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. ⁄ . ⁄ . ● ● , º ● - 191 O nascimento da Estatística e sua relação com o surgimento da Teoria de Probabilidade * ** Resumo ● O objetivo deste estudo histórico foi compreender e relacionar o surgimento da Estatística e da Teoria de Probabilidade. O início da Estatística (como é entendida hoje) deu-se com a Aritmética Política (século XVII), o surgimento da Teoria de Probabilidade aconteceu com Cardano (século XVI), e o primeiro registro da união destas duas áreas aconteceu com De Moivre (século XVIII). Foi a partir do século XVII que os matemáticos perceberam que muitos conceitos de probabilidade não poderiam ser separados da estatística, e esta relação tornou-se indissociável, contribuindo para o desenvolvimento de estudos em diversas áreas do conhecimento. Palavras-chave ● história daEestatística, história da Teoria de Probabilidade, Matemática. Title ● The Birth of Statistics and its Relationship with the Rise of the Probability Theory Abstract ● This historical study aims at understanding and relating the birth of Statistics and the Probability Theory. The beginnings o f Statist ics (as we understand it today) happened with Political Arithmetic (17th century); the rise of the Probability Theory began with Cardano (16th century). From the 17th century on mathematicians realized that many probability concepts could not be dissociated from Statistics, and this relationship became inseparable, and also contributed for the development of studies in several fields of knowledge. Keywords ● history of Statistics, history of the probability theory, Mathematics. Data de recebimento: 22/12/2003. Data de aceitação: 30/01/2004. * Professora de Estatística na USJT e doutoranda em Educação Matemática na PUC-SP. E-mail: p rof.cborim@usjt.br. ** Professora do Dep. de Matemática da PUC-SP. Doutora em Educação Mat emát ica p ela Universidade de Jose ph Four ier, Grenoble, França. E-mail: cileda@pucsp.b r. . A Estatística é definida por Costa Neto (1977) como a ciência que se preocupa com a organização, des- crição, análise e interpretação de dados experimen- tais e por este motivo tem aplicação em quase todas as atividades humanas. Integrada no campo das ciências exatas, a Esta- tística geralmente faz parte dos departamentos de Matemática das universidades e tem uma estreita relação com esta disciplina. Segundo Nelder (1986), seria impossível o desenvolvimento da parte teórica da estatística sem o corpo de teoria e notação matemática. Mas essa relação entre a Estatística e a Mate- mática não apresenta consenso na literatura. Há quem considere a Estatística como um ramo da Matemática. Outros consideram-na uma ciência independente, mas que usa a Matemática como ferramenta. Essa discussão pode ser observada no trabalho de Senn (1998). Para compreender um pouco dessa discussão atual, o objetivo deste trabalho é resgatar na histó- ria o surgimento da Estatística e da Teoria de Probabilidade, tentando relacioná-los e situá-los no desenvolvimento da própria Matemática. . A palavra “estatíst ica” tem proveniência no latim statisticum, que significa relativo ao Estado (DROESBEKE & TASSI, 1990; DUTARTE & PIEDNOIR, 2001; JOZEAU, 2001). Porém não existe, na literatura, um consenso sobre quem ou qual civilização utilizou primeiramente o termo “estatística” tal como o usamos nos dias atuais, ou seja, para designar uma 192 ● O nascimento da Estatística área do saber ou um conjunto de medidas-resumo de um conjunto de dados. Kendall (1978) argumenta que o primeiro uso da palavra “estatística” deu-se num trabalho do historiador italiano Girolamo Ghilini, em 1589, que versava sobre uma descrição polít ica. Por outro lado, Porter (1986) afirma que a palavra “estatística” foi primeiramente usada como um substantivo por Gottfried Achenwall em 1749. Dada a controvérsia sobre o surgimento do termo “estatística”, o que se pode afirmar é que a utilização de idéias de caráter estatístico teve seu início na Antiguidade, com a necessidade de os Estados conhecerem os dados de sua população, território e outros atributos do poder. Embora Kendall (1978) argumente que os tra- balhos realizados até o século XVII apenas tinham como objetivo a obtenção de uma descrição polí- tica dos estados e que o aparecimento de infor- mação numérica dava-se por acidente ou por conveniência, é interessante conhecer um pouco desta história. O primeiro registro de recenseamento refere- se à civilização da Suméria (de 5000 a 2000 a.C.), para o qual foram elaboradas em tábuas de argila listas dos homens e seus bens. Segundo Droesbeke e Tassi (1990), o poder egípcio, representado pelo faraó Amasis II (por volta de 2700 a 2500 a.C.), institucionalizou os recenseamentos com objetivo tributário, e neles todo indivíduo era obrigado a declarar sua fonte e atividade de renda, sob pena de morte a quem não o fizesse. Na China, muitos recenseamentos foram reali- zados. Segundo Ferreira et al. (2002), o primeiro recenseamento foi feito em 2238 a.C., pelo impe- rador Yu (ou Yao), com o objetivo de conhecer com exatidão o número de habitantes para dividir o território, cobrar impostos e recrutar homens para o serviço militar. Na Índia Antiga foi feito um tratado de recen- seamento denominado Tratado de Arthasástra, ou seja, tratado de ciência (sástra) e do progresso (artha). Foi redigido por Kautilya, ministro do rei Candragupta (313-289 a.C.), cujo objetivo era aumentar incessantemente o seu reino. “Tudo o que for feito terá de ser conhecido: do efetivo da população até o número de elefantes, passando pelas matérias-primas, os produtos fabricados, os preços e os salários” (FERREIRA et al , 2002, p. 11). Esses autores também relatam que, em Roma, os recenseamentos foram realizados de 750 a.C. até 476 d.C., e neles os cidadãos romanos eram obrigados a declarar suas fortunas, seus nomes, os de seus pais, a idade, o nome de suas esposas assim como o de seus filhos, a tribo em que resi- diam e o número de escravos, sob pena de ficarem sem seus bens ou seus direitos de cidadão (id., ibid., p. 12). A partir do século XIII a Estatística começa a caminhar para os moldes da ciência que conhece- mos hoje. Na França, por volta de 1300, as famí- lias e/ou lares foram utilizados como elemento essencial para estimar a sua população. Depois desse século, segundo Jozeau (2001), existiam três correntes estatísticas separadas geograficamente: a Estatística Descritiva alemã, a Aritmética Política inglesa e os jogos e probabi- lidades, na França. . Segundo Jozeau (2001), Hermann Conring (1606- 81) criou o termo Stati para definir a Estatística Descritiva alemã, cujo objetivo era descrever a diversidade territorial nacional. Uma das inovações dos estudos realizados por essa escola foi a publicação de tabelas cruzadas (hoje conhecidas como tabelas de contingência ou tabelas de dupla entrada) para apresentar os dados dos recenseamentos realizados no territó- rio alemão. Nessas tabelas eram listados os nomes das fa- mílias e o respectivo número de homens, o núme- ro de mulheres, o número de filhos e empre-gados da família1. Segundo Ferreira et al. (2002), essa escola preocupava-se em descrever os estados políticos, e, portanto, as informações numéricas que apa- reciam nos registros ocorriam somente por aca- so ou por conveniência. O trabalho com esse tipo de informação aparece com a escola de Aritmética Política, na Inglaterra. Segundo Jozeau (2001), essa escola difundiu-sepor toda a Europa. . ⁄ . ⁄ . ● ● , º ● - 193 . A Aritmética Política, segundo Droesbeke e Tassi (1990), preocupava-se com a quantificação e a pesquisa de constantes de comportamento, per- mitindo estimações e previsões tais como o nú- mero de filhos por mulher, o tempo entre dois nascimentos de uma mesma mulher, o número de habitantes por família, a proporção de faleci- mentos etc. Perero (1994) explica que a Estatística deu um grande salto qualitativo por volta do século XVII. Por um lado, a utilização de dados estatíst icos começa em instituições financeiras e companhias de seguro. Por outro lado, nasce na Inglaterra o conceito de Aritmética Política e começa-se a “matematizar” outras disciplinas, que eram, até então, puramente descritivas, como a demografia, a economia e as ciências sociais. Os fundadores da Aritmética Política foram John Graunt (1620-74) e William Petty (1623-87), mas o termo “Aritmética Política” foi dado por Petty e definido por Charles Davenant (1656- 1714) como a arte de raciocinar com números sobre os problemas do governo (JOZEAU, 2001). John Graunt utilizou os dados publicados nos boletins sobre mortalidade, que foram realiza- dos após 1519 em Londres, para estabelecer e ve- rificar certas questões controversas como as causas de mortalidade, o tamanho exato da po- pulação de Londres, a relação entre o número de homens e de mulheres. Segundo Ferreira et al. (2002), Graunt fez uma análise exaustiva do número de pessoas que morriam de várias doen- ças e estimou o número de nascimentos de homens e de mulheres, mostrando, por exemplo, que nasciam mais homens que mulheres e que, a cada 100 pessoas nascidas, 36 morriam aos 6 anos e que 7 sobreviviam até os 70 anos. Segundo Lightner (1991), Graunt foi a primeira pessoa a lidar com inferência estatística na análise de dados de massa. Graunt publicou sua obra Natural and political observation made upon the bills of mortality em 1662, e isso chamou a atenção do rei da Inglaterra (Carlos II), que propôs a Graunt ser sócio fun- dador da Royal Society. Willian Petty, que também era membro da Royal Society, trabalhou durante três anos com John Graunt. Ele estimou a população de Londres da seguinte maneira: o número de residências era 105.000 e, considerando que a média de mem- bros da família era de seis pessoas e que 10% das residências abrigavam duas famílias, ele concluiu que havia 695.000 habitantes em Londres (DROESBEKE & TASSI, 1990, p. 42). Essa técnica utilizada por Petty foi denomina- da “de extrapolação” ou “de multiplicação” e teve um enorme sucesso. Jean Joseph d’Expilly (1719- 93) utilizou esta técnica com um outro estimador, usando o fator “5” para residências urbanas e “4,5” para residências rurais. Segundo Jozeau (2001), Graunt utilizou a mes- ma técnica e inovou, extrapolando os dados de Londres (calculados por Petty) para a Inglaterra. Depois do trabalho de Graunt, o trabalho se- guinte de grande importância foi o de Edmund Halley (1656-1742), que era matemático de Oxford, e em suas memórias de 1693 publicou Degrees of mortality of mankind, em que fez um estudo cuidadoso das anuidades (LIGHTNER, 1991). KENDALL (1978) argumenta que a Aritmética Política é o verdadeiro antepassado da Estatística como é entendida hoje. Segundo Droesbeke e Tassi (1990), as técnicas desenvolvidas na Aritmética Política passaram a ser utilizadas em detrimento dos recenseamentos e favoreceram o aparecimen- to de enquetes parciais, que tiveram como justifi- cativa o cálculo de probabilidades. . A probabilidade começou como ciência empírica. Vários dos problemas propostos nessa área do saber foram pensados por matemáticos, filóso- fos, naturalistas, advogados, respondendo a uma necessidade social: o estudo de jogos de azar. Girolamo Cardano (Jérôme Cardan) (1501- 76), professor de matemática e medicina, jogou diariamente por mais de 40 anos. Desde cedo em sua vida, ele determinou que, se não jogasse apos- tando algum dinheiro, nenhuma compensação seria obtida por um tempo perdido em jogos, no 194 ● O nascimento da Estatística qual poderia de outra maneira gastá-lo mais intei- ramente na busca de aprendizagem (LIGHTNER, 1991). Como não queria gastar seu tempo em ati-vi- dades não promissoras, ele analisou seriamente as probabilidades de tirar um ás de um baralho de cartas e de obter a soma “7” no lançamento de dois dados. Então, ele relatou os resultados dessas investigações, bem como suas experiências em um manual de jogos chamado Liber de Ludo Aleae, publicado em 1539. Perero (1994) explica que Cardano é conside- rado o pai da Teoria de Probabilidade, pois nessa obra analisou os jogos de azar de forma sistemá- tica. Em um capítulo intitulado “On the cast of one die”, e le relatou: “Eu posso tirar 1, 3 ou 5, bem como posso tirar 2, 4 e 6. As apostas são feitas de acordo com esta igualdade, se o dado é honesto e, em caso contrário, elas são feitas muito maiores ou menores em proporção para a saída da verdadeira igualdade” (BURTON, 1985, citado em LIGHTNER, 1991). Nesse relato, é possível notar a transição do empirismo para o conceito probabilístico teóri- co de um dado honesto, que, segundo Lightner (1991), marca a fundação do campo da matemá- tica que se denomina “probabilidade”, mas que, para aquela época, poderia ser “jogo” demais para os matemáticos e matemático demais para os jogadores. Embora exista esse trabalho de Cardano, para alguns historiadores a Teoria de Probabilidade começou efetivamente com a correspondência entre Pascal e Fermat, do fato de que uma das cartas evoca efetivamente o termo “Geometria do Acaso” para referir-se ao cálculo de probabilidades. Segundo Perero (1994), em 1650, Antoine de Gombaud, o Chevalier de Méré, um experiente jogador francês, tinha como problema entender por que 11 ocorria com mais freqüência do que 12 no lançamento de 3 dados e solicitou a Pascal que o ajudasse a solucionar – Pascal explicou que ele estava errado. Em seguida, Méré solicitou a Pascal resolver o problema dos pontos2. Buscando solucionar esse problema, Pascal comunicou-o a Fermat, dando início à série de cartas que são reputadas como origem desta teoria. Nessas cartas, pode-se encontrar o problema cor- retamente resolvido por ambos, mas de manei-ras diferentes. Nota-se que eles lidavam com os fun- damentos da teoria da probabilidade matemáti- ca, um evento que Eves chama de “um grande momento em matemática” e que é considerado por alguns historiadores o início da Teoria de Probabilidade (LIGHTNER, 1991). Em 1657, Christian Huygens (1629-95) escreveu o primeiro tratado formal de probabilidade, De Ratiociniis in Ludo Aleae, baseado nas correspon- dências entre Fermat e Pascal. Somente em 1713 tem-se notícia de outra pu- blicação fundamental para o desenvolvimento dessa teoria, quando Ars Conjectandi, de Jakob Bernoulli (1654-1705), foi publicado postuma- mente, e dá início ao enfoque freqüentista do con- ceito de probabilidade. . Segundo Ferreira et al. (2002), a ligação das pro- babilidades com os conhecimentos estatísticos veio dar uma nova dimensão à Estatística, consi- derando-se o início da inferência estatística. Lightner (1991) explica que, depois dos estu- dos pioneiros de Graunt e Halley, foi Abraham De Moivre (1667-1754) quem prosseguiu o tipo de estudo que era feito na Aritmética Política. De Moivreemigrou para a Inglaterra, onde conheceu Newton e Halley, e publicou Doctrine of chances em 1718 sobre a Teoria do Acaso, em que expunha, entre outros assuntos, a probabili- dade de tirar bolas de cores diferentes de uma urna (FERREIRA et al., 2002). Esse trabalho de De Moivre teve um impor- tante papel no desenvolvimento da matemática atuarial e sua relação com seguros de vida, e mais tarde ele preparou um material no qual descre- veu a curva normal de probabilidade (LIGHTNER, 1991, p. 627). Segundo Lightner (1991), a partir de De Moivre, probabilidade e estatística entraram num período de transição, em que os conceitos foram exami- nados, aplicados a velhos e novos problemas além daqueles de jogos e tabelas de mortalidade, que . ⁄ . ⁄ . ● ● , º ● - 195 registraram o começo da probabilidade e da esta- tística, respectivamente. Jakob Bernoulli (1654-1705) desenvolveu o que hoje chamamos de distribuição de Bernoulli, que consiste em dizer que um experimento alea- tório tem duas possibilidades de resultado: suces- so e fracasso (configuração de urna de Bernoulli), que fora a base da distribuição binomial (FERREIRA et al., 2002). Outros membros da família Bernoulli também se destacam nesta área. Por exemplo, Daniel (1700-82) investigou o Para- doxo de Petersburg3, que consiste na solução de um problema de jogo. Bernoulli também mostrou como o Cálculo Integral (que tinha surgido 60 anos antes) poderia ser aplicado à probabilidade. Leonhard Euler (1707-83) sistematizou e organizou muitos problemas probabilísticos, e Joseph Lagrange (1736-1813) também avançou na Teoria de Proba- bilidade aplicando o cálculo diferencial. Pierre Simon Laplace (1749-1827) publicou em 1812 sua obra intitulada Teoria analítica das probabilidades, em que definiu, em um de seus princípios, a probabilidade pela qual o número de vezes em que um determinado acontecimento pode ocorrer, dividido pelo número total dos casos, considerando-se a hipótese de eqüipro- babilidade (FERREIRA et al., 2002). Segundo Lightner (1991), embora o interesse de Laplace fosse o estudo da astronomia (ele publicou Celestial Mechanics em 1799), ele também usou a Teoria de Probabilidade para obter uma medida estatística de confiabilidade de resultados numéricos derivados de dados e para determinar a probabilidade de certo fenô- meno astronômico ser devido a causas definidas em vez de ao puro acaso. Em 1812, Laplace publicou Théorie analytique des probabilités, em que organizou tudo o que era conhecido sobre a teoria estatística e probabilís- tica em uma primeira tentativa de axiomatização. Segundo Lightner (1991), Laplace é freqüente- mente considerado o pai da teoria moderna de probabilidade porque ele entendeu, talvez melhor que todos de seu tempo, a significância da proba- bilidade para o mundo. Usando a Teoria de Pro- babilidade, um número de matemáticos derivou vários tipos de distribuições matemáticas que des- creveriam várias populações, incluindo a distri- buição de Bernoulli e de Poisson, o ajustamento da distribuição normal descrita por Karl Friedrich Gauss (1777-1855), que devotou especial atenção à curva normal, sua equação e suas aplicações (LIGHTNER, 1991, p. 629). O começo da análise estatística de dados de censo foi feita em 1829 por Lambert Adolphe Jacques Quetelet (1796-1874), na Bélgica. Francis Galton (1822-1911) descobriu a lei da regressão e o coeficiente de correlação em 1877. Começando em 1894, Karl Pearson (1857-1936) aplicou a probabilidade à biologia e criou a área de estudo denominada Biometrics (LIGHTNER, 1991). Mas, durante o século XIX, descobriu-se que um grande número de fenômenos naturais nas ciências biológicas e na física seguia a distribuição normal dos erros aleatórios, e começa uma união dessas duas correntes (BENNETT, 2003, p. 122). No entanto, é apenas no final do século XIX que o desenvolvimento da matemática permite um avanço efetivo na Teoria de Probabilidade. O trabalho de Borel e de Lebesgue permite a Kolmogorov, em 1933, publicar uma obra conten- do a axiomatização da Teoria de Probabilidade. . Pelos apontamentos históricos pode-se consi- derar que o início da estatística deu-se na Antigui- dade com os recenseamentos e somente na Aritmética Política teve um avanço no tipo de trabalho que era realizado. Esse período acon- teceu do século VI antes de Cristo até o século XVII após Cristo, o que soma 23 séculos. Quanto à Teoria de Probabilidade, embora existam registros de jogos de azar na Antiguidade, o desenvolvimento das idéias que formam a base da Teoria de Probabilidade ocorreu com Cardano, no século XVI depois de Cristo (COUTINHO, 1994). Um ponto em comum no surgimento das idéias da estatística e da probabilidade é que ambas surgiram a partir de problemas empíricos, embora existam registros de mais matemáticos envolvidos com os problemas de jogos de azar do que com problemas de recenseamentos. 196 ● O nascimento da Estatística Mas os caminhos dessas duas áreas permane- ceram separados até o surgimento da Aritmética Política (século XVII). Foi com a obra de De Moivre que se tem registro da união dos trabalhos realiza- dos pela estatística e pela probabilidade, o que dá início à área da Estatística denominada Inferência. Portanto, a partir do século XVII a relação entre a Estatística e a Probabilidade torna-se indissociável, contribuindo para o desenvol- vimento de estudos em diversas áreas do conheci- mento, como a biologia, a psicologia, entre outras. Referências bibliográficas BENNETT, D. J. Aleatoriedade. Trad. de W. Barcellos. São Paulo: Martins Fontes, 2003. COSTA NETO, P. Estatíst ica. São Paulo: Edgar Blucher, 1977, Cap. 1. COUTINHO, C. de Q. e S. Int rodução ao conceito de probabilidade por uma visão freqüentista: Estudo epistemológico e didático. Dissertação de mestrado. São Paulo: PUC-SP, 1994. DROESBEKE, J.-J. & TASSI, P. Histoire de la statistique. Paris: Presses Universitaires de France, 1990. DUTARTE, P. & PIEDNOIR, J.-L. “Grande e t petite histoire de la statistique”. In: DUTARTE, P. & PIEDNOIR, J.-L. Enseigner la statistique au lycée: Des enjeux aux méthodes. Villetaneuse: Université de Paris 13/IREM, 2001. FERREIRA, M. J.; TAVARES, I. & TURKMAN, M. A. Notas sobre a história da estatística. Portugal: Instituto Nacional de Estatística, (2002). Disponível no site http:/ /alea.ine.pt/html/statofic/html/dossier/doc/dossier6.pdf (acessado em 15 de dezembro de 2003). JOZEAU, M.-F. “Histoire des statist iques et des probabilités: Un survol”. In: L’Institut de Recherche sur l’Enseignement des Mathematiques (IREM) (org.). Des statistiques à la pensée statistique. Montpellier: IREM, 2001. KENDALL, M. G. “Where shall the history of statistics begin?”. In: PEARSON, E. S. & KENDALL, M. Studies in the history of statist ics and probab ility. Londres: Charles Griffin, 1978, pp. 45-6. LIGHTNER, J. E. “A brief look at the history of probability and statist ics”. In: Mathematics Teacher, vol. 84, nº 8, 1991. NELDER, J. “Statist ics, science and technology”. In: J. R. Statist. Soc. A, vol. 149, Part 2, 1986. PERERO, M. Historia e histor ias de matemáticas. México: Grupo Editorial Iberoamericano, 1994. PORTER, T. M. 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O amigo de Méré afirma que, considerando que a chance de ele obter duas jogadas sortudas é metade da chance de Méré obter uma jogada sortuda, ele deveria receber 20 pistolas e Méré deveria receber 40. De Méré argumenta que, na próxima jogada, o pior que poderia acontecer para ele seria perder sua vantagem, ocorrendo um empate, e então as pistolas seriam divididas igualmente. Entretanto, se saísse 5 na próxima jogada, ele seria o vencedor e receberia as 60 pistolas. De Méré afirma que, mesmo antes da jogada, ele deve receber 30 pistolas e mais 15 que é a metade da certeza; portanto, ele deveria receber 45 e seu oponente 15. E ele estava certo. Pascal e Fermat decidiram esse resultado em suas famosas correspondências. Eles também consideraram outros problemas relacionados ao problema dos pontos, tal como a divisão do dinheiro apostado quando os dois jogadores são desigualmente habilidosos ou quando mais do que dois jogadores estão apostando. 3 Um jogador lança uma moeda e um segundo jogador concorda em pagar uma quantidade em dinheiro se aparecer cara no 1º lançamento, o dobro do dinheiro se aparecer cara no 2º lançamento, 4 vezes a quantia inicial se aparecer cara no 3º lançamento, 8 vezes se sair cara no 4º lançamento, e assim sucessivamente. O paradoxo nasceu sobre quanto deveria ser pago, antes do jogo, para ser honesto com ambos os jogadores? Uma grande diferença surgiu entre o senso comum e o raciocínio matemát ico (LIGHTNER , 1991 p. 628).
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