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Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 1 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 2 ÍNDICE DIREITO PENAL 01 CONFLITO APARENTE DE NORMAS ............................................................................................... 03 02 CONCURSO DE CRIMES ............................................................................................................... 11 03 CONCURSO DE PESSOAS ............................................................................................................. 18 PROCESSO PENAL 04 DAS NULIDADES ......................................................................................................................... 34 05 DA TEORIA GERAL PROVAS .......................................................................................................... 43 06 DAS PROVAS EM ESPÉCIE ............................................................................................................ 59 PADRÃO DE RESPOSTAS .............................................................................................................. 91 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 3 CONFLITO APARENTE DE NORMAS I) CONCEITO Algumas vezes os tipos penais se coordenam, relacionam e interpenetram, de sorte que um mesmo episódio encontra a possibilidade de ser captado, alcançado e subsumido por mais de um tipo legal delitivo, sem que, no entanto, todos se apliquem. Em outras palavras, às vezes, duas ou mais normas parecem regular o mesmo fato. Neste caso, surge o que se denomina conflito aparente de normas penais, também chamado concurso aparente de normas, concurso aparente de normas coexistentes, concurso ideal impróprio e concurso impróprio de normas. Diz-se aparente porque só seria real se a ordem jurídica não resolvesse a questão. Portanto, conflito aparente de normas é a situação que ocorre quando, ao mesmo fato, parecem ser aplicáveis duas ou mais normas, formando um conflito apenas aparente. É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque, com efeito, apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. II) PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS Como dito, o conflito que se estabelece entre as normas é apenas aparente, porque, na realidade, somente uma delas acaba regulamentando o fato, ficando afastadas as demais. 01 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 4 A solução dá-se pela aplicação de alguns princípios, os quais, ao mesmo tempo em que afastam as normas não incidentes, apontam aquela que realmente regulamenta o caso concreto. Os mais importantes são três: princípio da especialidade, princípio da subsidiariedade e o princípio da consunção. - Alguns autores incluem, ainda, um quarto princípio: o da alternatividade. A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE A.1) Conceito de norma especial Diz-se que uma norma penal incriminadora é especial em relação a outra, geral, quando possui em sua definição legal todos os elementos típicos desta, e mais alguns, de natureza objetiva ou subjetiva, denominados especializantes, apresentando, por isso, um minus ou um plus de severidade. A norma especial, ou seja, a que acresce elemento próprio à descrição legal do crime previsto na geral, prefere a esta, conforme dispõe o artigo 12 do CP Ex1: A norma do art. 123 do CP, que trata do infanticídio, prevalece sobre a do art. 121, que cuida do homicídio, porque possui, além dos elementos genéricos deste último, os seguintes especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do estado puerperal”. O infanticídio não é mais completo nem mais grave, ao contrário, é bem mais brando do que o homicídio. É, no entanto, especial em relação àquele. Ex2: Sob outro aspecto, na conduta de importar cocaína, aparentemente duas normas se aplicam: a do art. 334 do CP, definindo o delito de contrabando (importar mercadoria proibida) e a do art. 33 da Lei de Tóxicos (importação de substância entorpecente ou que determina dependência física ou psíquica). Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 5 O tipo incriminador previsto na Lei de Tóxicos, embora mais grave, é especial em relação ao contrabando. Assim, a importação de qualquer mercadoria proibida configura o delito de contrabando, mas, se ela for de substância psicotrópica, esse elemento especializante afastará a incidência do art. 334 do CP. B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE B.1) Conceito de norma subsidiária Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade que a da principal, é absorvida por esta. Subsidiária é aquela que descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito autônomo, encontra-se também compreendido em outro tipo como fase normal de execução de crime mais grave. Dessa forma, se for cometido o fato mais amplo, duas normas aparentemente incidirão: aquela que define esse fato e a outra que descreve apenas uma parte ou fase dele. A norma que descreve o “todo”, isto é, o fato mais abrangente, é conhecida como primária e, por força do princípio da subsidiariedade, absorverá a menos ampla, que é a norma subsidiária, justamente porque esta última cabe dentro dela. A norma primária não é especial, é mais ampla. O crime de ameaça (art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (art. 146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro (art. 148) no de extorsão mediante sequestro (art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15) cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (art. 121). Há um único fato, o qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 6 B.2) Comparação Não pode ser feita como no caso da especialidade. Em primeiro lugar, porque, para a aplicação do princípio da subsidiariedade, é imprescindível a análise do caso concreto, sendo insuficiente a mera comparação abstrata dos tipos penais. Com efeito, da mera leitura de tipos não se saberá qual deles deve ser aplicado ao caso concreto. Antes de mais nada, é necessário verificar qual crime foi praticado e qual foi a intenção do agente, para só então saber qual norma incidirá. Em segundo lugar, na subsidiariedade não existem elementos especializantes, mas descrição típica de fato mais abrangente e mais grave. A comparação se faz de parte a todo, de conteúdo a continente, de menos para mais amplo, de menos para mais grave, de minus a plus. Um fato (subsidiário) está dentro do outro (primário). É como se tivéssemos duas caixas de tamanhos diferentes, uma (a subsidiária) cabendo na outra (primária). Ex: o agente efetua disparos de arma de fogo sem, no entanto, atingir a vítima. Aparentemente três normassão aplicáveis: o art. 132 do CP (periclitação da vida ou saúde de outrem); o art. 15 da Lei 10.826/2003 (disparo de arma de fogo); e o art. 121 c/c o art. 14, II, do CP. O tipo definidor da tentativa de homicídio descreve um fato mais amplo e mais grave, dentro do qual cabem os dois primeiros. Assim, se ficar comprovada a intenção de matar, aplica-se a norma primária, qual seja, a da tentativa branca de homicídio; não demonstrada a vontade de matar, o agente responderá pelo crime de disparo de arma de fogo, o qual é considerado mais grave do que a periclitação. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 7 B.3) Espécies a) Subsidiariedade Expressa ou explícita A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Ex2: art. 129, § 3º, do CP, ao definir a lesão corporal seguida de morte, afirma incidir se “...as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo”. b) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA Ocorre quando uma figura típica funciona como elementar ou circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta exclui a simultânea punição da primeira. A norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se a sua subsidiariedade. Ex1. Estupro contendo o constrangimento ilegal. Ex2: O crime de dano é subsidiário do furto qualificado pelo arrombamento. Os elementos típicos do dano funcionam como circunstância qualificadora do furto. Ex3: O constrangimento ilegal (art. 146) é subsidiário de todos os crimes que têm como meios executórios a vis absoluta e a vis compulsiva (violência física e grave ameaça), como o aborto de coacta (art. 126, par. Único), a extorsão (art. 158). Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 8 c) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO C.1) Conceito Ocorre quando um ato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime. Trata-se da hipótese de crime meio e do crime fim. Ex1. é o que se dá na violação de domicílio com a finalidade de praticar furto em residência. A violação é mera fase de execução do delito de furto. Ex2: O crime de homicídio absorve o delito de porte ilegal de arma, pois esta infração penal constitui-se simples meio para a eliminação da vida. Ex3: O estelionato absorve o falso, quando este é fase de execução daquele. Súmula 17 STJ “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. No conflito, os crimes se denominam: 1º) crime consuntivo: o que absorve o de menor gravidade; 2º) crime conjunto: o absorvido. C.2) Fato anterior (“ante factum”) não punível Caracteriza-se quando um fato antecedente menos grave é considerado meio necessário para a prática de outro fato, mais grave, ficando, por conseguinte, o primeiro absorvido. Verifica-se o antefactum não punível quando uma conduta menos grave precede a uma mais grave como meio necessário ou normal de realização. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 9 A primeira é consumida pela segunda. Em consequência da absorção, o antefato torna-se um indiferente penal. É o que ocorre no caso de o sujeito ter em seu poder “instrumentos empregados usualmente na prática do crime de furto” (art. 25 LCP) e, em seguida, praticar uma subtração punível. O detentor de chaves falsas ou gazuas, que se serve desses meios para praticar um furto, responde somente pela subtração, em que fica consumida a contravenção. C.3) Fato posterior (“post factum”) não punível A prática ulterior (posterior) à consumação do delito, consistente em nova agressão ao mesmo bem jurídico é considerada mero exaurimento (exemplo: um sujeito furta um objeto e o vende. O fato de o agente ter vendido o bem furtado é irrelevante, tendo em vista que o furto não deixará de ser punido). Ocorre quando, após realizada a conduta, o agente pratica novo ataque contra o mesmo bem jurídico, visando apenas tirar proveito da prática anterior. O fato posterior é tomado como mero exaurimento. Ex: após o furto, o agente vende ou destrói a coisa. Existe o posfactum impunível quando um fato posterior menos grave é praticado contra o mesmo bem jurídico e do mesmo sujeito, para a utilização de um fato antecedente e mais grave, e disso para deste tirar proveito, mas sem causar outra ofensa. Assim, se após o furto o ladrão destrói a coisa subtraída, só responde pelo furto, e não também pelo dano (art. 163). Neste caso, a lesão ao interesse jurídico causada pela conduta precedente torna indiferente o crime de dano. C.4) Crime Progressivo e Progressão Criminosa I – CRIME PROGRESSIVO – O AGENTE DESDE O INÍCIO DE SUA CONDUTA POSSUI A INTENÇÃO DE ALCANÇAR O RESULTADO MAIS GRAVE, DE MODO QUE SEUS ATOS Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 10 VIOLAM O BEM JURÍDICO DE FORMA CRESCENTE. AS VIOLAÇÕES ANTERIORES FICAM ABSORVIDAS. CRIME DE PASSAGEM OBRIGATÓRIA – DELITO DE MENOR GRAVIDADE, ESTANDO NA MESMA LINHA DE DESDOBRAMENTO DA OFENSA DO BEM JURÍDICO PRINCIPAL. Ex. Para consumar o homicídio haverá o crime de lesão corporal (crime de passagem). II – PROGRESSÃO CRIMINOSA – O AGENTE PRODUZ O RESULTADO PRETENDIDO, MAS, EM SEGUIDA, RESOLVE (SUBSTITUIÇÃO DO DOLO) PROGREDIR NA VIOLAÇÃO DO BEM JURÍDICO E PRODUZ UM RESULTADO MAIS GRAVE QUE O ANTERIOR. O FATO INICIAL FICA ABSORVIDO. Ex. SUJEITO PRATICA LC. EM SEGUIDA NÃO SATISFEITO RESOLVE MATÁ- LA. OBS: SUBSTITUIÇÃO DO DOLO – NÃO CONFUNDIR COM CRIME PROGRESSIVO, POIS NESTE O AGENTE DEDSDE O INÍCIO POSSUI A INTENÇÃO DE PRATICAR O CRIME DE MAIOR GRAVIDADE. D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE Aplica-se aos tipos mistos alternativos, isto é, aqueles que descrevem crimes de ação múltipla. Assim, mesmo havendo várias formas de conduta (mais de um verbo) no mesmo tipo, somente haverá a consumação de um único delito, independente da quantidade de condutas realizadas no mesmo contexto. Ex. Artigo 122 do código penal e artigo 33 da lei de drogas. OBS: Na verdade não há conflito de normas, mas conflito dentro da própria figura típica. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 11 CONCURSO DE CRIMES 2.1) CONCURSO MATERIAL – Art. 69 Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput). 0 Ex: o agente ingressa na residência da vítima, furta e comete estupro. A) APLICAÇÃO DA PENA Nos termos do art. 69, caput, quando o agente realiza o concurso real de crimes, “aplicam-se cumulativamente as penas em que haja incorrido”. Portanto, no concurso material as penas são cumuladas, somadas. Ex: se comete furto e estupro, as penas privativas de liberdade devem ser somadas. 2.2) CONCURSO FORMAL – Art. 70 A) CONCEITO Ocorre o concursoformal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes (art. 70, caput). Difere do concurso material pela unidade de conduta. Ex. o agente, com um só tiro ou um golpe só, ofende mais de uma pessoa; Concurso Material Concurso Formal Concurso Continuado 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes UNIDADE de conduta PLURALIDADE de CRIMES de 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes PLURALIDADES de condutas e crimes SOMA AS PENAS 02 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 12 B) CONCURSO FORMAL PERFEITO – Art. 70, primeira parte Está previsto na primeira parte do artigo 70. Ocorre quando o agente pratica duas ou mais infrações penais através de uma única conduta. Resulta de um único desígnio. O agente, por meio de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou mais resultados. Ex: o agente dirige um carro em alta velocidade e acaba por atropelar e matar três pessoas. C) CONCURSO FORMAL IMPERFEITO – Art. 70, segunda parte É o resultado de desígnios autônomos. Aparentemente, há uma só ação, mas o agente intimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Como se nota, essa espécie de concurso formal só é possível nos crimes dolosos. Ex: o agente incendeia uma residência com a intenção de matar todos os moradores. O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos moradores da residência. Observe-se a expressão “desígnios autônomos”: abrange tanto o dolo direto quanto o dolo eventual. Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com dolo direto e outro com dolo eventual. Neste caso o concurso continua sendo formal, mas, na aplicação da pena, manda o CP que seja realizada com base na regra do concurso material: as penas devem ser somadas. D) APLICAÇÃO DA PENA * No concurso formal perfeito Se for homogêneo, aplica-se a pena de qualquer dos crimes, acrescida de 1/6 até a metade. 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes Com a intenção de produzir cada um dos resultados SOMA DAS PENAS Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 13 Se for heterogêneo, aplica-se a pena do mais grave, aumentada de 1/6 até a metade. O aumento varia de acordo com o número de resultados produzidos. * No concurso formal imperfeito As penas devem ser somadas, de acordo com a regra do concurso material. 2.3) CRIME CONTINUADO - Art. 71 A) CONCEITO Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da MESMA ESPÉCIE, devendo os subsequentes, pelas condições de TEMPO, LUGAR, MANEIRA DE EXECUÇÃO E OUTRAS SEMELHANTES, ser havidos como continuação do primeiro (art. 71, caput). B) REQUISITOS a) PLURALIDADE DE CONDUTAS O mesmo agente deve praticar duas ou mais condutas. Se houver uma conduta, ainda que desdobrada em vários atos ou vários resultados, o concurso poderá ser formal. de 1 ação ou omissão 02 (ou mais) crimes CRITÉRIO EXASPERAÇÃO DA PENA Da mesma ESPÉCIE, CONDIÇÕES DE TEMPO, LUGAR e MODO DE EXECUÇÃO Pluralidade de Condutas Crimes da mesma Espécie Condições de Tempo Condições de Lugar Maneira de Execução Homogeneidade das Circunstâncias Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 14 b) CRIMES DA MESMA ESPÉCIE São os que estiverem previstos no mesmo tipo penal. Nesse prisma, tanto faz sejam figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas. Assim, furto e roubo, embora delitos do “mesmo gênero” (contra o patrimônio), não são da mesma espécie. Entre eles, por isso, não pode haver continuação. Esta é a posição dominante. c) CONDIÇÕES DE TEMPO Deve haver uma conexão temporal entre as condutas praticadas para que se configure a continuidade delitiva. Deve existir, em outros termos, uma certa periodicidade que permita observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre as ações sucessivas, embora não se possam fixar, a respeito, indicações precisas. A jurisprudência considera crime continuado quando praticados no intervalo de tempo entre um e outro inferior a 30 dias. d) CONDIÇÕES DE LUGAR (ESPAÇO) Deve existir entre os crimes da mesma espécie uma conexão espacial para caracterizar o crime continuado. A jurisprudência mesma circunstância de espaço quando os crimes são praticados na mesma cidade ou em regiões metropolitanas. e) MANEIRA DE EXECUÇÃO A lei exige semelhança e não identidade. A semelhança na “maneira de execução” se traduz no modus operandi de realizar a conduta delitiva. Maneira de execução é o modo, a forma, o estilo de praticar o crime, que, na verdade, é apenas mais um dos requisitos objetivos da continuação criminosa. Ex: o furto fraudulento, por exemplo, não guarda nexo de continuidade com o furto mediante arrombamento ou escalada. f) HOMOGENEIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS Para a configuração do crime continuado, não é suficiente a satisfação das circunstâncias objetivas homogêneas, sendo de exigir-se, além disso, que “os delitos tenham sido praticados pelo sujeito aproveitando-se das mesmas relações e oportunidades ou com a utilização de ocasiões nascidas da primitiva orientação. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 15 C) CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO – Art. 71, parágrafo único O crime continuado específico prevê a necessidade de três requisitos, que devem ocorrer simultaneamente: a) Contra vítimas diferentes: Admite-se nexo de causalidade entre crimes que lesam interesses jurídicos pessoais, ainda que praticados contra vítimas diversas Assim, admite a reforma penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais ou roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja superior à que seria imposta se o caso fosse de concurso material. b) com violência ou grave ameaça à pessoa Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta – contra a pessoa, não haverá a continuidade específica, mesmo que haja violência contra a coisa. c) somente em crimes dolosos Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizada a exceção. D) APLICAÇÃO DA PENA * Crime continuado comum: aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 2/3. * crime continuado específico: Aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. - Se, da aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se somadas as penas, aplica-se a regra do concurso material. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 16 Unidade De Conduta Unidade De Conduta Formal Perfeito Formal Imperfeito Crimes Mesma Espécie ssssss Condições Modo Execução Exasperação De pena Cúmulo MaterialExasperação De pena Tempo Lugar CONCURSO DE CRIMES Concurso Material art. 69, CP Concurso Formal Crime Continuado art. 70, CP art. 71, CP Pluralidade De Condutas Cúmulo Material Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 17 Questão 04 – XXII EXAME Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais um dia de aula na faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave ameaça de morte e utilizando simulacro de arma de fogo, exige que ambos entreguem as mochilas e os celulares que carregavam. Após os fatos, Diego e Júlio comparecem em sede policial, narram o ocorrido e descrevem as características físicas do autor do crime. Por volta das 5h da manhã do dia seguinte, policiais militares em patrulhamento se deparam com Marcos nas proximidades do local do fato e verificam que ele possuía as mesmas características físicas do roubador. Todavia, não são encontrados com Marcos quaisquer dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma de fogo. Ele é encaminhado para a Delegacia e, tendo-se verificado que era triplamente reincidente na prática de crimes patrimoniais, a autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio, que comparecem em sede policial e, em observância de todas as formalidades legais, realizam o reconhecimento de Marcos como responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de prisão em flagrante em desfavor de Marcos, permanecendo este preso, e o indicia pela prática do crime previsto no Art. 157, caput, do Código Penal, por duas vezes, na forma do Art. 69 do Código Penal. Diante disso, Marcos liga para seu advogado para informar sua prisão. Este comparece, imediatamente, em sede policial, para acesso aos autos do procedimento originado do Auto de Prisão em Flagrante. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Marcos, responda, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir. A) Qual requerimento deverá ser formulado, de imediato, em busca da liberdade de Marcos e sob qual fundamento? Justifique. (Valor: 0,65) B) Oferecida denúncia na forma do indiciamento, qual argumento de direito material poderá ser apresentado pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da nota de culpa, em busca de uma punição mais branda? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 18 CONCURSO DE PESSOAS 3.1) CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma infração penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se para a prática de um ou mais delitos. A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e codelinquência. 3.2) AUTORIA I) CONCEITO Para se compreender o instituto do concurso de pessoas, mostra-se imprescindível estabelecer o conceito de autoria criminal, já que repercutirá na identificação da conduta de cada agente na prática delituosa. Várias teorias buscam definir o conceito de autor, merecendo destaque duas posições apontadas pela doutrina: a) Teoria do domínio do fato De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle final do fato. É quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. O partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do delito. Assim, autor é quem realiza a figura típica, mas também quem tem o controle da ação típica dos demais, dividindo-se entre “autor executor”, “autor intelectual” e “autor mediato”. O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura típica, nem tampouco comandar a ação. Assim, exemplificando, por essa teoria, o chefe de um grupo de justiceiros, que ordenou a execução, bem como o agente que diretamente matou a vítima são coautores. (NUCCI, 2012, p. 384). b) Teoria restritiva Segundo essa teoria, autor é aquele que pratica a ação descrita no verbo nuclear do tipo penal, isto é, o que pratica o verbo nuclear do tipo: mata, subtrai, constrange, etc. Em síntese, autor é aquele que realiza a conduta descrita no tipo penal, ou seja, executa a ação consubstanciada no verbo núcleo do tipo. O partícipe, por sua vez, apenas coopera com o delito, induzindo, instigando ou auxiliando materialmente seu autor (ESTEFAM, 2010, p. 281). 03 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 19 Nesse sentido, quem aponta o revólver, exercendo a grave ameaça, e quem subtrai os bens da vítima são coautores do roubo, enquanto o motorista do carro que aguarda para dar fuga aos agentes é o partícipe (os dois primeiros praticaram o tipo do art. 157; o último apenas auxiliou) (NUCCI, 2013, p. 384). B) TEORIA ADOTADA Um setor respeitável da doutrina, sustenta que a teoria do domínio do fato deve ser aceita como solução aos casos envolvendo autoria mediata1. Ao tecer comentários sobre a autoria mediata, Bitencourt (2009, p. 453) assevera que: A teoria do domínio do fato molda com perfeição a possibilidade da figura do autor mediato. Todo o processo de realização da figura típica, segundo essa teoria, deve apresentar-se como obra da vontade reitora do “homem de trás”, o qual deve ter absoluto controle sobre o executor do fato. O autor mediato realiza a ação típica através de outrem, que atua sem culpabilidade. Todavia, para a maioria da doutrina2, a teoria restritiva é a aplicada pelo Código Penal. Na visão de NUCCI (2013, p. 385), a melhor teoria é a restritiva, ou seja, coautor é aquele que pratica, de algum modo, a figura típica, enquanto ao partícipe fica reservada a posição de auxílio material ou suporte moral (onde se inclui o induzimento, a instigação ou o comando) para a concretização do crime. Consegue-se, com isso, uma clara visão entre dois agentes distintos na realização do tipo penal – o que ingressa no modelo legal de conduta proibida e o que apoia, de fora, a sua materialização -, proporcionando uma melhor análise da culpabilidade. 1 Autoria mediata, em síntese, ocorre quando o agente se vale de outra pessoa, que age sem dolo ou culpa, para a prática do delito. 2 Guilherme de Souza Nucci; André Estefam; Fernando Capez, Aníbal Bruno, Mirabete, René Ariel Dotti, dentre outros. Assim, AUTOR é quem realiza a figura típica, isto é, quem executa o crime, enquanto o PARTÍCIPE é todo aquele que contribui de qualquer forma para a prática delituosa, induzindo, instigando ou auxiliando, sem executar, portanto, a ação descrita no verbo nuclear do tipo. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 20 3.3) PARTICIPAÇÃO I) CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO – Art. 31 Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor ou coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. De acordo com a teoria do domínio do fato, participação é a contribuição dolosa – sem o domínio do fato – em um fato punível de outrem (PRADO, 2010, p. 463). Como regra, o partícipe responde pelo mesmo crime dos autores e coautores do delito e a pena em abstrato para todos é a mesma. É claroque, no momento da fixação da pena, o juiz deve levar em conta o grau de envolvimento de cada um no ilícito (culpabilidade). É até possível em certos casos que o partícipe receba pena mais alta do que o próprio autor do delito, como eventualmente no caso do mentor intelectual. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2013, p. 443). A participação pode ser: A) Moral A determinação (ou induzimento) e a instigação são as formas de participação moral. A.1) Induzimento ou determinação Ocorre a determinação ou induzimento quando uma pessoa faz surgir na mente de outra a intenção delituosa. Ex: Rafa incute na mente de Iuri a ideia homicida contra Jonas. A característica da determinação é a inexistência da resolução criminosa na pessoa do autor principal. Se Iuri matar Jonas, Rafa responde por homicídio na condição de partícipe. A.2) Instigação Instigar é reforçar uma ideia já existente. O agente já a tem em mente, sendo apenas reforçada pelo partícipe. No caso do exemplo acima, Iuri já tinha em mente matar Jonas. Rafa apenas reforçou a ideia homicida. Rafa é partícipe do crime de homicídio, enquanto Iuri responde pelo crime na condição de autor. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 21 B) Material Ocorre na forma de auxílio. Considera-se, assim, partícipe aquele que presta ajuda efetiva na preparação ou execução do delito. Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à realização do crime. Auxilia na execução quem permanece de atalaia, no sentido de avisar o autor da aproximação de terceiro, leva o ladrão em seu veículo ao local do furto, carrega a arma do homicida. II) NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO A participação é acessória a um fato principal. Significa que não se pode falar em participação sem que haja uma ação principal, ou seja, sem que alguém realize atos de execução de um crime consumado ou tentado. Como a conduta do partícipe não descrita no tipo penal, faz-se necessária uma norma de extensão que viabilize a adequação típica da conduta do partícipe à norma incriminadora. Trata-se de uma norma de ligação entre a conduta do partícipe e o tipo penal. E essa norma se encontra no artigo 29 do Código Penal, segundo o qual quem concorrer, de qualquer forma, para um crime por ele responderá. NÃO EXECUTA AÇÃO DESCRITA NO VERBO NUCLEAR DO TIPO FORMAS MORAL MATERIAL PARTÍCIPE AUXILIAR INDUZIR; INSTIGAR AUTOR executa a ação descrita no verbo nuclear do tipo: TEORIA RESTRITIVA Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 22 Nesse sentido, o artigo 29 do Código Penal viabiliza que o agente que contribuiu para um resultado sem praticar a ação descrita no tipo penal seja enquadrado no crime praticado por conta de uma conduta principal (do autor). Assim, quem ajudou a matar não praticou a conduta descrita no art. 121 do Código Penal, mas, como concorreu para o seu cometimento, será alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29. Uma vez atestada que a conduta do partícipe é acessória em relação à do autor, o ponto nevrálgico é atestar o grau de acessoriedade em relação à conduta principal, ou seja, definir a extensão da conduta principal para que haja participação punível. Existem diversas teorias acerca do assunto, destacando-se três. *Acessoriedade limitada: De acordo com essa teoria, a participação será punível se a conduta principal se revestir de tipicidade e antijuridicidade. Ou seja, o fato principal deve ser típico e ilícito. Não é necessário que o autor seja culpável. Assim, a participação exige, além da tipicidade do fato principal, a sua ilicitude. Em outras palavras, se a conduta for típica, mas praticada acobertada por uma excludente de ilicitude, não haverá participação punível. Ex: Leocádio instiga Bento a defender-se de uma agressão injusta que está sendo cometida por Tavinho. Leocádio e Bento não respondem pelo resultado lesivo produzido em Tavinho, pois agiram em situação de legítima defesa, fato considerado lícito pela legislação penal. FATO PRINCIPAL FATO TÍPICO FATO ILÍCITO PRINCÍPIO DA ACESSORIEDADE LIMITADA DESNECESSÁRIO QUE AUTOR SEJA CULPÁVEL Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 23 QUESTÃO 2 - VI EXAME OAB Hugo é inimigo de longa data de José e há muitos anos deseja matá-lo. Para conseguir seu intento, Hugo induz o próprio José a matar Luiz, afirmando falsamente que Luiz estava se insinuando para a esposa de José. Ocorre que Hugo sabia que Luiz é pessoa de pouca paciência e que sempre anda armado. Cego de ódio, José espera Luiz sair do trabalho e, ao vê-lo, corre em direção dele com um facão em punho, mirando na altura da cabeça. Luiz, assustado e sem saber o motivo daquela injusta agressão, rapidamente saca sua arma e atira justamente no coração de José, que morre instantaneamente. Instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de José, ao final das investigações, o Ministério Público formou sua opinio no seguinte sentido: Luiz deve responder pelo excesso doloso em sua conduta, ou seja, deve responder por homicídio doloso; Hugo por sua vez, deve responder como partícipe de tal homicídio. A denúncia foi oferecida e recebida. Considerando que você é o advogado de Hugo e Luiz, responda: a) Qual peça deverá ser oferecida, em que prazo e endereçada a quem? (Valor: 0,3) b) Qual a tese defensiva aplicável a Luiz? (Valor: 0,5) c) Qual a tese defensiva aplicável a Hugo? (Valor: 0,45) Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 24 III) PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL – Art. 31 Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato executório do crime tenha sido iniciado. Ex: Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de Mafalda e, ao avistá-la, apiedado, não dá início ao intento executório. Nesse caso, tanto Fabrício quanto Félix não respondem pelo delito de homicídio, pois sequer foi dado início ao ato executório. IV) PARTICIPAÇÃO POSTERIOR AO CRIME A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha sido praticada antes ou durante a execução do delito. A contribuição posterior à consumação do crime, conforme o caso, pode configurar o crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou real (art. 349 do CP), além de outros... É claro que, se uma pessoa diz ao ladrão, antes de um furto, que se dispõe a comprar carro de determinada marca e modelo e realmente o faz após a subtração, ela é partícipe do furto porque, antes do delito, incentivou o furtador – embora tenha recebido o bem posteriormente. Ao contrário, aquele que recebe o veículo furtado sem ter de qualquer modo incentivado anteriormente o crime incorre em delito de receptação. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2013, p. 445). QUESTÃO 01 – IX EXAME OAB Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem onde guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe que ceda a garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador. Considerando as informaçõescontidas no texto responda, justificadamente, aos itens a seguir. A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75) B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50) Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 25 3.4) TEORIA UNITÁRIA (OU MONISTA) Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, não havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe. Comentando sobre a teoria unitária, NUCCI (2013, p. 389) leciona que “havendo pluralidade de agentes, com diversidade de condutas, mas provocando-se apenas um resultado, há somente um delito. Nesse caso, portanto, todos os que tomam parte na infração penal cometem idêntico crime. É a teoria adotada, como regra, pelo Código Penal (Exposição de Motivos, item 25)”. Daí decorre o nome da teoria: todos respondem por um único crime (Teoria unitária). 3.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS A) PLURALIDADE DE CONDUTAS Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, onde há duas condutas principais; ou autoria e participação, onde há uma conduta principal e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e partícipe. P A R T IC IP A Ç Ã O PUNÍVEL QUANDO O AUTOR DEU INÍCIO À EXECUÇÃO DO CRIME ART. 31 - O AJUSTE, A DETERMINAÇÃO OU INSTIGAÇÃO E O AUXÍLIO, SALVO DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM CONTRÁRIO, NÃO SÃO PUNÍVEIS, SE O CRIME NÃO CHEGA, PELO MENOS, A SER TENTADO. CONDUTA ACESSÓRIA TEM QUE SER PRATICADA ANTES OU DURANTE À AÇÃO DELITUOSA CONTRIBUIÇÃO POSTERIOR AO CRIME PODE CONFIGURAR FAVORECIMENTO PESSOAL (ART. 348 CP) OU FAVORECIMENTO REAL (ART. 349 CP) PUNÍVEL QUANDO A CONDUTA PRINCIPAL FOR TÍPICA E ILÍCITA NÃO É NECESSÁRIO QUE A CONDUTA SEJA CULPÁVEL Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 26 B) RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se necessário que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a produção do resultado. Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do concurso de pessoas. A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura participação. Assim, se Tereza Cristina simplesmente diz que vai concorrer no homicídio a ser cometido por Ferdinand não há participação. Agora, se Tereza Cristina instiga Ferdinand a matar, ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação. De outro lado, no exemplo daquele que, querendo participar de um homicídio, empresta uma arma de fogo ao executor, que não a utiliza e tampouco se sente estimulado ou encorajado com tal empréstimo a executar o delito. Aquele não pode ser tido como partícipe pela simples e singela razão de que o seu comportamento foi irrelevante, isto é, sem qualquer eficácia causal. (BITENCOURT, 2011, p. 485). C) DO LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO (Vínculo subjetivo e normativo entre os participantes) Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo+dolo) ou normativo (culpa+culpa). As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou coautoria. Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência de contribuir para a realização do resultado. Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas. O simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a concordância psicológica caracterizam, no máximo, conivência, que não é punível, a título de participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição causal, ou, então, constituir, por si mesma, uma infração típica. Tampouco será responsabilizado com partícipe quem, Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 27 tendo ciência da realização de um delito, não o denuncia às autoridades, salvo se tiver o dever jurídico de fazê-lo. (BITENCOURT, 2011, p. 485). Assim, não há participação dolosa em crime culposo. Ex. Anastácio, desejando matar Grizelda, sua paciente, alcança a Januária, enfermeira contratada para cuidar da velha senhora, uma substância dizendo ser medicamento, quando, na verdade, tratava-se de veneno. Mesmo percebendo a dosagem inadequada e a coloração diferente, a enfermeira, sem maiores cautelas, de forma negligente, ministra a substância à paciente, causando-lhe a morte. Não há, no caso, concurso de pessoas, por ausência de vínculo subjetivo, já que Anastácio agiu com dolo e Januária a título de culpa. Há, portanto, dois delitos: homicídio doloso em relação a Anastácio; homicídio culposo em relação a Janária. Da mesma forma, não há participação culposa em crime doloso. Ex. médico, negligentemente, entrega a uma enfermeira um veneno, supondo-o substância medicinal. Ela, percebendo o engano, mas com intenção de matar o doente, ministra-lhe a substância fatal. Há dois crimes: homicídio culposo por parte do médico; doloso em relação à enfermeira. (JESUS, 2010, p. 464). Importante lembrar que a lei não requer acordo prévio entre agentes, sendo suficiente a consciência por parte das pessoas que de algum modo contribuem com o fato. (ESTEFAM, 2010, p. 280). Ex. uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se do patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação e, não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a empregada também responderá pelo crime de furto. Vínculo normativo guarda relação com os crimes culposos. D) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES Nos termos do artigo 29, todos que concorrem para o crime respondem pelo mesmo delito. Ex: Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-se do local com o produto do furto. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 28 É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem todos por um único tipo penal, qual seja, furto. 3.6) CONCURSO EM CRIMES OMISSIVOS a) Participação por omissão A participação por omissão ocorre quando o agente tem o dever jurídico de evitar o resultado, ao tomar ciência de que terceira pessoa pretende praticar um crime, omite-se, mesmo podendo evitar a execução do delito, admitindo que o resultado criminoso se produza. Ex: Um policial visualizado uma pessoa desconhecida estuprando uma mulher. Mesmo sendo possível evitar a execução do delito e ciente do seu dever de agir, o policial conscientemente se omite, admitindo à conduta do estuprador. O desconhecido será autor do delito de estupro e o policial partícipe por omissão, pois tinha o dever jurídico de impedir o resultado (art. 13, § 2º, “a”). Conforme leciona Nucci (2013,p. 391), “pode ocorrer a participação por omissão em um crime, desde que a pessoa que se omitiu tivesse o dever de evitar o resultado. Portanto, o bombeiro que, tendo o dever jurídico de agir para combater o fogo, omite-se deliberadamente, pode responder como partícipe do crime de incêndio”. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS (cumulativos) PLURALIDADE DE CONDUTAS RELEVÂNCIA CAUSAL LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO MESMA FINALIDADE DOLO + DOLO DESNECESSÁRIO AJUSTE PRÉVIO IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 29 b) Coautoria e participação em crimes omissivos A coautoria e a participação em crime omissivo não se confunde com a participação por omissão. Na participação por omissão, o agente, tendo o dever jurídico de agir para evitar o resultado (art. 13, §2º), omite-se intencionalmente, admitindo a execução e consumação do delito; na coautoria ou participação em crime omissivo, o agente, tendo o dever jurídico de agir e evitar o resultado, adota postura ativa na produção do resultado, colaborando na prática delituosa induzindo, auxiliando ou instigando outrem a descumprir a conduta exigida no tipo legal. Em outras palavras, na participação por omissão, o agente que detém o dever jurídico de impedir o resultado atua de forma omissiva no crime praticado por terceira pessoa. Com relação aos crimes omissivos impróprios, afigura-se perfeitamente possível tanto a coautoria quanto a participação. Nesse sentido, destaca-se o exemplo sugerido por ESTEFAM e GONÇALVES (2013, p. 447): Quando pai e mãe combinam não alimentar o filho de pouca idade para que ele morra de fome, há coautoria, pois ambos têm o dever jurídico de evitar o resultado e este só ocorre em decorrência da omissão recíproca. De nada adiantaria, para alcançar o fim almejado, que um deles deixasse de alimentar o filho, mas o outro o fizesse. Haverá participação, por sua vez, por parte daquele que não tem o dever jurídico de evitar o resultado, mas que incentiva o detentor deste dever a se omitir. QUESTÃO 4 – X EXAME Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há qualquer estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que além delas há somente um salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas, Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento, que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada. Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-penal de Erika e Wilson. (Valor: 1,25) Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 30 O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua. 3.7) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS E COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME A ressalva “na medida da sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade no art. 29 diz respeito somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo crime. Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). Todavia, a unidade criminosa não importa necessariamente na aplicação de pena idêntica a todos os que contribuíram para a prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua culpabilidade. I) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS A) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – ART. 29, §1º A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade, naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido. O partícipe que houver tido “participação de menor importância” poderá ter sua pena reduzida de um sexto a um terço, nos termos do art. 29, § 1º. Trata-se, pois, de uma causa de diminuição da pena. B) DA COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU DESVIOS SUBJETIVO ENTRE OS PARTICIPANTES – ART. 29, § 2º O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar outra conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva. Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que o pretendido pelo partícipe ou coautor. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 31 Ex. “A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A” responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da vítima lhe era previsível. De fato, a solução dada pelo CP leva à punição de “A” pelo delito de lesões corporais, que foi o crime desejado, cuja pena será elevada até a metade se o homicídio for previsível. II) COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa. Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, integram o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, quando também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais coautores ou partícipes. Ex: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois respondem por crime de peculato. De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver praticado o fato que as constitui, houveram integrado o dolo ou culpa. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA Exclusivamente ao partícipe Causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3 COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA Autor comete delito mais grave que o pretendido pelo partícipe ou coautor Aumenta-se até a metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 32 Ex: “A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime, emprega asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, III, 4ª figura), a não ser que o meio de execução empregado pelo autor principal tenha ingressado na esfera de seu conhecimento. Conforme ESTEFAM (2010, p. 285), da regra contida no artigo 30 do Código Penal podem-se extrair duas conclusões: a) Todas as elementares do crime, objetivas, normativas ou subjetivas,comunicam-se a todos os agentes (se por eles conhecidas). Assim, por exemplo, a condição de funcionário público, elementar do crime de peculato (CP, art. 312), estende-se ao coautor ou partícipe que não ostente tal qualidade, fazendo com que ele, embora particular, responda pelo delito. b) As circunstâncias da infração penal comunicam-se apenas quando objetivas (e forem conhecidas pelos demais concorrentes). Por esse motivo, o emprego de arma por um dos agentes no crime de roubo provoca, com relação a todos, a incidência da causa de aumento de pena daí decorrente (CP, art. 157, § 2º, I). Se subjetivas, serão incomunicáveis. Exemplo: o motivo egoístico, que qualifica o crime de dano (CP, art. 163, parágrafo único, IV, primeira figura), não se comunica aos demais concorrentes que tenham colaborado com o fato por outros motivos. QUESTÃO 3 – XIX EXAME Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário público e nem que exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras de segurança, são os dois agentes denunciados, em 10 de março de 2015, pela prática do crime de peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada por edital, pois não foi localizada em sua residência. A família de Vanessa constituiu advogado e o processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de Vanessa, que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados pela prática do crime previsto no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre que, na verdade, Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015, em razão de prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença, ela procura você na condição de advogado(a). Considerando a hipótese narrada, responda aos itens a seguir. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 33 A) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,65) B) No mérito, foi Vanessa corretamente condenada pela prática do crime de peculato? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o mero “sim” ou “não”, desprovido de justificativa ou mesmo com a indicação de justificativa inaplicável ao caso, não será pontuado. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 34 PROCESSO PENAL DAS NULIDADES 4.1 - TEORIA GERAL DAS NULIDADES: a) INTRODUÇÃO Podemos afirmar que no processo penal há uma grande tensão existente em compatibilizar o direito do Estado-acusação perseguir a responsabilização penal do indivíduo que, supostamente, violou a lei penal e o dever do Estado, imposto pela Constituição da República, de garantir aos acusados, de uma maneira geral, a observância do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, dentre outras garantias fundamentais. Tal tensionamento é bastante perceptível no tema de nulidades, uma vez que há uma tendência natural da acusação e da jurisprudência em relativizar algumas violações a dispositivos inerentes à lei processual, havendo um verdadeiro descompasso entre o que preceitua a doutrina, à luz do que prega a Constituição da República, e a jurisprudência dominante. Em razão disso, o estudo da teoria das nulidades é bastante tormentoso, uma vez que a ausência de uma interpretação uniforme aliada ao casuísmo jurisprudencial e a falta de uma atualização legislativa em consonância com o sistema processual adotado pela Constituição dificultam sobremaneira a análise das invalidades processuais. B) SISTEMA DA TIPICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS Em relação ao sistema processual adotado pelo legislador no que concerne aos atos processuais, bem como as consequências jurídicas advindas de eventual não- observância do modelo padrão estipulado pela lei processual, mister elencar o preciso ensinamento de Heráclito Antônio Mossin (2005, p. 46-47), abordando o sistema adotado pelo legislador processual brasileiro: 04 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 35 O processo, sob o quadrante formal, é um conjunto de atos processuais, cuja coordenação ou sucessão encadeada é feita por intermédio do chamado procedimento. Para que esses atos que compõem o procedimento produzam seus efeitos jurídicos dentro e fora do processo e para que a ordem jurídica não pereça, necessário se torna que sejam realizados segundo as formas preconizadas pela lei processual penal. Em circunstâncias desse matiz, cumpre ao legislador estabelecer a constituição intrínseca e extrínseca do ato processual, enfim o modelo segundo o qual deve ser praticado: Forma dat est rei. A isso se chama de tipicidade dos atos processuais No tocante ao chamado sistema da tipicidade dos atos processuais ou legalidade dos atos processuais, podemos afirmar que o legislador construiu um modelo pelo qual o juiz, os assistentes e as partes devem se ajustar ao modelo legal, ou seja, todos aqueles que participam da relação processual devem pautar o seu agir em conformidade com aquilo que a lei processual determina. Desta feita, quando há uma inadequação ao modelo proposto pela lei no tipo processual em comento, haverá a atipicidade de tal ato processual, sendo que a consequência jurídica variará de acordo com o grau de violação respectivo, podendo ensejar uma mera irregularidade sem qualquer espécie de sanção processual ou até mesmo acarretar a inexistência do ato, por não conter os requisitos mínimos de formação. C) GRAUS DE ATIPICIDADE De uma maneira geral, a doutrina aponta os seguintes graus de violação: I - ATIPICIDADE IRRELEVANTE – Neste caso a consequência jurídica será a mera irregularidade, não ensejando sanção processual específica, como por exemplo, no caso de a defesa ou a acusação oferecer as razões da Apelação fora do prazo estabelecido pelo artigo 600 do CPP, uma vez que já interpôs o aludido recurso, podendo o Tribunal respectivo conhecer e julgá-lo, inclusive sem as respectivas razões. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 36 II – ATIPICIDADE MUITO INTENSA – Neste caso a consequência jurídica será a própria inexistência do ato processual, uma vez que a atipicidade em questão atingiu os requisitos mínimos de formação do ato processual em si, não se situando no plano da validade e sim no plano da existência, como, por exemplo, no caso de uma sentença exarada por pessoa não investida de jurisdição ou alegações finais escritas assinadas somente pelo estagiário do escritório de advocacia. III- ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA DE INTERESSE PÚBLICO – Neste caso, haverá a nulidade absoluta, restando o prejuízo presumido em razão da natureza da norma violada. IV – ATIPICIDADE ATINGINDO NORMA QUE ATENDA INTERESSE DAS PARTES – Neste caso haverá a nulidade relativa, devendo a parte comprovar o prejuízo, sob pena de convalidação ou sanatória do ato. 4.2) CONCEITO DE NULIDADE Nulidade é o vício que contamina determinado ato processual, praticado sem a observância da forma prevista em lei, podendo invalidar o ato ou o processo, no todo ou em parte. 4.3)NULIDADE ABSOLUTA E RELATIVA a) nulidades absolutas: São aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, porque produtoras de nítidas infrações ao interesse público na produção do devido processo legal. Ex.: não conceder o juiz ao réu ampla defesa, cerceando a atividade do seu advogado São nulidades insanáveis, que jamais precluem. O prejuízo da parte é presumido. A única exceção é a Súmula 160 do STF: “É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.” c) nulidades relativas: São aquelas que somente serão reconhecidas caso arguidas pela parte interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da formalidade legal prevista para ato realizado. 4.4) VÍCIOS PROCESSUAIS – art. 564 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 37 I) JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA – ART. 564, I a) Incompetência A competência absoluta (em razão da matéria e de foro privilegiado) não admite prorrogação; logo, se infringida, é de ser reconhecido o vício como nulidade absoluta, b) Suspeição Se houver suspeição do juiz, caberá às partes, se o próprio Magistrado não se abstiver de funcionar no feito, argui-la, nos termos do art. 98 do CPP. Reconhecida a suspeição, ficarão nulos todos os atos (probatórios e decisórios), como estabelece o art. 101 do CPP. Os motivos legais de suspeição estão elencados no art. 254 do CPP. II) ILEGITIMIDADE DA PARTE (ART. 564, II) No inciso II, erige-se à categoria de nulidade a ilegitimidade de parte. Em se tratando de ilegitimidade do representante da parte, a sanabilidade poderá ocorrer antes da sentença, com a simples ratificação dos atos processuais. III) FALTA DE ATOS ESSENCIAIS (FALTA DE FÓRMULAS OU TERMOS) – Art. 564, III Há, no processo, atos considerados essenciais, imprescindíveis para a validade da relação processual. São assim considerados porque a omissão (do ato) de qualquer deles é nulidade absoluta. São atos estruturais, ou essenciais, os alinhados no inciso III do art. 564. Faz-se exceção àqueles elencados nas letras “d” e “e”, segunda parte, e, finalmente, “g” e “h” desse mesmo inciso. O próprio legislador admitiu a sanabilidade desses atos, nos termos do art. 572. O inciso IV do art. 564 cuida da omissão da formalidade que constitua elemento essencial do ato. a) Denúncia ou queixa e a representação (art. 564, III, “a”) A falta de denúncia ou de queixa impossibilita o início da ação penal, razão pela qual este inciso, na realidade, refere-se à ausência das formulas legais previstas para essas peças processuais. Uma denúncia ou queixa formulada sem os requisitos indispensáveis (art. 41, CPP), certamente é nula. * Representação: A falta de representação pode gerar nulidade, pois termina provocando ilegitimidade para o órgão acusatório agir. Entretanto, é possível convalidá-la, se dentro do prazo decadencial. b) Exame de corpo de delito – art. 564, III, “b” Quando o crime deixa vestígios, é indispensável a realização do exame de corpo de delito, direto ou indireto, conforme preceitua o art. 158 deste Código. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 38 Assim, havendo um caso de homicídio, por exemplo, sem laudo necroscópico, nem outra forma válida de produzir a prova de existência da infração penal, deve ser decretada a nulidade do processo. Trata-se de nulidade absoluta. c) Defesa do réu – art. 564, III, “c” Preceitua a Constituição Federal que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5º, LV). Nessa esteira, o Código de Processo Penal prevê que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (art. 261). Assim, a falta de defesa é motivo de nulidade absoluta. c.1) Não nomeação de defensor dativo: É caso de nulidade absoluta. c.2) Ausência de defesa ou deficiência de defesa: Súmula 523 do STF: “ No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. d) Falta de Intervenção do Ministério Público – art. 564, III, “d” É causa de nulidade se o representante do Ministério Público não interferir nos feitos por ele intentados (ação pública), bem como naqueles que foram propostos pela vítima, em atividade substitutiva do Estado-acusação (ação privada subsidiária da pública) e nas ações privadas. e) Falta ou nulidade da citação do réu para se ver processar (Ampla defesa e contraditório e interrogatório) – art. 564, III, “e” e.1) Citação Se o réu não for citado ou se a citação for feita em desacordo com as normas processuais, prejudicando ou cerceando o réu, é motivo para anulação do feito a partir da ocorrência do vício. Trata-se de nulidade absoluta. A falta ou a nulidade da citação estará sanada desde que o interessado compareça antes de o ato consumar-se (art. 570). Porém, haverá nulidade insanável se a falta de citação prejudicar a defesa do acusado, não sendo possível a convalidação do vício apenas pelo comparecimento do réu ao ato. e.2) Interrogatório – art. 564, III, “e” O interrogatório, sendo ato fundamental – mesmo que não imprescindível -, deve sempre ser realizado quando o acusado estiver presente, em qualquer momento do Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 39 procedimento, a fim de que ele, no exercício de sua defesa pessoal, possa apresentar diretamente a sua versão a respeito do fato, influindo sobre o convencimento do juiz. Por isso, o CPP, estatui, no artigo 564, III, “e”, que há nulidade na falta de interrogatório do réu presente. Cuida-se de nulidade insanável. e.3) Concessão de prazos à acusação e à defesa: Ao longo da instrução, vários prazos para manifestações e produção de provas são concedidos às partes. Deixar de fazê-lo pode implicar um cerceamento de acusação ou de defesa, resultando em nulidade relativa, ou seja, se houver prejuízo demonstrado. f) Sentença de pronúncia – art. 564, III, “f” - Com a abolição do libelo, a alínea “f” fica restrita à pronúncia. g) Intimação do réu para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, “g” Tornou-se possível a realização do julgamento em plenário do Tribunal do Júri, mesmo estando o réu ausente (art. 457). Entretanto, é direito do acusado ter ciência de que se realizará a sessão, podendo exercer o seu direito de comparecimento. Logo, a falta de intimação pode gerar nulidade, porém relativa. Por outro lado, se o acusado, ainda que não intimado, comparecer para a sessão, supera-se a falta de intimação, pois a finalidade da norma processual foi atingida, que é permitir sua presença diante do júri. h) Intimação de testemunhas - art. 564, III, “h” Com a abolição do libelo, as partes poderão arrolar suas testemunhas, máximo 5 para cada uma das partes, conforme dispõem os arts. 422 e 423 do CPP. Se não forem intimadas e, sem embargo, comparecerem, a nulidade será considerada sanada, nos termos do art. 572. Não comparecendo, por não terem sido intimadas, a nulidade é absoluta. i) Instalação da sessão do júri – art. 564, III, “i” Trata-se de norma cogente, implicando nulidade absoluta a instalação dos trabalhos, no Tribunal do Júri, com menos de quinze jurados. j) Incomunicabilidade dos jurados – art. 564, III, “j” É causa de nulidade absoluta a comunicação dos jurados, entresi, sobre os fatos relacionados ao processo, ou com o mundo exterior – pessoas estranhas ao julgamento -, sobre qualquer assunto. k) Inexistência dos quesitos e suas respostas – art. 564, III, “k” Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 40 Súmula 156 do STF: “ É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito obrigatório”. l) Acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, “l” m) Ausência da sentença – art. 564, III, “m” n) Recurso de oficio – art. 564, III, “n” Na verdade, cuida-se do duplo grau de jurisdição necessário. Em determinadas hipóteses, impôs a lei que a questão, julgada em primeiro grau, seja obrigatoriamente revista por órgão de segundo grau. A importância do tema faz com que haja dupla decisão a respeito. Ex: a sentença concessiva de habeas corpus (art. 574, I). o desrespeito a esse dispositivo faz com que a sentença não transite em julgado, implicando a nulidade absoluta dos atos que vierem a ser praticados após a decisão ter sido proferida. Caso a parte interessada apresente recurso voluntário, supre-se a falta do recurso de ofício. o) Intimação para recurso – art. 564, III, “o” As partes têm direito a recorrer de sentenças e despachos, quando a lei prevê a possibilidade, motivo pelo qual devem ter ciência do que foi decidido. Omitindo-se a intimação, o que ocorrer, a partir daí, é nulo, por evidente cerceamento de acusação ou de defesa, conforme o caso. IV) REGULARIZAÇÃO DA FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO, INTIMAÇÃO OU NOTIFICAÇÃO – ART. 570 Estabelece o art. 570 do CPP que o comparecimento do interessado, ainda que somente com o fim de arguir a irregularidade, sana a falta ou nulidade da citação, intimação ou notificação. Exemplo de como já foi cobrado pela FGV: Enunciado da Peça XXII EXAME O magistrado concedeu prazo para as partes se manifestarem em alegações finais por memoriais. O Ministério Público requereu a condenação nos termos da denúncia. O advogado de Leonardo, contudo, renunciou aos poderes, razão pela qual, de imediato, o magistrado abriu vista para a Defensoria Pública apresentar alegações finais. Gabarito Comentado: No conteúdo das Razões Recursais, preliminarmente, deveria o advogado alegar a nulidade da sentença, devendo os atos desde a apresentação das alegações finais pela defesa serem anulados. Isso porque Leonardo tinha advogado constituído nos autos que veio a renunciar. Diante disso, deveria o magistrado intimar o réu, que estava preso, para informar se tinha interesse em constituir novo advogado ou ser assistido pela Defensoria Pública. A Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 41 decisão do juiz de, de imediato, encaminhar os autos para Defensoria Pública viola o princípio da ampla defesa na vertente da defesa técnica. Certamente houve prejuízo, pois as Alegações Finais foram apresentadas sem qualquer contato do Defensor com o acusado e este foi condenado. Distribuição dos Pontos Preliminarmente: Nulidade da sentença ou de todos os atos processuais desde as alegações finais apresentadas pela Defensoria Pública (0,25), tendo em vista que não houve intimação do réu para manifestar interesse em indicar novo advogado OU tendo em vista que houve prejuízo para ampla defesa (0,15). Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 42 QUESTÃO 2 – XXII EXAME OAB Em inquérito policial, Antônio é indiciado pela prática de crime de estupro de vulnerável, figurando como vítima Joana, filha da grande amiga da Promotora de Justiça Carla, que, inclusive, aconselhou a família sobre como agir diante do ocorrido. Segundo consta do inquérito, Antônio encontrou Joana durante uma festa de música eletrônica e, após conversa em que Joana afirmara que cursava a Faculdade de Direito, foram para um motel onde mantiveram relações sexuais, vindo Antônio, posteriormente, a tomar conhecimento de que Joana tinha apenas 13 anos de idade. Recebido o inquérito concluído, Carla oferece denúncia em face de Antônio, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 217-A do Código Penal, ressaltando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que, para a configuração do delito, não se deve analisar o passado da vítima, bastando que a mesma seja menor de 14 anos. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Antônio, responda aos itens a seguir. A) Existe alguma medida a ser apresentada pela defesa técnica para impedir Carla de participar do processo? Justifique. (Valor: 0,60) B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser apresentada em busca da absolvição do denunciado? Justifique.(Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 43 DA TEORIA GERAL DAS PROVAS Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. 5.1) INTRODUÇÃO E CONCEITO TRATA-SE DE TODO E QUALQUER MEIO DE PERCEPÇÃO EMPREGADO PELO HOMEM COM A FINALIDADE DE COMPROVAR A VERDADE DE SUA ALEGAÇÃO. É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstancias. O termo prova, segundo Guilherme de Souza Nucci, vem do latim “probatio”, que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: A) NORMALMENTE NO PROCESSO PENAL HÁ UMA CONTROVÉRSIA FÁTICA: IMPUTAÇÃO DOS FATOS PENALMENTE RELEVANTES PELA ACUSAÇÃO X NEGATIVA DE TAIS FATOS PELA DEFESA. NESTE SENTIDO AS PROVAS NO PROCESSO PENAL DESEMPENHAM UMA FUNÇÃO IMPORTANTÍSSIMA. B) NA ATIVIDADE PROBATÓRIA HÁ UMA RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS FATOS, RAZÃO PELA QUAL A ATIVIDADE DO MAGISTRADO POSSUI SEMELHANÇAS COM A ATIVIDADE DO HISTORIADOR, UMA VEZ QUE AMBOS ANALISAM FATOS JÁ OCORRIDOS, ENTRETANTO, COM ALGUMAS DIFERENÇAS, NA MEDIDA EM QUE A ATIVIDADE DO MAGISTRADO POSSUI LIMITES, COMO POR EXEMPLO, EM RELAÇÃO À INADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS E, NECESSARIAMENTE, PRECISA CHEGAR A UMA CONCLUSÃO, AINDA QUE NÃO CONVENCIDO DA CULPABILIDADE DO ACUSADO. C) TENDO EM VISTA QUE O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL É DE 1941, APESAR DA OCORRÊNCIA DE ALGUMAS REFORMAS RECENTES, AINDA HÁ UMA NECESSIDADE DE COMPATIBILIZAR O CPP COM A CR/88, PRINCIPALMENTE EM RELAÇÃO ÀS CLÁUSULAS DE RESERVA DE JURISDIÇÃO. (EX. ART. 241 CPP – BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR SEM MANDADO) 05 Prof. Arnaldo França Quaresma Junior OAB 2ª Fase 44 D) O CPP NÃO REGULAMENTOU TEMAS ESSENCIAIS COMO A INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL, (LEI 12850/13) OU TELEFÔNICA (LEI 9296/96), SENDO NECESSÁRIA A OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE. E) A LEI 11690/08 ALTEROU O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DE MANEIRA SUBSTANCIAL EM RELAÇÃO ÀS PROVAS: E.1) Alterou os artigos referentes às disposições gerais (155/157). E.2) Alterou o artigo 159 do CPP, passando a exigir apenas um perito de natureza oficial. E.3) Alterou o art. 212 do CPP, admitindo que as partes fizessem perguntas de forma direta às testemunhas. E.4) Alterou o art. 386, VI do CPP dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de circunstância que exclua o crime ou isente réu de pena é caso de absolvição. 5.2) OBJETO DA PROVA E OBJETIVO A regulamentação dos meios de prova no CPP não é taxativa. Objetivo:
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