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APOSTILA PENAL GERAL

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Professora Letícia Genari 
 
 
 
1 
DIREITO PENAL - PARTE GERAL 
 
 
 
 
PROFESSORA LETÍCIA GENARI 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
2 
 
I N T R O D U Ç Ã O 
 
 
 
1. Conceito de Direito Penal 
 
A reunião das normas jurídicas, pelas quais o Estado proíbe 
determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os 
princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas 
de segurança, dá-se o nome de Direito Penal, que é ramo do Direito Público. 
 
As infrações penais dividem-se em crimes ou delitos e contravenções. 
Não há diferença no direito brasileiro entre crimes e delitos, que são sinônimos. 
As contravenções constituem um elenco de infrações penais de menor porte e 
encontram-se elencadas no Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei de Contravenções 
Penais). 
 
 
 
 
2. Denominação 
 
Modernamente, pretendem alguns autores substituir a denominação 
dada ao Direito Penal, por outra que julgam mais ampla, e que é a de Direito 
Criminal. 
 
Entendem que a expressão Direito Criminal é mais abrangente, uma vez 
que esta abriga, de modo mais racional, não somente a pena, como ainda o 
estudo de todas as conseqüências jurídicas do crime, notadamente as medidas 
de segurança. 
 
Salienta-se que, no Direito pátrio, Direito Penal é denominação acolhida 
na Lei Fundamental do país, pois o art. 22, I, da Constituição Federal, faz 
menção expressa e nominal a esse ramo da ciência jurídica. 
 
 
 
3. Caracteres do Direito Penal 
 
O Direito Penal regula as relações do indivíduo com a sociedade. Por 
isso, não pertence ao Direito Privado, mas sim ao Público. 
 
Quando o sujeito pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica 
entre ele e o Estado. Surge o jus puniendi, que é o direito que tem o Estado de 
atuar sobre os delinqüentes na defesa da sociedade contra o crime. 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
3 
 
 
Assim, os bens tutelados pelo Direito Penal não interessam 
exclusivamente ao indivíduo, mas toda a coletividade. A relação existente 
entre o autor de um crime e a vítima é de natureza secundária, já que ela não 
tem o direito de punir. Mesmo quando exerce a persecutio criminis, não goza 
daquele direito, pois o que se lhe transfere unicamente é o jus persequendi, 
cessando qualquer atividade sua com a sentença transitada em julgado. 
 
O delito é, pois, ofensa à sociedade, e a pena, conseqüentemente, atua 
em função dos interesses desta. Logo, é o Estado o titular do jus puniendi, que 
tem caráter público. 
 
 
 
4. Conteúdo do Direito Penal 
 
O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do 
delinqüente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma 
parte introdutiva. 
 
Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a 
norma penal. Esta é cuidada quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, 
como também à sua exegese. 
 
Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas 
de segurança. 
 
 
 
5. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo 
 
Denomina-se Direito Penal objetivo o conjunto de normas que regulam a 
ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. 
Somente o Estado, em sua função de promover o bem comum e combater a 
criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. É, pois, o 
único e exclusivo titular do “direito de punir” (jus puniendi) que constitui o que 
se denomina Direito Pena subjetivo. O direito de punir, todavia, não é 
arbitrário, mas limitado pelo próprio Estado ao elaborar este as normas que 
constituem o Direito subjetivo de liberdade que é o de não ser punido senão de 
acordo com a lei ditada pelo Estado. Só a lei pode estabelecer o que é 
proibido penalmente e quais são as sanções aplicáveis aos autores dos fatos 
definidos na legislação como infrações penais. 
 
 
 
 
 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
4 
 
6. Caráter Dogmático do Direito Penal 
 
Como ciência jurídica, o Direito Penal tem caráter dogmático, já que se 
fundamenta no direito positivo, exigindo-se o cumprimento de todas as suas 
normas pela sua obrigatoriedade. Por essa razão, seu método de estudo não é 
experimental, como na Criminologia, por exemplo, mas técnico-jurídico. 
Desenvolve-se esse método na interpretação das normas, na definição de 
princípios, na construção de institutos próprios e na sistematização final de 
normas, princípios e institutos. Deve o estudioso de Direito Penal, contudo, 
evitar o excesso de dogmatismo, já que a lei e a sua aplicação, pelo íntimo 
contato com o indivíduo e a sociedade, exigem que se observe a realidade da 
vida, suas manifestações e exigências sociais e a evolução dos costumes. 
 
 
 
7. Direito Penal Comum e Direito Penal Especial 
 
Os autores diferenciam o Direito Penal comum do Direito Penal especial. 
O primeiro se aplica a todos os cidadãos, ao passo que o segundo tem o seu 
campo de incidência adstrito a uma classe de cidadãos, conforme sua 
particular qualidade. 
 
Por isso, entende o Profº Damásio que no Brasil, apenas o Direito Penal 
militar pode ser indicado como Direito Penal especial, pois a sua aplicação se 
realiza por meio da justiça penal militar. Já com relação ao Direito Eleitoral, 
seguindo o critério apontado, não é de Direito Penal especial, uma vez que a 
quase totalidade da justiça eleitoral é constituída por juizes da justiça comum. 
 
No entendimento do Profº Magalhães Noronha, o melhor critério que 
estrema o direito penal comum dos outros é o da consideração do órgão que 
os deve aplicar jurisdicionalmente. E, nesse sentido, ensina José Frederico 
Marques que se a norma penal objetiva somente se aplica através de órgão 
constitucionalmente previstos, tal norma tem caráter especial; se sua 
aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza através da justiça 
comum, sua qualificação será a de norma penal comum. 
 
 
 
8. Direito Penal Material e Formal 
 
Autores de renome consideram o Direito Penal sob duplo aspecto : 
Direito Penal substantivo ou material e Direito Penal adjetivo ou formal. 
 
 
 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
5 
O primeiro é representado pela lei penal, que define as condutas típicas 
e estabelece sanções. O segundo é o Direito Processual Penal, que 
determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo. 
 
Nesse sentido, podemos concluir que o Direito Penal é a substância e o 
Direito Processual Penal é o instrumento que coloca a substância a atuar. 
 
 
 
9. Princípios Fundamentais do Direito Penal 
 
 
 
No Estado Democrático de Direito, em oposição aos Estados 
Autoritários, reina sobretudo o Princípio da Dignidade Humana (CF, art. 1º, 
inciso III), que garante a sociedade algum grau de liberdade individual. 
 
Em razão disso, o poder estatal, partindo do princípio supramencionado, 
está subordinado a outros princípios limitadores do seu poder punitivo, os quais 
estão amparados pelo texto constitucional de 1988, art. 5º, a oferecer 
tranquilidade e garantias ao cidadão brasileiro. 
 
Assim, esses princípios inseridos, implícita ou explicitamente na nossa 
Constituição, têm a finalidade de nortear o legislador ordinário para a adoção 
de um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos. Vejamos: 
 
 
9.1. Princípio da legalidade ou da reserva lega. 
 
Este princípio constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal, o 
qual foi consagrado na nossa Constituição Federal no art. 5º, XXXIX, que 
determina” Não haverá crime sem lei anterior que o defina nem pena sem 
prévia cominação legal” 
 
 
9.2. Princípio da Intervenção mínima 
 
Este principio, também conhecido como última ratio, orienta e limitao 
poder incriminador do Estado, pois a criminalização de uma conduta só se 
legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem 
jurídico. Se existirem outros meios suficientes para a tuela desse bem, sua 
criminalização é inadequada e não recomendável. 
 
 
9.3 Princípio da fragmentariedade 
 
Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo 
Direito Penal, como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. O 
Direito Penal limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contra bens 
jurídicos mais importantes, decorrendo daí seu caráter fragmentário. Dessa 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
6 
forma, só existe a presença do Direito Penal nos fragmentos, ou seja, tipos 
penais relevantes. 
 
 
9.4. Princípio da culpabilidade 
 
Segundo esse princípio “não há crime sem culpabilidade”. Na prática de 
uma conduta típica e antijurídica, às vezes poderá faltar ao agente a potencial 
consciência da ilicitude, ou mesmo ter plena capacidade mental no momento 
em que atuou lesando o bem jurídico. 
 
 
9.5. Princípio da humanidade 
 
Esse princípio é o maior entrave para a adoção da pena capital e da 
prisão perpétua, além de sustentar que o poder punitivo estatal não pode 
aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que ofenda a 
constituição físico-psíquica dos condenados. 
 
O Estado deve adotar uma infraestrutura carcerária de meios e recursos 
que impeçam a degradação e dessocialização dos condenados. 
 
A pena não tem só o objetivo punitivo e retributivo, mas sobretudo 
buscar reeducar e reinserir este indivíduo na sociedade. 
 
 
9.6. Princípio da irretroatividade da lei penal 
 
Não fosse o princípio da irretroatividade da ei penal não haveria 
segurança e liberdade na sociedade, em fragrante desrespeito ao princípio da 
legalidade e da anterioridade da lei, consagrado no art. 1º do Código Penal e 
no art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal. 
 
Contudo, o princípio da irretroatividade vige somente em relação a lei 
mais severa, admitindo-se a retroatividade da lei mais favorável. 
 
 
9.7. Princípio da insignificância 
 
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens 
jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou 
interesse é suficiente para configurar o injusto típico. 
 
Ex.: furto de um bem alheio de valor insignificante, irrelevante 
 
 
9.8. Princípio da ofensividade 
 
O Direito Penal protege bens jurídicos relevantes e que causem um 
prejuízo a vítima. 
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7 
Por outro lado, é imperioso observar que nem sempre uma conduta, 
ainda que contrário a uma norma proibitiva, gera um prejuízo irreparável. 
 
Vejamos: A lei penal prevê o crime de ato obsceno, no art.233, do 
Código Penal, por ofender a moral e os bons costumes. Porém, imaginemos 
oy seguinte exemplo: 
 
 
Ex.: um casal, no calor da paixão, vem a se despir no interior do veículo 
estacionado em lugar ermo, quando são abordados pela autoridade policial. 
Em tese o crime se consumou, porém a atitude não chegou a causar qualquer 
lesividade ao pudor público, já que não haviam expectadores. 
 
 
 
9.9. Princípio da proporcionalidade 
 
Esse princípio consagra o constitucionalismo moderno (embora já fosse 
reclamado por Beccaria), recepcionado pela nossa Constituição Federal em 
vários dispositivos, tais como: exigência da individualização da pena, admissão 
de maior rigor para infrações mais graves. 
 
 
Ex.: não posso punir um furto com a pena do roubo ou do homicídio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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8 
 
10. Relações do Direito Penal 
 
 
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se 
completam, sem contradições, o Direito Penal, como uma das partes desse 
todo, tem íntima correlação com os demais ramos das ciências jurídicas. 
 
 
10.1. Relações com as ciências jurídicas fundamentais 
 
 Filosofia do Direito – Na elaboração da lei penal são considerados os 
aspectos filosóficos. Assim, no direito penal, verifica-se fundamentos 
filosóficos nos conceitos de crime, pena, imputabilidade, dolo, culpa, erro, etc... 
 
Do ponto de vista deontológico, a ela também se subordina, visto que é 
uma ciência que se refere a valores e elementos éticos definidos e estudados 
na filosofia jurídica em consonância com a filosofia moral. 
 
Teoria Geral do Estado – Verifica-se clara relação do direito penal na 
elaboração de conceitos e institutos jurídicos, válidos para todos os ramos do 
direito. 
 
Sociologia Jurídica - O Direito Penal é sempre dirigido a uma conduta 
humana ou fato social. Assim, observa-se a relação e colaboração da 
sociologia jurídica com o Direito Penal, porque aquela estuda o ordenamento 
jurídico nas causas e na função social. Tem por objeto o estudo do fenômeno 
jurídico como fato social e resultante de processos sociais, ocupando-se ainda 
dos efeitos das normas jurídicas na sociedade. 
 
 
10.2. Relações com outros ramos de Ciências Jurídicas 
 
Direito Constitucional – A constituição Federal é fonte do Direito Penal 
(CF, art.22), e este à ela se subordina, já que o Direito Penal não pode fugir à 
índole da Constituição. Se esta é liberal, liberal também será ele. A 
propósito, constatamos que o art.5º da nossa Constituição Federal elenca 
princípios e dispositivos intimamente relacionados com o Direito Penal, tais 
como : 
 
 da anterioridade da lei penal......................................(inciso XXXXIX) 
 da irretroatividade, salvo para beneficiar o réu..........(inciso XL) 
 do crime de racismo...................................................(inciso XLII) 
 dos crimes de tortura, tráfico e terrorismo..................(inciso XLIII) 
 da personalidade da pena..........................................(inciso XLV) 
 da individualização da pena.......................................(inciso XLVI) 
 etc... 
 
 
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9 
 
Direito Administrativo – A função de punir é eminentemente 
administrativa, já que a observância da lei penal compete a todos e é exigida 
pelo Estado. Além do mais, a lei penal é aplicada através dos agentes da 
administração pública como : Juiz, Promotor de Justiça, Delegado de Polícia, 
etc...) 
 
Direito Processual Penal – Muito íntima é a relação com o processo 
penal. Enquanto no direito penal se consubstancia o jus puniendi, o 
processual o realiza com o se ocupar com a atividade necessária para apurar, 
nos casos concretos, a procedência da pretensão punitiva estatal. 
 
Direito Processual Civil – Há também correlação do Direito Penal com 
o Direito Processual Civil, pois, não obstante a diferença de procedimento – 
penal e civil – ambos possuem normas comuns, como o ato processual e a 
sentença. 
 
Direito Civil – Nas definições de crimes, muitas noções são fornecidas 
pelo Direito Civil, como as de casamento, erro, ascendente, descendente, 
cônjuge, irmão, tutor ou curador etc... O Direito Penal, como direito 
eminentemente sancionador, a sua contribuição é decisiva para reforçar a 
tutela jurídica na esfera privada, já que um mesmo fato pode caracterizar um 
ilícito penal e obrigar a uma reparação civil. Como exemplo, podemos citar o 
atropelamento culposo, que constitui uma infração à lei civil quanto aos danos 
pessoais sofridos pela vítima, importando em indenização de caráter 
econômico, e ao mesmo tempo, é um ilícito penal que acarreta sanção mais 
grave, no caso de pena privativa de liberdade ou interdição de direito. 
 
Tutela ainda o direito Penal o patrimônio, ao descrever os delitos como 
furto, roubo, estelionato, etc...; posse no esbulho possessório;família, na 
bigamia, abandono material, etc.. 
 
Direito Penal Internacional – Como ramo do Direito Internacional 
Público, contém regras jurídicas relativas às infrações internacionais, como no 
caso dos crimes de guerra, contra a paz, contra a humanidade, terrorismo, 
pirataria, discriminação racial etc. Com base nestes princípios, o Código Penal 
consagrou regras como as do art. 7º, incisos I e II e parágrafo 3º). 
 
 
Direito Comercial - A lei penal tutela institutos como o cheque, a 
duplicata, o conhecimento de depósito ou warrant etc. Determina ainda a 
incriminação de fraude no comércio e tipifica, em lei especial, os crimes 
falimentares. 
 
Direito Penitenciário - Embora alguns neguem a existência de um 
Direito Penitenciário, ganhou ele autonomia na matéria relativa à execução da 
pena com a Constituição Federal anterior, que desincorporou as normas de 
regime penitenciário do Direito Penal e do Direito Processual Penal, enquanto a 
atual Constituição inclui a competência concorrente da União, Estados e 
Distrito Federal as leis de direito penitenciário (CF, art. 24, inciso I). Na 
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10 
verdade, enquanto as sanções de outros ramos do Direito são de fácil 
execução devido ao seu caráter meramente reparador, o cumprimento das 
penas, principalmente das privativas de liberdade, por suas finalidades diversas 
(retribuição, prevenção, recuperação), apresenta maior complexidade. A 
dificuldade da execução levou então a uma exigência de maior 
desenvolvimento das regras para sua regulamentação. No Brasil, elaborou-se 
pela primeira vez uma Lei de Execução Penal, dissociando-a do Direito Penal 
e do Direito Processual Penal. 
 
Com a criação no Código Penal das penas alternativas de restrição de 
direitos (prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos 
e limitação de fim de semana), pode-se avançar no sentido de que esse ramo 
jurídico deve transformar-se em verdadeiro Direito de Execução Penal. 
 
Direito do Trabalho - O Direito Penal relaciona-se ainda com o Direito 
do Trabalho, principalmente no que tange aos crimes contra a Organização do 
Trabalho (CP, Título IV, arts. 197 a 207), bem como nos efeitos trabalhistas a 
sentença penal. 
 
Direito Tributário - Finalmente, é inegável o relacionamento do Direito 
Penal com o Direito Tributário quando contém a repressão aos crimes de 
sonegação fiscal. 
 
 
10.3 - Relações com as Disciplinas Auxiliares 
 
Medicina Legal - Pode-se definí-la como a aplicação de noções 
médicas e biológicas às finalidades da justiça e à evolução do direito. 
Compreende concomitantemente o estudo das questões jurídicas, que podem 
ser resolvidas exclusivamente com os conhecimentos biológicos e 
principalmente médicos, e o estudo dos fenômenos biológicos e clínicos que 
servem à solução dos problemas judiciários. 
 
Valioso é seu concurso no estudo dos crimes contra a vida (exames de 
lesões corporais, necroscópicos), nos sexuais (exame de conjunção carnal ou 
atos libidinosos), toxicologia (envenenamento, intoxicação alcoólica e por 
tóxicos) etc. De sua importância, entre nós, fala bem alto a existência da 
cadeira de Medicina Legal em nossas Faculdades de Direito. 
 
 
Psiquiatria Forense - Originariamente ramo da medicina, é 
considerada hoje ciência à parte. Seu objetivo é o estudo dos distúrbios 
mentais em face dos problemas judiciários, tais como os da imputabilidade, da 
necessidade de tratamento curativo nos autores de crimes chamados “semi-
imputáveis” e da presunção de violência por alienação ou debilidade mental da 
vítima de crimes contra os costumes (art. 224, b, do CP). 
 
Assim, dupla é a tarefa do psiquiatra, ora colaborando com o legislador, 
na definição e solução de problemas do direito, ora com o magistrado, na 
aplicação da lei ao caso concreto. Ainda, deve limitar-se a, pelo estudo e 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
11 
observação do delinqüente psicopata, oferecer elementos seguros e 
necessários ao juiz, para decidir, e nunca opinar sobre a responsabilidade 
jurídica, tarefa do legislador. 
 
Com a adoção das medidas de segurança, mais se ampliou o campo da 
psiquiatria forense. 
 
Criminalística - Também chamada de Polícia Científica, é a técnica 
que resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal, 
colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus autores. Seu 
objetivo é o estudo de provas periciais referentes a pegadas, manchas, 
impressões digitais, projéteis, locais de crime etc. 
 
 
 
 
11. Criminologia e Ciências Penais 
 
 
 Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estuda os 
fenônemos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e a 
sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo. O crime é considerado 
como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e agente 
social, influenciados por fatores genéticos e constitucionais, bem como pelas 
injunções externas que conduzem à prática da infração penal. Em resumo, 
estuda-se na criminologia a causação do crime, as medidas recomendadas 
para tentar evitá-lo, a pessoa do delinqüente e os caminhos para sua 
recuperação. Pode-se dividir a criminologia em dois grandes ramos: o da 
Biologia Criminal e o da Sociologia Criminal. 
 
 
11.1- Biologia Criminal: 
 
Estuda o crime como fenômeno individual, ocupando-se esta 
ciência das condições naturais do homem criminoso no seu aspecto físico, 
fisiológico e psicológico. Inclui-se a ela os estudos da Antropologia, 
Psicologia e Endrocrinologia criminais. 
 
 Antropologia Criminal - Criada por César Lombroso, estuda 
o delinqüente no seu aspecto anatômico e físico, considerando 
os fatores endógenos (raça, genética, hereditariedade etc). 
Embora já superada a conceituação do criminoso nato de 
Lombroso, há investigações modernas a respeito dos 
cromossomos e até das impressões digitais como 
identificadores de seres humanos geneticamente inclinados à 
prática de atos anti-sociais. 
 
 Psicologia Criminal - Resultante das idéias pioneiras de 
Feuerbach e Romagnosi, trata-se do diagnóstico e 
prognósticos criminais. Ocupa-se com o estudo das condições 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
12 
psicológicas do homem na formação do ato criminoso, do dolo 
e da culpa, da periculosidade e até do problema objetivo da 
aplicação da pena e da medida de segurança. 
 
 
11.2- Sociologia Criminal 
 
Capítulo importante da criminologia é a sociologia criminal, que tem por 
objeto o estudo do delito como fenômeno social. Deve-se o nome a Enrico 
Ferri, que sustentou ser ela a ciência enciclopédica do crime, concepção 
inaceitável mesmo por ardentes positivistas-naturalistas. 
 
Enquanto a antropologia estuda o crime atribuído ao indivíduo ou como 
fato individual, a sociologia ocupa-se com a criminalidade global, atribuída à 
sociedade em que se verifica. Aquela é a ciência do delinqüente; a outra é a 
da sociedade. 
 
 
 
 
12. Breve História do Direito Penal 
 
 
12.1- Tempos Primitivos 
 
A história do direito penal é a história da humanidade. Ele surge com o 
homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra 
sinistra, nunca dele se afastou. 
 
Claro é que não nos referimos ao direito penal como sistema orgânico 
de princípios, o que é conquista da civilização e data de ontem. 
 
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que 
compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à 
agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, 
nem mesmo com sua justiça. 
 
 
 
12.2- Vingança Privada 
 
Como se observa nas espécies inferiores, a reação à agressão devia ser 
a regra.A princípio, reação do indivíduo contra o indivíduo , depois, não só 
dele como de seu grupo, para, mais tarde, já o conglomerado social colocar-se 
ao lado destes. É quando então se pode falar propriamente em vingança 
privada, pois, até aí, a reação era puramente pessoal, sem intervenção ou 
auxílio dos estranhos. 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
13 
Entretanto, o revide não guardava proporção com a ofensa, sucedendo-
se, por isso, lutas acirradas entre grupos e famílias, que, assim, se iam 
debilitando, enfraquecendo e extinguindo. Surge, então, como primeira 
conquista no terreno repressivo, o talião. Por ele, delimita-se o castigo; a 
vingança não será mais arbitrária e desproporcionada. 
 
Tal pena aparece nas leis mais antigas, como o Código de Hamurabi, lei 
da Babilônia, século XXIII ªC. Por ele, se alguém tira um olho a outrem, 
perderá também um olho; se um osso, se lhe quebrará igualmente um osso 
etc. A preocupação com justa retribuição era tal que, se um construtor 
construísse uma casa e ela desabasse sobre o proprietário, matando-o, aquele 
morreria, mas se ruísse sobre o filho do dono do prédio, o filho do construtor 
perderia a vida. 
 
 Conquista igualmente importante foi a composição, preço em moeda, 
gado, vestes, armas etc., porque o ofensor comprava do ofendido ou de sua 
família o direito de represália, assegurando-se a impunidade. 
 
Adotaram-na o Código de Hamurabi, o de Manu e outros, podendo dizer-
se que permanece até hoje entre os povos, sob a forma de indenização, multa, 
dote etc. 
 
 
12.3 - Vingança Divina 
 
Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de 
conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da 
divindade, ofendida pelo crime. Nesta fase pune-se com rigor, antes com 
notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do 
deus ofendido. 
 
É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. Um dos principais 
Códigos é o da Índia, de Manu. Tinha por escopo a purificação da alma do 
criminoso, através do castigo, para que pudesse alcançar a bem-aventurança. 
 
Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. Aliás, 
podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente 
antigo. Além da Babilônia, Índia e Israel, O Egito, a Pérsia, a China etc. 
 
Ao lado da severidade do castigo, já apontada, assinalava esse direito 
penal, dado seu caráter teocrático, o ser interpretado e aplicado pelos 
sacerdotes. 
 
 
12.4. Vingança Pública 
 
Nesta fase, o objetivo é a segurança do príncipe ou soberano, 
através da pena, também severa e cruel, visando à intimidação. 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
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Na Grécia, a princípio, o crime e a pena inspiravam-se ainda no 
sentimento religioso. O direito e o poder emanavam de Júpiter, o criador e 
protetor do universo. Dele provinha o poder dos reis e em seu nome se 
procedia ao julgamento do litígio e à imposição do castigo. 
 
Todavia seus filósofos e pensadores haveriam de influir na 
concepção do crime e da pena. A idéia de culpabilidade, através do livre 
arbítrio de Aristóteles, deveria apresentar-se no campo jurídico, após firmar-se 
no terreno filosófico e ético. Já em Platão, nas Leis, se antevê a pena como 
meio de defesa social, pela intimidação – com seu rigor – aos outros, 
advertindo-os de não delinqüirem. 
 
Dividiam os gregos o crime em público e privado, conforme a 
predominância do interesse do Estado ou do particular. 
 
Certo é que, ao lado da vingança pública, permaneciam as formas 
anteriores da vindita privada e da divina, não se podendo, como é óbvio, falar 
em direito penal. Entretanto, situam, em regra, os historiadores, na Grécia, 
suas origens remotas. 
 
Roma não fugiu às imposições da vingança, através do talião e da 
composição, adotadas pelas Leis das XII Tábuas. Teve também caráter 
religioso seu direito penal, no início, no período da realeza. No entanto, mais 
tarde separaram direito e religião. 
 
Apesar de não terem os romanos atingido no direito penal as 
alturas que se atingiram no civil, se avantajaram a outros povos, posto que 
distinguiram, no crime, o propósito, i ímpeto, o acaso, o erro, a culpa leve, o 
simples dolo e o dolus malus. Além de tudo, interpretaram a correção da pena 
sob o fim de emendar o homem. 
 
Conheceram os germânicos o talião e a composição, variando 
esta consoante a gravidade da ofensa. 
 
Pena de caráter severo era a da perda da paz, em que, proscrito 
o condenado, fora da tutela jurídica do clã ou grupo, podia ser morto não só 
pelo ofendido e seus familiares como por qualquer pessoa. 
 
O uso da força para resolver questões criminais foi do agrado dos 
povos germânicos, estando presente até nos meios probatórios. 
Conseqüências, certamente, do caráter individual desse direito, em 
contraposição ao princípio social do direito romano. 
 
Característico ainda das leis bárbaras é o relevo do elemento 
objetivo do crime. Não há grande preocupação com a culpa, ou com o 
elemento subjetivo do delinqüente; decide o dano material causado. 
 
Caminho diversos trilharia o direito canônico, quer se opondo à 
influência da força como prova judiciária, quer salientando o elemento subjetivo 
do crime. 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
15 
 
Contra a vingança privada, criou o direito de asilo e as tréguas de 
Deus. Combatendo aquela, sem dúvida, fortalecia o poder público. 
 
Justo é também apontar-se, além do elemento voluntarístico do 
crime, já mencionado, a finalidade que empresta à pena, objetivando a 
regeneração ou emenda do criminoso, pelo arrependimento ou purgação da 
culpa. Punições rudes ou severas tolerou, mas com o fim superior da salvação 
da alma do condenado. 
 
Não obstante, ainda não se saíra da fase da vingança pública. A 
preocupação era a ofensa do soberano e dos favorecidos. Predominavam o 
arbítrio judicial, a desigualdade de classes perante a punição, a desumanidade 
das penas, o sigilo do processo, os meios inquisitoriais, tudo isso aliado a leis 
imprecisas, lacunosas e imperfeitas, favorecendo o absolutismo monárquico e 
postergando os direitos da criatura humana. 
 
 
 
12.5. Período Humanitário 
 
O período humanitário iniciou-se no fim do século XVIII, no 
decorrer do iluminismo (movimento que pregou a reforma das leis e da 
administração da justiça penal). 
 
Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, fez publicar em 
Milão, a obra Dei delliti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno 
livro que se tornou o símbolo da reação liberal ao desumano panorama penal 
então vigente. 
 
Beccaria, inspirado na concepção do Contrato Social de 
Rousseau, propõe novo fundamento à justiça penal, um fim utilitário e político 
que deve, porém, ser sempre limitado pela lei moral. 
 
 
 
 
12.6. Escola Clássica 
 
As idéias fundamentais do iluminismo, expostas magistralmente 
por Beccaria, estão nas obras de vários autores que escreveram na primeira 
metade do século XIX e que são reunidos sob a denominação de Escola 
Clássica, nome que foi criado pelos positivistas com sentido pejorativo, mas 
que hoje serve para reunir os doutrinadores dessa época. 
 
Seu maior expoente foi Francesco Carrara, autor do monumental 
Programa del corso di diritto criminale (1859). Para ele, o delito é um “ente 
jurídico” impelido por duas forças: a física, que é o movimento corpóreo e o 
dano do crime, e a moral, constituída da vontade livre e consciente do 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
16 
criminoso. O livre arbítrio como pressuposto da afirmação da 
responsabilidade e da aplicação da pena é o eixo do sistema carrariano. 
 
Para o grande mestre, é o delito “resultante de um ato dohomem” 
porque somente o homem pode delinqüir, e “terno”, por não ser punível a mera 
intenção ou cogitação criminosa. Ensina que o ato pode ser “positivo” quando 
se refere a ação (fazer) ou “negativo” quando se relaciona com a omissão (não 
fazer o devido). 
 
Para a Escola Clássica, o método que deve ser utilizado no 
Direito Penal é o dedutivo e não experimental, próprio das ciências naturais. 
Quanto à pena, é tida como tutela jurídica, ou seja, como proteção aos bens 
jurídicos tutelados penalmente. A sanção não pode ser arbitrária, regula-se 
pelo dano sofrido, inclusive, e, embora retributiva, tem também finalidade de 
defesa social. 
 
 
12.7- Período Criminológico e Escola Positivista 
 
O movimento criminológico do Direito Penal desenvolveu-se em 
três fases distintas, lideradas por Lombroso, Ferri e Garófalo. 
 
 
Primeira Fase da Escola Positiva - O movimento 
criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e 
professor em Turim César Lombroso, que publicou em 1876 o famoso livro 
L’uomo delinquente studiato in papporto, all’antropologia, alla medicina legale e 
alle discipline carcerarie, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na 
evolução das idéias penais. Considerando o crime como manifestação da 
personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o 
delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a 
Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. 
 
Dentre as idéias do Lombroso destaca-se a de que o criminoso 
nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como 
assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, orelhas em abano, face 
ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa etc. 
 
Segundo Lombroso, a causa da criminalidade situar-se-ia na 
eplepsia, que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do 
organismo e produz regressões a caracteres de ascendentes remotos. 
 
Embora Lombroso tenha sido o pioneiro do estudo da pessoa do 
delinqüente e, exagerando na classificação do mesmo, sua teoria não resistiu 
por muito tempo à análise dos doutos. 
 
 
Segunda Fase da Escola Positiva - Foi Enrico Ferri, criador 
da sociologia criminal, que ressaltou a importância de um trinômio causal do 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
17 
delito: os fatores antropológicos, sociais e físicos, pregando a responsabilidade 
social em substituição à moral. 
 
Segundo Ferri, o homem só é responsável porque vive em 
sociedade. Isolado em uma ilha, tal qual um Robinson Crusoé, não tem 
qualquer responsabilidade. Classificou o criminoso em cinco categorias: nato, 
louco, habitual, ocasional e passional. 
 
 
Terceira Fase da Escola Positiva - É a chamada fase jurídica 
do positivismo italiano. Seu grande expoente é Rafael Garófalo, em cuja obra 
denominada Criminologia sistematizou as duas fases anteriores à luz do Direito 
Penal. O livro examina, de maneira distinta, o delito, o delinqüente e, 
finalmente, a pena, onde, exatamente, nota-se grande labor jurídico. 
 
 
Princípios básicos da escola positiva: 
 
 o crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e 
de múltiplos fatores, exigindo o estudo pelo método experimental. 
 
 a responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o 
criminoso em sociedade, e tem por base a sua periculosidade. 
 
 a pena é medida de defesa social, visando a recuperação do 
criminoso ou à sua neutralização. 
 
 o criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma 
temporária ou permanente. 
 
 
12.8- Direito Penal no Brasil 
 
Direito Penal Indígena - Na época que antecedeu à chegada dos 
portugueses ao Brasil em 1500, os silvícolas, que aqui viviam em diferentes 
graus de cultura pré-histórica, solucionavam problemas penais através das 
regras naturais do Direito Costumeiro. Predominavam, então, o talião, a 
vingança privada e a coletiva. Dado o seu primarismo, as práticas punitivas 
das tribos selvagens que habitavam o nosso país em nenhum momento 
influíram na nossa legislação. 
 
 
Ordenações do Reino - Durante o período do Brasil-Colônia 
vigoraram no país as ordenações do reino. As Afonsinas, até 1512. As 
Manuelinas, até 1569, que foi substituída pelo Código Sebastiânico até 1603. 
 
Foram, porém, as Ordenações Filipinas nosso primeiro estatuto, já que 
os anteriores pouca aplicação aqui poderiam Ter. Dessa forma, as Ordenações 
Filipinas refletiram o direito penal dos tempos medievais. O crime era 
confundido com o pecado e com a ofensa moral. As penas eram severas e 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
18 
cruéis (açoites, mutilação, queimaduras etc.), visavam infundir o temor pelo 
castigo. Era também largamente cominada a pena de morte, executada pela 
forca, pela tortura, pelo fogo etc. Tiradentes é exemplo típico de acusado em 
crime de lesa-majestade. 
 
 
Código Criminal do Império de 1830 - Com o advento da 
Independência em 1822, elaborou-se, por força de dispositivo constitucional, o 
Código Criminal do Império, sancionado em 16 de setembro de 1830 ( o único 
diploma penal básico que vigorou no Brasil por iniciativa do poder Legislativo e 
elaborado pelo Parlamento)Individualizou a pena, previu atenuantes e 
agravantes e deu ênfase à pena de morte como forma de diminuição da 
criminalidade dos escravos. 
 
 
Código Penal Republicano de 1890 - Com a proclamação da 
República, foi editado à pressas, em 11 de outubro de 1890, o novo estatuto 
básico, agora com a denominação de Código Penal, contendo falhas gritantes. 
 
Aboliu-se a pena de morte e instalou-se o regime penitenciário de 
caráter correcional, o que constituía um avanço na legislação penal. 
 
 
Consolidação das Leis Penais de 1932 - A precária sistematização 
do Código Penal de 1890, e a confusão causada por inúmeros leis penais 
especiais posteriores, levaram o desembargador Vicente Piragibe, 
devidamente autorizado pelo chefe do Poder Executivo, a reuní-las na 
Consolidação das Leis Penais, decretada em 14 de dezembro de 1932, em 
plena época Vargas. 
 
 
Código Penal de 1940 - O atual Código Penal (Decreto-lei n. 2.848, 
de 07.12.1940), entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942, após vocatio 
legis de mais de um ano, a fim de que todos pudussem melhor conhecer seus 
avanços. 
 
 
 
Originou-se de projeto de autoria do jurista Alcântara Machado, 
submetido, logo a seguir, ao exame de Comissão Revisora composta por 
Nelson Hungria, Vieira Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto Lyra. 
 
É uma legislação eclética, adotou inúmeros postulados das escolas 
Clássica e Positiva, incorporando ao seu texto novidades e avanços dos 
códigos penais italiano e suíço, promulgados quase è mesma época. 
 
Em 1969 elaborou-se novo Código Penal que, todavia, não chegou a 
entrar em vigor, já que após sucessivos adiamentos, foi ao final revogado 
quase dez anos depois, no ano de 1978. 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
19 
 
 
12.9. A Reforma do Sistema Penal – (Lei n. 7.209/84) 
 
Em 1980, O Presidente da República instituiu uma comissão para 
elaboração de um anteprojeto de lei de reforma da Parte Geral do Código 
Penal de 1940. 
 
 
 
 
 
 
 
13.Fontes do Direito Penal 
 
 
13.1. Conceito de Fonte 
 
Fonte significa origem, princípio, causa. Fonte do direito Penal é de 
onde provém ou se origina a lei penal. 
 
As fontes podem ser: materiais (ou de produção), referem-se a quem 
produziu o direito penal; formais referem-se ao modo pelo qual se exterioriza o 
direito, pelo qual se dá ele a conhecer. 
 
 
13.2. Fontes Materiais 
 
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a 
Constituição Federal que compete privativamente à União legislarsobre direito 
penal – (CF, art. 22, inciso I). 
 
A atual Constituição trouxe uma inovação ao prever a possibilidade de 
lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas 
das matérias relacionadas no artigo 22 (CF, art. 22, parágrafo único). 
 
Para que o direito penal não se torne obsoleto, o Estado deve estar 
sempre atualizando o ordenamento jurídico, tornando-o compatível com a 
evolução técnica, moral e científica do momento. 
 
 
São problemas relativamente atuais, em decorrência da evolução: o 
transplante de órgãos, a inseminação artificial, o nascimento de bebês de 
proveta, a cirurgia em transexuais, o devassamento da vida íntima das pessoas 
por aparelhos sofisticados de gravação, fotografia e escuta telefônica, a 
poluição nas grandes cidades, nos mares, nos rios e na própria atmosfera. 
 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
20 
13.3. Fontes Formais 
 
As fontes formais que dão “forma” e que exteriorizam o direito, dividem-
se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias). 
 
Fontes diretas - A única fonte direta do Direito Penal, diante do 
princípio da reserva legal, é a lei. 
 
Fontes indiretas - Como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito 
Penal temos os costumes e os princípios gerais do direito, referidos na Lei de 
Introdução do Código Civil – (LICC, art. 4º). 
 
 
 Costumes - o costume é uma regra de conduta praticada de modo 
geral, que tem sua significante influência na interpretação e na 
elaboração da lei penal. Somente através do costume se poderá 
aquilatar o exato significado dos termos: honra, dignidade, decoro (art. 
140), mulher honesta (arts. 215 e 219), ato obsceno (art. 233). 
 
A evolução dos costumes, por sua vez, tem levado ao reclamo da 
extinção ou modificação de tipos penais como o adultério (art. 240), a 
sedução (art. 217), o aborto (arts. 124 a 126). 
 
 
 Princípios gerais do direito - são premissas éticas extraídas da 
legislação, do ordenamento jurídico, que podem suprir lacunas e 
omissões da lei penal. Como exemplo de aplicação dessa fonte indireta 
é a não-punição da mãe que fura as orelhas da filha, que praticaria 
assim um crime de lesões corporais, quando o faz para colocar-lhe 
brincos. 
 
 
Obs.: A eqüidade (correspondência jurídica na norma às circunstâncias do caso concreto), bem como a doutrina e 
jurisprudência, não são fontes de Direito Penal, mas forma de interpretação da norma. Também não são os tratados e 
convenções internacionais, que só passam a viger no país após o referendum do Congresso, tornando-se, assim, lei e 
fonte direta do Direito Penal. 
 
 
 
 
13.4- Analogia 
 
A analogia é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, 
aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica, um 
dispositivo que disciplina hipótese semelhante – (LICC, art. 4º). 
 
 
Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se 
pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego 
da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. 
 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
21 
É possível, entretanto, aplicação da analogia às normas não 
incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação 
do réu. 
 
São exemplos de aplicação da analogia: 
 
 A exclusão da pena nos casos de aborto que se pratica em 
mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela 
prática de ato delituoso, diante do que dispõe o artigo 128, inciso 
II, do CP, que se refere apenas ao crime de estupro. 
 
 A não punibilidade do dano de coisa comum fungível cujo valor 
não exceda a quota a que tem direito o agente, diante do disposto 
no artigo 156, parágrafo 2º, do CP, referente ao crime de furto. 
 
 
 
 
 
 
14. Lei Penal 
 
 
14.1. Caracteres 
 
A lei é a única fonte formal direta do Direito Penal e, devido ao valor dos 
bens que tutela, e ainda pela severidade das sanções que impõe, deve ser 
precisa e clara. Compõe-se de duas partes: 
 
 O comando principal (ou preceito primário); 
 A sanção (ou preceito secundário). 
 
Tomando-se o artigo 121, caput, por exemplo, temos: 
 
“Matar alguém”: (preceito primário) 
 
“Pena – reclusão, de seis a vinte anos”: (preceito secundário). 
 
 
Da conjugação dessas duas partes surge a proibição (norma): “é 
proibido matar”. 
 
 
Características - A lei penal apresenta as seguintes características: 
é imperativa, geral, impessoal e exclusiva, regulando apenas fatos futuros. 
 
 é imperativa – porque a violação do preceito primário acarreta a 
pena. 
 
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22 
 é geral – por estar destinada a todos, mesmo aos inimputáveis, 
sujeitos à medida de segurança. 
 
 é impessoal – por não se referir a pessoas determinadas. 
 
 é exclusiva – porque somente ela pode definir crimes e cominar 
sanções. 
 
 aplica-se apenas a fatos futuros, não alcançando os pretéritos, a 
não ser quando aplicada em benefício do agente criminoso. 
 
 
14.2. Classificação da Lei Penal 
 
São várias as classificações da lei penal, porém, a mais importante é a 
que distingue as leis penais incriminadoras (lei penal em sentido estrito) das 
não incriminadoras (lei penal em sentido amplo) 
 
 
Leis penais incriminadoras - são aquelas que definem os tipos penais 
e cominam as respectivas sanções. No Código Penal vigente, figuram a partir 
do artigo 121. 
 
 
Leis penais não incriminadoras - podem ser subdivididas em 
explicativas (ou complementares) e permissivas. 
 
 
 Explicativas - são normas que esclarecem o conteúdo de outras ou 
fornecem princípios gerais para aplicação das penas. Exemplos: os 
conceitos de “reincidência” (art. 63), de “casa” (art. 150, parágrafo 
4º), de “funcionário público” para os efeitos penais (art. 327), bem 
como as regras para aplicação da lei penal (art. 1º e seguintes), as 
referentes à aplicação da pena (arts. 59 e 60) etc. 
 
 Permissivas - são normas que não consideram como ilícitos ou 
isentam de pena o autor de fatos que, em tese, são típicos. 
Exemplos: os casos dos artigos 23, 24 e 25 (estado de 
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e 
exercício regular de direito); do artigo 142 (imunidades nos crimes 
contra a honra); do artigo 348, parágrafo 2º (imunidades no crime 
de favorecimento pessoal); dos artigos 20 e 21 (erro sobre o 
elemento do tipo e sobre a ilicitude do fato); do artigo 26 
(inimputabilidade) etc. 
 
 
14.3. Norma Penal em Branco 
 
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23 
Norma penal em branco é aquela que tem conteúdo incompleto, vago, 
exigindo uma complementação, a ser dada por outras normas, de nível igual ou 
diverso. 
 
Norma penal em branco em sentido estrito - quando a norma é 
complementada por outra de nível diverso, como na transgressão de tabela 
oficial de preços, em que a lei penal é suprida por uma portaria ou regulamento 
de preços 
 
Norma penal em branco em sentido amplo - quando a norma é 
complementada por outra norma de nível idêntico, como na violação de direitos 
autorais, em que a lei penal é suprida pela lei civil de direito autoral (Lei n. 
5.988/73). 
 
 
14.4. Interpretação da Lei Penal 
 
 Interpretação é o processo lógico que procura estabelecer a vontade 
contida na norma jurídica, cuja ciência ou método é denominado de 
hermenêutica. São as seguintes as espécies de interpretação: 
 
 Quanto ao sujeito (ou quanto à origem) – A interpretação pode ser 
autêntica, doutrinária e jurisprudencial: 
 
 
 Interpretação autêntica: É a dada pela própria lei, a qual no seu 
texto, num dos seus dispositivos,é explicado como deve ser 
entendido determinado assunto. Exemplos típicos são os artigos 
150, parágrafo 4º e 327, do Código Penal, que definem casa e 
funcionário público. A interpretação autêntica é obrigatória, uma 
vez que ditada pela própria lei. 
 
 Interpretação doutrinária: É aquela fornecida pelos estudiosos, 
professores e profissionais do direito, por meio da publicação de 
artigos, conferências, teses e livros. 
 
 Interpretação jurisprudencial: É aquela dada pelos tribunais, 
por meio de entendimentos reiterados de seus julgamentos, que 
consolidam a jurisprudência. 
 
 
Quanto ao meio empregado - A interpretação pode ser, entre 
outras, gramatical, lógica e teológica: 
 
 Interpretação gramatical (ou literal): Examina-se a função 
gramatical, quanto ao seu significado no vernáculo. 
 
 Interpretação lógica: É feita através de um confronto lógico entre 
os seus dispositivos, visando reconstruir o pensamento do legislador. 
 
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24 
 Interpretação teleológica: É feita objetivando descobrir a finalidade 
com que a lei foi editada. 
 
 
Quanto aos resultados - A interpretação pode ser declarativa, 
restritiva e extensiva: 
 
 
 Interpretação declarativa: Ocorre quando o texto examinado não 
é ampliado nem restringido. Exemplo: o termo “várias pessoas” - 
(CP, art. 141, inciso III), significa mais de duas, porque quando a lei 
se contenta com duas ela é expressa. 
 
 
 Interpretação restritiva - Ocorre quando se conclui que a lei diz 
mais do que pretendia o legislador, buscando conter ou reduzir o seu 
alcance. Exemplo: No termo “emoção, paixão e embriaguez” – (art. 
28, do CP), verifica-se tratar de embriaguez (não patológica), 
limitando-se o alcance daquele dispositivo para não haver 
contradição com o dispositivo no artigo 26 e seu parágrafo único. 
 
 
 Interpretação extensiva - Ocorre quando é necessário ampliar o 
sentido ou alcance da lei. Exemplo: No termo “serviço de estrada 
de ferro” (CP, art. 260), deve ser entendido também como serviço de 
metrô, que nada mais é do que um trem que corre sobre trilhos em 
zona urbana. 
 
 
 
 
 
 
 
15. Conflito Aparente de Normas 
 
 
 
Através da aplicação dos “princípios que solucionam o conflito aparente de 
normas”, é possível obter a solução ao caso concreto, uma vez que, tais 
princípios afastam as normas incidentes e indica as normas penais que 
verdadeiramente é aplicável à situação, afastando as demais, e, com isso 
evitando o chamando bis in idem. 
 
 
15.1. Princípio da Especialidade (Lex specialis derogat generali) 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
25 
O Princípio da Especialidade, majoritariamente, para os doutrinadores é o mais 
importante dos princípios utilizados para sanar o conflito aparente de normas 
penais. Nesse sentido, para Bittencourt (LAURIA, p. 11) os demais princípios 
“somente devem ser lembrados quando o primeiro não resolver 
satisfatoriamente os conflitos”. 
Para tanto, a norma especial possui todos os elementos da norma geral e mais 
alguns, classificados como ‘especializantes’, representando mais ou menos 
severidade. Entre uma norma e outra, o fato é enquadrado na norma que tem 
algo a mais. Com isso, o tipo penal visto como especial derroga a lei geral. 
Basta comparar de forma abstrata as condições dos tipos penais, para 
distinguir a norma geral da especial. Nesse sentindo, leciona Damásio que, 
“...o princípio da especialidade possui uma característica que o distingue dos 
demais: a prevalência da norma especial sobre a geral se estabelece in 
abstracto, pela comparação das definições abstratas contidas nas normas, 
enquanto os outros exigem um confronto em concreto das leis que descrevem 
o mesmo fato.” (apud, CAPEZ, 2010, p. 90) 
A norma especial pode descrever tanto um crime mais leve quanto um mais 
grave, e não é, necessariamente, mais abrangente que a geral. Exemplo: o art. 
123 do Código Penal, que trata do infanticídio prevalece sobre o art. 121 do 
Código Penal, o qual cuida do homicídio, pois, o primeiro, além dos elementos 
genéricos, possui os especializantes: próprio filho; durante o parto ou logo 
após; e, sob a influência do estado puerperal. O infanticídio não é mais 
completo nem mais grave, ao contrário, é mais brando, no entanto, é especial. 
Portanto, a norma especial prevalece sobre a geral. Para Greco (LAURIA, p. 
11), “a norma especial afasta a aplicação da norma geral”. 
 
 
15.2. Princípio da Subsidiariedade (Lex primaria derogat 
subsidiariae) 
A norma subsidiária descreve um grau menor de violação de um mesmo bem 
jurídico, ou seja, um fato menos amplo e menos grave, que definido como 
delito autônomo é também compreendido como parte da fase normal de 
execução de crimes mais grave. 
Assim, sendo cometido o fato mais amplo, duas normas incidirão, a que define 
o fato e a que descreve apenas parte dele. A norma primária, que descreve o 
‘todo’, absorverá a menos ampla (a subsidiária), tendo em vista que, esta ‘cabe’ 
dentro da primeira. 
A norma primária não é especial, é mais ampla. 
Nélson Hungria elucida as diferenças entre este princípio e o da especialidade: 
“...a diferença que existe entre especialidade e subsidiariedade é que nesta, ao 
contrário do que naquela, os fatos previstos em uma e outra norma não estão 
Professora Letícia Genari 
 
 
 
26 
em relação de espécie e gênero, e se a pena do tipo principal (sempre mais 
grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo 
subsidiário pode apresentar-se como soldado de reserva, e aplicar-se 
pelo residuum.” (apud, LAURIA, 2010, p. 12) 
Diante disso, só há que se falar em princípio da subsidiariedade quando a 
norma principal for mais grave que a subsidiária. Exemplo: o crime de ameaça 
(art. 147, CP) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (art. 146, 
CP), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158, CP). 
Vale salientar que, há casos em que tanto se pode aplicar o princípio da 
especialidade quanto o da subsidiariedade, exemplo, o roubo e o estupro são 
especiais em relação ao constrangimento ilegal, mas são mais amplos, já que 
este último cabe tanto num quanto no outro. 
Para saber qual norma incidirá, é necessário verificar qual crime foi praticado e 
qual foi à intenção do agente, portanto, para aplicação do princípio da 
subsidiariedade, é imprescindível a análise do caso concreto, sendo 
insuficiente a comparação abstrata dos tipos penais. 
 
Espécies: 
- Expressa ou explícita: a própria norma reconhece expressamente seu caráter 
subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior 
gravidade. Exemplo: ao definir a lesão corporal seguida de morte, o art. 129, § 
3º do Estatuto Repressivo, afirma incidir se “...as circunstâncias evidenciam 
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo” 
- Tácita ou implícita: a norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-
se sua subsidiariedade. Exemplo: mediante uso de violência, a vítima é 
constrangida a entregar a sua carteira ao autor. Incide aparentemente o tipo 
definidor do roubo (norma primária), art. 157 do CP, e o do constrangimento 
ilegal (norma subsidiária), art. 146 do CP, e, assim, sem que a lei nada diga, 
prevalece o primeiro. 
 
 
15.3. Princípio da Consunção (Lex consumens derogat consumptae) 
 
Princípio segundo o qual o fato mais amplo e mais grave absorve outros menos 
amplos e graves, que funcionam como fase normal de preparação ou execução 
ou mero exaurimento. 
Na consunção, há uma seqüência de situações diferentes no tempo e no 
espaço, sem recorrer às normas, comparam-se os fatos, verificando-se que o 
mais grave absorve os demais. Esta comparação se dá entre os fatos e nãoentre as normas, de maneira que, o mais completo, o ‘todo’, prevalece sobre a 
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27 
parte, ou seja, o fato principal absorve o acessório, sobrando apenas a norma 
que o regula. 
Destarte, não é a norma que absorve a outra, mas o fato que consome os 
demais, fazendo com que só reste uma norma. Exemplo: um sujeito dirige 
perigosamente (direção perigosa) até provocar, dentro do mesmo contexto 
fático, um acidente fatal (homicídio culposo no trânsito). Neste caso, a direção 
perigosa é absorvida pelo homicídio culposo, restando este último crime e, 
conseqüentemente, a norma que o define. Com isso, evita-se o bis in idem, 
pois o fato menor estaria sendo punido duas vezes. 
É possível verificar a consunção, mediante três hipóteses: 
 
- Crime progressivo: ocorre quando o agente, objetivando, desde o inicio, 
produzir o resultado mais grave, pratica, por meio de atos sucessivos, 
crescentes violações ao bem jurídico. O último ato, causador do resultado 
pretendido, absorve todos os anteriores, que acarretaram violações em menor 
grau. Dessa forma, o agente responde pelo resultado mais grave. 
Nesta hipótese, podem ser observados os seguintes elementos: 
- Unidade de elemento subjetivo: desde o início, há uma única vontade; 
- Unidade de fato: há um só crime, comandado por uma única vontade; 
- Pluralidade de atos: se houvesse um único ato, não haveria que se falar em 
absorção; 
- Progressividade na lesão ao bem jurídico: os atos violam de forma cada vez 
mais intensa o bem jurídico, sendo os anteriores absorvidos pelo mais grave. 
 
- Crime complexo: resulta da fusão de dois ou mais delitos autônomos, que 
passam a funcionar como elementares ou circunstanciais no tipo complexo, em 
que o fato complexo absorve os fatos autônomos. Exemplo: latrocínio 
(roubo+homicídio), o autor responde pelo latrocínio, ficando o roubo e o 
homicídio absorvidos. 
 
- Progressão criminosa: 
a) Progressão criminosa em sentido estrito: o agente inicialmente deseja 
produzir um resultado, após atingi-lo, decide prosseguir e reiniciar sua 
agressão produzindo uma lesão mais grave. A distinção do crime progressivo é 
que, enquanto neste, há unidade de desígnios, na progressão criminosa há 
pluralidade de elemento subjetivo ou vontade. 
Elementos observados: 
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28 
- Pluralidade de desígnios: inicialmente, o agente deseja praticar um crime, 
após cometê-lo, resolve praticar outro de maior gravidade, demonstrando duas 
ou mais vontades. 
- Pluralidade de fatos: existe mais de um crime, correspondente a mais de uma 
vontade. Embora haja condutas distintas, o agente só responde pelo fato final, 
mais grave, ficando os demais absorvidos. 
- Progressividade na lesão ao bem jurídico: a primeira seqüência voluntária de 
atos, provoca uma lesão menos grave do que a última e, por isso, acaba por 
ele absorvida. 
b) Fato anterior (ante factum) não punível: o fato anterior menos grave, 
quando for praticado como meio necessário para a realização de outro mais 
grave, será por este absorvido. 
STJ Súmula nº 17 – 20/11/1990. Estelionato. Potencialidade Lesiva. Quando o 
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este 
absorvido. 
Exemplo: o agente falsifica uma carteira de identidade e com ela comete um 
estelionato. Responde pelos crimes de falso (art. 297 do CP) e estelionato (art. 
171 do CP), uma vez que, o documento falsificado poderá ser utilizado em 
diversas fraudes. Se, falsificasse a assinatura de um fólio de cheque e 
passasse a um comerciante, responderia apenas pelo estelionato, pois não 
poderia utilizar mais a folha de cheque em outra fraude. 
c) Fato posterior (post factum) não punível: quando após a conduta, o agente 
pratica novo ataque contra o mesmo bem jurídico, apenas para tirar proveito da 
prática anterior, exemplo, após o furto, o agente destrói ou vende o que furtou. 
Há que se considerar como regra que, na aplicação do princípio de conjunção, 
quando os crimes são cometidos em um mesmo contexto fático, têm-se a 
absorção do menos grave pelo de maior gravidade. 
 
15.4. Princípio da Alternatividade 
Princípio aplicado quando a norma descreve várias formas de realização da 
figura típica, onde a ação de uma ou de todas configura crime. São os 
chamados tipos alternativos, que descrevem crimes de ação múltipla. 
“Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor 
à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, 
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que 
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou 
regulamentar.” (Lei 11.343/2006, Lei de Drogas, art. 33, caput) 
 
 
 
 
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29 
PARTE GERAL 
 
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
 
 
 
 
1. Princípio da Legalidade 
 
 
O artigo 1º do CP dispõe: Não há crime sem lei anterior que o 
defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
 
O artigo 5º, inciso XXXIX, da CF, dispõe: não há crime sem lei 
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
 
O artigo 5º, inciso XL, da CF, dispõe: a lei não retroagirá, salvo para 
beneficiar o réu. 
 
São os princípios da legalidade (ou reserva legal) e da anterioridade. A 
palavra crime compreende também as contravenções. E a pena, a 
medida de segurança. 
 
O princípio da reserva legal, elaborado no início do século XIX, na 
Alemanha, por Anselmo Feuerbach, foi consagrado através da fórmula 
latina nullum crimen, nulla poena sine praevia lege. 
 
Considerando que toda conduta proibida deve estar perfeitamente 
definida na lei penal, isso significa que o legislador, por ocasião do 
processo legislativo, deve estabelecer taxativamente, no tipo tudo aquilo 
que for típico ou atípico. 
 
Desta forma, o princípio da reserva legal gera duas conseqüências: 1) 
proibição da retroatividade da lei penal incriminadora, através do 
princípio da irretroatividade; 2) proibição da analogia para a criação de 
novos tipos, através do princípio da taxatividade. 
 
Conseqüentemente, proíbe-se o uso da analogia maléfica, ou in malam 
partem, para imposição de penas. Admite-se, porém, a analogia 
benéfica, ou in bonam partem, para beneficiar o réu, e a interpretação 
analógica intra legem, quando o próprio texto legal manda aplicar a 
analogia em relação a alguma circunstância, como por exemplo no artigo 
171, do CP, que se refere a artifício, ardil, ou qualquer outro meio 
fraudulento. 
 
 
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30 
Logo, de acordo com o princípio da reserva legal, toda conduta que não 
esteja definida na lei penal incriminadora é lícita. O princípio, todavia, 
não se aplica em relação às normas penais não incriminadoras da Parte 
Geral do Código Penal, que, neste caso, pode o intérprete valer-se do 
auxílio da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. 
 
 
 
 
2. A Lei Penal no Tempo 
 
 
2.2. Fundamento legal e introdução 
 
O artigo 2º, do CP, dispõe: Ninguém pode ser punido por fato 
que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em 
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
declaratória. 
 
E complementa o parágrafo único: A lei posterior, que de 
qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória 
transitada em julgado. 
 
Ocorre que, na aplicação da lei penal no tempo, normalmente, 
surgem conflitos, porque na prática de um delito, por exemplo, a 
ação pode ter ocorrido durante a vigência de uma lei e a 
consumação sob a vigência de outra; um crime pode ter ocorrido 
durante a vigência de uma lei, julgado após a sua revogação e a 
execução da sentença condenatória proferida durante a vigênciade lei anterior revogada etc. 
 
Para a solução desses conflitos existem princípios que devem ser 
obedecidos quanto à aplicação da lei penal no tempo. 
 
 
2.3. Vigência e Revogação da Lei Penal 
 
Assim como as demais leis, a lei penal também começa a vigorar 
na data nela indicada, ou na omissão, em 45 dias após a 
publicação, dentro do País, e em três meses no exterior – (LICC, 
art. 1º. parágrafo 1º). O espaço de tempo compreendido entre a 
publicação da lei e a sua entrada em vigor denomina-se vocatio 
legis (vacância da lei). 
 
Não havendo referência à vigência temporária, a lei terá vigor até 
que outra a modifique – (LICC, art. 2º). 
 
 
 
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31 
Não há revogação pelo simples desuso da lei. A revogação é 
expressa quando a lei nova diz quais são os textos revogados. A 
revogação é tácita quando a lei nova é incompatível com a 
anterior, ou quando vem regular inteiramente a matéria. 
 
A revogação total denomina-se abrogatio (ab- rogação). A 
revogação parcial denomina-se derogatio (derrogação). 
 
 
 2.4. Princípios da Lei Penal no Tempo 
 
A lei penal no tempo regula-se por dois princípios: 1) princípio 
da irretroatividade da lei incriminadora e 2) princípio da 
retroatividade da lei benéfica. 
 
Assim, havendo conflito de leis penais com o surgimento de novos 
preceitos jurídicos após a prática do fato delituoso, será sempre 
aplicada a lei mais favorável. Isso significa que a lei penal mais 
benigna tem extratividade (é retroativa e ultrativa) e, a contrario 
sensu, a lei mais severa não tem extratividade (não é retroativa ou 
ultrativa) e, dessa forma, verifica-se: 
 
Novatio legis incriminadora - Ocorre quando a lei nova torna 
típico fato anteriormente não incriminado. Evidentemente, a lei 
nova não pode ser aplicada diante do princípio da anterioridade 
da lei penal – (CF, art. 5º, inciso XXXIX e CP, art. 1º). 
 
 Abolitio criminis - Ocorre quando a lei nova já não incrimina 
fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. Trata-
se da aplicação do princípio da retroatividade de lei mais benigna 
- (CP, art. 2º, caput). 
 
Pela abolitio criminis se fazem desaparecer o delito e todos os 
efeitos penais da sentença, permanecendo apenas os civis da 
decisão. 
 
Novatio legis pejus - Ocorre quando a lei nova é mais severa 
que a anterior. Vige, neste caso, o princípio da irretroatividade da 
lei penal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” – (CF, 
art. 5º, inciso XL). 
 
Novatio legis in mellius - Ocorre quando a lei nova é mais 
favorável que a anterior. Trata-se da aplicação do princípio da 
retroatividade de lei mais benigna - (CP, art. 2º, parágrafo único). 
 
 
 
 
 
2.5. Lei processual 
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32 
 
A lei processual não segue os princípios referentes à aplicação da 
lei penal no tempo (retroatividade em benefício do agente). 
Segundo o Código de Processo Penal: “a lei processual penal 
aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos 
realizados sob a vigência da lei anterior” - (CP, art. 2º). 
 
Não há que se cogitar, no caso, de lei mais benigna ou mais 
severa. A partir da data de início da vigência, a lei posterior passa 
a regular os atos processuais, a competência etc. (salvo 
disposição expressa em contrário), permanecendo válidos os atos 
já praticados. 
 
 
2,6.Lei excepcional ou temporária 
 
O artigo 3º, do CP, dispõe: A lei excepcional ou temporária, 
embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as 
circunstâncias que a determinaram, aplica-se a fato praticado 
durante a sua vigência. 
 
Lei excepcional é aquela promulgada para virger durante 
determinada circunstância excepcional ou situação de emergência 
(calamidade pública, epidemia, estado de sitio, guerra, terremoto 
etc.). 
 
Lei temporária é aquela promulgada para vigorar até determinada 
data. 
 
Tanto a lei excepcional como a temporária são ultra-ativas e auto 
revogáveis. Devido à ultratividade, essas leis são aplicadas a 
fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de 
revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado 
excepcional. 
 
 
2.7.Tempo do crime 
 
O artigo 4º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no 
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado. 
 
A determinação do tempo do crime, influi diretamente na 
aplicação de várias regras penais, como a determinação da lei 
aplicável ao fato, a menoridade ou não do agente no tempo da 
ação, a incidência de prescrição etc. 
 
 
 
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33 
Três são das teorias a respeito do momento que se considera 
cometido o delito: teoria da atividade, teoria do resultado e 
teoria mista. 
 
Pela teoria da atividade (adotada pelo Código Penal) considera-
se cometido o delito no momento da ação ou omissão, aplicando-
se ao fato, portanto, a lei vigente ao tempo da ação ou omissão. 
 
Pela teoria do resultado considera-se cometido o delito no 
momento da produção do resultado. 
 
Pela teoria mista (ou da ubigüidade) pode-se considerar como 
tempo do crime tanto o momento da ação ou omissão como o 
momento do resultado. 
 
 
 
 
3. Lei Penal no Espaço 
 
 
3.1. Fundamento legal e introdução 
 
O artigo 5º, do CP, dispõe: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo 
de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime 
cometido no território nacional. 
 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do 
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de 
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que 
se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a 
bordo de aeronaves ou embargações estrangeiras de propriedade 
privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em 
vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil. 
 
Um crime pode violar interesses de dois ou mais países, quer 
porque a ação tenha sido praticada no território de um e a 
consumação no território de outro, quer porque o delito atinge 
bem jurídico de um Estado embora praticado no exterior etc. 
 
Visando a possibilidade da aplicação da lei nacional em tais 
casos, o Código Penal dispõe sobre a aplicabilidade da lei penal 
 
 
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34 
no espaço (lugar do crime) com fundamento em convenções, 
tratados e regras de direito internacional. 
 
 
3.2. Territorialidade 
 
A lei penal no espaço regula-se pelo princípio da territorialidade 
(temperada), ou seja, o ordenamento penal brasileiro é aplicável 
aos crimes cometidos no território nacional, de modo que 
ninguém, nacional, estrangeiro ou apátrida, residente ou em 
trânsito pelo Brasil, poderá subtrair-se à lei penal brasileira, por 
fatos criminosos aqui praticados, salvo quando normas de Direito 
Internacional dispuserem em sentido contrário. 
 
 
3.3. Conceito e componentes do território 
 
Território nacional - sob o prisma material, compreende o 
espaço delimitado por fronteiras geográficas. Sob o prisma 
jurídico, abrange todo o espaço em que o Estado exerce a sua 
soberania. 
 
 
Componentes do território: 
 
 solo ocupado pela corporação política; 
 
 rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos; 
 
 faixa de mar exterior ao longo da costa, denominado 
territorial (12 milhas marítimas de largura, medidas a partir 
da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro – (Lei 
n. 8.617/93, art. 1º). 
 
 espaço aéreo; 
 
 naviose aeronaves. 
 
 
 
3.4. Lugar do crime 
 
O artigo 6º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no 
lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, 
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Para a aplicação do princípio da territorialidade é necessário que 
se esclareça qual é o lugar do crime. São três as teorias a 
respeito desse assunto: 
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35 
 
Teoria da atividade (ou da ação) - Lugar do crime é o da ação 
ou omissão, sendo irrelevante o lugar da produção do resultado. 
 
Teoria do resultado (ou do efeito) - Lugar do crime é o lugar em 
que foi produzido o resultado, sendo irrelevante o local da 
conduta; 
 
Teoria mista (ou da ubigüidade) - Lugar do crime é tanto o da 
conduta quanto o do resultado. Será, portanto, o lugar onde se 
deu qualquer dos momentos do inter criminis. 
 
Teoria adotada - Para determinar o lugar do crime o CP adotou 
a teoria mista ou da ubigüidade, porém, sobre compet~encia 
jurisdicional, poderá ser feita uma análise específica, com o 
estudo do artigo 69 e seguintes do Código de Processo Penal. 
 
 
3.5. Extraterritorialidade 
 
O artigo 7º, do CP, prevê a aplicação da lei brasileira a crimes 
praticados no estrangeiro. É o princípio da extraterritorialidade da 
lei penal brasileira, que pode ser: 
 
 
Incondicionada - A extraterritorialidade é incondicionada 
quando a lei brasileira é aplicada ao crime cometido no 
estrangeiro independentemente de qualquer condição - (CP, art. 
7º, inciso I). 
 
 
Condicionada - A extraterritorialidade é condicionada quando a 
alei brasileira é aplicada ao crime cometido no estrangeiro se 
satisfeitas determinadas condições - (CP, art. 7º, inciso II e § 3º). 
 
 
3.6.Pena cumprida no estrangeiro 
 
O artigo 8º, do CP, dispõe: A pena cumprida no estrangeiro 
atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando 
diversas, ou nela é computada quando idênticas. 
 
Assim, a pena cumprida no estrangeiro será descontada na 
execução pela lei brasileira quando forem idênticas (penas 
privativas de liberdade, por exemplo), respondendo o sentenciado 
pelo saldo a cumprir se a pena imposta no Brasil for mais severa. 
 
 
Se a pena cumprida no estrangeiro for superior à imposta no País, 
é evidente que esta não será executada. 
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36 
 
No caso de penas diversas (privativas de liberdade e 
pecuniárias), por exemplo), aquela cumprida no estrangeiro 
atenuará a aplicada no Brasil, de acordo com a decisão do juiz no 
caso concreto, já que não há regras legais a respeito dos critérios 
de atenuação que devem ser obedecidos. 
 
 
 
 
4. Lei Penal em Relação às Pessoas 
 
 
4.1.Imunidades diplomáticas 
 
Os chefes de Estado e os representantes de governos 
estrangeiros (embaixadores, diplomatas, ministros, núncios e 
plenipotenciários) estão excluídos da jurisdição criminal dos 
países em que estiverem exercendo as suas funções, tendo, 
portanto, imunidade absoluta em qualquer tipo de delito. 
Encontra-se convencionada a imunidade diplomática na 
Convenção de Viena de 18 de abril de 1961 e aprovada pelo 
Decreto Legislativo nº 103/64. 
 
 
4.2. Imunidades presidenciais 
 
Goza o Presidente da República de imunidade prevista na 
Constituição Federal (CF, art.86, par.3º), tendo direito a Foro 
Especial de Julgamento (Súmula 394 STF). 
 
 
4.3.Imunidades parlamentares 
 
A Constituição Federal outorga aos membros do Congresso 
Nacional algumas prerrogativas (incluindo as imunidades), 
visando assegurar-lhes a mais ampla liberdade de palavra, no 
exercício de suas funções, protegendo o Poder Legislativo contra 
abusos e violações por parte do outros poderes (Executivo e 
Judiciário). São duas as espécies de imunidades absoluta (de 
natureza material ou substantiva) e relativa (de natureza formal ou 
processual). 
 
 
Imunidade absoluta – No que se refere à crimes de opinião, a 
impunidade dos parlamentares é absoluta, pois eles são 
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, 
palavras e votos (CF, art. 53, caput). Entende-se por crime de 
opinião (ou crimes da palavra), os delitos contra a honra: calúnia, 
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37 
difamação e injúria (CP, arts. 138 a 140), de incitação ao crime 
(CP, art. 286), de apologia de crime ou criminoso (CP, art. 287) 
etc. 
 
Distinção: Na imunidade parlamentar (absoluta) as referidas condutas não 
constituem crimes; na imunidade diplomática, os delitos não são excluídos, 
apenas há um deferimento para que sua apreciação seja feita posteriormente 
em outro país. 
 
 
Segundo entendimento do Prof. Julio Mirabete, a imunidade 
absoluta é irrenunciável, posto que é inerente ao mandato, não se 
podendo instaurar inquérito policial ou ação penal mesmo que 
haja autorização do parlamentar. Trata-se de instituto que visa 
preservar não a pessoa do parlamentar, mas o próprio regime 
representativo, possibilitando a ação livre e independente do 
Parlamento. Entretanto, a imunidade parlamentar não se estende 
ao co-réu que não tenha esta prerrogativa (STF, Súmula 245). O 
período coberto pela imunidade absoluta inicia-se com a 
expedição do diploma do Deputado ou Senador e se encerra com 
o término do mandato. 
 
 
Imunidade relativa – No que se refere aos demais delitos, a 
imunidade dos parlamentares é relativa, ou seja refere-se à prisão 
e ao processo. Com a nova redação dada pela Emenda 
Constitucional n. 35, de 20-12-2001, prevê a Constitucional 
Federal que desde a expedição do diploma, os membros do 
Congresso Nacional (Deputados e Senadores) serão submetidos 
a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal (CF,art.53, 
parágrafo 1º), mas não poderão ser presos, salvo em flagrante 
delito por crime inafiancável (CF, art. 53, parágrafo 2º, primeira parte). 
 
Assim sendo, o parlamentar jamais pode ser preso em flagrante 
por crime afiançável. Tratando-se de crime inafiançável (racismo, 
tortura, tráfico de entorpecentes e os hendiondos traçados na Lei 
8.072/90), a autoridade policial deve efetuar a prisão em flagrante, 
comunicando os fatos à Câmara ou Senado, conforme o caso, 
que, por voto da maioria de seus membros, resolva sobre a 
prisão, podendo, assim, determinar ou não a soltura do 
parlamentar (CF, art. 53, parágrafo 2º, Segunda parte). 
 
Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, 
por crime ocorrido após diplomação, o respectivo partido político, 
pelo voto da maioria de seus membros, tem o direito de solicitar a 
sustação do processo do processo no Supremo Tribunal Federal 
(CF, art. 53, parágrafo 3º). A referida sustação do processo suspende 
a prescrição enquanto durar o mandato (CF, art. 53, parágrafo 5º). 
 
A Constituição Federal prevê também a imunidade do parlamentar 
como testemunha. Dessa forma, os Deputados e Senadores não 
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38 
serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou 
prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as 
pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações (CF, 
art. 53, parágrafo 6º). 
 
Assim, a partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 
35/2001, de 21-12-2001, os Deputados e Senadores continuam 
com a imunidade absoluta em relação aos crimes de opinião, 
porém, quanto aos demais delitos serão submetidos a julgamento 
pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes cometidos antes da 
diplomação ou durante o mandato, sem a necessidade anterior de 
prévia licença da respectiva Casa (Câmara ou Senado). 
 
 
Imunidade de deputados estaduais e vereadores – A mesma 
sistemática de imunidade absoluta para os delitos de opinião e 
imunidade relativa para os delitos comuns, aplica-se também aos 
Deputados estaduais

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