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Teoria do Conhecimento: Ideia de verdade

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ANÁLISE DO TEXTO- A TEORIA DE CONHECIMENTO: A IDEIA DE VERDADE 
Huisman e Vergez iniciam o décimo quinto capitulo de sua obra com o A Teoria do Conhecimento: A Idéia de Verdade?, p.272. O capítulo tem como objetivo discutir sobre a existência da verdade, abordando a diferença entre verdade e realidade, e também o ceticismo ao longo do capítulo. Para tal discussão, os autores estruturam o texto em duas partes com alguns subtópicos presentes, sendo a introdução – SERÁ POSSÍVEL UM CONHECIMENTO METAFÍSICO, p.272, a parte I – A NATUREZA DA REALIDADE, p.274, e a parte II – EXISTÊNCIA DA VERDADE. O CETICISMO, p.280.
Em sua introdução, os autores demonstram que primeiramente afirmamos as coisas, sem ter consciência do que estamos fazendo, ou seja, que o “primeiro passo do espírito é ontológico” p.272, desta forma, estamos sujeitos ao erro, que fica visível após afirmarmos algo. A frase “a consciência ingênua só conhece coisas e se ignora como consciência”, p. 272, presente na introdução, demonstra que não pensamos no ato do espírito em primeiro lugar, e sim no pensamento que se esquece diante das afirmações. O segundo passo é o crítico, onde após afirmarmos algo, voltamos à afirmação de modo a colocá-la em questão. A partir deste segundo ponto, será iniciada a elaboração do texto ao redor da questão do que é a verdade, e se é possível, após reconhecê-la, obter algum conhecimento metafísico.
A primeira parte – A NATUREZA DA REALIDADE, que se inicia na página 274, é dividida em quatro tópicos e no decorrer desses tópicos os autores têm como objetivo evidenciar a distinção entre verdade e realidade. Antes de entrar nos tópicos, é feita a diferenciação das mesmas, onde o real é atribuído a um objeto ou ser, demonstrando a sua existência, enquanto a verdade “é um valor concernente a um juízo” p.274. É então mostrado que é possível atribuir a um objeto o título de “verdade” ou “falsidade”, mas que este está ligado apenas ao valor da nossa afirmação, e não ao objeto em si. Um exemplo disso são os dentes postiços, que consistem em uma verdadeira dentadura e que, portanto, existe, mas não são dentes de verdade. Logo, a falsidade está atribuindo à dentadura um valor, ou nesse caso, a ausência de um valor. 
No primeiro tópico da parte I, se discute sobre a evidência como critério de verdade. Busca-se um meio para reconhecer, caracterizar e definir o que seria um juízo verdadeiro. Um “juízo verdadeiro é reconhecido por seus caracteres intrínsecos, se revela verdadeiro em si mesmo, manifesta-se por sua evidência.”, p. 274. Além disso, “uma ideia clara e distinta que aparece evidente, é uma ideia verdadeira e nada mais há que procurar além dela. [...] jamais pode ser falsa” p. 274-275. Utilizando-se dessas duas afirmações, os autores apresentam uma negação ao conceito de verdade-evidência, demonstrando porquê do perigo dessa concepção de verdade, pois mesmo tendo certeza absoluta de que algo é verdade, podemos estar enganados. Logo, a evidência de algo, por si só, não necessariamente remete a verdade, justamente por ter sido fundamentada em paixões, preconceitos, tradições estabelecidas e firmadas e pensamentos costumeiros, que podem acabar nos fornecendo falsas evidências. 
Com isso, o primeiro tópico define que "ideias muito claras, demasiado claras, são, frequentemente, 'ideias mortas' " p. 275, justamente pelo fato de serem consideradas como verdades absolutas e certas, não abrirem espaço para questionamento. Em contrapartida, "ideias novas e revolucionárias encontram resistência para serem aceitas por conformistas" (BAYET apud HUISMAN; VERGEZ, 1978, p. 275), já que essas ideias que fogem ao padrão acabam contradizendo evidências tão estabelecidas que são para muitos irrefutáveis. Essas afirmações de Bayet reforçam as ideias de Spinoza, de que justamente a impressão que temos de que algo é certo, já que há evidência para comprovar a veracidade do fato, é algo de meramente subjetivo e psicológico, não se devendo, portanto, objetivar de maneira absoluta o que é, ou não, a verdade.
No segundo tópico – Será a Verdade Cópia da Realidade? p.276, os autores afirmam que uma ideia não é qualificada como verdadeira ou falsa por suas características intrínsecas, mas por sua (não) conformidade com a realidade, como no trecho “A ideia verdadeira é a ideia fiel à realidade”, p. 276). Huisman e Vergez já logo demonstram a conclusão feita no tópico anterior, e nos dizem que essa definição ainda é imprecisa, visto que para tal, a verdade nada mais seria do que uma cópia da realidade.
Diz-se também, que todo juízo verdadeiro é uma reconstrução do real e não um mero reflexo passivo, os autores definem juízo verdadeiro como “uma construção inteligível do real, supõe um trabalho do espírito e não é um mero reflexo passivo” p.276. Essa “teoria” se aplica para a verdade artística, assim como para a verdade científica e filosófica. 
A verdade no sentido artístico não passa de uma reprodução, para o senso comum. Apresentam o exemplo da fotografia, dizendo que uma imagem pode ser mentirosa apesar de demonstrar dado cenário “fielmente”, por exemplo, um caro andando a 125 km/h e numa fotografia ele parece estático. No caso de uma pintura, o verdadeiro não é uma realidade bruta, pois é apenas uma interpretação do artista, sendo assim, uma verdade para ele e não necessariamente uma verdade real.
A verdade científica supõe uma reconstrução da experiência pelos conceitos. Podemos dizer que “não só os fatos estão ligados entre si por leis necessárias, como também o juízo verdadeiro só atinge o fato através de técnicas experimentais”, p. 277. 
De acordo com Bachelard “um instrumento é apenas uma teoria materializada”, como no caso do termômetro, a qual através da sua reação física e química indica a temperatura, demonstrando uma realidade ou “verdade operacional”.
No terceiro tópico, coloca-se frente a verdade os pragmáticos. Para estes, o sucesso é o único critério da verdade e, então, o pensamento está a serviço da ação. Ou seja, o critério da verdade é fruto do sucesso prático de uma ação. Em palavras dos autores: “a ideia verdadeira é aquela que paga melhor, que tem mais rendimento, que é eficaz” (HUISMAN; VERGEZ, p. 277, 1978). O pragmatismo tiraria da verdade sua essência, afinal, qualquer erro que aconteça e a torne menos “útil” poderia torná-la “menos verdade”.
O quarto tópico do texto se refere a não contradição de um sistema de juízos. Considerando uma perspectiva racionalista, há dois tipos de verdade, a verdade formal e a verdade experimental. A primeira “ignora a realidade; ela é apenas a concordância do espírito com suas próprias convenções” (HUISMAN; VERGEZ, 1978, p. 279). Ela consiste em um raciocínio lógico que existe por meio de silogismos, ou seja, para que uma afirmação seja verdadeira ela depende de duas premissas. No entanto, tanto as premissas quanto a conclusão podem ser materialmente falsas. A segunda, a verdade experimental, busca alcançar tanto a verdade formal como a verdade material por meio da afirmação concernente ao real, através da comprovação empírica. 
A segunda parte do capítulo é denominada “Existência da verdade: o ceticismo” e esta divide-se em 2 tópicos menores, os quais são responsáveis por colocar frente ao tema da busca pela verdade os tradicionais questionadores da realidade: os céticos. De acordo com Lalande, o ceticismo é “a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir, com certeza, nenhuma verdade” (LALANDE apud HUISMAN; VERGEZ, 1978, p.280).
A necessidade de renunciar ao propósito de buscar a verdade é característica chave dos céticos, que entendem o espírito humano como incapaz de qualquer afirmação ou negação. Há dois principais pontos a se ressaltar dentro deste contexto (assim como fazem os autores): a dúvida metódica de René Descartes, e os argumentos dos céticos gregos.
Ambos tratam das dúvidas como essenciais, mas há uma grande contraposição entre elas. Para Descartes, a dúvida é absoluta, provisória (tem fim quando atinge a máxima de que sua única certeza é quepensa, logo existe), voluntária (para Descartes, “fingida”, que vem apenas para acostumar o espírito a se libertar dos sentidos); metódica (por vir como técnica em busca do que é verdadeiro); e, finalmente, otimista (que inspira a busca pelo aprofundamento filosófico do conhecimento). Ao rejeitar o testemunho dos sentidos e até mesmo as verdades matemáticas, Descartes entende que a dúvida é primeira verdade de onde outras tantas verdades surgirão, libertando o espírito dos vesentidos, é um impulso positivo na busca pela verdade. 
Por outro lado, os sofistas gregos (pré-socráticos) entendiam a verdade como inacessível. Apesar da ausência de consenso entre estes, a inacessibilidade da verdade é uma constante. Os céticos, formados por grupos de viajantes que conheceram, a partir de suas viagens as contradições do mundo, já não acreditavam mais em nada. A necessidade de provas para a comprovação de uma verdade era essencial para que esta, de fato, ostentasse tal status. A questão da regressão ao infinito (ou seja, a busca por embasamento: a prova da prova da prova da prova...). Frente esses pontos, seria impossível ao espírito humano, para os céticos, alcançar qualquer verdade e que esta, se experimental, seria insuficiente por necessitar a prova ser provada até o infinito (HUISMAN; VERGEZ, 1978). 
Por fim, HUISMAN e VERGEZ (p. 283, 1978) discutem o ceticismo em sua contradição. Ao se considerar a própria teoria como verdadeira, assume-se que é verdade que a verdade é inacessível, ou seja, aceita-se que uma destas é verdade; desmentindo a própria teoria. 
A verdade é relativa. “O homem, dizia Protágoras, é a medida de todas as coisas” afirma Anatole France, que completava: “O homem só conhecerá do universo o que se humanizar para nele entrar, só conhecerá a humanidade das coisas”. (HUISMAN; VERGEZ, p. 282, 1978). A humanidade do ser humano torna a verdade diferente para cada um. Como afirmava o Sócrates, sobre as teses de Protágoras: 
“Não acontece, às vezes, que, um ao sopro do mesmo vento, um de nós sinta arrepios e outro não? Ora, que diremos então deste sopro de vento encarado só e em relação a si mesmo? Que é frio ou que não o é? Ou acreditaremos em Protágoras: que ele é frio porque arrepia, e não o é porque não arrepia?” (SÓCRATES apud HUISMAN; VERGEZ, p. 282, 1978)
Referências Bibliográficas
HUISMAN, Denis; VERGEZ, André. Compêndio Moderno de Filosofia: a ação. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 1987.

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