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Mediação de Conflitos

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Mediação de Conflitos
AULA 1:
Compreender o porquê da necessidade atual de se entender o diálogo entre as pessoas como forma de buscar a pacificação social. Essa realidade exige uma mudança de paradigma nas atuações do indivíduo e da sociedade no que diz respeito à resolução de conflitos.
Ao final da era industrial, o homem tinha que se adaptar aos produtos oferecidos e se contentar com uma demanda maior que a oferta. Nesse momento, o foco deixou de ser o produto e passou a ser a(s) necessidade(s) do homem. Começaram a surgir preocupações quanto às relações estabelecidas entre as pessoas e um olhar mais atento às diferenças entre elas.
Esse foi o início de propostas de resoluções de conflitos mais direcionadas ao respeito e ao diálogo. Com base nisso, veio (e vem) ganhando aderência e consistência a utilização de outros métodos de resolução dos conflitos, que se caracterizaram pelo rompimento com as formas tradicionais do direito processual (formal), passando-se a buscar a adoção de procedimentos mais simples e informais.
O acesso à justiça é direito fundamental do ser humano, reconhecido pelas declarações de Direitos Humanos, como a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, mas também, e principalmente, a tutela jurisdicional efetiva, rápida e sem demoras indevidas. Isto significa dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos prejuízos que causa quando não presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não respeita, por omissão, o direito humano fundamental de real acesso à justiça.
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de 1988.
O que percebemos, na atualidade, é que os limites do Judiciário, que eram organizados buscando uma precisão, estão com seu alcance diminuído. A expansão da informática, dos meios de comunicação e dos transportes vão estabelecendo múltiplas redes de relacionamento. O formalismo demanda tempo para a solução dos litígios, e o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora.
O Judiciário foi estruturado para atuar sob a orientação de Códigos, cujos prazos e procedimentos tornaram-se incompatíveis com as várias lógicas, processos decisórios, ritmos e tempos, presentes em nosso mundo globalizado.
Estamos no tempo da simultaneidade, com um Judiciário ainda sem meios materiais e técnicos para acompanhar esse contexto cada vez mais complexo.
A garantia ao acesso à justiça deve ser entendida, então, como uma garantia que vai além do simples ingresso no Poder Judiciário. Nesse contexto, tendem a se desenvolver outros procedimentos jurisdicionais como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, como formas alternativas para alcançar a informalidade, a celeridade e a praticidade.
Mudança de Paradigma 
 As relações sociais são extremamente ricas em detalhes emocionais e culturais e, ao mesmo tempo, demasiadamente frágeis. Diante dessas características, os conflitos não podem ser tratados de forma generalizada e superficial, sendo necessária e fundamental uma ruptura com o paradigma vigente que é o da lógica determinista binária. 
 O paradigma da lógica determinista binária é o paradigma do ganhar/perder, em que a perpetuação do litígio é quase inevitável, podendo chegar a níveis patológicos. Quem é ferido, quer ferir, depois há o revide, e, por causa dessa reação, ocorre outra reação. Essa situação é infinitamente alimentada pelos sentimentos que desperta. As partes são dominadas pela emoção, perdem a noção de responsabilidade pelos seus atos e a importância de uma convivência pacífica com o próximo. 
Como você percebeu, é importante a adoção de novas técnicas e posturas que possibilitem a minimização das consequências geradas pelo litígio. 
Fica claro, então, que não basta, para a solução dos conflitos, a mera aplicação da Lei. Essas relações não são matemáticas. Normalmente, para os envolvidos em um conflito, dois mais dois nunca é quatro. Há sempre este ou aquele detalhe, e que teve consequências determinantes e irreparáveis na maneira de ver a realidade que se apresenta. 
 Portanto, percebe-se como urgente e necessária uma mudança de paradigmas para o manejo dos conflitos. Em vez de privilegiar os processos litigiosos, deve-se buscar o entendimento entre as partes, sempre visando à manutenção e responsabilização correlatas. 
 Dessa maneira, percebe-se claramente a importância dessa nova postura, que privilegia a formação de novos paradigmas em substituição àquele do “ganhar/perder”. Esses novos paradigmas têm como matriz a cooperação e a construção conjunta das soluções. 
 E o que está sendo feito? 
Desde o fim dos anos 90, a demora na prestação judicial e o acesso à justiça vem sendo destacada em nosso país. De acordo com o Manual de Mediação para a Defensoria Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014), há um movimento conjunto dos três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, para modificar o sistema judiciário brasileiro e a cultura do litígio (lógica determinista binária), que ainda é predominante em nosso país. Algumas ações são destacadas: 
a) Prevenção do litígio por meio de políticas que garantam uma melhor prestação de serviços à população, por parte de empresas que hoje representam um dos polos da maioria dos processos judiciais; 
b) Promoção de alternativas ao Judiciário para resolução de conflitos, com ênfase no uso de técnicas autocompositivas (autocompositivas “são aquelas em que as próprias partes interessadas, com ou sem a colaboração de um terceiro, encontram, através de um consenso, uma maneira de resolver o problema.” (SANTOS, 2004, p. 14); nas heterocompositivas, “o conflito é administrado por um terceiro, escolhido ou não pelos litigantes, que detém o poder de decidir, sendo a referida decisão vinculativa em relação às partes.” (SANTOS, 2004, p. 14).) como a mediação, a conciliação e a negociação; 
c) Capacitação de profissionais que possam atuar como mediadores extrajudiciais, judiciais e no âmbito da Administração Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014).
Mecanismos alternativos de resolução de conflitos
É de fato, uma realidade, que devemos recorrer, só em casos indispensáveis, aos tribunais para resolver nossas controvérsias. Não apenas pela demora, pela falta de eficiência, mas, sobretudo para alcançar outros objetivos. É necessário modernizar a prestação jurisdicional, adequando-a a nossa realidade. Isto quer dizer, torná-la mais democrática, mais justa, mais humana. E para isso devemos mudar nossas mentalidades em relação aos conflitos entre nós mesmos e a maneira de solucioná-los. Aceitar a possibilidade de, através da utilização de métodos alternativos e pacíficos de resolução desses conflitos, conciliarmos nossos interesses e alcançarmos a paz tão desejada. É, sem dúvida, resolvendo nossas controvérsias pacificamente, conciliando nossos interesses e conquistando a paz, que teremos a certeza de sempre estarmos alcançando a verdadeira justiça.
Vamos então ver os principais métodos já citados quando vimos o Acesso à justiça.
Negociação
Você, possivelmente, já participou de uma negociação no decorrer de sua vida. Concorda que a negociação é o caminho natural nas relações humanas para a resolução de conflitos?
Com frequência, em nossas vidas, temos de negociar algumas questões. Tais situações tornaram-se tão comuns que, algumas vezes, não percebemos que estamos diante de uma negociação. Em vários momentos, sejam eles no convívio social e familiar, em uma loja, na Universidade, no trânsito ou no trabalho, estamos vivenciando relações com contínuas propostas e contrapropostas.
Definição
A negociação pode ser definida como uma relação que duas ou mais pessoas estabelecem a respeito de um assunto, visando encontrar posições comuns e chegar a um acordo que seja vantajoso para todos.Dinâmica
A negociação inicia-se quando há diferença de posições entre as partes. No entanto, ela só existe se houver interesse das partes em tentar chegar a um acordo. Dessa forma, respeitar o outro é uma norma que existe em qualquer negociação.
As partes
É preciso ficar claro que as pessoas não são consideradas inimigas em uma negociação. Muito pelo contrário, são vistas como colaboradoras, trabalhando para eliminar as diferenças existentes e chegar a um acordo aceitável por todos. Quando negociamos, enfrentamos os problemas e não as pessoas.
Meta da negociação
Buscar um acordo que satisfaça as necessidades de todos os envolvidos. Deve-se tentar chegar a uma solução equitativa que inclua os pontos de vista e interesses de todos os envolvidos.
Assim, todos os envolvidos considerarão o acordo como algo construído por todos, e não como uma solução imposta.
Enfim, todos sairão satisfeitos de uma negociação, com a intenção de cumprir o que foi combinado e com o interesse de manter essa relação que teve um resultado tão vantajoso para todos.
Conciliação
Conciliar, se olharmos os dicionários, significa harmonizar-se, alcançar pacificação. A tentativa de conciliação prevê, portanto, a expressão maior do pacto social entre as partes. Vamos aprofundar um pouco mais esse significado.
Conceito
Conciliação é uma forma de resolução de controvérsias na relação de interesses administrada por um Conciliador (investido de autoridade ou indicado pelas partes), a quem compete: aproximar as partes, controlar as negociações, aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar vantagens e desvantagens. O objetivo do conciliador é sempre o de estabelecer uma composição do litígio pelas partes.
O Conciliador
A participação ativa do conciliador, como instrumento e garantia de possibilidade de acordo, a renovação da proposta pelo juízo e o bom senso das partes e dos advogados são questões fundamentais. Empenho e técnica, assim como o tratamento respeitoso, farão com que as partes, diante da resposta rápida e eficiente através da conciliação, sejam vistas como o próprio fim da prestação jurisdicional.
Características da Conciliação
A conciliação tem suas próprias características. Além da administração do conflito por um terceiro imparcial, esse conciliador tem a prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após avaliar as vantagens e desvantagens que tal proposta acarretaria para as pessoas.
Amparo legal
Em resposta aos anseios sociais e em atendimento ao mandamento constitucional, contido no artigo 98 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), o Legislativo editou e aprovou a Lei 9.099/95. Os Juizados Cíveis e Criminais, de que trata essa lei, são órgãos da Justiça criados para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência, disciplinadas por essa lei. O processo, nesses Juizados, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Juizados e Justiça do Trabalho
O Juizado Especial Cível (JEC) tem competência para a conciliação, processo e julgamento de causas cíveis de menor complexidade. O Juizado Especial Criminal (JECRIM) também tem competência para a conciliação, julgamento e execução de infrações penais de menor potencial ofensivo, tais como as contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, excetuando os casos em que a lei prevê legislação especial.
A conciliação é também consagrada na Justiça do Trabalho para prestigiar o espaço de autonomia das vontades individuais, buscando uma solução negociada de conflitos entre patrão e empregado.
Arbitragem
A arbitragem já estava prevista em nossas leis há muito tempo, e, segundo alguns autores, ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei 9.307 – Lei de Arbitragem.
A arbitragem é um meio privado e alternativo de solução de controvérsias extrajudiciais de direito patrimonial disponível nas áreas cível, comercial e trabalhista. Ela pode ser usada para resolver problemas jurídicos sem a participação do Poder Judiciário. É um mecanismo voluntário: ninguém pode ser obrigado a se submeter à arbitragem contra sua vontade.
Instrumentos da arbitragem
Os instrumentos que podem ser utilizados na arbitragem são a cláusula compromissória (Está inserida em um contrato, sendo redigida antes do início do conflito. ) e o compromisso arbitral (É um contrato próprio para escolher a arbitragem, redigido após o surgimento do conflito.)
Esses dois instrumentos levam as partes para a arbitragem e excluem a participação do Judiciário, desde que a escolha pela arbitragem tenha sido feita livremente por todos os envolvidos.
Adesão das partes
É importante destacar que ninguém pode ser obrigado a assinar um compromisso arbitral ou um contrato que contenha a cláusula compromissória.
Contudo, se os envolvidos já fizeram livremente a opção pela arbitragem no passado, não poderão voltar atrás no futuro e desistir dela, caso surja algum problema. Somente será possível recorrer ao Judiciário se tiver ocorrido uma violação grave do direito de defesa, bem como em outras situações bem limitadas.
Mediação
Nesta aula, não é o nosso objetivo descrever detalhadamente a mediação, mas apresentá-la com o objetivo de que você possa diferenciá-la dos demais meios alternativos de resolução de conflitos.
A Mediação é um meio alternativo de solução de controvérsias, litígios e impasses, na qual um terceiro, imparcial, de confiança das partes (pessoas físicas ou jurídicas), livre e voluntariamente escolhido por elas, intervém, agindo como um “facilitador”, um catalisador, que, usando de habilidade e arte, as leva a encontrar a solução para as suas pendências. Na Mediação, as partes têm total controle sobre a situação, diferentemente da Arbitragem, na qual o controle é exercido pelo Árbitro; assim como na Conciliação, pelo Conciliador.
O Mediador é um profissional treinado, qualificado, que conhece muito bem e domina a técnica da Mediação. A mediação vem sendo adotada pelo Judiciário, com experiências em vários Estados brasileiros, ainda em busca de um conceito, porque, muitas vezes, têm conteúdo de Conciliação. Mas o importante é a iniciativa e a aceitação da experiência.
I- Administração do conflito por um terceiro imparcial. Este tem a prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após a avaliação das vantagens e desvantagens que tal proposição traria a ambas as partes: CONCILIAÇÃO
II- É o caminho natural nas relações humanas para a resolução de conflitos. A todo momento, em nossas vidas, temos algumas questões para serem resolvidas dessa forma: NEGOCIAÇÃO
III- Já estava prevista em nossas leis há muito tempo, mas ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei n.º 9.307: ARBRITAGEM
IV- As partes têm total controle do procedimento, mantendo a autonomia para decidir os aspectos em questão: MEDIAÇÃO
AULA 2:
Veremos que permanentes conflitos marcam a nossa história, desde os povos e tribos primitivos, que quase sempre decidiam suas questões pela força, muitas vezes, com extrema violência, até os conflitos atuais.
Estudaremos a mediação em seus aspectos históricos, em sua evolução e propostas em alguns países, bem como o surgimento de sua importância em nosso país.
Perceberemos que está sendo dada, cada vez mais, importância à mediação. Observaremos como ela está sendo desenvolvida no Brasil, incluindo sua regulamentação legal.
Somente a partir da virada do século XX, a mediação tornou-se institucionalizada em vários países, e desenvolveu-se como uma profissão reconhecida. O crescimento da mediação deve-se, principalmente, ao reconhecimento dos direitos humanos: aspirações em relação à participação democrática em todos os níveis sociais, a crença de que o indivíduo tem o direito de participar e ter controle sobre as decisões que afetam a sua vida e maior tolerância à diversidade.
América do Norte
Iniciaremos nossa viagem para entender como funciona a mediação no mundo. Nossa primeiraparada: América do Norte.
Canadá e Estados Unidos
O uso da mediação aumentou em muitos países e culturas, mas talvez tenha aumentado de forma mais rápida nos Estados Unidos e no Canadá. Os primeiros setores em que a mediação foi formalmente instituída situavam-se na área trabalhista, para tratar de conflitos entre patrões e empregados, em 1913.
Na esfera federal, nos Estados Unidos, serviu de modelo para o desenvolvimento de resolução de disputas, nas comunidades e em relação às práticas discriminatórias quanto à etnia e à nacionalidade. No Canadá, foram organizados serviços de resolução de disputas, também, para lidar com as diferenças entre comunidades étnicas.
Em muitas comunidades norte-americanas e canadenses, a mediação, segundo Moore (1998), vem sendo aplicada em conflitos entre proprietários e arrendatários de terras, em questões relacionadas aos desabrigados, em conflitos entre os cidadãos e a polícia e em disputas entre consumidores.
Além de programas de mediação local, há programas de âmbito estadual em muitos Estados norte-americanos.
A mediação é praticada nas escolas e nas Instituições de Ensino Superior em relação às disputas de alunos entre si, entre alunos e professores, entre os membros do corpo docente e entre o corpo docente e a administração.
Os sistemas de Justiça Criminal do Canadá e dos Estados Unidos têm utilizado a mediação para as queixas criminais, incluindo os programas de mediação entre vítima e agressor. Uma outra área de crescimento muito rápido da mediação é a área de disputas familiares, em questões como guarda de filhos e separações.
Nos setores corporativos e comerciais, segundo Moore (1998), a mediação, em alguns tipos de disputa, ultrapassou a arbitragem quanto a sua escolha. Uma área de amplo crescimento, nos Estados Unidos e no Canadá é a da atenção à saúde. São tratados casos de negligência médica, além de conflitos entre médicos, administradores, hospitais, equipes técnicas, disputas bioéticas, negação de cobertura de seguradoras de saúde etc.
Ásia
Seguimos adiante, próxima parada: Ásia.
China
A República Popular da China vem praticando a conciliação para resolver disputas interpessoais, comunitárias e cíveis através dos Comitês de Conciliação e tribunais de conciliação. Esses Comitês Populares são prestadores de serviços institucionalizados pelo governo. A mediação tem sido introduzida para resolver disputas ambientais entre jurisdições e entre entidades governamentais. Hong Kong institucionalizou as mediações comerciais e familiares. Segundo Nazareth (2009), o país já formou um milhão de mediadores. 
JAPÃO
O Japão tem uma longa história quanto ao uso da mediação. As bases da mediação japonesa estão ligadas aos costumes do país. 
A mediação está incorporada à cultura empresarial e é utilizada nos tribunais para casos cíveis de uma forma geral, principalmente na área de família. A mediação familiar é obrigatória para a maior parte dos procedimentos de divórcio e para muitas questões entre pais e filhos.
OUTROS PAÍSES
A Coreia desenvolveu a mediação para lidar com conflitos familiares e cíveis através de programas independentes e dos tribunais. A Tailândia, a Malásia e a Indonésia desenvolveram vários setores em que a mediação é usada. As Filipinas e o Sri Lanka estabeleceram programas de mediação comunitária para os conflitos cíveis e criminais de menor potencial ofensivo. Na Índia, os Tribunais Populares oferecem mediação e conciliação para conflitos matrimoniais e cíveis. O Nepal desenvolveu os processos de mediação para tratar de conflitos conjugais, financeiros e ambientais.
AUSTRÁLIA, NOVA ZELÂNDIA E MELANÉSIA
Agora, aterrissaremos na Oceania para conhecer a mediação nas seguintes regiões
AUSTRÁLIA
Na Austrália, a mediação em vários setores teve apoio financeiro de agências governamentais. Na maioria dos Estados, foram fundados Centros de mediação comunitária para as disputas cíveis e de vizinhança. Além disso, tem sido bem desenvolvida a mediação em disputas industriais e culturais dos povos aborígenes.
NOVA ZELÂNDIA
Assim como a Austrália, a Nova Zelândia também teve desenvolvimento na mediação, muito semelhante aos Estados Unidos. Na Nova Zelândia, a mediação é utilizada em várias disputas como: comerciais, cíveis, crimes de menor potencial ofensivo, familiares, trabalhistas, habitacionais, agrárias e ambientais.
MELANÉSIA
Na Melanésia, as aldeias têm um conselheiro e um comitê que se reúne para analisar as disputas. Esse processo é, ao mesmo tempo, um julgamento e um acordo por consenso.
ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO
Nossa viagem segue com uma rápida parada na África e no Oriente Médio.
Segundo Moore (1998), a mediação é usada tanto nas sociedades africanas tradicionais como nas sociedades modernas, variando de tribo para tribo e de região para região. No Quênia e na Somália, o trabalho de mediação tem sido realizado por um Comitê, por grupos religiosos e não religiosos locais para disputas entre clãs e disputas étnicas. A África do Sul tem apresentado o maior desenvolvimento, neste continente, no que diz respeito à mediação formal. Em 1968, foi fundado um Centro de Resolução de conflitos que foi importante, não apenas para a resolução de conflitos, mas também para a redução da violência, dos conflitos trabalhistas, raciais e políticos. Desde as eleições nacionais de 1994, a mediação mudou seu enfoque da violência para o desenvolvimento e reconciliação nesse país.
Há séculos, nas sociedades árabes, a mediação, em tribos e cidades, tem sido o método utilizado para resolver disputas e tem sido adaptado, atualmente, para questões políticas e militares internas e entre os Estados Árabes. O uso de intermediários no Oriente Médio para ajudar nas resoluções de disputas é muito comum hoje. A mediação tem papel importante nos conflitos diplomáticos e nas guerras.
EUROPA
Chegou a hora de carimbarmos nosso passaporte no velho continente.
O movimento pela mediação na Europa teve início no fim da década de 90, seguindo a nova era que emergia nos EUA a partir da Pound Conference de 1976 (glossário), em que nasceram conceitos como o multi-door courthouse (glossário). Apesar disso, muitos países já conheciam e utilizavam a mediação.
A Comunidade Europeia, em 1986, através do Conselho Europeu, encaminhou uma recomendação do Conselho de Ministros aos Estados Membros, sugerindo que fossem estudados mecanismos alternativos para o tratamento de conflitos, dando ênfase à mediação e reconhecendo a sobrecarga de processos dos tribunais europeus. As formas como as nações europeias se organizam, dependem dos seus fatores constitucionais culturais e políticos, no entanto, os mecanismos alternativos de resolução de conflitos têm sido amplamente utilizados. Em 1998, foram publicados os Princípios Europeus sobre Mediação Familiar, pelo Conselho Europeu, cujo texto foi elaborado pelos representantes dos quarenta Estados Membros desse Conselho.
GUATEMALA
Na Guatemala desenvolveu-se um sistema denominado bifrontal: por um lado, anexo aos tribunais onde se atendem casos advindos dos juízes ou a requerimento de pessoas individuais, instituições públicas ou privadas. Quando se tratar de mediação penal será necessária a homologação judicial para sua validade. Possibilitou-se, também, o desenvolvimento de centros privados ou públicos, além de centros comunitários que atendem com mediação os conflitos dos povos indígenas.
NICARÁGUA
Na Nicarágua, a mediação foi adotada, em matéria de conflitos de terra, como procedimento obrigatório, uma vez integrada a lide; ou o uso da arbitragem quando solicitado pelos sujeitos. A mediação prévia obrigatória é, muitas vezes, descartada para economia do tempo do juiz, salvo quando se tratar de medidas penais ou de ordem pública.
ARGENTINA
Na Argentina, especificamente, desde 1991 existe a RADs (“Resolução Alternativa de Disputas”), quando foi desenvolvida a arbitragem e iniciada a mediação por meio da criação de uma comissão de juízes e advogados. Posteriormente, foi aprovada a Lei Nacional de Mediação e Conciliação,a qual teve vigência a partir de 1996. O país teve por base inicial as regras do Instituto de Justiça Estatal do Centro para Resolução de Conflitos, com sede em Washington, DC, bem como do Instituto de Administração Judicial, com sede em Nova York (HIGHTON;ALVAREZ,2008).
MEDIAÇÃO NO BRASIL
1988
No Brasil, a partir da Constituição de 1988, quando se redemocratizou o país, o Judiciário começou a ser demandado pela maioria da população brasileira. Essa explosão de demandas judiciais, ligada à busca da cidadania, teve reflexo imediato: a crise do Poder Judiciário.
Por um lado, nunca o Judiciário teve tanta visibilidade para a população; por outro, a qualidade dos serviços prestados decaiu, especialmente por falta de estrutura material ou de pessoal, além de uma legislação processual inadequada aos novos desafios institucionais. Surge, a partir desse momento, o fenômeno da judicialização das relações políticas e sociais e o tema da democratização do acesso à justiça.
O acesso à justiça, porém, não se limita ao ajuizamento de uma ação perante o Poder Judiciário, mas à garantia de entrada a um processo justo, sem impedimentos e demora, e adequado à solução do conflito. Dessa forma, percebeu-se que facilitar a comunicação entre os litigantes e garantir mais liberdade na discussão de suas desavenças contribui para a construção de uma solução consensual, com a vantagem de tornar as partes mais propensas em cumprir voluntariamente o acordo, bem como prevenir novos desentendimentos.
Por força dessas vantagens, a mediação veio sendo difundida paulatinamente em nosso País. Curiosamente, com o advento da lei de Arbitragem (9.307/96), observou-se um número crescente de câmaras arbitrais também especializadas em mediação. A primeira tentativa de encaminhar uma lei versando especificamente sobre a mediação foi apresentada em 1998 (PL 4.827/98), oriunda de uma proposta da Deputada Zulaiê Cobra, definindo o instituto.
A proposta teve por objetivo fixar as diretrizes fundamentais do procedimento, mas sem regulamentar todos os detalhes. Aprovado o projeto na Câmara dos Deputados, a proposição seguiu para o Senado Federal (PLC 94/2002). Por outro lado, o Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP e a Associação de Magistrados Brasileiros – AMB, através de uma equipe de juristas, elaboraram um anteprojeto de lei sobre mediação, demonstrando que o debate sobre o tema também se fez presente no meio jurídico-acadêmico.
2003-2006
Na verdade, diante da variedade de propostas legislativas e da diversidade de abordagem da questão, houve audiência pública promovida pelo Ministério da Justiça, em 17 de setembro de 2003, e que resultou numa “versão única”.
Encaminhada essa versão ao senador Pedro Simon, relator do projeto de lei então aprovado na Câmara dos Deputados, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal – CCJ/SF, em junho de 2006, acolheu as sugestões apresentadas na forma de um substitutivo, o qual também prestigiou algumas modificações.
Esse projeto não conseguiu avançar na Câmara dos Deputados, assim como outras propostas legislativas referentes à utilização da mediação, notadamente para a solução de conflitos familiares, como são exemplos os seguintes Projetos de Lei na Câmara dos Deputados: 5.696/2001, 599/2003, 1.415/2003, 505/2007, 507/2007, 1.690/2007, 428/2011 e 5.664/2013. (SALOMÃO, 2015).
No Senado Federal, outro projeto de lei apresentado para regulamentar a mediação – o PLS 517, de 2011, de autoria do Senador Ricardo Ferraço –, permaneceu à espera de debate por mais de dois anos.
2010
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução n. 125 (http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2579), de 29 de novembro de 2010, indicando a mediação como meio de resolução de conflitos inserido na Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos, a ser desenvolvida pelo próprio Conselho e pelos Tribunais do país, em parceria com outros órgãos e instituições.
2013
O Senado Federal, por iniciativa do Presidente Renan Calheiros, instalou, em 3 de abril de 2013, uma comissão de juristas, com a finalidade de elaborar um anteprojeto de lei de arbitragem e mediação. Após seis meses de trabalho intenso – em que foi garantida ampla participação ao público interessado –, foram apresentados dois anteprojetos de lei: um que propunha alterações na atual Lei de Arbitragem (PLS 406/2013) e outro sobre mediação extrajudicial (PLS 405/2013).
O Ministério da Justiça, concomitantemente, sob orientação do Secretário da Reforma do Judiciário, Flávio Crocce Caetano, instituiu uma comissão de juristas com o objetivo de formular proposta que subsidiasse a adoção de formas adequadas à solução célere de conflitos. E o resultado foi a elaboração de anteprojeto de lei de mediação que também passou a tramitar no Senado Federal (PLS 434/2013).
2015
Analisando conjuntamente esses 3 projetos de lei (PLS 517/2011, 405/2013 e 434/2013), a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sob a Relatoria do Senador Vital do Rego, apresentou substitutivo. Encaminhado o projeto de lei à Câmara dos Deputados (PL7.169/2014), foi elaborado substitutivo pelo Deputado Sergio Zveiter. Remetido novamente ao Senado, o projeto foi finalmente aprovado no dia 02 de junho de 2015, esforço conjunto envolvendo os 3 Poderes e todos que participaram de sua elaboração, e foi sancionado em 26 de junho de 2015, pela Presidente Dilma Roussef, como Lei 13.140 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm).
A aprovação e posterior promulgação do marco legal da mediação é mais um passo na direção de um moderno sistema de resolução de conflitos no país e na construção de uma cultura que privilegie o diálogo, o consenso e a paz. A Lei prevê, em suas disposições finais, que a mediação seja amplamente utilizada no país, podendo ser aplicada em diferentes tipos de conflito. A intenção do legislador é de incentivar o desenvolvimento de novas modalidades de mediação, abrindo espaço, dessa forma, para ampliação de sua aplicação a diversos tipos de conflitos.
É importante que você leia com atenção a Lei da mediação e estude suas principais características. Um texto importante para esclarecer alguns aspectos positivos e negativos da Lei, você encontrará no trabalho de ORTIZ (2015). Igualmente fundamental, para você que está iniciando seus estudos sobre esse tema, é ficar ciente das boas práticas de mediação no Brasil. O que pode ser feito através do acompanhamento de um estudo qualitativo realizado numa parceria entre a Secretaria de Reforma do Judiciário e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que promove pesquisas sobre temas relevantes para a compreensão do Sistema de Justiça no Brasil. O objetivo dessas investigações é o de fomentar a discussão sobre práticas de ampliação do acesso à Justiça e de fortalecimento da cidadania.
Nesse trabalho, você irá perceber que os meios alternativos de resolução de disputas não são modelos fechados, havendo diversidade de práticas de acordo com o contexto social, político e econômico de cada Estado em nosso país.
A Comunidade Europeia vêm recomendando as RAD’s (Resoluções Alternativas de Disputas) em seus estados-membros. Podemos enfatizar nesse sentido: A publicação dos princípios europeus sobre a mediação familiar cujo texto foi elaborado pelos representantes dos estados-membros.
AULA 3:
A mediação, como já vimos, é um meio não adversarial, voluntário e pacífico de resolução de conflitos, em que um terceiro (o mediador, imparcial) atua como facilitador do diálogo entre as partes envolvidas. Ele as conduz a encontrarem, de maneira cooperativa, as soluções que melhor satisfaçam os seus interesses.
No entanto, esse procedimento exige uma base teórica, na qual fundamenta suas técnicas e princípios que devem ser respeitados para que essa prática ocorra de forma correta e ética.
Alguns saberes
Vamos iniciar nossa aula conhecendo a relação da mediação com algumas disciplinas:
Direito
A Mediação inspira-se no Direito quando objetiva auxiliar as pessoasa resolverem seus conflitos, orientadas pelo parâmetro da solução justa, respeitando as questões legais determinadas pela sua cultura. Isso fica mais claro quando, por exemplo, é solicitada a revisão legal de um acordo, antes da assinatura pelos mediandos, sempre que a matéria assim o exigir, cumprindo uma norma ética na Mediação. A mediação, dessa forma, poderia ser considerada como uma forma de ordem jurídica justa, porque leva a uma justiça mais:
Adequada: Aumenta o acesso à justiça porque, entre os outros métodos, possui uma forma mais apropriada de abordar e resolver aquele determinado conflito.
Tempestiva: Por ocorrer no tempo dos mediandos, uma vez que, de certa forma, estabelecem o período de duração da mediação, a partir de suas habilidades e capacidades de negociação, aumentam o acesso à justiça.
Efetiva: A solução é construída pelas próprias pessoas envolvidas no conflito, tendo como base a satisfação e o benefício mútuos, a partir do atendimento de suas necessidades, aumentando, assim, o acesso à justiça (ALMEIDA, 2014).
SOCIOLOGIA
A contribuição da Sociologia é decisiva para a compreensão do valor das redes sociais nos processos de negociação. Mediadores também trabalham com a negociação que os mediandos precisam fazer com os seus interlocutores – advogados, amigos, parentes, colegas de trabalho ou de crença religiosa, entre outros.
Com essas pessoas, são estabelecidas alianças e construídos entendimentos sobre o desacordo e sobre o outro, assim como soluções e interesses a serem defendidos.
Os mediandos não podem, em algumas situações, avançar em uma negociação, em função de compromissos estabelecidos com suas redes de pertinência. Nesses casos, é preciso ajudá-los a negociar com essas redes, dentro ou fora do processo de mediação, para que possa ocorrer a autocomposição.
A mediação estimula o diálogo dos mediandos com suas redes de pertinência e permite que elas venham à mediação, quando são identificadas como geradoras de impasses à solução do processo, ou, ainda, quando são o suporte para o cumprimento do que foi estabelecido na mediação.
PSICOLOGIA
Da Psicologia, a mediação utiliza as leituras teóricas sobre o funcionamento emocional humano e valoriza as emoções como componente fundamental dos desentendimentos. A mediação trabalha, indiretamente, com as emoções quando se propõe a incluir a restauração da relação social dos envolvidos.
As abordagens que incluem o relacionamento humano como foco não podem deixar de considerar a presença da emoção. Segundo Muller; Beiras e Cruz (2007), a mediação utiliza técnicas da Psicologia, em especial das Psicoterapias, tais como a sumarização positiva e o enquadre, ampliando e tornando mais compreensíveis as diversas mensagens, além de ressaltar a importância da escuta ativa, da interpretação do que está por detrás do discurso e da linguagem corporal.
Do material teórico da Psicologia, também são utilizadas estratégias para trabalhar com os conflitos. Algumas sugerem que se trabalhe com os mais simples, no lugar dos mais complexos, garantindo o nível motivacional das partes, tornando visível, para elas, a capacidade de resolverem os conflitos de forma não adversarial.
FILOSOFIA
Da Filosofia, várias questões dizem respeito ao processo de Mediação. Entre elas, encontra-se o principal instrumento de trabalho do mediador, as perguntas, que devem ser oferecidas como na maiêutica socrática. Filho de uma parteira, Sócrates desejava, pela maiêutica, que as pessoas “parissem” as próprias ideias, após refletirem, em lugar de repetirem, indiscriminadamente e sem análise crítica, pensamentos e ideias do senso comum.
O principal objetivo das perguntas na mediação é gerar informação para os mediandos, que são aqueles que têm poder decisório e serão os autores das soluções, de forma a provocar reflexão. A partir da maiêutica, pode-se auxiliar os mediandos a flexibilizarem as ideias trazidas na fase inicial do processo, momento em que as reais necessidades e interesses do outro não estão sendo ainda levados em consideração.
Agora, estamos partindo para as abordagens teóricas que dão o suporte à mediação.
TEORIA DOS SISTEMAS
Há anos, as pessoas perceberam que há coisas comuns nas diferentes áreas do conhecimento. Existem problemas similares que podem ser resolvidos com soluções similares. Essas mesmas pessoas perceberam que algumas características e regras aconteciam em todas as áreas. Assim, surgiu a definição de Sistema, que é um conjunto de elementos inter-relacionados com um objetivo comum.
Todas as áreas do conhecimento possuem sistemas com características e leis independentemente da área onde se encontram. Os sistemas apresentam como características básicas: os elementos formadores do sistema, a relação entre eles e um objetivo comum.
Além disso, não podemos esquecer o meio ambiente, que é o que está fora do sistema, ou seja, não pode ser controlado por ele. No entanto, o sistema pode estabelecer uma relação de troca com o meio ambiente e, por isso falamos que um pode influenciar o outro.
A abordagem sistêmica é uma forma de resolver situações sob o ponto de vista da teoria geral dos sistemas. Muitas soluções surgem quando analisamos um sistema sendo formado por elementos que estabelecem relações entre eles, que apresentam um objetivo, inseridos em um meio ambiente.
Essa abordagem é uma ferramenta, um método que nos capacita a promover mudanças. Ela enfatiza a interação entre os componentes em vez de os componentes por si só, o propósito do sistema em vez de suas causas, as regras operacionais que capacitam o seu desenvolvimento, o objetivo a ser alcançado, o futuro, o envolvimento das pessoas.
O olhar sistêmico, segundo Vasconcellos (2002), contribui para que a mediação reconheça os componentes multifatoriais dos desacordos – legais, psicológicos, sociológicos, financeiros, entre outros, e trabalhe com eles conforme a sua prevalência, de forma a atender aos interesses e necessidades dos mediandos.
Também como resultado dessa abordagem, os mediadores entendem que o que é trazido à mediação faz parte de uma cadeia de acontecimentos passados e futuros e que sua intervenção provocará alterações na lógica de desenvolvimento dessa cadeia, com repercussões sobre um conjunto de pessoas.
Os mediadores comprometem-se com o curso e com o resultado da mediação, agindo na condução de sua dinâmica,
avaliando, de forma continuada, a adequação de sua atuação, pois a consideram parte do sistema de resolução. Os mediadores sabem que sua intervenção poderá contribuir para a construção ou para a desconstrução de impasses futuros.
ESTRATÉGIAS DA ABORDAGEM SISTÊMICA
Algumas estratégias da abordagem sistêmica são importantes na mediação. Vamos vê-las a seguir:
- Dividir para atingir um fim – todo problema deve ser dividido em partes menores porque isso facilita a sua compreensão e o seu manejo;
- Identificar todas as partes do sistema – identificar tudo o que faz parte do sistema, porque algumas partes identificadas podem fazer a diferença;
- Atentar para detalhes que estão sendo demonstrados pelas pessoas;
- Olhar para o todo, para ter uma compreensão sobre como as partes se relacionam;
- Utilizar analogias, comparações, ou seja, usar soluções antigas adaptadas à nova realidade, na solução de problemas similares.
TEORIA DA CIBERNÉTICA
A Teoria Cibernética ou Teoria do Controle foi desenvolvida pelo matemático N. Wiener. E tem por objeto o estudo da autorregulação dos sistemas, uma vez que é necessária a manutenção da ordem no interior de cada um, ou entre sistemas, combatendo o caos. A cibernética é uma teoria de controle, baseada na comunicação entre os sistemas e o meio ambiente, bem como a comunicação dentro do próprio sistema. A Teoria da Cibernética foi dividida em dois períodos:
1º PERÍODO
De acordo com Grandesso (2000), no primeiro período da cibernética, a preocupação consistia nos mecanismos e processos pelos quais os sistemas funcionavam com a finalidade de manter a sua organização. O objetivo do sistema era, então, corrigiros desvios para poder se manter estável e sobreviver. Esse processo é conhecido como retroalimentação, em que um sistema sobrevive mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio.
2º PERÍODO
No segundo período da cibernética, mudou-se o foco de trabalho e o conflito passou a ter a função de mostrar que algo não vai bem no sistema. O foco sai do conflito e vai para as relações estabelecidas naquele sistema. Fato importante para o trabalho com a mediação. A partir desse segundo momento, houve a possibilidade de compreender o potencial de transformação dos sistemas, levando ao desenvolvimento de técnicas na mediação que possibilitassem a ampliação dessa capacidade de mudança.
TEORIAS DA COMUNICAÇÃO 
Teorias da comunicação contribuem com numerosas abordagens e dão suporte a algumas das técnicas utilizadas na Mediação.
A comunicação humana é uma das bases de sustentação da dinâmica da Mediação e precisa ser decifrada pelo mediador, a cada momento, de forma a servir de referencial para a identificação da intervenção a ser utilizada.
As contribuições são inúmeras. Algumas estão mais ligadas com o pragmatismo da comunicação humana (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967), outras com as narrativas e a análise dos discursos e de sua subjetividade (MAINGUENEAU, 1997).
Os axiomas da comunicação foram desenvolvidos por Watzlawick e colaboradores (1967) e fornecem importante base conceitual para entendermos o processo de comunicação, sendo aplicados no procedimento de mediação.
A seguir, veremos o que, resumidamente, estes autores estabeleceram.
É impossível não comunicar, mesmo quando achamos que não estamos nos comunicando, existe uma mensagem.
Há mediandos que utilizam o silêncio como estratégia para agredir o outro. Outros podem usar o silêncio para criar uma atmosfera de mistério sobre o que estão pensando, para aguardar que os outros transmitam informações importantes, que eles utilizarão de acordo com as suas conveniências.
O silêncio pode permitir a organização dos pensamentos e encorajar a outra pessoa a expandir suas ideias, reações ou sentimentos. Saber calar quando necessário também é muito importante na comunicação.
O silêncio pode, também, ser sentido como confortável ou perturbador, e ser utilizado para aproximar ou afastar as pessoas nas relações com as outras.
Toda comunicação possui uma forma e um conteúdo. A relação entre o conteúdo e a forma na comunicação é chamada de metacomunicação. Pode-se usar de gestos, olhares, expressões corporais e faciais para dar mais ênfase ao que queremos comunicar e ao modo como queremos ser interpretados.
A técnica de metacomunicação é utilizada, em geral, quando queremos expressar algum sentimento, mas de forma não invasiva a uma pessoa. É uma forma menos brusca de se transmitir uma mensagem, como uma preparação para que a pessoa receba a mensagem sem constrangimento ou espanto.
Usamos a metacomunicação quando fazemos uma pequena introdução àquilo que se quer comunicar, por exemplo, ao noticiar fatos ruins, ao dar alguma advertência etc.
Ao censurarmos alguém, podemos realizar uma metacomunicação verbal e não verbal, quando, por exemplo, dizemos “Estou brincando“ e piscamos o olho ao mesmo tempo. Essa comunicação precisa ser neutralizada pelo mediador, que deverá estar atento às situações.
A natureza de uma relação encontra-se na contingência da identificação das sequências de comunicação entre os envolvidos.
É fundamental identificar quem comunica, quem responde, como e quando, para obter informações a respeito do equilíbrio ou do desequilíbrio de poder nas relações, dos estados emocionais das pessoas e outras situações significativas na comunicação.
Os seres humanos comunicam-se de forma digital e analógica. Na mediação, na maior parte das vezes, a comunicação será analógica, ou seja, face a face.
Dessa forma, haverá possibilidade de observar os conteúdos analógicos da comunicação, como por exemplo: o sorriso, o brilho no olhar, o timbre de voz, a postura corporal, a disposição para ouvir etc. Esses conteúdos valorizam a comunicação e devem ser explorados pelo mediador.
Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares.
As simétricas são aquelas que possibilitam o diálogo entre as pessoas. Já as complementares, em geral, aparecem em situações de dependência, em que um manda e o outro obedece, um grita e o outro se cala, por exemplo. Este último tipo de troca deve ser convertido ou restabelecido em uma troca simétrica através do trabalho do mediador.
Em comum, tais contribuições trazem o entendimento de considerar a linguagem como um cenário em que se constroem os sujeitos, sua forma de expressão e de ação, nas suas relações com os outros.
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA (CNV)
A Comunicação Não Violenta (CNV) é um processo conhecido por sua capacidade de inspirar ação solidária, ponto fundamental no procedimento da mediação. Foi desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, doutor em Psicologia Clínica, mediador internacional e fundador do Centro Internacional de Comunicação Não Violenta.
É uma teoria prática, que se confunde com um processo educativo e questiona os perigos da linguagem. A partir do conceito de Ahimsa (glossário), tornado famoso por Mahatma Gandhi, ressalta o poder que é liberado quando a intenção de agredir o outro é totalmente superada.
Baseado na ideia de que todos os seres humanos têm a capacidade da compaixão e recorrem à violência quando não percebem outro recurso, ou quando não têm suas necessidades supridas, busca-se criar uma cultura de expressão que resolva os conflitos, em vez de criá-los.
Para isso, a CNV se baseia na escuta empática e na expressão autêntica em três âmbitos: nossa própria experiência interior, nossa relação com os outros e nossa conexão com os sistemas nos quais estamos inseridos.
Agora que você já conhece alguns saberes que mantêm uma relação de transversalidade com a mediação e suas bases teóricas, está na hora de estudarmos os princípios da mediação. Para tratarmos dos princípios específicos da mediação, faz-se necessário relembrar a importância do que vem a ser um princípio.
“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico”(GRUNWALD, 2004).
O princípio “vem a ser a fonte, o ponto de partida que devemos seguir em todo o percurso; ao mesmo tempo em que é o início, também é o meio a ser percorrido e o fim a ser atingido” (VILAS-BÔAS, 2003, p. 21).
PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO
Vamos, então, estudar os princípios da mediação, tomando como base aqueles elencados na Lei 13.140 de 26 de junho de 2015, ou seja, a Lei da Mediação. Você pode vir a ter contato com vários outros princípios da mediação além desses.
Como você já sabe, esse é um tema que não se esgota. Queremos ressaltar que aqueles princípios que não foram contemplados na nossa disciplina, não são considerados menos importantes, apenas utilizamos como critério de seleção a fundamentação legal da mediação.
AULA 4:
É comum as pessoas confundirem conflito com discussões, brigas e violência, até mesmo porque muitas situações conflituosas acabam em atos de violência.
Mas você sabe o que é conflito? Esta aula criará condições para que possa refletir sobre esse tema. Vamos lá?
Conflito
Você sabe o que é um conflito?
Em geral, conflito pode ser definido como um desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum. Conflitos representam a dificuldade de lidar com as diferenças nas relações e nos diálogos, associada a um sentimento de impossibilidade de coexistência de interesses, necessidades e formas de abordar o mesmo tema.
Comecemos nosso estudo sobre o conflito com Remo Entelman. Segundo ele, “O conceito de conflito aparece no discurso político-social há cerca de uns 500 anos antes deCristo. Se desenvolve através do tempo em pensadores que trabalham com uma ampla gama de disciplinas. A abordagem dos conflitos aparece nos mais afastados pontos do planeta e da História (Kautylia, na Índia, Al Ramein Ibn Kaldum – pensador árabe do século XIII; Heráclito, Maquiavel) e nos últimos dois séculos [o autor se refere aos Séculos XVIII e XIX], a partir de vários economistas”.
Entelman (2005) acrescenta: “Por seu lado, as ideologias fizeram do conflito seu objeto em dois grandes ramos do que hoje se chama ideologia do conflito: o marxismo por um lado, e o darwinismo pelo outro.” Para este autor (Entelman, 2005), o conflito traz, a princípio, uma posição rígida de intransigência, acompanhada, inicialmente, de um interesse real oculto das partes nele envolvidas. Cabe ao mediador tentar realizar a sua descoberta. Segundo o autor, não existe uma teoria do conflito que seja realmente um pensamento novo e sistemático. O que há é uma generalização de conhecimentos que formularam outros para descrever pressupostos concretos sobre esse tema.
Segundo o Manual de Mediação Judicial (2013), conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas, interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis.
Moderna teoria do conflito
Se pedissem para você dizer o que lhe vem à mente quando escuta a palavra conflito, provavelmente, alguns destes significados poderiam ser pensados:
• Guerra 
• Briga
• Raiva
• Perda
• Disputa
• Violência
• Tristeza
• Agressão
• Processo
Continuando a nossa conversa, pediria, agora, que você pensasse nas possibilidades para resolver um conflito. Novamente, poderia arriscar que uma de suas respostas poderia ser:
Atribuir culpa
Responsabilizar
Reprimir
Julgar
Analisar fatos
Comportamentos
Diante de tais reações, poder-se-ia sustentar que o conflito sempre consiste em um fenômeno negativo nas relações humanas. No entanto, constata-se que, do conflito, podem surgir mudanças e resultados positivos. É a partir dessa possibilidade de perceber o conflito de forma positiva que surge uma das principais alterações da chamada moderna teoria do conflito. Percebendo o conflito como um fenômeno natural nas relações, é possível vê-lo de forma positiva.
O que saber sobre conflitos
De acordo com Seidel (2007), podemos refletir sobre algumas questões em relação aos conflitos. Vamos a elas:
Conflitos não são problemas
Há uma tendência geral em perceber os conflitos como problemas, ou seja, uma visão negativa do conflito. Os conflitos são normais, não são positivos nem negativos, nem maus e nem bons. É a resposta que se dá aos conflitos que os tornam positivos ou negativos, destrutivos ou construtivos. A questão central é a forma como será resolvido o conflito: por meios violentos ou através do diálogo? Os conflitos devem ser entendidos como parte da vida humana, sendo o seu problema apenas a forma como serão enfrentados e resolvidos.
DIFERENÇA ENTRE CONFLITO E BRIGA
Conflitos não se confundem com brigas. A briga é uma resposta ao conflito. Um conflito, segundo Seidel (2007), pode ser definido como a diferença entre duas metas sustentadas por agentes de um sistema social. Além disso, podem ser organizados em três níveis: pessoais, grupais ou entre nações.
ATITUDES BÁSICAS FRENTE AOS CONFLITOS
Podemos ignorar os conflitos, responder de forma violenta a eles e lidar com os conflitos de forma não violenta, através do diálogo.
BENEFÍCIOS DO CONFLITO
A não aceitação do conflito provoca a violência. No entanto, quando se aprende a lidar com o conflito de forma não violenta, ele deixa de ser visto como o oposto à paz e passa a ser considerado como um modo de existir em sociedade. Os conflitos podem trazer os seguintes benefícios, de acordo com Seidel (2007):
• Estimular o pensamento crítico e criativo;
• Melhorar a capacidade de tomar decisões;
• Reforçar a consciência sobre a possibilidade de opção;
• Incentivar diferentes formas de resolver problemas e situações;
• Melhorar os relacionamentos e a avaliação das diferenças;
• Promover a autocompreensão.
Como você percebeu, o conflito não é um impedimento para chegarmos à paz. Mas, para construirmos uma cultura de paz (em nossa terceira aula, falamos de Marshall Rosenberg), será preciso mudar nossas crenças, atitudes e comportamentos em relação ao conflito. Uma educação para a paz envolve, necessariamente, reconhecer o conflito e pensar em modos criativos e não destrutivos de resolvê-lo. Para isso, segundo Seidel (2007), temos três possibilidades:
A prevenção do conflito: desenvolvimento de uma percepção à presença ou possibilidade de violência e injustiça, como um sistema de alerta, e a capacidade de analisar o que pode estar ocorrendo;
A resolução do conflito: o enfrentamento do problema e a busca de mecanismos adequados para isso;
A transformação: estratégias para mudança, reconciliação e construção de relações positivas.
MANEJO DO CONFLITO
Agora que você já conhece as formas construtivas e destrutivas de resolução de conflitos, vejamos como manejá-los. A mudança de foco na evolução da resolução (baseada na imposição, pela força e pelo poder para uma busca de solução que identifique os interesses das pessoas envolvidas e a possibilidade de atendê-las) levou a uma mudança de foco da preocupação com o resultado do problema para uma preocupação com as pessoas e suas relações.
Essa mudança nos leva a entender que não existe uma solução apenas para resolver os conflitos. Dessa forma, vários autores destacam alguns aspectos importantes a serem observados na forma de abordar os conflitos.
Schimidt e Tannenbaum (1992), citados por Moscovici (1997) no Curso de Mediação de conflitos (2009), apontam para três aspectos que devem ser observados no diagnóstico de uma situação de conflito. São eles:
• Pontos de vista e interesses divergentes – a natureza das diferenças;
• Informações, percepções e papéis que as pessoas ocupam na sociedade – fatores subjacentes;
• Momento em que o conflito se encontra – estágio do conflito.
Autores como Kilmann e Thomas (1975), citados no Curso de Mediação de conflitos (2009), chamam a atenção para o fato de que o manejo dos conflitos envolve os processos de: comunicação, percepção, atitudes para com o outro e orientação para o resultado do problema. Esses processos determinam duas formas de manejo dos conflitos: competição e colaboração.
CLASSIFICAÇÃO DE CONFLITO
Desenvolvendo um pouco mais nosso conhecimento sobre os conflitos, devemos saber que eles têm várias classificações importantes a serem observadas. Podemos dividi-los, segundo Redorta (2007), em:
INTRAPESSOAL
É um conflito exclusivamente nosso, e que, às vezes, existe porque nós o vivemos assim. Ou seja, é o que cada um de nós vive quando está perante motivações que são incompatíveis. É o que chamamos de conflito interno.
INTERPESSOAL
Os conflitos interpessoais se dão entre duas ou mais pessoas e podem ocorrer por vários motivos: diferenças de idade, de sexo, de valores, de crenças, por falta de recursos materiais, financeiros, e por diferenças de papeis. Neste último caso, podemos dividir o tipo de conflito em duas situações: conflitos hierárquicos são aqueles que colocam em jogo as relações com a autoridade existente; e conflitos pessoais, que dizem respeito ao indivíduo, à sua maneira de ser, agir, falar e tomar decisões. Você já percebeu que as relações interpessoais, com sua pluralidade de percepções, crenças e interesses, são conflituosas. Negociar conflitos é o nosso cotidiano.
INTRAGRUPAL
Falar de conflitos grupais é muito complicado porque a mera descrição de algumas características não esgotará todas as possibilidades de se entender essa questão. As diferenças individuais têm influência na dinâmica dos grupos, podendo levar a discussões, tensões, insatisfações e ao conflito aberto, ativando sentimentos e emoções mais ou menos intensos, que afetam a objetividade do grupo, reduzindo-a a um mínimo e transformando o clima emocionaldo grupo.
INTERGRUPAL
Esse conflito ocorre quando temos dois ou mais grupos com um problema a ser resolvido. O conflito intergrupal é definido como uma incompatibilidade de objetivos, crenças, atitudes ou comportamentos encontrados entre grupos.
SOCIAL
É o conflito que afeta a sociedade como um todo. Os conflitos na sociedade humana não podem reduzidos a uma abordagem, tendo em vista que cada nação, cada cultura, cada sociedade engendra modelos de relações sociais que são, invariavelmente diferentes, gerando conflitos sociais com interesses também diferentes.
Além disso, para os mediadores, os conflitos também podem ser divididos em quatro espécies. Ainda, tais espécies podem ocorrer de forma cumulativa em determinadas situações. São elas:
Conflitos de valores: Ocorrem entre pessoas que têm modos diferentes de vida ou critérios divergentes de como avaliar comportamentos. Os valores surgem como uma expressão cultural específica das necessidades, das motivações básicas e dos requisitos do desenvolvimento comuns a todos os seres humanos, que podem ser exemplificados pelas diferenças morais, éticas, religiosas etc. As diferenças reais ou percebidas em termos de valores não levam necessariamente ao conflito. Este surge apenas quando são impostos valores aos grupos ou quando se impede que os grupos mantenham os seus sistemas de valores (ONU,2001).
Conflitos de informação: Envolve a falta de informação e a informação errônea, assim como pontos de vista diferentes sobre os dados que são relevantes, a interpretação desses dados e como é feita a avaliação (ONU,2001). Podem decorrer da sonegação de dados ou de mensagens mal compreendidas, podendo a informação ser distorcida ou ter uma conotação negativa.
Conflitos estruturais: São causados pela distribuição desigual ou injusta do poder e dos recursos. Limitações de tempo, padrões de interação destrutivos e fatores geográficos ou ambientais desfavoráveis (ONU,2001).
Conflitos de interesses: São aqueles que envolvem a concorrência real ou percebida de interesses em relação aos recursos, à forma de resolver uma disputa ou às percepções de confiança e equidade (ONU,2001).
NÍVEIS DE CONFLITO
Ainda podemos falar de diferentes níveis em que o conflito pode ocorrer. São eles:
LATENTE
O conflito latente pode-se dizer que existe, mas não é dito, porque não é percebida a sua existência por quem o detém. O conflito está lá, mas escondido, não é notado nem sentido ainda;
PERCEBIDO
A pessoa ou as duas partes sabem da existência dele, mas não querem resolvê-lo, talvez por não incomodar o suficiente, ainda, os envolvidos;
SENTIDO
É aquele que já atinge ambas as partes, e em que há emoção e consciência da sua existência;
MANIFESTO
“A agressividade está explícita, os comportamentos são assumidos como tais. Essa agressão explícita pode variar desde a resistência passiva branda, passando pela sabotagem, até o conflito físico real” (BOWDICTH, 2002, p. 111).
CONFLITO E MEDIAÇÃO
Para lidarmos bem com nossos conflitos interpessoais, devemos desenvolver uma comunicação de caráter construtivo.
A evolução do conflito e suas manifestações ligadas à violência variam de acordo com as circunstâncias históricas, sociais, culturais e econômicas. Os conflitos, como percebemos, têm aspectos positivos e negativos, e pode haver um ciclo construtivo e outro destrutivo, a partir de um certo nível. A visão negativa que temos do conflito está mais ligada ao desgaste emocional que eles geram.
Um manuseio adequado do conflito tem a ver com a gestão das relações emocionais que eles provocam. O mediador contribui com um outro olhar sobre a questão. Deve fazer com que as partes enxerguem esse conflito como um espaço de reconstrução, de aprendizado e de formação de sua autonomia. O mediador precisa cooperar para que o conflito seja visto e analisado de forma pedagógica e, assim, contribuir para que a mediação seja compreendida como um espaço de aprendizagem das questões que estão sendo discutidas e, também, dos próprios envolvidos.
O conflito precisa ser interpretado e elaborado pelos interessados em conjunto com o mediador, pois é dessa forma que eles poderão ser ressignificados e transformados. O mediador deve tratar o conflito como algo positivo, sem a percepção de ameaça, atuando com moderação, equilíbrio, naturalidade, compreensão, não reagindo de forma a lutar ou fugir, pois, se o conflito for visto como uma questão negativa, poderá desencadear a reação denominada “retorno de luta ou fuga”.
O mediador não encerra o conflito segundo as normas legais, comunicando a sua decisão às partes. Ele incentiva a construção de um acordo comum, construído a partir dos conhecimentos e com as propostas dos envolvidos. Sendo assim, o mediador estimula a transformação da curiosidade comum em curiosidade do conhecimento a respeito da situação.
A mediação é uma prática pedagógica para a autonomia, voltada para a emoção e ligada com a ressignificação dos conflitos e com a origem dos sentimentos. É importante, na mediação, a escuta do outro, revelando-se, cada vez mais, como uma prática política e ética na formação e no crescimento do ser humano.
AULA 5:
Somos todos negociadores, desde crianças e durante toda a nossa vida. Negociar é um ato inevitável em nosso dia a dia. Negociamos aumento de salário, tentamos chegar a um acordo sobre o preço de uma mercadoria à venda, tentamos persuadir nosso amigo a ir ao cinema no sábado à noite. Todos esses casos são exemplos de negociação. Apesar de usarmos a negociação todos os dias, não é fácil realizá-la e, muitas vezes, as pessoas podem ficar insatisfeitas, com raiva ou cansadas.
A negociação direta é considerada um meio autocompositivo de resolução de conflitos e, a partir dos estudos sobre negociação da Escola de Direito de Harvard, ganharam uma perspectiva colaborativa, fundamental para a mediação.
As negociações podem ocorrer de várias formas, e há vários perfis de negociadores. No entanto, o melhor caminho para uma negociação é a colaboração. A partir dela, haverá a possibilidade de construir o consenso e de chegar a um acordo, sem o desgaste da relação.
O significado da palavra negotiatus, de origem latina, é “cuidar dos negócios”. A negociação é um fenômeno muito antigo, usado pela humanidade há muito tempo. Quanto ao seu estudo, as abordagens acadêmicas e profissionais fizeram a descrição da prática da negociação, ligada às áreas de atuação, como na diplomacia, no trabalho, na empresa, com diferentes metodologias e focos.
A negociação é o meio pelo qual as pessoas lidam com suas diferenças. Na verdade, negociar é buscar um acordo por meio de um diálogo. É importante que você perceba que a negociação está de forma permanente em nossas vidas. Negociamos com nossos pais, nossos filhos, nossos companheiros, ou seja, tanto em nossa casa, como no trabalho com nossa chefia ou nossos subordinados.
Conceito de negociação
O que se escrevia sobre negociação consistia em estratégias para tirar vantagem sobre o adversário por meio de truques que só funcionavam se ele não tivesse lido nada sobre o tema. No final da década de 70, a negociação começou a ser estudada de forma integrada, com metodologia e visando uma aplicabilidade a qualquer tipo de negociação e útil para todas as partes envolvidas na negociação.
A partir dessa mudança de abordagem da negociação como tema de estudo e desenvolvimento, surgiram diferentes modelos para a prática da negociação que tiveram a colaboração de várias ciências, como a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Política, entre outras. Essas disciplinas foram importantes porque trouxeram contribuições para o aprofundamento das formas como as pessoas podem resolver os seus problemas juntas, trabalhando e construindo algo sobre as suas diferenças.
Encontramos, na literatura sobre negociação, uma variedade de definições que a conceituam. Vejamos algumas delas:
Acuff (1993, p.21) : A negociação é o processo de comunicação com o propósito de atingir um acordo agradável sobre diferentes ideias e necessidades.
De acorsocom Robbins (1999): A negociação é um processo no qual duas ou mais partes trocam bens ou serviços e tentam chegar a um acordo na taxa de intercâmbio para elas.
Segundo Sebenius (1991): A negociação decorre de um processo de interação entre duas ou mais partes, cujas posições estão aparentemente em conflto, e que se orientam para a obtenção, de forma conjunta, de uma solução que seja mais satisfatória do que a que poderiam obter de outra forma.
Fisher; Ury; Patton (2005): Negociar é obter acordo de mútuo interesse e, se houver conflitos, adotar padrões corretos, sem considerar propostas puramente individuais.
Observe três condições necessárias para que uma negociação ocorra: 
 1- As partes devem ter interesses em comum – as partes preferem, em conjunto, certos resultados no lugar de outros. 
 2- As partes devem ter interesses conflituais – alguns dos resultados desejados são melhores para uma das partes e outros são melhores para a outra. 
 3- As partes devem ter possibilidade de comunicar entre si - para que exista a busca de um acordo, é necessário ter oportunidade de comunicar o que se oferece e o que se aceita. 
 Depois de nos depararmos com várias definições de negociação, vamos, agora entender a negociação como um processo. 
 Negociação como processo 
 A negociação é um processo em que deverá ocorrer um planejamento prévio, desenvolvimento e conclusões finais. A necessidade de negociar surge quando duas ou mais partes desejam resolver um conflito, chegando a um acordo que seja benéfico para todos. O desejo de chegar a um acordo é um requisito que não pode faltar em uma negociação. 
 Segundo Moore (1998), para que ocorra o processo de negociação, é imprescindível uma série de quinze condições, são elas: 
 1- Partes identificadas que estão dispostas a participar – se uma parte decisiva está ausente ou não está disposta a negociar, diminui a possibilidade de acordo; 
2- Interdependência – para que a negociação seja produtiva, os participantes devem depender uns dos outros para a satisfação de suas necessidades e interesses;
 3- Disposição para negociar – para que comece o diálogo, as partes têm de estar dispostas a negociar; 
4- Meios de influência ou de pressão – para que as pessoas cheguem a um acordo sobre problemas sobre os quais discordem, devem possuir alguns meios de influenciar nas atitudes ou nas condutas das outras partes; 
5- Acordo em alguns pontos de interesse – em geral, os participantes compartilham alguns pontos de interesses e outros não;
 6- Vontade de acordo – se a continuação de um conflito é mais importante que o acordo, a negociação está condenada ao fracasso; 
7- Resultado imprevisível – as pessoas negociam porque o resultado de não negociar é imprevisível; 
8- Urgência e velocidade de tempo – os participantes devem ter uma sensação de urgência e ser conscientes de que, se não conseguirem uma decisão a tempo, poderão sofrer uma ação adversa ou uma perda de benefícios;
 9- Ausência de impedimentos psicológicos importantes para um acordo – fortes sentimentos expressados ou silenciados para a outra parte podem afetar a disposição psicológica de uma pessoa para negociar;
 10- Os temas têm de ser negociáveis – as partes devem estar conscientes de que há opções de acordo aceitáveis que tornam possível a participação no processo.
 11- As pessoas têm autoridade para decidir – se uma das partes não tem direito legitimado e reconhecido para decidir, o processo será apenas uma troca de informações entre as partes; 
12- Vontade de compromisso – para alcançar uma conclusão satisfatória deve–se ter o compromisso de aceitação das partes daquela decisão; 
13- O acordo deve ser razoável e realizável – os participantes devem ser capazes de construir um acordo realista e factível; 
14- Fatores externos favoráveis ao acordo – devem ser criadas condições externas favoráveis a um acordo; 
15- Recursos para negociar – os participantes devem colocar em ação suas habilidades necessárias para negociar e o compromisso com o diálogo.
Negociação colaborativa, integrativa ou baseada em princípios
Agora que você já conheceu as condições para que ocorra uma negociação, vamos iniciar nossa aprendizagem sobre a Negociação colaborativa ou baseada em princípios, desenvolvida pela Escola de Harvard (Harvard Business School: a escola de negócios mais famosa do mundo. Líder absoluta nos rankings, escola de Harvard já formou nomes como George W. Bush e Michael Bloomberg. Chama a atenção ainda a metodologia utilizada na faculdade, baseada principalmente em estudos de caso, e o ambiente extremamente favorável ao networking.)
A abordagem principal da negociação, utilizada na mediação, é aquela que foge de uma forma de negociar chamada de posicional. Nesse tipo de negociação, os negociadores se tratam como oponentes, o que acarreta uma situação em que um ganha e o outro perde. No lugar de analisar os méritos da questão, as partes pressionam o máximo e cedem o mínimo. Desse modo, pode haver um aumento de raiva e ressentimento, prejudicando a relação social dos envolvidos e, principalmente, levando uma parte a sentir que está cedendo às intransigências da outra, enquanto suas preocupações permanecem desatendidas. Voltaremos a apresentar essa negociação quando abordarmos a barganha distributiva.
Destacamos a importância da negociação colaborativa ou baseada em princípios, que chega a resultados justos, abordando os reais interesses dos envolvidos, e não suas posições. É muito importante que você aprofunde seus conhecimentos sobre essa negociação e, para isso, indicamos o livro: Como chegar ao SIM, de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton (2005).
Para esses autores, quatro pontos fundamentais são necessários na negociação colaborativa:
Separação das pessoas dos problemas
Os negociadores são pessoas que, em conflito, tendem a misturar questões referentes à relação com a questão objetiva a ser negociada. Os aspectos pessoais fazem parte da negociação, não podem ser ignorados, mas não devem se misturar às questões objetivas. O revide em uma discussão não ajudará a solucionar um problema. As emoções se misturam com frequência aos méritos de uma negociação. As questões subjetivas – relacionais, emocionais, comunicacionais – devem ser reconhecidas e trabalhadas através de ferramentas apropriadas que veremos na aula 7.
Dessa forma, antes de atacar as pessoas, deve-se atacar os méritos da negociação. Por exemplo, alguém pode iniciar uma negociação exigindo que uma pessoa se mude de um condomínio porque não tem educação quanto à altura do som que costuma escutar. Uma outra forma de iniciar a mesma negociação seria falando sobre algumas práticas como as proteções acústicas existentes e muitas utilizadas na vizinhança. Ao estabelecer que o problema é o vizinho, a comunicação fica difícil na negociação.
FOCO NOS INTERESSES E NÃO NAS POSIÇÕES
Um conflito se expressa, primeiro, através de posições. Os autores do livro já citado Como chegar ao Sim (FISHER; URY e PATTON, 2005), apresentam um exemplo que esclarecerá muito bem o que estamos querendo dizer.
Exemplo: duas irmãs brigavam por uma laranja. Depois de muita discussão resolveram dividi-la ao meio. A primeira pegou a sua metade, comeu a polpa e jogou a casca no lixo; a segunda usou a casca de sua metade para fazer uma geleia e jogou a polpa fora.
Como você explicaria o que aconteceu?
Se elas tivessem usado uma negociação colaborativa e colocado o foco nos seus interesses e não em suas posições, teriam terminado a negociação integralmente satisfeitas.
Muitos autores costumam representar este tema usando a figura do iceberg. As posições correspondem à parte visível do iceberg e os interesses o que fica submerso e deve ser descoberto.
Os interesses são identificados por meio de perguntas como: por quê? Com qual finalidade? O que pretendo ou o que o outro pretende? Para obter a resposta para estas perguntas, clique aqui (galeria/aula5/docs/a05_t03.pdf).
GERAÇÃO DE OPÇÕES DE GANHOS MÚTUOS
Muitas vezes, as pessoas em conflito acreditamque apenas existe uma quantidade fixa de recursos a serem partilhados. Quando uma parte fica atendida na maior parte de seus interesses, a outra se sentirá desatendida. Neste caso, a ideia é aumentar os recursos disponíveis, gerando novas possibilidades para resolver o conflito.
Os negociadores devem buscar atender os interesses de todos os envolvidos, numa solução ganha-ganha. É através da geração de novos recursos, articulação de necessidades e possibilidades de cada um dos negociadores que será possível atender os interesses em comum e criar harmonia entre os diferentes, de forma a satisfazer a todos os envolvidos.
São diferentes as necessidades dos negociadores e estas podem trabalhar de forma a gerar benefícios mútuos. O que para um negociador é secundário, para o outro pode não ser, o que pode gerar novos recursos de negociação.
UTILIZAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS
Os negociadores devem utilizar critérios objetivos para avaliar as soluções que foram levantadas e para a tomada de decisão. Como esses critérios são externos, não envolvem a subjetividade das partes na decisão e evitam a polarização nesse momento. São exemplos: a legislação, o parecer de um técnico, o valor de mercado etc.
MELHOR ALTERNATIVA À NEGOCIAÇÃO DE UM ACORDO (MAANA)
Além dos quatro princípios da Escola de Harvard, um importante conceito é o da melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA). Trata-se do curso de ação de nossa preferência caso não haja consenso. É saber o que faremos ou o que vai acontecer se não conseguirmos chegar a um acordo. É importante observar qual é a MAANA antes de entrar em uma negociação, do contrário, não se saberá se o acordo será proveitoso ou não.
Por exemplo, Luis XI ((Bourges, 3 de julho de 1423 – La Riche, 30 de agosto de 1483), também conhecido como Luís, o Prudente, foi o Rei da França de 1461 até sua morte. Era filho de Carlos VII e Maria de Anjou.), rei da França resolveu negociar quando Eduardo IV ((Ruão, 28 de abril de 1442 – Londres, 9 de abril de 1483) foi o Rei da Inglaterra durante dois períodos diferentes, primeiro, de 1461 até 1470 e, depois, de 1471 até sua morte, sendo o primeiro monarca inglês da Casa de Iorque.), rei da Inglaterra, atravessou o Canal da Mancha para capturar territórios franceses. Sabendo que poderia envolver-se em uma guerra prolongada e dispendiosa (MAANA), Luis XI calculou que seria melhor fazer um acordo com Eduardo IV. Assinou um tratado de paz com o rei da Inglaterra, pagando um certo valor adiantado e uma anuidade pelo resto da vida do monarca inglês, expulsando os ingleses da França.
O melhor negócio não é aquele que prevalece em detrimento do outro, mas aquele que satisfaz os dois lados.
BARGANHA DISTRIBUTIVA E NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA
É importante lembrar que a escolha do tipo de negociação está ligada a uma série de fatores como:
• O objetivo que se tem em mente ao participar da negociação;
• O comportamento característico dependendo da abordagem utilizada;
• Os resultados alcançados a partir do modelo usado.
Não basta saber que o conflito é uma oportunidade positiva, mas temos de saber em que essa disputa pode contribuir para a vida das pessoas envolvidas. Em contraposição a essa negociação, temos a barganha distributiva ou negociação baseada em posições, em que os interesses reais das pessoas não serão contemplados e sequer discutidos, podendo levar a negociação para um impasse e deterioração das relações. A barganha distributiva tem como premissa que tudo que se ganhar na negociação é à custa do oponente. Cada ganho que tiver implica diretamente perda para o outro.
Exemplo: Se você vai negociar o prazo de entrega de um relatório com um membro de sua equipe e o pressiona para que a data seja antecipada para o mais breve possível, cada dia que se ganhar de antecipação implica diretamente trabalho dobrado para o outro, porque esse terá que se dedicar ao máximo para dar conta dessa demanda e de outras.
De acordo com o Manual de Mediação Judicial (2013):
O regateio, a barganha, a informação não revelada, a desconfiança na proposta do outro lado, a sensação de que pode estar sendo enganado, o jogo de concessões mútuas, a necessidade de dividir a diferença ou o prejuízo, o medo de estar sendo explorado e tantos outros aspectos, fazem parte de um tipo de negociação impregnado culturalmente em nossa sociedade.
Voltando à aula 4, a partir da Moderna Teoria do Conflito, devemos utilizar as situações de conflito como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e geração de ganhos mútuos. É importante aproveitar a energia do conflito causado pela divergência de interesses, ideias e valores para construir novas realidades e relacionamentos, mais produtivos para todos. A negociação integrativa, como já vimos e queremos reforçar porque ela é fundamental para a mediação, é uma forma de resolver conflitos que leva em conta a satisfação conjunta dos interesses das pessoas envolvidas. Ela obedece a uma sequência lógica e cronológica de passos a serem seguidos, diferente da barganha distributiva, em que a resolução da questão acontece de forma aleatória. Os passos a serem seguidos são:
1) Identificar e definir o problema
2) Entender o problema e trazer os interesses e necessidades para a negociação
3) Gerar soluções alternativas para o problema
4) Avaliar e selecionar as alternativas
O mais importante na negociação integrativa são os interesses. Podemos falar de solução numa negociação integrativa, quando os reais interesses das partes são atendidos.
Para você aprofundar mais seus conhecimentos, leia o capítulo sobre Fundamentos da Negociação no Manual de Mediação Judicial.
Habilidades do negociador
Em linhas gerais, as habilidades que os negociadores utilizam depende do tipo de negociação que será realizada, do método e das estratégias empregadas. No entanto, existe um número significativo de habilidades que todo negociador deve ter, independente da situação. Resumindo algumas, podemos destacar:
• Excelente comunicação;
• Flexibilidade;
• Criatividade;
• Capacidade de observação;
• Decisão.
Além disso, não deve superestimar ou subestimar as suas próprias capacidades pois, isso pode levar ao fracasso da negociação.
AULA 6:
Agentes e alguns fatores importantes na mediação
Definiremos, a seguir, os sujeitos no processo de mediação. Contudo o faremos de forma geral, lembrando que, no Judiciário, existem algumas peculiaridades, a partir da Lei da Mediação e do novo CPC, que serão explicados separadamente.
Processo: Segundo o Manual de Mediação Judicial (2013, p.91), é comum, nos livros de Direito Processual Civil, a apresentação da diferença entre processo e procedimento. O processo justifica e direciona a prática dos atos do procedimento. Na mediação, o processo tem como objetivo a solução do conflito pelas partes e daquilo que levou ao litígio. O procedimento diz respeito às etapas seguidas para alcançar essa finalidade.
Mediador: O mediador tem como função exclusiva mediar a negociação. Ou seja, ele está eticamente impedido de exercer sua profissão de origem, inclusive no que diz respeito a prestar esclarecimentos técnicos às partes. Caso essas informações sejam necessárias, os mediandos devem ser orientados a procurar um especialista naquela área. O mediador deve cumprir e fazer cumprir os princípios da mediação, vistos na aula 3.
É frequente, quando possível ou necessário, o trabalho em conjunto, chamado de comediação. Em geral, usamos esse termo para designar o trabalho de duplas de mediadores, que apresenta características valorizadas na mediação como: colaboração, diálogo e inclusão. É um trabalho enriquecedor porque, de certa forma, amplia a visão sobre o conflito, suas possibilidades de atuação, além de demonstrar para os mediandos a possibilidade de um trabalho colaborativo.
Para um aprofundamento sobre a importância da comediação, sugerimos a leitura da página 82 do Manual de mediação Judicial (2013).
O mediador é imparcial em relação aos mediandos e ao tema tratado. Isso é

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