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Teatro no Maranhão José Jansen

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JOSÉ JANSEN
~~AT1?O, NO
MARANH~.
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JOSÉ JANSEN
It
TEATRO
NO
MARANHAO
(ATÉ O FIM DO SÉCULO XIX)
RIO DE JANEIRO
Ao Governador
Pedro Neiva de Santana
Homenagem
do
Autor
Do mesmo autor:
"A Máscara no Culto, no Teatro e na Tradição"
(Editado pelo Serviço de Documentação, do Ministé-
rio da Educação e Saúde, coleção Cadernos de
Cultura, N.o 1 - 1952) .
"Apolônia Pinto e seu Tempo" (Coleção Dionysos, do
Serviço Nacional de Teatro - 1953) .
"João Colás" (em revista "Dionysos", N.o 10, órgão do
Serviço Nacional de Teatro, do Ministério da Educa-
ção e Cultura - 1960) .
"Caract.erização, Histórico e Importância", (edição da
Gráfica Haroldo D'Alvear Gomes, Rio, 1968).
"Subsídios Para a História das Telecomunicações, no
Brasil e no Mundo";
"Introdução ao Nobiliário Maranhense"
(em "Anais do Museu Histórico Nacional", Vol. XXI,
1969) .
"Ninguém melhor que nós está em circunstân-
cia de avaliar pela experiência própria quanto custa
ser exato em obra desta ordem e de tamanho
fôleg'o, nas quais o escritor, impossibilitado de exa-
minar tudo por si, tem necessariamente de socorrer-
se dos trabalhos de outros, tornando-se, às vezes,
responsá vel dos descuidos alheios."
INOCÊNCIO F. DA SILVA, (in "Arquivo Pitores-
co", tomo XI, pág. 242).
* * *
"Há os que criticam e os que destroem; sê tu
dos que servem e constroem".
GABRIELA MISTRAL
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,
•
TEATRO NO MARANHÃO
PROLOGO
Há muito, observando que só fragmentada e
esporadicamente se tem falado sobre o teatro no
Maranhão e verificando a falta de uma narração con-
tinuada dos fatos para sua história (completa ou
não), resolvemos pôr em ordem os subsidios que nos
Mm sido possivel colher. Sem pretendermos nos pro-
mover a dono do assunto.
Embora adredemente sabendo que escasseiam
fontes para documentação, tomamos. a iniciativa de
reunir e coordenar elementos para uma HISTORIA
DO TEATRO NO MARANHÃO.
O fato de verificar que não há obra fundamental
animou-nos a registrar esta pequena parcela, na
esperança de ser útil a maiores institutos de pesqui-
sa voltados para a historiografia interpretativa do
desenvolvimento cultural no País.
Esta modesta contribuição biparte-se. No primei-
ro períOdo serão citados f(/)tos relativos às primeiras
manifestações de teatro no Maranhão até o final do
século XIX. A segunda parte, se o tempo nos permi-
tir, conterá o relativo ao século XX, até nossos dias.
Cedo interessado nas atividades cênicas de São
Luís, temos reminiscências pessoais de alguns jatos
que constituem, de certo modo, um depoimento de
quem as assistiu, para serem reunidas às de fatos
mais remotos e posteriores e assim, uma contribui-
ção. Para certeza de que as dificuldades não são
poucas, basta lembrar a precariedade dos arquivos
e que a primeira imprensa do Maranhão foi única
até 1830.
Até 1847, os jornais surgidos eram omissos em
assuntos de arte; sua matéria versava quase somen-
te sobre poWica e atos governamentais não sendo
as outras fontes informativas, mais pródigas.
Procuramos aqui abrir na história maranhense
um caminho ainda não transitado convenientemen-
te e sobre o qual de futuro outros trarão achegas,
quando se descubram novas fontes informativas
porque, por sua continuidade, o trabalho de his'toriar
deve ser retomado sempre, para acréscimos, o que
demonstra ser obra para sucessivas gerações, dando
cada uma sua contribuição, de forma que, na
esteira do tempo, os fatos marcantes estejam devi-
damente registrados, servindo de ensinamentos e
inspirando novas diretrizes para o futuro.
Da fase embrionária do teatro no Maranhão
pouco se sabe; somente a partir de 21 de junho de
1817, os fatos se delineiam com alguma clareza, mui-
to embora, para certos periodos, a documentação seja
quase nenhuma.
Ora valendo-nos, de velhas crônicas ora de infor-
mação de al'gum itinerante, ora de raros livros e de
alguns jornais como também de outras fontes váli-
das que a pesquisa aponta, jazendo-nos "respirar"
o ambiente social do tempo chegaremos, por fim, a
periodos mais próximos de nós, oferecendo melhores
elementos.
Essa escassez aliás não nos é peculiar porque
de um modo. geral, é idêntica em todo o Pais quandd
os historiadores se voltam para o assunto t~atro ou
melhor, do espetáculo em geral.
É sabido ser o teatro uma força social reflexo
do meio ambiente e, por isso, merecedor de atenção
no registro dos seus acontecimentos.
Havendo o que contar seria falta imperdoável
não reunir os apontamentos que -poderão servir
quando melhor se estudar o desenvolvimento social
da região.
Aos contumazes negadores áo teatro brasileiro,
encontramos. muitos argumentos em contrário por-
que, embora com senões, existiram e existem fatos a
serem arrolados, em cada região, para quando se
fizer o cômputo geral realtivo ao teatro em todo o
Brasil.
Como faz notar Galante de Souza (1) t'A Histó-
ria da Arte Dramática no Brasil não pode ser feita
exclusivamente à base da história do teatro no Rio
de Janeiro... . .. há épocas em que só o teatro da
Capital tem interesse para o historiador, outras há
em que a arte dramática nos Estados oferece real
importância para o estudo do todo."
Para a visão panorâmica ou sincrônica do nosso
teatro é necessário cada Estado da União preparar
a sua parte e, para trazer a contribuicão maranhen-
se, aqui reunimos, despretensiosamente, os subsidias
que consegui1nos reunir, os quais serão como o
parafuso anônimo na grande engrenagem mas, mui-
to embora, uma contribuição que talvez encontre
ressonância.
Levantem o pano, vai começar o espetáculo!
J.J.
(1) "O Teatro no Brasil", por J. Galante de Sousa.
fI
1
~
\
I
I
I
PRIMEIRO ATO
Na ordem cronológica, a informação mais remo-
ta que encontramos do que se possa ter como pri-
meira manifestação teatral no Maranhão nos diz
que em 1626, sob o governo de Antônio Muniz Bar-
reiros Filho, foram representados diálogos, ao ser
inaugurada a Igreja de Nossa Senhora da Luz. (2)
Esses diálogos foram compostos pelo padre Luiz Fi-
gueira, criador da primeira escola, de que se tem
noticia, destinada à instrução dos colonos portugue-
ses em terra maranhense e, mais tarde, pelo Alvará
de 25 de julho de 1638, foi incumbido da administra-
ção dos índios mas, antes de chegar a São Luís para
essa missão, morreu no Pará, vítima dos indios
Aruans.
(2) "Revista de Teatro", da SBAT, Ano XXXV, maio-
junho, 1956, n.a ::!91,em "A Correr do Tempo ... e
da pena", por Lopes Gonçalves.
É possivel que tenham sido promovidos outros
espetáculos como alhures se sabe ter havido, se-
gundo carta do Pe. Nóbrega que mandou escrever
o "Auto da Pregação Universal", para substituir
alguns abusos que faziam com os autos nas igrejas
(Serafim Leite, em "História da Companhia de
Jesus no Brasil", VaI. lI). Nada porém encontra-
mos de positivo, antes de 1626.
15
Registra a crônica que, pouco mais tarde, em
Alcântara, havia aulas de solfa. O jesuíta Thomaz
do Couto, nascido no Rio de Janeiro,(3) e que depois
tornou-se muito conhecido pelo norte do Brasil, prin-
cipalmente por sua operosidade no Pará e no Mara-
nhão, costumava exercitar seus discípulos, para a
boa prosódia, fazendo-os recitar poemas, declamar
orações, e até mesmo representar comédias, com o
que surpreendia a população.
Mais tarde representou-se no Maranhão o "AUTO
DE SÃO FRANCISCO XAVIER" levado à cena sob o
governo do capitão-general Antonio D'Albuquerque
Coelho Carvalho, o VELHO, no colégio dos jesuítas,
ano de 1668, cujo texto Galante de Souza supõe ter
sido o mesmo já apresentado na Bahia, em 16.20.
Sabe-se que, muito embora o Conselho Elesüi,s-
tico dos calvinistas não visse com bom; olhos o
teatro que acusavam de fonte de "escândalo",CI) o
CondeMauricio de Nassau contratou artistas fran-
ceses para darem espetáculos na "Nova Holanda".
No entanto, nesse sentido, durante a permanência dos
holandeses no Maranhão, nada encontramos.
Podemos ainda registrar que, no decorrer do
mesmo século, quando a cidade já contava 2.000
habitantes, representou-se uma comédia, na porta-
ria do convento de Nossa S.enhora das Mercês, a 20
de agosto de 1677, sob o governo de Pedro César de
Menezes.
O primeiro teatro no Maranhão data do governo
de Joaquim de Melo Povoa, certamente estimulado
(3) J. Galante de Sousa, op. cito
(4) "História Administrativa do Brasil", por João Al-
fredo Libânio Guedes e Joaquim Ribeiro, DASP,
1957.
16 Caj,ittio "ell era I, Pau/o .losé tia Sih1a Gallla (Barão de Bagé. go-
\'ertlOll o Marallhão de 1811 a 181(1).
l
\
"
. "lnlrJlIi() (;oJl{'a/'u('.\ /);flS (desenho existelltc 110 Albulll de Boulallgl'r,
cOllscnado no Instituto Hist"rico c C:cogr:'ifico Brasileiro). .'/ f,o/"m" 11 COIlÇ'II17'C" f)ill.\ (d,,'cn!Jo p"blicado CIl1 "Scll1a"a lIus .
trada". Rio d" Ja"eiro IH.XII.IH/;.i).
F"(J;~ri.,!.(). CUi/dh,r;O .)olJ!Jfls da CosIa (IH2~)-IH7,t) e 1\lal'garida Pi-
lIel/! C".IIII (Prima-dolllla da Compallhia Lírica de :\Iarillall~elli.
Ic:ra~o,; da Cok~;!<) d" .I0hll \\'ilsoll d:1 Cosia). '
,\fallll'" Od"ri.-" ,\lelldes (17~)()-II'(j-l), 'oaqllilll ,1/aria Se;Ta So/nill/IO
(18gl'-18;~I'); .'Ir/h"r Xa/lfllllillO Gllllçail/{'s I/<' .-/:1'1'0/0 (I l'r,j-I '101');
:/llll'.lio Tallcredo GOllça/l'es' ri" :/:evol" (11'57-1!11,1).
,\[ac!all/e Thierry (bailarina da Companhia ue operelas rrancesas, em
caricatura de " emana Ilustrada"); Grallde Herll/allll (prestidigita-
dor lIlulHliall1lel1le conhecido, no scu tcmpo); ArI hur C\'apolcão
(ramoso pianista português) (1843-1925).
M:tri~ da COllcciçào Sillger Fclul/i (1827-1867); Joaquill/ Augusto
Rlbclro de Sousa (1825-1873); Alltoll;'/Il i\[arqllclau.
JJÍJ TIfÓ'lTIf'I/
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li'IfJ.J<1J1/1IUJ, JobltnJr.
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Llli" Clilldido Fllrtado Coellio (IS!li-1900): Ellgêllia lllfallte da CIi.
1I111m (18:17-1879). (Retratos do ,\llIseu lIistórico i\'acional e da
Biblioteca Nacional).
Xi.,tn Ba li ia. (1841-1891); jolio Colli,. (185(i-I9~O); "}lolôllia pillto
.' I \1 Ii - . (ISfJ3.. 1!JOS).(1854-1!}:\7): Ellg"1I/o (,: , aga w{\,
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pelo mesmo espirito que ongmou o Alvará de 17 de
julho de 1771 que aconselhava o estabelecimento de
teatro público. Esse teatro, iniciado em 177{), estava
situado nas imediações da igrej a da Misericórdia,
no Largo do Paço e, mais tarde, foi destruido por
um incêndio.
Ser afim Leite, em sua "História da Companhia
de Jesus no Brasil", dá noticia sobre urna peça
"Concórdia", representada no Colégio dos Jesuitas
do Maranhão, em 1731, para celebrar as pazes feitas
com o governador Alexandre de Souza Freire, cujo
mandato foi de 1728 a 1732 e sabe-se que o padre
José Lopes, Vice-Provincial, edificou "com despesas
consideráveis, uma casa para melhor acomodar as
recreações religiosas".
Por esse tempo não havia "médico nem botica"
mas já se cuidava de primeiros passos para o teatro.
Num breve parêntesis esclarecemos aqui a deci-
são de deixar de parte os autos de festas populares
como Natal, Ano-Bom, Reis, Pastorinhas, São João,
Chegança, Boi e etc. que mais apropriadamente se-
rão apreciados quando se tratar do folclore.
O famoso missionário Gabriel Malagrida, cogno-
minado "Apóstolo do Maranhão", também foi autor
de peças sacras como "Vida e Conversão de Santo
Inácio",(5) tal como se fazia em outras missões je-
(5) Gabriel Malagrida nasceu na Itália, a 5-XII-1689
e morreu em Lisboa, condendo pela Inquisição;
em 1725, escreveu "Vida e Conversão de Santo
Inácio", peça à qual foi concedida licença para
representar na Igrej a do Colégio do Maranhão.
Escreveu mais "A Fidelidade de Leontina", "Santo
Adrião" e "Aman", conforme informa-nos Sera-
fim Leite, em "História da Companhia de Jesus
no Brasil", VoI. VIII.
Prillll'ira p;lgilla Inalltt~crita. d~1
pocsia de (;oJ)salvcs Dias.
lIlúsica dc .\J)[(lIlio Rayol para 17
suiticas, utílízou o teatro para seu objetivo cate-
quista, apresentando, sob forma cênica, os fatos do
evangelho de forma a colimar sua intenção, segundo
registrou o padre Mury.
Não eram só estas manifestações lúdico-religio-
sas que prendiam a atenção da cidade, vez por outra,
profissionais itinerantes exibiam como fosse possível
suas habílídades.
Há também noticia de apresentação de uma
comédia em latim, durante o século XVIII, intitulada
"Silentium Constans", de autoria do padre Jesuita
Jerônimo da Câmara. (5-n)
Em Portugal as desvairadas prodigalidades de
Dom João V dispersaram em magnificências estar-
recedoras os valores levados pelas naus que alí
chega vam da América poj ando riqueza.
Numa verdadeira mania de opulência tudo se
fazia para deslumbrar e dentre os muitos requintes,
os artifices mais hábeis executavam belos "cofissio-
nários de pau amarelo do Maranhão".
De tal modo aconteciam as coisas que o Desem-
bargador Brochado dizia que "Nunca Portugal se
vira mais rico; nunca de fato ele se encontrara tão
miserável. " (6)
A esse tempo a Rainha Maria Vitória, eximia
cultora da música, influia para que Lisboa tivesse
"a mais sublime orquestra que nenhum principe da
Europa teve", segundo a opinião de Gramosa. Inter-
ferindo no gosto musical da corte, estimulava assim
Dona Maria Vitória a predileção pelos espetáculos
de Belém.
(5-a) "Revista do Teatro", SBAT, número citado.
(6) "Ao Ouvido de Mme. X", por Júlio Dantas.
18
No reinado de Dom José o teatro lírico consu-
mia 40.000 libras, anualmente!
Diante de tais fatos os grandes do reino eram
acordes em que o teatro era realmente aconselhável
fator de cultura e passaram a pensar assim por
muito tempo, até mesmo depois daquele reinado, de
forma que, decorrendo dessa predileção da metró-
pole, chegou às nossas plagas de colônia o citado
Alvará de 17de julhode 1771 pelo qual se aconselhava
a construção de teatros públicos, ressaltando sua
conveniência por serem "Escola onde os povos apren-
dem as máximas sãs da politica, da moral, do amor
à pátria do valor do zelo e da fidelidade com que
devem servir aos soberanos."
Mas a Metrópole apenas se limitou a sugerir,
sem dar ou indicar meios materiais para o empre-
endimento, muito embora o governador fosse pres-
tigioso na política vigente.
A população, porém, ávida de diversão e estimu-
lada pelo recomendado naquele alvará, recrudesceu
seus anseios nesse sentido e procurou por vários
modos atender à recomendação da Metrópole ao
mesmo tempo que satisfazia suas aspirações.
Assim é que, conforme registra César Marques,
no correr do tempo, surgiram alguns teatros impro~
visados de duração efêmera: o do Largo do Palácio,
(atual Avenida Pedro lI), outro em face do Quartel
de Polícia, (atual Rua Herculano Parga), e um na
Praça da Hortaliça, (local onde está hoje o Mercado
Central) . (7)
(7) "Dicionário Histórico e Geográfico da Província
do Maranhão", por Augusto César Marques.
19
Tal como em outros quadrantes do Pais, no
Maranhão também o colonizador luso não esqueceu
a influência recebida na terra natal que, sob o
influxo do generalizado gosto pelo teatro, o teria
levado a apresentações de improvisados espetáculos
com participação de amadores e elencos ocasionais,
mesmo antes desses teatrinhos.
Aqui, é o "Semanário Maranhense" que nos
ajuda a divisar os fatos, afastando o véu que o tem-
po in terpõs .
Conta-nos que o cidadão português Eleutério
Lopes da Silva Varella, vindo de Lisboa, em 1815,
"por ser muito amante da arte dramática", formulou
planos de erguer um teatro regular em São Luis.
Não podendo sozinho fazer face a tão ousado
empreendimento, associou-se com Estevão Gonçalves
Braga para a realização da iniciativa e aforaram
um terreno do Convento de Nossa Senhora do Car-
mo.(8)
Desde o começo tiveram o estimulo e a ajuda
do governador, capitão-general Paulo José da Silva
Gama, que em Oficio de 3 de fevereiro de 1818 já
comunicava à Metrópole as dificuldades enfrenta-
das e as suas diligências, junto aos frades, no sen-
tido de separarem o dito terreno de seu cercado e
o aforarem para aquele fim.
O governador Paulo José da Silva Gama (futuro
Barão de Bagé), era homem afeiçoado pelo teatro e
~vidente prova dessa predileção é que, quando go-
vernou São Pedro do Rio Grande do Sul, também
(8) Construido em 1627, no local da antiga Capela de
Santa Bárbara, informa César Marques, op. cito
20
ali deu apreciável incentivo ao reerguimento da Casa
da ópera, justificando o conceito de ser "homem
sumamente fino, culto e amável", o que é confirma-
do ainda por sua intenção de ali fundar não só um
teatro como também um salão de bailes e festas e
ainda um clube de letras tão necessário a um núcleo
social onde a "civilização já era uma verdade",
conforme o dizer do croniRta gaúcho. (D)
Voltando à iniciativa idealizada por Varella: de
inicio o teatro foi planejado de forma a ter a frente
voltada para o Largo do Carmo, porém os frades
Carmelitas, considerando anti-religioso um teatro
próximo a um templo como a Igrej a de N. S. do
Carmo, recorreram às dificuldades cabiveis, isto é,
embargaram as obras.
Os financiadores vendo-se em face de tal impe-
dimento, apelaram para Os bons oficios do gover-
nador que já os vinha estimulando na iniciativa.
Silva Gama, diplomaticamente, utilizando o
prestigio da posição que ocupava, estabelece enten-
dimento com os frades, no sentido de demovê-Ios,
procurando superar o impedimento causado pelo
embargo, mas os religiosos mostravam-se irredutí-
veis no seu ponto de vista.
Depois das delongas que podemos imaginar esco-
lheu-se para árbitro, no caso, o Padre José Antonio
da Cruz Ferreira Tesinho que condenou os empresá-
(9) "Palco, Salão e Picadeiro", por Athos Damasceno.
Paulo José da Silva Gama foi o primeiro Barão
de Bagé, era Almirante da Real Armada e teve
o titulo de Barão a 26-1II-1821 e honras de gran-
deza a 22-1-1823.
21
rios a voltarem a frente do edificio para a Rua do
clol e assim foi feito.
Erá só dobrar-se a esquina.
Em 1815 tiveram início as obras e, pouco depois,
já se podia ver erguido o arcabouço para 66 camaro-
tes, em três ordens, e uma tribuna ao centro; mais
uma quarta ordem de torrinhas com um avarandado
no centro, e uma platéia, comportando 430 pessoas,
dividida em duas partes, a superior acomodando
130 pessoas e a geral para 300 espectadores.
Na parte interna, a caixa do teatro media 55
palmos de largura, 100 de fundo e 38 de altura fican-
do no fundo os camarins para artistas.
Registra a crônica que a 1.0 de dezembro do
ano seguinte o comendador Antonio José Meirelles,
desejando festejar à sua custa o aniversário da
independência de Portugal, conseguiu dar ali um
espetáculo gratuito, embora as obras não estivessem
concluídas.
Dois anos depois de iniciados os trabalhos de
edificação e por já estarem muito adiantados, em
fase de arremate, foi o teatro aberto a 21 de junho
com o nome de Teatro União.
Denominação alusiva à união do Brasil e Por-
tugal, formando o Reino Unido.
Para dar o brilho conveniente a tão almejada
e definitiva inauguração, Varella foi a Lisboa con-
tratar uma companhia e obteve ainda do governo
da Metrópole o aviso de 3 de setembro de 1817 conce-
dendo, a favor do teatro, algumas loterias anuais,
cujo recebimento foi acusado em 3 de fevereiro do
ano seguinte.
D,os "Anais do Conselho da Provincia", consta
que a companhia contratada em Lisboa por Varella,
quando em viagem para o Maranhão, foi espoliada
22
de seus haveres por piratas que abordaram o navio
em que viajava, deixando-os apenas com a roupa
do corpo e, para que dessem início às suas atividades
recorreram ao governador, no sentido de lhes con-
ceder permissão para abrir uma subscrição, a cargo
do tesoureiro José dos Reis e Brito, durante os dias
23, 24 e 25 de julho de 1820. (lO)
O governador Silva Gama, quando ainda no
governo, comunicou para Lisboa o início das ativi-
dades no teatro, ínformando que, para conclusão
das obras havia convocado os habitantes mais abas-
tados, pedindo-lhes um empréstimo de 12.666$000 rs
assim ficou a edificação, depois de concluída, em
53.000$000 rs.
No ano seguinte ao da inauguração exibiu-se no
teatro a Companhia Equestre de Sautbly que trans-
formou a platéia em arena e o palco em galeria
o que foi lamentável devido aos estragos causados
pelos animais exibidos. (11)
Em 1819 a Cia. Dramática de Varella e Braga
fora aumentada com um corpo de baile o qual,
embora pequeno, era melhoramento considerável
ampliando aS possibilidades cênicas do conj un to. '
Ao que dizem as crônicas esse corpo de baile
contava com artistas como: Labassit Maria Pirulito
San Martin, Carolina Ceral.' ,
Também foi incorporado ao pessoal da Compa-
nhia um "hábil cenógrafo" chamado Antonio Rai-
mundo Braule.
(lO) "Teatro Arthur Azevedo", por Domingos Vieira
Filho, no Departamento de Cultura do Estado do
Maranhão, 1968.
(11) Augusto César Marques, op. cito
23
A orientação dos espetáculos era geralmente
entregue a Antonio Marques da Costa Soares (12)
que, coagido ou por mera lisonj a, arranj ava jeito de
tecer em cena aberta elogios de turiferário ao gover-
nador que substituíra Silva Gama.
O Governador, na expectativa das conseqüên-
cias dos acontecimentos decorrentes da Revolução
Constitucionalista, do Porto, e querendo manter-se
no governo, tinha em Antonio Marques da Costa
Soares um fâmulo bem remunerado para seu jogo
político e este, dentre outras medidas, utilizou o
tea tro várias vezes. Na primeira, com portas fran-
queadas' o espetáculo constava de um "Monólogo"
bajulatório e um "Hino Nacional", de sua lavra;
dias depois, nova sessão "cívica", temperada com
lisonj as servis que provocaram desordens; na ter-
ceira,estando as coisas mais calmas, o espetáculo
constava de uma alegoria e apresentação do drama
"A Aclamação de Dom Afonso I, Rei de Portugal,
no Campo d'Ouriques" e "Santo Antonio Livrando o
Pai do Patibulo".
Dessa forma, muito cedo, o espírito político
começou tentando desvirtuar a finalidade daquela
casa destinada a espetáculos de natureza lúdica.
"Na representação firmada por 65 cidadãos de
todas as classes e regimes sociais, em 18 de dezem-
bro de 1821, e dirigida a Sua Majestade, disseram
eles que o general Silveira era tão pródigo dos fun-
dos públicos "e ávido de lisonja que tinha feito
pagar 50$000 rs por mês a Antonio Marques da Costa
(12) Considerado, cronologicamente, o primeiro jorna-
lista no Maranhão. Era português. Ver "História
da Imprensa no Maranhão", por Antonio Lopes.
24
flrfinJa Souza~eneztS
BIblioteca Pessoal
Soares, um dos redatores ostensivos do abjeto pe-
riódico "Conciliador", além de ter criado o cargo
de oficial-maior na Secretaria do governo com orde-
nado, logo que se fixou o teatro desta cidade, no
que era tradutor e ao mesmo tempo ensaiado r de
cômicos e tudo em remuneração dos nauseativos
elogios e hinos a este general, que fez representar
e cantar no dito teatro, depois do dia 6 de abril,
enquan to aberto." (12-a)
O general Silveira a que alude o documento era
o Marechal-de-Campo Bernardo da Silveira Pinto da
Fonseca que governou o Maranhão de 1819 a 1822.
Pouco depois daquela representação contra Sil-
veira, agitações políticas perturbaram por longo
tempo a vida social maranhense e as coisas de arte
foram relegadas a segundo plano, sofrendo período
de estagnação.
Após cessadas essas perturbações que foram se-
guidas pelo movimento relativo à Independência do
Brasil e tendo por fim o Maranhão aderido à Inde-
pendência, por largo tempo, tivemos governos de
pouca duração, tanto no primeiro como no segundo
reinado e, como era natural, muitas vezes o teatro
sofreu as conseqüências das agitações politicas se
projetando na vida citadina de São Luís.
*
É da tradição um episódio imprevisto ocorrido
no "Teatro União" em 1829; foi o caso que estando
(l2-a) Augusto César Marques, op. cit., e "História da
Independência do Maranhão", por Mário M. Mei-
relles.
25
J
o Presidente Cândido José de Araujo Viana, (depois
Marquês de Sapucaí), na tribuna de honra assistin-
d.o a um espetáculo quando, de um camarote de 2.a
ordem, cai-lhe sobre o ombro uma rosa. O gover-
nador tomou a flor e ali mesmo escreveu num car-
tão estes versos:
"Por acaso ou por gracejo
Caiu-me a rosa no seio.
Fosse acaso ou gracej o
A rosa do céu me veio."
E, numa demonstração do seu trato distinto,
mandou levar o cartão ao camarote de onde lhe ti-
nha caído a flor. (13)
A certa altura a "Sociedade Dramática Mara-
nhense", que ocupava o "Teatro União", comunicou
aos seus associados e ao público em geral que o
Juiz, "Ministro peculiar do teatro", intimou-a a não
realizar o espetáculo anunciado, comemorando o
aniversário da aclamação do Imperador, por ser
Sábado de Ramos.
Ao iniciar-se o ano seguinte, a "Escola de Dan-
ça" de Carolina Vanineli se propunha ensinar "toda
qualidade de dança francesa às senhoras e meni-
nas", e dizia: "quem pretender aproveitar-se pode
mandar seu aviso a sua morada, rua do Sol, defronte
das Sras. Frazõens".
Pelo mês de novembro anunciava-se que os bi:-
lhetes para a "Loteria do Teatro União" estavam
quase todos vendidos e, por isso, em breve seria feita
a extração.
*
(13) D. Vieira Filho, op. cito
26
Os fatos de natureza política se, às vezes, impe-
diam os espetáculos não distanciavam os maranhen-
ses cultos dos seus livros. Assim é que Manoel
Odorico Mendes, deixando-se entusiasmar pela lite-
ratura teatral; de Voltaire, traduziu as tragédias
"Merope" e "Tancredo". A primeira foi impressa
no Rio de Janeiro, na Tipografia Nacional, em 1831
e reimpressa no "Arquivo Teatral" de J. Villeneuve;
a segunda impressa no Rio de Janeiro. Tipografia
H. Laemert, em 1839. Em todas o autor assina
somen te com suas iniciais M. O. M.
Eclodiu no interior o movimento bélico revolu-
cionário denominado "Balaiada", causando inquie-
tação, até o seu término em 1841.
Durante aquele período não havia ambiente
para se cuidar de arte, os "balaios" perturbando a
quietude pelo interior mantinham todo o Mara-
nhão em sobressalto, ansiosamente acompanhando
os acontecimentos.
A 19 de janeiro a "Ordem do Dia", do Presidente
e Comandante das Armas, coronel Luís Alves de
Lima, anunciava a pacificação da Província.
Passado o vendaval e a cidade já refeita da
comoção causada pelo belicoso movimento, voltou
avidamente sua at,enção para a vida associatíva,
buscou se divertir, para apagar da lembrança os
maus momentos passados havia pouco.
No mesmo ano em que terminou essa revolução,
os maranhenses reagindo contra a vida pachorrenta
e atendendo a sua vocação social organizaram uma
"Sociedade de Recreação Maranhense" da qual era
diretor o doutor João Antonio de Miranda, então
27
Presidente da Provincia, como o sucessor do Coronel
Luis Alves de Lima que fora mandado ao Maranhão
pelo Ministro da Guerra, Conde de Lage, para acabar
com a revolta; Vice-Diretor, o Coronel Francisco
José Martins; Tesoureiro, Daniel César da Silva Fer-
raz; Secretário, Joaquim Serapião Serra; Procurador,
João Henrique de Souza Gaioso; Comissários, Tn te.
Cel. José Joaquim Teixeira Vieira Belfort e Dl'.
José Jansen do Paço. Essa sociedade era promotora
de bailes e outras distrações associativas.
O público ~m geral, desejoso de espetáculos tea-
trais, vendo que só de raro em raro apareciam artis-
tas vindos de fora, não se contentava mais em
aguardar, entregue às flutuações do acaso, e sentiu
a necessidade em mobilizar seus meios cênicos, sur-
gindo então a iniciativa de organizar sua associação
dramática, contando com elementos locais para suas
promoções.
Luiz Alves de Lima, (que pouco depois recebia
seu primeiro titulo nobiliárquico como recompensa
de sua atuação no Maranhão do qual gunca vimos
uma assinatura com o Silva, que se lhe atribui fre-
quentemente), antes de deixar o governo, procuran-
do tranqüilizar o público, através da imprensa, dera
instruções sobre vários assuntos e estimulava dis-
trações que desanuviassem os efeitos psicológicos
da guerra. Dando apoio às comemorações civicas
que restituissem a sensação de paz, deu motivo a
que Gonçalves de Magalhães, Manoel Jansen Perei-
ra, j. P. da Silva, J. J. C. Rosa e Fernando de
Mello Coutinho de Vilhena compusessem poesias
alusivas ao 7 de setembro e à maioridade de D. Pe-
dro lI, declamadas no Teatro.
28
Em janeiro de 1841, ocupou o Teatro Mr. Ryan,
mágico amerciano que deu seu último espetáculo em
São Luis a 2 de fevereiro, seguindo para o Pará.
Em 1842 ali ocorreu um fato inesperado, devido
à efervecência da política da época: partidários de
Dona Ana Joaquina Jansen Pereira e do seu anta-
gõi;ista politi co Ç.ândido Mendes de Almeidrt se
desavieram com murros e empurrões sob a ampla
arcada de entrada do Teatro, mesmo sabendo estar
presente o governador. (H)
A "Sociedade Dramática Maranhense" conse-
guiu, como já é sabido, alugar o Teatro, de 1841 a
1845, sem que por isso ficassem Os artistas forastei-
ros impedidos de ali atuar.
Aos anúncios dos organizadores daquela asso-
ciação, acudiram logo muitos candidatos a sócio-
contribuinte e mais um ou outro que se incorporava
ao grupo cênico e a nova organização artistica pôde
contar, dentre outros, com o ator dramático Fran-
cisco de Sales Guimarães, que logo se tornou repu-
tado e aplaudido.
Redigiu-se um Regulamento para a nova enti-
dade e o seu texto impresso teve distribuição entre
os interessados (no catálogo da Exposição de Histó-
ria do Brasil, na Biblioteca Nacional, a 2-XI-1881,
consta um exemplar que pertencia a Fernando Men-
des de Almeida) .
São Luis reagia bravamenteàs lembranças dos
maus momentos que tinha passado com a rajada
atordoante da revolução.
As famílias recomeçaram a ter suas distrações
e a cidade ganhou renovada animação.
(14) D. Vieira Filho, op. cito
29
As sinhás e sinhazinhas tinham agora mais
oportunidade de aparecerem em público e para o
fazerem da melhor maneira se ataviavam com o que
havia de mais moderno, recorrendo às lojas espe-
cializadas onde encontravam quanto de mais novo
era lançado em Paris. Confirmando o que havemos
dito basta ler em jornais da época os anúncios que
dentre ou~ras coisas, ofereciam as habilidades de
Mme. Brenton ... "modista de Paris, recém-chegada
de Pernambuco, avisa que faz chapéus, vestidos, tou-
cas, turbantes e todos os mais objetos próprios para
adorno de senhoras, do melhor gosto e por preços
razoáveis" .
As noites de função no teatro eram precedidas
de grande alvoroço na cidade porque cedo os assi-
nantes tinham de mandar suas cadeiras.
Além das festas religiosas e a "Recreativa" (15) ,
o teatro era dos raros locais onde as moças podiam
ser vistas e por isso desde a tarde elas começavam
os preparativos.
Por esse tempo, apresentou-se o pelotiqueiro e
"grande malabar" Robert que foi o primeiro a mos-
trar no Maranhão trabalhos de fantasmagoria "que
ele sabia executar maravilhosamente". (15_n)
As promoções da "Sociedade Dramática Mara-
nhense" eram recebidas pelo público com entusias-
mo, e a imprensa incentivava, estimulando aquela
organização que ia cumprindo o programa planeja-
do, tornando-se evento mundano, cultural e social.
(5) A "Recreativa", era uma entidade de caráter as-
sociativo, para promover festas em casas de fami-
lias, animando o convivio social. Foi criada sob
denominação de "Sociedade Recreativa Mara-
nhense".
05-a) "Jornal Maranhense", de 8-X-1841.
30
Se pretendermos mencinonar um Teatro Maranhen-
se, este é o começo.
Em outubro quando se iniciou o contrato do
tea tro com a "Sociedade Dramática Maranhense",
para vencer as dificuldades no sentido de cumprir
sua programação, divulgou-se pela imprensa esta
nota: "roga-se a todos os ilustres sócios hajão de
comparecer no dia 7 do corrente às 7 hs. da noite
no salão do "Teatro União" a fim de geralmente
poder deliberar a sustentação de tão útil como
proveitoso divertimento."
Três dias depois dessa convocação eram publi-
cadas as deliberações que foram as seguintes: (16)
"1.0 - Em o dia 17 do corrente mês será dado
em espetáculo "O Delator Húngaro" e a
farsa "O Galego Lorpa" para a qual
ficam avisados os senhores sócios e so-
mente os que têm camarotes a compa-
recerem por si ou por seus procuradores
em o salão do teatro no dia 13 às 5 horas
da tarde, para assistirem ao sorteio de
lugares.
2.0 - Deixou de existir a antiga numeração de
camarotes com a resolução tomada de
não haver distinção de ordens nem luga-
res e por isso previne-se que a numera-
ção atual começa de 1 a 33, do lado do
beco e de 34 a 66 do lado do Carmo.
3.° - A Sociedade não admite convidados na
platéia pelo que a nenhum de seus mem-
(6) "Jornal Maranhense", de 8-X-1841.
31
32
bros cede mais do que o cartão com o
qual tem direi to a ser ali in trod uzido .
4.° - A mais rigorosa polícia se há estabele-
cido para privar o ingresso que dantes
tinha no corredor toda a casta de gente
e por isso roga-se aos srs. sócios com
familia que limitem o séquito de seus
servos ao necessário ao seu serviço ali
indispensável, para por este modo cede-
rem algum obséquio dos desej os que tem
a Diretoria de fazer manter a ordem e o
silêncio que devem reinar em atenção a
todos os Espetáculos.
5.° - Até as 6 horas da tarde dos dias de
récita deverão ser guarnecidos de cadei-
ras os camarotes pelo próprio dono de
cada deles. As cadeiras ai ficarão até o
dia seguinte quando serão entregues à
ordem de seus donos, para com esta
medida evitar-se o roubo que d'antes ha-
via.
6.° - Todo o espectador que não respeitando
a qualidade de convidado dos sócios re-
presentados der pasto a grosseria e inci-
vilidade com que se costumava maltratar
os atores de profissão, soltando vozes ou
assobios, ou praticando qualquer outro
ato de pateada ou ainda todo o indivíduo
que não respeitando as leis da sociedade
em o seu próprio recinto manifestar seu
desgosto ou desaprovação a qualquer
falta ou demora na boa execução dos
trabalhos por ações desregradas que a
decência, a boa educação, tolerância e
civilidade condena será irremiscivelmen-
te posto para fora do recinto ao qual
jamais terá acesso.
7.° - O sócio que ceder seu lu~~r e':Y' ~uqlquer
récita dará disso parte à diretoria até as
quatro horas da tarde do dia do espe-
táculo designando nome da pessoa ou
familia que obsequia, para poder ser ela
responsável na forma que ordenam os
Estatutos.
8.0 - Quem pretender ser Sócio poderá enviar
sua declaração ao diretor da Sociedade
para esta apresentar à aprovação.
9.0 - Nenhum aprovado é considerado sócio
sem ter pago a jóia de sua admissão.
10.0 - Todo sócio que deixar de pagar no espaço
de 8 dias de cada mês na sociedade, a
sua mensalidade há por este fato dado
sua demissão.
11.0 - Os meses da Sociedade começam do dia
15 de cada mês vulgar.
(as.) .José Joaquim Figueiredo de Vasconcelos
Diretor"
E, logo depois: "A Diretoria da Sociedade D~a-
mática Maranhense" faz público, a todos os SÓCIOS
e às pessoas que pretendam saber, que "a distribui-
ção dos bilhetes para camarotes e platéias, para ré-
cita do dia 17 do corrente, será feita no salão do
Teatro neste mesmo dia (domingo), desde as 8 horas
da manhã, até as três da tarde onde deverão ir
33
pessoalmente os SOClOS ou mandarem o bilhete assi-
nado para receberem o que lhes pertence, devendo
todos, na entrada, à noite, levar o seu competente
cartão para apresentar à porta do teatro, sem o qual
a ninguém é permitido ingressar na casa."
Tão claros se mostram os fatos, nessas publica-
ções, que nos dispensamos de maiores comentários.
.o primeiro secretário da Sociedade era então
Manoel José do Amaral Cunha que pela imprensa
trazia os sócios informados sobre os acontecimentos
e, para tanto, publicava pouco depois a posse da
nova diretoria:
Dl'. Antonio Joaquim Tavares - Presidente
David Gonçalves D'Azevedo - Vice-Presidente
Padre Antonio João de Carvalho - 1.0 Secretário
João Batista Ferreira Gomes - 2.° Secretário
João Antonio Câmara - Tesoureiro
Custódio Dias D'Oliveira - Procurador
Para atender a interesse dos visitantes a Socie-
dade resolveu conceder aos sócios, até dois convites,
para pessoas reconhecidamente residentes fora da
cidade.
Nos interregnos dos seus espetáculos, a "Socie-
dade Dramática Maranhense" cedia o teatro desde
que houvesse companhia vinda de fora ou quando
algum artista forasteiro chegava a São Luís, tinha
o teatro a sua disposição como também era cedido
para solenidades civicas.
Ao se festej ar a Sagração e Coroação de Sua
Majestade o Imperador, por solicitação do 11.° Pre-
34
sidente da Província, bacharel João Antonio de
Miranda, a Sociedade teve sua marcante participa-
ção que foi assim programada: às 5 horas da manhã
e às 6 da tarde queimaram girândolas de foguetes;
às 8 horas da noite, quando chegou o Presidente da
Provincia, que foi recebido à porta do edifício por
uma deputação de seis membros da Sociedade, da
qual Sua Exa. se dignou aceitar ser membro nato
e o titulo de seu Presidente Grande Protetor, tendo
sido saudado pela comissão com jubilosos vivas, fo-
ram-lhe jogadas flores que caíam da varanda de
iluminação.
Logo que chegou à tribuna foi aberto o velário
e começou o "Elogio Dramático"; (17) uma alegoria
composta por J. J. de Figueiredo com o titulo" O
Triunfo da Monarquia", que teve no próprio autor
a parte de Gênio do Maranhão; a parte da Discór-
dia, interpretada por Manoel do Amaral Cunha; a
da Liberdade pelo jovem de treze anos, Raimundo
Torquatode Oliveira Gomes; dois meninos, filhos
do autor, figuravam de pequenos gênios, trazendo,
cada um, uma caixinha enfeitada com fitas e flores
artificiais, contendo flores naturais as quais, com
as caixinhas, foram ofertadas ao Presidente da Pro-
víncia e a sua consorte pelos próprios meninos.
Por essa época chegou ao Maranhão a primeira
companhia que vinha apresentar espetáculos líricos
e da qual nos ocuparemos adiante. Citando-a aqui
(17) "Elogio Dramático" era um gênero espúrio do
teatro, surgido em Portugal, no século XVIII, para
o qual eram chamados a produzir loas os poetas.
Esse tipo de espetáculo, para alguns autores, era
o abastardamento do gosto e veio a nós, até o
século XIX.
35
por ter participado deste espetáculo sua primeira
dama.
Findo o "Elogio", diante da efígie do Imperador
que havia no palco, Lino Maurício Silva, do seu
camarote recitou um monólogo, Augusto César Reis
Rayol (d~ S.D.M.) recitou odes alusivas e, final-
mente, a senhora Jesuina Margarida Lemos cantou,
no palco, o hino constante do "Elogio".
O teatro encontrava-se lindamente ornamenta-
do iluminado por luzes de espermacete que cintila-
va~l em lustres e em globos de vidro, abrilhantando
a sala onde estavam as principais famílias da cidade,
"chamadas pelo convite dirigido pelo governador a
cada uma delas".
Os camarotes emprestavam alegre perspectiva
ao ambiente, "não somente pelas senhoras que neles
se divisavam como também pelo asseio das cortinas
de seda e grinaldas de flores artificiais, formando
laços, emblemas, legendas, troféus e brasões de ar-
mas.
A tribuna, camarote do Presidente, tinha cor-
tinas de vidrilhos de prata, semeadas de estrelas de
ouro tape ta da e mobília da com elegância, tendo a
gradaria toda prateada.
No centro do teto, que estava forrado de um
pano branco semeado de estrelas de ouro sobre
campo azul celeste, via-se a estrela dalva reverbe-
rando seus raios e a legenda. - 28 de julho - que,
à pequena distância, se via suspendida por dois
ser afins entre nuvens". (lS)
Apresentou-se o drama "Os desterrados de Mos-
saik, ou Justiça de Pedro o Grande".
(18) "Jornal Maranhense", de 28-IX-1841.
36
Durante o intervalo, no salão ricamente mobi-
liado, estavam grandes mesas com doces e refrescos
que sua Exa. mandou servir aos seus convidados,
enquanto duas bandas de músicas se faziam ouvir.
Quando voltaram à sala de espetáculo, os senho-
res capitão Ricardo Leão e Francisco Salles Nunes
Cascaes recitaram composições poéticas de sua au-
toria; o primeiro, dois sonetos e o segundo, uma ode.
Além destes festejos, no teatro, outros tiveram
lugar pela cidade, durante alguns dias e muita poe-
sia foi composta, alusiva às comemorações.
Pouco depois o Secretário da "Sociedade Dra-
mática" avisava pela imprensa não ter havido tem-
po para preparar a nova récita anunciada e pedia
aos sócios que daí por diante não retirassem suas
cadeiras nos mesmos dias dos espetáculos, mas no
dia seguinte, mediante seu cartão, para evitar os
atropelos havidos anteriormente.
Depois de um espetáculo com o drama "O De-
sertor Húngaro" e a farsa "A Porteira Anatômica"
houve um outro com o drama "O Duque da Baviera"
e a farsa "O Tacão Malogrado".
Quando ocupou o teatro o ginasta Mr. Vallin
que se anunciava como "Hércules Francês ", apre-
sentando trabalhos de ginástica e quadros vivos, de
sua programação cOEstavam, na primeira noite,
"Exercícios ginásticas, malabares e físicos"; na se-
gunda programação "Grande coluna giratória"; na
terceira, "Jogos hidráulicos"; na quarta, "Grande
luta dos dois gladiadores".
Sobre os "Jogos hidráulicos", dizia serem "Imi-
tando Os principais repuchos d'água das mais belas
fontes da Europa como é feito nos melhores teatros
de Paris e da Itália".
37
Os ingressos para os camarotes estavam sendo
vendidos na casa do próprio Mr. ValIín, na Rua das
Violas. (19)
Pouco depois, as apresentações do francês foram
in terrompidas para que a "Sociedade Dramá tica
Maranhense" pudesse atender à nova solicitação do
Presidente da Provincia que desejava um espetáculo
como nova homenagem aS. Maj estade o Imperador
e, para atender a essa promoção, repetiu-se o "Elo-
gio Dramático" e apresentou-se o drama "O Prin-
cipe dando carta".
Terminada a temporada do "Hércules Francês",
a "Sociedade Dramática Maranhense" retomou suas
atividades, iniciando com o drama" A Sensibilidade
no Crime" e a farsa "O Logro mais bem pregado"
e depois, em outro programa, o drama "Elvira" e a
farsa "Os cegos fingidos".
*
Em "Memórias de um Magistrado do Império"
o Conselheiro Albino José Barbosa de Oliveira conta
reminiscências de sua estada em São Luis, onde foi
desembargador da Relação aos 33 anos, por influên-
cia de Paulino José de Souza, ausentando-se em
1846.
, Ao referir-se às distrações sociais, lembra quan-
do ali apareceu uma má e incompleta Cia. teatral,
tendo como primeira figura, Margarida Lemos, artis-
ta apreciada no São Januário do Rio e o ator Ricco.
(19) Certas fontes dão à este pelotiqueiro o nome de
VaIlim, outros VaIli mas, dado que sua nacionali-
dade era francesa, parece-nos que seja VaIlin.
38
o mesmo memorialista registra os dotes pianis-
ticos do jovem Joaquim Franco de Sá, que foi seu
colega na cidade do Recife, nos primeiros anos que
ali estudara, no recém-criado curso juridico de Olin-
da, onde Franco de Sá se formou com a primeira
turma.
Afora o teatro, relata o desembargador as diver-
sões. eram: a "Recreativa", sociedade de' bailes e,
contmuando na sua expressiva amostra da vida
social maranhense, con ta-nos: "Algumas noi tes
assisti a soirees bem concorridas nas casas do Iná-
cio José Alves de Souza, D. Ana Jansen, Joaquim
Braga, e D. Luisa Marcelina Nunes Gonçalves e
Ângelo Carlos Muniz.
Tive intimas relações com D. Lourença Leal e
toda família; era ela mãe de D. Ana Amélia, a
quem, Gonçalves Dias, dedicou os versos "Seus
olhos", com efeito só os olhos de Ana Amélia olhos
únicos no mundo, podiam inspirar tais verso;.
A irmã, casada com o excelente doutor Alexan-
dre Teófilo de Carvalho Leal tocou mui to bem
piano, o que era grande recurso' para mim ávido de
distração e ela mesmo era muito boa pe~soa".
Em linhas gerais o registro do desembargador é
um pequeno instantâneo panorâmico da Sociedade
Maranhense na primeira metade do século dezenove.
*
Em 1846, o "Archivo", órgão da Associação Lite-
r~ria Maranhense, anunciado como "jornal cienti-
flco e literário", tinha na relação de seus colabora-
dores, nomes representativos das letras locais.
Por essa folha, temos noticia de ter subido à
cena em São Luis o drama "A Torre de Nesle", de
39
Alexandre Dumas, pai. Lançado em Paris quatorze
anos antes, tendo como principal intérprete a famo-
sa Mlle George que, antes de aderir ao repertório
romântico, com a peça de Dumas, tinha sido intér-
prete ideal do repertório clássico.
O drama já representado milhares de vezes antes
de chegar ao Maranhão, focaliza a Rainha Margarida
de Borgonha, casada com Luis X de França, a qual,
com suas cunhadas, eram acusadas de adultério;
atraíam à Torre de Nesle os jovens desejados e
depois de grandes orgias os mandavam matar e jo-
gar no rio.
Da estréia dessa peça, em Paris, o próprio autor
dá-nos idéia em suas "Memórias" e não perderemos
aqui a oportunidade de transmitir ao leitor parte
desse relato: "A sala estava em ebulição, sentia-se o
grande sucesso; ele estava no ar; se o respirava.
O fim do segundo quadro foi de um efeito terrível,
Buridan saltando pela janela ao Sena, Margarida
desmascarando sua face sangrenta... tudo isso era
de um efeito repentino. E quando após a orgia, essa
fuga esse homem precipitado no rio, esse amante de
uma noite assassinado sem piedade por sua real
senhora" ouvia-se a voz monótona do vigía da noite
que gritava: "são três horas, tudo está tranquilo.
Parisienses, dormi", a sala explodia em aplausos".Era, como vímos, um desses dramas que apaixo-
nam o espectador e não poderia deixar de sacudir
os maranhenses.
Nessa noite, a platéia do "Teatro União" con-
tava com a presença do festejado e jovem poeta
Antonio Gonçalves Dias, que há três anos vinha
mostrando seu interesse pelo Teatro e, pelas páginas
do periódico da Associação Literária Maranhense,
comentou aquela apresentação cênica. Embora de-
40
clarando não ser seu propósito analisar o espetáculo,
ocupou-se das características do texto de Dumas,
dos caracteres apresentados, apontou algumas difi-
culdades que os artistas encontraram na obra e
acabou por citar alguns intérpretes: Gomes, que fa-
zia Buridan, Ferreíra, no Landry e Guimarães, sem
muito se deter sobre outros aspectos do espetáculo.
Quanto à forma de montagem, diz-nos o poeta-
dramaturgo: "Houve algumas inadvertências nos
trajes, e em alguns movimentos de cena; tal foi
mandar a rainha abrir as salas do seu palácio por
sua camarista; talvez provenha o erro da má tra-
dução. A rainha apareceu de vestido curto, mante-
leta, e máscara veneziana; assim foi ela à Torre
de Nesle e deu audiência no seu palácio do Louvre.
Quando a vimos entrar em cena assim traj ada e
apesar da máscara que trazia, figurou-se-nos ver
uma romeira que vinha de visitar o Santo Sepulcro,
ida e vinda na retaguarda de algum troço de pala-
dinos; empunhasse ela o bordão de peregrina, ador-
nasse o peito com algumas conchínhas, colhidas à
beira do mar, contasse histórias de Sarracenos des-
comunais e mostrasse bulas de algum Santo Padre
e a ilusão seria completa ... "
Informados pelo pronunciamento de Gonçalves
Dias, ficamos sabendo que o espetáculo não foi dos
mais completos, pelo menos relativamente à mon-
tagem, o que vem confirmar o que ficou dito pelo
Desembargador Albino José Barbosa de Oliveira. No
seguinte número de "Archivo" volta o poeta com
outra nota sobre um espetáculo do "Teatro União",
desta vez, apreciando "Dom João de Maraiía", tam-
bém de Dumas e termina dizendo: "Em resumo D.
João tem cenas que revelam o belo autor dramático
que aumentou e por tantos anos sustentou o esplen-
41
dor do Teatro Francês; tem muitas pagmas que
pertencem ao escritor profundo e ao romancista
inesgotável; tem muitos devaneios, muitos caprichos,
muitas extravagâncias que justificam o titulo de um
de seus melhores dramas "A extravagância do Gê-
nio", (Kean)".
O interesse de Gonçalves Dias pelo teatro de
Alexandre Dumas era o de um autor teatral de
influências românticas por outro dramático da mes-
ma escola literária. Já havia ele escrito "Pa tkull"
(1843) e "Beatriz de Cenci" (1844-1845). "Leonor
de Mendonça", terminada nesse ano, é mais tarde
considerada legitima obra-prima e teve lapidar pre-
fácio sobre o qual Ruggero Jacobbi escreveu, cento
e treze anos depois: "precisaria figurar entre os
mais lúcidos manifestos do teatro romântico mun-
dial". "Boabdil", seu último drama, só foi concluido
quatro anos depois. (Ver "Anexo XI".)
Numa demonstração de que não foi fugaz o seu
interesse em compor obra dramática, convém men-
cionar que na edição de suas obras, pela Editora
José Aguillar (Biblioteca Luso-Brasileira, Série Bra-
sileira em 1959) constam cartas do poeta, falando
em seus dramas, escritas em Coimbra, Caxias e Rio
de Janeiro, dirigidas ao amigo Alexandre Teófilo de
Carvalho Leal, às fls. 797, 800, 803, 807, 809 com da-
tas de 8-IX-1843, 31-VIII-1845, outubro a novembro
de 1846, 4-IV-1850 e 2-1II-1858, esta última dirigida
ao Imperador D. Pedro II e procedente de Dresde
na qual fala de sua tradução da "Noiva de Messina",
de Schiller.
Autores há que, estudando a evolução do teatro
no Brasil, situam a produção dramática de Gonçalves
Dias, no nosso "Primeiro Momento da Criação ro-
mântica (1838-1850)."
42
Sentia-se como o "Homem Sensivel" de Taine,
no qual o afetivo e o intelectual se confundiam,
entregues a uma doce tristeza cheia de sonhos, em
um mundo de ficção, de novela e de romance. As
idéias de Victor Hugo, contidas no prefácio de
"Cromwell", em 1827 eram atuantes mas, seis anos
depois, Alfred Musset, ao tomar posse na Academia
Francesa, renegava o Romantismo.
A renovação operada pela influência do roman-
tismo foi mais forte no concernente à intrepretação
e ao texto, muito pouca modificação houve quanto
a cenários, adereços, luzes, sem que essa omissão
desmerecesse a evolução que marcou.
Ainda pelas páginas de "Archivo", Antonio Rego
comenta a companhia lírica de Galetti e Carlos
Ricco que, como se sabe, foi a primeira do gênero lí-
rico a ocupar o teatro do Maranhão. Em sua seção
"Variedades", o cronista faz ligeiras referências às
apresentações das óperas "Norma" e "Barbeiro de
Sevilha" constantes das récitas de assinatura, dizen-
do que a cantora Margarida Lemos, embora com
muita expressão e sentimento, não possuia volume
de voz necessária à "Norma", elogia o tenor Ricco
e diz que Guizoni, interpretando em "Barbeiro de
Sevilha" o Figaro, e Galetti, no papel de Dom Bar-
tolo, na mesma ópera, tiveram qualidades e defeitos.
Já o terceiro número daquela publicação, conta-
nos que se falava na dissolução da Companhia Liri-
ca, logo após as récitas de assinatura, o que parece
mostrar não ter sido alcançado o êxito desej ado.
Muito embora o "Semanário Maranhense" tenha
deixado el:icrito que a Companhia "deu deliciosas
noites, deixando eternas saudades àqueles que apre-
ciaram" .
43
Pouco depois, em agosto, se anunciava nova
estréia da Sra. Lemos mas com outra organização;
a "Sociedade Dramática Aliança", interpretando o
drama "Lucrécia Borgia" de Victor Hugo. A julgar
pela opinião do Desembargador Albino José Barbosa
de Oliveira em suas memórias, a que já aludimos,
esta nova organização, na qual se achava escritura-
da a Sra. Margarida Lemos, era incompleta.
Entre setembro e outubro ocupou o Teatro o
escamoteador Walter a quem A. Rego dizia faltarem
qualidades, na apresentação do seu gênero.
Governava o Maranhão à Presidente Doutor Joa-
quim Franco de Sá, quando, em dezembro, a "Socie-
dade Dramática Aliança" tomou a iniciativa de
transformar o palco do Teatro em grande presépio,
o que foi uma idéia de Ferreira da Fonseca.
Em agosto do ano seguinte a "Sociedade Dra-
mática" que se compunha de amadores e artistas
residentes em São Luis apresentou um espetáculo,
em benefício do seu ensaiador, constando da tragé-
día em 5 atos de Sílvio Pellico intitulada "Francesca
da Rimini" e a comédia-vaudeville em 1 ato "A
Farda do Duque de Wellington", terminando com a
farsa "O Marido Mandrião".
No mês de março o mesmo grupo apresentou o
drama sacro, "O Martírio da Santa Inês".
Tendo iniciado sua temporada em fins de 1847,
ficou até o começo do ano seguinte a Companhia
de Cavalinhos e feras do empreSário Smith, que
transformou a platéia em pista de exibição dos seus
animais e o palco em platéia, causando, como era de
se esperar, sensíveis estragos no recinto, dando ori-
gem a que se providenciasse uma regulamentação,
proibindo espetáculos daquele gênero, no Teatro.
44
Em novembro de 1847, faleceu no Maranhão o
português, brasileiro naturalizado, Joaquim José Sa-
bino que fora secretário do Governo e Desembarga-
dor ria relação no Maranhão e que escreveu as
Tragédias "Policena" (que alguns consideraram imi-
tação de "Mérope", de Voltaire) e "Nova Castro",
impressa em Lisboa, 1818.
Pelo meio do século, já residiam em São Luís
vários artistas e amadores de teatro, como já fize-
mos ver, isto porque as temporadas eram longas e
alguns se deixavam ficar., Tan to do gênero declamado
como do gênero musicado viviam na cidade hábeis
comediantes e gente da técnica teatral.
Para o sábado, 15 de janeiro de 1848, estava
anunciado o benefício da atriz Maria Madalena, com
o drama "Leonor de Mendonça", de Gonçalves Dias
e a farsa "A Castanheira". (IV-a)
O prédio do teatro achava-se em parte adjudi-
cado à Fazenda Nacional,por dívida de Braga, ao
falecer e, portanto, incorporado parcialmente aos
bens nacionais. O seu estado de conservação, porém,
era de forma que uma restauração importaria em
grandes despesas e o governo central não se mos-
trava interessado em tomar essa iniciativa.
Pela Lei n.o 514, de 28 de outubro de 1848,(lV-b)
a Fazenda Nacional fez doação de sua parte à Pro-
víncia, ficando assim o que lhe cabia como patrimô-
nio do Maranhão. Em seguida, aceita pelos herdei-
ros de Eleuterio Varela, a proposta de compra da
09-a) "História do Comércio no Maranhão"", por Jerô-
nimo de Viveiros, pág. 379 - 2.° vaI.
09-b) Citado por César Marques, op. cit., mas não
encontrado na Coleção de Leis do Império.
45
metade que lhes pertencia pela quantia de 7.000$000
rs, foi a transação ultimada pela lei provincial
n.O 376 de 1850 e assim ficou o teatro inteiramente
propriedade do Maranhão, quando governava Honó-
rio Pereira de Azevedo Coutinho, seu 18.° Presidente.
Não somente na Capital havia teatro.
Em abril de 1849 a "Sociedade Harmonia", de
Caxias, anunciava para o seu "Teatro Harmonia",
em benefício de José João da Silva Rosa, um espe-
táculo com o drama "O Amor de um padre ou a
Inquisição em Roma" e a comédia "O Inglês Ma-
quinista", de Martins Pena. Em julho, depois de
uma sinfonia, um monólogo, o drama "Dona Maria
de Alencastro", de Mendes Leal e a comédia "O
juiz de Paz na Roça", também de Martins Pena.
Em março, do ano seguinte, houve uma "récita par-
ticular" com a tragédia "O Poeta da Inquisição",
de Gonçalves de Magalhães, o provérbio em 1 ato
intitulado "Como se perde um noivo" mas o espe-
táculo foi anunciado com a ressalva: "Será trans-
ferido para o dia 17 ou outro dia qualquer, se fizer
mau tempo". Para 5 de maio anunciava-se o drama
em 4 atos "Afronta por afronta" e o entremez "Ma-
nuel Mendes".
Foi editado no Rio de Janeiro o drama "Manoel
Beckman", de Carlos Luis Saules, que era do Con-
selho do Conservatório Dramático do Rio de Janeiro.
Para o espetáculo de 29 de outubro de 1849, teve
o público de São Luis, o drama "Os Prussianos em
Lorena", e a comédia" A Família e a Festa na
Roça", não havendo bilhetes à venda; somente ti-
nham ingresso os associados e convidados.
A 20 de novembro, o mesmo conjunto apresentou
"O Judeu", drama de Gonçalves de Magalhães e a
46
comédia "Judas em Sábado de Aleluia", de Martins
Pena, num espetác'..llo em benefício de Silvíno Au-
gusto Diníz.
O Teatro, como era necessário passou por gran-
des obras de restauração, orientadas pelo arquiteto
Albuquerque que, além dos trabalhos de recuperação,
tratou também de aformoseá-Io, entregando-o pron-
to em 1852, quando o governo da província deu-lhe
o nome de "Teatro São Luis, em substituição à pri-
mitiva denomínação de "Teatro União". Essa mu-
dança de nome não teve a aprovação de João Lisboa
que, no seu folhetim do "Publicador Maranhense"
(25-III-1852), criticou também o novo Regulamento
~o dia 5 e deixou-nos esta pequena idéia do aspecto
111terno do Teatro: "Fundo branco em geral nos
tetos e caixas dos camarotes, e fundo azul c~leste
nas pilastras do arco do proscênio, mas tudo sober-
bamente esmaltado e matízado com molduras e
baixos relevos, que suspendem, alegram e encantam.
Nas pilastras se vêem as musas da dança e do canto
do drama trágico, e do drama mofador, acompa~
nhadas de emblemas e atributos, e no meio de uma
admirável profusão de flores e frutos que o capricho
ínteligente da arte derramou com largas mãos do
bojo talvez de uma cornucópia que também aÚ se
enxerga. Que magnífica cortina de cetim verde nos
recata os mistérios da cena, com sua rica barra de
ouro, e como está gentilmente meio arregaçada por
laços e cordões do mesmo metal que a terra cria!
Defronte, a grande tribuna, igualmente recatada
desdobra às vistas já fatigadas de tantos esplendo~
res, o seu largo manto de veludo carmezim ... "
Depoís das obras terminadas, a casa foi ocupada
pela companhia dramática portuguesa de Antonio
Luís Miró que, conforme se dizia, era autor de ópe-
47
ras óperas-cômicas comédias e cerca de trinta anos
antes, fora ensaiadbr de canto no Teatro São Carlos
de Lisboa do qual era o primeiro pianista.
Registrou o "Semanário Maranhense" que nes-
sa companhia brilhou o ator João Jacinto Ribeiro
que, embora morto na flor dos anos, revelou-se ver-
dadeiro talento cômico.
A Companhia dramática de Miró permaneceu
até 1853, quando chegou ao Maranhão, pela primeira
vez, o ator brasileiro Germano Francisco de Oliveira
que uniu-se ao empresário português.
Em face das credencais desse artista nacional,
nascido no Rio de Janeiro em 1820, e de sua atuação
em São Luis, onde alcançou êxitos particularmente
expressivos, é conveniente dar-se uma idéia mais
nítida de seus méritos e, para tanto, vamos utilizar
informações contidas em sua biografia escrita pelo
maranhense Joaquim Serra, seu contemporâneo e
amigo.
Germano Francisco de Oliveira que tanto veio
a movimentar o teatro no Maranhão era, no dizer
de Joaquim Serra,eO) considerado no Rio de Janeiro
verdadeiro rival de João Caetano dos Santos e, de
tal forma que, ao trabalharem juntos, havia no
Teatro sérios distúrbios na platéia da Capital do
Império por causa dos confrontos que faziam os
admiradores de um e outro ator. Os "partidos"
promoviam debates acalorados, cada qual exaltando
as qualidades do seu idolo e, tais contendas, quase
sempre acabavam em brigas.
(20) "Biografia do Ator Brasileiro Germano Francisco
de Oliveira", por Joaquim Serra. (Ver "Anexo"
VI".)
48
Estreou Germano na carreira teatral em uma
companhia dramática regular, organizada no Rio de
Janeiro, da qual faziam parte João Evangelista,
José Jacob, Ludovina Soares da Costa e outros que
representavam em pequeno teatro da rua dos Arcos.
Mais tarde, foi chamado a substituir João Caetano
em "Dois Renegados", drama de Mendes Leal. Va-
leu-lhe essa oportunidade uma desagradável mani-
festação hostil. dos partidários do ator despedido
mas, logo a seguir, Germano acabou sendo alvo de
consagradoras manifestações de apreço.
A situação de ator contratado em que se encon-
trava, não era de acordo com suas aspirações pois
tinha dessa forma os seus vôos limitados.
Fez-se empresário aos 24 anos em São Salvador
de Campos e, durante a permanência do Imperador
Pedro II ali, foi notado pelo monarca.
Convidado pela direção do Teatro São Pedro do
Rio de Janeiro, então o maior do Pais, ali atuou
como primeiro ator.
Depois, excursionando a Salvador teve oportu-
nidade de contracenar com seu grande rival, alcan-
çando expressiva consagração popular.
Esteve algum tempo em Cachoeira, onde passou
a ensinar arte dramática até 1850 e nessa cidade
traduziu e publicou em "Archivo Teatral de Ca-
choeira" os dramas "Maria Joana Mulher do Povo"
"Marinheiro de São Tropez", "Justiça de Deus":
"Huberto, o feiticeiro".
MUdando-se para a cidade do Recife, passou a
dirigir o teatro Santa Isabel e, em 18 de maio do
ano em que deixou Cachoeira apresentou-se na
Capital pernambucana com "O 'pajem de Aljubar-
rota ", drama de Mendes Leal Júnior.
4.°
I
I
I I
Por esse tempo foi agraciado por S. M. I. com
o hábito da Imperial Ordem da Rosa que, até aquela
data, nenhum artista teatral havia recebido.
Novamente no Rio de Janeiro, reapareceu com
os dramas "Dois Renegados" e "A Graça de Deus".
Quando de sua estada no Recife, teve ocasião de
conhecer a jovem Manuela Lucci, que, segundo o seu
biógrafo, era "jovem, graciosa, inteligente, vigoro-
sa, de espirito vivaz, coração moldado para as gran-
des paixões, alma dotada de rara sensibilidade,
amava o teatro até ao delirio, por instinto, por incli-
nação nativa, por imposição do destino".
No Maranhão passou Germano a empresar o
teatro local conquistando nova platéia da qual disse
o biógrafo "O público do Maranhão, exigente e de
gosto apurado, não todavia escasso na manifestaçãodo seu apreço para com o artista que se apresentava
tão brihante ante ele".
Tendo Germano conseguido jun tar algum pe-
cúlio, o que lhe permitiu viajar pela Europa, esteve
na França, Inglaterra, Alemanha e Portugal, toman-
do contato com as apresentações teatrais do Velho
Mundo, nas três escolas da arte de representar,
observação que há muito desejava fazer nos grandes
centros culturais europeus.
Em Lisboa deu demonstrações de suas possibi-
lidades profissionais o que não lhe foi fácil "pela
prevenção de que a modificação americana da lin-
gua desagradava ao público português". Mas, no
ensaio geral, presentes Mendes Leal e outros inte-
lectuais portugueses, foi por eles animado para as
representações nos teatros "Dona Maria Ir" e "Giná-
sio", nos quais apareceu à platéia lisboeta em
"Duque de Roquelaure", uma comédia de costumes,
e o drama "A Gargalhada", de J. Arago.
50
Toda a renda alcançada em suas representações
em Portugal foi doada pelo artista aos pobres locais.
De sua permanência na Capital portuguesa fala-
nos longo artigo do famoso escritor luso J. S. Men-
des Júnior e, desse artigo, extraimos este trecho:
" . .. Apesar desta dificuldade terrivel, (refere-se a
defeitos na peça de Arago), apesar de estranho ao
nosso público, apesar da comoção de uma estréia,
apesar de ter trazido o peso de uma grande repu-
tação, que não poucas vezes agrava as provas e faz
sucumbir os mais audazes e confiosos, o Sr. Germa-
no saiu-se vitorioso desses múltiplos obstáculos,
justificou o seu renome e conquistou de chofre um
lugar distinto nos anais da arte portuguesa ... "
Dado o prestigio literário de que gosava J. da
Silva Mendes Júnior, tais palavras são alta creden-
cial que tornava o artista ainda mais considerado e,
como se não bastasse, esse dramaturgo português,
ao terminar seu novo drama "Urgel Camprodon",
lhe dedicou a obra numa longa dedicatória em ver-
sos, datada de 1856, da qual é este trecho:
"Aceita, artista eximio, este tributo
Que vem do coração;
Se no valor é parco e diminuto,
É grande em intenção.
Teus dotes conheci. O louro nobre
Que te enrama essa fronte,
Brotando em flor, de novas flores cobre
O teu largo horizonte."
Mas, não foi somente aquele dramaturgo a se
entusiasmar com a arte de Germano de Oliveira;
César de Lacerda dedicou-lhe o drama "Dous Mun-
dos ", pUblicado com uma carta -prefácio consagra-
dora; também L. A. Bourgain, autor dos dramas
51
"Luis de Camões", "Pedro Sem", "Casa Maldita': e
"Três Amores", ao publicar o seu drama "Mosteiro
de San Thiago", dedicou-o também a Germano com
elogiosa carta-prefácio.
Joaquim Serra, ao publicar a bio.grafia de
Germano de Oliveira, fez inserir no opusculo um
apêndice constante de poesias e tr~chos em prosas,
de vários autores, glorificando o blOgrafado.
Assim fica o leitor conhecendo as credenciais
de um a~tista que tão longas e operosas atuações
tea trais teve no Maranhão.
Germano Francisco de Oliveira, como vimos,
passou a ocupar o teatro do Maranhão, s_ubstit.uindo o
empresário Miró. Dispondo do Teatro S~o ~UlS, G.er-
mano deu ali muitos espetáculos e os pnmeiros balles
carnavalescos que começaram a 26. de abril de 1854,
j á com certa regulamentação. (21 )
Quando a Cia. de Germano de Oliveira inaugu-
rou o Teatro Santa Isabel, no Recife, com "O Pajem
de Aljubarrota", de Mendes Leal faziam parte do
elenco, além do empresário, os artistas Silvestre
Francisco Meira, Antonio Maximiliano da Costa, Pe-
dro Batista de Santa Rosa, Antonio José Duarte
Coimbra Sebastião Arruda de Miranda, José Maxi-
mino de' Almeida Cabral, José Francisco Monteiro,
(21)
52
Para obstar excessos o Chefe de Polícia Dl'. Anto-
nio de Barros Vasconcelos baixou regulamento
constando de oito artigos que, além de outras
medidas, proibia dançar pessoa. masc.arada com
pessoa não mascarada e, das brmcade}ras do en-
trudo, só eram permitidas o uso de pos dourados
e bisnagas de cheiro.
(Ver "Nossos bailes carnavalescos do teatro, no
século passado", por Jerônimo de Viveiros, em
"Revista do Maranhão", VoI. 1, n.o 4, 1951).
Antonio da Cunha l3,oares Guimarães, Joaquim José
Pereira, Caetano Marques de Souza, Joana Januária
de Souza Bittencourt, Emilia Matilde Valença, Rita
Tavares da Gama e Maria Soledade, alguns dos
quais acompanharam Germano, depois.
O artista achava-se em dia com as programações
apresentadas nos mais adiantados centros culturais
da Europa e do Pais e estava habilitado a enrique-
cer seus espetáculos com os elementos necessários
para satisfazer o gosto variado das platéias.
Em plena voga do melodrama as suas progra-
mações eram eminentemente ecléticas. Apresen-
tava-se em uma só noite: o drama, a comédia séria
ou brejeira, acompanhadas ou não de música e
números de variedades; usava-se e abusava-se de
recursos violentos, recorria-se aos grandes lances
dramáticos que a cena comportasse como o punhal,
"o veneno, o rapto de crianças, o falso testemunho,
tudo em maquinações tenebrosas". Matava-se e gri-
tava-se, deixando o espectador em excitação e, não
raro, em lágrimas levando-os muitas vezes até a
tomarem atitudes agressivas contra o vilão da peça,
na pessoa do artista.
Essas miscelâneas lírico-dramáticas ensejavam
ao público a satisfação de todas as preferências.
Era, aliás, um costume que nos viera de Portugal
e da Corte, onde também eram desse teor as pro-
gramações teatrais', considerando-se misciveis todos
os gêneros juntos.
A música, no caso, era um elemento suavizante
e portanto, de certo modo, explicava a predileção
pelos variados gêneros, conj un tamen te.
Nos espetáculos em beneficio dos artistas orga-
nizavam programas especiais e, nessas ocasiões, os
intérpretes preferidos ouviam saudações em cena ou
53
54
Germano
Costa
Nunes
Martins
Silvestre
Raimundo
Teixeira
Maria Luiza
Prima
A beneficiada
Augusto Lucci
recebiam, volantes impressos em papel colorido con-
tendo loas em versos, distribuídos também na pla-
téia.
Nos prímeiros dias de 1854, depois da habitual
ouverture, pela orquestra, foi apresentada a ópera
cômica "A Vendedora de Perus", com música de
Augusto Marinho, no espetáculo de benefício da atriz
Carmela Adelaida LucCí, tendo a seguinte distribui-
ção:
Rei da Prússia .
Conde de Newbourg .
Barão Laniehberg .
Butter .
Herman, lenhador .
Juiz de Paz da Aldeia .
Peters .
Um oficial .
Baronesa .
Gotta, vendedora de perus .
Doroteia, filha do juiz .
Terminada a ópera cômica, a beneficiada can-
tou a cavatina "Columela" e, depois de pequeno
íntervalo, foi à cena "a sempre aplaudida comédia
em 1 ato "O Diletante", tendo no papel de Paulista
o ator Germano".
Numa demonstração de quanto passou a ser
querida a atriz Carmela,(22) nos intervalos do espe-
(22) Manuela Lucci, informa Sousa Bastos, em "Car-
teira do Artista", era natural da Itália. Chegou ao
Brasil com três anos de idade. Era irmã da atriz
Carmela Lucci e ambas foram discípulas de Ger-
mano F. de Oliveira e esta esteve escriturada na
Cia. de João Caetano no Rio de Janeiro, como
bailarina (ver "Brasil Teatro", Mucio Paixão) .
.1
táculo, foram distribuídos ao público os habituais
volantes impressos em retângulos de papel colorido
com poesias dedicadas àquela atriz e, dessa onda de
oblações rimadas, reproduziremos apenas estas que
vinham sem menção do autor e não foram os únicos
versos:
"A brisa que bafej a as lindas flores
Ao doce alvorecer de ameno dia,
Quando suspira mágicos amores,
Tem menos terna a grata melodia!
A fonte que soluça e que suspira,
Ê menos sonora, é menos grata
Que a tua voz quando delira
No canto, que em prazer nos arrebata!
o brando rouxinol, que em fresca aurora
Enche os bosques de magníficos encantos,
Não tem tão doce voz, nem tão sonora
Qual dos anjos teus divinos cantos!
Um anjo nos seus cantos divínos
Cuja harmônica voz nos céus ondula,
Em seus supremos, magestosos hinos,
Com voz mais graciosanão modula!
A lira do cantor, que assim te brinda,
Brindar-te qual querera, não presume;
Pasma de te ouvir, seu canto finda,
Porque és da cena, Lucci, um anj o. .. um
[Nume!" (23)
(23) "Publicador Maranhense", de 3-Il1-1854.
55
Na própria notícia do espetáculo publicada nos
jornais, a atriz, em palavras de repassada gratidão,
se mostrou reconhecida pelas inúmeras demonstra-
ções de apreço, por parte do público, acrescentando
que: "se tiver necessidade de deixar esta terra levará
verdadeira gratidão."
No mesmo mês, cumprindo o contrato existente
entre o empresário e o governo da província, foram
apresentados mais cinco espetáculos, sempre prece-
didos de uma sinfonia com orquestra dirigida pelo
jovem e talentoso maestro Francisco Libânio Colás.
Em outra noite, apresentaram a ópera-cômica
em 5 atos "A graça de Deus" juntamente com a
farsa "A Flauta Mágica".
Nessa altura dos acontecimentos, prosseguindo
a empresa com sua série de espetáculos de assina-
tura, julgou necessário publicar um anúncio nestes
termos:
"A empresa, agradecendo a constância do públi-
co, avisa que os assinantes ficam preferencialmente
com direito aos seus camarotes e cadeiras, sempre
que avisem a tempo, depois de esgotada sua assina-
tura e queiram renová-la, até terminar o tempo
marcado pelo contrato celebrado com o governo da
Provincia" .
O espetáculo seguinte, dois dias depois, foi em
benefício de José Martins de Lemos, com "A Vene-
ziana ou o Bravo de Veneza", drama em cinco atos
que já era conhecido do público maranhense, apre-
sentado que foi pelos amadores locais. Findo o dra-
ma a orquestra tocou uma sinfonia, oferecida ao
beneficiado pelo maestro Francisco Libanio Colás e,
56
a seguir, a atriz cantora Carmela A. Lucci cantou
a cava tina da ópera "Parizina" de Donizetti.
No dia 22 era a quinquagésima apresentação
pela empresa de Germano de Oliveira e constou da
reapresentação de "A Vendedora de Perus" e, com-
pletando a programação, exibiram-se a atriz Car-
meIa e o ator Raimundo cantando e dançando o
"Fandango Saloio", sendo apresentada ainda a co-
média em um ato "A Emília Travessa".
Poucos dias depois foi a noite de benefício da
atriz Carolina Hipólito da Costa, apresentando-se,
pela orquestra, a grande sinfonia da ópera "Adélia",
de Donizetti, instrumentada pelo maestro Colás.
Consta va do programa o drama em três atos "A
Moura" que foi seguido da apresentação no palco da
composição musical "A Batalha D'Almosther", exe-
cutada pelo 5.° Batalhão de Infantaria e, finalizando
o noitada, a comédia "O Diabinho no Meu Quarto
de Dormir" com canto e dança. (24)
Quatro dias depois o programa, era verdadeira
colcha de retalhos, assim composto: depois da cos-
tumeira sinfonia, o primeiro ato do drama "Dom
Cezar de Bazan", terminado este, a atriz Carmela
(24) A comédia "O Diabinho no meu quarto de dor-
mir" é da autoria de João Clímaco Lobato, nascido
no Maranhão a 6-VIII-1829 e falecido em 1897.
Para o teatro ele escreveu os dramas: "Maria", 3
atos; "O Ouro", 3 atos; "A Neta do Pescador", 3
atos; "Porangueira", 2 atos e, mais as comédias:
"As Duas Fadas" 1 ato; "O Diabinho no meu
quarto de dormir", 1 ato; as óperas cômicas: "A
Mãe d'Água", 2 atos; "O Diabo", 3 atos com assun-
to de um romance omônimo e o drama "O Rou-
bo", encenado pela empresa Colás-Couto Rocha,
em abril de 1864.
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cantou a cavatina de "A Casta Diva", da ópera
"Norma" de Bellini, a seguir veio o terceiro ato do
"Dom ce;ar de Bazan" que foi seguido pela comédia
em um ato "A Emilia Travessa", finalizando a pro-
gramação com a comédia "O Diabinho no Meu
Quarto de Dormir", de João Climaco Lobato.
Alguns dias mais tarde, já em fevereiro de 1854,
lia-se no "Publicador" sob o titulo "Comentários"
um elogio ao empresário Germano Francisco de Oli-
veira do qual extraimos este pequeno trecho que
most;a a forma pela qual o público acolhia sua
empresa: " ... Nunca o teatro no Maranhão foi t~o
aplaudido, e sem medo de ser contesta.do posso aflr-
mar que nunca teve tão boa companhia que a todos
os respeitos tanto agradasse ao respeitável público;
torna-se portanto, o digno Sr. Germano Francisco
de Oliveira credor de gerais aplausos, tendo satisfa-
toriamen te cumprido sua árd ua missão; e para
verdadeira satisfação de quantos avaliam a cena
praza ao céu que o Exmo. Sr. Presidente da Provin-
cia cuja ilustração não é duvidosa, se amercie de
lhe' conferir de novo a empresa, visto que ele deve
estar assaz convencido da utilidade e ótimo desem-
penho do prestantissimo empresário que tem sabido,
por todos os modos a seu alcance, dar uma idéia não
equivoca de seu apreciável merecimento (As.
K) .
Na programação seguinte, foi a cena o drama
"A Graça de Deus" terminando o espetáculo com a
comédia "Oh Que Apuros ou o Noivo em Mangas de
Camisa" .
Não pararam ai as atividades do conjunto pois
ainda foram apresentadas três programações de
assinaturas assim constituidas: 1.0, depois da sinfo-
nia o drama "A Família MoreI", de "Os Mistérios,
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de Paris" de Eugenio Sue, juntamente com a farsa
"Os Cegos Fingidos", finalizando com a ária "Casta
Diva"; 2.0, o drama "O Mendicante ou a Justiça de
Deus", uma ária pela atriz Carmela e a Farsa "Pa-
gar o mal que não fez" com música do maestro
Francisco Libanio Colás e o 3.° programa foi reprodu-
ção do ante-penúltimo.
Aproximava-se o término do Contrato de Ger-
mano de Oliveira com o Governo da Provincia e,
depois da última récita, lia-se na imprensa diária;
"Ao ilustre Sr. Germano Francisco de Oliveira, dig-
no cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, por oca-
sião da última récita de sua empresa no Teatro
Nacional de São Luis, em 23 de fevereiro".
A seguir, publicavam-se muitas composições poé-
ticas que tiveram distribuição como volantes, no já
conhecido estilo panegirico como se vê neste soneto,
publicado em março de 1854:
"De Melpomene e Talma as nobres galas,
Por vezes Rei da cena, assaz te cobrem!
Teu mérito afamado bem descobrem
De Talma nos salões egrégios falas!
Com teu porte e olhar tu avassalas
Corações, que, em ver-te se enobrecem;
Pois que as tuas ações j amais encobrem
Méritos com que Germano te assinalas!
No Maranhense Palco o teu talento,
Prudência, Imagem, Discreção, Saber,
De olhos e ouvidos foi grande alento!
Saudoso vais partir... e assim deixar
A plaga maranhense grão tormento! .
Qual seja chamar-te e não te ver! .
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Nessa ocaSlao, também â atriz Carmela Adelai-
da Lucci que compartia as glórias com o ator
empresário, foram dirigidas poesias proclamando-
lhe os méritos liricos-dramáticos.
Na última récita, que como se disse, era de tér-
mino e encerramento do contrato que a empresa
firmara com o Governo e, por esse motivo se queria
não só testemunhar apreço ao artista empresário
como chamar a atenção dos governantes para reno-
vação do contrato e uma demonstração desse propó-
sito é este trecho de longa poesia, dirigida à atriz
Carmela:
Por leis do tempo imutáveis,
Hoj e a empresa findou,
Para privar-nos d'Artista,
Que entre nós um trono alçou.
Mas permita o nosso fado,
Que n'outra Empresa a raiar,
Vejamos ainda esse astro,
Na cena a reverberar ... "
Depois dessa noite de despedida alguns conjun-
tos esporádicos se apresentaram no teatro e a ex-
pectativa de Germano de Oliveira voltar a ocupar
o teatro logrou a melhor. O artista, tão logo teve
como certo esse fato, fez divulgar, pela imprensa,
uma nota comunicando ao público haver assinado
novo contrato com o governo provincial mas que,
antes de reiniciar suas atividades, iria à cidade do
Recife onde trataria de interesses da empresa para
então se apresentar à platéia maranhense, dentro
de três meses.
*
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A 17 de maio InICIaram-se as récitas de assina-
tura da série que a nova empresa de Germano iria
começar.
Meticuloso na organização de seus programas,
tendo em vista satisfazer a platéia, o ator empresá-

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