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Introdução Como foi apresentado no artigo “Just in Time & Kanban – As Diferenças”, o Kanban é apenas uma ferramenta auxiliar para gestão visual da produção Just in Time. Mas quando falamos sobre Kanban e Just in Time, é importante também entender dois conceitos fundamentais de gestão industrial: o sistema de produção empurrada e o sistema de produção puxada. São dois conceitos importantes porque é na produção puxada que o Just in Time se apoia, e é onde o sistema de gestão visual da produção (Kanban) passa a fazer sentido. A Produção Empurrada O modelo de produção empurrada não entende o fluxo contínuo de produção como algo importante para o processo. Neste sistema onde o fluxo dos materiais não é relevante, a produção acontece de forma isolada em cada máquina. Os operadores recebem um lista do que deve ser produzido durante o dia, realizam a produção e “empurram” as peças para a estapa seguinte do processo. Quem controla o que, quanto e quando deve ser produzido é o planejamento de produção, com base no MRP. O Ambiente que Originou a Produção Empurrada O método foi desenvolvido no início da era industrial, considerando um ambiente muito peculiar àquela época. Com demanda de mercado praticamente infinita e competição inexistente, os custos não determinavam o lucro da empresa. O preço fazia o lucro (Preço = Custo + Lucro). A qualidade não era importante e o volume de produção era a única preocupação. A Produção Puxada No modelo de produção puxada, a forma como ocorre o fluxo de materiais ganha muita importância. As etapas do processo só produzem se houver consumo do cliente, e a definição de qual peça, quando e quanto fazer é dada pela quantidade de produtos no estoque. Cada processo “puxa” as peças do processo anterior, eliminando a necessidade de programação de cada etapa do processo através de um sistema de MRP. A necessidade de produção é dada pelo nível do estoque. O Ambiente que Originou a Produção Puxada O ambiente mudou muito desde o período inicial da industrialização, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje o custo faz o lucro (Lucro = Preço – Custo). A qualidade se tornou fator preponderante de escolha, a capacidade é praticamente ilimitada e a demanda não é mais infinita. Com tanta mudança no ambiente, não faz sentido a utilização dos mesmos métodos de produção do passado. Aplicação do Novo Sistema No fim da Segunda Guerra a economia japonesa estava arrasada e as empresas precisavam ganhar competitividade. A saída encontrada foi a redução de custos. Ao contrário da estratégia comum de diluir os custos em volumes maiores de vendas, e considerando o fato de não haver demanda suficiente para permitir esse crescimento, as empresas japonesas adotaram a estratégia de centrar esforços na eliminação de desperdícios. E uma das propostas para eliminar desperdícios foi “produzir somente o que o cliente precisa, na quantidade que ele precisa, quando ele precisa”. Surgiu o conceito de Just in Time, e o Sistema de Produção Puxada passou a ser utilizado dentro desse conceito. O que é Produção Empurrada? Do inglês “push system”, o sistema de Produção Empurrada é determinado a partir do comportamento do mercado. Neste modelo, a produção em uma empresa começa antes da ocorrência da demanda pelo produto. Ou seja, a produção depende de uma ordem anteriormente enviada, geralmente advinda de um sistema MRP (Material Requirement Planning). Após o recebimento de tal ordem, é feita a produção em lotes de tamanho padrão. Aqui não existe qualquer relação com a real demanda dos clientes da empresa. O chamado fluxo contínuo de produção também não tem importância neste modelo de produção, uma vez que a produção ocorre isoladamente em cada unidade fabril utilizada no processo. Desta forma, é enviada uma ordem de produção ao setor responsável, que produz os itens e depois os “empurra” para a próxima etapa do processo produtivo, daí o nome “produção empurrada”. O controle do que deve ser produzido, qual quantidade e em que momento, é realizado pelo MRP. Os lead times deste tipo de produção precisam ser conhecidos antecipadamente, uma vez que as quantidades produzidas sem o conhecimento da real demanda dependerão dos materiais fornecidos. A produção empurrada é conhecida como um sistema de inventário zero, mesmo isto não sendo um fato real. Este modelo de produção surgiu no início da era industrial, onde a qualidade dos produtos não importava muito, uma vez que existia uma demanda praticamente infinita em um mercado sem competição. O volume dos produtos produzidos para atender à esta demanda era a única preocupação das indústrias. Quando da implementação de um Sistema Kanban em uma empresa adepta da produção empurrada, a primeira medida a ser tomada é a mudança deste sistema para o sistema de produção puxada, onde, só então são implantados os controles visuais de produção e estoque, característicos do Sistema Kanban. O que é Produção Puxada? Do inglês “pull system”, a produção puxada controla as operações fabris sem a utilização de estoque em processo. Neste modelo, diferentemente da produção empurrada, o fluxo de materiais ganha relevante importância. Aqui, a demanda gerada pelo cliente é o “start” da produção. O controle de o que, quando e como produzir é determinado pela quantidade de produtos em estoque. Assim, a operação final do processo “percebe” a quantidade de produtos vendidos aos clientes, e que, naturalmente, saíram do estoque, e as produz para repor o consumo gerado. Desta forma, cada processo produtivo “puxa” as peças fabricadas no processo anterior, eliminando, assim, a programação das etapas do processo produtivo através do MRP. Neste tipo de produção o consumo do cliente é que determina a quantidade produzida, gerando o que chamamos de sistema com nível mínimo de inventário. A produção puxada surgiu em um cenário onde a qualidade começou a determinar a compra de um produto e a demanda deixou de ser infinita. Assim, tornou-se necessário um modelo produtivo mais avançado e menos estático. Por fim, faz-se importante ressaltar que é possível utilizar este dois tipos de sistema produtivo em um único sistema, com produção puxada e empurrada em pontos distintos do processo. Esta integração dá-se com a utilização do Sistema Kanban em harmonia com o MRP, entre outros. ANEXO Filosofia Just-in-time Esta filosofia sugere produzir ou fornecer bens e serviços exatamente nas quantidades necessárias e no momento certo, porém, isso não é conseguido imediatamente, após a sua implantação. Trata-se de um objetivo que deve ser alcançado ao longo do tempo, com a participação e o envolvimento de todos os funcionários da produção, em todos os níveis, e trabalhando em equipe, além do esforço do aprimoramento contínuo (Slack et al., 1997). Admitem, também, que existe uma forte interação de atitudes, comportamentos e procedimentos que consistem no que ele denominou de “práticas básicas de trabalho”, as quais, de acordo com os princípios JIT, incluem: disciplina, flexibilidade, igualdade, autonomia (delegação de responsabilidade), desenvolvimento de pessoal, qualidade de vida no trabalho e criatividade. Moura (1989), por sua vez, considera que a filosofia JIT é a eliminação de tudo o que não adiciona valor ao produto e está fundamentada na concepção de simplificar o processo e faze-lo bem feito. A Toyota identificou sete tipos de desperdício: superprodução, tempo de espera, transporte, estoque, movimentação e produtos defeituosos. O planejamento e o controle JIT estão baseados no princípio de um “sistema puxado”, onde cada etapa seguinte do processo é um cliente do processo anterior que produz, para o posto seguinte, apenas o que lhe foi requisitado, isto é, abastece cada processo exatamente com os itens necessários, na quantidade necessária, no momento necessário. Outras abordagens tradicionais de planejamento são baseadas no “sistema empurrado”, com predominância na existência de estoques (matéria-prima, produto em processo, produto acabado), chamados de estoquesreguladores. Os objetivos do “sistema puxado”, enumerados por Moura (1989), são: minimizar o inventário em processo; minimizar a flutuação de estoque em processo; reduzir o “leadtime” da produção; evitar a transmissão ampliada de flutuações de demanda ou de volume entre processos; elevar o nível de controle através da descentralização (delegação de responsabilidades); reagir mais rapidamente à mudança da demanda, e reduzir os defeitos. Para o seu perfeito funcionamento, lhe é disponibilizada uma coleção de ferramentas e técnicas, tal que lhe proporcione os meios para a eliminação dos desperdícios: controle kanban, programação nivelada, modelos mesclados e sincronização. Controle Kanban O método kanban (cartão) requer um simplificado e auto-regulador sistema de controle que proporcione uma grande transparência para a administração. Esta ferramenta de planejamento e controle faz parte do conjunto de técnicas da abordagem JIT, desenvolvida pelo ex-vice-presidente da Toyota, Taiichi Ohno. Portanto, não é a mesma coisa que JIT, nem, tampouco, um sistema genérico japonês, e sim, da própria Toyota. Porém, muitas empresas, tanto japonesas, como ocidentais, adotaram este “sistema puxado” da produção com algumas pequenas adaptações (outros dispositivos de sinalização). Para desenvolver suas idéias sobre o kanban, Taiichi inspirou-se nas suas observações sobre os mecanismos de ressuprimento dos supermercados americanos, onde as prateleiras eram sistematicamente reabastecidas à medida que eram esvaziadas. Kanban é um procedimento que utiliza cartões para operar um “sistema puxado” de controle de material ou componente, interligando as operações de suprimentos com a linha de montagem. É, basicamente, um método manual de administração de materiais e controle da produção. Os kanbans são apenas meios pelos quais o transporte, a produção ou o fornecimento pode ser autorizado, ou seja, a produção anterior só opera quando o processo seguinte usar todo o seu suprimento de peças disponíveis. Existem diferentes tipos de kanban: de transporte, de produção e de fornecedor. Existem dois procedimentos que podem dirigir o uso dos kanbans: sistema de dois cartões (kanban de transporte e kanban de produção) e sistema de cartão único (“empurrar” para a produção e o pedido e “puxar” para as entregas).
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