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Tratamento de Emergência das Queimaduras Profa. Me. Lívia Cintra Epidemiologia • Um milhão de acidentes com queimaduras por ano no Brasil; • 2/3 dos acidentes ocorrem dentro do ambiente domiciliar; • 58% das vítimas são crianças; • Principal agente causal é líquido/alimento super aquecido. Conceito de Queimaduras • São lesões coagulativas do tecido orgânico em decorrência de trauma térmico envolvendo diversas camadas do corpo. • As queimaduras são lesões decorrentes de agentes (tais como a energia térmica, química ou elétrica) capazes de produzir calor excessivo que danifica os tecidos corporais e acarreta a morte celular. Fisiopatologia Agressão do tecido Vaso Pele Exposição do Colágeno Liberação de Substâncias Vasoativas Fisiopatologia Agressão ao tecido Mastócitos Exposição De Colágeno Histamina Sist. Calicreína Cininas Fosfolipase Ac. Araquidônico Prostaglandinas e outros Choque Hipovolêmico (1º Risco) e Perda de Eletrólitos (2º Risco) Perda da Barreira Mecânica Alterações no Sistema Imune Invasão de Bactérias Sepse/Choque Séptico (3º Risco) Resposta Metabólica Aumento do Catabolismo Liberação de Hormônios Uso das reservas energéticas Acidose Metabólica (4º Risco) Classificações das Queimaduras ✓Quanto ao agente causal: ✓Físicos ✓Químicos ✓Biológicos ✓Quanto a profundidade da lesão: ✓Primeiro Grau ✓Segundo Grau ✓Terceiro Grau Classificações das Queimaduras Quanto ao agente causal ❖Físicos: ❖Temperatura: vapor, objetos aquecidos, água quente, chama, etc. ❖Eletricidade: corrente elétrica, raio, etc. ❖Radiação: sol, raios ultra-violetas, nucleares, etc. Classificações das Queimaduras Quanto ao agente causal ❖Físicos: Quanto ao agente causal ❖Físicos: Queimaduras elétricas ▫ Tipos de Correntes Corrente de Baixa Tensão (< 500 Votls) Corrente de Alta Tensão (> 500 Votls) Corrente Alternada Corrente Contínua Classificações das Queimaduras • Queimaduras elétricas: ▫ Corrente de Baixa Tensão ❖Lesões menos extensas ❖Perigo de Fibrilação Ventricular Assistolia Classificações das Queimaduras • Queimaduras elétricas: ▫ Corrente de alta tensão Lesões extensas e profundas; Necrose tissular por coagulação protéica; Tende a percorrer o caminho mais curto até a terra e frequentemente atira a vítima longe – Fraturas e Hemorragias Cerebrais; Depressão do centro respiratório e PCR. Classificações das Queimaduras Queimaduras Elétricas Classificações das Queimaduras Classificações das Queimaduras Quanto ao agente causal ❖Químicos: produtos químicos: ácidos, bases, álcool, gasolina, etc. Classificações das Queimaduras Quanto ao agente causal ❖Biológico: ❖ Animais: (lagarta-de- fogo, água-viva, medusa) e vegetais (látex de certas plantas, urtiga). Quanto a profundidade da lesão: Primeiro grau Espessura superficial: afeta somente a epiderme; Sem formar bolhas; Hiperemia (Vermelhidão), dor, edema; Não sangra, geralmente seca; Descama em 4 a 6 dias; Exemplo: Eritema solar. Classificações das Queimaduras Primeiro grau Normalmente, não chega aos serviços de urgência e emergência. Classificações das Queimaduras Quanto a profundidade da lesão: Segundo grau Espessura parcial - superficial e profunda: Afeta a epiderme e parte da derme; Forma bolhas ou flictenas; Superficial: base da bolha é rósea (hiperemia), úmida e dolorosa; Profunda: base da bolha é branca, seca, indolor e menos dolorosa; Restauração espontânea mais lenta (7 - 21 dias), com possibilidade de formação de cicatriz. Classificações das Queimaduras Segundo grau Classificações das Queimaduras Quanto a profundidade da lesão: Terceiro grau Espessura total: Afeta a epiderme, a derme e estruturas profundas (apêndices da pele: tecidos subcutâneo, folículos pilosos, glândulas sudoríparas, músculos, nervos, vasos sanguíneos e estruturas ósseas); É indolor (pouca ou nenhuma dor); secas; Existe a presença de placa esbranquiçada/acinzentadas ou enegrecida (cor branca, amarela ou marrom); Classificações das Queimaduras Quanto a profundidade da lesão: Terceiro grau Lesões deformantes; Não reepiteliza/cicatriza espontaneamente e necessita de apoio cirúrgico: enxerto de pele (indicada também para o segundo grau profundo). Classificações das Queimaduras Terceiro grau Classificações das Queimaduras Terceiro grau Classificações das Queimaduras Terceiro grau Profunda Classificações das Queimaduras Necrose Total Carbonização Extensão da queimadura: Superfície corpórea queimada (SCQ) A rigor não se leva em conta as áreas com queimaduras de primeiro grau. SCQ Prognóstico Hidratação Superfície corpórea queimada Regra dos Nove Superfície corpórea queimada Regra dos Nove Superfície corpórea queimada Regra dos Nove SCQ: Método de Lund e Browder Superfície corpórea queimada • Áreas nobres/queimaduras especiais: Olhos, orelhas, face, pescoço, mão, pé, região inguinal, grandes articulações (ombro, axila, cotovelo, punho, articulação coxofemural, joelho e tornozelo) e órgãos genitais, bem como queimaduras profundas que atinjam estruturas profundas como ossos, músculos, nervos e/ou vasos desvitalizados. Cálculo da Hidratação • Idade e História de saúde: ▫ 2 a 4ml/kg/%SCQ para crianças e adultos jovens. ▫ Idosos, portadores de insuficiência renal e ICC devem ter seu tratamento iniciado com 2 a 3ml/kg/%SCQ e necessitam de observação mais criteriosa quanto ao resultado da diurese. Fórmula de Parkland: 2 a 4 ml x %SCQ x Peso (kg) Cálculo da Hidratação • Use preferencialmente soluções cristalóides (Ringer com lactato). • Faça a infusão de 50% do volume calculado nas primeiras 8 horas e 50% nas 16 horas seguintes. • Considere as horas a partir da hora da queimadura. • Mantenha a diurese entre 0,5 a 1ml/kg/h. Cálculo da Hidratação • No trauma elétrico, mantenha a diurese em torno de 1,5ml/kg/hora ou até o clareamento da urina. • Observe a glicemia nas crianças, nos diabéticos e sempre que necessário. • Na fase de hidratação (nas 24h iniciais), evite o uso de diurético e drogas vasoativas. Gravidade da Queimadura ➢ Condições que classificam queimadura grave: SCQ > 20% em adultos SCQ > 10% em crianças Idade < 3 anos ou > 65 anos Lesão inalatória Queimadura química Áreas nobres Violência, maus-tratos, tentativa de suicídio Trauma elétrico Politrauma e doenças prévias associadas Tratamento da dor • Uso intravenoso; • Dipirona ▫ Adulto: 500 mg – 1 g EV ▫ Criança: 15-25 mg/Kg EV • Morfina ▫ Adulto: 1 ml (10 mg) diluída em 9 ml SF 0,9%: 1 ml = 1mg até 1 mg para cada 10 Kg de peso ▫ Criança: 0,1 mg/Kg/dose • Tramal Atendimento de emergência • Tratamento imediato (APH): ▪ Informe-se sobre qual o mecanismo de lesão; ▪ Avalie segurança do local; ▪ Em caso de queimaduras elétricas certifique-se sobre o desligamento da fonte de energia. ▪ Em queimaduras químicas remova o agente com água antes de entrar em contato. ▪ Interrompa o processo de queimadura; ▪ ABCDE Atendimento de emergência • Tratamento imediato (APH): ▪ Avalie nível de consciência método AVDI (alerta, responde à estímulos verbais, responde a estímulos dolorosos ou está inconsciente). Chame ajuda! ▪ Exposição da vítima – Remova roupas não aderidas, jóias, anéis, piercings e próteses antes do edema; ▪ Cubraas lesões com tecido limpo; ▪ Hipotermia. Atendimento de emergência • Tratamento imediato (APH): ▪ Caso vítima instável, seguir para hospital imediatamente, já continuando o exame na ambulância. Se estável pode-se proceder os próximos passos no próprio local a espera de socorro: ✓Verificação de sinais vitais ✓Monitorização ✓Anamnese (Sintomas, patologias pregressas, alergias, etc) ✓Acesso venoso e Hidratação rápida Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▪ Vias aéreas: ▪ Avalie a presença de corpos estranhos, verifique e retire qualquer tipo de obstrução. ▪ Permeabilidade de vias aéreas. ▪ Respiração: ▪ Aspire as vias aéreas superiores, se necessário. ▪ Administre oxigênio a 100% e, na suspeita de intoxicação por monóxido de carbono, mantenha a oxigenação por três horas. Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▫ Respiração: ▪ Mantenha a cabeceira elevada (30°); ▪ Suspeita de lesão inalatória: queimadura em ambiente fechado com acometimento da face ou cervical, presença de rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia, queimadura das vibrissas e cílios, eritema orofaringe, insuficiência respiratória; ▪ IOT (ECG ≤ 8; PaO2 < 60 mmHg; PaCO2 > 55 mmHg; SaO2 < 90%; edema importante de face e orofaringe). Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▫ Respiração: Suspeita de lesão inalatória Queimaduras podem causar grande edema e, por isso, a via aérea superior está em risco de obstrução; Transferência CTQ e IOT precoce. Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▪ Avalie se há queimaduras circulares no tórax, nos membros superiores e inferiores e verifique a perfusão distal e o aspecto circulatório (oximetria de pulso). ▪ Avalie traumas associados, doenças prévias ou outras incapacidades e adote providências imediatas. ▪ Exponha a área queimada. Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▪ Acesso venoso periférico e calibroso, mesmo em área queimada, e somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso central. ▪ Instale sonda vesical de demora para o controle da diurese nas queimaduras em área corporal superior a 20% em adultos e 10% em crianças. ▪ Determinar profundidade e extensão da queimadura (SCQ): Regra dos nove/Método de Lund e Browder. Atendimento de emergência • Tratamento na sala de emergência: ▪ Hidratação endovenosa (Fórmula de Parkland/RL) e tratamento da dor; ▪ Considere condições que classificam queimadura grave; Atendimento de emergência ▪ Tratamento da ferida ▪ Limpeza com água e clorexidina degermante a 2%. Na falta desta, use água e sabão neutro; ▪ Curativo oclusivo em quatro camadas (Sulfadiazina de prata a 1% como antimicrobiano tópico); ▪ Curativo exposto na face e no períneo. ▪ Posicionamento: mantenha elevada a cabeceira da cama, pescoço em hiperextensão e MMSS elevados e abduzidos, se houver lesão em pilares axilares; Atendimento de emergência • Tratamento da ferida ▪ Profilaxia para tétano (reforço antitétano) e evento tromboembolítico (heparina subcutânea); ▪ Restrinja o uso de antibiótico sistêmico profilático apenas às queimaduras potencialmente colonizadas e com sinais de infecção local ou sistêmica. Em outros casos, evite o uso. ▪ As queimaduras circunferenciais em tórax podem necessitar de escarotomia para melhorar a expansão da caixa torácica. Atendimento de emergência Atendimento de emergência • Trauma elétrico ▫ Corrente elétrica (alternada ou contínua); ▫ Avaliar traumas associados; ▫ Perda de consciência ou PCR; ▫ Avaliar extensão da lesão; ▫ Internação (CTQ); ▫ Monitorização contínua por 24h-48h e dosagem de enzimas cardíacas; ▫ Avaliar mioglobinúria e estimular aumento da diurese (maior infusão de líquidos); ▫ Passagem da corrente no punho abertura do túnel do carpo fasciotomia. Atendimento de emergência • Queimadura química ▫ Equipe deve utilizar proteção universal para não ter contato com o agente químico; ▫ Identificação do agente (ácido, base, composto orgânico); ▫ Avaliar concentração, volume e duração do contato; ▫ Lesão é progressiva. Remover roupas e retire o excesso; ▫ Interne o paciente e, na dúvida, entre em contato com o centro toxicológico mais próximo. Atendimento de emergência • Queimadura química ▫ Substância em pó: Remover o excesso previamente com escovas ou panos; ▫ Queimaduras oculares: irrigar exaustivamente os olhos em água corrente por no mínimo 30 minutos. ▫ Ácido fluorídrico: reposição de cálcio (gluconato de cálcio a 10%) e acompanhe laboratorialmente a reposição do cálcio iônico. Infecção da área queimada ✓ Sinais e sintomas de infecção em queimadura: ▫ Mudança da coloração da lesão; ▫ Edema de bordas das feridas ou do segmento corpóreo afetado; ▫ Aprofundamento das lesões; ▫ Mudança do odor (cheiro fétido); ▫ Descolamento precoce da escara seca e transformação em escara úmida; ▫ Coloração hemorrágica sob a escara; ▫ Celulite ao redor da lesão; ▫ Vasculite no interior da lesão (pontos avermelhados); ▫ Aumento ou modificação da queixa dolorosa. Infecção da área queimada Transferência para CTQ • Queimaduras de 2° grau em áreas maiores do que 20% da SCQ em adultos. • Queimaduras de 2° grau maiores do que 10% da SCQ em crianças ou maiores de 50 anos. • Queimaduras de 3° grau em qualquer extensão. • Lesões na face, nos olhos, no períneo, nas mãos, nos pés e em grandes articulações. • Queimadura elétrica. • Queimadura química. • Lesão inalatória ou lesão circunferencial de tórax ou de membros. • Doenças associadas, tentativa de suicídio, politrauma, maus-tratos ou situações sociais adversas. Referências • Sociedade Brasileira de Queimaduras. http://sbqueimaduras.org.br/ • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Cartilha para tratamento de emergência das queimaduras / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012. • ATLS (Suporte Avançado de vida no trauma), 9º edição.
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