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Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 1 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: PANORAMA HISTÓRICO DAS MUDANÇAS SOCIAIS NO PERÍODO MODERNO. Introdução Uma das dificuldades do processo de ensino e aprendizagem da sociologia é a questão da periodização, pois quando falamos em surgimento da sociologia, das teorias clássicas e da sociedade industrial, estamos nos remetendo a um período distante do nosso, principalmente quando fazemos a comparação entre o período medieval e o moderno. Em muitas das vezes fica a pergunta: “qual foi o evento que precedeu este e qual foi o posterior?”. Um fato muito comum é associarmos nossa realidade próxima como primeira relação de pensamentos ao ouvirmos algum conceito. Somente num segundo momento é que situamos o evento em seu período histórico correto. Por exemplo, ao ouvirmos o conceito “sociedade”, já imaginamos nossas relações sociais próximas; ou na categoria “trabalho” já pensamos no trabalho de nossos pais, tios, amigos; se for sobre “religião” vem em nossa mente a nossa religião, etc. Pelo olhar da sociologia, tais conceitos devem ser analisados em seu período histórico correto, devido à compreensão de que sociedade é um processo dinâmico e, como tal, todos os seus fenômenos sofrem transformações. Dessa maneira, faz-se necessária uma compreensão, pelo menos genérica, dos principais fatos históricos que colaboraram com a transformação do Ocidente Moderno. Com isso, já percebemos que o surgimento da sociologia no século XIX não foi um fato que surgiu do nada; foi fruto de uma dada realidade, pois procurou responder a vários problemas reais. Além disso, a possibilidade de se analisar a sociedade cientificamente se deve a fatores ocorridos anteriormente. E não somente isso, associar a sociologia direta e exclusivamente com o marxismo, ou o partido de esquerda, é muito comum, principalmente quando se pretende fazer uma crítica pautada em preconceitos. Essa compreensão foi mais corriqueira durante o Regime de Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), a ponto de serem proibidos os cursos de sociologia nas universidades e no ensino médio. É fato que o marxismo deu uma grande contribuição ao pensamento sociológico e também histórico da realidade, apresentando-a em sua materialidade concreta, desvendando ideologias construídas historicamente. No entanto, podemos afirmar que a sociologia, enquanto ciência, é filha do Positivismo de Comte (1798-1857), bem como da Revolução Industrial no século XIX. Portanto, devemos ter a compreensão do panorama histórico dos fatos como processo do desenvolvimento intelectual à formulação da sociologia como ciência. Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 2 PERÍODO MEDIEVAL Após a queda do Império Romano (séc. V) a Europa retoma a estrutura agrária em feudos onde a igreja torna-se detentora do saber e poder político durante toda a Idade Média. A filosofia e a razão são subordinadas à teologia e aos dogmas da Igreja. Santo Agostinho, pautado pela teologia e pela filosofia, ensinava que os Homens seriam salvos a partir da construção de sociedades que reproduzissem o Reino de Deus, ou seja, sociedades justas e igualitárias. Mas esse conhecimento estava restrito aos teólogos e monges; o povo estava predominantemente preso ao pensamento místico/mágico. Tanto os humanistas da renascença quanto os filósofos Iluministas denominaram esse período de “Era das Trevas”. A sociedade Feudal era dividida em três grupos/estamentos (estratos sociais) e a Igreja legitimava tal estrutura social afirmando que “uns nasceram para rezar, outros para trabalhar e outros para guerrear”, como sendo uma ordenação divina. Nobres; Clero; Servos. Suserano: Nobre que concede terra ao vassalo e Séc. V-XIV séc. XIV-XVI Séc. XVI Séc. XVII Séc. XVIII Séc. XIX Período Feudal Período Moderno Consolidação da sociedade Capitalista Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 3 promete proteção. Vassalo: proprietário que promete fidelidade e apoio militar. Servos: Mão-de-obra camponesa. Pertenciam à terra, mas não eram escravos, pois não eram considerados propriedade dos senhores. O feudalismo foi um sistema político, social e econômico que predominou na Europa durante a Idade Média. Modelo social fundamentado na estratificação social na forma de produção agrícola para subsistência. As principais características da sociedade feudal: • Descentralização do poder político • Imobilidade social • Autossuficiência econômica dos feudos. A Igreja católica foi a instituição mais organizada e poderosa - do ponto de vista político e econômico - de toda a Idade Média. Com a transformação do Cristianismo em religião oficial do Império Romano em 391, por Teodósio, a Igreja passou a acumular fortunas e vários territórios além de influenciar reinos. Além de terem poder politico e econômico, os sacerdotes formavam a elite que sabia ler e escrever, e passaram a encerrar em si o monopólio do conhecimento. Em 1231 foi instaurado o Tribunal do Santo Oficio (Santa Inquisição), que tinha como objetivo julgar e condenar à morte os réus considerados infiéis ou hereges, nesse caso, todo e qualquer que se opusesse às ordens papais e eclesiásticas. RENASCIMENTO E SUAS TRANSFORMAÇÕES. SÉC. XIV – XVI O Renascimento é considerado um dos fatos mais importantes da história do Ocidente, pois é entendido como processo de ruptura com o mundo medieval e transição para o mundo moderno. É a transição de uma forma de sociedade com características agrárias, estamental e teocrática para uma sociedade urbana, burguesa e comercial, mais preocupada com as questões materiais e a individualidade. Esse período é marcado pelo desenvolvimento do comércio, navegações, contato com outros povos, crescimento urbano e intensificação da produção artística e literária. Além disso, foi uma retomada ao conteúdo da cultura greco-romana, rejeitado, em partes, pelo pensamento medieval. Assim, dando importância ao saber, à arte e à erudição, repudiando o misticismo medieval teocrático, considerado como obscurantismo, o chamavam de “Idade das Trevas”. O Renascimento como movimento cultural e intelectual surgiu primeiro na Itália, depois na Inglaterra e Alemanha. A Renascença italiana costuma ser dividida em três fases: O Trecento (Séc XIV), O Quattrocento (séc. XV) e o Cinquecento (Séc. XVI). Foi o período de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que decorou a Capela Sistina e projetou a cúpula da Basílica de São Pedro no Vaticano; de Sandro Botticelli (1445-1510), que participou da decoração da Capela Sistina e pintou inúmeras telas, e de Leonardo da Vinci (1452-1519), que foi pintor, arquiteto, botânico, cartógrafo, engenheiro, químico, escultor, físico e inventor. Pintor da Mona Lisa e do Homem Vitruviano. Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 4 Michelangelo Sandro Botticelli Leonardo da Vinci Há historiadores que veem um grande período de turbulência social e política, pois argumentam que não havia unidade política e religiosa, além das inquisições e o ressurgimento da escravidão como instituição legal. Esse foi um período de conflitos entre as nações que estavam se formando como Estado Nacional, portanto um período de guerras e perseguições intermináveis. Características do Renascimento: • Humanismo – Filosofia baseada no antropocentrismo;contrário ao teocentrismo; • Naturalismo – Busca pela representação da natureza fiel à realidade; • Racionalismo – valorização pela especulação e dúvida; • Hedonismo – defesa do prazer individual como único bem possível. REFORMA PROTESTANTE. (séc. XVI) A Reforma Protestante foi um evento crucial para o processo de modernização e de secularização, pois com a vitória de Lutero, a igreja Católica perde efetivamente sua hegemonia, porque romper com o poder religioso católico era também um rompimento político, e dessa maneira, os Estados nacionais não precisavam mais ter relações com Roma. Embora não fosse o ideal de Lutero o rompimento com o catolicismo e a projeção de uma nova tradição cristã - o Protestantismo - foi inevitável tal rompimento, pois não se tratava somente de uma corrupção de um grupo de padres dissidentes na Alemanha. Antes, a cobrança de Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 5 indulgências e comercialização das relíquias era uma proposta que vinha de Roma, ou seja, era algo permitido pelo Papa, que precisava de grande quantia de dinheiro para terminar a construção da Basílica de São Pedro no Vaticano. Dessa maneira, Lutero se decepciona com o catolicismo e não nega suas 95 teses que foram pregadas na porta da igreja de Wittenberg-Alemanha, para o conhecimento de todos. O luteranismo contribuiu efetivamente para que houvesse a possibilidade de transformação econômica, política e cultural na Europa Renascentista. Isso porque a Santa Inquisição não teve êxito com a condenação de Martinho Lutero, assim abrindo caminho para novas formas de pensamento religioso e político-econômico. Portanto, a Reforma religiosa aconteceu primeiramente na Alemanha, com Martinho Lutero em 1517, dando origem à doutrina e à Igreja Luterana. Posteriormente, com João Calvino, em 1532 na França, originando a doutrina calvinista e a igreja Presbiteriana, e em 1534, com o rei Henrique VIII na Inglaterra, formando a igreja Anglicana, constituindo assim, o Protestantismo. O protestantismo promoveu a popularização da Bíblia, sendo a primeira versão em língua nacional, ou seja, Lutero traduz a Bíblia do grego e hebraico para o alemão. Posteriormente, Calvino, para o francês, e respectivamente, os líderes religiosos anglicanos para o inglês, promovendo dessa maneira a alfabetização dos camponeses. Além disso, o Protestantismo contribuiu para a promoção da liberdade de consciência, a reflexão, e legitimou o enriquecimento, que outrora era proibido pelas doutrinas católicas. Filosofia Moderna Séc. XVII XVIII. Com o desenvolvimento da racionalização iniciada pelo Renascimento e com a vitória da reforma religiosa Protestante, o Ocidente passa pela transformação social, ou seja, o modelo de sociedade feudal se desintegra, dando origem a novas formas de sociabilidade e produção econômica, e assim, a uma nova sociedade. Essa nova sociedade, que pode ser datada a partir do século XVI, é caracterizada pela racionalização e afastamento do misticismo medieval, rompimento com o poder católico e ênfase no acúmulo de bens materiais e comerciais. Os séculos XVII e XVIII foram marcados pelo desenvolvimento da filosofia moderna, que procura refletir sobre a liberdade e igualdade entre os homens como forma de critica à religião e aos resquícios de poder medieval, portanto, foram filosofias marcadamente políticas. Com a desintegração das ordens medievais e estabelecimento dos Estados nacionais, a monarquia absolutista se estabelece e causa empecilhos às exigências de liberdade e expansão do mercado, atrapalhando os negócios da burguesia emergente. A burguesia ansiava por se libertar das amarras estabelecidas pelas monarquias absolutas que atravancavam a livre iniciativa, a liberdade de comércio e a concorrência entre salários, preços e produtos. O pensamento filosófico burguês defendia a ideia de economia regida por leis naturais de oferta e procura que tendiam a estabelecer pela livre concorrência. Mas, para isso, havia a necessidade de romper com o regime monárquico absolutista e estabelecer a República. E para esse objetivo, o Iluminismo do séc. XVIII leva a racionalidade ao ultimo grau, refletindo sobre novas Prof. Edson Elias Sociologia Colégio Portinari. Página 6 formas de cultura, sociabilidade e política. E a partir disso, dá-se origem à Revolução Francesa em 1789, e à Industrial, por volta de 1830. Assim, a sociedade capitalista vai se expandindo desde o século XVI, culminando com a Revolução Industrial na Inglaterra e a Revolução Francesa. Tais revoluções vão marcar a consolidação da industrialização e da burguesia enquanto nova classe dominante e dirigente. A concepção teológica do mundo vai sendo substituída pela filosófica e racionalista, e posteriormente pela científica. Todas essas transformações históricas, filosóficas e culturais contribuíram para o surgimento da sociologia como ciência, uma vez que a filosofia estava sendo questionada pelas ciências naturais como mera especulação, havendo a necessidade de se conhecer cientificamente a sociedade do século XIX, para que se possa projetar um melhor desenvolvimento, ou seja, avançar no progresso. BIBLIOGRAFIA ADORNO, Theodor. HOKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. São Paulo, Cultrix, 1973. COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. VIANA, Nildo. Introdução à Sociologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Revista: Guia do Estudante – História. São Paulo: Abril, 2009.
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