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Amanda Morais – RGM 131938-8 Cindy Carerá – RGM 133872-2 Leony Hidalgo – RGM 23151-7 Vanessa Soares – RGM 130180-2 2º D – CAMPUS ANÁLIA FRANCO PSICOLOGIA GESTALT E PERCEPÇÃO VISUAL CURSO: PSICOLOGIA DISCIPLINA: PROCESSOS PISCOLÓGICOS BÁSICOS I PROFESSORA: LAURA MARISA CARNIELO CALEJON Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL SÃO PAULO – 2013 2 INTRODUÇÃO Em meados de 1870, iniciou-se a pesquisa da percepção humana por meio de estudiosos alemães, que tiveram a visão como campo a ser desbravado com maior ênfase. Para alcançar este fim, eles avaliaram, especialmente, obras de arte, onde na tentativa de compreender como se atingia certos efeitos da percepção tiveram como resultado o surgimento da Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma. Gestalt surgiu no ínicio do século XIX, através de uma pesquisa realizada por Max Wertheimer (1880-1943). A pesquisa de Wertheimer envolvia a percepção do movimento aparente, que demonstrava que determinada frequência não é transposta se tem a impressão de continuidade, no qual o mesmo referiu-se ao fenômeno como '' a impressão do movimento '‘. Na época a psicologia era um campo bastante tradicional, e Wertheimer não conseguia explicar de maneira simples o fenômeno que estava surgindo com os experimentos. A Gestalt após muitas pesquisas apresentou uma teoria nova sobre o fenômeno da Percepção. Segundo esta teoria o que acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece na retina. A excitação cerebral não se dá por pontos isolados, mas por extensão. A primeira sensação já é de forma, global e unificada. Segundo a Gestalt, existem quatro princípios a ter em conta: a percepção dos objetos e formas; a tendência à estruturação; a segregação figura-fundo; a pregnância ou boa forma; e a constância perceptiva. O postulado da Gestalt pode ser definido sendo todo processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, no qual está estreitamente relacionada com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral. A hipótese da Gestalt para explicar a origem dessas forças integradoras é atribuir ao sistema nervoso central um dinamismo autorregulador que, a procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados. Diante do exposto acima, este trabalho tem como objetivo expor a contribuição que a Gestalt deu a Psicologia e sua influência na percepção visual, bem como mostrar as críticas que essa teoria sofreu por outros estudiosos. 3 INFLUÊNCIAS ANTECEDENTES À PSIOLOGIA DA GESTALT Assim como ocorre com todos os movimentos, a Gestalt também tem seus antecessores históricos. O seu foco na unidade da percepção pode ser encontrado na obra do filósofo alemão Immanuel Kant (1724 -1824) que foi um homem simples onde dominou o pensamento filosófico por mais de uma geração, mesmo sendo menor a contribuição em comparação a filosofia. Kant teve grande influência na psicologia, pois deu valor na unidade de um ato perceptivo. Kant afirmou que ao percebermos o que chamamos de objetos, deparamos com estados mentais, que podem parecer compostos de pedaços de fragmentos, isso nada mais são, segundo ele, elementos sensoriais que os empiristas e associacionistas britânicos estavam se ocupando. Os elementos são organizados de uma forma significativamente a priori e não de forma onde é um processo mecânico de associação. A mente quando está no processo de percepção possui um processo de formação no qual a experiência é unitária. A escola Britânica defendia que a percepção era uma impressão ou combinação dos elementos sensoriais, mas Kant não estava de acordo com esse pensamento, acreditando que havia uma organização ativa dos elementos em uma experiência coerente, ou seja, de uma maneira organizada a nossa mente, sendo que possibilita conferir o material bruto da percepção. Segundo Kant, algumas formas que a mente vai impondo experiências, também são inatas, sendo intrínsecas a nossa personalidade, sem que tenha influência externa que as crie ou influencie. Outro psicólogo importante foi Franz Brentano (1838 -1917) da Universidade de Viena, que possuía uma linha contrária a de Wundt. Por sua vez defendia o conteúdo da experiência consciente, se opondo pelo fato de achar a teoria “Wundtiana” muito artificial. Franz propôs que a psicologia estudasse o processo ou ato de experiência, sendo assim um dos precursores da psicologia da Gestalt. Ernst Mach (1839 -1916) era um professor de física na Universidade de Praga, sendo o responsável por uma influência mais direcionada para a teoria da Gestalt. Ele defendia que a percepção sendo visual ou auditiva de um determinado objeto não sofre mudanças, mesmo que mudemos a nossa forma de orientação espacial sobre ele. Essas ideias de Mach acabaram sofrendo um aprimoramento por meio de Cristian Von Ehrenfels (1859 – 1932), que trabalhava em Viena e Graz, no qual 4 acreditava que existiam mais qualidades através das experiências, e que não podiam ser explicadas somente pela sensação. Colocou o nome dessas qualidades da Gestalt como qualidades configuracionais sendo uma percepção que vai além de uma sensação individual. Tanto Mach e Ehrenfels seguiam acreditando no que futuramente seria a psicologia da Gestalt, porém ambos acabaram saindo da linha de raciocínio, onde, ao invés de ficarem contra o elementarismo, como aconteceu com os gestaltistas, defendiam algumas ideias de gestalt, porém não as aplicavam em sua totalidade. Segundo Max Wertheimeir, Ehrenfels, mesmo com sua contrariedade parcial, ainda assim foi um grande propulsor no movimento da gestalt, pois veio da obra dele um dos impulsos mais importantes para esta teoria. Wiliiam James foi também um incentivador da Gestalt. Era contra o elementarismo psicológico, defendia os elementos da consciência abstrações artificiais, e afirmava que nós enxergamos os objetos como um todo e não apenas como sensações. O movimento fenomenológico na psicologia e filosofia alemãs também fizeram parte de uma influência antecedente, porém, metodologicamente a fenomenologia se utiliza de uma maneira que eles descrevem a experiência de forma imparcial, no qual não são analisadas nos elementos ou de maneira artificial, utilizando da visão mais simples que traz o senso comum, caracterizando um relato por um individuo não treinado. Na Universidade do Gottingen, localizada na Alemanha no período de 1909 e 1915, alguns fenomenológicos, entre eles, Erich R Jaensch, David Katz e Edgar Rubin, começaram a realizar muitas pesquisas, resultando em um aprimoramento do movimento da Gestalt. Houve também a influência de Zeitgeist (sendo a parte mais intelectual da física). Com o passar do tempo, os físicos reconheceram e deixaram de ser tão atomistas, passando a aceitar a noção do campo de força, sendo exemplo disso a nova direção do magnetismo, ou seja, aceitaram a formação de novas estruturas e não só a soma de efeitos nos elementos. Toda a mudança que estava ocorrendo na psicologia, devido a visão da Gesltat, fez com que houvesse uma nova reflexão nas mudanças da física. Wolfgang Kohler era formado em física e havia estudado com Max Planck que era considerado um arquiteto da física moderna. 5 Kohler disse que, devido as influências de Max, notou que havia certo vínculo da física dos campos com a linha da Gestalt, sendo assim, enxergava na física que a cada dia havia uma relutância em tratar os elementos como átomos ou moléculas, sendo assim havia uma tendência a se concentrar em algo mais amplo. Segundo Schultz e Schultz (1992, p. 298), “a psicologia da Gestalt se tornou uma espécie de aplicação da física dos campos a partes essenciais da psicologia”. Já John B.Watson, o fundador do comportamentalismo, em sua linhas demonstrava não ter o conhecimento referente a nova física que havia surgido, pois continuou a desenvolver, na psicologia, suas abordagens mais reducionistas, mais direcionada a concentrar os elementos do comportamento, o que demonstrava proximidade aos princípios da antiga física atomística. A FUNDAÇÃO DA PSICOLOGIA DA GESTALT Max Wertheimer (1880-1943) Foi um competente psicólogo checo que ajudou a fundar a Psicologia da Gestalt juntamente com Kurt Koffka e Wolfgang Kohler. Nascido em família judaica no dia 15 de abril de 1880 em Praga e quando criança pensava em ser músico chegando a aprender a tocar violino. Em 1900 ele começa a estudar direito na Universidade Charles de Praga. Logo após um ano, ele desiste do direito migrando para a psicologia e filosofia na Friedrich Wilhelm University de Berlin, sob a tutela de Carl Stumpf, famoso por suas contribuições para a psicologia da música. Em 1905 ele recebeu o seu doutorado, sendo o tema da sua dissertação “Tatbestandsdiagnostik”. Essa tese trata-se de uma pesquisa acerca de detector de mentiras que funcionava por meio do emprego de método de associação de palavras. Em 1910, Wertheimer interessou-se pela percepção do movimento. Com a ajuda de estroboscópio descobre que, iluminando duas linhas por um breve período de tempo se tem a sensação de ver apenas uma linha. Esse fenômeno foi chamado de “Phi”. Wertheimer era o mais velho dos três primeiros psicólogos da Gestalt e o líder intelectual do movimento. Ele produziu importantes artigos sobre o pensamento criativo e sobre agrupamento perceptivo. Em 1921, os três colegas, sob a tutela de Kurt Goldstein e Hans Gruhle, fundaram a revista Psychologische Forschung (Pesquisa Psicológica) que se tornou 6 o órgão oficial da escola Gestalt. Foram publicados vinte e dois volumes até a mesma ser suspensa pelo regime nazista em 1938. Sua publicação foi retomada em 1949. O estudioso fazia parte do primeiro grupo de estudiosos refugiados a fugir da Alemanha nazista chegando em Nova York em 1933. Foi membro universitário da Nova Escola de Pesquisa Social na cidade americana em que estava trabalhando como professor, onde passou seus últimos anos de vida. Aos 63 anos ele falece em New Rochelle no dia 12 de outubro de 1943, deixando o escrito “Productive Thinking” publicado postumamente. Kurt Koffka (1886-1941) Koffka foi considerado o mais criativo dos fundadores da Gestalt. Nascido em 18 de março de 1886, estudou na Universidade Berlin sua cidade natal. Estudou psicologia do Carl Stumpf obtendo Ph.D. em 1909. No ano seguinte, começa a se unir com Wertheimer e Kohler, na Universidade de Giessen que ficava a uns sessenta quilômetros de Grankfurt onde ficou até 1924. Durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhou com pacientes lesionados cerebrais numa clinica psiquiátrica. Logo após a Primeira Guerra Mundial, percebendo que os psicólogos americanos estavam começando a tomar conhecimento da psicologia da Gestalt, escreveu um artigo para a revista americana “Psychological Bulletin” com o titulo de “Perception an introduction to the Gestalt-Theorie (A percepção: uma introdução à teoria Gestalt)”. O estudioso apresentava os conceitos básicos da escola e os resultados bem como as implicações de suas copiosas pesquisas. Esse artigo foi considerado importante como primeira exposição formal da revolução da Gestalt aos psicólogos americanos, porém o artigo pode ter sido mal interpretado somente pelo título: “A percepção”. Esse mal entendido existe até hoje, pois os psicólogos americanos acreditaram que a psicologia da Gestalt trabalhava apenas com a percepção não tendo, portanto, relevância para outras áreas da psicologia. Na verdade, a psicologia da Gestalt tinha uma preocupação mais ampla com problemas do pensamento e da aprendizagem: O principal motivo pelo qual os primeiros psicólogos da Gestalt concentraram suas publicações sistemáticas na percepção foi o Zeitgeist: a psicologia de Wundt, contra a qual 7 se rebeleram os gestaltistas, obtivera boa parte do seu apoio de estudos sobre a sensação e percepção, razão por que os psicólogos da Gestalt escolheram a percepção como arena a fim de atacar Wundt em sua própria fortaleza (Michael Wertheimer, 1979, p. 134), Koffka em 1921, publicou “The growth of the mind (O Desenvolvimento da Mente)”. Esse livro trata sobre a psicologia infantil e foi um sucesso na Alemanha e nos Estados Unidos. Em 1927, foi nomeado professor do Smith College, de Northampton, Massachusetts onde ficou até sua morte em 22 de novembro de 1941. Em 1935, publicou “Princípios de Psicologia da Gestalt”, livro considerado extremamente de difícil entendimento que não veio a ter o tratamento definitivo da psicologia da Gestalt como ele pretendia. Wolfgang Kohler (1887-1967) Psicólogo alemão e o mais jovem dos três, era o porta voz do movimento. Nascido em 21 de janeiro de 1887 em Tallin, na Estônia, estudou na Universidade de Berlin recebendo seu doutorado sob a orientação de Carl Stumpf em 1909. Deu aulas na Universidade de Frankfurt tendo chegado pouco antes de Wertheimer e do seu estroboscópio de brinquedo. Em 1913, convidado pela Academia Prussiana de Ciência, Kohler fez uma viagem até Tenerife nas Ilhas Canárias na costa noroeste da África para estudar os chimpanzés. Registrou seu trabalho no volume The Mentalist of Apes (1917) que consistiu num trabalho que deu origem a uma radical revisão na teoria da aprendizagem. Seus livros, escritos com muita precisão, tornaram-se obras definitivas sobre vários aspectos da psicologia da Gestalt. Podemos citar as obras: “Psysical Gestalt in Rest and Stationary States” (1920) na qual empreendia uma tentativa de determinar a relação dos processos físicos com a percepção. “Static and Stacionary Physycak Gestalts” (1920) onde o estudioso sugere que a teoria da Gestalt consiste numa lei geral da natureza onde é possível ser amplamente aplicadas em todas as ciências e publicou também a “Gestalt Psychology” (1929) que é uma descrição completa do movimento da Gestalt. Por motivos de divergências com o governo, deixou a Alemanha em 1935 e depois de chegar nos Estados Unidos, Kohler lecionou na Swarthmore College e editou a revista gestáltica “Psychological Research”. 8 Em 1956 recebeu o Prêmio de Destaque pela Contribuição Cientifica da APA, órgão que em 1959 o elegeu como seu presidente. Kohler morreu em 11 de junho de 1967 em Enfield. O FENÔMENO PHI Em 1910 surge um movimento formal conhecido como Psicologia da Gestalt, através de uma pesquisa realizada por Max Wertheimer. Durante as férias, quando Wertheimer viajava de trem, o mesmo teve a idéia de fazer uma experiência para visualizar um movimento quando ele não estivesse efetivamente ocorrendo. No meio da viagem, ele abandona seus planos inicialmente traçados para férias e resolve comprar um estroboscópio de brinquedo para verificar as sensações que ele proporcionava. Mais tarde, Wetheimer consegue fazer pesquisas mais formais na Universidade de Frankfurt. Nesse período, dois psicólogos que já tinham sido alunos na Universidade de Berlim, Kurt Koffka e Wolfgang Kohler, também estavam em Frankfurt e acabaram se engajando em uma cruzada comum. A pesquisa de Wertheimer envolvia a percepção do movimento aparente, ou seja, a percepção do movimento quando nenhum movimento físico real tinha acontecido. O estudioso se referia ao fenômeno como “a impressão do movimento”. Utilizando de um taquistocópio, Wrtheimer projetou luz por duas ranhuras, uma na vertical e a outra a vinte ou trintagraus da vertical. Se a luz era mostrada primeiramente por uma ranhura e depois pela outra, tendo um intervalo meio longo (mais de 200 milissegundos), o individuo via surgir duas luzes sucessivas, sendo a primeira luz em uma ranhura e então luz na outra. Quando o intervalo entre as luzes era menor, o individuo via duas luzes contínuas. Quando o intervalo era equilibrado (cerca de 60 milissegundos) entre as luzes, o individuo via uma única linha de luz que parecia mover – se de uma ranhura para a outra e na direção inversa. Na ocasião, essa descoberta até poderia ser trivial, pois os cientistas já conheciam esse fenômeno, porém de acordo com a posição então prevalecente da psicologia de Wundt, toda experiência consciente poderia ser analisada em seus elementos sensoriais. Com base nisso, algumas questões foram levantadas, dentre elas: é possível a percepção do movimento aparente ser explicada em termos de somatório de elementos sensoriais individuais considerando-as apenas duas ranhuras estacionárias de luz? Um estimulo estacionário poderia ser acrescentado a 9 outro para produzir uma sensação de movimento? Para Wertheimer, esse era o ponto brilhante, pois o fenômeno desafiava o sistema Wundtiano. Na época, como a psicologia era um campo bastante tradicional, Wertheimer não conseguia explicar de maneira simples o fenômeno que estava surgindo de acordo com seus experimentos. Esse fenômeno foi nomeado pelo estudioso sendo o “fenômeno Phi” que consistia no fenômeno verificado no laboratório. Ele acreditava que o fenômeno era tão fundamental quanto uma sensação, mas que ao mesmo tempo era diferente de uma sensação ou de um grupo delas. O Phi existia como ele era percebido e não era possível reduzi-lo a nada mais simples. A introspecção do estímulo para Wundt produz apenas duas linhas de luz, porém independente do tipo de introspecção que o observador fizesse dos dois feixes de luz, persistia apenas uma única linha de movimento e a tentativa de analisar sempre fracassava. Qualquer experiência que consistisse no movimento aparente de feixe de uma fenda a outra era independente da soma das partes (as duas linhas fixas). Com isso, a psicologia associacionista e elementarista não foram capazes de sustentar seu ponto de vista. Os resultados das pesquisas foram publicados por Wertheimer em 1912 no artigo chamado “Experimental studies of perception of moviment” (Estudos experimentais de percepção do movimento) que foi considerado o marco formal da escola de pensamento da psicologia da Gestalt. A NATUREZA DA REVOLTA DA GESTALT As idéias dos psicólogos gestaltistas iam contra grande parte da tradição acadêmica da psicologia alemã. O comportamentalismo nos Estados Unidos não se constituiu numa revolta tão imediata contra Wundt e contra o estruturalismo de Titchener, pois o funcionalismo já provocara básicas mudanças na psicologia americana. A revolta gestáltica na Alemanha, não contou com os efeitos assim moderados e as declarações dos psicólogos da Gestalt eram consideradas como um tipo de ensino que se afastava dos ensinamentos normais aos olhos da tradição alemã. Os pioneiros do movimento perceberam que estavam atacando uma força rígida e poderosa, atingindo os fundamentos da psicologia tal como então era definida. Assim, como a maioria dos revolucionários, os líderes da escola de 10 pensamento da Gestalt queriam uma revisão completa da velha ordem, sendo praticamente comparados a missionários intelectuais difundindo um novo evangelho. Estávamos eufóricos com o que descobrimos e mais ainda com a perspectiva de descobrir mais fatos reveladores. Além disso, não era apenas a novidade estimulante do nosso empreendimento que nos impressionava. Havia também uma grande sensação de alivio – como se estivéssemos escapando de uma prisão. A prisão era a psicologia tal como ensinada nas universidades quando ainda erámos alunos. (Kohler, 1959, p. 285) Após o estudo da percepção do movimento aparente, os gestaltistas começaram a se dedicar a outro fenômeno perceptual: a experiência da constância perceptual. Ela produziu um grande apoio a suas visões. Uma breve analogia: quando o individuo para em frente de uma janela, uma imagem retangular é projetada em sua retina, mas quando ele para de lado, a imagem da retina transforma-se em um trapezoide, é claro que ele continua a perceber a janela no formato retangular, ou seja, a percepção sobre a janela permanece constante, mas a informação sensorial (imagem projetada na retina) muda. O mesmo acontece com a constância do brilho e do tamanho em que os elementos sensoriais mudam, mas a percepção continua. Nesses casos, assim como no movimento aparente, a experiência perceptual é dotada da qualidade da totalidade ou da integridade não encontrada em nenhuma parte componente. Desta forma, existe então uma diferença entre o caráter da percepção concreta e o da estimulação sensorial. A percepção é um todo, uma Gestalt e toda tentativa de analisá-la ou reduzi-la a elementos provoca a sua destruição. A palavra Gestalt criou dificuldades porque não indica com clareza, ao contrário do comportamentalismo ou funcionalismo, o que o movimenta representa. Além disso, não existe significado equivalente na língua inglesa, embora hoje o termo já faça parte da linguagem da psicologia. Os termos equivalentes mais comuns são: forma, formato e configuração. Em seu livro Gestalt Psychology (1929), Kohler cita que a palavra Gestalt é usada de duas maneiras em alemão: um emprego denota a forma como a propriedade dos objetos, ou seja, Gestalt refere-se à propriedades gerais expressas em termos como angular ou simétrico e descreve as características como a forma 11 triangular de uma figura geométrica. A segunda forma denota a unidade concreta que tem como atributo uma forma ou formato especifico, ou seja, a palavra refere-se a triângulos e não à noção de formato triangular da figura. O termo Gestalt não se limita apenas ao campo visual nem ao campo sensorial total. Segundo a mais geral definição funcional do termo, os processos da aprendizagem, da recordação, dos impulsos, da atitude emocional, do pensamento, da ação, etc. podem ter de ser incluídos. (Kohler, 1947, p. 178 e 179) É neste sentido mais amplo da palavra que os psicólogos gestaltistas tentaram lidar com todo o campo da psicologia. FATORES OU PRINCÍPIOS DA GESTALT NA PERCEPÇÃO O campo psicológico é entendido como um campo de forças que atua na percepção, nos levando a procurar a boa forma. Figurativamente podemos relacioná-lo a um campo magnético criado por um imã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas. Esse processo ocorre de acordo com os seguintes princípios que também são conhecidos como fatores ou leis. • Proximidade: estabelece que os elementos que se encontram próximos espacialmente e temporalmente tendem a ser agrupados perceptivamente num conjunto, mesmo que não possuam grande similaridade entre si. • Semelhança: quando ocorrem elementos de várias classes ou tipos num determinado campo perceptivo, verifica-se uma tendência para construir agrupamentos baseados na semelhança entre eles. • Fechamento: elementos dispostos de maneira a forma um contorno fechado ou formas incompletas tendem a ganhar maior grau de regularidade ou estabilidade, podendo a vir ganhar unidade. Isto refere-se à tendência da percepção humana em perceber formas completas. • Simetria: elementos simétricos são mais facilmente agrupados em conjuntos que os não simétricos. • Continuidade: traduz-se como a qualidade que determina a facilidade com que percepcionamos as formas como as figuras inscritasnum fundo. Quando 12 apresentam figuras ou objetos incompletos a tendência e perceber como completos. O individuo percebe de uma forma mais fácil, as figuras de boas formas, ou seja, simples, regulares, simétricos e equilibrados. • Pregnância: o cérebro tende a perceber mais rápido e fácil as formas organizadas. A pregnância de uma forma pode ser medida de acordo com a sua: legibilidade, compreensão e máximo de clareza possível. Sua utilização pode ser aplicada estrategicamente como recurso de narrativa para controlar a leitura. A PERCEPÇÃO A percepção é a imagem mental que se forma com a ajuda das experiências e das necessidades e o resultado de um processo de seleção é a interpretação das sensações. Ela é considerada como o ponto inicial e um dos temas centrais dessa teoria. Os experimentos com a percepção levaram os geltaltistas ao questionamento da psicologia associacionista. O behaviorismo, dentro da sua preocupação com a objetividade, estuda o comportamento através da relação estímulo-resposta, procurando isolar um estimulo unitário que corresponderia a uma dada resposta e desprezando os conteúdos da consciência, pela impossibilidade de controlar cientificamente essas variáveis. A Gestalt entende que é de grande importância a disposição em que são apresentados à percepção os elementos unitários que compõe o todo. Uma de suas formulações bastante conhecidas é a de que “o todo é diferente da soma das partes”, ou seja, a percepção que temos de um todo não é resultado de um simples processo de adição das partes que o compõem. A indissociabilidade da parte em relação ao todo, permite que quando vemos fragmentos de um objeto ocorra uma tendência à restauração do equilíbrio da forma, proporcionando assim o entendimento do que foi percebido. Esse fenômeno perceptivo é norteado pela busca do fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma figura ou objeto. Rudolf Arnheim dá um bom exemplo da tendência à restauração do equilíbrio na relação parte-todo: De que modo o sentido da visão se apodera da forma? Nenhuma pessoa dotada de um sistema nervoso normal apreende a forma alinhavando os retalhos da cópia de suas 13 partes (...) o sentido normal da visão apreende sempre um padrão global. (Arnheim, 1980) Os fenômenos perceptivos que encontramos nas figuras (ver anexo) são explicados pelos psicólogos da Gestalt como sendo regidos pela lei básica da percepção visual: qualquer padrão de estimulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas permitem. A partir desses fenômenos da percepção, a Gestalt procura explicar como chegamos a compreender aquilo que percebemos. Se os elementos percebidos não apresentarem equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e regularidade, não será possível alcançar a boa forma. O elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a tendência à boa-frma conduza ao entendimento. Essa formulação representa uma das consequências pedagógicas da psicologia da Gestalt. O exemplo da figura 7 (ver anexos) ilustra a noção de boa-forma. Temos a convicção de que o segmento de reta A é menor que o segmento da reta B, mas a realidade é que ambos tem o mesmo comprimento, e portanto estamos diante de uma ilusão de ótica provocada por um efeito de campo. Para tirar qualquer dúvida, podemos medir as retas ou desenhar inicialmente duas retas paralelas com o mesmo comprimento e posteriormente acrescentar os demais traços que constituem a figura. É importante destacar que depois de nos certificarmos de que se trata de uma ilusão, mesmo assim continuando sendo iludidos. A maneira como estão distribuídos os elementos que compõem as duas figuras não resultam em uma configuração com equilíbrio, simetria, estabilidade, regularidade e simplicidade suficientes para garantir a boa forma, ou seja, nesse caso as leis que comandam o funcionamento da percepção nos impedem de perceber a realidade tal qual ela é. Em outros casos, mais favoráveis são essas mesmas leis perceptivas que nos permitem compreender a realidade. A tendência da percepção em buscar a boa forma permitirá a relação figura-fundo. Quanto mais clara estiver a forma (boa forma), mais clara será a separação entre figura e fundo. Quando isso não ocorre, torna-se difícil distinguir o que é figura e o que é fundo, como é o caso da figura 8 (ver anexos). Nessa figura ambígua o que é figura em um momento torna-se fundo quando logo a seguir centramos o foco da percepção no 14 outro aspecto. É importante destacar que não é possível ver a taça e os perfis ao mesmo tempo. A PERCEPÇÃO VISUAL A visão é a percepção de raios luminosos pelo sistema visual. Esta é a forma de percepção mais estudada pela psicologia da percepção. A maioria dos princípios gerais da percepção foram desenvolvidos a partir de teorias especificamente elaboradas para a percepção visual. A percepção visual compreende: percepção das formas, percepção de faces e emoções associadas, percepção do espaço (ambiente), percepção do tempo, percepção do tempo e espaço (relatividade), percepção de profundidade, percepção de orientação e movimento, percepção de ritmo, percepção das cores e percepção de intensidade luminosa (contraste). A interpretação de uma informação é baseada no repertório cultural, formação educacional, comportamento social e experiências vividas pelo receptor. Por esta razão, é comum que cada indivíduo tenha uma determinada leitura dependendo de sua “bagagem de vida”. Como a maior parte da comunicação envolve experiências e conceitos, o receptor interpretará da forma como seu cérebro relaciona a ideia com a forma: objeto (coisas materiais e tangíveis, que possam ser vistas ou tocadas); experiências (situações vividas - duas pessoas tem experiências comuns ao mesmo objeto, mas podem ter sentimentos diferentes sobre ele); conceitos (ideias, pensamentos, crenças, valores e representações do mundo. Normalmente confundido com a própria realidade). INSIGHT A aprendizagem é vista pela psicologia da Gestalt como uma relação entre a parte e o todo, onde o todo tem um importante papel na compreensão do objeto ou figura percebida, enquanto as teorias de S – R (estimulo e resultado) acreditam em que o individuo aprende estabelecendo relações dos objetos mais simples para os mais complexos. Dando um simples exemplo, é possível que uma criança de 3 anos que não sabe ler, identificar a logomarca de um refrigerante e nomeá-lo corretamente. Isso se dá pelo fato dela separar a palavra na sua totalidade, distinguindo a figura 15 (palavra) e o fundo. Neste caso, ela não aprendeu a ler a palavra juntando as letras, como é ensinado, mas sim, dando significado ao todo. As situações vividas pelos indivíduos nem sempre são percebidas apresentam-se de forma tão clara que permite a percepção imediata. Essas situações dificultam o processo de aprendizagem, pois não permitem uma clara definição da figura-fundo, impossibilitando a relação parte/todo. É comum o individuo ao olhar uma figura que não tem sentido, de repente, sem que ele tenha feito algum tipo de esforço especial para isso, a relação figura- fundo elucida-se. A esse fenômeno da Gestalt, dá-se o nome de insight. O termo indica uma rápida compreensão, enquanto há uma espécie de entendimento interno. CONTRIBUIÇÕES DA GESTALT Tal como os outros movimentos que se opuseram as concepções mais antigas, a Gestalt teve um efetivo revigorante e estimulante sobre a psicologia como um todo. O ponto de vista gestaltista influenciou as áreas da percepção e da aprendizagem e continua a estimular interesse, ao contrário do que aconteceu no behaviorismo. Sua influência vista comopositiva na percepção visual faz com que o individuo tenha uma interpretação rápida, facilita que aconteça o reconhecimento à distância e memorização e há uma possibilidade ter representação dos significados. CRÍTICAS À TEORIA GESTALT As críticas à posição gestaltica incluem a acusação de que os psicólogos da Gestalt tentaram resolver problemas transformando-os em postulados e de nunca terem explicado devidamente as leis do seu sistema. Para muitos psicólogos, os princípios gestaltistas eram vagos e os conceitos e termos básicos não foram definidos com rigor suficiente para serem cientificamente significativos. Outros críticos referiram-se ao fato da psicologia da Gestalt se ocupar demasiado da teoria em detrimento da pesquisa experimental e dos dados empíricos comprobatórios. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS A psicologia da Gestalt teve sua origem em Frankfurt, Alemanha entre 1910 e 1912. Os três estudiosos, Wertheimer, Kohler e Koffka elaboraram a sua posição básica depois de um exame de experiência do movimento aparente, conhecida como fenômeno phi. A sua psicologia era mais fenomenológica do que a de Wundt e eles aceitavam a introspecção, mas alteraram seu caráter. Uma das suas objeções básicas à antiga psicologia referia-se ao artificialismo da análise. As gestaltistas desagradavam a busca de elementos da experiência e assinalavam que a simples combinação de elementos não é adequada para produzir características do todo. Assim como na física e na psicologia, o todo requer leis próprias e a tarefa da psicologia é justamente descobrir essas leis. Os psicólogos da Gestalt decidiram aplicar seus pontos de vista aos campos da percepção e da aprendizagem. Na percepção, formularam as leis da organização dando uma grande contribuição a percepção visual, fazendo com que o individuo tenha a possibilidade de ter uma interpretação rápida do que se está vendo também instigando na memorização bem como facilitando assim o reconhecimento de situações, objetos a certa distância. Assim como em qualquer outra teoria, a Gestalt sofreu críticas de outros estudiosos, mas acima de tudo ela deu mais contribuições que superaram tais críticas e com certeza influenciam até hoje não só o campo da psicologia, mas diversas outras áreas, fazendo assim com que o desenvolvimento do ser humano aumenta cada vez mais. 17 ANEXOS Figura 1 – Lei da Semelhança Figura 2 – Lei da Proximidade Figura 3 – Lei do Fechamento Figura 4 – Lei da Simetria 18 Figura 5 – Lei da Continuidade Figura 6 – Lei da Pregnância Figura 7 – Retas A e B (noções de boa-forma) Figura 8 – relação figura-fundo 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira e EDUSP, 1980. BOCK, Ana M. Bahia; Odair Furtado e Maria de Lourdes Trassi Teixeira. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. P. 59-69. CARPIGIANI, Berenice. Psicologia: das raízes aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Cengage Learning, 2010. P. 89-96 DAVIDOFF, L. L. Introdução a Psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2008. P. 164-168 KOHLER, Wolfgang. Psicologia da Gestalt. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. MARX, Melvin H.; William A. Hillix. Sistemas e Teorias em Psicologia.São Paulo: Cultrix, 1973. P. 279-310. SCHULTZ, Duane P.; Sydney Ellen Schultz. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 1992. P. 294-317 WEITEN, Wayne. Psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage Learning, 2002. P. 105-109. WERTHEIMER, Michael. A Brief history of psychology. Stamford: Thomsom Learning, 1979.
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