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Que coisa é a Política - João Ubaldo Ribeiro - O termo Política refere-se ao exercício de alguma forma de poder. Ter poder não é só estar num cargo, pois o ocupante pode se submeter a alguém. - O poder só existe quando está em exercício, em ação, não na elaboração abstrata. Antes, tudo está sujeito a fatos imprevisíveis. - Americanos: “o poder é a capacidade de influenciar o comportamento das pessoas”. Se a Política tem a ver com o poder e o poder visa alterar comportamento, o ato político tem dois aspectos: um interesse (de quem quer mudar o comportamento) e uma decisão (conclui o objetivo do interesse). Política é um processo onde interesses viram objetivos que levam a formulação e tomada de decisões, que vinguem. - A política é a forma de administrar e alterar a estrutura de poder na sociedade. - A política é a arte da negociação, é um jogo de poder. - A primeira célula social é a família. - Política tem a ver com quem manda, por que e como manda. Mandar é decidir, ter apoio ou submissão. Política é arte, ciência, filosofia e profissão. O homem precisa de uma estrutura social, e ela só existe com um processo político. - Desde o nascimento o ser humano está imerso num processo político. Tudo pode estar numa visão política, não dá pra fugir. Podemos desligar a TV, mas não existe a figura do apolítico. - A política é a forma de condução de nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos na nossa vida social. Como a Política interessa a todos e a cada um - João Ubaldo Ribeiro - A existência de preconceito não é natural. O homem não nasce com preconceito, ele aprende socialmente. - A educação, tanto a doméstica quanto a pública, é uma formação política. - Para uma economia precisamos nos qualificar e ter acesso a tal ocupação. É um processo político que vai definir as condições econômicas dos indivíduos. Se ele indica que não há oportunidades para tais pessoas, ele as prejudica e beneficia outras. - Pensar ser apolítico, é ter a vista curta ou ser comodista. Não ligar para a Política é um direito que existe pelo sistema político, então está sendo político conservador, que não vê necessidade de mudar. Não existe o apolítico. Pois apolítica é ausência de Política. - Um fato político é aquele que diz respeito à sociedade como um todo. Se discuto com minha mulher sobre qual cinema ir, não há interesse a polis. Mas se o marido se impõe e a mulher nunca, pode ser típico da sociedade. A Política não se ocupa de todos os processos de formulação e tomada de decisão, só as que afetem a coletividade. - Política não é só eleições e “sujeira”, é a condução da existência coletiva, a prosperidade ou pobreza, educação ou falta dela. - Pode-se não ligar para Política, mas deve-se saber das implicações. - Se dedicar à sociedade é nobre quando, mesmo erradamente, visam o bem-estar público. - Aquilo que denominamos “classe política” é um grupo de pessoas escolhidas pela sociedade, por todos nós. Se todos eles são tão ruins, todos nós somos ruins. - Não gostar dos políticos e do sistema e não fazer nada é ser político, ajudando a manter algo indesejável. Fazer algo para melhorar é ser político, a única via de ação é a Política. - Toda a matéria lato política deve ser explorada através de dois instrumentos: reflexão e discussão. A transformação da visibilidade – John Thompson - A visibilidade do poder na era pré-midiática: Interação só face a face. Líderes políticos eram invisíveis para a maioria e podiam restringir suas aparições. - As mudanças na visibilidade do poder hoje, na era midiática: Líderes políticos devem estar preparados para se adaptar a visibilidade. - Focando a evolução das sociedades ocidentais desde o último período medieval, distinguimos os dois sentidos básicos da dicotomia: público X privado. 1º SENTIDO Público: domínio do poder político institucionalizado, exercido pelo estado soberano. Privado: domínio do poder econômico e de relações pessoais, exercido pela sociedade civil. Organizações intermediárias: não são do estado nem totalmente do domínio privado (sem lucro, beneficente). 2º SENTIDO Público: o que é aberto ou acessível à vista do público em geral. Privado: o que se esconde da vista do público ou de todos. Publicidade X privacidade, abertura X segredo e visibilidade X invisibilidade. - Os sentidos não condizem, mas tem um histórico das relações entre formas de governo, ou mutações sobre visibilidade ou invisibilidade do poder. - Na Grécia Clássica, argumentos eram vistos nas reuniões e tinham direitos iguais. As assembleias tinham visibilidade do poder baseada na capacidade de se ocupar num debate num lugar comum e obter decisões com o consenso da maioria. - Na Idade Média e início da Europa moderna, negócios eram conduzidos em círculos fechados da corte. Apareciam só para afirmar poder. Publicidade era exaltação do poder. Justificavam a privacidade: o poder do rei é mais efetivo escondido. - O papel da mídia na reconstituição das fronteiras entre a vida pública e a vida privada. - Era pré-midiática: público presente num lugar. Publicidade de co-presença. Interação face a face. O evento podia ser visto pelos poucos ali presentes. Tem caráter dialógico. Indivíduos num mesmo lugar, podendo interagir. - Era midiática: público sem lugar definido ou em qualquer lugar. Eventos podem se tomar públicos pela gravação e transmissão. Podem ter uma publicidade que independe de serem vistos diretamente. Publicidade mediada. Não substitui a de co-presença. Conforme novos meios penetram mais, novas formas complementam e substituem a publicidade tradicional. - O papel político da imprensa: Eventos podem ser feitos através do virtual, na ausência de indivíduos. Eram públicos num lugar, definido não pela interação face a face, mas pelo acesso à publicidade que foi possível graças à palavra impressa. Tornar algo público se liberta do face a face, mas depende do acesso aos meios de produção e transmissão da palavra impressa. A relação entre a produção das escritas e seus receptores era uma publicidade quase mediada. - Enquanto relações entre produtores e receptores não tinham caráter dialógico, a recepção estava ligada às formas de comunicação dialógica. Livros e panfletos lidos em voz alta para indivíduos reunidos para isso. A publicidade da palavra escrita era acessível, por co-presença, a quem não sabia ler. - O papel político da TV: características do meio. Surge uma publicidade diferente da tradicional. A TV cria um campo de visão diferente do que os indivíduos têm em encontros diários. É mais extenso, permitindo aos indivíduos assistirem o que acontece em contextos distantes. Foge do controle dos receptores. A direção da visão tem sentido único, o espectador não escolhe o ângulo, tem a visão registrada pelo visor. O locutor não vê quem o observa e o alcance é maior. A publicidade criada pela TV é caracterizada pelo contraste entre produtores e receptores em relação à visibilidade e invisibilidade. O Panoptismo – Michel Foucault - Panóptico: Modelo de dispositivo disciplinar como exercício de poder. - O poder disciplinar no séc. XIX: teve uma peste numa cidade e tiveram que dividi-la em quarteirões, ter um responsável por rua para trancar pessoas em casa. A ordem evita confusões. Enquanto a lepra gera tipos de exclusão, intensificam e ramificam o poder. O espaço de exclusão que o leproso era o habitante é recortado no séc. XIX e os excluídos (leprosos), individualizados. Todos os tipos de poder que tem função de marcar e modificar o anormal funcionam de duplo modo: da marcação (perigoso, inofensivo), da repartição diferencial (quem é, onde deve ficar). - Modelo do dispositivo panóptico: torre circular dividida em celas vazada para fora e para dentro. No alto um vigia que a todos vê. Celas separadas dão invisibilidade lateral garantindo a ordem. - Efeito do panóptico: ver sem ser visto. No anel periférico, é visto sem ver; na torre, vê sem ser visto. - Induzir um estado consciente e permanente de visibilidade, assegura o funcionamentoautomático de poder. O Panóptico automatiza e desindividualiza o poder. - Modelo do zoológico inspira o modelo panóptico. - Panóptico: um laboratório de poder que se exerce pela visibilidade. - Mudanças na atuação das disciplinas como exercício de poder: 1. A inversão funcional das disciplinas. Antes queriam neutralizar perigos fixando a população inútil ou agitada. Querem fazer indivíduos úteis, como a disciplina militar que impede desobediência e deve aumentar o poder de ataque e de resistência da unidade. Dupla tendência do séc. XVII: multiplicar instituições de disciplina e disciplinar aparelhos existentes. 2. A ratificação dos mecanismos disciplinares. Aparelhos fechados tem vigilância externa que desenvolve controles laterais. Ex: escola cristã, forma crianças dóceis e vigia os pais. Difundem os controles na sociedade, como associações de beneficência. O território é dividido entre membros da companhia, que visitam a população, para ter informações precisas, como estabilidade de habitação, frequência nos sacramentos, etc. 3. A estatização dos mecanismos disciplinares. Polícia centralizada passa a ser de uma máquina administrativa responsável pela ordem e harmonia. Para ter esse poder, é preciso fazer uma vigilância que torne tudo visível e ela invisível, gerar relatórios de atitudes suspeitas. A polícia une o poder monarca às instâncias de poder disseminadas, estendendo o alcance do Estado a espaços não atingidos pelas instituições fechadas de disciplina. Sociedade de espetáculos à sociedade de vigilância. - Antiguidade (muitos viam poucos) x Idade moderna (poucos veem muitos: muitos veem muitos - internet, muitos veem poucos - celebridades). - Formação da sociedade disciplinar: 1. As disciplinas são técnicas para organizar as multiplicidades humanas – técnicas que permitem ajustar os homens aos aparelhos de produção. 2. A modalidade panóptica de poder. 3. As disciplinas atravessam o lumiar tecnológico. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle - Três tipos de sociedades em que o poder se exerce de formas diferentes. Sociedade soberana Sociedade disciplinar Sociedade de controle - A questão do dinheiro nas sociedades disciplinar e de controle: da toupeira à serpente. - A questão das máquinas nos três tipos de sociedade. - O capitalismo em mudança quer vender serviços e comprar ações. - A passagem da fábrica à empresa. - O marketing como interesse instrumento de controle social. - Antigas formas disciplinares e de controle que estão em mudança: escola, hospital, fábrica/empresa, prisão – Seria a crise das instituições.
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