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OS REFLEXOS DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NA REFORMA TRABALHISTA DE 2017: AVANÇO OU RETROCESSO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO? 1 Yasmin Colins Pereira Pontes 2 Isadora Silveira de Assis Pires 3 Hélio Bittencourt 4 SUMÁRIO. INTRODUÇÃO; A CONJUNTURA QUE LEVOU AO INGRESSO DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO ATRAVÉS DA REFORMA TRABALHISTA DE 2017; OS ASPECTOS OBJETIVOS DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO; POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO; CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS. RESUMO A Reforma Trabalhista de 2017 é um tema de extrema relevância para o âmbito jurídico e social. Esta trouxe como novidade o negociado sobre o legislado, dando força às normas coletivas. A Reforma possui uma influência na vida dos trabalhadores brasileiros, pois alterou mais de cem itens da Consolidação das Leis do Trabalho, do ano de 1943, portanto, é importante a análise de sua aplicação fática na vida do cidadão brasileiro. Alguns cuidados devem ser tomados na análise de uma nova lei, mais especificamente, no ponto do negociado sobre o legislado, ainda porque a lei anterior à Reforma era antiga. As normas coletivas, que consistem em acordos coletivos de trabalho e convenções coletivas de trabalho podem resultar em uma cláusula compensatória, que como o próprio nome já induz, compensa uma coisa em detrimento de outra. A análise das cláusulas compensatórias são de grande importância para o mundo do direito do trabalho, posto que elas podem resultar em melhora aos direitos dos trabalhadores, que para ceder algo, irão, em troca, receber algo que, em tese, os beneficie. Palavras-chave: Cláusulas Compensatórias. Direito Coletivo do Trabalho. Reforma Trabalhista. 1 2º check de paper apresentado à disciplina Direito Coletivo do Trabalho. 2 Aluna de Direito, do 7º período noturno, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. 3 Aluna de Direito, do 7º período noturno, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. 4 Professor da disciplina Direito Coletivo do Trabalho da UNDB. 1 INTRODUÇÃO A Reforma Trabalhista de 2017 trouxe consigo grande carga de inovação ao ordenamento jurídico brasileiro. Em vigor desde novembro de 2017, a RT 2017 altera inúmeros pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e permite maior flexibilidade nas negociações entre trabalhadores e empregadores. Isso porque com a Reforma, instaurou- se o princípio do negociado sobre o legislado, que, portanto, permite que em alguns casos aquilo que é negociado entre patrão e empregado se sobreponha ao que vem expresso em lei. As normas coletivas são responsáveis, a partir da RT 2017, por tratarem do melhor interesse de empregados e empregadores nas relações trabalhistas. Entre as possibilidades disso, está a aclamada cláusula compensatória, que pode ser vista de grande valia para inúmeras relações de trabalho. Essas cláusulas dentro do direito do trabalho ainda são vistas como um tema recente. Elas implicam na negociação de forma a criar um equilíbrio entre o que será acordado entre empregador e empregado. Logo, um ônus advém de um bônus que irá transformar esse acordo que as partes fazem em algo mais justo e equilibrado. Assim é a visão geral sobre as cláusulas supracitadas. Devido à sua recente imersão nas causas trabalhistas, é de extrema importância sua análise, bem como se faz necessária a analogia entre as cláusulas compensatórias trabalhistas com outros tipos de cláusulas compensatórias já presentes no ordenamento jurídico pátrio. Cláusulas compensatórias trabalhistas, por serem recentes, provocam pontos de vistas a favor e contra. Isso acontece devido à relevância do tema, que advém de uma Reforma que modificou partes importantes de uma lei antiga. Ante o exposto, indaga-se: entendendo a conjuntura das cláusulas compensatórias na RT 2017, quais são os aspectos objetivos destas cláusulas no ordenamento jurídico brasileiro e as suas possíveis implicações positivas e negativas nas relações de trabalho? Esta análise sobre as cláusulas compensatórias é relevante para a sociedade e, em consequência, para o Direito Trabalhista, pois tal alteração advém da Reforma Trabalhista de 2017, possuindo ainda divergências sobre o tema, tendo em vista uma série de percalços ainda a serem enfrentados. Na questão acadêmica, este artigo possui grande destaque, na medida em que a doutrina possui poucos artigos sobre o tema, em razão de as cláusulas compensatórias serem uma novidade que ingressou no sistema Trabalhista com a Reforma Trabalhista de 2017. Assim, acredita-se que, este artigo irá trazer ao foco questões cruciais no que diz respeito a viabilidade ou não da utilização do mecanismo das cláusulas compensatórias. Assim sendo, a razão pessoal da escolha das cláusulas compensatórias originou-se através da curiosidade em saber se, realmente, são viáveis dentro do sistema trabalhista, considerando o acordado sob o legislado, e para que assim houvesse mais fontes de pesquisas deste assunto e que almeja várias discussões no Direito. Segundo Antônio Carlos Gil (2008), esta pesquisa é denominada de exploratória, por motivo dos objetivos e quanto aos procedimentos são de levantamento bibliográfico. Uma pesquisa exploratória tem como objetivo final ofertar uma maior familiaridade com a questão problema, de forma a torna-lo mais explícito. O procedimento técnico, ou seja, a pesquisa bibliográfica tem como objetivação uma busca a solução do problema a partir de materiais já produzidos, que são, em suma, artigos científicos e livros. 2 AS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS DESPORTIVAS E SUA RELAÇÃO COM CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS TRABALHISTAS A compensação é um elemento essencial para qualquer relação no ordenamento pátrio, posto que nivela direitos e deveres das partes que envolve o contrato. As cláusulas que são objeto deste tópico, a compensatória trabalhista e a penal compensatória desportiva, possuem natureza similar, e a partir dessa semelhança podemos aprofundá-las melhor. Como se depreende do próprio nome, cláusulas compensatórias compensam direitos e deveres das partes envolvidas. A cláusula penal compensatória desportiva tem como objetivo minimizar prejuízos que possam ocorrer à parte que não deu causa ao rompimento do contrato, de modo que a indenização é o meio utilizado para compensar (CAMARGO; CALCINI, 2013). Com a alteração decorrente da Lei nº 12.395/11 a cláusula penal desportiva fora enfraquecida no sistema jurídico brasileiro, passando a existir a cláusula indenizatória desportiva e ainda a cláusula compensatória desportiva (RAMOS, 2011). A diferença entre tais cláusulas se dá em quem se beneficia com estas. Vejamos. No que compete a indenizatória desportiva, esta diz respeito ao instrumento jurídico que fora acionado em favor dos clubes pelo descumprimento contratual imotivado de um atleta. Assim, percebemos que sua existência beneficia estritamente o clube (RAMOS, 2011). Já a cláusula compensatória desportiva, ao contrário daquela, é uma ferramenta jurídica que protege os interesses do atleta quando verificado incumprimento contratual desmotivado dos clubes, como exemplo, na dispensa do jogador sem justa causa (RAMOS, 2010). Como bem assevera Ricardo Alfonsin (2013), a cláusula penal compensatória está posta em nosso ordenamento como forma de ressarcimento prefixado dos danos que possam advir da quebra de um contrato. Em simples analogia, a aplicaçãoda compensação deste tipo de cláusula pode ser aplicada à cláusula compensatória trabalhista, porque nos casos trabalhistas, o bônus compensa o ônus entre empregado e empregador que estejam negociando coletivamente direitos elencados no art. 611-A da CLT. 3 A CONJUNTURA DO INGRESSO DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO ATRAVÉS DA REFORMA TRABALHISTA DE 2017 NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO Anteriormente a Reforma Trabalhista de 2017, o entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (TST) respaldava-se na possibilidade de que não seria possível “a prevalência do acordo ou da convenção coletiva sobre legislação vigente quando o instrumento normativo negociado fosse menos benéfico do que a própria lei, salvo nos casos previstos na Constituição Federal” (CAIRO JR., 2018, p. 1268). A Reforma Trabalhista originou do Projeto de Lei 6787/16, o qual foi submetido pelo Poder Executivo em 23 de dezembro de 2016 ao Congresso Nacional. Em 14 de junho de 2017 transformou-se na Lei nº 13.467/17 e alterada pela Medida Provisória 808 de 14 de novembro de 2017. A vigência da Lei 13.467/17 demorou um lapso de vacatio legis de 120 (cento e vinte) dias, tendo em vista os impactos inaugurados nas relações de trabalho, tendo assim seu marco inicial de vigência no dia 11 de novembro de 2017. Uma das justificativas dadas para as mudanças no campo do direito individual do trabalho, fora a necessidade de aperfeiçoamento das relações de trabalho, valorizando a questão do “negociado sob o legislado”, pondo, em tese, marco final a insegurança jurídica atualmente existente (CASSAR; BORGES, 2017). Como bem pode-se notar, o direito coletivo do trabalho fica em evidência nesse momento, em que normas coletivas ganham espaço nas relações entre sujeitos do direito do trabalho. Para tanto, o presente trabalho averigua questões contidas no art. 611-A, observando a possibilidade de a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho dispuserem para além do permitido nos incisos do artigo, a existência de clausula compensatória, a qual será analisada a seguir. O ordenamento jurídico brasileiro é repleto de cláusulas que buscam a melhor adaptação das leis com a realidade. A Reforma Trabalhista de 2017 (RT 2017) foi de essencial importância para renovar a Consolidação das Leis do Trabalho, que datava o ano de 1943, portanto, demasiadamente antiga. As cláusulas compensatórias, observando o ordenamento jurídico brasileiro, não são uma novidade, tanto que temos as cláusulas penais compensatórias e suas vertentes. Todavia, as cláusulas compensatórias no âmbito trabalhista são recentes e não são a mesma coisa das outras cláusulas compensatórias, por isso, devem ser melhor estudadas. Conforme trata Augusto César Leite de Carvalho (2017), “[...] o projeto de lei [PL nº 6787/16] prevê a exigência de cláusula compensatória explícita sempre que flexibilizados direitos trabalhistas relacionados ao salário ou à jornada, inclusive quando envolverem a prorrogação de turnos ininterruptos de revezamento”. Ou seja, ao se impor um dever por parte do empregador, se coloca um prêmio para o empregado, para que se crie um balanceamento nessa relação. Ainda segundo Carvalho (2017), essa medida trazida pelo Projeto de Lei estaria em consonância com a jurisprudência das Cortes, que entende que tal medida de flexibilização se faz nula se não restar evidenciado uma contrapartida aos trabalhadores. Devemos observar a legislação pátria acerca das cláusulas compensatórias nas relações de trabalho, para melhor entender o tema em análise. A previsão destas está no artigo 611, § 3º e § 4º da Reforma Trabalhista, que dispõe: Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II - banco de horas anual; III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei n o 13.189, de 19 de novembro de 2015; V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI - regulamento empresarial; VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de trabalho; XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubridade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. § 1o No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3o do art. 8o desta Consolidação. § 2o A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. § 3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. § 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito (BRASIL, 2017, grifo nosso). Rebeca Assis (2017), trata desse assunto ao trazer diversas conexões entre o texto legal e a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (TST), órgão de extrema relevância na discussão das cláusulas compensatórias. Conforma trata a mesma, diversos julgados do TST mostraram consonância com a flexibilização nas normas coletivas, desde que estivessem presentes contrapartidas que se fizessem explícitas e compensatórias quanto ao direito que se fazia negociado (ASSIS, 2017). Na análise do Recurso Extraordinário de número 590.415/SC, o STF se pronunciou dando especial relevância ao princípio da autonomia da vontade nas relações coletivas de trabalho, e dispôs ainda que a concessão das vantagens por meio da compensação (cláusulas compensatórias) afastam qualquer prejuízo que possa ser causado pela alteração da Consolidação das Leis do Trabalho, e que no caso, o acordo coletivo de trabalho que havia sido firmado atendia aos limites da razoabilidade, uma vez que, mesmo limitando o direito legalmente previsto, o contrapôs com vantagens. Sendo que, ainda houve a manifestação válida de vontade do Sindicato responsável (BRASIL, 2015). Vejamos a ementa do respectivo julgado: DIREITO DO TRABALHO. ACORDO COLETIVO. PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA. VALIDADE E EFEITOS. 7. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: “a transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho, em razão de adesão voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto do contrario de emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos celebrados com oempregado” (BRASIL, 2015, p. 1). Ante a análise desse Recurso Extraordinário, nota-se um importante aspecto das cláusulas compensatórias. Isso porque as cláusulas compensatórias não “surgiram” com a RT 2017. Mesmo antes dela, pode-se observar este julgado, com Repercussão Geral, tratando do assunto em conformidade com o trazido na Lei em vigor de nº 13.467/17. No mesmo sentido caminhou a decisão monocrática do então Min. Teori Zavascki, proferida no ano de 2016, através do RE nº 895.759. Vejamos: [...] O acórdão recorrido não se encontra em conformidade com a ratio adotada no julgamento do RE 590.415, no qual esta Corte conferiu especial relevância ao princípio da autonomia da vontade no âmbito do direito coletivo do trabalho. Ainda que o acordo coletivo de trabalho tenha afastado direito assegurado aos trabalhadores pela CLT, concedeu-lhe outras vantagens com vistas a compensar essa supressão. Ademais, a validade da votação da Assembleia Geral que deliberou pela celebração do acordo coletivo de trabalho não foi rechaçada nesta demanda, razão pela qual se deve presumir legítima a manifestação de vontade proferida pela entidade sindical. Registre-se que a própria Constituição Federal admite que as normas coletivas de trabalho disponham sobre salário (art. 7º, VI) e jornada de trabalho (art. 7º, XIII e XIV), inclusive reduzindo temporariamente remuneração e fixando jornada diversa da constitucionalmente estabelecida. Não se constata, por outro lado, que o acordo coletivo em questão tenha extrapolado os limites da razoabilidade, uma vez que, embora tenha limitado direito legalmente previsto, concedeu outras vantagens em seu lugar, por meio de manifestação de vontade válida da entidade sindical. Registre-se que o requisito da repercussão geral está atendido em face do que prescreve o art. 543-A, § 3º, do CPC/1973: “Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal” [...] (BRASIL, 2016, p. 5, grifo nosso). Ainda, se faz possível notar a presença de direitos fundamentais nesta abordagem, conforme traz Assis (2017), que diz que “ganha destaque o princípio da vedação ao retrocesso, que se trata de uma garantia constitucional implícita”, trazendo consigo os princípios da segurança jurídica, da máxima efetividade dos direitos constitucionais e da dignidade da pessoa humana. Com o advento da Reforma Trabalhista através da Lei nº 13.467/17 foram introduzidos os artigos 611-A e o 611-B. O primeiro elucida uma série exemplificativa de direitos trabalhistas que podem vir a ser negociados por meio de convenção ou de acordo coletivo de trabalho, mesmo que seja menos benéfico ao trabalhador se comparado à legislação pátria. Deste fato decorre a prevalência hoje do negociado sob o legislado (CAIRO JR., 2018). Em sentido contrário, o art. 611-B da Consolidação das Leis Trabalhistas revela um rol taxativo de direitos trabalhistas que são indisponíveis, isto é, não podem vir a serem reduzidos ou suprimidos pelas negociações coletivas. Destacamos assim, que em relação a hipótese de direitos disponíveis, estes são passiveis da existência de clausulas compensatórias que amenizem o direito que fora negociado entre as partes. Ante exposto, entende-se que as cláusulas compensatórias estão devidamente amparadas legislativamente e jurisprudencialmente, guardando conformidade entre si, na análise dos entendimentos dos Tribunais e Suprema Corte. Ademais, essas cláusulas perpassam direitos e garantias fundamentais, como os acima citados e o princípio da equidade entre o empregado e o empregador. 4 POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS DAS CLÁUSULAS COMPENSATÓRIAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO A Reforma Trabalhista de 2017 inaugurou possibilidades de negociações entre patrões e empregados. Com isso, é importante atentar para suas possibilidades, limites e riscos, de modo a analisar o tema elucidado de forma positiva e negativa. Analisar a RT 2017 nesse aspecto é de grande relevância, visto que a mesma alterou direitos trabalhistas. Além disso, a Reforma muda uma lei antiga, já consolidada e respeitada no país, portanto, necessita de um maior cuidado quanto à sua aplicação social, respeitando preceitos fáticos da população. A Reforma prevê uma autorização para a negociação de direitos previstos em lei, por meio do princípio da prevalência do negociado sobre o legislado em relação a diversos aspectos das relações de trabalho. Deste modo, segundo o sindicato dos trabalhadores de telecomunicação do Espírito Santo (SINTTEL ES, 2017): "[Hoje em dia, com a CLT] as CCTs [Convenções Coletivas de Trabalho], ACTs [Acordos Coletivos de Trabalho], não podem ferir a legislação. Ou seja, não se pode reduzir direitos, só ampliar. Com a Reforma, vale tudo, inclusive reduzir direitos, salários, benefícios". O real problema, segundo o sindicato, que expressava seu ponto de vista antes de a Reforma entrar em vigor, é que devido à crise econômica presente no país, essa previsão favorece muito os empregadores, e não os empregados, e que aceitar o negociado sobre o legislado só beneficiará empresas. Todavia, a Reforma Trabalhista de 2017 trouxe aspectos positivos e negativos, estes trazidos na passagem supracitada, que requerem maior aprofundamento, de modo a realmente entender quais suas implicações nas relações de trabalho na realidade brasileira. Essa cláusulas podem ser analisadas em contraste com outras cláusulas compensatórias do ordenamento jurídico pátrio, para que seja possível observar a aplicação das mesmas na realidade brasileira. Conforme trazido pela Lei nº 13.467/17, pode haver a flexibilização das normas de salário e de jornada de trabalho. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, através de uma nota, havia se posicionado sobre o Projeto de Lei de forma impactante, conforme expresso a seguir: Para piorar, a reforma propõe que, caso o Poder Judiciário anule cláusula de negociação coletiva, o trabalhador ainda pague ao patrão o suposto benefício recebido durante a vigência da cláusula anulada. É algo sem precedente na história do Brasil. Isso causa prejuízo em dobro, pois além de já ter tido redução de seus direitos legalmente assegurados em troca do suposto benefício, quando anulada a cláusula da “vantagem compensatória” que instituiu esse benefício, haverá o desconto referente a ele (ANAMATRA, 2017). Acontece que a Reforma Trabalhista publicada dispões sobre o assunto de modo diverso, ou seja, concernente ao temor dos associados, conforme a passagem, pode ser deixado de lado. O que dispõe a Lei nº 13.467/17 é de que “na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. (BRASIL, 2017, grifo nosso). Dessa forma, é possível perceber que o legislador se sensibilizou com o real interesse do afetado por essa legislação, que é o trabalhador, e não obstante analisou os impactos possíveis a este com o texto antigo. Alguns limites foram impostos para as negociações, conforme podemos observar nos Enunciados nº 28 e 30 que foram aprovados pela 2º Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, que possuem o intuito de estabelecer limites para a liberdade da negociação coletiva que fora imposta pela Reforma Trabalhista de 2017. Vejamos. ENUNCIADO Nº 28. NEGOCIADO SOBRE LEGISLADO: LIMITES NOS TERMOS DO ART. 5º, PARÁGRAFO 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AS CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO NÃO PODEM SUPRIMIROU REDUZIR DIREITOS, QUANDO SE SOBREPUSEREM OU CONFLITAREM COM AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DO TRABALHO E OUTRAS NORMAS DE HIERARQUIA CONSTITUCIONAL OU SUPRALEGAL RELATIVAS À PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DOS VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA. ENUNCIADO Nº 30. NEGOCIAÇÃO COLETIVA: LICITUDE E ASPECTOS FORMAIS. DIREITOS TRABALHISTAS GARANTIDOS POR NOMAS DE ORDEM PÚBLICA, RELATIVOS A MEDIDAS DE HIGIENE. SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO, SÃO INFENSOS À REDUÇÃO OU SUPRESSÃO MEDIANTE NEGOCIAÇÃO COLETIVA, CONSOANTE A INTERPRETAÇÃO CONJUNTA DOS INCISOS XXII E XXVI DO ART. 7º DA CONSTITUIÇÃO. É, PORTANTO, INCONSTITUCIONAL A PREVISÃO DO ART. 611-A, III E XII DA CLT (COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.467/2017). Analisando o intuito de limites impostos pelos Enunciados supramencionados, percebe-se que existe uma preocupação de salvaguardar questões que infringem de forma incisiva direitos dos trabalhadores que possuem amparo constitucional dada a interpretação sistemática com os incisos XXII e XXVI do art. 7º da Constituição Federal de 1988. Nesta persecução, ressaltamos então que as clausulas compensatórias, para os demais direitos que são tocados pelo art. 611-A, servem como contraprestação do empregador ao que esta sendo renunciado pelos trabalhadores através da negociação coletiva (ASSIS, 2017). Percebemos então que a existência de clausulas compensatórias no ordenamento jurídico pátrio significam então a equanimidade entre relações entre estes polos que historicamente são desiguais dada a subordinação do obreiro para com seu empregador. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a feitura deste artigo científico analisou-se as clausulas compensatórias em matéria de direito desportivo fazendo analogia ao direito trabalhista coletivo, buscando vislumbrar os reflexos destas clausulas em face da existência de direitos disponíveis negociáveis quistos no art. 611-A da CLT. Diante do exposto, observamos então algumas implicações, bem como, que o assunto já havia sido, de alguma forma, delimitado em julgados anteriores, reconhecida até a Repercussão Geral, como o RE 590.451/SC que deu especial relevância ao princípio da autonomia da vontade nas relações coletivas de trabalho, dispondo ainda que a concessão das vantagens por meio da compensação (cláusulas compensatórias) afastam qualquer prejuízo que possa ser causado pela alteração da Consolidação das Leis do Trabalho. Com efeito, a existência de clausulas compensatórias refletem aspectos positivos e negativos, dada a existência do negociado sob o legislado advindo da Reforma Trabalhista de 2017. Destacamos que a interpretação de clausulas compensatórias muito, de acordo com os Sindicatos, favorecem os empregadores. Contudo, dois enunciados da Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho trazem limites as negociações, sinalizando inconstitucional a previsão do art. 611-a, III e XII da CLT. 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