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36 UNIDADE 5 - AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ENSINAR As competências para ensinar O que nos torna professores? Como ser um bom professor ou um professor competente? Estas questões são modernas e tiram o sono de muitos que desejam ser professores. A docência é uma atividade que requer um comprometimento e uma formação específica. Nesta unidade, iremos estudar as 10 competências para ensinar segundo Philippe Perrenoud. Philippe Perrenoud, suíço, doutor em sociologia e professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade de Genebra, autor de várias obras na área da pedagogia e psicologia, tem contribuído com vários estudos sobre a prática docente. Seus livros são leitura obrigatória para os profissionais do ensino. Perrenoud define 10 famílias de competências que não constituem um inventário definitivo da prática docente, mas reúne as principais características e exigências do mercado ser trabalho. Mas, o que é competência? Segundo Perrenoud (2000:15), “A noção de competência designará uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação.” Segundo Terezinha Azeredo Rios em seu artigo Competência ou Competências – o novo e o original na formação de professores (In: ROSA, D.E.G. e SOUZA,V.C (Org). Didática e Práticas de Ensino: interfaces com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. ) “A competência guarda o sentido de saber fazer bem o dever. Na verdade, ela se refere sempre a um fazer que requer um conjunto de saberes e implica um posicionamento diante daquilo que se apresenta como desejável e necessário. É importante considerar-se o saber, o fazer e o dever como elementos historicamente situados, construídos pelos sujeitos em sua práxis.” Então, podemos resumidamente entender: COMPETÊNCIA: Saber Essa definição, ainda segundo Perrenoud, pode ser reunida em quatro aspectos: 1 – As competências não são elas mesmas saberes, savoir-faire ou atitudes, mas mobilizam, integram e orquestram tais recursos. 2 – Essa mobilização só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia como outras, já encontradas. 3 – Os exercícios da competência passam por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas de pensamento (Altet, 1996; Perrenoud 2000), que permitem realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente adaptada à situação. 37 EPISTEMOLOGIA DA DOCÊNCIA 4 – As competências profissionais constroem-se em formação, e também no sabor da navegação diária de um professor, de uma situação de trabalho à outra (Le boterf, 1997). Vamos agora apresentar cada uma das competências para a formação dos professores. Segundo Perrenoud (2000) as competências são: 1 – Organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2 – Administrar a progressão das aprendizagens; 3 – Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 4 – Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5 – Trabalhar em equipe; 6 – Participar da administração da escola; 7 – Informar e envolver os pais; 8 – Utilizar novas tecnologias; 9 – Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10- Administrar sua própria formação contínua. Cada uma das competências estabelecidas por Perrenoud alerta que o professor precisa tomar as rédeas da sua própria formação e estruturar sua prática docente com seriedade e eficiência. Não existe receita ou caminho delimitado para que o professor desenvolva as competências necessárias a sua prática profissional, é preciso caminhar, ou seja, é preciso querer agir. Apresentaremos algumas indicações, que com certeza, poderão ajudá-lo no desenvolvimento de algumas competências. Organizar e dirigir situações de aprendizagem Para organizar e dirigir situações de aprendizagem o primeiro passo é ter pleno conhecimento do conteúdo a ser ensinado, só assim se tem liberdade e segurança para construí-los em parceria com os alunos. O segundo passo diz respeito ao planejamento das situações de aprendizagem e seus objetivos. Ao se planejar deve se levar em consideração o que os alunos pensam e sabem. Quando no processo educativo, o professor parte do conhecimento real do aluno; fica mais fácil se trabalhar na área definida por Vygotsky de zona de desenvolvimento proximal, que deve ser a área de atuação do professor. Ao se trabalhar nessa faixa fica mais fácil dialogar com o aluno, aproximá-lo do conhecimento científico, compartilhar a reestruturação do sistema de compreensão do mundo. 38 UNIDADE 5 - AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ENSINAR As situações de aprendizagem, quando devidamente organizadas e dirigidas, deverão ser sempre progressivas; os alunos interagem com elas de tal forma, que o erro transforma-se em instrumento de aprendizagem o que fortalece o interesse, a busca , a vontade de conhecer e saber. Administrar a progressão das aprendizagens Administrar a progressão das aprendizagens pressupõe trabalhar o saber pensar. Uma ótima maneira para isso é a proposição de situações- problema que envolvem dentre outras características: elaboração de hipóteses, de estratégias, antecipação de resultados, argumentação, validação de solução e reexame coletivo. Envolve também a visão global do processo educativo. É preciso que gradativamente se desenvolva habilidades e que se leve o aluno a construir competências, para isso é preciso que se planeje cooperativamente, que se acompanhe o desenvolvimento do aluno em todo o seu período de formação, que se operacionalize várias formas de trabalho e que se desenvolva mecanismos que permitam a (re)orientação de todo o processo. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação Pensar estratégias diferenciadas para as aulas é o primeiro passo para atender as especificidades dos alunos, para diversificar a maneira de ensinar, dando oportunidade a todos de interagir ativamente com o processo educativo. A tecnologia educacional pode ser um suporte no estabelecimento de novas metodologias. O envolvimento coletivo, a cooperação, a parceria entre alunos, professores e equipe técnico-pedagógica facilita a definição de estratégias de ensino-aprendizagem que vão ao encontro das reais necessidades dos alunos. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho A aprendizagem é um processo pessoal e particular por isso é importante que o aprendiz se envolva, tenha o desejo de aprender, de saber. O professor deve ser capaz de encorajar, de estimular, de incentivar o aluno a buscar o conhecimento. Para isso é preciso que a aprendizagem seja significativa para o aluno. A escola deve investir na cultura da auto-avaliação e da responsabilidade sobre a aprendizagem em todos os envolvidos no processo educativo, só assim haverá o envolvimento responsável com a própria aprendizagem, além de permitir a aproximação da instituição escola com os anseios da comunidade escolar e com a própria vida. Trabalhar em equipe O crescimento coletivo deve ser uma das principais metas do processo educacional; esse crescimento só acontece quando se consegue trabalhar 39 EPISTEMOLOGIA DA DOCÊNCIA em equipe. A escola é por natureza um espaço de cooperação, de partilha, de troca. A cultura da cooperação favorece o desenvolvimento de várias outras competências, fortalece a co-responsabilidade, o desejo de colaboração, o respeito ao outro, a capacidade de dialogar, de argumentar, de gerenciar conflitos, de dividir tarefas e a autonomia do pensar. O trabalho em equipe não deve ficar restrito às quatro paredes da sala de aula, afinal é uma das grandes exigências do mundo contemporâneo. Participar da administração da escola Um dos objetivos da educaçãoescolar é a consolidação da cidadania; essa consolidação acontece a partir de vivências cidadãs. O próprio sistema educacional exige da escola um Projeto Político-Pedagógico, que é um projeto coletivo. Portanto, o professor não pode isentar-se dessa participação. Cada membro da comunidade educativa é responsável pelo processo educativo, por isso a gestão da escola precisa ser transparente nas suas escolhas e prestar contas delas. Cada profissional deve participar da construção de estratégias coletivas de gestão sem perder de vista a responsabilidade individual e coletiva de definir prioridades, de implementar ações, de avaliar e avaliar-se. Informar e envolver os pais Um ensino verdadeiramente democrático é inclusivo. O processo de inclusão envolve também a família e a própria comunidade que a escola está inserida. Todos devem participar do processo educativo. A construção de saberes é um bem comum que deve ser estimulado. Os pais devem participar ativamente do processo de aprendizagem dos filhos e partilhar com o professor suas angústias e inquietações, por isso devem ser encarados como parceiros no processo educacional e não como alienígenas prestes a invadir o território do professor. Utilizar novas tecnologias O mundo está muito próximo, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação tem permitido uma transformação radical em nossas maneiras de comunicar, trabalhar, decidir, pensar e agir. O nosso aluno chega à escola com um grande cabedal de informações; o professor não pode ficar alheio a isso, assim como, não pode mais pautar sua ação pedagógica em antigos manuais didáticos. O professor precisa utilizar as novas tecnologias em prol de seu próprio aperfeiçoamento profissional, para enriquecer e aproximar da realidade suas aulas, para desenvolver a habilidade de saber aprender, para envolver o aluno em suas aprendizagens. 40 UNIDADE 5 - AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ENSINAR As novas tecnologias nos apontam para uma nova modalidade de ensino à distância, que passa a ser um novo mercado de trabalho para o professor. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão Num mundo tão competitivo o professor deve estar preparado para lidar com as desigualdades, com a violência, com os preconceitos, com a discriminação. É preciso que professor e alunos possam elaborar uma significação coletiva sobre todos esses problemas e possam (re)criar e vivenciar novas regras para a convivência humana. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão exigem valores, e os comprometimentos pessoal e social do professor. Um comprometimento com a complexidade do processo educativo, em que o senso de justiça, de responsabilidade e de tolerância com as diferenças seja uma constante. Administrar sua própria formação contínua O professor enquanto profissional não pode ficar parado no tempo e no espaço, é preciso estar aberto para novas aprendizagens, buscar atualização constante, pesquisar sempre. As práticas pedagógicas estão evoluindo, é preciso que o professor busque sempre a autoformação, que utilize sua prática como ponto de partida para novos estudos e pesquisas, que se permita experimentar, inovar, transformar, que reflita sobre a sua práxis de forma individual e coletivamente. A ação pedagógica só dará um salto qualitativo quando o professor investir na sua própria formação. Administrar sua própria formação contínua O professor enquanto profissional não pode ficar parado no tempo e no espaço, é preciso estar aberto para novas aprendizagens, buscar atualização constante, pesquisar sempre. As práticas pedagógicas estão evoluindo, é preciso que o professor busque sempre a autoformação, que utilize sua prática como ponto de partida para novos estudos e pesquisas, que se permita experimentar, inovar, transformar, que reflita sobre a sua práxis de forma individual e coletivamente. A ação pedagógica só dará um salto qualitativo quando o professor investir na sua própria formação. A docência no atual contexto educacional Ensinar para promover competências está longe de ser um modismo pedagógico, é uma tendência atual e exigência para a cultura e para o trabalho, o convívio e a realização pessoal de cada sujeito. 41 EPISTEMOLOGIA DA DOCÊNCIA Cada etapa da educação escolar é responsável por desenvolver um tipo de competência. Luis Carlos de Menezes, em seu artigo ‘A competência para promover competências’, estrutura que estas devam ser diluídas nas etapas escolares. Na educação infantil, as competências sócio-afetivas são as mais exigidas, já que o vínculo familiar e a escola formam laços estreitos de dependência e amizade. No ensino fundamental, as competências expressivo-comunicativas consolidam a inteligência lingüístico-verbal, concomitantemente com a linguagem corporal. Essas são importantes para elaborar uma autonomia e preparar para o trabalho coletivo. Nos últimos anos do ensino fundamental e em todo ensino médio, as competências cognitivo-interpretativas serão estimuladas, já que a exigência da argumentação consolida as competências adquiridas anteriormente. Agora é possível, então, entender que ensinar a partir da filosofia de competências não requer um manual, uma receita de bolo, em que professores e alunos não encontram a fórmula para o sucesso. É necessário situar a aprendizagem no tempo e espaço de sua própria construção e, aí sim, estabelecer a maneira mais adequada de formar e educar. LEITURA COMPLEMENTAR: PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar – Edição. Local de publicação: Artmed -2000. É HORA DE SE AVALIAR Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! Encerramos esta unidade. Acreditamos que a mesma contribuiu para que você constatasse o desafio e as competências necessárias na atuação do professor no atual contexto educacional.
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