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Analisando o Discurso - Analysing the discourse

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ANALISANDO O DISCURSO: 
ANÁLISE TEXTUAL PARA PESQUISA SOCIAL 
 
NORMAN FAIRCLOUGH (2003) 
 
TRADUÇÃO: JOSÉ RAYMUNDO FIGUEIREDO LINS JÚNIOR 
 
FORTALEZA/CEARÁ 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 1 INTRODUÇÃO 3 
 2 TEXTOS, EVENTOS SOCIAIS E PRÁTICAS SOCIAIS 13 
 3 INTERTEXTUALIDADE E SUPOSIÇÃO 29 
 4 GÊNEROS E ESTRUTURAS GENÉRICAS 50 
 5 RELAÇÕES DE SIGNIFICADO ENTRE FRASES E ORAÇÕES 71 
 6 SENTENÇAS SIMPLES 85 
 7 DISCURSOS 98 
 8 AS REPRESENTAÇÕES DOS EVENTOS SOCIAIS 108 
 9 ESTILOS 126 
10 MODALIDADE E AVALIAÇÃO 130 
 CONCLUSÃO 152 
 GLOSSÁRIOS 171 
 
 
2 
1 INTRODUÇÃO 
Este livro foi escrito com dois tipos de leitores em mente. O primeiro, dos estudantes e 
pesquisadores de ciências sociais e humanas, que têm pouco conhecimento em estudos da 
linguagem (como a sociologia, a ciência política, a educação, a geografia, a história, a 
administração social, os estudos da mídia, os estudos culturais e os estudos de gênero).O 
segundo, dos estudantes e pesquisadores que estejam se especializando em língua/linguagem. 
As pessoas que trabalham em diversas áreas das ciências sociais são, com freqüência, 
confrontadas com questões sobre língua, e, freqüentemente, trabalham com materiais de 
linguagem, como textos escritos, conversas, entrevistas e pesquisas. No entanto, conforme 
indica minha experiência em ensino de análise do discurso (como a que tive com o programa 
de pesquisa da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Lancaster), há uma grande 
incerteza sobre como analisar material de linguagem. Eu acredito que, com freqüência, os 
estudantes que fazem pesquisa na área de ciências sociais sentem a necessidade de obter 
informações mais detalhadas sobre o instrumental de análise de linguagem. Geralmente, para 
esses estudantes, a leitura de livros de lingüística é algo desencorajador, o que se deve ao fato 
de que a maior parte da lingüística contemporânea é bastante imprópria para os propósitos 
desses estudantes (especialmente a ‘lingüística formal’, que aborda aspectos abstratos de 
linguagem humana e tem pouco a oferecer em análises sobre o que uma pessoa diz ou 
escreve). Este livro propõe fornecer um instrumental de análise da linguagem falada ou 
escrita. Pretende-se que este livro seja útil às pessoas envolvidas com as ciências sociais e 
humanas, com pouca ou nenhuma formação em estudo de língua, de modo a apresentar um 
caminho com sugestões sobre como desenvolver análises de língua, e, possivelmente, buscar 
melhorar as pesquisas que tenham alguma relação com as ciências sociais. 
Este livro também pode ser visto como uma introdução às análises sociais de fala e 
escrita para pessoas que já possuem alguma formação em análises de linguagem. 
Importantes movimentos em direção à análise social da linguagem têm surgido nas diversas 
disciplinas da Lingüística contemporânea - a sociolingüística e a análise de discurso são áreas 
que têm sido transformadoras e reveladoras nesse campo. No entanto, há ainda duas 
limitações que, neste livro, eu desejo começar a corrigir. A primeira se refere aos temas e 
tópicos que interessam a pesquisadores sociais têm sido tomados superficialmente. A segunda 
consiste em que a exploração desses temas pela literatura existente na área de análise 
lingüística vem apresentando um alcance limitado. Meu objetivo, neste livro, é mostrar de que 
forma um conjunto de análises lingüísticas pode ser usado para investigar diversos temas de 
interesse dos estudos sociais. 
Eu imagino que este livro pode ser usado de vários modos. É satisfatório o grau de 
utilidade deste como um material para estudantes universitários e estudantes de pós-
graduação em departamentos de ciências sociais. Outra utilização para esta obra é como um 
instrumento que possa ser usado por profissionais fora do contexto acadêmico, ou por 
 
 
3 
estudantes de pesquisa e acadêmicos em ciências sociais e ciências humanas que estão 
procurando uma introdução socialmente-orientada à análise da fala e escrita de uma língua. 
 Visto que é provável que os leitores variem consideravelmente quanto ao grau de 
familiaridade dos conceitos e categorias que eu apresento como pesquisa social e discurso e 
análise de texto, eu incluí glossários de termos-chave e pessoas-chave (pag xxx), além de 
referências às fontes às quais eu me referi no texto principal do livro. Os termos que estão 
inclusos nos glossários aparecem em negrito, quando da primeira vez que aparecem no texto. 
 
Análise Social, Análise de Discurso, Análise de Texto 
Eu considero este livro uma extensão de um trabalho de análise de discurso que eu 
publiquei previamente e que apontava uma análise lingüística mais detalhada de textos 
(Chouliaraki e Fairclough 1999, Fairclough 2001b, 1992, 1995a, 2000a). Minha abordagem 
sobre a análise de discurso (uma versão da ‘análise de discurso crítica') é baseada na 
suposição de que a língua é uma parte irredutível da vida social dialeticamente conectada a 
outros elementos de vida social, de forma que não se pode considerar a língua sem levar em 
consideração a vida social. Portanto, a análise e a pesquisa sociais sempre devem levar em 
conta a língua. (Relações dialéticas serão explicadas no capítulo 2.) Isso significa que um 
modo produtivo de fazer pesquisa social é feito por meio da linguagem, usando alguma forma 
de análise de discurso. Com essa afirmação, não pretendo reduzir a vida social à língua, 
tampouco afirmar que tudo é discurso. No entanto, baseio-me na idéia de que o estudo de 
discurso é uma estratégia analítica entre muitas e, no fato de que, freqüentemente, faz 
sentido usar análise de discurso junto com outras formas de análise, como por exemplo, a 
etnografia ou as formas de análise institucional. 
Há muitas versões de análise de discurso (o Van Dijk, 1997). Uma divisão principal é 
feita entre as abordagens que incluem análise detalhada de texto (veja abaixo o sentido no 
qual eu estou usando este termo), e as que não o fazem. Eu usei o termo “análise do discurso 
orientada textualmente” para distinguir a divisão anterior da posterior (Fairclough, 1992). A 
análise de discurso em ciências sociais tem sido, em geral, fortemente influenciada pelo 
trabalho de Foucault (Foucault 1972, Fairclough 1992). Cientistas sociais que trabalham nessa 
tradição geralmente dão pouca atenção às características lingüísticas de textos. Minha própria 
abordagem da análise do discurso se baseia emtentar transcender a divisão entre os trabalhos 
inspirados por teorias sociais que não cuidam de análise de textos e os trabalhos que buscam 
focar os textos e que não tendem a ficar presos em assuntos teóricos sociais. Essa divisão não 
é, ou não deveria ser, um sim ou um não. Por um lado, qualquer análise de textos se mostra 
relevante em situações nas quais as ciências sociais têm de se conectar com perguntas 
teóricas sobre discurso (por exemplo, os efeitos de discurso socialmente ”construtivos”). Por 
outro lado, nenhum real entendimento dos efeitos sociais de discurso é possível, se não 
olharmos de perto como são esses efeitos quando as pessoas falam ou escrevem. 
 
 
4 
Assim, análise de texto é uma parte essencial de análise de discurso, mas a análise de 
discurso não é só a análise lingüística de textos. Eu vejo a análise de discurso como algo ”que 
oscila” entre um foco em textos específicos e um foco naquilo que eu chamo de “ordem de 
discurso”, que é a estruturação social de uma língua/linguagem e sua parceria com 
determinadas práticas sociais. A análise de discurso crítica está relacionada à continuidade e à 
transformação em um aspecto mais abstrato, em um nível mais estrutural, como acontece em 
textos em particular. A ligação entre essas duas preocupações está no modo em que textos 
são analisados em um discurso crítico. A Análise de texto não é vista como análise lingüística, 
pois inclui o que eu chamei de “análise interdiscursiva”, quer dizer, ver os textos como 
discursos, gêneros e estilos que se articulam. Eu explicarei isso mais completamente no 
capítulo 2 (veja Fairclough 2000a). 
 Meu foco neste livro está na análise lingüística de textos. No entanto, eu gostaria 
de deixar claro que este não é apenas mais um livro sobre análise lingüística de textos, mas 
parte de um projeto mais amplo que propõe desenvolver a análise de discurso crítica como um 
recurso para análise social e para pesquisa. O livro pode ser usado sem referência àquele 
projeto mais largo, mas eu gostaria que, pelo menos, os leitores estivessem atentos a isso, 
mesmo se não quiserem contribuir com isso. Eu incluo um manifesto breve para o projeto mais 
amplo no término da Conclusão. Alguns leitores podem desejar ler esse manifesto, que 
apresenta uma abordagem mais ampla do tema tratado neste livro, a partir deste ponto (pág 
xxx). 
 
Terminologia: Texto, Discurso, Língua 
 Eu usarei o termo “texto” em um sentido bastante amplo. Textos impressos e escritos, 
como listas de compras e artigos de jornal, são “textos”, mas cópias de conversas e 
entrevistas (faladas) também o são, assim como programas de televisão e páginas na 
Internet. Nós poderíamos dizer que qualquer exemplo de linguagem em uso é um “texto”. 
Entretanto, até mesmo essa definição é muito limitada, visto que textos como programas de 
televisão não envolvem apenas a língua, mas também imagens visuais e efeitos de som. O 
termo “língua” será usado em seu senso mais habitual, isto é, para significar linguagem verbal 
- palavras, orações, etc. Nós podemos falar de “língua” de um modo geral ou de idiomas e 
línguas particulares, como inglês ou swahili. O termo discurso (ao qual a análise de discurso 
se refere amplamente) sinaliza a visão particular de idioma em uso ao qual eu me referi acima, 
isto é: como um elemento da vida social que é fortemente conectada a outros elementos. Mas, 
novamente, o termo pode ser usado em um sentido particular, como pode ter um sentido 
geral, abstrato. Assim, eu irei me referir a um “discurso particular”, como o discurso político de 
“Terceira Via” chamado de “New Labour” (talvez neste ponto precisemos de uma nota do 
tradutor explicando que New labour é o partido político de Tony Blair e que foi chamado de 
New labour depois de uma reforma do partido, antes chamado labour. Agora, depois da cisão, 
herbenia
Realce
 
 
5 
os radicais são chamados de old labour e os de Blair de new labour. Além disso é preciso dizer 
que ‘labour’ é o partido dos trabalhadores inglês) (Fairclough, 200b). 
 
A Linguagem no Novo Capitalismo 
Os exemplos que eu uso ao longo do livro estão particularmente focados na mudança 
social contemporânea e, especialmente, nas mudanças no capitalismo contemporâneo e o seu 
impacto em muitas áreas da vida social. O conjunto de mudanças ao qual eu estou me 
referindo é, variavelmente, identificado como “globalização”, ”pós-modernidade”, 
“modernidade tardia” “sociedade de informação”, “economia de conhecimento”, “novo 
capitalismo”, “cultura de consumo”, e assim por diante (Segurou et al, 1999). Eu usarei o 
termo novo capitalismo para me referir à mais recente de uma série histórica de re-
estruturações radicais pelas quais o capitalismo manteve sua continuidade fundamental 
(Jessop, 2000). O motivo por que decidi focalizar esse tópico se baseia no fato de que muitas 
pesquisas sociais contemporâneas estão relacionadas à natureza e às conseqüências dessas 
mudanças. E, muito simplesmente, porque nenhuma pesquisa social contemporânea pode 
ignorar estas mudanças, elas têm tido um efeito penetrante em nossas vidas. Um motivo mais 
específico para focalizar o novo capitalismo é o fato de que esse tema vem se tornando uma 
área de pesquisa importante para a análise de discurso crítica. Há um website dedicado ao 
assunto (http://www.cddc.vt.edu/host/lnc) e, recentemente, o periódico Discurso e Sociedade 
dedicou uma edição especial sobre o tema (13 (2), 2002). Eu deveria acrescentar, no entanto, 
que o termo ”novo capitalismo” não insinua um foco exclusivo em assuntos econômicos. As 
transformações do capitalismo têm ramificações ao longo de toda a vida social, e, como tema 
de pesquisa, o “capitalismo novo” deveria ser interpretado, em sentido amplo, como o que 
concerne ao modo como essas transformações repercutem na política, na educação, na 
produção artística e em muitas outras áreas da vida social. 
O capitalismo tem a capacidade de superar crises por meio de autotransformações 
periódicas radicais, de forma que a expansão econômica possa continuar. Uma transformação 
desse tipo está ocorrendo agora. O novo capitalismo vem se instaurando, em resposta a uma 
crise no modelo pós-segunda guerra mundial, também chamado de “Fordismo”. Essa 
transformação envolve tanto a reestruturação de relações entre o domínio econômico, o 
político e o social (um exemplo é a mercantilização de campos como a educação, que ficou 
sujeita à lógica econômica de mercado), quanto a reescala de relações entre os diferentes 
níveis de vida social: o global, o regional (por exemplo, a União Européia), o nacional e o local. 
Os governos, em diferentes escalas, sociais democráticos e conservadores, agora aceitam 
essas mudanças como um mero fato da vida (apesar de ter sido um “fato” produzido, em 
parte, por acordos governamentais) e que tudo tem de se curvar à lógica emergente de uma 
economia globalizadora dirigida pelo conhecimento. Esses governos abraçaram ou, pelo 
menos, ajustaram-se ao “neoliberalismo”. Neoliberalismo é um projeto político elaborado para 
facilitar a reestruturação e a reescala das relações sociais conforme as demandas de um 
 
 
6 
capitalismo global desenfreado (Bourdieu 1998). Esse projeto político tem sido imposto às 
economias pós-socialistas, como (alegadamente) o melhor meio de transformação do sistema, 
renovação econômica e reintegração à economia global. Isso levou a ataques radicais à 
previdência social universal e à redução das proteções contra os efeitos de mercados com os 
quais os estados de bem-estar proviam as pessoas. Também conduziu a uma divisão crescente 
entre ricos e pobres, aumentando a insegurança econômica e a tensão, até mesmo para a 
“nova classe média”, bem comoa uma intensificação da exploração do trabalho. A ênfase 
desenfreada em crescimento também apresenta grandes ameaças ao ambiente. Essa nova 
ordem também produziu um imperialismo novo, no qual agências financeiras internacionais, 
sob a tutela dos EUA e seus aliados ricos, impõem, indiscriminadamente, a reestruturação dos 
sistemas nacionais a países menos afortunados, o que, às vezes, tem conseqüências 
desastrosas (como o que ocorreu com a Rússia). O problema não é a intenção de aumentar a 
integração econômica mundial, mas a forma particular com que isso tem sido imposto e as 
conseqüências particulares (por exemplo, a má distribuição de renda) que inevitavelmente a 
acompanham. Tudo isso resultou na desorientação e no desarmamento de forças econômicas, 
políticas e sociais comprometidas com alternativas radicais e contribuiu para um fechamento 
do debate público e um enfraquecimento da democracia (Boyer e Hollingsworth, 1997, 
Brenner, 1998, Down e Streek 1997, Jessop 2000). 
Os leitores acharão no Apêndice um conjunto de textos que eu usei para fins ilustrativos 
ao longo do livro. Em geral, eu selecionei esses textos com base na relevância dos mesmos em 
várias questões de pesquisa que vêm sendo levantadas em uma gama de disciplinas desde o 
início da transformação do novo capitalismo. Em alguns casos, eu tomei exemplos de 
pesquisas anteriores para tentar mostrar como a abordagem adotada neste livro poderia 
aprimorar os métodos atuais de análise. 
 
A Abordagem em Análise de Texto 
Meu ponto de referência principal dentro da atual literatura sobre análise de texto é a 
Lingüística Funcional Sistêmica (SFL), uma teoria lingüística e um conjunto de métodos 
analíticos particularmente associados a Michael Halliday (Halliday, 1978, 1994). Em contraste 
com a tradição de Chomsky, mais influente dentro da Lingüística, a SFL está profundamente 
preocupada com a relação entre a língua e outros elementos e aspectos de vida social, e seu 
ponto de vista a respeito da análise lingüística de textos sempre é orientada ao caráter social 
dos textos (fontes particularmente valiosas incluem: Halliday 1994, Halliday e Hasan, 1976, 
1989, Hasan 1996, Martin 1992, o Van Leeuwen 1993, 1995, 1996). Essa postura faz da SFL 
um valioso recurso para análise de discurso crítica, e, de fato, grandes contribuições para 
análise de discurso crítica se desenvolveram a partir da SFL (Fowler et al. 1979; Hodge e 
Kress, 1988, 1993; Kress, 1985; Kress e van Leeuwen, 2001; Lemke, 1995; Thimbaut, 1991). 
No entanto, as perspectivas de análise de discurso crítica e SFL não coincidem 
integralmente, devido à diferença entre as perspectivas dessas escolas (para um diálogo crítico 
 
 
7 
entre os dois, veja Chouliaraki e Fairclough 1999). Há a necessidade de desenvolver 
abordagens de análise de texto por meio de um diálogo transdisciplinar com perspectivas 
sobre linguagem e discurso imersos na teoria e pesquisa social para desenvolvermos nossa 
capacidade de analisar textos como elementos do processo social. Uma abordagem 
transdisciplinar à teoria ou ao método analítico é uma questão de trabalhar com categorias e 
lógica ou, por exemplo, com teorias sociológicas para desenvolver uma teoria do discurso e 
métodos para analisar textos. Inevitavelmente, esse é um projeto de longo prazo, iniciado de 
um modo modesto nas discussões deste livro, como na que trata de “cadeias de gênero” 
(capítulo 2), ”dialogicidade” (capítulo 3), “equivalência e diferença” (capítulo 5), e a 
representação de tempo e espaço (capítulo 8). O trabalho de Van Leeuwen sobre 
representação (ao qual me referi acima) também pode ser visto como uma análise de texto 
que desenvolve esse modo de transdisciplinaridade. Outra preocupação que eu tive é tentar 
fazer as categorias analíticas tão transparentes quanto possíveis para análise social de 
discurso, afastando-me da terminologia técnica de lingüística, que freqüentemente é proibitiva. 
Eu também deveria mencionar brevemente a análise do corpus, mas eu não lidarei com 
isso neste livro (De Beaugrande, 1997; McEnery e Wilson, 2001; Stubbs, 1996). O tipo de 
análise de texto detalhada que eu introduzo é uma forma de análise social “qualitativa”. Esse é 
um ‘trabalho intensivo’ e pode ser produtivamente aplicado a amostras de material de 
pesquisa em lugar de grandes corpos de texto, embora a quantidade de material que pode ser 
analisada dependa do nível de detalhe: análise textual pode focalizar apenas alguns elementos 
dos textos ou muitas características simultaneamente. No entanto, como argumentam De 
Beaugrande (1997) e Stubbs (1996), essa forma de analise qualitativa pode ser suplementada 
por “análises quantitativas” oferecidas pelo corpus lingüístico. Os materiais disponíveis (como 
Wordsmith, do qual eu faço algum uso em Fairclough, 2000b) permitem, por exemplo, 
identificar as ‘palavras-chave’ de em um corpo de textos e investigar padrões distintos de co-
ocorrência ou colocação entre palavras-chave e outras palavras. Esse método tem algum 
valor, embora limitado, motivo por que é necessário complementá-lo com uma análise textual 
qualitativa mais intensiva e detalhada. 
 De fato, a análise de discurso crítica pode lançar mão de uma vasta gama de 
abordagens de análise de texto. Eu decidi dar ênfase, neste livro, à análise gramatical e 
semântica porque acredito que esta é uma forma muito produtiva de análise de textos e 
porque é difícil que os pesquisadores que não têm um arcabouço em lingüística tenham acesso 
a esse conhecimento. Há outras abordagens mais familiares e mais acessíveis à análise de 
texto (análise de conversação é um exemplo bom) a respeito das quais eu não tratei neste 
livro (para uma avaliação, veja Titscher et al. 2000). Isso não significa que essas abordagens 
não podem ser citadas em análise de discurso crítica. Pelo contrário, eu fiz algum uso delas em 
publicações anteriores (Fairclough 1992, por exemplo). 
 
 
 
 
8 
Temas de Pesquisas Sociais 
Cada capítulo do livro tratará de um ou mais temas de pesquisa social, conforme eu 
mostrarei no início de cada um deles. O propósito será mostrar quais aspectos específicos da 
análise de textos podem ser usados para pesquisar o tema ao qual o capítulo se refere Os 
temas incluem: o governo, ou a governança, de sociedades do novo capitalismo, o 
hibridismo ou o obscurecimento de limites sociais como uma característica daquilo que alguns 
teóricos sociais chamam de “pós-modernidade”, mudanças no “espaço-tempo” associadas à 
“globalização”, conflitos pela hegemonia de determinados discursos, aos quais se pretende 
conferir o status de universal, apesar do fato de os mesmos serem discursos e 
representações específicas, ideologias, cidadania e espaço público, mudança social e 
mudança em tecnologias de comunicação, a legitimação de ações e ordens sociais, os tipos 
de papéis (a palavra em inglês aparece como character. È preciso ver como foi traduzido no 
apêndice para que fique coerente.) dominantes na sociedade contemporânea (inclusive o 
gerente e o terapeuta), ‘informalização’ social e a abolição de hierarquias públicas (Todos os 
termos em negrito aparecem no glossário). 
Da perspectiva de um cientista social, o conjunto de temas abordados e os teóricos e 
pesquisadores aos quais eu recorri parecerão discrepantes. Embora eu tenha selecionado 
temas e fontes que, na minha opinião, seriam úteis para tratar o tema da linguagem no novo 
capitalismo esses elementos deveriam ser vistos mais como ilustrativos do meu objetivo geral: 
refletir sobre como a teoria social pode informar a análise de texto e como a análise de texto 
poderia aprimorar a pesquisa social. De certo modo, a diversidade de fontes e temas é 
vantajosa, poispode ajudar a demonstrar que a relação entre análise de texto e pesquisa 
social, que tenho defendido, não é limitada a teorias particulares, disciplinas ou tradições de 
pesquisa em ciências sociais. Apesar de eu haver escolhido focalizar o tema de pesquisa da 
linguagem no capitalismo novo, minha escolha não deveria levar a insinuar que análise textual 
só é pertinente à pesquisa social orientada a esse tema. E claro que um único livro não pode 
mostrar todas as áreas de pesquisa social que poderiam ser aprimoradas por análise de texto. 
Eu utilizei o trabalho de vários teóricos sociais. Novamente, devo alertar que essa 
seleção de fontes não deveria, de forma alguma, ser considerada exaustiva ou exclusiva. Os 
teóricos que escolhi são aqueles com os quais achei que seria frutífero conduzir um diálogo ao 
trabalhar com a análise crítica de discurso. De uma forma ou de outra, todos esses teóricos 
levantam questões sobre linguagem e discurso, apesar de nenhum deles utilizar os recursos 
para uma análise detalhada que, como eu sugiro, podem enriquecer esses projetos teóricos e 
pesquisas associadas. Veja o glossário dos principais teóricos sociais aos quais eu me refiro. 
Uma discussão sistemática da relação entre análise de discurso crítica e teoria social 
que pode ser vista como um complemento a este livro se encontra em Chouliaraki e Fairclough 
(1999). Esse trabalho inclui uma grande discussão a respeito da relação entre a análise de 
discurso crítica e as principais teorias sociais às quais eu recorro aqui, bem como um relato 
detalhado da análise de discurso crítica. Em Fairclough (2000b), os leitores encontrarão uma 
 
 
9 
grande aplicação da análise de discurso crítica em um caso particular: a linguagem do governo 
do “trabalho novo” (uma melhor tradução seria ‘o novo partido dos trabalhadores inglês’), no 
Reino Unido. 
 
Efeitos Sociais dos Textos 
Textos como elementos de eventos sociais (ver capítulo 2) têm efeitos causais, isto é, 
produzem mudanças. Em um primeiro contato, os textos podem provocar mudanças em 
nosso conhecimento (nós podemos aprender coisas novas a partir deles), nossas crenças, 
nossas atitudes, valores e etc. Os textos também têm efeitos em longo prazo. Pode-se dizer, 
por exemplo, que a experiência prolongada com propagandas contribui para moldar as 
identidades das pessoas como “consumidoras”. Os textos também podem iniciar guerras, 
contribuir com mudanças na educação, mudar relações industriais e muito mais. Seus efeitos 
podem incluir mudanças no mundo material, como mudanças em modelos urbanos, ou 
arquitetura e design de tipos específicos de prédios. Em síntese, textos podem ter efeitos 
causais e mudar as pessoas (crenças, atitudes e etc), ações, relações sociais e o mundo 
material. Faz pouco sentido estudar a linguagem no novo capitalismo se nós não pensássemos 
que os textos têm efeitos desse tipo, e efeitos em mudanças sociais. No entanto, conforme 
argumentarei adiante, posso dizer que esses efeitos são mediados por produção de sentido. 
 Nós precisamos, contudo, esclarecer de que tipo de causalidade estamos falando. Não é 
uma simples causalidade mecânica. Nós não podemos, por exemplo, afirmar que 
características específicas dos textos provocam, de modo automático, mudanças no 
conhecimento ou no comportamento das pessoas, ou ainda efeitos na área política e social. 
Tampouco é a causalidade o mesmo que regularidade: pode não haver um padrão regular de 
causa e efeito, mas isso não significa que não haja efeitos causais. Textos podem ter efeitos 
causais sem serem necessariamente regulares, pois muitos outros fatores no contexto 
determinam quais textos particulares têm tais efeitos e que variedade de efeitos o texto pode 
ter - por exemplo, o ponto de vista de diferentes intérpretes. (Fairclough et al. 2002) 
As ciências sociais contemporâneas têm sido fortemente influenciadas pelo ‘sócio-
construtivismo’, que define o mundo como socialmente construído. Muitas teorias sobre o 
construtivismo social enfatizam o papel dos textos (língua e discurso) na construção do mundo 
social. Essas teorias tendem a ser mais idealistas do que realistas. Um realista diria que, 
embora aspectos do mundo social sejam, definitivamente, socialmente construídos, depois de 
construídos, esses aspectos se tornam realidade que afetam e limitam a construção textual (ou 
discursiva) do social. Nós precisamos distinguir construção de “construal” (essa palavra 
aparece assim, eu não tenho idéia de como pode ser traduzida), o que os construtivistas 
sociais não fazem: nós podemos construir textualmente (representar, imaginar e etc) o mundo 
social, porém, os efeitos de nossas representações, ou ”construals”, depende de vários fatores 
contextuais, incluindo a realidade social já existente, quem a está construindo, etc. Assim, nós 
 
 
10 
podemos aceitar uma versão moderada que afirma que o mundo social é textualmente 
construído, mas não uma versão extremista (Sayer 2000). 
 
Ideologias 
 Um dos efeitos causais dos textos, que tem se constituído em preocupação central para 
a Análise Crítica de Discurso, são os efeitos ideológicos –os efeitos dos textos em inculcar e 
sustentar ou mesmo mudar ideologias (Eagleton, 1991; Larrain, 1979; Thompson, 1984; van 
Dijk, 1998). Ideologias são representações de aspectos do mundo que podem ser mostradas 
para contribuir para o estabelecimento, manutenção e mudança das relações sociais de poder, 
dominação e exploração. Essa visão ‘crítica’ de ideologia, vendo-a como uma modalidade de 
poder, contrasta com várias visões ‘descritivas’ de ideologia como posições, atitudes, crenças, 
perspectivas, entre outros, de grupos sociais sem referência a relações de poder e dominação 
entre tais grupos. Representações ideológicas podem ser identificadas em textos (Thompson 
1984 glosa ideologia como ‘significações ao serviço do poder’), mas ao dizer que as ideologias 
são representações que podem ser mostradas para contribuir para as relações sociais de poder 
e dominação, eu estou sugerindo que a análise textual precisa ser tratada, nesse respeito, em 
análise social que considera os corpos dos textos nos termos de seus efeitos nas relações de 
poder. E mais, se as ideologias são representações, em princípio, elas também podem ser 
‘postas em ação’ nas encenações sociais, e ‘inculcadas’ nas identidades dos agentes sociais. As 
ideologias também podem ter uma durabilidade e estabilidade que transcenda textos 
individuais ou corpos de textos –em termos das distinções que eu explicarei no capítulo 2, elas 
podem ser associadas com discursos (como representações), com gêneros (como encenações) 
e com estilos (como inculcações). 
 Tomemos um exemplo: a forte alegação de que na nova economia ‘global’, os países 
precisam ser altamente competitivos para sobreviver. Essa idéia pode ser encontrada, 
explicitada ou subentendida em vários textos contemporâneos. Ela também pode ser vista (e 
percebida sua associação com o discurso neo-liberal) em uma encenação. Por exemplo, ‘novo’, 
mais ‘business like’ (tenho dificuldade de traduzir essa expressão, ela diz respeito ao modo 
como os discursos fazem analogia com o empreendedorismos das negociações mercadológicas. 
Parece que mesmo em português a expressão inglesa já está consagrada.) são formas de 
administrar organizações como universidades e inculcar os estilos de gerenciamento, evidentes 
em vários textos. Nós somente podemos chegar a um julgamento sobre o propósito ideológico 
de tal alegação, olhando para os efeitos causais em que ela se manifesta, em particular nas 
áreas de vida social (exemplo, se as pessoas acreditam que os países precisam ser altamente 
competitivos para sobreviver), e perguntar se eles esuas encenações e inculcações 
contribuem para a manutenção ou mudança das relações de poder (por exemplo, tornando os 
empregados mais dóceis às demandas dos gerentes). Perceba que mesmo se nós 
chegássemos à conclusão de que tal alegação é ideológica, isto não a tornaria, 
necessariamente ou simplesmente, uma inverdade: nós podemos, por exemplo, argumentar 
 
 
11 
que as relações econômicas contemporâneas realmente impõem grande competição, embora 
se deva ressaltar que isto não é a inevitável ‘lei da natureza’. Embora isso seja geralmente 
representado como sendo, ele é, na verdade, o produto de uma ordem econômica particular 
que poderia ser mudada. Eu retornarei à discussão das ideologias no capítulo 3, com respeito 
às suposições ideológicas, em particular, e no capítulo 4, com respeito à argumentação. 
 
Texto, Significado e Interpretação 
 Uma parte daquilo que se convenciona na abordagem dos textos como elementos de 
eventos sociais é o fato de que nós não estamos apenas interessados nos textos, mas também 
em um processo interativo de produção de significado. No caso conversação face a face, o 
texto é uma transcrição do que se diz, e alguém pode perceber, com certo grau de variação, a 
produção de significado ao observar como os participantes respondem um ao outro em cada 
turno da conversação. Vejamos um exemplo (Cameron 2001): 
 
1. Cliente: Uma dose de Guiness (cerveja preta), por favor. 
2. Garçom: Quantos anos você tem? 
3. Cliente: vinte e dois 
4. Garçom: Certo, já estou indo buscar. 
 
 Nos turnos 2 e 3, o atendente do bar e o cliente estão, de modo interativo, 
demonstrando que há critérios subentendidos, quando se faz uma ordem de bebida alcoólica 
em um bar, isto é, que o cliente é (nesse caso na Grã Bretanha) uma pessoa com mais de 18 
anos. O cliente na fala 3 mostra sua intenção em estabelecer essa idéia com o seu texto e o 
atendente tem como proposta resolver e esclarecer uma certa dúvida. O cliente é capaz de 
compreender a intenção do balconista com a pergunta, que se mostra relevante para aspectos 
que se referem a direitos legais, mas também a uma relação entre a pergunta e reposta. 
 Esse exemplo sugere que há três elementos analiticamente distinguíveis: a produção do 
texto, o texto propriamente dito e a recepção do texto. A produção do texto coloca em foco os 
produtores, autores, falantes e escritores. A recepção do texto coloca em foco a interpretação, 
os intérpretes, os leitores e os ouvintes. Na história recente das teorias do significado, foi dada 
a primazia a diferentes pontos de cada um desses três elementos: primeiro, a intenção, a 
identidade etc do autor, em seguida, o texto em si e, por último, o aspecto interpretativo do 
leitor e do ouvinte. No entanto, parece claro que os sentidos são produzidos ao longo da 
interação: devemos levar em conta a posição institucional, interesses, valores, intenções, 
desejos, etc. dos produtores, a relação entre os elementos em diferentes níveis de texto, a 
posição institucional, conhecimento, propostas e valores, etc. dos receptores. É muito difícil ser 
preciso quanto aos processos envolvidos na produção de sentido pelo motivo óbvio de que 
essa produção ocorre nas mentes das pessoas, e não há caminho direto para acessá-la. 
Quando passamos do diálogo falado para, por exemplo, os textos publicados, os problemas se 
tornam compostos porque nós perdemos o momento da negociação do sentido no diálogo, o 
qual, pelo menos, nos forneceria alguma evidência de como as coisas são intencionadas e 
 
 
12 
interpretadas. Além do mais, o texto publicado pode ser recontextualizado em vários processos 
diferentes de produção de significado e, também, contribui para a distorção do significado, 
porque está aberto à interpretações diversas. 
Está claro no exemplo que a produção de significado depende de não só o que é 
explícito em um texto, mas também o que está implícito –aquilo que é suposto. Assim, nós 
poderíamos dizer que a pergunta do Garçom de bar no turno 2 supõe que só podem ser 
servidas bebidas alcoólicas se os clientes forem maior de idade. O que é ‘dito’ sempre em um 
texto ‘supõe’ algo que não está dito claramente, mas há uma inferência, assim parte da 
análise de textos tenta expor uma idéia implícita. (veja capítulo 3). 
Interpretação pode ser vista como um processo complexo com vários aspectos 
diferentes. Em parte, a interpretação é uma questão de entendimento -entendimento do que 
expressam as palavras, orações ou extensões mais longas de texto, do que os falantes ou 
escritores querem dizer (o que envolve atribuições problemáticas de intenções). Porém, em 
parte, a interpretação também é uma questão de julgamento e avaliação, por exemplo: julgar 
se o que alguém diz é sincero ou não, sério ou não, julgar se as alegações das pessoas, quanto 
ao que está implícito ou explícito, são verdades; julgar se o que as pessoas dizem ou escrevem 
estão de acordo com os dados sociais, institucionais etc, relacionando com o contexto onde a 
fala ocorre ou como essas relações se mistificam. Além disso, há um elemento explicativo para 
a interpretação –geralmente, nós tentamos entender por que as pessoas falam ou escrevem 
de determinada maneira, ou mesmo, tentamos identificar causas menos imediatas. Tendo dito 
isso, é claro que alguns textos passam por uma gama muito maior de trabalho interpretativo 
do que outros: alguns textos são muito transparentes, outros mais ou menos opacos para os 
mesmos intérpretes; interpretação é, às vezes, fácil e efetivamente automática, enquanto 
outras vezes é altamente reflexiva, envolvendo muita trabalho de pensamento elaborado sobre 
o seu significado. 
 O foco deste livro é bastante específico: analisar textos com uma visão de seus efeitos 
sociais (discutidos abaixo). Os efeitos sociais dos textos dependem da produção de sentido. 
Poderíamos dizer que os efeitos sociais de textos são gerados pela produção de sentido, ou 
melhor, que os sentidos têm mais efeito do que os textos em si. Porém, um recurso necessário 
para qualquer conhecimento de produção de sentido é a capacidade de analisar textos de 
modo a jogar luz sobre o processo de produção de sentido, e a minha prioridade neste livro é 
fornecer tal recurso. Assim, eu não desenvolverei aqui um curso completo sobre o processo de 
produção de sentido, embora minha abordagem pressuponha uma necessidade de tal 
conhecimento. Entretanto, os textos são analisados dinamicamente, ou seja, procuraremos 
analisar como agentes fazem ou ‘texturizam’ textos, estabelecendo relações entre seus 
elementos. Isso significa que minha abordagem nesta obra, de análise textual, moverá em 
direção à produção de textos, mais que em direção à recepção e interpretação de textos. 
Espero, entretanto, que o que foi dito anteriormente tenha deixado claro que eu não 
subentendo nenhum tipo de reducionismo de recepção ou interpretação. 
 
 
13 
2 TEXTOS, EVENTOS SOCIAIS E PRÁTICAS SOCIAIS 
 
Temas de análise de texto 
 
Principais tipos de significado: ação, representação, identificação 
Gêneros, discursos e estilos 
Cadeia de gêneros e cadeia de textos 
Mistura de gêneros 
Análise interdiscursiva 
 
Temas de pesquisa social 
Estrutura e agência 
Estrutura social, prática social, evento social 
Dialética do discurso 
Globalização e novo capitalismo 
Mediação 
Recontextualização 
Governância 
Hibridismo e ‘pós-modernismo’ 
 
 
 Textos são vistos neste livro como partes de eventos sociais. Uma das maneiras pelas 
quais as pessoas podem agir e interagir no curso de eventos sociais é pela fala ou pela escrita. 
Não são os únicos meios. Alguns eventos sociais têm caráter altamente textual, outros não. 
Por exemplo, embora a fala certamentefaça parte de uma partida de futebol (ex: um jogador 
pedindo a bola), é um elemento menos importante, a ação preponderante é não-lingüística. De 
modo oposto, a maior parte da ação em uma palestra é lingüística - o que o palestrante diz, o 
que está escrito em resumos e folhetos, as anotações feitas pelos ouvintes. Mas, nem mesmo 
uma palestra é totalmente lingüística – nela está incluída também performance corporal assim 
como lingüística, e pode envolver ação física como a utilização de projetores etc. 
 No capítulo 1, discuti os efeitos causais dos elementos textuais e dos eventos na vida 
social. Mas eventos e textos também têm causas – fatores que causam com que um texto em 
particular ou um tipo de texto tenha suas características intrínsecas. Podemos, grosso modo, 
distinguir dois ‘poderes’ causais que moldam textos: de um lado, a estrutura e a prática social; 
de outro, agentes sociais, ou seja, as pessoas envolvidas nos eventos sociais (Archer 1995, 
Sayer 2000). A observação para que tenhamos cautela acerca da causalidade se aplica 
também aqui: não estamos falando de simples causalidade mecânica ou presumindo 
regularidades previsíveis. 
 Neste capítulo, focalizarei a relação entre textos, eventos, práticas e estruturas sociais, 
depois de alguns comentários preliminares sobre agência de participantes em eventos, um 
tema ao qual retornaremos, especialmente no capítulo final. Grande número de temas de 
pesquisa social é relevante neste contexto, e me referirei particularmente a: economia política 
do novo capitalismo (Jessop 2000), teorização do discurso dentro de uma filosofia de ciência 
‘realista crítica’ (Fairclough, Jessop and Sayer 2002), teorias de globalização (Giddens 1991, 
Harvey 1990) e mídia/midiatização (Silverstone 1999); pesquisas na mudança entre governo 
e ‘governança’ no novo capitalismo (Bjerke 2000, Jessop 1998, forthcoming a); o conceito de 
‘recontextualização’ desenvolvido por Bernstein na sua sociologia educacional (Bernstein 
1990), e o trabalho sobre o ‘hibridismo’ ou obscurecimento de fronteiras que alguns teóricos 
 
 
14 
sociais associam com ‘pós-modernidade’ (Harvey 1990, Jameson 1991). Também discutirei os 
conceitos de ‘gênero’ e ‘discurso’, os quais têm recebido grande atenção na pesquisa e na 
teoria social (‘gênero’, nos estudos sobre mídia, ‘discurso’ especialmente nos trabalhos de 
Foucault). 
Textos e agentes sociais 
 Agentes sociais não são ‘livres’, são socialmente restritos, mas suas ações não são na 
totalidade socialmente determinadas. Os agentes têm seus próprios ‘poderes causais’ que não 
são reduzíveis aos poderes causais das estruturas e práticas sociais (para uma visão do 
relacionamento entre estrutura e agência, veja Archer 1995, 2000). Agentes sociais tecem 
textos, configuram relações entre elementos de textos. Há limitações estruturais nesse 
processo – por exemplo, a gramática (natural) de uma língua permite certas combinações e 
ordenamentos de formas gramaticais e não outras (ex.: ‘but book the’ não é uma sentença do 
inglês - ‘o mas livro’ não é uma sentença do português); e se o evento social é uma entrevista, 
há convenções de gênero que a organizam. Mesmo assim, os agentes sociais têm grande 
amplitude de liberdade na composição (texture: tecitura) dos textos. 
Tomemos o seguinte extrato do Exemplo 1 (veja Apêndice, pág. XXX) como paradigma. 
O gerente está falando acerca de ‘cultura’ de pessoas na sua cidade natal de Liverpool: 
“Eles são totalmente desconfiados de qualquer mudança. Totalmente desconfiados de qualquer pessoa que 
queira ajudá-los. Imediatamente pensam na exploração. Também foram educados para acreditar que é 
inteligente “levar vantagem sobre os outros”. Então todos fazem isso. E as linhas de demarcação que os 
sindicatos têm permitido impor nessas áreas, por causa disso, as tornam totalmente inflexíveis ao ponto de 
serem destrutivas. Sei disso. Posso ver”. 
“E como isso se relaciona ao que está acontecendo aqui?” 
“Bem, eu ia dizer, como se muda esse tipo de cultura negativa?” 
 Note, em particular, a relação semântica estabelecida entre ‘cultura negativa’ e ser 
‘totalmente desconfiados’ de mudança, ‘pensam na exploração’, tentando ‘levar vantagem 
sobre os outros’, ‘linhas de demarcação’, ‘inflexíveis’ e ‘destrutivas’. Podemos ver isso como a 
tessitura de uma relação semântica de ‘metonímia’, i.e. a relação entre o todo (‘cultura 
negativa’) e suas partes. Nenhum dicionário identificaria tal relação semântica entre essas 
expressões – a relação é construída (tecida) pelo gerente. Podemos atribuir essa construção 
de significado ao gerente como agente social. E note o que a tessitura de significado envolve 
aqui: colocação de expressões existentes em uma nova relação de equivalência como co-
instâncias de ‘cultura negativa’. O significado não tem uma presença preexistente nessas 
palavras e expressões, é um efeito das relações que são organizadas entre elas (Merleau-
Ponty, 1964). 
 
Eventos sociais, práticas sociais, estruturas sociais 
 Voltaremos à agência mais tarde, mas quero focalizar, no momento, a relação entre 
eventos sociais, práticas sociais e estruturas sociais. A abordagem reflete o trabalho recente 
 
 
15 
feito em colaboração com teóricos sociais do discurso numa filosofia de ciência ‘realista crítica’ 
(Fairclough, Jessop e Sayer, 2002). 
 Estruturas sociais são entidades muito abstratas. Pode-se pensar em estrutura social 
(tal como uma estrutura econômica, uma classe social, uma sistema de castas, ou uma língua) 
como algo potencial, como um grupo de possibilidades. No entanto, a relação entre o que é 
estruturalmente possível e o que realmente acontece, entre estruturas e eventos, é bastante 
complexa. Essa relação é mediada – há entidades organizacionais intermediárias entre 
estruturas e eventos. Vamos chamá-las de ‘práticas sociais’. Exemplos disso seriam práticas de 
ensino e práticas de administração escolar. Práticas sociais podem ser tidas como meios de 
controlar a seleção de certas possibilidades estruturais e a exclusão de outras, e a retenção 
dessas seleções no decurso do tempo, em áreas particulares da vida social. Práticas sociais são 
estabelecidas em rede de maneira particular e cambiante – por exemplo, recentemente houve 
mudança na maneira como práticas de ensino e pesquisa são conectadas em rede com 
práticas de administração em instituições de educação superior, uma ‘administralização’ (ou 
mais genericamente ‘marquetização’, Fairclough, 1993) da Educação Superior. 
A linguagem (e mais amplamente ‘semiosis’ - ‘semiótica’, incluindo, por exemplo, 
significação e comunicação por meio de imagens visuais) é um elemento do social em todos os 
níveis. Esquematicamente: 
Estrutura social: línguas 
Práticas sociais: ordens de discurso 
Eventos sociais: textos 
 
 As línguas podem ser consideradas dentro da estrutura social abstrata a que estava me 
referindo. Uma língua define um certo potencial, certas possibilidades e exclui outras – 
algumas maneiras de combinar elementos lingüísticos são possíveis, outras não (ex.: ‘the 
book’ é possível em inglês, ‘book the’ não é). Mas textos como elementos de eventos sociais 
não são simplesmente os efeitos dos potenciais definidos pelas línguas. Precisamos reconhecer 
entidades organizacionais intermediárias de um tipo lingüístico específico, os elementos 
lingüísticos de redes de práticas sociais. Vou chamá-los de ordens de discurso (veja 
Chouliaraki e Fairclough, 1999; Fairclough, 1992). Uma ordem de discurso é uma rede de 
práticas sociais no aspecto lingüístico (da língua). Os elementos de ordens de discurso não são 
coisas como nomes e sentenças (elementos de estruturas lingüísticas), mas discursos, gêneros 
e estilos (vou diferenciá-losem breve). Esses elementos selecionam certas possibilidades 
definidas pelas línguas e excluem outros – eles controlam a variabilidade lingüística para certas 
áreas da vida social. Então ordens de discurso podem ser vistas como organização e controle 
social da variação lingüística. 
 Há mais um ponto: conforme nos movemos de estruturas abstratas para eventos 
concretos, torna-se cada vez mais difícil separar linguagem de outros elementos sociais. Na 
terminologia de Althusser, linguagem se torna cada vez mais ‘superdeterminada’ 
(‘overdetermined’) por outros elementos sociais (Althusser e Balibar, 1970). Então no nível de 
estruturas abstratas, podemos falar mais ou menos exclusivamente acerca de linguagem – 
 
 
16 
mais ou menos, porque teorias ‘funcionais’ da linguagem vêem até mesmo gramáticas de 
línguas como socialmente moldadas (Halliday, 1978). O jeito que defini ordens de discurso 
torna claro que, nesse nível intermediário, estamos tratando com uma ‘superdeterminação’ 
muito maior da linguagem por outros elementos sociais – ordens de discurso são a 
organização e o controle social da variação lingüística, e os seus elementos (discursos, 
gêneros, estilos) são, correspondentemente, categorias não puramente lingüísticas, mas que 
fazem o corte através da divisão entre linguagem e ‘não-linguagem’, entre o discursivo e o 
não-discursivo. Quando chegamos aos textos como elementos de eventos sociais, a 
‘superdeterminação’ da linguagem por outros elementos sociais torna-se massiva: textos não 
são apenas efeitos de estruturas lingüísticas e de ordens de discurso, são também efeitos de 
outras estruturas sociais, e de práticas sociais em todos os seus aspectos, de maneira que se 
torna difícil separar os fatores que modelam textos. 
 
Práticas sociais 
 Práticas podem ser vistas como articulações de diferentes tipos de elementos sociais 
associados com áreas particulares da vida social – a prática social de ensino em sala de aula 
na educação britânica contemporânea, por exemplo. O ponto importante acerca das práticas 
sociais da perspectiva deste livro é que elas articulam o discurso (enquanto linguagem) 
juntamente com outros elementos sociais não-discursivos. Podemos ver qualquer prática social 
como uma articulação destes elementos: 
Ação e interação 
Relações sociais 
Pessoas (com crenças, atitudes, histórias etc.) 
O mundo material 
Discurso 
 Então, por exemplo, ensino de sala de aula articula conjuntamente meios particulares 
de uso da linguagem (tanto por parte dos professores como dos alunos) com as relações 
sociais de sala de aula, a estrutura e o uso da sala de aula como espaço físico e assim por 
diante. As relações entre esses diferentes elementos da prática social são dialéticas, conforme 
argumenta Harvey (Fairclough, 2000a; Harvey, 1996a): Essa é uma maneira de apresentar o 
fato aparentemente paradoxal de que, embora o elemento discursivo de uma prática social não 
seja o mesmo que a sua relação social, por exemplo; cada um, em um sentido, contém ou 
internaliza o outro – a relação social é em parte de natureza discursiva, o discurso é em parte 
relação social. Eventos sociais são causativamente moldados por redes de práticas sociais – 
práticas sociais definem maneiras particulares de ação, e embora os eventos reais possam, 
mais ou menos, diferir dessas definições e expectativas (porque eles perpassam diferentes 
práticas sociais e também por causa dos poderes causativos dos agentes sociais), eles ainda 
são, em parte, moldados por práticas sociais. 
 
Discurso como elemento de práticas sociais: gêneros, discursos e estilos 
 Podemos dizer que discurso figura de três principais maneiras na prática social. Figura 
como: 
 
 
17 
Gênero (modos de agir) 
Discursos (modos de representar) 
Estilos (modos de ser) 
 
 Uma das maneiras de agir e interagir é por meio da fala ou da escrita, assim discurso 
figura primeiramente 'como parte da ação'. Podemos distinguir diferentes gêneros como 
diferentes maneiras de (inter) agir discursivamente – entrevista é um gênero, por exemplo. 
Em segundo lugar, o discurso figura nas representações que sempre são partes de práticas 
sociais – representações do mundo material, de outras práticas sociais, representações 
próprias reflexivas da prática em questão. A representação é claramente substância discursiva 
e, podemos distinguir diferentes discursos, que podem representar a mesma área do mundo 
de diferentes perspectivas ou posições. Note que 'discurso' está sendo usado aqui em dois 
sentidos: abstratamente, como um substantivo abstrato, com o significado de linguagem ou 
outros tipos de semiose como elemento da vida social; mais concretamente, como substantivo 
contável, com o significado de maneiras particulares de representar parte do mundo. Um 
exemplo de discurso no último sentido seria o discurso político do 'Novo Trabalhismo1', como 
oposto ao discurso político do “velho” 'Trabalhismo', ou o discurso político do 'Thatcherismo' 
(Fairclough, 2000b). Em terceiro lugar e finalmente, discurso figura conjuntamente com 
expressões corporais ao constituir modos particulares de ser, identidades sociais ou pessoais 
particulares. Chamarei o aspecto discursivo desse item estilo. Um exemplo seria o estilo de um 
tipo específico de gerente – seu modo de utilização da linguagem como recurso para 
identificação pessoal. 
 Os conceitos de 'discurso' e 'gênero' em particular são usados em uma variedade de 
disciplinas e teorias. A popularidade do 'discurso' na pesquisa social é devida em grande parte 
a Foucault (1972). 'Gênero' é utilizado em estudos culturais, estudos da mídia, filmografia, 
entre outros (veja Fiske 1987, Silverstone 1999). Esses conceitos estão presentes em várias 
disciplinas e teorias, e podem operar como 'pontes' de uma para as outras – como foco para 
um diálogo entre elas, mediante o qual perpectivas de uma podem abrir o desenvolvimento de 
outras. 
 
Textos como ação, representação, identificação 
 As abordagens 'funcionais' da linguagem enfatizam a 'multifuncionalidade' dos textos. A 
Lingüística Sistêmico-Funcional, por exemplo, afirma que os textos têm simultaneamente as 
funções 'ideacional', 'interpessoal' e 'textual'. Isto é, os textos simultaneamente representam 
aspectos do mundo (o mundo físico, o social e o mental); interpretam as relações sociais entre 
participantes de eventos sociais e as atitudes, desejos e valores dos participantes; de modo 
coerente e coesivo conectam partes de textos, e conectam textos com seus contextos 
situacionais (Halliday, 1978, 1994). Ou melhor, as pessoas fazem tudo isso no processo de 
construção de significados nos eventos sociais, que inclui produção (tessitura) de textos. 
 
1
 Há necessidade de criar uma nota do tradutor par explicar o conceito. 
 
 
18 
 Também verei os textos como 'multifuncionais' nesse sentido, embora de maneira 
bastante diferente, de acordo com a distinção entre gêneros, discursos e estilos como as três 
principais maneiras em que o discurso figura como parte da prática social – modos de agir, 
modos de representar, modos de ser. Ou, usando outras palavras: a relação do texto com o 
evento; com o que há de mais amplo no mundo físico e social, e com as pessoas envolvidas no 
evento. No entanto, prefiro falar sobre três principais tipos de significações e não de funções: 
Principais tipos de significação textual 
Ação 
Representação 
Identificação 
 
 A representação corresponde à função 'ideacional' de Halliday; Ação se aproxima de sua 
função 'interpessoal', embora a ênfase maior seja no texto como modo de (inter)agir em 
eventos sociais, e possa ser visto como que incorporando Relação(representando relações 
sociais); Halliday não diferencia uma função separada para identificação – a maior parte do 
que eu incluo como Identificação está na função 'interpessoal' de Halliday. Não faço distinção 
de uma função 'textual' separadamente, antes a incorporo com a Ação. 
 Podemos ver Ação, Representação e Identificação simultaneamente em textos inteiros e 
em pequenas partes de textos. Tome como parâmetro a primeira sentença do Exemplo 1: 'A 
cultura em negócios de sucesso é diferente daquela existente em negócios malsucedidos'. Aqui 
temos a representação do relacionamento entre duas entidades – 'x é diferente de y'. A 
sentença também é (Ação) uma ação, que implica uma relação social: o gerente está dando ao 
entrevistador informação, dizendo algo a ele, e isso implica, de maneira ampla, uma relação 
social entre alguém que sabe e alguém que não sabe – as relações sociais desse tipo de 
entrevista são uma variante específica disto, relações de alguém que detém conhecimento e 
opiniões e alguém que as está inquirindo. Informar, avisar, prometer, advertir, entre outros, 
são modos de agir. A sentença também é (Identificação) uma promessa, um 
comprometimento, um julgamento: ao dizer 'é diferente' em vez de 'talvez é diferente' ou 
'pode ser diferente', o gerente está se comprometendo intensamente. Focalizar a análise de 
textos na interação de Ação, Representação e Identificação traz uma perspectiva social para o 
âmago do texto, para o seu mais afinado detalhe. 
 Há, como tenho indicado, uma correspondência entre Ação e gêneros, Representação e 
discursos, Identificação e estilos. Gêneros, discursos e estilos são, na ordem, meios 
relativamente estáveis e duráveis de agir, representar e identificar. São tidos como elementos 
de ordens de discurso no nível da prática social. Quando analisamos textos específicos como 
parte de eventos específicos, estamos realizando duas tarefas interconexas: (a) olhando-as em 
termos dos três aspectos do significado: Ação, Representação e Identificação e como são 
realizados nos diferentes traços de textos (vocabulário, gramática, etc); (b) estabelecendo a 
ligação entre o evento social concreto e a prática social mais abstrata ao perguntar que 
gêneros, discursos e estilos estão ali delineados, e como os diferentes gêneros, discursos e 
estilos se articulam no texto? 
 
 
19 
Relações dialéticas 
 Até o momento tenho escrito como se os três aspectos do significado ( gêneros, 
discursos e estilos) fossem bastante separados, mas a relação entre eles é mais sutil e 
complexa – é uma relação dialética. Foucault (1994: 318) faz distinções muito semelhantes 
aos três aspectos do significado, e ele também sugere o caráter dialético da relação entre eles 
(embora não use a categoria de dialética): 
“Esses sistemas, na prática, originam-se de três grandes áreas: relações de controle sobre as coisas, 
relações de ação sobre outros, relações consigo mesmo. Isso não significa que cada uma dessas três áreas 
é completamente estranha às outras. É sabido que controle sobre as coisas é mediado por relações com 
outros; e relações com outros, por sua vez, requerem relação da pessoa com a própria pessoa, e vice-versa. 
Mas temos três eixos cuja especificidade e cujas interconexões precisam ser analisadas: o eixo do 
conhecimento, o eixo do poder, o eixo da ética... Como somos constituídos como sujeitos do nosso próprio 
conhecimento? Como somos constituídos como sujeitos que exercem ou se submetem a relações de poder? 
Como somos constituídos como sujeitos morais de nossas próprias ações?” 
 
 Há muitos pontos aqui. Primeiro, as várias formulações de Foucault apontam para a 
complexidade dentro dos três aspectos de significado (que correspondem aos três 'eixos' de 
Foucault): A Representação tem a ver com conhecimento e por meio dele 'controle sobre 
coisas'; a Ação está relacionada, de modo genérico, com a relação com os outros, mas 
também' com a ação sobre os outros' e com o poder. Identificação se liga com as relações com 
a própria pessoa, ética e 'assuntos morais'. Essas várias formulações apontam para a 
possibilidade de enriquecer o nosso entendimento de textos mediante a conexão dos três 
aspectos do significado com uma variedade de categorias nas teorias sociais. Outro exemplo 
pode ser contemplar Identificação como algo que traz o que Bourdieu (Bourdieu and Wacquant 
1992) chamou de 'habitus' das pessoas envolvidas no evento para consideração na análise de 
texto, ou seja, suas disposições personificadas de ver e agir de certos modos baseados na 
socialização e experiência, que é, em parte, disposição de falar e de escrever de certo modo. 
 Em segundo lugar, embora os três aspectos do significado precisem ser distinguidos 
para propósito analítico e, nesse sentido, são diferentes uns dos outros, não são distintos, não 
são totalmente separados. Devo dizer, de maneira diferente da de Foucault, que eles são 
dialeticamente relacionados, i. e. há um sentido em que cada um 'internaliza' os outros 
(Harvey, 1996a). Isso é sugerido nas três questões no final da citação: todos os três podem 
ser vistos em termos de relação envolvendo as pessoas no evento ('sujeitos') – suas relações 
com o conhecimento, com os outros (relações de poder), e consigo mesmo (como 'sujeitos 
morais'). Ou podemos dizer, por exemplo, que Representações particulares (discursos) podem 
desempenhar de modo particular Ações e Relações (gêneros), e apontar modos de 
Identificação (estilos). Fica assim esquematicamente: 
Dialética do discurso 
Discursos (significado representacional) interpretados em gêneros (significados acionais) 
Discursos (significado representacional) apontados em estilos (significados identificacionais) 
Ações e identidades (incluindo gêneros e estilos) representados em discursos (significado 
representacional) 
 
 
 
20 
 Ilustrativamente (Exemplo 14) uma sessão de 'avaliação de treinamento', pode ser 
vista como incluindo um discurso de avaliação (ex: um modo particular de representação de 
um aspecto das atividades do corpo docente universitário), mas também especifica como o 
discurso deve ser interpretado em um procedimento de avaliação que é formado por gêneros 
como a entrevista de avaliação, e sugere modos associados de pessoas se identificarem dentro 
de estilos ligados à avaliação. Então podemos dizer que discursos de avaliação podem ser 
dialeticamente 'internalizados' em gêneros e estilos (Fairclough, 2001a). Ou, de outra maneira, 
podemos dizer que tais gêneros e estilos pressupõem representações particulares, extraídas de 
discursos específicos. Essas discussões são complexas, mas o ponto principal é que a distinção 
entre os três aspectos do significado e entre gêneros, discursos e estilos é uma distinção 
analítica necessária que não as impede de 'fluirem' umas nas outras de várias maneiras. 
 
Mediação 
 A relação entre textos e eventos sociais é freqüentemente mais complexa do que eu 
indiquei até agora. Muitos textos são 'mediados' pela 'comunicação de massa', ou seja, 
instituições que 'fazem uso da tecnologia de produção de cópias para disseminar a 
comunicação' (Luhmann, 2000). Elas envolvem mídias como impressoras, telefone, rádio, 
televisão, Internet. Em alguns casos – mais obviamente o telefone – as pessoas são co-
presentes no tempo mas distantes no espaço, e a interação é de um a um. É o mais próximo 
da conversação normal. Outros são bem diferentes da conversação normal – um livro impresso 
é escrito por uma pessoa ou por um pequeno número de autores, mas lido por um número 
indefinido de pessoas dispersas no tempo e no espaço. Nesse caso, o texto conecta eventos 
sociais diferentes – o ato de escrever o livro por um lado, e os muitos e vários eventos sociaisque incluem ler (olhar, contemplar, referir a etc.) o livro – uma viagem de metrô, uma aula na 
escola, uma visita a uma livraria, e assim por diante. 
Mediação, de acordo com Silverstone (1999), envolve o 'movimento do significado' – de 
uma prática social a outra, de um evento a outro, de um texto a outro. Conforme está 
implícito, mediação não envolve apenas um texto individual ou tipos de texto, é em muitos 
casos um processo complexo que abarca o que chamarei de 'cadeia' ou 'redes' de textos. 
Pense, por exemplo, em uma história no jornal. Os jornalistas escrevem os artigos dos 
periódicos com base em uma grande variedade de fontes – documentos escritos, falas, 
entrevistas, etc –, os artigos são lidos por aqueles que compram o jornal e podem evocar uma 
variedade de outros textos – conversações sobre as notícias, se a história for importante pode 
ser que apareça em outros noticiários e até mesmo na televisão, e assim por diante. A 'cadeia' 
ou 'rede' de textos nesse caso, então, inclui variado número de diferentes tipos de texto. Há 
uma relação bastante regular e sistemática entre alguns deles – por exemplo, jornalistas 
produzem artigos com base em fontes de maneira um tanto regular e previsível, 
transformando os materiais da fonte de acordo com convenções bem estabelecidas (como no 
caso de transformar uma entrevista em uma reportagem). 
 
 
21 
 As sociedades modernas complexas envolvem a formação em rede de diferentes 
práticas sociais através de diferentes domínios ou campos da vida social (ex: a economia, 
educação, vida familiar) e perpassam diferentes escalas da vida social (global, regional, 
nacional e local). Os textos são uma parte crucial dessas relações em rede – as ordens do 
discurso associadas com redes de práticas sociais especificam relações particulares em cadeias 
e tessituras entre tipos de textos. As transformações do novo capitalismo podem ser vistas 
como transformações no encadeamento de práticas sociais, que incluem transformações em 
ordens de discurso, e transformações em cadeias e tessituras de textos, e em 'cadeias de 
gêneros' (veja abaixo). Por exemplo, o processo de 'globalização' inclui a capacidade reforçada 
para que certas pessoas possam agir e moldar as ações de outros em distâncias espaço-
temporais consideráveis (Giddens, 1991; Harvey, 1990). Isso depende parcialmente de 
processos mais complexos de mediação textual de eventos sociais, e relações mais complexas 
de encadeamento e tessitura entre diferentes tipos de texto (facilitados por novas tecnologias 
de comunicação, principalmente a Internet). E a capacidade de influenciar ou controlar 
processos de mediação é um importante aspecto do poder nas sociedades contemporâneas. 
 'Cadeias de gêneros' têm significação específica: são diferentes gêneros que se ligam 
com regularidade, envolvendo transformações sistemáticas de gênero em gênero. Cadeias de 
gêneros contribuem para a possibilidade de ações que transcendem diferenças no espaço e no 
tempo, unindo eventos sociais a práticas sociais diferentes, países diferentes, tempos 
diferentes, facilitando a capacidade reforçada para 'ação à distância' que tem sido considerada 
um traço definidor da 'globalização' contemporânea, e, dessa maneira, tem facilitado o 
exercício do poder. 
 
Cadeias de gêneros 
 Os extratos do exemplo 3 (tirados de Iedema, 1999) dão uma noção de uma cadeia de 
gêneros. O exemplo se relaciona a um projeto planejando a renovação de um hospício. Os 
extratos são de uma entrevista com o 'arquiteto planejador' responsável por fazer um relatório 
escrito com base em consultas entre 'acionistas' do projeto, a partir de uma reunião com os 
'acionistas' e de um relatório. O que acontece é que os acionistas estão escolhendo entre as 
possíveis maneiras de tocar o projeto, e procurando argumentos fortalecedores de sua escolha 
para colocar no relatório. A reunião de acionistas e o relatório escrito são elementos da cadeia 
de gêneros nesse caso. 
 A análise de Iedema mostra duas coisas: em primeiro lugar, que a linguagem da 
reunião de acionistas é 'traduzida' para a linguagem do relatório de modo bastante sistemático 
– uma tradução que reflete a diferença de gênero. Em segundo lugar, que, no entanto, essa 
tradução é - antecipada na própria reunião – diferentes contribuições em diferentes estágios 
(representadas nos extratos) começam o processo de tradução, levando-nos à linguagem do 
relatório. Participantes da reunião ajudam na construção de uma lógica bem argumentada e 
formal do relatório – uma característica do gênero relatório oficial. 
 
 
22 
 No extrato 1 da reunião, vemos a característica de informalidade de tomada de decisão 
de tais encontros conforme o gerente de projeto enumera argumentos em favor da opção 
preferida. No extrato 2, o 'arquiteto planejador' começa a construir a lógica do relatório, 
embora ainda de maneira conversacional e pessoal que interpreta as razões dos acionistas 
para dar suporte a opção preferida (ex.: 'Acho que estávamos felizes, essa é a razão porque a 
solução encontrada foi surpreendente'). O extrato 3 dá um importante impulso rumo ao 
relatório ao transformar os argumentos para a opção em discurso indireto (ex.: 'o que você 
está dizendo é que a opção D é preferida porque é a mais compacta...') Veja o capítulo 3 
acerca do discurso indireto. Finalmente, o extrato do próprio relatório mostra uma lógica 
impessoal na qual os conectores lógicos (ex.: 'This means' (isto significa), 'a solução', 'desta 
maneira') estão prioritariamente localizados no início das sentenças e cláusulas ('tematizados' 
em uma terminologia que introduzirei mais tarde). Esses comentários na lógica do argumento 
ilustram como ao se movimentar ao longo de uma cadeia de gêneros, uma transformação 
específica na linguagem se impõe. 
 Podemos também ver o Exemplo 1 como parte de uma cadeia de gêneros. É um extrato 
de uma entrevista etnográfica entre um pesquisador acadêmico e um gerente de negócios. O 
exemplo é tirado de um livro cujo gênero principal é análise acadêmica. Além do mais, há um 
apêndice ao livro contendo 'Um Esquema de Competências de Gerenciamento' produzido, para 
a companhia pelo autor, com base em sua pesquisa, um gênero de educação gerencial. 
Podemos assim ver a entrevista etnográfica como parte de uma cadeia de gêneros. Mais 
especificamente, pode ser vista como um artifício de gênero para ter acesso à linguagem de 
gerenciamento prático, parte de uma cadeia de gêneros que a transforma na linguagem da 
análise acadêmica, e, por sua vez, transforma-a na linguagem do gerencialmente educacional 
– uma linguagem que entra para a governânça de organizações empresariais. Essa maneira de 
descrever salienta a significação das cadeias de gêneros na rede de práticas sociais (nesse 
caso, pesquisa acadêmica e empresarial) e em ação através de diferentes redes de práticas 
sociais. 
 
Gêneros e governância2 
 Gêneros são importantes para a sustentação da estrutura institucional da sociedade 
contemporânea – relações estruturais entre governo (local), comércio, universidades, mídia 
etc. Podemos pensar em tais instituições como elementos da engrenagem da sociedade de 
governância (Bjerke, 2000), e em tais gêneros como gêneros de governância. Estou utilizando 
o termo 'governância' aqui em um sentido bastante amplo para qualquer atividade dentro de 
uma instituição ou organização direcionada para regular ou gerenciar alguma outra (rede de) 
prática(s) social(ais). A crescente popularidade do termo 'governância' está associada com 
uma busca por maneiras de gerenciar a vida social (freqüentemente chamada de 'rede', 
'sociedade' etc.) que evitam tanto os efeitos caóticos do mercado como da hierarquia dos2
 Ver se este é o termo mais adequado, por se tratar de um neologismo. 
 
 
23 
estados. Embora, como Jessop aponta, governância contemporânea pode ser vista como uma 
combinação de todas essas formas – mercados, hierarquias, redes (Jessop 1998). Podemos 
contrastar gêneros de governância com 'gêneros aplicados (experienciais) (practical genres) – 
grosseiramente, gêneros que se apresentam fazendo mais do que gerenciando o jeito que as 
coisas são feitas. Pode parecer a primeira vista surpreendente ver a entrevista etnográfica do 
exemplo 1 como gênero de governância, mas o fato de classificá-la assim torna-se mais claro 
quando colocamos a entrevista etnográfica, como a do exemplo, em uma cadeia de gêneros. 
Isso mostra de maneira relativamente concreta o que é discutido mais abstratamente – a 
extensiva incorporação da pesquisa acadêmica em redes e processos de governância. 
 Os gêneros de governância são caracterizados por propriedades específicas de 
recontextualização – a apropriação de elementos de uma prática social dentro de outra, 
colocando a primeira no contexto da última, e transformando-a de maneira específica no 
processo (Bernstein, 1990; Chouliaraki e Fairclough, 1999). A 'Recontextualização' é um 
conceito desenvolvido na sociologia da educação (Bernstein, 1990) que pode ser 
frutiferamente operacionalizado, trabalhado, dentro de discurso e análise textual. No caso do 
Exemplo 1, as práticas (e linguagem) de gerenciamento são recontextualizadas (e assim 
transformadas) dentro de práticas acadêmicas (e de linguagem), que, por sua vez, são 
recontextualizadas dentro de empresas na forma de educação gerencial. Por exemplo, a 
conclusão para o argumento do gerente na entrevista ('qualquer negócio tem de manter 
confiança em todos aqueles com que se relaciona se pretende sobreviver') é recontextualizado 
na análise acadêmica como evidência de que gerentes apreciam a necessidade de 'confiança e 
reciprocidade', que conforme sugerido pode ser interpretado como 'uma forma de prática na 
qual há reconhecimento de ambos os lados como sujeitos interdependentes'. Uma diretriz no 
“Esquema de Gerenciamento de Competências” formula tal interpretação como: 'Bons 
gerentes são sensíveis às atitudes e sentimentos de todos aqueles com quem trabalham; 
tratam os outros e suas idéias com respeito; ouvem cuidadosamente as idéias e pontos de 
vista dos outros, trabalhando ativamente para extrair contribuições positivas de todos.' É claro 
que a diretriz está presumivelmente baseada no que muitos gerentes disseram, e não apenas 
na assertiva desse trecho. Mas podemos representar esse fato como um movimento de 
apropriação, transformação e colonização – uma terminologia que focaliza as relações sociais 
de poder na governância das quais essas recontextualizações fazem parte. 
 Os gêneros de governância incluem os gêneros promocionais, gêneros que têm o 
propósito de 'vender' produtos, marcas, organizações ou indivíduos. Um dos aspectos do novo 
capitalismo é a imensa proliferação de gêneros promocionais (veja Wernick, 1991) os quais 
constituem uma parte da colonização de novas áreas da vida social em mercados. O Exemplo 
2 ilustra isso: dentro do novo capitalismo, cidades e estados precisam se promover para atrair 
investimentos (veja a seguir 'mistura de gêneros' para discussão deste exemplo). 
 Outro ponto a ser notado em relação ao Exemplo 1 é que o movimento da fala gerencial 
na entrevista etnográfica para 'Um Esquema de Competências Gerenciais' é um deslocamento 
 
 
24 
do nível local para o global. Podemos ver a tão chamada 'globalização' na realidade como uma 
questão de mudança nas relações entre diferentes escalas da vida e da organização social 
(Jessop, 2000). Então esse é um movimento em 'escala', no sentido de que a pesquisa em 
uma organização de negócio específica leva a preceitos (ex: 'Bons gerentes procuram e criam 
oportunidades, iniciam ações e querem assumir “a primeira posição no jogo”) que podem ser 
aplicados a qualquer organização comercial em qualquer lugar do mundo. E, na verdade, os 
recursos para educação gerencial produzidos por acadêmicos entram no circuito internacional. 
Os gêneros de governância têm, mais amplamente, essa propriedade de ligar diferentes 
escalas – conectando o local e o particular ao nacional / regional / global e geral. Isso indica 
que gêneros são importantes para sustentar não apenas as relações estruturais entre, por 
exemplo, o mundo acadêmico e o mundo dos negócios, mas também escalonar relações entre 
o local, o nacional, o regional (ex.: União Européia) e o 'global'. Então mudanças de gênero 
são pertinentes para reestruturação e reescalonamento da vida social no novo capitalismo. 
 O Exemplo 3 é ainda outra ilustração: a reunião de acionistas é um evento local, no 
entanto, um dos efeitos da sua recontextualização em um relatório é a mudança para uma 
escala global – tais relatórios filtram o que é específico de eventos e situações locais em um 
movimento para uma lógica impessoal que pode acomodar um sem fim de eventos e casos 
locais específicos. Os relatórios podem assim circular nacionalmente, regionalmente (ex: 
dentro da UE) e globalmente, e dessa maneira fazer a ligação entre o local e o global. Parte do 
efeito da 'filtragem' conforme nos movimentamos ao longo da cadeia de gêneros recai sobre o 
discurso: discursos que se concentram em um gênero (ex: reuniões) podem ser 'filtrados' no 
deslocamento para outro (ex: relatório), de maneira que a cadeia de gêneros opera como 
agente regulador para selecionar e privilegiar alguns discursos em detrimento de outros. 
 Muitas ações e interações nas sociedades modernas são 'mediadas' dessa maneira. A 
(inter)ação mediada é a 'ação à distância', ação que envolve participantes que estão distantes 
um do outro no tempo e/ou no espaço, que dependem de alguma tecnologia de comunicação 
(impressora, televisão, Internet etc.). Os gêneros de governância são essencialmente gêneros 
mediados especializados em 'ação à distância' – os dois exemplos anteriores envolvem 
mediação por impressão, um livro acadêmico e um relatório escrito. Aquilo a que nos referimos 
usualmente como 'mass midia' é, pode-se arguir, uma parte do aparelho de governância – um 
gênero de mídia como noticiário de televisão recontextualiza e transforma outras práticas 
sociais, tal como política e governo, e, por sua vez, é recontextualizada em textos e interações 
de diferentes práticas, incluindo, crucialmente, a vida cotidiana, para a qual contribui 
moldando a maneira como vivemos, e os significado que damos às nossas vidas (Silverstone, 
1999). 
 
Mistura de gêneros 
 A relação entre textos e gêneros é potencialmente complexa: um texto pode não 'estar' 
em um único gênero, talvez seja uma 'mistura' de gêneros. O Exemplo 2, o caráter 
 
 
25 
promocional do Budapest Sun em língua inglesa para a cidade húngara de Békéscsaba, é um 
exemplo de mistura de gêneros (gênero híbrido). Como eu disse antes, um aspecto das 
transformações associadas com o novo capitalismo é que cidades e estados individuais (mais 
propriamente do que apenas governos nacionais) agora precisam ativamente se promover e 
'vender' sua imagem, como neste caso. Essa mudança na relação entre cidades e corporações 
empresariais envolve uma cadeia de gêneros – uma cadeia que liga os gêneros do governo 
local com gêneros empresariais, nos quais textos como o do exemplo 2 são um elo mediador 
crucial. A mudança se manifesta parcialmente na emergência de um novo gênero dentro da 
cadeia de gêneros, através da mistura daqueles existentes. Podemos ver que o gênero nesse 
caso é uma mistura do traço do artigo jornalístico, propaganda corporativa (estendida para o 
governo local),

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