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Macroscopia do Tronco Encefalico

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● NEUROANATOMIA 
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www.medresumos.com.br 
 
 
ANATOMIA MACROSCÓPICA DO TRONCO ENCEFÁLICO 
 
 
O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se 
ventralmente ao cerebelo, apoiado sobre a região do clivo do osso occipital, na 
base do crânio. Sua origem embriológica se dá a partir das vesículas primitivas 
prosencefálicas do tubo neural: o rombencéfalo dá origem ao metencéfalo (que 
origina a ponte e o cerebelo) e mielencéfalo (que origina o bulbo); e o 
mesencéfalo, ainda como vesícula primitiva, se continua como mesencéfalo até o 
fim do desenvolvimento embrionário do SNC. 
Na constituição do tronco, entram corpos de neurônios que se agrupam 
em núcleos e fibras nervosas que, por sua vez, se agrupam em tractos, fascículos 
e lemniscos. Estes elementos da estrutura interna do tronco encefálico podem 
estar relacionados com relevos ou depressões de sua superfície macroscópica, e 
devem ser identificados e diferenciados. Muitos dos núcleos do tronco encefálico 
recebem ou emitem fibras nervosas que entram na constituição dos nervos 
cranianos. Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão com o tronco 
encefálico. A identificação destes nervos e de sua emergência do tronco encefálico 
é um aspecto importante do estudo deste segmento do sistema nervoso central. 
O tronco encefálico se divide em: bulbo (situado caudalmente, 
estabelecendo relação direta com a medula); ponte (situada entre o bulbo e o 
mesencéfalo); e mesencéfalo (situado cranialmente, apoiando sobre si os 
hemisférios cerebrais), além da presença do IV Ventrículo dorsalmente ao tronco, 
ventralmente, portanto, ao cerebelo. 
 
 
BULBO 
 O bulbo raquídeo ou medula oblonga tem a forma de um tronco de cone, cuja extremidade menor continua caudalmente 
com a medula espinhal. Como não existe uma linha de demarcação nítida entre medula e bulbo, considera-se que o limite entre eles 
está em um plano horizontal que passa imediatamente acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical (C1), que 
corresponde ao nível do forame magno do osso occipital. O limite superior do bulbo se faz em um sulco horizontal visível no contorno 
ventral do órgão, o sulco bulbo-pontino, que corresponde à margem inferior da ponte. 
A superfície do bulbo é percorrida longitudinalmente por sulcos ora mais, ora menos paralelos, que continuam com os sulcos 
da medula. Estes sulcos, além de delimitar as áreas anterior, posterior e lateral do bulbo, aparecem como uma continuação direta dos 
funículos da medula. A fissura mediana anterior termina cranialmente em uma depressão denominada forame cego. De cada lado da 
fissura mediana anterior existe uma eminência alongada chamada de pirâmide bulbar, formada por um feixe compacto de fibras 
nervosas descendentes (tracto córtico-espinhal) que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula. Na parte 
caudal do bulbo, fibras do tracto córtico-espinhal cruzam obliquamente o plano mediano em feixes que obliteram a fissura mediana 
anterior e constituem a decussação das pirâmides. Lateralmente às pirâmides, observa-se uma eminência oval, denominada oliva 
(formada por uma grande massa de substancia cinzenta, o núcleo olivar inferior). Ventralmente à oliva, emergem do sulco lateral 
anterior os filamentos radiculares do nervo hipoglosso (XII par de nervos cranianos). Do sulco lateral posterior, emergem filamentos 
radiculares que se unem para formar os nervos glossofaríngeo (IX par) e vago (X par), além dos filamentos que constituem a raiz 
craniana ou bulbar do nervo acessório (XI par), a qual se une com a raiz espinhal, proveniente da medula. 
A metade caudal do bulbo ou porção fechada do bulbo é percorrida posteriormente por um estreito canal, continuação direta 
do canal central da medula. Este canal se abre para formar o IV ventrículo, cujo assoalho é em parte constituído pela metade rostral, 
ou porção aberta do bulbo e a outra metade (mais superior), pela porção posterior da ponte. O sulco mediano posterior termina a meia 
altura do bulbo, em virtude do afastamento de seus lábios, que contribuem para a formação dos limites laterais do IV ventrículo. Entre 
este sulco e o sulco lateral posterior, está situada a área posterior do bulbo, continuação direta do funículo posterior da medula e, 
como este, dividida em fascículo grácil e fascículo cuneiforme pelo sulco intermédio posterior. Estes fascículos são constituídos por 
fibras nervosas ascendentes, provenientes da medula, que terminam em duas massas de substância cinzenta, os núcleos grácil e 
cuneiforme, situados profundamente à região denominada tubérculo do núcleo grácil (medialmente) e tubérculo do núcleo cuneiforme 
(lateralmente). Quando há a formação do assoalho inferior do IV ventrículo, esses tubérculos se afastam do plano mediano e se 
continuam superiormente como o pedúnculo cerebelar inferior. 
A porção aberta do bulbo abriga estruturas de importantes relações anátomo-clínicas, como o trígono do hipoglosso (mais 
medial) e o trígono do vago (mais lateral) que são projeções superficiais dos núcleos do nervo hipoglosso e vago, respectivamente. 
Estes dois trígonos estão separados da área postrema (região triangular mais caudal da porção aberta do bulbo relacionada com o 
reflexo do vômito) por meio do funículo separans, uma crista esbranquiçada de tecido nervoso. 
Quanto à sua função, o bulbo apresenta uma característica que é de controlar o ritmo respiratório, assim como o ritmo 
cardíaco. Tal função é possível ao bulbo pois nele existe neurônios da chamada formação reticular que se agrupa em centros (no 
caso, centro respiratório e centro cardiovascular) responsáveis por receber informações oriundas, principalmente, do núcleo do tracto 
solitário (importante núcleo que recebe fibras viscerais de nervos cranianos) e, em resposta a estas informações, origina estímulos 
que comandam certas funções vitais. Além disso, é no bulbo que se encontra uma área responsável pelo reflexo do vomito, localizada 
profundamente à área postrema, e que também é formada por neurônios da formação reticular. 
 
Arlindo Ugulino Netto. 
NEUROANATOMIA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● NEUROANATOMIA 
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PONTE 
 A ponte é a parte do tronco encefálico interposto entre o bulbo e o mesencéfalo. Está situada ventralmente ao cerebelo e 
repousa sobre a parte basilar do osso occipital e o dorso da sela turca do esfenóide. Inferiormente, é delimitada pelo sulco bulbo-
pontino e superiormente, dividida do mesencéfalo pelo sulco ponto-mesencefálico. 
Na sua base (face anterior), apresentam-se estriações transversais em virtude da presença de numerosos feixes de fibras 
transversais que a percorrem. Estas fibras convergem de cada lado para formar um volumoso feixe, o pedúnculo cerebelar médio (ou 
braço da ponte), que penetra no hemisfério cerebelar correspondente. Considera-se como limite entre a ponte e o braço da ponte o 
ponto de emergência do N. trigêmeo (V par craniano). Percorrendo longitudinalmente a superfície ventral da ponte existe um sulco, o 
sulco basilar, que geralmente aloja a artéria basilar (formada pela união das duas artérias vertebrais). 
 A parte ventral da ponte é separada do bulbo pelo sulco bulbo-pontino, de onde emergem de cada lado, a partir da linha 
mediana, o VI (abducente), VII (facial e intermédio) e VIII (nervo vestíbulo-coclear) pares cranianos. O VI par (nervo abducente) 
emerge entre a ponte e a margem superior da pirâmide, bem próximo ao plano mediano. O VIII par (nervo vestíbulo coclear) emerge 
lateralmente, próximo a um pequeno e destacado lóbulo do cerebelo denominado de flóculo. O VII par (facial) emerge medialmente ao 
VIII par, com o qual se relaciona intimamente. Entre os dois, emerge o nervo intermédio, que é a raiz sensitiva e visceral do VII par 
(portanto, quando se fala em nervo facial, se fala, em conjunto, do nervo facial propriamente dito – parte motora – enervo intermédio – 
parte sensitiva e visceral). Uma compressão nessa região do sulco bulbo-pontino pode levar a uma riqueza de sinais neurológicos 
devido à emergência desses importantes nervos cranianos, levando a chamada síndrome do ângulo ponto-cerebelar (baixa 
acuidade auditiva, dificuldade na marcha, vômitos, paralisia facial periférica). 
 
 
IV VENTRÍCULO 
 A cavidade do rombencéfalo tem uma forma de losango e é denominada de quarto ventrículo, situado entre o bulbo e a 
ponte ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente. Continua caudalmente com o canal central do bulbo (que é a continuação do canal 
central da medula) e cranialmente com o aqueduto cerebral (do mesencéfalo), cavidade através da qual o IV ventrículo se comunica 
com o III e recebe o líquor lá produzido para somá-lo ao seu. A cavidade do IV ventrículo se prolonga de cada lado para formar os 
recessos laterais, situados na superfície dorsal do pedúnculo cerebelar. Estes recessos se comunicam de cada lado com o espaço 
subaracnóideo por meio das aberturas laterais do IV ventrículo (forames de Luschka) e uma abertura mediana do IV ventrículo 
(forame de Magendie), situado no meio da metade do tecto do ventrículo. É por meio destas cavidades que o l íquido cerebro-espinhal 
(LCR), que enche a cavidade ventricular, passa para o espaço subaracnóideo. 
 
ASSOALHO DO IV VENTRÍCULO 
O assoalho do IV ventrículo, ou fossa romboide, tem forma de losango, sendo formado cranialmente (triângulo superior do 
assoalho do IV ventrículo) pela parte posterior da ponte e caudalmente (triangulo inferior do assoalho do IV ventrículo) pela porção 
aberta do bulbo. Limita-se ínfero-lateralmente pelos pedúnculos cerebelares inferiores e pelos tubérculos do núcleo grácil e 
cuneiforme. Súpero-lateralmente limita-se pelos pedúnculos cerebelares superiores, ou braços conjuntivos, compactos feixes de fibras 
nervosas que, saindo do hemisfério cerebelar, convergem para penetrar no mesencéfalo. O assoalho do IV ventrículo é percorrido em 
toda a sua extensão pelo sulco mediano, que se perde cranialmente no aqueduto cerebral e caudalmente no canal central do bulbo. 
De cada lado do sulco mediano, existe a eminência medial, limitado lateralmente pelo sulco limitante. Este sulco separa núcleos 
motores (núcleo do abducente, por exemplo), mais mediais, dos sensitivos (núcleos vestibulares, por exemplo), mais laterais; ao longo 
de seu trajeto, observa-se a fóvea superior e a fóvea inferior, duas depressões mais evidentes no sulco limitante. 
Medialmente à fóvea superior, a eminência medial dilata-se para constituir de cada lado uma 
elevação arredondada, o colículo facial, formado por fibras profundas do nervo facial que passam 
próximos a região circundando o núcleo do nervo abducente. Na parte mais caudal da eminência 
medial, observa-se uma pequena área triangular de ápice inferior, o trígono do nervo hipoglosso, 
correspondente ao núcleo do nervo hipoglosso. Lateralmente ao trígono do nervo hipoglosso e 
caudalmente à fóvea inferior, existe uma outra área triangular ligeiramente acinzentada, o trígono do 
vago, que corresponde ao núcleo dorsal do nervo vago. Lateralmente ao sulco limitante, identifica-se a 
área vestibular, correspondente aos núcleos vestibulares do nervo vestíbulo-coclear (VIII). Cruzando 
transversalmente a área vestibular, existem finas cordas de fibras nervosas que constituem as estrias 
medulares do IV ventrículo. Estendendo-se da fóvea superior em direção ao aqueduto cerebral, 
lateralmente à eminência medial, encontra-se o locus ceruleus, área de coloração ligeiramente escura, 
cuja função se relaciona com o mecanismo do sono. 
 
TECTO DO IV VENTRÍCULO 
 A metade cranial do tecto do IV ventrículo é constituída por uma fina lâmina de substância branca, o véu medular superior, 
que se estende entre os dois pedúnculos cerebelares superiores. Na constituição da metade caudal do tecto do IV ventrículo, temos 
as seguintes formações: uma pequena parte da substância branca do nódulo do cerebelo; o próprio véu medular inferior; e a tela 
coroide do IV ventrículo (formada pela união do epitélio ependimário que produz líquido cérebro-espinhal e que se acumula na 
cavidade ventricular, passando ao espaço subaracnóideo através das aberturas laterais e mediana do IV ventrículo). 
 
 
MESENCÉFALO 
 O mesencéfalo interpõe-se entre a ponte (sulco ponto-mesencefálico) e o cérebro, do qual é 
separado por um plano que liga os corpos mamilares (diencéfalo) à comissura posterior. 
 É atravessado por um estreito canal, o aqueduto cerebral (ou do mesencéfalo), que liga o III ao IV 
ventrículo. A parte do mesencéfalo situada dorsalmente ao aqueduto é o tecto do mesencéfalo; 
ventralmente temos o pedúnculo cerebral, que por sua vez se divide em uma parte dorsal, 
predominantemente celular, o tegmento, e outra ventral, formada de fibras longitudinais (das quais 
participa o tracto córtico-espinhal), a base do pedúnculo cerebral. Em cortes transversais, vê-se que o 
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tegmento é separado da base por uma área escura, a substância negra, formada por neurônios que contêm melanina. Seguindo essa 
substância negra, externamente, na superfície do mesencéfalo, existem dois sulcos: um lateral, sulco lateral do mesencéfalo e outro 
medial, sulco medial do pedúnculo cerebral (de onde emerge o III par dos nervos cranianos, o oculomotor). 
 Em uma vista dorsal, o tecto do mesencéfalo apresenta eminências arredondadas, os colículos superiores e inferiores 
(corpos quadrigêmeos), separados por dois sulcos perpendiculares em forma de cruz (sulco cruciforme). Acima dos colículos 
superiores, aloja-se o corpo pineal, glândula endócrina que pertence ao diencéfalo. O nervo troclear, que emerge da porção mais 
caudal do colículo inferior, é o único dos pares cranianos que emerge dorsalmente, contorna o mesencéfalo para surgir ventralmente 
entre a ponte e o mesencéfalo. Cada colículo se liga a uma pequena eminência oval do diencéfalo, o corpo geniculado, através de um 
feixe superficial de fibras nervosas que constitui o seu braço: o colículo superior se relaciona com o corpo geniculado lateral; e o 
colículo inferior se relaciona com o corpo geniculado medial. 
 Vistos ventralmente, os pedúnculos cerebrais aparecem como dois grandes feixes de fibras que surgem na borda superior da 
ponte e divergem cranialmente para penetrar profundamente no cérebro. Delimitam assim, uma profunda depressão triangular, a 
fossa interpeduncular. O fundo da fossa interpeduncular apresenta orifícios para a passagem de vasos e denomina-se substância 
perfurada posterior.

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