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3ª Edição Prof. Flávio Antonio Galeazzi – Curso de Fisioterapia Introdução Esta apostila tem por finalidade exclusiva servir de material de apoio da disciplina de Biofí- sica, no Curso de Fisioterapia da Unisep, não sen- do autorizado seu uso com outras finalidades. Não se destina a substituir a Bibliografia Básica e Complementar da disciplina, servindo unicamente como base e roteiro de estudos. Biofísica A biofísica é uma ciência interdisciplinar que aplica as teorias e os métodos da física para resolver questões de biologia. A biofísica busca enxergar o ser vivo com um corpo, que ocupando lugar no espaço, e transformando energia, existe num meio ambiente o qual interage com este ser. Aspectos elétricos, gravitacionais, magnéticos e mesmo nucleares estão na fundamentação de vá- rios fenômenos biológicos, e, portanto, podem ser tratados pelos conhecimentos das ciências físicas. Objetivo do Estudo Proporcionar uma análise de conhecimen- tos básicos, fundamentais de biofísica, para que se compreendam quais os princípios da física que participam dos processos que controlam importan- tes funções celulares e de diversos sistemas do corpo humano. GRANDEZAS FÍSICAS Grandezas Escalares – As idéias que grandezas como comprimento, massa e tempo representam ficam perfeitamente definidas por um valor numé- rico acompanhado da respectiva unidade de medi- da (ex.: comprar 2 m de corda ou 5 kg de arroz; sair de casa às 8 h). São, por isso, grandezas esca- lares. Grandezas Vetoriais – Velocidade, aceleração e força são exemplos de grandezas vetoriais porque, além de um valor numérico seguido de uma uni- dade de medida, exigem uma direção e um sentido para ficarem inteiramente definidas. Grandezas Fundamentais – No SI tem-se sete grandezas fundamentais. Grandezas Derivadas – São definidas a partir das sete grandezas fundamentais em função das equa- ções que as relacionam. As unidades SI derivadas, para estas grandezas derivadas, são obtidas a partir destas equações e das sete unidades fundamentais. Grandeza Fundamental Nome Símbolo Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Corrente elétrica ampère A Temperatura termodinâmica kelvin K Quantidade de matéria mole mol Intensidade luminosa candela cd UNIDADES DE MEDIDA As unidades de medida adotadas no Brasil são as do Sistema Internacional de Unidades (SI), instituídas em Paris, no ano de 1969. Esse sistema regulamentou, definitivamente, a unidade de me- dida-padrão para cada uma das grandezas físicas conhecidas. Neste sistema, destacam-se as unida- des de comprimento, de massa e de tempo. 1. De comprimento: o metro (m) Quilômetro (km): 1 km = 1.000 m = 10 3 m Hectômetro (hm): 1 hm = 100 m = 10 2 m Decâmetro (dam): 1 dam = 10 m Decímetro (dm): 1 dm = 0,1 m = 10 -1 m Centímetro (cm): 1 cm = 0,01 m = 10 -2 m Milímetro (mm): 1 mm = 0,001 m = 10 -3 m Embora não façam parte do SI, são utilizadas: 1 milha marítima = 1.852 m 1 polegada = 0,0254 m 1 pé = 12 polegadas = 0,3048 m 1 jarda = 3 pés = 0,9144 m 1 angström = 10 -10 m 1 ano-luz = 9,46 . 10 12 km 2. De massa: o quilograma (kg) Hectograma (hg): 1 hg = 0,1 kg = 10 -1 kg Decagrama (dag): 1 dag = 0,01 kg = 10 -2 kg Grama (g): 1,0 g = 0,001 kg = 10 -3 kg Decigrama (dg): 1 dg = 0,0001 kg = 10 -4 kg Centigrama (cg): 1 cg = 0,00001 kg = 10 -5 kg Miligrama (mg): 1 mg = 0,000001 kg = 10 -6 kg Também são utilizadas (não são do SI): 1 tonelada = 1.000 kg 1 libra = 0,45 kg 1 arroba = 15 kg 3. De tempo: o segundo (s) 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3.600 s 1 dia = 24 h = 1.440 min = 86.400 s 1 ano = 365 d = 8.760 h = 5,26.10 5 min = 3,15.10 7 s Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 3 NOTAÇÃO CIENTÍFICA – BASE 10 A medida de uma grandeza física pode ser representada por um número muito superior ou, às vezes, muito inferior à unidade padrão, tornando- se, por isso, extremamente difícil sua representa- ção e operacionalização. Para simplificar isso, utiliza-se a notação científica para apresentar esses números. Todo número pode ser expresso por um produto de dois fatores. O primeiro deles é um número real maior ou igual a 1, porém menor que 10 (1 n 10), enquanto o segundo fator é uma potência de 10. Apresentar um número em notação cientí- fica é “expressá-lo na base 10”. Exemplos: Número Notação Científica 10000 1. 10 4 0,005 5. 10 -3 3672 3,672. 10 3 2000916 2,000916. 10 6 0,000000248 2,48. 10 -7 427,780 4,2778. 10 2 Em seus estudos, sempre que for possível, opere ou, pelo menos, apresente os resultados de seus cálculos matemáticos em notação científica. Exercício 01. Transforme os seguintes números extensos para a notação científica: a) 215846000000: b) 0,0000004510024: c) 300000000: d) 0,0000000000000000016: e) 4255,875: MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS O Sistema Internacional de Unidades (SI), além de adotar as unidades de medida pa- drão, permite ainda a adoção de múltiplos e sub- múltiplos dessas unidades. Eles são representados por prefixos, cada qual significando uma determi- nada potência de 10. Os principais prefixos são: Prefixo Símbolo Potência Equivalente Exa E 10 18 1.000.000.000.000.000.000 Peta P 10 15 1.000.000.000.000.000 Tera T 10 12 1.000.000.000.000 Giga G 10 9 1.000.000.000 Mega M 10 6 1.000.000 Kilo K 10 3 1.000 Hecto h 10 2 100 Deca da 10 1 10 - - 10 0 1 Deci d 10 -1 0,1 Centi c 10 -2 0,01 Mili m 10 -3 0,001 Micro 10 -6 0,000001 Nano n 10 -9 0,000000001 Pico p 10 -12 0,000000000001 Femto f 10 -15 0,000000000000001 Atto a 10 -18 0,000000000000000001 Sendo assim, quando uma medida de com- primento for igual a 8 km, por exemplo, isso sig- nifica 8. 10 3 metros (kilo = 10 3 ), ou seja, 8000 metros. Ou ainda, se a freqüência de uma emissora de rádio FM for 100,7 MHz, significa 100,7. 10 6 hz (mega = 10 6 ), ou seja, 100700000 hertz. Da mesma forma, a medida de massa igual a 15 mg corresponde a 15.10 -3 g (mili = 10 -3 ), ou seja, 0,015 gramas. Exercício 02. Faça as conversões das medidas propostas a seguir, apresentando o resultado sob forma de notação científica: a) Converta 15000 km em cm: b) Converta 0,234 mg em g: c) Converta a medida de área equivalente a 1 km 2 em milímetros quadrados: d) Converta a medida de volume equivalente a 5 m 3 em cm 3 : Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 4 B A a a ou a GRANDEZAS VETORIAIS Grandezas físicas vetoriais necessitam, para ficarem bem representadas, além do número e da unidade, de uma direção e um sentido. Por exem- plo: uma pessoa pede à outra que aplique uma força de 5 N sobre a lateral de uma mesa. Se ela não disser também qual a direção e o sentido que a força deve ser aplicada, haverá dúvidas na realiza- ção do pedido. Algumas grandezas físicas vetoriais:força, impulso, quantidade de movimento, velocidade, aceleração e muitas outras. Para representarmos uma grandeza escalar, basta utilizarmos os números e as unidades, mas como poderíamos representar direção e sentido para que possamos colocar num papel, por exem- plo, uma grandeza vetorial? Vetores A melhor saída foi a utilização de um "persona- gem da matemática" chama- do vetor, e que é representa- do por uma seta. Um vetor reúne, em si, o módulo, repre- sentando o valor numérico ou intensidade da grandeza (tamanho da setinha), e a direção e sen- tido, representando a orientação da grandeza. Este vetor, por exemplo, possui 5 N de mó- dulo, direção horizontal e sentido para a direita. É importante salientarmos as diferenças entre direção e sentido: um conjunto de retas para- lelas tem a mesma direção. A cada direção, podemos associar uma orientação. Reta horizontal com sentido para direita: Reta horizontal com sentido para esquerda: Lembre-se da placa de regulamentação de trânsito: A figura abaixo representa uma grandeza vetorial qualquer: um segmento de reta orientado (direção e sentido) com uma determinada medida (módulo). Para indicar um vetor, podemos usar qual- quer uma das formas indicadas abaixo: Para indicarmos o módulo de um vetor, podemos usar qualquer uma das seguintes nota- ções: Assim, a indica o vetor a e a indica o módulo do vetor a . Vetores Iguais e Vetores Opostos Dois vetores são iguais quando possuem o mesmo módulo, a mesma direção e o mesmo sen- tido. Retas horizontais R e ta s v e rtic a is S e n ti d o a s c e n d e n te S e n tid o d e s c e n d e n te a AB ou B A a Origem Extremidade F = 5N Módulo: representado pelo comprimento do segmento AB; Sentido: de A para B (orientação da reta AB). Direção: reta determinada pelos pontos A e B; a Vetor Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 5 Dois vetores são opostos quando possuem o mesmo módulo, a mesma direção e sentidos contrários: Representação de Grandezas Vetoriais Na prática, a representação de grandezas vetoriais é feita por meio de vetores desenhados em escala. Assim, para representarmos vetorial- mente a velocidade de uma partícula que se deslo- ca horizontalmente para a direita a 80 km/h, utili- za-se um segmento de reta, por exemplo, com 4 cm de comprimento, onde cada centímetro corres- ponde a 20 km/h. Escala: 1,0 cm = 20 km/h Uma força de 200 N que é aplicada verti- calmente para baixo, utiliza-se um segmento de reta, com, por exemplo, 2 cm de comprimento, onde cada centímetro corresponde a 100 N. Escala: 1,0 cm = 100 N ADIÇÃO DE VETORES Para a adição de vetores, vamos, inicialmen- te, definir vetor resultante: “Vetor resultante ou vetor soma, de dois ou mais vetores, é o vetor único que produz o mesmo efeito que os vetores somados”. Para a determinação do vetor resultante, ou seja, para efetuarmos a adição vetorial de dois ou mais vetores, podemos utilizar alguns métodos: Método do Paralelogramo Por este método só podemos somar dois ve- tores de cada vez. Assim, dados dois vetores a e b , em módulo, direção e sentido, conforme a fi- gura abaixo: A determinação do vetor soma ou resul- tante é obtida do seguinte modo: Traçamos os vetores a e b com as origens coincidindo no mesmo ponto; Pela extremidade do vetor a , traçamos no segmento pontilhado paralelo ao vetor b pela extremidade do vetor b , um segmento pontilhado paralelo ao vetor a ; Vetor resultante s tem origem coincidente com as origens dos vetores a e b e extremidade no ponto de cruzamento dos segmentos pontilhados. Método do Polígono Este método permite que possamos determi- nar a direção e o sentido do vetor soma de vários vetores. Note que é importante que quando você leve um vetor de um lugar para o outro tome o cuidado de não mudar a sua direção e o seu sentido ori- ginais. a b a b a b a b v F = a b a = b Módulos iguais São paralelos (mesma direção) e a b e a b Possuem o mesmo sentido = a -b a = b (módulos iguais) Possuem a mesma direção e a b e a b Possuem sentidos contrários a b a b s a b s = + Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 6 v 2 = v1 2 + v2 2 + 2 . v1 . v2 . cos Quando colocamos os vetores "um na frente do outro", cada um deles continua com a mesma direção e sentido que possuíam antes. Na prática você pode conseguir isso com a ajuda de um es- quadro e de uma régua. Se o desenho estiver em escala, pode-se usar uma régua para determinar o módulo do vetor soma, mas somente se os vetores foram desenha- dos em escala. Multiplicação de um vetor por escalar O produto de um número real n por um ve- tor A, resulta em um vetor R com sentido igual ao de A se n for positivo ou sentido oposto ao de A se n for negativo. O módulo do vetor R é igual a n x |A|. Método Analítico O valor do vetor resultante depende do ângu- lo formado entre os dois vetores que serão soma- dos. A equação usada para determinar o valor (v) do módulo do vetor resultante é a seguinte: Casos Particulares Há algumas situações especiais em que a equação geral acima pode ser dispensada. Decomposição de Vetores A decomposição de vetores é usada para facilitar o cálculo do vetor resultante. A Axcos Ax = A cos A A sen y Ay = A sen Exercícios 03. Dados os vetores abaixo, determine a soma vetorial pelos métodos gráficos: v 2v -2v 0,5v B A C = + + B C A S B A C S v1 v2 v v1 v2 B A C = + + B C A S4 = + B A S3 = + C B S2 = + C A S1 a) b) c) d) A y x y x A Ay Ax Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 7 04. Uma pessoa desloca 30 m para o leste e, em seguida, 40 m para o sul. Determine a distân- cia a que a pessoa se encontra do ponto de partida. 05. Um automóvel desloca 40 km para o sul, em seguida, 40 km para oeste e, finalmente, 10 km para o norte. Determine a menor distância que ele deve percorrer para voltar ao ponto de partida.06. Na figura abaixo, os vetores x e y represen- tam dois deslocamentos sucessivos de um corpo. A escala, na figura, é de 1:1. Qual o módulo do vetor x + y? 07. Dois corpos A e B se deslocam segundo dire- ções perpendiculares, com velocidades cons- tantes, conforme ilustrado na figura abaixo. As velocidades dos corpos medidas por um observador fixo têm intensidades iguais a 5,0 m/s e 12 m/s. Determine v = vA + vB. 08. A figura mostra três vetores A, B e C. De acordo com a figura podemos afirmar que: a) A + B + C = 0 b) A + B = C c) A = B – C d) A = B + C e) B – A = C 09. O módulo da resultante de duas forças de mó- dulos 6 kgf e 8 kgf que formam entre si um ângulo de 90º, vale: a) 2 kgf b) 10 kgf c) 14 kgf d) 28 kgf e) 100 kgf 10. Dados dois vetores quaisquer, de módulos iguais, determine o vetor soma corresponden- te aos vetores dados nos seguintes casos: a) O ângulo entre eles é 90º b) O ângulo entre eles é 120º c) O ângulo entre eles é 0º 11. Dois homens puxam um caixote, exercendo sobre ele as forças F1 e F2, cujas intensidades, direções e sentidos estão indicados na figura abaixo. Determine a resultante R = F1 + F2. 12. Suponha que dois músculos com uma inser- ção comum, mas diferentes ângulos de tração se contraiam simultaneamente como mostra a figura abaixo. O ponto O representa a inser- ção comum dos músculos vastos lateral e me- dial, do quadríceps da coxa, na patela. OA - é o vetor que descreve a tração do vasto lateral OB – é o vetor que descreve a tração do vasto medial Usando a regra do paralelogramo encontre o vetor resultante das forças desenvolvidas pe- los dois músculos. Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 8 MECÂNICA A Mecânica surgiu da necessidade e von- tade do homem explicar e entender o movimento dos corpos do Universo, ou seja, como eles mu- dam de posição, no decorrer do tempo, com rela- ção a um sistema de referência pré-determinado. Chama-se Dinâmica a parte da Mecânica que estuda o porquê (as causas) do movimento. Verificamos, através de observações e ex- periências, que o movimento de um corpo é de- terminado pela natureza e disposição dos corpos que constituem a sua "vizinhança", isto é, pela interação do corpo com o meio onde está inserido. Esta interação é representada por meio de uma grandeza física chamada força. Quando se estuda movimento de um corpo sujeito à ação de uma força, está se analisando o efeito dessa força sobre o corpo. Por exemplo, o fato da velocidade de um objeto que cai variar é uma conseqüência da existência de uma força so- bre ele. Esse fato não oferece, contudo, nenhuma informação sobre a origem dessa força. Ao se afirmar, no entanto, que um corpo cai porque a Terra o atrai com uma força gravitacional, está se explicando a causa desse movimento. Existem dessa maneira, dois enfoques pa- ra se analisar as forças, um pelos efeitos e o outro pelas suas características e origens. As três leis de movimento de Newton permitem o primeiro tipo de análise, enquanto que a lei universal de gravi- tação (também formulada por Isaac Newton) e a lei de Coulomb são exemplos do segundo tipo de enfoque. Força Define-se força como qualquer agente ex- terno que modifica o movimento de um corpo livre ou causa deformação num corpo fixo. É uma grandeza vetorial que possui direção e sentido, e sua unidade de medida no SI é uma homenagem a Isaac Newton (newton – símbolo N). AS LEIS DE NEWTON As leis de Newton são como conhecidas as três leis que modelam o comportamento de corpos em movimento, descobertas por Isaac Newton. Newton publicou essas leis no seu trabalho de três volumes intitulado Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1687. As leis explica- vam vários dos resultados observados quanto ao movimento de objetos físicos. 1 a Lei de Newton – Lei da Inércia Inércia é a propriedade comum a todos os corpos materiais, mediante a qual eles tendem a manter o seu estado de movimento ou de repouso. Um corpo livre da ação de forças perma- nece em repouso (se já estiver em repouso) ou em movimento retilíneo uniforme (se já estiver em movimento). Questões 13. Explique a função do cinto de segurança de um carro, utilizando o conceito de inércia. 14. Por que uma pessoa, ao descer de um ônibus em movimento, precisa acompanhar o movi- mento do ônibus para não cair? 15. Um foguete está com os motores ligados e movimenta-se no espaço, longe de qualquer planeta. Em certo momento, os motores são desligados. O que irá ocorrer? Por qual lei da física isso se explica? 2 a Lei de Newton Princípio Fundamental da Dinâmica A 2ª Lei de Newton analisa a situação em que um corpo não se encontra em equilíbrio. Nes- te caso, a resultante das forças não é nula, e o cor- po não se encontra nem em repouso nem em MRU. Ele estará dotado, portanto de aceleração. Newton anunciou que a resultante das for- ças aplicadas num corpo é diretamente proporcio- nal à aceleração por ele adquirida. FR = força resultante (N) m = massa (kg) a = aceleração (m/s 2 ) Unidade de força no SI: Newton (N) Unidade Prática: Quilograma-Força (Kgf) Exercícios 16. Um corpo com massa de 0,6 kg foi empurra- do por uma força que lhe comunicou uma aceleração de 3 m/s 2 . Qual o valor da força? 17. Um caminhão com massa de 4000 kg está parado diante de um sinal luminoso. Quando o sinal fica verde, o caminhão parte em mo- vimento acelerado e sua aceleração é de 2 m/s 2 . Qual o valor da força aplicada pelo mo- tor? m FR a amFR . Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 9 Questões 18. Um corpo tem certa velocidade e está se mo- vendo em movimento uniforme. O que deve ser feito para que a sua velocidade aumente, diminua ou mude de direção? 19. Se duas forças agirem sobre um corpo, a que condições essas forças precisam obedecer pa- ra que o corpo fique em equilíbrio? 3 a Lei de Newton Lei da Ação e Reação Para toda força de ação existe uma corres- pondente força de reação, de mesma natureza, sendo ambas de mesma intensidade, mesma dire- ção e sentidos contrários, aplicadas em corpos diferentes. FORÇAS FUNDAMENTAIS DA NATUREZA Pode-se classificar, por conveniência, as forças da natureza em forças fundamentais e deri- vadas. As forças fundamentais representam as forças de interação na sua forma mais irredutível e independente, das quais se podem deduzir todas as forças derivadas. Elas são a força gravitacional, a eletromagnética e as forças nucleares forte e fraca. Todas elas são forças de campo cujos raios de ação vão desde 10 -16 m até milhões de anos-luz. As forças derivadas incluem forças elásticas, mo- leculares, de atrito, etc. Basicamente, as forças gravitacional e ele- tromagnética dão origem aos fenômenos discuti- dos na mecânica clássica, eletricidade, mecânica estatística; enquanto que as forças eletromagnéti- cas e nucleares são responsáveis pela estrutura dos átomos, moléculas, líquidos e sólidos, assim como as interações entre elas. Não estamos usualmente a par das forças importantes no corpo humano,por exemplo, as forças musculares que bombeiam nosso sangue ou as forças que fazem o ar entrar e sair dos nossos pulmões. Uma força mais sutil é aquela que de- termina se um átomo particular ou molécula per- manecerá naquele dado lugar do corpo. Por exem- plo, nos ossos existem muitos pequenos cristais de mineral ósseo que requer cálcio. Um átomo de cálcio torna-se parte do cristal se ele chegar perto do lugar natural para o cálcio onde as forças elé- tricas crescem o suficiente para prendê-lo. Ele permanecerá naquele lugar até que as condições locais mudem e as forças elétricas não poderem mais mantê-lo ali. Isto poderá acontecer se o cris- tal ósseo é destruído por câncer. Por curiosidade, médicos especialistas que tratam com forças são: (a) fisiatras que usam métodos físicos para diag- nosticar e tratar doenças; (b) especialistas em ortopedia que tratam e diag- nosticam doenças e anormalidades do sistema musculoesquelético; (c) fisioterapeutas; (d) quiropráticos, cuja especialidade é a coluna vertebral e nervos; (e) especialistas em reabilitação. Efeitos da gravidade sobre o corpo A primeira força fundamental reconhecida foi a gravidade. Newton formulou a lei da atração gravitacional estabelecendo que existe uma força de atração entre dois objetos quaisquer; nosso pe- so é devido à atração entre a terra e nossos corpos. As formas dos nossos corpos e o projeto de nossos ossos são em parte uma resposta à gravidade. Uns dos importantes efeitos médicos da força gravitacional é a formação de veias varico- sas nas pernas quando o sangue venoso viaja con- tra a força da gravidade no seu caminho de volta ao coração. A força gravitacional no esqueleto contribui de algum modo para “doenças ósseas”. Quando uma pessoa perde o peso, tal como num satélite orbitando, ela pode perder alguns minerais ósseos. Repouso de longo prazo na cama remove muito da força do peso do corpo sobre os ossos e pode levar a sérias perdas ósseas. Peso e Massa de um Corpo Massa: Quantidade de matéria (nunca muda) Peso: Força da gravidade (depende do planeta) PESO MASSA Natureza Força da Gravidade Quantidade de Matéria Grandeza Vetorial Escalar Unidade (SI) Newton (N) Quilograma (Kg) Instrumento de Medida Dinamômetro Balança Valor Depende do g Constante Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 10 P = peso (N) m = massa (kg) g = aceleração da gravidade (m/s 2 ) Exercícios 20. Calcule a força com que a Terra “puxa” um corpo de 20 kg de massa quando ele está em sua superfície. Dado: g = 10 m/s 2 21. Na Terra, a aceleração da gravidade é em mé- dia 9,8 m/s 2 , e na Lua 1,6 m/s 2 . Para um corpo de massa 5 kg, determine a massa e o peso desse corpo na Lua. 22. Em Júpiter, a aceleração da gravidade vale 26 m/s 2 , enquanto na Terra é de 10 m/s 2 . Qual seria, em Júpiter, o peso de um astronauta que na Terra corresponde a 800 N? Forças Elétricas e Magnéticas A segunda força fundamental descoberta pelos físicos foi a força elétrica. Esta força é mais complicada que a gravidade, pois envolve forças atrativas e repulsivas entre cargas elétricas. Cargas elétricas em movimento experimentam uma força relacionada devida ao campo magnético. As for- ças elétricas são imensas quando comparadas a gravidade. Por exemplo, a força elétrica atrativa entre um elétron e um próton num átomo de hi- drogênio é cerca de 10 39 vezes maior que a força gravitacional entre eles. No nível celular, nossos corpos são eletri- camente controlados. As forças produzidas pelos músculos são causadas por cargas elétricas atrain- do cargas elétricas opostas. O controle dos múscu- los é principalmente elétrico. Cada uma dos tri- lhões de células vivas do corpo tem uma diferença de potencial elétrico através da membrana celular. Isto é um resultado de uma falta de balanceamento dos íons carregados positivamente e negativamen- te no interior e exterior das paredes celulares (dis- cutiremos mais sobre isto futuramente). Este po- tencial é de 0,1 V, mas por ser a parede celular muito fina ela pode produzir um campo elétrico tão grande quanto 10 7 V/m, um campo elétrico muito maior que aquele próximo a uma linha de potência de alta voltagem. Peixe elétrico e alguns outros animais marítimos são capazes de adicionar ao potencial das muitas células juntas para produ- zir uma formidável voltagem de várias centenas de volts. No estudo da eletricidade no corpo hu- mano discutimos o modo de se obter informações do corpo observando os potenciais elétricos gera- dos pelo vários órgãos e tecidos. Força Elástica F = força elástica (N) k = constante elástica da mola (N/m) x = deformação da mola (m) Exercícios 23. Uma mola tem constante elástica de 10 N/cm. Determine a força que deve ser aplicada para que a mola sofra uma deformação de 5 cm. 24. Uma mola de suspensão de carro sofre de- formação de 5 cm sob ação de uma força de 2000 N. Qual a constante elástica dessa mola? Força Normal de Contato Força normal é aquela que um corpo troca com a superfície na qual se encontra apoiado. Essa força só existe quando há contato entre os corpos. A força normal é sempre perpendicular à superfície de apoio e trata-se da reação à força de compressão exercida pelo corpo contra a superfí- cie. Questão 25. A Coluna Vertebral de uma pessoa fornece o principal suporte para a cabeça e tronco. Tem a forma de um “S” e as vértebras aumentam a área de seção transver- sal com o aumento da carga suportada. O comprimento da coluna para um homem adulto típico é de cerca de 70 cm. Por que as vérte- bras lombares, locali- zadas na parte inferior da coluna vertebral humana, são maiores que as cervicais? FF x FF N N xKF . gmP . Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 11 Força de Atrito Quando um corpo é arrastado sobre uma superfície rugosa, haverá uma resistência ao mo- vimento devido ao atrito entre o bloco e a superfí- cie. O bloco só se moverá se o módulo de F for maior que o de Fat, chamada força de atrito está- tica. Essa força, não conservativa, também depen- de da natureza dos corpos e sua direção é paralela à superfície de contato. Uma vez em movimento, a força resistiva, em geral, torna-se menor e uma força externa menor será suficiente para manter o bloco em movimento uniforme. Essa força resisti- va menor se chama força de atrito cinética. Verificou-se experimentalmente, que as forças de atrito estão relacionadas às forças nor- mais de contato entre as superfícies, e convencio- nou-se denominar a razão entre elas de coeficiente de atrito, que é uma grandeza adimensional. As- sim, o coeficiente de atrito estático é: e = N Fat ou Fat = N Onde fat é a força máxima de atrito estáti- co, sem ocorrência de movimento relativo entre as superfícies. Material e Junta (articulação) óssea lubrificada 0,003 Junta tendão e bainha do músculo 0,013 Aço sobre o gelo 0,03 Aço sobre aço lubrificado 0,10 - 0,15 Madeira sobre metal seco 0,2 - 0,6 Madeira sobre madeira seca 0,25 - 0,50 Couro sobre madeira 0,3 - 0,4 Couro sobre metal 0,6 Aço sobre aço seco 0,6Borracha sobre sólidos em geral 1,0 - 4,0 Material c Latão sobre gelo 0,02 Gelo sobre gelo 0,02 Aço sobre aço seco 0,23 Borracha sobre concreto 1,02 No corpo humano, os efeitos do atrito são freqüentemente importantes. Quando uma pessoa está andando, no momento em que o calcanhar toca o solo uma força é transmitida ao pé pelo solo. O atrito deve ser vencido quando as articu- lações se movem, mas para juntas normais ele é muito pequeno. O coeficiente de atrito nas articu- lações ósseas é usualmente muito menor do que nos materiais do tipo usado em engenharia. Se uma doença acontece, o atrito pode tornar-se grande. O fluido sinovial da junta está envolvido na lubrificação, mas controvérsias ainda existem quanto ao seu comportamento exato. A saliva que adicionamos quando masti- gamos os alimentos atua como um lubrificante. Se você engolir um pedaço de torrada seca você per- cebe a falta dolorosa desta lubrificação. A maioria dos grandes órgãos do corpo humano está em mo- vimento mais ou menos constante. Cada vez que o coração bate, ele se move. Os pulmões se movem dentro do tórax a cada respiração, e os intestinos têm um movimento rítmico lento (peristalse) quando eles movem durante o processo da diges- tão. Todos esses órgãos são lubrificados por capas mucosas escorregadias para minimizar o atrito. Questões 26. Como o atrito pode ser reduzido? 27. Cite as vantagens e desvantagens do atrito. 28. Um guarda-roupa está sendo empurrado por uma pessoa e se desloca com velocidade constante. Existe outra força atuando no guarda-roupa? Justifique. 29. No espaço não existe atrito algum. Será que uma nave espacial pode manter velocidade constante com os motores desligados? 30. Na superfície congelada de um lago, pratica- mente não existe atrito. Um carro poderia mover-se sobre uma superfície assim? FORÇAS, MÚSCULOS E ARTICULAÇÕES. Nesta seção discutiremos as forças no cor- po humano e algumas das forças nas juntas. Da- remos alguns exemplos de conexões musculares dos tendões e ossos do esqueleto. Já que o movi- mento e a vida por si só dependem criticamente das contrações musculares, começaremos exami- nando os músculos, que são verdadeiros motores elétricos lineares. Elétrico, porque a força que o A F Fat Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 12 impulsiona vem da atração ou da repulsão de car- gas elétricas em sua estrutura. Linear porque não há rotação, deslocamentos helicoidais, etc. As partes somente se deslocam em linha. Músculos e Sua Classificação Vários esquemas existem para classificar os músculos e uma aproximação grandemente usada é para descrever como os músculos apare- cem sob um microscópio óptico. Músculos do esqueleto têm pequenas fibras com bandas claras alternadas com escuras, chamadas estrias e daí os músculos estriados. As fibras são menores em diâmetro que um fio de cabelo humano e pode ter vários centímetros de comprimento. As fibras nos músculos estriados conec- tam-se aos tendões e formam feixes, por exemplo, como o bíceps e o tríceps mostrados na figura abaixo: Um exame mais próximo das fibras mostra ainda fibras menores chamadas miofibrilas que, quando examinadas por um microscópio eletrôni- co, mostram estruturas ainda menores chamadas filamentos que são compostas de proteínas. Como mostrado esquematicamente abaixo, os filamentos aparecem em duas formas, uma chamada grossa (cerca de 2 m de comprimento por 10 nm de di- âmetro e como componente principal a proteína miosina) e a outra chamada fino (cerca de 1,5 m de comprimento por 5 nm de diâmetro e como componente principal a proteína actina). Os filamentos fino e grosso ocorrem em projeções paralelas diferentes que aparecem como bandas nas figuras do microscópio eletrônico. Du- rante a contração, uma força elétrica de atração faz as bandas deslizarem juntas, encurtando assim as bandas para estabelecer a contração de 15-20% do seu tamanho de repouso. O mecanismo de contra- ção neste nível não é completamente entendido, entretanto, forças elétricas atrativas devem ser envolvidas, pois elas são as únicas forças disponí- veis conhecidas. Muito embora as forças elétricas podem também ser repulsivas, os músculos são capazes de puxar ao invés de empurrar. Exemplos de músculos estriados são os músculos do esqueleto (nosso principal interesse neste ponto), músculos do coração e músculos especiais da face. Músculos sem estrias são chamados de músculos lisos. Eles não formam fibras e são mui- to mais curtos que os músculos estriados. Seu me- canismo de contração é diferente e eles podem contrair muitas vezes a partir do seu comprimento de repouso, um efeito que se acredita que possa ser causado pelo deslizamento das células dos músculos umas sobre as outras. Elas aparecem nos músculos esfíncter, ao redor da bexiga e intesti- nos, e nas paredes das veias e artérias (onde eles controlam a pressão e fluxo sangüíneo), por exemplo. Algumas vezes os músculos são classifica- dos como se o seu controle é voluntário (estriados) ou involuntário (lisos). Esta classificação falha, entretanto; a bexiga tem músculos lisos ao redor dela, ainda está sob controle voluntário. Um terceiro método de classificação dos músculos está baseado na velocidade das respostas dos músculos aos estímulos. Músculos estriados usualmente contraem em cerca de 0,1 s (por exemplo, o tempo para curvar o braço), enquanto os músculos lisos podem levar vários segundos para contraírem (controle da bexiga). Força de Compressão Um corpo comprimido por duas forças opostas de igual intensidade se mantém em repou- so. Entretanto, essa situação é diferente daquela em que esse corpo está em repouso, sem sofrer ação de nenhuma força. Diz-se então que o corpo está sob a ação de forças de compressão. Dependendo da natureza do corpo e da in- tensidade dessas forças podem ocorrer deforma- ções ou rupturas do mesmo. Note que F1 = - F2 F1 F2 Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 13 Força de Tração (ou Tensão) Um corpo sob a ação de duas forças opos- tas de igual intensidade que o puxam se mantém em repouso. Diz-se que o corpo está sob a ação de forças de tração: Dependendo da natureza do corpo e da in- tensidade dessas forças, o corpo pode sofrer de- formações ou ruptura. Uma corda flexível, tal co- mo um barbante ou um tendão, tem várias propri- edades especiais: Ela pode estar em estado de tração (ou tensão no caso de fios e cordas), mas não de com- pressão. Ela pode transmitir uma força apenas ao longo de seu comprimento (isto contrasta com o que acontece com uma barra sólida, por exemplo, um taco de golfe que pode exercer força tanto ao longo de seu comprimento como perpendi- cularmente a ele). Na ausência de força de atrito, a tensão é a mesma em todos os pontos ao longo de uma corda. Uma corda pode ser usada para mudar a dire- ção de uma força sem mudar sua intensidade. Este fato é de grande importância em biome- cânica, onde tendões são usados para mudar a di- reção da força de um músculo. Estes tendões pas- sam por ossos ao invés de roldanas. No corpo, fluidos lubrificantesreduzem praticamente a zero o atrito entre o tendão e o osso. Questão 31. Dê exemplos de forças de compressão e dois de forças de tração que atuam sobre o corpo humano. Exercícios 32. Considere um paciente submetido a um tra- tamento de tração como indica a figura. Qual a máxima massa a ser utilizada para produzir a força de tensão T sem que o paciente se des- loque ao longo da cama? Sabe-se que a massa desse paciente é de 60 kg, o coeficiente de atrito entre o mesmo e a cama é = 0,20, o ângulo que a força de tensão forma com a ho- rizontal é 23º. Considere g = 10 m/s 2 . Torque de uma Força Aplicações no esqueleto humano Considere um corpo fixo por um ponto O a um eixo de rotação, perpendicular ao plano do papel, em torno do qual pode girar sem atrito nes- se plano, como mostra abaixo. Se uma força F1 for aplicada no ponto P1, numa direção perpendicular à reta que liga O a P1, o corpo girará em torno do eixo no sentido anti- horário. Se a mesma força for aplicada no ponto P2, situado na mesma reta OP1, mas mais próximo de O, o corpo girará ainda no sentido anti-horário. Entretanto, o efeito da força, ou seja, a aceleração angular que o corpo adquire sob a ação da mesma força, será menor no caso do ponto de aplicação ser P2. Isso evidencia o efeito do ponto de aplica- ção da força no movimento rotacional. Se uma força F2, de mesma intensidade de F1, for aplicada no ponto P1, na direção que passa pelo eixo de rotação, o corpo não girará. Se uma força F3, de mesma intensidade de F1, for aplicada no ponto P1, cuja direção forma um ângulo com a reta OP1, o corpo girará no sentido anti-horário, e o efeito da força será menor que o produzido pela força F1. Esse fato mostra que a ocorrência de movimento rotacional e a aceleração angular de- pendem da direção da força aplicada. F1 F2 T TT Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 14 Questões 33. Por que o efeito da força F3 é menor que o produzido por F1? Se uma força F4, oposta à força F1, for aplicada no ponto P1 o corpo girará no sentido horário. Isso mostra que o sentido de rotação do corpo depende também do sentido da força apli- cada. 34. Considere uma força F5, de direção perpendi- cular ao plano do papel, aplicada no ponto P2, ou seja, paralela ao eixo de rotação que passa por O, entrando no papel, como mostra a figu- ra. Essa força produz movimento rotacional? Resumindo: o movimento rotacional pro- duzido por uma força num corpo fixo a um eixo por um ponto depende do ponto de aplicação da força, assim como da intensidade e da direção da força aplicada. Isso significa que se pode definir uma grandeza considerada como a causa da acele- ração angular, em analogia à força, causa da acele- ração linear. Essa grandeza é chamada torque ou momento de uma força. É interessante notar que o torque está rela- cionado à rotação, assim como a força está relaci- onada ao movimento linear. O deslocamento pro- duzido pelo torque é um deslocamento angular, enquanto que o produzido por uma força é linear. A partir dessas considerações, e por analo- gia com a força, conclui-se que o torque deve ser uma grandeza vetorial que caracteriza o movimen- to rotacional em torno de um eixo. Assim, define- se como torque ou momento de uma força F a grandeza vetorial dada por: Onde F é a força aplicada, d a distância do ponto de aplicação da força até o pólo de rotação e é o ângulo formado entre a direção e a linha de ação de F (linha suporte do vetor F). Isto dá duas interpretações possíveis: Efetivamente a componente da força aplicada é a responsável pelo torque em relação a um eixo; O torque em relação a um eixo de rotação é o produto da intensidade da força aplicada pela distância entre a linha de ação da força e o ei- xo, sendo essa distância o braço de momento ou braço de alavanca. No SI (Sistema Internacional de Unidades) o tor- que é medido em Joule (J) ou N.m. Exercício 35. Quais são os torques exercidos por uma esfera de 0,2 kg ao ser segura por uma pessoa com o braço esticado na horizontal, em relação ao eixo que passa pelo: a) Pulso; b) Cotovelo; c) Ombro. Dados: Distância cotovelo-ombro = 25 cm; Distância cotovelo-pulso = 22 cm; Distância pulso-centro da palma da mão = 6 cm. ALAVANCAS Dá-se o nome de alavanca a um sistema sobre o qual agem uma ou mais forças e que pode girar em torno de um eixo que passa por um ponto fixo sobre o mesmo. Alavancas sobre as quais atuam duas for- ças paralelas podem ser agrupadas em três tipos, dependendo dos pontos de aplicação das forças em relação ao eixo e de seus sentidos: Alavancas de 1ª classe – INTERFIXA Têm o fulcro (pivô) situado entre a força e a resis- tência. Em conseqüência, os dois braços de ala- vanca se movem em direções opostas, como o pé de cabra, a tesoura, a gangorra, alicate, etc. Elas podem favorecer a força ou amplitude de movi- mento, em detrimento da outra. sendF .. Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 15 Alavancas de 2ª classe – INTER-RESISTENTE Em alavancas de segunda classe, a resistência está entre o fulcro e a força. Aqui, a amplitude de mo- vimento é sacrificada em benefício da força. Os exemplos incluem o carrinho de mão, o abridor de garrafa e o quebra-nozes. Alavancas de 3ª classe – INTERPOTENTE Nas alavancas de 3ª classe, a força é aplicada entre o fulcro e a resistência. Um exemplo típico é en- contrado na mola que fecha uma porta de “vai e vem”, além de pinças e pegadores de gelo e ma- carrão. Esta classe de alavanca é a mais comum no corpo humano, pois permite que o músculo se prenda próximo à articulação e produza velocida- de de movimento, com encurtamento muscular mínimo, embora em detrimento da força. Um exemplo típico é mostrado pelo músculo bíceps na figura. Os músculos afunilam em ambos os ex- tremos onde os tendões, que conectam os múscu- los aos ossos, são formados. Músculos com dois tendões em uma extremidade são chamados bí- ceps; aqueles com três tendões numa extremidade são chamados tríceps. Quando os músculos contraem, eles pu- xam os ossos para cima ou para junto deles atra- vés de uma junta em dobradiça ou pivotal. Grupos de músculos ocorrem aos pares, com um grupo dos músculos para puxar os ossos e o outro grupo muscular para empurrar os ossos para frente. Um exemplo de tal combinação ocorre no movimento do cotovelo, onde a contração do bíceps curva o cotovelo e leva o antebraço para diante do tórax. A relaxação do bíceps e contração do tríceps ali- nha o braço. Condições de Equilíbrio Estático Um corpo submetido à ação de forças pode estar em repouso, em movimento de translação, em movimento de rotação, ou em movimento que seja a combinação de translação e rotação. Se o corpo estiver em movimento sem ro- tação, a soma dos torques produzidos por todas as forças externas em relação a um ponto qualquer deve ser nula. Diz-se queo corpo está em equilíbrio está- tico se a soma das forças externas e de seus tor- ques for nula, isto é: Fext = F1 + F2 + ... + Fn = 0 ext = 1 + 2 + ... + n = 0 Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 16 A soma das forças externas, a primeira equação, pode ser decomposta em soma das com- ponentes em x e y: Fx = F1x + F2x + ... + Fnx = 0 Fy = F1y + F2y + ... + Fny = 0 A ação da Terra sobre os corpos na sua superfície se estende às partículas e às moléculas que os constituem. Assim, a força peso não atua numa única partícula, mas em todas, e a resultante P é a soma dessas forças. Existe, entretanto, em todos os corpos, um único ponto em relação ao qual o torque de sua força peso é sempre nulo. Tal ponto é conhecido como centro de gravidade (CG) do corpo. Uma conseqüência imediata é o fato de que o ponto de aplicação da força peso resultante sobre o corpo é o centro de gravidade. Estabilidade na Posição Vertical Um humano ereto visto de trás, o centro de gravidade (CG) está localizado na pélvis na frente da parte superior do sacro a 58% da altura da pes- soa do chão. Uma linha vertical do CG passa entre os pés. Controles musculares pobres, acidentes, doenças, gravidez, condições de sobrecarga ou mudanças erradas de posturas mudam a posição do CG para uma localização não natural no corpo como mostrado na figura. Uma condição de so- brecarga (ou um abaixamento pronunciado) leva a um deslocamento para frente do CG, movendo a projeção vertical na base dos pés onde o balanço é menos estável. A pessoa pode compensar voltan- do-se ligeiramente para trás. Para manter a estabilidade na posição ver- tical, você deve fixar a projeção vertical do seu cg dentro da área coberta pelos seus pés (Fig. a). Se a projeção vertical do seu CG cai fora desta área você cairá. Quando seus pés estão muito juntos você está menos estável do que quando eles estão sepa- rados (Fig. b). Por outro lado, se o CG é abaixado, você torna-se mais estável. Uma bengala ou mule- ta também melhora sua estabilidade (Fig. c). Comparando a estabilidade de um humano com os animais de quatro pernas, é claro que o animal é mais estável porque a área entre seus pés é maior que para os humanos de duas pernas. As- sim é que se entende porque os bebês humanos levam cerca de dez meses antes de serem capazes de ficarem em pé enquanto um animal de quatro pernas consegue isto em cerca de dois dias, este último por uma condição necessária de sobrevi- vência. O corpo compensa sua posição quando ergue uma mala pesada. O braço oposto move para fora e o corpo tomba para o lado do objeto para manter o CG que tiveram um braço amputado estão numa situação semelhante que uma pessoa carregando uma mala. Elas compensam o peso do seu braço restante curvando o torso; entretanto, curvatura continuada do torso freqüentemente leva à curvatura da coluna. Uma prótese comum é um braço artificial com uma massa igual ao braço perdido. Muito embora o braço falso não funcio- ne, ele evita a distorção da coluna. Tipos de Equilíbrio A B C Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 17 De acordo com os tipos de equilíbrio, po- demos classificá-los em: INSTÁVEL (A), INDI- FERENTE (B) e ESTÁVEL (C). Exercícios 36. Milênios de evolução dotaram a espécie hu- mana de uma estrutura dentária capaz de mas- tigar alimentos de forma eficiente. Os dentes da frente (incisivos) têm como função princi- pal cortar, enquanto os de trás (molares) são especializados em triturar. Cada tipo de dente exerce sua função aplicando distintas pressões sobre os alimentos. Considere o desenho abaixo, que representa esquematicamente a estrutura maxilar. A força máxima exercida pelo músculo masseter em uma mordida é de 1800 N. Determine as forças máximas exerci- das pelos dentes incisivos ao cortar os alimen- tos e pelos molares ao triturar os alimentos. 37. O bíceps é um dos músculos envolvidos no processo de dobrar nossos braços. Esse mús- culo funciona num sistema de alavanca como é mostrado na figura abaixo. O simples ato de equilibrarmos um objeto na palma da mão, es- tando o braço em posição vertical e o antebra- ço em posição horizontal, é o resultado de um equilíbrio das seguintes forças: o peso P do objeto, a força F que o bíceps exerce sobre um dos ossos do antebraço e a força C que o osso do braço exerce sobre o cotovelo. A dis- tância do cotovelo até a palma da mão é a = 0,30 m e a distância do cotovelo ao ponto em que o bíceps está ligado a um dos ossos do antebraço é de d = 0,04 m. O objeto que a pessoa está segurando tem massa M = 2,0 kg. Despreze o peso do antebraço e da mão. (Da- do g = 10 m/s 2 ). a) Determine a força F que o bíceps deve exer- cer no antebraço. b) Determine a força C que o osso do braço exerce nos ossos do antebraço. 38. Na figura vemos uma vassoura em equilíbrio em posição horizontal suspensa por um fio, sendo A parte do cabo e B o restante da vas- soura: a) as partes A e B têm pesos iguais; b) a parte A é mais pesada que a parte B; c) a parte B é mais pesada que a parte A; d) o equilíbrio é impossível na situação esquema- tizada; e) os elementos da figura não nos permitem comparar os pesos das partes A e B. 39. A figura representa a força aplicada na verti- cal, sobre uma chave de boca, por um mecâ- nico tentando desatarraxar uma porca que fixa uma máquina. O ponto de aplicação da força dista 15 cm do centro da porca e o momento necessário para afrouxá-la vale 60 N.m. Cal- cule o valor da força F, em newtons, necessá- ria para que o mecânico consiga desatarraxar a porca. 40. A figura adiante mostra um dispositivo cons- tituído de um suporte sobre o qual uma trave é apoiada. Na extremidade A, é suspenso um objeto, de massa 95 kg, enquanto se aplica uma força vertical F na extremidade B, de modo a equilibrar o objeto. Desprezando o peso da trave e adotando g = 10 m/s 2 , calcule A B Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 18 o módulo da força F necessária para equili- brar o objeto: 41. Duas crianças estão em um parque de diver- sões em um brinquedo conhecido como gan- gorra, isto é, uma prancha de madeira apoiada em seu centro de massa, conforme ilustrado na figura. Quando a criança B se posiciona a uma distância x do ponto de apoio e a outra criança A à distância x/2 do lado oposto, a prancha permanece em equilíbrio. Nessas cir- cunstâncias, assinale a alternativa correta. a) O peso da criança B é igual ao peso da crian- ça A. b) O peso da criança B é o dobro do peso da criança A. c) A soma dos momentos das forças é diferente de zero. d) O peso da criança B é a metade do peso da criança A. e) A força que o apoio exerce sobre a prancha é em módulo menor que a soma dos pesos das crianças. 42. Um banhista está na ponta de um trampolim, que está fixo em duas estacas (1) e (2), como representado na figura.Sejam F1 e F2 as for- ças que as estacas (1) e (2) fazem, respecti- vamente, no trampolim. Com base nessas in- formações, é correto afirmar que essas forças estão na direção vertical e: a) têm sentido contrário, F1 para cima e F2 para baixo. b) ambas têm o sentido para baixo. c) têm sentido contrário, F1 para baixo e F2 para cima. d) ambas têm o sentido para cima. e) faltam dados para afirmar qualquer coisa. Efeitos da Aceleração em Humanos O comportamento do corpo sob forças ace- leradoras e desaceleradoras tem sido uma área de interesse ativo relacionada com veículos espaciais, aviões, automóveis e até brinquedos dos parques de diversões. O aumento da aceleração que o cor- po pode resistir depende da orientação do corpo e o tempo de aceleração (força). O corpo pode resis- tir a forças grandes em curtos intervalos de tempo. As acelerações podem produzir muitos efeitos tais como um aumento ou diminuição apa- rente do peso do corpo, variações na pressão hi- drostática interna e distorções dos tecidos elásticos do corpo. Se as acelerações tornam-se suficiente- mente grandes o corpo perde o controle porque ele não tem forças musculares adequadas para funcio- nar contra forças aceleradoras muito grandes. Sob certas condições, o sangue pode fazer poças em várias regiões do corpo; a localização dessas po- ças depende da direção da aceleração. Se uma pessoa é acelerada primeiro na cabeça a falta de fluxo sangüíneo para o cérebro pode causar “blackout” e inconsciência. Os tecidos podem ser distorcidos por acelerações e, se as forças forem suficientemente grandes, ferimentos ou rupturas podem ocorrer. Como, por exemplo, em alguns acidentes automobilísticos. DINÂMICA IMPULSIVA Passaremos a estudar agora a relação entre a força aplicada a um corpo com o intervalo de tempo de sua atuação e seus efeitos. Veremos que as grandezas Impulso e Quantidade de Movimento (Momento Linear) são dimensionalmente iguais e são extremamente importantes para entendermos melhor o nosso dia-a-dia. Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 19 IR = Q Impulso O Impulso está relacionado com a força aplicada durante um intervalo de tempo. Ou seja, quanto maior a força maior o impulso e quanto maior o tempo que você aplica maior será o im- pulso. Um jogador de tênis ao rebater a bola, aplica uma força com a raquete durante um pe- queno intervalo de tempo na bola. A mesma coisa ocorre com o jogador de futebol quando aplica durante um intervalo de tempo uma força ao chu- tar a bola. Portanto, para uma força constante o Im- pulso é calculado da seguinte forma: I = Impulso Newton x segundo (N.s) F = Força constante Newton (N) t = Intervalo de tempo segundo (s) O Impulso é uma grandeza que necessita de direção e sentido para sua total caracterização, portanto ela é uma grandeza vetorial, com direção e sentido iguais a grandeza força. Exercícios 43. Um ponto material fica sujeito à ação de uma força F, constante, que produz uma aceleração de 2 m/s 2 neste corpo de massa 50 000 gra- mas. Esta força permanece sobre o corpo du- rante 20 s. Qual o módulo do impulso comu- nicado ao corpo? Quantidade de Movimento Em certas situações a Força não é tudo. Quando uma massa de ar sopra sobre um barco a vela ela transfere algo para ele. Esse algo que o vento transfere para o barco é a grandeza física denominada quantidade de movimento. A grandeza quantidade de movimento en- volve a massa e a velocidade. Portanto, calcula- mos a Quantidade de Movimento de um corpo pela expressão: Q = Quantidade de Movimento quilograma x metro por segundo (kg.m/s) m = massa quilograma (kg) v = velocidade metro por segundo (m/s) Quantidade de Movimento também é uma grandeza vetorial, portanto precisamos além do módulo sua direção e sentido, que são coinciden- tes com a velocidade. Questão 44. Mostre que as grandezas Quantidade de Mo- vimento e Impulso são dimensionalmente iguais. 45. Uma partícula de massa 0,5 kg realiza um movimento. Determine o módulo da quanti- dade de movimento da partícula no instante em que sua velocidade é de 108 km/h. Teorema do Impulso O Teorema do Impulso é válido para qual- quer tipo de movimento. Entretanto iremos de- monstrá-lo para o caso de uma partícula que reali- za um movimento retilíneo uniformemente varia- do: Demonstração: a . mFR t v . mFR 12R vv . m t . F 12R v.mv.mt . F IR = Q2 – Q1 O impulso resultante comunicado a um corpo, num dado intervalo de tempo, é igual à variação na quantidade de movimento desse corpo, no mesmo intervalo de tempo. v1 Q1 v2 Q2 tFI . vmQ . Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 20 Exercícios 46. Uma força constante atua durante 5 s sobre uma partícula de massa 2 kg, na direção e no sentido de seu movimento, fazendo com que sua velocidade escalar varie de 5 m/s para 9 m/s. Determine: a) O módulo da variação da quantidade de mo- vimento; b) A intensidade do impulso da força atuante; c) A intensidade da força. 47. Uma pessoa de 60 kg andando a 1 m/s colide com uma parede e pára numa distância de 2,5 cm em apenas 0,05 s. Qual é a força desen- volvida no impacto? 48. Uma pessoa andando a 1 m/s colide sua cabe- ça contra uma barra de aço. Assuma que a ca- beça pára em 5 mm em cerca de 0,01 s. Se a massa da cabeça é 3 kg, qual é a força desace- leradora? Um exemplo de uma pequena força dinâmica no seu corpo é o aumento aparente de peso quan- do o coração bate (sistole). Em torno de 0,06 kg de sangue é bombeado para cima numa velocidade de cerca de 1 m/s em aproximadamente 0,1 s. O momento linear para cima dado à massa de sangue é (0,06 kg) (1 m/s) ou 0.06 kg. m/s ou ainda, 0,6N. A reação é grande o suficiente para produzir uma notável oscilação numa balança de mola sensível. Se uma pessoa salta de uma altura de 1 m e cai em pé, ela sofre um impacto. Sob esta condi- ção, a desaceleração do corpo surge através da compressão no amortecimento do pé. Podemos calcular que o corpo estava viajando a 4,5 m/s logo antes de colidir, e se o amortecimento enco- lhe por 10 -2 m o corpo para em cerca de 5 ms (0,005 s). Sob estas condições, a força nas pernas é quase 100 vezes o seu peso. Se esta pessoa cai numa almofada de esporte o tempo de desacelera- ção é muito maior, e se ele seguiu a reação normal do corpo ele cairá com a ponta dos pés e inclinará seus joelhos para desacelerar por um tempo ainda maior, diminuindo assim a magnitude da força de impacto. Uma corrente forma de diversão popular é o salto de corda, em que uma pessoa é amarrada a uma corda muito elástica e salta de uma conside- rável altura (bungee jumping). A corda desacelera a pessoa ao longo de uma grande distância. A emoção vem da queda livre e desaceleração. Colisões envolvendo Veículos Colisões de carros modernos em alta velo- cidade sujeitam os ocupantes a forças desacelera- doras muito grandes. Num acidente o carro pára freqüentemente num curto intervalo de tempo, produzindo forçasmuito grandes. O resultado des- tas forças no condutor e nos passageiros pode ser fraturas de ossos, lesões internas e morte. Consideraremos o caso do “batida”. Uma pessoa sentada num automóvel que é batido por trás freqüentemente sofrerá um ferimento no pes- coço (região cervical da espinha). Quando o carro é batido, forças atuam no assento forçando o tron- co do corpo para frente, enquanto a inércia da ca- beça a faz permanecer no lugar, fazendo um seve- ro alongamento do pescoço. Em milissegundos a cabeça é forçada a se acelerar para frente. É surpreendente que prejuízos severos ao pescoço resultem. Os encostos de ca- beça atualmente instalados nos automóveis redu- zem os efeitos desta forma de batida. Embora os cintos de segurança nos automó- veis tenham ajudado reduzir lesões nos acidentes, uma pessoa usando um cinto poderá ainda sofrer lesões sérias na cabeça num acidente. As figuras a Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 21 seguir mostram um automóvel viajando a 54 km/h (15 m/s) que pára em 0,5 m devido a uma colisão; a cabeça do passageiro e o corpo são atirados con- tra o painel e parados. Se o painel é acolchoado, o efeito da desace- leração é minimizado. Se, entretanto, a cabeça bate numa superfície metálica, forças que vão além da tolerância humana ocorrem e severas le- sões na cabeça ou morte podem ser esperadas. Airbags e cintos de segurança efetivamente redu- zem a possibilidade deste tipo de lesão. Considere uma colisão da cabeça contra uma barreira sólida (muro ou árvore) – um dos mais sérios tipos de acidentes de automóveis. O que acontece ao automóvel e seus ocupantes na coli- são? O veículo é projetado para não ser rígido; ele é feito para encolher suas partes no momento da batida, aumentando assim a distância de colisão (ou tempo) como mostrada na figura. O encolhi- mento prolongado reduz a força de desaceleração. A frente do carro experimenta prejuízo severo, mas o interior deve ser essencialmente não preju- dicado com seus ocupantes machucados e abala- dos, mas não seriamente feridos. A quantidade de lesões depende das carac- terísticas da proteção no auto. Sistemas de cintos de segurança e proteções a tiracolo protegem a cabeça e tórax durante uma colisão. Por causa dos riscos de colisões de veícu- los, leis federais requerem vários dispositivos de segurança nos automóveis. Estes incluem não so- mente o encosto de cabeça, cintos de segurança e tiracolos (uma armadura de três pontos, para evitar a pessoa de ir para frente do carro), colunas absor- vedoras de energia, pára-brisas resistentes e travas laterais das portas – a última para oferecer prote- ção aos ocupantes numa colisão lateral. Características tais como sistemas de pai- néis almofadados e colchões de ar no volante de direção e no lado dos passageiros oferecem prote- ção adicional. Os airbags fornecem um tempo maior de desaceleração que o painel mais duro. Estes dispositivos são projetados para adultos. Se uma criança é conduzida no automóvel, dispositi- vos de segurança especiais são necessários e fre- qüentemente requeridos por lei (assentos e cadei- rinhas). No projeto de capacetes para ciclistas, mo- tociclistas e jogadores, cada capacete é projetado para reduzir a desaceleração por esmagamento durante o impacto. Um critério para capacetes de ciclistas é a habilidade da cabeça do condutor re- sistir um impacto a 24 km/h contra uma superfície plana rígida como se poderia esperar se você cai quando está viajando naquela velocidade. O material do capacete deve ter a dureza apropriada à compressão de modo que o colapso da almofada do capacete prolonga a desaceleração e assim reduz as forças na cabeça. Deve-se lem- brar, entretanto, que dispositivos de proteção não fornecem proteção absoluta. TERMOLOGIA O calor e o frio têm sido usados para pro- pósitos terapêuticos por vários milhares de anos. Galeno, um médico da antigüidade, recomendou o uso da água quente e óleo em alguns tratamentos. A aplicação de substâncias frias nas lesões foi sugerida por outro médico antigo, Hipócrates. Através dos anos, tem existido controvérsia sobre os valores terapêuticos do calor e do frio. Mesmo Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 22 hoje a muito que se aprender sobre estes dois mé- todos de tratamentos. Muito do progresso nesta área de física médica como em muitas outras foi devido à cooperação e colaboração de cientistas básicos (físicos) e biomédicos (fisioterapeutas e médicos). Temperatura e Calor A matéria é composta de moléculas que es- tão em movimento. Num gás ou líquido as molé- culas se movem, chocam-se com as outras e com as paredes dos recipientes; mesmo num sólido as moléculas tem algum movimento ao redor das posições que elas ocupam dentro da estrutura cris- talina. O fato de que as moléculas se movimentam significa que elas têm energia cinética, e esta energia cinética está relacionada à temperatura. Temperatura de um corpo é a medida do nível de agitação das partículas desse corpo. A energia cinética média das moléculas de um gás ideal pode ser mostrada como sendo dire- tamente proporcional à temperatura; líquidos e sólidos mostram uma dependência semelhante com a temperatura. A fim de aumentar a tempera- tura de um gás é necessário aumentar a energia cinética média de suas moléculas. Isto pode ser feito colocando o gás em contato com uma chama. A energia transferida da chama para o gás causan- do aumento da sua temperatura é chamado calor. Fisicamente, denomina-se calor ao trânsito da energia térmica de um corpo de temperatura maior para outro de temperatura menor. Se muito calor for adicionado a um sólido, ele se funde, formando um líquido. O líquido pode ser transformado num gás adicionando-se mais calor. Adicionando ainda mais calor converte-se o gás em íons. Enquanto adicionamos calor a uma subs- tância a sua energia cinética molecular é aumenta- da ao mesmo tempo em que cresce a sua tempera- tura, o contrário é também verdadeiro; calor pode ser retirado de uma substância para abaixar a sua temperatura. Temperaturas baixas são referidas como a região criogênica (do grego kryos, que significa frio). O ponto mais frio é o “zero absolu- to” (273,15 ºC), uma temperatura que é inatingí- vel experimentalmente. Equilíbrio Térmico Imagine dois corpos. Um com temperatura bastante elevada e outro com a temperatura bem baixa. Vamos colocar os dois corpos em contato e livres de interferências de temperaturas externas. Veremos que após um tempo o corpo mais frio terá ficado menos frio e o mais quente terá ficado menos quente. Ao final, teremos os dois corpos na mesma temperatura, que chamamos de Equilíbrio Térmico. Termometria Refere-se ao estudo da medida da tempera- tura (metria = medir, termo = temperatura). Termômetro É um instrumento destinado a medir a temperatura. Seu funcionamento baseia-se na va- riação de grandezas termométricas, como o com- primento de uma haste metálica, ou na variação do volume de um gás, na cor de um sólido, ou até mesmo na resistência elétrica de um material, tudo emfunção da temperatura. Escala Termométrica Num termômetro, são as divisões que o mesmo possui relacionadas com números, que possibilita a leitura da temperatura. Definindo uma Escala Termométrica Sob certas condições, alguns fenômenos fí- sicos só se processam a uma temperatura determi- nada e durante o fenômeno, a temperatura perma- nece constante. As temperaturas em que tais fe- nômenos ocorrem são denominadas de pontos fixos. Para definir uma escala termométrica, existe a necessidade de definir quais serão estes pontos fixos. Desta forma, utilizam-se como referência, em Termometria, os pontos fixos de fusão e de ebulição da água. O intervalo delimitado entre esses dois pontos fixos é dividido em partes iguais. Cada parte em que fica dividido o intervalo é a unidade da escala. 1º Ponto fixo - Ponto de Gelo (PG) 2º Ponto fixo - Ponto de Vapor (PV) PV PG Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 23 Escala Celsius É a escala termométrica mais utilizada. A escala Celsius (°C), criada por Anders Celsius, adota valores 0 (zero) para o ponto do gelo e 100 (cem) para o ponto do vapor. O intervalo desta escala foi dividido em 100 partes iguais, sendo cada parte denominada de 1 °C (um grau Celsius). Escala Fahrenheit Daniel Fahrenheit, criador do °F (grau Fahrenheit) convencionou que o ponto de fusão do gelo valeria 32 e o ponto de ebulição da água 212. Desta forma, a escala Fahrenheit varia entre 32 °F a 212 °F. O intervalo entre os dois pontos possui 180 divisões. Ainda hoje, é comum verificarmos que países de língua inglesa utilizam esta escala. Escala Kelvin A escala Kelvin (K), utilizada principal- mente nos meios científicos, foi proposta por Lord Willian Thomson e é denominada de escala abso- luta. O surgimento desta escala nasceu das discus- sões em torno de temperaturas máximas e míni- mas que um corpo pode atingir. Não há, teorica- mente, um limite superior para a temperatura. En- tretanto, observa-se que existe um limite natural quando tentamos abaixar a temperatura. Estudos realizados em laboratórios mostraram que é im- possível obter-se uma temperatura inferior a - 273°C. Esta temperatura é denominada de zero absoluto. Kelvin propôs, então, que o valor 0 K (zero Kelvin) fosse equivalente a -273°C e que o intervalo de 1 K (um Kelvin) fosse igual ao inter- valo de 1°C (um grau Celsius). Relação entre as Escalas 273373 273 32212 32 0100 0 KFC Exercícios 49. No Rio de Janeiro, a temperatura ambiente chegou a atingir, no verão de 1998, o valor de 49 o C. Qual seria o valor dessa temperatura, se lida num termômetro na escala Fahrenheit? 50. A temperatura média do corpo humano é 36 o C. Determine o valor dessa temperatura na escala Fahrenheit. 51. Lê-se no jornal que a temperatura em certa cidade da Rússia atingiu, no inverno, o valor de 14 o F. Qual o valor dessa temperatura na escala Celsius? 52. Um termômetro graduado na escala Fahre- nheit, acusou, para a temperatura ambiente em um bairro de Belo Horizonte, 77 o F. Ex- presse essa temperatura na escala Celsius. 53. Dois termômetros graduados, um na escala Fahrenheit e outro na escala Celsius, regis- tram o mesmo valor numérico para a tempera- tura quando mergulhados num líquido. De- termine a temperatura desse líquido. 54. Um corpo se encontra à temperatura de 27 oC. Determine o valor dessa temperatura na esca- la Kelvin. 55. Um doente está com febre de 42 oC. Qual sua temperatura expressa na escala Kelvin? 56. Uma pessoa tirou sua temperatura com um termômetro graduado na escala Kelvin e en- controu 312 K. Qual o valor de sua tempera- tura na escala Celsius? 57. Um gás solidifica-se na temperatura de 25 K. Qual o valor desse ponto de solidificação na escala Celsius? Questões 58. Quando medimos a temperatura de uma pes- soa, devemos manter o termômetro em conta- to com ela durante algum tempo. Por quê? 59. Cite algumas grandezas que podem ser usadas como grandezas termométricas. 60. Você acha seguro comparar a temperatura de dois corpos através do tato? Explique sua res- posta com um exemplo. 61. O que você entende por "zero absoluto"? Qual o valor desta temperatura na escala Celsius? Temperatura corporal O homem mantém, a despeito das varia- ções da temperatura ambiente, a sua temperatura interna entre 36,7 e 37 ºC, quando medida da bo- ca, ou entre 37,3 e 37,6 ºC para medições retais. Isso se deve à existência de mecanismos reguladores que controlam eficientemente a pro- dução e a eliminação do calor corporal. Em ambi- entes frios, o calor gerado no interior do corpo deve ser conservado, enquanto nos ambientes quentes deve ser dissipado para o meio. A tempe- 373 273 Kelvin (K) K 100 0 Celsius (ºC) C 212 32 Fahrenheit (ºF) F b Disciplina de BIOFÍSICA – Curso de Fisioterapia – UNISEP - Professor Flávio Antonio Galeazzi 24 ratura interna do corpo depende, assim, desse ba- lanço. Os animais que são capazes de controlar a própria temperatura interna são chamados homeo- termos. Determinação da temperatura corporal A temperatura do corpo pode ser determi- nada em vários lugares. A preferência é dada para as regiões com irrigação sanguínea abundante e superficial ou regiões que estão próximas a um grande vaso. As medidas feitas na axila, sulco inframa- mário e virilha fornecem a temperatura da superfí- cie do corpo, enquanto as determinações feitas no esôfago, reto, vagina, nasofaringe e membrana timpânica indicam a temperatura corporal interna. A determinação da temperatura na axila exige que se tome cuidado com os pêlos, pois são isolantes térmicos, e também com o suor; pois a sua evaporação falseia a medida. Também nas pessoas magras o cavado axilar pode ser profundo e impedir um contato eficiente do bulbo termomé- trico com a pele. A temperatura obtida no esôfago, na mem- brana timpânica, no reto e na vagina avaliam bem a temperatura interna do corpo. Há que se consi- derar, no entanto, que elas podem estar alteradas quando há inflamação dessas estruturas ou próxi- mo a elas. Assim, a inflamação do apêndice cecal (apendicite), sobretudo quando ele está em posi- ção retrocecal, a inflamação do reto (proctite) e as que ocorrem nos órgãos genitais femininos (vulvi- te, colpite, endometrite, anexite) alteram os valo- res da temperatura regional e, por isso, as leituras carecem de valor como estimativa da temperatura global do corpo. São, no entanto, importantes para ajudar no diagnóstico de inflamações localizadas nesses órgãos. Temperatura superficial e profunda Os valores normais da temperatura do cor- po humano variam de acordo com o local da sua determinação e em conformidade com a fisiologia do indivíduo. Pela manhã, um adulto normal apre- senta temperatura axilar entre 36 e 37 ºC, enquan- to, durante a noite, esse intervalo se desloca para 36,5 a 37,3 ºC. A temperatura axilar é 0,3 a 0,5 ºC menor do que a retal e 0,15 a 0,25 ºC menor do que a bucal. Equilíbrio e ritmos térmicos do corpo A temperatura corporal é mantida graças a um balanço entre os processos de produção (ter- mogênese) e de eliminação do calor (termólise), cujo controle é exercido pelo hipotálamo. Vários são os fatores que podem alterar a temperatura corporal:
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