linguagem corrente.
Unidade 03
Fundamentos Antropológicos
34
CEAD
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Vimos na Unidade anterior que os problemas decorrentes das Revoluções Industrial e Francesa 
constituíram o repertório de temas e questões da Sociologia e também da Antropologia. Dito de 
outro modo, ao produzir uma reflexão sobre as consequências sociais desses processos históricos 
que alguns pensadores formularam um “saber” sobre a sociedade - a sociologia. Da mesma forma, 
outros criaram uma ciência sobre o humano – a antropologia - ao estudarem a diversidade cultural, 
evidenciada pela intensificação das relações dos europeus com outros povos.
Além das circunstâncias históricas estudadas, ambas as ciências podem ser consideradas 
desdobramentos intelectuais de movimentos que ocorreram na Filosofia no Ocidente desde século 
XVI. A partir deste período, o uso sistemático da razão foi substituindo gradativamente as concepções 
religiosas no entendimento do mundo. Como vimos na primeira Unidade, no bojo desta tendência, 
foram lançadas as bases para a criação das ciências modernas. Primeiramente foram formadas as 
Ciências Naturais (Astronomia, física, química, biologia, etc.) e depois as Ciências Humanas (História, 
Economia, Psicologia, Sociologia, etc.).
Podemos dizer que a Sociologia e a Antropologia são manifestações do pensamento moderno, que 
surgiram para preencher lacunas acerca do entendimento do humano, em suas realizações materiais 
e imateriais. A constituição destes campos científicos não foi resultante da reflexão intelectual de 
um só filósofo ou do empreendimento de um único cientista. Foi o resultado do trabalho de vários 
homens, os quais procuraram compreender as situações novas de existência experimentadas à época.
Nesta Unidade, daremos relevo a dois movimentos filosóficos: o Iluminismo e o Positivismo.
1) ILUMINISMO
Fonte: http://www.estudokids.com.br/iluminismo/
Fundamentos Antropológicos
CEAD
35
Conhecido também como “Ilustração” ou “Século das Luzes”, o Iluminismo pode ser concebido 
como um dos principais movimentos artístico-filosóficos da história do Ocidente. De modo geral, 
integrou pensadores e artistas, principalmente na França e Inglaterra entre os séculos XIII e XVIII e 
pode ser visto como um dos desdobramentos filosóficos do Renascimento. A respeito desta relação 
entre este movimento que ocorreu entre os anos de 1450 e 1550 na Europa e o Iluminismo, observe 
o que Marcondes tem a nos dizer:
O pressuposto básico do Iluminismo afirma, portanto, que todos os homens são dotados de uma 
espécie de luz natural, de uma racionalidade, uma capacidade natural de aprender, capaz de permitir 
que conheçam o real e ajam livre e adequadamente para a realização de seus fins. A tarefa da filosofia, 
da ciência e da educação é permitir que essa luz natural possa ser posta em prática, removendo os 
obstáculos que a impedem e promovendo o seu desenvolvimento. O Iluminismo possui assim um 
caráter pedagógico enquanto projeto de formação do indivíduo, podendo ser visto também como 
herdeiro do humanismo iniciado no Renascimento” (MARCONDES, 2006, P.202).
Tendo como referência o Renascimento, o Movimento Iluminista criticou o obscurantismo 
religioso, promovido pela Igreja Católica, e as tradições sociais, as quais aprisionavam os homens e 
impediam a liberdade de pesamento e, como efeito, o progresso intelectual da humanidade.
A própria noção de Iluminismo, Ilustração, ou ainda Esclarecimento, como o termo é por 
vezes traduzido, indica, através da metáfora da luz e da claridade, uma oposição às trevas, ao 
obscunrantismo, à ignorância, à superstição, ou seja, à existência de algo oculto, enfatizando, ao 
contrário, a necessidade de o real, em todos os seus aspectos, torna-se trasnparente à razão. O grande 
instrumento do Iluminismo é a consciência individual, autônoma em sua capacitadade de conhecer 
o real; suas armas são, portanto, o conhecimento, a ciência, a educação” (MARCONDES, 2006, p.202).
Noutras palavras, o Iluminismo defendeu principalmente:
• A liberdade e a livre iniciativa do pensar.
• O conhecimento racional.
Principais pensadores iluministas:
• Voltaire (1694-1778), Fontenelle (1657-1757), Montesquieu (1689-1778), Diderot (1713-1784).
• Rousseau (1712-1778) e D´Alembert (1717-1783), na França.
• Adam Smith (1723-1790), J.Herder (1744-1803) e JeremyBentham (1748-1832), na Alemanha.
• Gianbattista Vico (1668-1744) Beccaria (1738-1794), na Itália.
Fundamentos Antropológicos
36
CEAD
II) AUGUSTO COMTE E O POSITIVISMO
Augusto Comte (1798-1857)
Fonte: http://faculty.humanities.uci.edu/bjbecker/ExploringtheCosmos/lecture13.html
Augusto Comte nasceu em Montpellier, na França, em 19 de janeiro de 1798. Proveniente de 
uma família das camadas populares, Comte passou por várias privações na infância. Aliado a isso, 
nos primeiros anos de vida, o referido pensador já demonstrava dificuldade em estabelecer relações 
interpessoais. Porém, se por um lado, lhe faltava traquejo nos relacionamentos afetivos, por outro 
lado, destacava-se por suas habilidades intelectuais. Ainda muito jovem, já indicava uma verdadeira 
paixão pelas Ciências Naturais e pelos acontecimentos históricos.
No final do século XVIII, a França passou por grandes transformações econômicas e sociais, 
decorrentes da ascensão de Napoleão ao poder. Comte nasceu justamente um ano antes da implantação 
do Consulado (1799-1802). A primeira fase de sua formação acadêmica se deu, portanto, em um 
contexto político caracterizado por um governo forte, ditatorial e imperialista. Contudo, quando 
ingressou na Escola Politécnica de Paris, em 1814, o império de Napoleão havia ruído. De certa forma, 
todos estes acontecimentos políticos influenciaram diretamente a constituição intelectual e política 
de Augusto Comte.
Na Escola Politécnica, entre os anos de 1817 e 1824, foi assistente de Saint-Simon1. Durante 
este período, as trocas entre os dois intelectuais foram expressivas e intensas. Sendo um filósofo 
com idade avançada, Saint-Simon contribui na formação intelectual de Comte. Em contrapartida, por 
Fundamentos Antropológicos
CEAD
37
ser extremamente sistemático e metódico, Augusto Comte procurou organizar os últimos escritos 
do seu mentor. Porém, em 1824, Comte rompe com o seu mestre inspirador. Desentendeu-se com 
Saint-Simon, por este ter pleiteado a autoria de um dos seus escritos. Além disso, Comte também 
não concordava com algumas inclinações teológicas e filosóficas de Saint-Simon. Tal rompimento foi 
significativo para o desenvolvimento de suas ideias positivistas.
O positivismo pode ser entendido como:
O positivismo se compõe essencialmente duma filosofia e duma política, necessariamente 
inseparáveis, uma constituindo a base, a outra a meta dum mesmo sistema universal, onde a 
inteligência e a sociabilidade se encontram intimamente combinados (COMTE, 1988, p.43).
Seguem as principais obras de Comte:
• Opúsculos de Filosofia Social (1816-1828)
• Curso de Filosofia Positiva, em seis volumes (1830-1842) (em 1848, foi renomeado para 
Sistema de Filosofia positiva)
• Sistema de Política Positiva, em quatro volumes (1851-1854)
• Discurso sobre o Espírito Positivo (1844)
• Catecismo Positivista (1852)
• Apelo aos Conservadores (1855)
• Síntese Subjetiva (1856)
• Correspondência, em oito volumes (1816-1857)
Após o afastamento, Comte voltou-se para a formulação de sua Filosofia Positivista. Vejamos a 
seguir as principais ideias e concepções da teoria de Augusto Comte:
Em seus estudos, Saint-Simon problematizou o papel da organização econômica na sociedade 
moderna.
1) Lei dos Três Estados
De acordo com esta formulação, toda a humanidade está sujeita a passar por três estados 
teóricos diferentes e sucessivos em seu processo de evolução. São eles:
1.1) Estado Teológico ou Fictício
Neste período, os fenômenos naturais e sociais são explicados a partir da ação de deuses e 
espíritos. Subdivide-se em fetichismo (culto a um determinado tipo de animal ou planta), politeísmo 
(crença em vários deuses personificados) e monoteísmo (crença em um só deus).
Comte reconhece a importância deste momento tanto no desenvolvimento da inteligência 
humana como na manutenção da ordem nas sociedades antigas. Porém, não deixa de ressaltar a 
Fundamentos Antropológicos
38
CEAD
importância da superação dele para o progresso humano.
1.2) Estado Metafísico ou Abstrato
Da mesma forma que o Estado Teológico, a Fase Metafísica procura explicar a “natureza íntima” 
das coisas e seus destinos. No entanto, substitui os agentes sobrenaturais por entidades personificados 
e a argumentação no lugar da imaginação. Em outros termos, os deuses e espíritos são substituídos 
por ideias e princípios abstratos.
Para Comte, o Estado Metafísico tem uma grande importância histórica ao ter criticado e 
negado a explicação teológica precedente. Por exemplo, os ideários da Revolução Francesa formam 
“metafísicos” quando evocaram os “direitos” do homem, sem, no entanto, produzirem uma reivindicação 
mais substantiva, com um conteúdo mais real.
1.3) Estado Positivo
Neste Estado, substitui-se a busca pelas causalidades dos fenômenos (procedimento teológico 
e metafísico) por uma investigação das leis que os comandam. Na visão de Comte, a partir da 
observação das leis que regem o fenômeno é possível não só conhecê-lo melhor, mas também prever 
o outro que se seguirá.
Além de priorizar o estudo de leis gerais, o Estado Positivo também pode ser caracterizado por:
• Valorizar a observação empírica.
• Rejeitar a ideia de que os fenômenos são decorrentes de único princípio (Divindades, Natureza 
e outro equivalente).
Para que você compreenda melhor como Comte relaciona esses estados aos períodos históricos, 
veja o quadro abaixo:
Fundamentos Antropológicos
CEAD
39
Estados Períodos Características históricas
Teológico Antiguidade e Medievo
Época escravista e servil, 
marcada por conflitos entre o 
poder espiritual e o temporal. 
Podemos observar a sua 
ocorrência no Egito (período 
teocrático) e no mundo antigo 
greco-romano. Seu regime 
político equivalente é a 
Monarquia.
Metafísico Moderno
Época das grandes 
revoluções ocorridas na Idade 
Moderna. 
Positivo Contemporâneo
Época de Comte, século 
XIX. Domínio da ciência. 
Período marcado por grandes 
injustiças e desigualdades 
sociais.
2) Hierarquização das Ciências
Em seus escritos, Augusto Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências², tendo com critérios 
o grau de complexidade e generalidade. As ciências comporiam uma hierarquia de generalidade 
decrescente, mas de complexidade crescente. Desse modo, a Matemática seria a ciência com o maior 
grau de generalidade e menor grau de complexidade, já que estuda a realidade mais simples e 
indeterminada. No topo da hierarquia, estaria a Sociologia por estudar a sociedade humana, que 
mesmo sendo um objeto bem específico (pouco genérico), possui grande complexidade (diferentes 
processos, causalidades e variáveis a serem estudados).
² COMTE, Augusto. Catecismo Positivista. São Paulo: Nova Cultural, 2000, p 206-208.
Fundamentos Antropológicos
40
CEAD
3) A sociologia e sua contribuição política
A princípio, Augusto Comte quis chamar a Sociologia de Física Social por acreditar que ela 
teria como objetivo o estudo da natureza do universo social. Porém, por não acreditar na aplicação 
das probabilidades no campo dos fenômenos sociais, cunhou a palavra Sociologia³ a partir de dois 
termos: Socio, do latim socius, que significa sócio, e logia, do grego log+ia, significando discurso 
científico. Portanto, na visão do pensador, Sociologia teria como finalidade o estudo da humanidade.
Para Comte, da mesma forma que a Física, a Sociologia teria dois campos:
• Sociologia Estática - Estuda as condições gerais de toda vida social, investigada em si mesma, 
independentemente do tempo e lugar. Estuda-se a propriedade, a família e a linguagem.
• Sociologia Dinâmica - Investiga as condições necessárias para a evolução da sociedade. Nesta 
dimensão analítica, a partir do estudo das leis que governam os fenômenos, seria possível prever os 
problemas e, consequentemente, solucioná-los.
Para concluirmosesta Unidade é importante salientar que a Sociologia tem um grande papel 
político para Augusto Comte. Observe a passagem a seguir:
O positivismo se compõe essencialmente de uma filosofia e de uma política, necessariamente 
inseparáveis, uma constituindo a base, a outra a meta de um mesmo sistema universal, onde 
inteligência e sociabilidade se encontram intimamente combinados. De uma parte, a ciência social 
não é somente a mais importante de todas, mas fornece, sobretudo, o único elo, ao mesmo tempo 
lógico e científico, que de agora em diante compota o conjunto de nossas contemplações reais. 
Ora, a ciência final, ainda mais do que cada uma das ciências preliminares, não pode desenvolver 
o seu verdadeiro caráter sem uma exata harmonia geral com a arte correspondente. Mas, por uma 
coincidência de nenhum modo fortuita, a sua fundação teórica encontra logo imenso destino prático, 
a fim de presidir hoje toda a regeneração da Europa Ocidental (COMTE, 2000, p.71).
³ O termo apareceu pela primeira vez na lição número 47 do Curso de Filosofia Positiva.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
41
Neste fragmento, Comte faz uma consideração a respeito de sua perspectiva teórica, ressaltando, 
sobretudo, a importância da ciência social (Sociologia) na produção de um “elo” com as outras ciências 
na investigação dos problemas concretos. Como vimos ao longo desta Unidade, entre os séculos XVIII 
e XIX, a França passou por grandes transformações políticas, as quais produziram um quadro social 
de incertezas e instabilidades. Em resposta a essas crises, Comte defendeu uma restauração social, 
com base nos seus princípios de ordem e progresso.
Nesta Unidade, estudamos as circunstâncias intelectuais que possibilitaram o aparecimento 
da Sociologia e da Antropologia. Vimos que, antes de tudo, elas podem ser concebidas como saberes 
sobre a vida dos humanos em sociedades. Nas próximas Unidades, apresentaremos as teorias de Karl 
Marx, Émile Durkheim e Max Weber por constituírem as matrizes do pensamento sociológico.
Sugestão de filmes:
Filme: “O amante da rainha”.
Diretor: diretor dinamarquês Nikolaj Arcel.
Ano: 2012.
Tema: Iluminismo.
Fundamentos Antropológicos
42
CEAD
RESUMINDO
• O Iluminismo foi um movimento intelectual e artístico que questionou a dominação 
do poder político da Igreja Católica e as tradições do Antigo Regime.
• A liberdade individual e a razão foram as principais características do Iluminismo;
• Augusto Comte foi um dos principais pensadores do Positivismo.
• Em geral, o Positivismo valorizou o conhecimento racional e a observação empírica 
dos fenômenos sociais.
• De acordo com Comte, as Ciências Humanas deveriam adotar as mesmas bases 
metodológicas das Ciências Naturais.
• O Iluminismo e o Positivismo foram movimentos que contribuíram intelectualmente 
para a formação das ciências humanas no século XIX, entre elas: Sociologia e 
Antropologia.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
43
1-
O iluminismo, ou Século das Luzes, foi um movimento do pensamento europeu característico 
basicamente da segunda metade do século XVIII. Abrange não só pensamento filosófico, mas 
também as artes, sobretudo a literatura, as ciências, a teoria política e a doutrina jurídica. 
Trata-se, portanto, de um movimento cultural amplo, que reflete todo um determinado 
contexto político e social da época, embora adquira características próprias em países e 
momentos diferentes, não consistindo assim em uma doutrina filosófica ou teórica específica, 
mas sim em um conjunto de ideias e valores compartilhados por diferentes correntes e tendo 
diferentes formas de expressão nas ciências, nas letras e nas artes (MARCONDES, 2005, 201).
Com relação ao iluminismo, é correto afirmar que:
a) Rousseau foi o principal opositor dessa vertente filosófica.
b) A utilização da razão é o único meio para a superação do obscurantismo religioso.
c) Defendia as concepções religiosas e o poder político da Igreja Católica.
d) Acreditava que somente pela a observância dos sentidos, o homem poderia se libertar das amarras 
da razão.
e) Defendia um maior controle sobre os indivíduos, uma vez que concebia a liberdade como um 
perigo para a sociedade.
2- O positivismo é a linha de pensamento dominante no trabalho de Comte. Sobre essa corrente de 
pensamento, marque a alternativa correta:
a) o pensamento positivo baseia-se no bom humor e na felicidade, que devem comandar as ações do 
sujeito social moderno que busca entender os conflitos que se instauram no mundo pós-revolução 
industrial.
b) as classes sociais sempre estarão em conflito generalizado entre si, uma vez que o caráter positivo 
da realidade de uma sempre resultará em resultados negativos para as outras.
c) o conhecimento verdadeiro só pode ser obtido por meio da experimentação e pelo aferimento 
científico.
d) o mundo palpável e observável insere-se dentro do conceito de conhecimento negativo, e a jornada 
espiritual voltada para Deus configura-se como o conhecimento positivo.
EXERCÍCIOS
Fundamentos Antropológicos
44
CEAD
3- (Inspirada em Unioeste 2012) Na filosofia da História – o primeiro tema da filosofia de Augusto 
Comte – foi sistematizada pelo próprio Comte na célebre “Lei dos Três Estados” e tinha o objetivo 
de mostrar por que o pensamento positivista deve imperar entre os homens. Sobre a “Lei do Três 
Estados” formulada por Comte, é correto afirmar que:
a) Augusto Comte demonstra com essa lei que todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se 
na seguinte ordem em três fases distintas ao longo da história: a positiva, a teológica e a metafísica.
b) na “Lei dos Três Estados” a argumentação desempenha um papel de primeiro plano no estado 
teológico. O estado teológico, na sua visão, corresponde a uma etapa posterior ao estado positivo.
c) o estado teológico, segundo está formulada na “Lei dos Três Estados”, não tem o poder de tornar a 
sociedade mais coesa e nenhum papel na fundamentação da vida moral.
d) o estado positivista apresenta-se na “Lei dos Três Estados” como o momento em que a observação 
prevalece sobre a imaginação e a argumentação, e na busca de leis imutáveis nos fenômenos 
observáveis.
e) para Comte, o estado metafísico não tem contato com o estado teológico, pois somente o estado 
metafísico procura soluções absolutas e universais para os problemas do homem.
EXERCÍCIOS
Fundamentos Antropológicos
CEAD
45
Introdução à Teoria Sociológica de
Emile Durkheim
Objetivos
• Fazer entender os principais processos históricos que estão relacionados à teoria sociológica de 
Émile Durkheim.
• Capacitar o aluno a compreender os principais conceitos e ideias desenvolvidas por Durkheim.
• Indicar ao discente os usos da teoria de Durkheim para a compreensão das relações sociais e das 
instituições que integram a sociedade.
Unidade 04
Fundamentos Antropológicos
46
CEAD
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Emile Durkheim (1858-1917)
Para iniciarmos o nosso estudo sobre Emile Durkheim torna-se necessário falamos um pouco 
sobre a biografia dele. O autor de O “Suicídio” nasceu em 15 de abril de 1858 em Epinal, Loraine, região 
Nordeste da França. Proveniente de uma família de origem judaica e considerada pelos padrões atuais 
como classe média, Durkheim viveu em um período marcado por grandes turbulências na França.
Como vimos na segunda Unidade, a partir de 1789, a sociedade francesa passou por grandes 
transformações que envolveram as esferas política, social e econômica. Em poucos anos, a estrutura 
social daquela nação mudou radicalmente e uma nova ordem econômica foi instituída: o capitalismo. 
Porém, todas essas mudanças que se estenderam até a época de Durkheim, não produziram uma maior 
justiça social. Pelo contrário, geraram pobreza e um sentimento de insegurança entre os franceses. 
Foi neste contexto social que Emile Durkheim cresceu ese constituiu como um pensador e cientista.
Na adolescência, saiu de sua terra natal para dar continuidade aos estudos na École Normale 
Supérieur em Paris. Na universidade, teve contato com produções intelectuais do campo da Educação. 
Ao lado de grandes pensadores, participou de vários debates sobre o sistema educacional francês, 
ressaltando, inclusive, a necessidade deste ser desvinculado das instituições religiosas.
Em 1882, aos 24 anos, Durkheim se formou em Filosofia e, após ter sido aprovado em um 
concurso para docentes, passou a lecionar em Liceus nas províncias francesas de Sens e Saint-Quentin.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
47
Sempre atento às questões políticas e sociais, licenciou-se de suas funções em 1885 como 
professor e aprofundou seus estudos sobre a sociedade. Durante um ano, visitou várias universidades 
na Alemanha, publicou artigos sobre filosofia social na “Revue Philosophique”, teve contato com várias 
produções, entre elas as de Karl Marx, pensador que será estudado na próxima Unidade.
Em 1887, por recomendação de seu amigo Espinas, foi indicado à faculdade de Letras da 
Universidade de Bordeaux. Nesta instituição de ensino superior, assumiu a cadeira de Pedagogia e 
Ciência Social. Seis anos depois, em 1893, defendeu a tese de doutorado sobre a Divisão do Trabalho 
Social – a qual trataremos adiante -, passando a ser o titular da cátedra que ocupava.
No ano seguinte, Durkheim formulou as bases metodológicas de sua Sociologia no livro “As 
Regras do Método Sociológico”, cujo primeiro lançamento foi “Revue Philosophique”. Nessa obra, ele 
não só definiu o objeto da nova disciplina em formação, como também indicou, sistematicamente, 
os métodos os quais deveriam ser usados nela. A partir daí, até a sua morte em 1917, produziu várias 
obras e lutou incansavelmente pela inserção da disciplina sociologia nas universidades francesas - 
evento que ocorreu em 1887, na Universidade de Bordeux.
Ao longo desta Unidade, veremos que Durkheim foi um grande acadêmico e um defensor 
incansável no processo de legitimação da Sociologia enquanto uma Ciência Social. Além disso, 
indicaremos como que este pensador estudou os problemas sociais e econômicos de sua sociedade, 
no entanto, sem defender a extinção do capitalismo, mas sim uma reforma neste modelo econômico.
Principais obras:
• Da Divisão do Trabalho Social (1893);
• As Regras do Método Sociológico (1895);
• O Suicídio (1897);
• As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912);
• Educação e Sociologia (1922);
• A Educação Moral (1925);
• A Evolução Pedagógica na França (1938);
• Montesquieu e Rousseau, precursores da Sociologia (1953).
I) PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA TEORIA SOCIOLÓGICA DE DURKHEIM
Além das grandes transformações socioeconômicas, o século XIX também foi marcado pela 
especialização científica. Foi nesse período que várias ciências restringiram seus objetos de estudos 
e criaram seus próprios métodos, técnica e abordagens. A Psicologia, a História e a Geografia são 
Fundamentos Antropológicos
48
CEAD
algumas das ciências que surgiram no bojo desse processo. Durkheim foi um dos primeiros pensadores 
a procurar a definir as bases metodológicas e teóricas da sociologia.
Você deve estar se perguntando: quais foram as estratégias usadas por ele para transformar a 
Sociologia em uma Ciência Social?
Para respondermos a essa questão, primeiramente, termos que relembrar que Durkheim se 
inspirou principalmente nas ideias de Augusto Comte. Mesmo tendo acesso à obra de outros filósofos, 
o pensador francês formulou as bases da Sociologia a partir do positivismo de Comte.
Da teoria desse autor, Durkheim considerou principalmente dois aspectos:
a) A necessidade da observação direta dos acontecimentos ocorridos na sociedade.
b) A ideia de que os fenômenos sociais, assim como os naturais, são ordenados e regulados por 
certas leis ou tendências gerais.
Noutros termos, para Durkheim era possível criar uma ciência social que seguisse a lógica 
das ciências naturais, tanto no que diz respeito à valorização da observação direta dos fenômenos, 
quanto na formação de leis gerais.
Neste sentido, diferente de Marx Weber, pensador que será apresentado na sexta Unidade, 
Durkheim formulou sua sociologia tendo como referência os modelos das Ciências Naturais. Essa 
perspectiva é observável tanto na maneira como concebe a sociedade, quanto na utilização de termos 
empregados, comumente, pelos biólogos, como: função, organismo, patologia, moléculas, etc.
Com relação a essa opção de Durkheim em formular uma disciplina sobre a sociedade nos 
moldes das ciências naturais, devemos fazer uma consideração. Segundo Wolf Lepenies (1998), no 
século XIX, as Ciências Naturais já eram reconhecidas como ciências autônomas no meio acadêmico 
francês. Os métodos experimentais usados nelas haviam alcançado sucesso e legitimidade nas 
universidades, nos centros de pesquisa e já eram conhecidos pela população em geral. De certa 
forma, para Durkheim foi mais seguro construir um novo campo científico sob as bases das Ciências 
Naturais, do que formular outras possibilidades metodológicas.
Após ter definido a metodologia - que será apresentada a seguir -, Durkheim ainda tinha uma 
outra questão a ser enfrentada na construção da nova disciplina: a definição do objeto de estudo. 
Como vimos na primeira Unidade, toda ciência possui um método, um objeto de estudo e um corpo 
teórico. Então, para que a Sociologia fosse reconhecida como uma ciência autônoma teria que ter um 
objeto, sistematicamente, definido e restringido.
Fundamentos Antropológicos
CEAD
49
O que a Sociologia deveria estudar?
1) OS FATOS SOCIAIS
De acordo com Durkheim, a nova ciência deveria estudar os fatos sociais. Da mesma maneira 
que os fenômenos naturais são isolados e examinados, os fatos sociais podem ser objetivamente 
estudados pelo sociólogo. Na visão desse pensador, os fatos sociais teriam existência própria, 
independentemente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Sendo assim:
Consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores aos indivíduos, dotados de um 
poder de coerção e, virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não podem se confundir com os 
fenômenos orgânicos, pois consistem em representações e em ações; nem com fenômenos psíquicos, 
que não existe senão na consciência individual e por meio dela (DURKHEIM, 1977, p. 3).
Para Durkheim os fatos sociais teriam quatro características:
• Generalidade - existem não para um indivíduo específico, mas para todo o grupo social.
• Anterioridade - antecedem a existência do indivíduo num grupo social.
• Exterioridade - atuam sobre os indivíduos, independentemente de suas vontades.
• Coercitividade - agem sobre os indivíduos forçando-os a seguirem às normas e valores sociais 
vigentes.
Seguindo os métodos de estudo usados pelos cientistas naturais, Durkheim estabelece a 
primeira regra para o estudo dos fatos sociais:
Os sociólogos devem considerar os fatos sociais como coisas e tomá-los como uma realidade 
externa aos indivíduos.
Cabe, portanto, ao sociólogo examinar os fatos sociais, sem, no entanto, expressarem suas 
paixões e concepções particulares. Ou seja, o estudo sociológico deve primar pela objetividade. Em 
seguida, o sociólogo deve explicar a origem do fato social, bem como sua influência na sociedade 
como um todo.
Exemplos de fatos sociais:
• Normas religiosas.
Fundamentos Antropológicos
50
CEAD
Ao se converter a uma determinada religião, o devoto já encontra as normas religiosas pré-
estabelecidas (generalidade), mesmo que não concorde com elas, para se inserir na comunidade 
religiosa, vai ter que praticá-las (já que elas existem independentemente de sua vontade – 
exterioridade), se em algum momento não cumpri-las, será punido de alguma forma (coercitividade).
• Moda
As sociedades

Outros materiais