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Economia Professor conteudista: Cláudio Dittício Sumário Economia Unidade I 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................1 2 A NATUREZA DO PROBLEMA ECONÔMICO .............................................................................................9 2.1 A escassez dos recursos disponíveis na economia ...................................................................11 2.2 As necessidades ilimitadas dos agentes econômicos ............................................................ 17 2.3 O provimento de bens e serviços ................................................................................................... 20 2.4 Os fluxos fundamentais da economia ......................................................................................... 22 2.5 As questões centrais da economia ................................................................................................ 26 2.6 As alternativas de sistemas econômicos .................................................................................... 35 3 A EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DE MERCADO .............................................................................. 37 3.1 As mudanças .......................................................................................................................................... 39 3.2 A configuração dos fatores de produção: trabalho, terra e capital ................................. 42 3.3 A ascensão do “motivo de lucro”, a “filosofia” do comércio e o mecanismo de mercado ............................................................................................................................ 46 Unidade II 4 A ESTRUTURA DO MERCADO ..................................................................................................................... 50 4.1 Os modelos de estrutura de mercado .......................................................................................... 51 4.2 Uma visão histórica ............................................................................................................................. 60 5 A OFERTA, A DEMANDA E O EQUILÍBRIO DE MERCADO ................................................................. 61 5.1 O equilíbrio de mercado .................................................................................................................... 63 5.2 O excedente do consumidor ............................................................................................................ 66 5.3 O excedente do produtor .................................................................................................................. 72 5.4 A eficiência de mercado .................................................................................................................... 77 5.5 As elasticidades da demanda .......................................................................................................... 81 6 DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA SOCIEDADE DE MERCADO ........................................................... 91 6.1 Economia centralizada versus economia de mercado .......................................................... 92 6.2 O capitalismo e a economia de mercado ................................................................................... 97 1 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Unidade I 5 10 15 20 1 INTRODUÇÃO A disciplina Economia objetiva apresentar as relações econômicas que balizam as decisões dos agentes econômicos (pessoas, residentes ou não no país, empresas e governo). Os assuntos serão tratados em cinco capítulos fundamentais, além deste introdutório. No segundo capítulo, nossa preocupação é voltada à análise do que se denomina “problema econômico”, representado pelo confronto entre as necessidades dos agentes e a capacidade da economia de atendê-las, dada a escassez dos recursos de que dispomos, qualquer que seja o nível de riqueza da sociedade. Procuramos entender como a economia se organiza para resolver as suas questões básicas de produção, circulação e designação de quem terá direito aos diferentes bens e serviços. No capítulo três, procuramos compreender a sociedade de mercado em que vivemos, identificando, inclusive, aspectos históricos que apontem de que maneira as novas orientações, como, por exemplo, as relacionadas com os lucros das operações e a concessão de maior liberdade às atividades comerciais e, posteriormente, industriais, determinaram o crescimento econômico de várias nações. O capítulo quatro, complementado com uma visão histórica, contém as diferentes estruturas do mercado e dos modos de produção adotados pela sociedade e pelas forças produtivas para 2 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 o alcance de seus objetivos econômicos, isto é, para a solução do “problema econômico”. Denominamos modos de produção as variadas alternativas adotadas pelas sociedades econômicas para a solução de seus problemas até chegarmos à época atual – Revolução da Informação –, passando pela Agrícola (de cerca de doze mil anos atrás) e pela Industrial, cujo desenvolvimento ocorreu inicialmente entre 1760 e 1830. Cada modo de produção engloba os objetos de trabalho adotados, como ferramentas, máquinas e organização industrial. Forças produtivas expressam a posição do homem em relação às coisas e às forças da natureza utilizadas para a criação dos bens materiais. No capítulo cinco, abordamos o funcionamento básico dos mercados e da interação entre os agentes, por meio da conhecida lei da oferta e da procura. É aí que tratamos de mostrar como o sistema se mantém em equilíbrio, direcionado não de forma central, mas pelos preços que assumem os vários bens e serviços. E mostra-se como o mercado, por sua livre atuação, atinge o grau de eficiência econômica. O último capítulo apresenta argumentos que contrapõem os modelos baseados em planejamento e controle centrais aos da liberdade dos mercados, mencionando que existem também vários problemas que não podem ser ou são insuficientemente resolvidos com a estrutura baseada no funcionamento dos livres mercados, notadamente quando a preocupação é a distribuição equitativa dos bens e serviços criados na economia. Finalmente, incluímos uma lista das obras referenciadas ou consultadas para a elaboração deste texto. 5 10 15 3 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 A disciplina Economia é um importante suporte para o desenvolvimento das atividades do administrador, já que estamos inseridos num sistema econômico baseado na livre atuação dos mercados, que determina as diferentes políticas adotadas pelos governos. O estudo da economia pode ser dividido basicamente em: • microeconomia: estuda os aspectos e influências sobre a atuação das unidades econômicas individuais, como as pessoas (famílias), as empresas, o governo e mesmo os agentes não residentes. Esse é o foco fundamental do presente texto; • macroeconomia: tem a sua preocupação voltada para a mensuração dos agregados econômicos, tais como consumo, poupança, investimento e produto total gerados pela sociedade numdeterminado período de tempo; • desenvolvimento econômico: objetiva a compreensão das razões que levam ao crescimento econômico sustentável e não apenas no curto prazo. A economia é, acima de tudo, uma ciência social, e os seus assuntos estão presentes no dia a dia de todos nós, e no próprio contato entre as pessoas e empresas, e são fartamente mostrados na mídia. Naturalmente, estamos sempre preocupados com os assuntos a ela relacionados, como, por exemplo: • aumentos dos preços dos produtos; • pouco crescimento das atividades econômicas; • maior ou menor participação das entidades governamentais nessas atividades; 5 10 15 20 25 4 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 • dívidas contraídas pelo governo com os habitantes do próprio país ou do exterior; • má distribuição dos frutos do crescimento econômico entre os indivíduos e as organizações. Há correlações com outras disciplinas, já que estudam uma mesma realidade. Vasconcellos e Garcia (2003, p. 31) comentam, a propósito da hipótese coeteris paribus, o que significa “tudo o mais constante”: (...) torna-se possível o estudo de um determinado mercado selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes econômicos (...) neste particular mercado, independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los. Conceitos econômicos originaram-se de estudos em física e biologia. Os primeiros pensadores econômicos foram, igualmente, bastante influenciados pela filosofia, pela moral e pela justiça. Aspectos religiosos também determinavam certas condutas dos indivíduos. A matemática e a estatística auxiliam na constituição de modelos de trabalho para uma melhor análise dos fenômenos econômicos. Economia e política são fortemente inter-relacionadas. Com a segunda, temos as instituições sobre as quais serão desenvolvidas as atividades econômicas. Mas, decisões e fatos econômicos conduzem a mudanças na estrutura política das nações. 5 10 15 5 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Podem ser constatados vários exemplos do inter- relacionamento entre economia e política, lembrando, como fazem Vasconcellos e Garcia (2003, p. 11), da política do café- com-leite, antes de 1930, que dividia o poder federal entre São Paulo e Minas Gerais. Enumeram, também, práticas e políticas que visam combater latifúndios, oligopólios e monopólios e que tentam aliviar o poder das grandes corporações, mesmo as estatais. Mencionamos como importante a relação que se dá com a história, visto que muitas ocorrências históricas podem ser melhor compreendidas quando se levam em conta as questões econômicas em cada uma das épocas estudadas. E, claro, não pode ser esquecida a interação com o direito, considerando que a economia depende do estabelecimento de normas jurídicas, como, por exemplo, leis que combatam os entraves ao livre funcionamento dos mercados e que também permitam a resolução dos problemas e ineficiências deste último (as imperfeições de mercado). Entre as imperfeições de mercado, podem ser mencionadas as externalidades: quando a produção ou o consumo de um bem afeta, negativa ou positivamente, outros indivíduos, sem que isso seja apontado pelos preços de mercado. Outro aspecto relaciona-se às falhas de informação, que impedem a adequada tomada de decisões. O poder de monopólio, normalmente, também conduz a preços maiores do que os que seriam praticados caso os produtores pudessem competir mais acentuadamente nos mercados. É, pois, bem significativo o efeito trazido pelas normas jurídicas sobre a atuação dos diferentes agentes econômicos. 5 10 15 20 6 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Como indicam Vasconcellos e Garcia (2003, p. 25): No texto constitucional de 1988 encontra-se que a competência para a execução da política monetária, de crédito, cambial e de comércio exterior é da União. Esta tem a competência para emitir moeda e para legislar sobre o sistema monetário e de medidas, títulos e garantias de metais; a respeito da política de crédito, câmbio, seguros e transferências de valores; e sobre o comércio exterior. Porém, cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre a moeda, seus limites de emissão e montante da dívida mobiliária federal, conforme estipula o art. 48 da Constituição Federal. A economia é reconhecida como uma ciência jovem, surgida na segunda metade do século XVIII, com o reconhecimento mais ou menos geral de que a obra seminal de Adam Smith, publicada em 1776 (Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações), é a sua “certidão de nascimento”. Anteriormente, já na Antiguidade e na Idade Média, existiram preocupações econômicas, mas não de forma sistematizada e organizada, e fortemente determinadas por aspectos morais e religiosos. Entre os mais imediatos precursores de Smith, destacaram- se os mercantilistas (a partir do século XVI), que incentivavam o crescimento do comércio e a acumulação de riquezas, sob a forma de ouro e prata, propugnando a não intervenção do governo nos assuntos econômicos. É atribuído a esse movimento o estímulo às guerras entre as nações e o exacerbado desenvolvimento do espírito nacionalista. Os fisiocratas, que, na verdade, representavam uma reação ao mercantilismo, acreditavam que o mundo era comandado por leis naturais e universais que contribuíam para a felicidade 5 10 15 20 25 30 7 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 da humanidade. Para eles, a agricultura deveria ser privilegiada, dado que a terra era a fonte fundamental da riqueza, em relação a outras atividades, como o comércio e as finanças. Smith (1723-1790) e outros economistas clássicos, como David Ricardo (1772-1823), Thomaz Robert Malthus (1766- 1834) e John Stuart Mills (1806-1873), apesar de divergirem em alguns aspectos, tinham como premissa básica a crença no livre funcionamento dos mercados, fundamentados na propriedade privada dos meios de produção. A situação social extremamente difícil (subnutrição, jornada de trabalho de mais de quatorze horas por dia, utilização acentuada de mulheres e crianças nas manufaturas e fábricas, más condições de higiene) dos primeiros momentos da Revolução Industrial (1770/1830) conduziu ao surgimento de ideias socialistas, traduzidas pelos trabalhos de Karl Marx (com destaque para O capital, cujos primeiros volumes foram publicados no final do século XIX) e Friedrich Engels. Outras escolas surgiram, como a neoclássica, que procurava se abstrair dos aspectos relacionados às diferentes classes sociais e concentrar sua atenção na formulação de leis e princípios que mostram, muitas vezes com o auxílio da matemática, como a economia chega, naturalmente, ao seu ponto de equilíbrio e que este é eficiente. Um equilíbrio de mercado é considerado eficiente quando não se consegue, com alterações determinadas por políticas governamentais,melhorar a situação de um agente econômico sem prejudicar a de outros. Esse conceito não se relaciona, porém, com o de equidade ou justiça social, pois mesmo uma economia que tivesse toda a sua renda destinada a um único agente seria considerada eficiente. 5 10 15 20 8 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 No século XX, com o término da Segunda Guerra Mundial, tivemos o predomínio do chamado consenso keynesiano, alicerçado nas ideias e teorias propugnadas por John Maynard Keynes e expressas na obra Teoria geral do emprego, da moeda e dos juros, publicada em 1936, que procura justificar a necessidade de maior participação do governo na economia, quando o mundo enfrentava aquela que, até hoje, é considerada a maior recessão econômica, surgida a partir do final dos anos 1920. O desemprego, mesmo para os clássicos, é admitido quando ocorre por desajustes sazonais ou em momentos de troca de empregos pelos trabalhadores. As ideias e proposições clássicas e neoclássicas não foram eficientes para explicar a grave recessão da época (afinal, para elas, a economia sempre se equilibrava em condições de pleno emprego voluntário), ficando essa tarefa para Keynes. Os acontecimentos da década de 1970 (alta e generalizada inflação, crise do fornecimento de petróleo etc.) fizeram com que as ideias liberais fossem fortemente retomadas, voltando à proposição de uma drástica diminuição da intervenção do Estado nas atividades econômicas. Ao tempo em que estamos escrevendo este texto, admite- se que um novo ciclo de mudanças e orientações básicas poderá ocorrer, como reflexo da crise financeira mundial aguçada a partir do segundo semestre de 2008 e que muitos debitam à excessiva desregulamentação das atividades econômicas. Para a complementação das informações e dos conceitos apresentados neste texto, sugerimos a consulta às obras constantes nas referências bibliográficas. 5 10 15 20 25 9 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Acreditamos, também, que é de muita importância a leitura de jornais e revistas relacionados com economia e negócios, tendo em vista a apreensão da realidade dos agentes e dos fatores de natureza econômica, política e social que os influenciam. 2 A NATUREZA DO PROBLEMA ECONÔMICO Objetivo Neste capítulo, demonstramos qual é o “problema econômico” fundamental a ser tratado pela economia: é o equacionamento das necessidades ilimitadas dos agentes econômicos e sua ânsia pela obtenção de mais bens e serviços. Tal questão deve ser analisada considerando-se que toda sociedade dispõe de recursos escassos, necessários para o provimento das necessidades, sob a forma de bens e serviços que são colocados nos mercados. Considerações iniciais Cada indivíduo desempenha diferentes papéis na sociedade e, em particular, no sistema econômico em que está inserido. Muitas vezes, somos responsáveis pela própria produção (nos variados setores da economia) dos bens e serviços destinados à coletividade. Entre os setores em que se divide a economia, podemos identificar: o primário, representado pela produção agrícola e a pecuária; o secundário, composto pelas atividades manufatureiras e industriais; e o terciário, composto pelos variados serviços oferecidos à comunidade. Além disso, muitos de nós nos envolvemos com os processos de comercialização e distribuição desses bens. Queremos sempre melhorar a produtividade e reduzir os custos de nosso trabalho. 5 10 15 20 10 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 E, afinal, consumimos ou poupamos a renda que auferimos, sob as mais diferentes formas, na condição de proprietários dos recursos, isto é, dos fatores de produção necessários para que se criem os produtos e serviços que almejamos. A sociedade em que vivemos é baseada na liberdade de atuação dos agentes econômicos nos vários mercados (de bens ou financeiros), os quais, agindo em nome dos seus interesses individuais, devem conduzir ao bem-estar geral a organização. Mochón (2006, p. 65) esclarece que No curto prazo, há dois tipos de custos: os fixos (aqueles que não dependem do volume de produção) e os variáveis (os que aumentam junto com o nível de produção). O custo total é a soma dos dois. Para calcular o custo médio, dividimos o custo em questão entre o número de unidades do produto obtidas. O custo marginal é aquele gerado pela produção de uma unidade adicional. Essa organização, porém, está fundamentada nas trocas que são feitas entre os vários agentes econômicos. Quem detém os fatores de produção os vende a quem é encarregado de produzir os diversos bens e serviços, que, por sua vez, os comercializa com aqueles que estão interessados em suas aquisições. Passos e Nogami (2005, p. 5) mencionam a definição de Paul A. Samuelson, um dos maiores economistas do século XX: A Economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade decidem empregar recursos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para produzir bens variados e para distribuí-los para o consumo, agora ou no futuro, entre várias pessoas e grupos da sociedade. 5 10 15 20 11 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Síntese do capítulo Ao final deste capítulo, você terá visto alguns conceitos fundamentais, refletidos sobre o problema econômico e sobre as formas de organização da sociedade para a solução das questões relacionadas à produção, à circulação e à distribuição dos bens, requeridas para o atendimento às ilimitadas necessidades humanas. 2.1 A escassez dos recursos disponíveis na economia Ficamos maravilhados com o que a natureza nos oferece, sem que precisemos nos esforçar muito para obter os benefícios. Também nos surpreendemos quando constatamos as grandes mudanças propiciadas pelo próprio homem em função do notável desenvolvimento científico dos dois últimos séculos. Porém, continuamos carentes, comparativamente aos bens que desejamos, objetivando melhorias em nosso bem-estar. E sabemos que os recursos, ou melhor dizendo, os fatores de produção que podemos empregar para que consigamos obter esses bens estão ficando cada vez mais difíceis de ser conseguidos. Mas, afinal, quais são esses fatores de produção? O capital Referimo-nos, aqui, a todo bem que se destina à produção de outro, destinado ao consumo da sociedade. Por isso, eles são denominados, também, bens de produção. Podemos classificar os recursos de capital em: • físico: representado pelos instrumentos utilizados na produção (máquinas, ferramentas), pelas instalações e fontes de energia (elétrica, eólica, solar, nuclear etc.); 5 10 15 20 25 12 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 • financeiro: capital, sob a forma de dinheiro, utilizado para os pagamentos dosinvestimentos empresariais; • humano: identificado nos talentos e habilidades, fruto das experiências e dos conhecimentos adquiridos pelos indivíduos. O capital é constituído ou acumulado a cada período de atividades econômicas à medida que a sociedade dirige parte de seus esforços para a produção de bens não destinados diretamente ao consumo presente da coletividade, mas sim para poder manter ou, melhor ainda, fazer crescer as possibilidades de desenvolvimento de novos produtos ou serviços que serão utilizados no futuro. A remuneração pelo emprego desse fator de produção é denominada lucro, que é a diferença entre as receitas e as despesas de uma organização, já deduzidos os pagamentos de taxas, impostos e da parcela que ficou retida para uso futuro. Para a formação de capital, a economia pode se valer da própria poupança interna de seus agentes (sejam os indivíduos ou as empresas). Os primeiros quando optam por não consumir, de imediato, a renda que lhes é devida, e os outros quando retêm, para quaisquer necessidades futuras, parte de seus lucros, obtidos em suas atividades durante certo período. Sendo essa poupança insuficiente, como ocorre na maioria das vezes, principalmente nos países menos desenvolvidos, procura-se complementar as necessidades de investimentos por meio da poupança externa (dos agentes não residentes no país) e do próprio governo. A própria poupança individual não é somente decidida de forma voluntária, mas pode ser induzida ou imposta pelas próprias políticas e práticas governamentais. Cabe fazer uma distinção entre os meios de produção e os objetos de trabalho. Os primeiros compreendem o capital físico, incluídos os meios de transporte. Os segundos referem- se aos elementos sobre os quais é desenvolvido o trabalho humano (matérias-primas, solo etc.). A poupança externa é conseguida com base em empréstimos ou investimentos trazidos do exterior. O governo participa da poupança global da sociedade quando consegue superávits (maiores receitas do que despesas) em suas transações com os outros agentes econômicos. A poupança compulsória dos agentes econômicos é conseguida mediante aplicação de impostos ou práticas governamentais que conduzam à diminuição de suas alternativas e possibilidades de consumo. 5 10 15 20 25 30 13 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 O fator terra ou recursos naturais Neste caso, enquadramos os bens fornecidos diretamente pela natureza (recursos naturais), que podem constituir a base em que se empregará o capital físico. Esses bens (vegetais ou animais) podem ser renováveis ou não renováveis (como é o caso dos minerais), sob a forma natural ou transformados pela ação humana. No passado, os primeiros economistas indicavam ser esse o fator de produção mais importante e, algumas vezes, o único que poderia fazer crescer a riqueza de uma nação. Os fisiocratas, na França de meados do século XVIII, advogavam que as atividades agrícolas eram as únicas capazes de produzir excedentes econômicos (excesso de produção em relação às necessidades de uma coletividade), enquanto as demais classes, apesar de necessárias, seriam consideradas estéreis (como os funcionários públicos, sacerdotes, comerciantes, soldados etc.). Conforme Vasconcellos (2007, p. 21), [A fisiocracia] dividiu a sociedade em classes sociais, e teve a preocupação de justificar os rendimentos da classe proprietária de terras. Diferentemente dos mercantilistas (cuja escola era ativa durante essa época), os fisiocratas consideram a riqueza de um país não medida pelo estoque de metais preciosos, mas por tudo aquilo que era retirado da terra (o chamado produto líquido). O fator trabalho Considerado pelos economistas clássicos e pelos socialistas como o principal fator, responsável pelo crescimento do país, o 5 10 15 20 14 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 trabalho humano é combinado com os outros fatores, como a terra e o capital. Os clássicos desenvolveram, desde Adam Smith e com o maior detalhamento elaborado por David Ricardo, a teoria do valor-trabalho, segundo a qual poderiam ser mensurados os valores de todos os bens. Os socialistas, sobretudo Marx, refinaram as ideias de Ricardo e as utilizaram em seus argumentos, para comentar sobre os interesses divergentes entre as necessidades capitalistas e as dos trabalhadores. Para a escola neoclássica, porém, esses valores só podem ser encontrados quando há a colaboração de diferentes fatores de produção e não apenas do trabalho humano, desenvolvendo a teoria do valor-utilidade. Vasconcellos (2007, p. 32) indica que: Pode-se dizer que a teoria do valor-utilidade veio complementar a teoria do valor-trabalho, pois já não era possível predizer o comportamento dos preços dos bens apenas com base nos custos, sem considerar o lado da demanda (padrão de gostos, hábitos, renda etc.). Ademais, a teoria do valor-utilidade permitiu distinguir claramente o que vem a ser o valor de uso e o valor de troca de um bem. A tecnologia De forma geral, a tecnologia pode ser entendida como todo o conjunto de conhecimentos humanos aplicado para os mais diferentes objetivos. Pode ser conceituada, de forma mais estrita, como sendo as inovações nas técnicas que alteram 5 10 15 20 25 15 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 o modo de trabalho, contribuindo para o aumento de sua produtividade. O maior crescimento do trabalho e da produção ocorreu a partir do advento da Revolução Industrial. Como as demais mercadorias, os economistas entendem que a tecnologia tem um preço e pode, portanto, ser negociada no mercado. Verifica-se um acentuado desnível em termos de dotação de tecnologia, conforme o status de desenvolvimento das nações, fazendo com que sua importação ocorra, com mais frequência, pelos países menos desenvolvidos, muitas vezes incentivando a instalação de empresas estrangeiras no país, o que, em contrapartida, fará com que aumentem, no futuro, suas despesas com pagamentos de licenças, royalties e lucros. Mudanças tecnológicas podem transformar bastante, às vezes de forma radical, as características e a divisão do trabalho numa sociedade, pois, apesar de contribuírem para a redução dos esforços na produção de bens e serviços, podem levar ao desemprego de fatores que não consigam se adaptar à nova realidade econômica; são, muitas vezes, combatidas pelos grupos cujas atividades e cujos interesses foram por elas afetados. De qualquer forma, é com elas que se obtém maior crescimento econômico, mediante uma combinação mais vantajosa do emprego dos diferentes fatores de produção. A inovação tecnológica pode ser: • de processo: caracterizada pela diminuição do tempo e/ou do número de operações/etapas do processo produtivo; • de produto: relativa às características de produção e de distribuição do produto. Os royalties referem-se aos pagamentos a detentores de patentes de licenças para utilização da marca e das especificações de fabricação de um determinado produto ou desenvolvimento de um serviço. 5 10 15 20 25 30 16 UnidadeI Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 A capacidade empresarial Cada vez mais tem sido reconhecida a importância da inclusão desse fator entre os que mais contribuem para o desenvolvimento da produção e da nação como um todo. Por certo, o empresário desempenha um papel de extrema relevância no contexto do sistema capitalista, baseado no livre funcionamento dos mercados, à medida que emprega novos métodos e técnicas nos seus procedimentos e na geração de seus produtos e serviços em atividades: • industriais; • comerciais; • administrativas; • financeiras; • de pesquisa e desenvolvimento. Os empreendedores são responsáveis pela geração de novos produtos e serviços, à medida que organizam e coordenam as operações de forma eficiente. Schumpter, um dos maiores economistas do século XX, admite ser esse o fator mais significativo para o crescimento do investimento do país. O empresário é responsável pela otimização dos outros fatores de produção, os quais são direcionados às funções industriais, comerciais, administrativas, financeiras e de pesquisa e desenvolvimento, cruciais para o sucesso de um novo projeto ou investimento. Jorge e Silva (1999, p. 31) esclarecem que: Ao conjugar capital, terra, trabalho e tecnologia, o empreendedor estará reunindo os elementos que possibilitarão, sob sua orientação, uma participação 5 10 15 20 25 17 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 no processo produtivo, que será tanto mais eficaz e duradoura quanto mais eficiente forem suas ações de planejamento, organização, produção, comercialização, administração financeira, administração do fator humano e outras. Síntese do item Os recursos de produção aqui referenciados – capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial – têm como principal identidade o fato de serem limitados para a produção dos bens voltados ao atendimento das necessidades dos agentes econômicos. 2.2 As necessidades ilimitadas dos agentes econômicos Na verdade, o objetivo fundamental da atividade econômica é poder criar bens que satisfaçam essas necessidades. Isso é a própria razão de ser dessa ciência, cujo conhecimento e cujo desenvolvimento não seriam necessários se pudéssemos, sempre, contar com todos os bens e serviços de que precisamos ou que desejamos. Mas elas são inesgotáveis e tendem a se diversificar e até aumentar com o próprio desenvolvimento da civilização. Essa realidade pode ser observada nas visitas a mercados e centros de consumo. Os desejos se multiplicam, enquanto os recursos não conseguem acompanhar essa evolução. É certo que essas necessidades variam de pessoa para pessoa e conforme a região onde habitam. Podemos classificar essas necessidades humanas em: a. coletivas: enquadram-se nesta categoria as necessidades relacionadas com segurança, defesa, educação, 5 10 15 20 25 18 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 saneamento básico, saúde etc. Muitas delas não conseguem ser supridas pela própria iniciativa privada, determinando a existência dos chamados bens públicos, produzidos sob a égide do Estado, que discutiremos posteriormente; b. individuais: neste grupo, estão incluídas as necessidades básicas (absolutas ou biológicas), como dormir, respirar, comer, habitar, procriar, vestir etc., por sinal, nem sempre atendidas por processos econômicos. Aspectos ambientais, como a preservação das áreas verdes e o controle da poluição do ar, quase sempre dependem de ações e políticas econômicas. Também podemos incluir nesse conjunto as chamadas necessidades relativas ou sociais, isto é, as que não são as mesmas para todos os indivíduos (hábitos, normas, costumes e valores – uso de talheres e pratos, cama para dormir, hábito da leitura e outros). No Quadro 1, a seguir, estão resumidas as categorias que refletem as várias necessidades dos indivíduos. Quadro 1 Tipos de necessidades Coletivas Individuais Absolutas Relativas Segurança, defesa, educação, saneamento básico, saúde etc. Dormir, respirar, comer, habitar, procriar, vestir etc. Hábitos, normas, costumes e valores. Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Abraham Maslow, psicólogo norte-americano (1908-1970), desenvolveu uma teoria em que as necessidades humanas são hierarquizadas, indo das mais básicas (biológicas) às mais específicas, como as de valorização individual e cultural. 5 10 15 20 19 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Esse cientista demonstrou a sua teoria sob a forma de uma pirâmide. Resolvidas as necessidades da base (iniciais/ básicas), o indivíduo procura segurança na sua própria residência e no seu emprego e coletividade. Satisfeito esse nível de necessidades, ganha força o sentimento de viver em comunidade, ser aceito pelo grupo, de relacionar-se com outros. Depois, procura objetivos que satisfaçam sua procura por reconhecimento, status, poder. Finalmente, aumentam as necessidades relacionadas a sua autorrealização, oferecendo- se para participar de projetos arrojados ou sofisticados, como a exploração de regiões ou variadas experimentações e aventuras. Os grupos de necessidades só serão atendidos após o atingimento das necessidades anteriores, devendo ser considerado que o indivíduo ocupa diferentes degraus nessa pirâmide ao longo do tempo. Autorrealização Autoestima Associação Segurança Necessidades biológicas ou básicas O atendimento dessas necessidades, porém, muitas vezes, somente será conseguido com a aplicação dos escassos fatores de produção, que irão gerar os necessários bens e serviços. Síntese do item Neste item, foram abordadas as necessidades, ordenadas em coletivas e individuais e hierarquizadas, cujo atendimento 5 10 15 20 20 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 depende da eficiência na produção dos bens destinados à coletividade. 2.3 O provimento de bens e serviços Os bens voltados à satisfação das necessidades humanas e obtidos com a utilização dos variados e escassos fatores de produção são denominados econômicos, em contraposição aos livres, para os quais não há a formação de preços pelos mercados. Dois dos exemplos mais notórios de bens livres são o ar que respiramos e a energia do sol, que, pela sua abundância e disponibilidade, não precisam ser providos pelos homens e, como tal, não são tratados pela análise econômica. Portanto, é dos bens econômicos que cuidaremos, por existirem em quantidade limitada. Eles se diferenciam entre si em função de sua natureza física, mas têm em comum o fato de serem: • escassos; • úteis; • exclusivos: só podem ser adquiridos por quem consegue pagar o seu preço, estabelecido no mercado. De pronto, podemos classificá-losem duas grandes categorias: • bens tangíveis, representados pelos materiais e bens físicos em geral; • bens intangíveis, compreendendo o conjunto de serviços gerados numa economia em um determinado período. Podemos, outrossim, classificar os bens econômicos tangíveis em: 5 10 15 20 25 21 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 1. Bens finais Englobam os bens de consumo que já foram completamente transformados pelo processo de produção e que, por sua vez, se subdividem em: • bens de consumo não duráveis: aqueles que são consumidos num período curto de tempo, desaparecendo após satisfazer uma determinada necessidade, como é o caso dos produtos alimentícios; • bens de consumo duráveis: permitem o uso por um tempo maior, não sendo destruídos de imediato, como é o caso dos eletrodomésticos, automóveis etc. São muito importantes para o desenvolvimento da economia, já que se valem de produtos intermediários, máquinas, fornecimentos de terceiros e um grande número de pessoas, ocupadas direta ou indiretamente, cujas rendas serão utilizadas no consumo de outros bens econômicos. Devem ser mencionados, entre os bens finais, os bens de capital ou de produção, que se prestam à produção de novos bens, como é o caso das máquinas e de outros utensílios. Por suas características e diversidade, os bens econômicos podem ser a razão de existência de uma economia complexa. Como argumenta Riani (1998, p. 23), “aquelas economias com sua base produtiva nos bens de consumo não duráveis seguramente têm complexo produtivo muito menor do que outra cujo peso econômico se pauta pelos bens de consumo duráveis ou pelos bens de capital”. 2. Bens intermediários Trata-se dos bens que ainda não completaram o seu processo de transformação e conversão em bens de consumo ou Determinados bens, como os automóveis, podem ser classificados como de consumo duráveis quando são utilizados por indivíduos, ou de capital, quando empregados em atividades empresariais. 5 10 15 20 25 22 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 de capital e que são incapazes de atender às necessidades dos agentes econômicos, entre os quais podemos citar, por exemplo, o cimento, o ferro e o aço. O Quadro 2, a seguir, sintetiza os diversos tipos de bens. Quadro 2 Classificação geral dos bens Bens econômicos Bens livres (água do mar, luz do sol etc.) Bens tangíveis Bens intangíveis (serviços)Bens finais Bens intermediários (a cal, o cimento, o ferro, o aço, alumínio etc.) Bens de consumo Bens de capital (máquinas, ferramentas etc.) Bens de consumo não duráveis (alimentos, artigos de vestuário etc.) Bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis etc.) Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Síntese do item Neste item, abordamos os diferentes tipos de bens e suas condições de atendimento às necessidades dos agentes econômicos. 2.4 Os fluxos fundamentais da economia Podemos identificar a existência de dois mercados globais na economia. O primeiro, comumente chamado de real, é aquele no qual são feitas as trocas para a obtenção dos fatores de produção e em que ocorrem a produção e a distribuição dos bens e serviços finais da economia. Esse mercado real é, pois, subdividido em: 5 10 15 23 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 • mercado de fatores de produção; • mercado de bens e produtos finais. Os indivíduos que são, de fato, os proprietários dos fatores de produção, e que chamaremos de famílias, oferecem-nos às empresas, que têm a responsabilidade pela produção dos bens e serviços finais. De outra parte, com a remuneração paga pelas empresas, sob a forma de salários (trabalho), juros (capital financeiro), lucros (resultados de participações no capital das empresas) ou aluguéis (pela utilização de imóvel, terreno ou mesmo máquinas na atividade empresarial), os indivíduos adquirem os bens e serviços finais que procuram. Esses fluxos constituem o lado monetário da economia. A Figura 1, a seguir, mostra esses fluxos – real e monetário –, onde pode ser observada a interdependência entre os diferentes mercados. Figura 1 Os fluxos real e monetário e os mercados de fatores de produção e de bens e serviços finais Mercado de fatores de produção Fornecimento de fatores de produção (capital, terra, trabalho, tecnologia, capacidade empresarial) Remuneração pelos fatores de produção (salários, juros, lucros, aluguéis) Unidades produtoras (ou empresas) Unidades consumidoras (ou indivíduos) Pagamento pelos bens e serviços Suprimento de bens e serviços finais Mercado de bens e serviços finais Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. 5 10 15 24 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 A linha cheia, demonstrando o suprimento de fatores de produção e de bens e serviços finais, caracteriza o chamado fluxo real. A linha pontilhada mostra os pagamentos feitos pelos agentes econômicos, revelando o fluxo monetário. Vazamentos e injeções no fluxo circular da renda Uma parte dos rendimentos das famílias é retida sob a forma de poupança (S, do inglês saving), identificando um vazamento da renda gerada pela economia num determinado período e, portanto, produção que não será adquirida. As empresas também podem poupar, na medida em que não utilizam todo o seu lucro para a aquisição de novos fatores de produção. Por outro lado, nem toda produção de bens e serviços finais é destinada às famílias. Estamos tratando, aqui, dos bens de capital que irão compor os ativos totais da empresa, que compreendem o ativo imobilizado e os investimentos sob diversas formas. Podemos, pois, observar a existência de fluxos que caracterizam entrada (injeções) no fluxo circular da renda. Diz-se que o sistema econômico está equilibrado quando os vazamentos são iguais às injeções, ou seja, quando a poupança S é igual ao investimento: I = S Para Keynes, diferentemente do pensamento dos economistas clássicos, o investimento precedia a poupança, e não o contrário. Keynes atribuía o crescimento dos investimentos a fatores como a taxa de juros em vigor na economia, o que denominava de eficiência marginal do capital e o denominado “espírito animal” dos empresários. A poupança, para ele, era decorrência do não consumo da renda pelos proprietários dos fatores de produção num determinado período, tendo em vista, por exemplo, a perspectiva de um futuro menos radiante. 5 10 15 20 25 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Na figura 2, a seguir, estão incorporados esses vazamentos e injeções. Figura 2 Os fluxos real e monetário e os mercados de fatores de produção e de bense serviços finais, com incorporação da poupança (S) e dos investimentos (I) Mercado de fatores de produção Fornecimento de fatores de produção (capital, terra, trabalho, tecnologia, capacidade empresarial) Remuneração pelos fatores de produção (salários, juros, lucros, aluguéis) Unidades produtoras (ou empresas) Unidades consumidoras (ou indivíduos) Pagamento pelos bens e serviços Suprimento de bens e serviços finais Mercado de bens e serviços finais S I Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Síntese do item Tratamos do fluxo circular da renda em sua mais simples versão, com a participação das empresas e das famílias que interagem na produção e na distribuição de fatores de produção e bens e serviços finais. A inclusão do governo e dos agentes econômicos externos (denominados “resto do mundo”) completa esses fluxos da economia. 5 10 26 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 2.5 As questões centrais da economia O problema econômico determinado pela impossibilidade dos recursos escassos de atenderem às necessidades humanas limitadas nos conduz a questões fundamentais, que demandam soluções por meio dos processos econômicos: • O que e quanto produzir? • Como produzir? • Para quem produzir? À ciência econômica cabe reunir informações e orientar processos que possibilitem o tratamento de cada um desses problemas. A aplicação das soluções propostas pela economia é de responsabilidade da própria coletividade, observados os aspectos de natureza social, política, histórica, física, tecnológica etc. O que e quanto produzir? A produção de determinado bem, em função da escassez de recursos, implica a não produção de outro. Como exemplo, o fato de que a terra usada na produção de álcool, visando gerar combustível para os automóveis, não poderá ser utilizada na produção de alimentos. A fronteira de possibilidades de produção é um instrumental simples, mas que auxilia a explicar a questão relacionada com “o que e quanto produzir”. A Tabela 1, a seguir, revela algumas alternativas de produção para dois bens (alfa e beta), ditadas pelos recursos disponíveis – capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial – e pelo estágio da tecnologia de uma determinada economia. 5 10 15 20 25 27 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Tabela 1 Possibilidades de produção, conhecidos os fatores Alternativa Quando a produção do bem alfa é... ...a produção do bem beta é... A 0 20 B 1 19 C 2 17 D 3 13 E 4 8 F 5 0 A representação gráfica em duas dimensões – um eixo dos x, considerada a primeira variável, e um eixo dos y, a segunda variável –, utilizando dados econômicos observados ou idealizados, é um instrumento de apoio de fundamental importância na apresentação das questões econômicas. Podemos apresentar os dados da Tabela 1 num gráfico de duas dimensões (denominado plano cartesiano), tal que as quantidades do bem beta sejam demonstradas no eixo dos y (das ordenadas) e as do bem alfa, no eixo dos x (abscissas). Dessa forma, utilizando esse sistema de coordenadas cartesianas, poderemos posicionar as alternativas A, B, C, D, E e F: Gráfico 1 Disposição dos dados 20 15 10 5 0 Bem beta 54321 Bem alfa A B C D E F Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. 5 10 15 28 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 O Gráfico 2 une os pontos A a F, que constituem a fronteira ou curva de possibilidades de produção (CPP) e representam as alternativas apresentadas na Tabela 1. Pode ser observado um decréscimo na produção do bem beta à medida que aumenta a produção do alfa. No ponto A, todos os fatores são utilizados para a produção de beta. Em F, os recursos são alocados, exclusivamente, para a produção de alfa. Entre esses dois extremos, há pontos intermediários (B a E) que revelam a escassez dos recursos e o sacrifício de unidades de produção de um bem quando se aumenta a produção do outro. Gráfico 2 Traçado da curva de possibilidades de produção 20 15 10 5 0 54321 Bem beta Bem alfa A B C D E F Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Todo ponto da CPP representa, pois, uma alternativa que utiliza com a máxima eficiência, dada a tecnologia disponível, as alternativas de escolhas de produção dos dois bens. Eventualmente, a produção pode ficar num ponto aquém dessa fronteira, como se observa com U no Gráfico 3, em função de problemas econômicos, políticos ou sociais, como crises financeiras, guerras, epidemias etc. Nesse caso, não estamos empregando os fatores de produção com a máxima eficiência, ou seja, não estão sendo empregados todos os recursos disponíveis com a máxima eficiência, havendo, portanto, desemprego de 5 10 15 20 29 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 fatores. Poderíamos, então, expandir a produção de um ou mesmo dos dois bens até chegarmos aos limites das possibilidades de produção (CPP). Gráfico 3 Curva de possibilidades de produção e o desemprego de fatores 20 15 10 5 0 54321 Bem beta Bem alfa A B C D E F U Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Não podemos, entretanto, produzir além da CPP, isto é, acima da curva. A CPP, porém, pode ser deslocada para cima e à direita, como demonstra o Gráfico 4, a seguir, possibilitando o crescimento da produção em função de novas e melhores combinações de utilização dos fatores de produção, que pode ocorrer devido a um aumento na quantidade do fator capital, uma melhoria qualitativa na força de trabalho e, ainda, do progresso tecnológico, responsável por novos métodos de produção. Inversamente, uma diminuição de fatores de produção pode levar a um deslocamento da CPP para a esquerda, e pelo mau funcionamento da economia, devido a fatores internos ou externos. 5 10 15 30 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Gráfico 4 Deslocamento da CPP em função de alterações nos fatores de produção 20 15 10 5 0 54321 Bem beta Bem alfa Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. A análise da CPP conduz à discussão sobre o conceito de custo de oportunidade, entendido como a renúncia ou o sacrifício de produção ou obtenção de um bem quando outro é escolhido. Assim, o custo de oportunidade para a obtenção da primeira unidade do bem alfa é uma unidade de beta, conforme pode ser verificado na Tabela 2. A segunda unidade de alfa demanda a desistência da produção de mais duas unidades de beta; a terceira unidade de alfa exige um custo de oportunidade de mais quatro unidades de beta, e assim pordiante. Ao final, para a produção da quinta unidade de alfa, deverão ser sacrificadas mais oito unidades de beta. Sandroni (2005, p. 218) orienta que (...) os custos não devem ser considerados absolutos, mas iguais a uma segunda melhor oportunidade de benefícios não aproveitada. Ou seja, quando a decisão para as possibilidades de utilização de A exclui a escolha de um (...) B, podem-se considerar os benefícios não aproveitados decorrentes de B como (...) custos de oportunidade. 5 10 31 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Esse custo de oportunidade, no caso específico de opções entre cada alternativa de produção de alfa e beta, está demonstrado no Gráfico 5. Tabela 2 Custo de oportunidade Alternativa Quando a produção do bem alfa é... ...a produção do bem beta é... ...e o custo de oportunidade (em unidades de beta) é... A 0 20 B 1 19 1 C 2 17 2 D 3 13 4 E 4 8 5 F 5 0 8 Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. Gráfico 5 Custo de oportunidade 20 15 10 5 0 54321 Bem beta Bem alfa 1 2 4 5 8 Fonte: Elaborado pelo economista e professor Fauzi Timaco Jorge. A análise da CPP traz, também, o conceito conhecido como “Lei dos rendimentos decrescentes” ou, ainda, “Lei da produtividade marginal decrescente”. Vimos que o aumento da utilização dos 5 32 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 fatores de produção ocasiona deslocamentos positivos da CPP. Ampliando-se a quantidade de um fator variável e fixando a dos demais fatores, a produção aumentará, inicialmente, mas as taxas serão decrescentes. Se mantivermos essa situação, atingiremos um ponto a partir do qual teremos decréscimo da própria produção. A produtividade marginal decrescente revela que a cada acréscimo de uma unidade de um determinado fator a produção crescerá a uma menor proporção. Suponhamos que, num primeiro momento, como resultado da utilização de • 100 unidades do fator terra; • 300 unidades do fator capital; • 50 unidades do fator trabalho; obtém-se: • 30 unidades do bem alfa; e • 40 unidades do bem beta. Num segundo instante, mantendo-se constante a quantidade do fator terra e aumentando-se o capital e a mão de obra para 360 e 60 unidades, respectivamente, a produção passaria para 35 e 45 unidades de alfa e beta. Assim, para um aumento de 20% nos fatores, a produção cresceria em torno de 17%. Num terceiro momento, utilizando-se: • 100 unidades do fator terra; • 430 unidades do fator capital; 5 10 15 20 25 33 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 • 70 unidades do fator trabalho; a possibilidade de produção atinge: • 38 unidades do bem alfa; e • 48 unidades do bem beta. Percebe-se, nessa simulação, que a cada novo aumento de 20% nos fatores capital e trabalho, mantendo constante a terra, as possibilidades de produção aumentam menos de 9%. Como produzir? Esta indagação está relacionada às possibilidades tecnológicas de produção da economia, que devem adotar técnicas e processos de produção que combinem, de forma eficiente, seus recursos humanos e patrimoniais. A absorção de novas tecnologias, todavia, não deve gerar desperdício de capital humano. Para quem produzir? Vasconcellos (2007, p. 5) lembra que essa questão é “(...) decidida no mercado de fatores de produção (pelo encontro da demanda e oferta [que estudaremos posteriormente] dos serviços dos fatores de produção”. Trata-se de uma questão relacionada com a distribuição da renda entre os vários agentes econômicos, que se almeja que seja a mais justa possível, resolvendo os problemas de grande inequidade entre indivíduos, setores e regiões. Essa desigualdade tem servido de base para as contendas entre as classes sociais. A Figura 3, a seguir, apresenta uma combinação entre uma estrutura produtiva eficiente, resolvendo as questões “o que e quanto produzir” e “como produzir” – e a justa distribuição da produção, solucionando o problema “para quem produzir”. 5 10 15 20 25 34 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Figura 3 Combinação ideal entre produção e distribuição Solução ótima às questões “o quê e quanto produzir”, “como produzir” e “para quem produzir” Estrutura produtiva eficiente Justa e efetiva distribuição da produção Fonte: Jorge; Silva, 2001, p. 40. A economia de mercado e as questões centrais da economia Numa economia de mercado, com a propriedade privada dos meios de produção, as questões econômicas são resolvidas via mecanismo de preços, verificados nos vários mercados de bens, serviços e financeiros. Os indivíduos procuram pelas alternativas que lhes tragam mais satisfação e vantagens, enquanto as empresas esperam maximizar seus lucros. Nessa liberdade de atuação da oferta e da procura, contrabalançada pela livre concorrência, não é desejável a intervenção do Estado na economia, cabendo-lhe, outrossim, estabelecer leis e contratos que possibilitem o funcionamento do mecanismo dos preços e do mercado. As decisões sobre “o que e quanto produzir” seriam tomadas pelos consumidores e produtores. “Como produzir” seria resolvido pela competição entre os produtores, em busca de condições mais eficientes de alocação dos fatores de produção. A questão “para quem produzir” dependeria da capacidade de aquisição dos bens produzidos, de acordo com os rendimentos auferidos pelos agentes econômicos. Síntese do item Abordamos aqui os conceitos de fronteira de possibilidades de produção, custos de oportunidade e lei dos rendimentos 5 10 15 20 25 35 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 decrescentes e as questões centrais da economia: “o que e quanto produzir”, “como produzir” e “para quem produzir”, e como isso é resolvido por uma economia baseada no funcionamento dos mercados. 2.6 As alternativas de sistemas econômicos Ao longo do tempo, cada sociedade tem organizado a sua vida econômica visando ao atendimento às prioridades e escolhas que objetivam o seu crescimento, apesar de contar com escassez de recursos. Essas alternativas de organização, visando resolver os problemas relacionados com a produção e a distribuição dos bens e serviços, podem ser sintetizadas em três conjuntos, isto é, economias que se valem da tradição, mando e mercado. A tradição ou herança Nestas sociedades, as respostas aos problemas centrais da economia eram conseguidas com base em tarefas ensinadas e transferidas para as sucessivas gerações – de pai para filho. Adam Smith, em sua obra The wealth of nations (A riqueza das nações), indicava que, por princípios religiosos, o indivíduo era obrigado a seguir a ocupação de seu pai, como uma espécie de força estabilizadorada sociedade. Apesar da crescente transferência do campo para a cidade, basicamente, era o nascimento que determinava as funções a ser exercidas pelo indivíduo na sociedade, seguindo a mesma trilha de seus antecedentes. Por um longo tempo, as economias baseadas na tradição procuravam resolver as suas necessidades de produção e distribuição. Mas essa alternativa de solução dos problemas e questões econômicas era estática e, como tal, dificultava a mobilidade e o crescimento da sociedade. 5 10 15 20 25 36 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Abreu (1995, p. 13) comenta: É uma sociedade tribal, onde as tarefas são rotineiras e herdadas através dos tempos, não evoluem e se tornam estagnadas em todos os aspectos – técnicos, sociais, econômicos etc. Possuem uma rudimentar divisão do trabalho em poucas atividades, gerando um sistema de trocas diretas (...) tornando desnecessário o uso da moeda. O mando Antigo como a alternativa anterior, este método é caracterizado por um sistema que opera sob o comando de um líder ou ditador, e as atividades econômicas são impostas e coordenadas via planejamentos centrais e setoriais. Ele, porém, não foi somente adotado pelas antigas sociedades, considerando-se, por exemplo, os casos dos países que optaram, no próprio século XX, pelo comunismo como orientação política e social. Diferentemente da tradição, nesse sistema, pode ocorrer, em vez da diminuição, um aumento no ritmo da mudança econômica. A existência de uma liderança pode se tornar um importante facilitador para a implantação de mudanças econômicas, aliviando as pressões sobre o governo, que, então, pode melhor direcionar os recursos públicos visando aumentar a eficiência da economia ou melhorar a distribuição de renda entre os agentes econômicos. O mercado Uma terceira solução para o atendimento ao problema econômico é a organização da sociedade com base no livre funcionamento dos mercados, garantindo a interação de indivíduos, sem a orientação da tradição ou do mando. O bom ou mau funcionamento desse sistema é responsável pelos problemas enfrentados pelas sociedades atuais e, por isso, reconhece-se 5 10 15 20 25 30 37 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 a importância do conhecimento da ciência econômica para a compreensão dos mecanismos que balizam as atividades das sociedades que escolheram esse tipo de organização para a produção e distribuição dos seus bens e serviços. Abreu (1995, p. 14) indica que No sistema capitalista, tem-se a garantia institucional ou legal da propriedade privada dos meios de produção, e os agentes possuem plena liberdade de escolha entre o que, como e para quem produzir. Síntese do item Procuramos demonstrar as alternativas de solução dos problemas e questões econômicas com base na tradição, no mando, mais adotados no passado, e no mercado, que tem sido a escolha atual da maioria dos países. 3 A EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DE MERCADO Objetivo Neste capítulo, são analisados a evolução e os determinantes das várias organizações econômicas, cobrindo, de forma mais detalhada, o período desde o declínio da Idade Média até o século XIX, com a consolidação da Revolução Industrial. Introdução Abreu (1995, p. 21) comenta: As primeiras manifestações sobre o significado do que era economia constituíam mais um conjunto de regras de moral prática e de conselhos políticos aos soberanos do que um conjunto de investigações científicas. O valor de uso de um bem está relacionado com a sua utilidade. O valor de troca reflete a facilidade com que determinado bem possibilita a compra de outros. 5 10 15 20 25 38 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Os pensamentos econômicos eram uma das preocupações de Aristóteles, na Grécia antiga. Esse filósofo, ao que se sabe, foi o primeiro a tentar estabelecer as diferenças entre valor de uso e valor de troca. Nessas sociedades da Antiguidade, havia o predomínio do poder político sobre o econômico. Heilbroner (1980, p. 42) observa que “todas as sociedades antigas eram basicamente economias rurais. Isso não impediu que houvesse uma sociedade urbana muito (...) rica (...)”. Henry Pirenne (apud Abreu, 1995, p. 22) escreveu a respeito das corporações de trabalho da Idade Média: “(...) um grupo que desfrutava o privilégio de praticar exclusivamente uma profissão determinada segundo os regulamentos sancionados pela autoridade pública (...)”. A queda do Império Romano do Ocidente e as sucessivas invasões de povos oriundos do Norte, do Leste e do Sul fizeram com que os campos europeus fossem retalhados, e iniciou-se o período que ficou conhecido como Idade Média. A região passou a contar com uma hierarquia feudal na qual o servo ou camponês era protegido pelos senhores feudais, que também deviam fidelidade e eram protegidos por senhores mais poderosos. Essa era a estrutura do sistema até chegar-se ao rei. Os camponeses eram vinculados a determinado senhor, que representava amplamente o poder (político, militar, econômico e social). Trabalhavam para esse senhor, entregando-lhe bens em espécie e, posteriormente, pagando taxas e tributos. Recebiam do senhor feudal, em troca, proteção militar e, muitas vezes, econômica (em situações de crises). Desse período até o (re)surgimento das ideias liberais, em meados do século XVIII, notadamente, ocorreram vários fatos que desaguaram na implementação da moderna sociedade de mercado. O extenso período histórico conhecido como Idade Média abrange todo o mundo Ocidental, da Suécia ao Mediterrâneo, começando com a queda de Roma e terminando com o Renascimento. 5 10 15 20 25 30 39 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Síntese do capítulo Este capítulo apresentará uma análise da história das transformações das sociedades econômicas até a atual organização fundamentada na livre atuação dos mercados. 3.1 As mudanças O mercador itinerante pode ser identificado como um dos fatores transformadores das anteriores organizações sociais e econômicas. Percorriam enormes distâncias em estradas de péssima conservação e contribuíam para a mudança dos hábitos das comunidades que visitavam, incentivando o comércio entre os agentes econômicos. A crescente urbanização, reforçada a partir dos burgos (pequenas regiões em que os mercadores se instalavam, próximas a castelos e fortificações medievais), ia também contribuindo para o desenvolvimento das atividades de comércio. Desenvolvimentos básicos na agricultura e melhorias nos esquemas de energia e de transportes foram pré-requisitos para essa disseminação, estimulando a expansão urbana e incentivando a indústria. A influência desintegradora do feudalismo fazia com que as cidades, cada vez mais, surgissem como organizações cooperativas, com crescente independência política e econômica. Sua existência proporcionava a base para a expansão das transações monetárias.Com a crescente liberdade e prosperidade das cidades, começaram a surgir diferentes classes sociais – a oligarquia comercial, associada em guildas – e os governos das cidades. As expedições que ficaram conhecidas como Cruzadas constituíram, por certo, outro componente de grande importância nessas mudanças econômicas e sociais. 5 10 15 20 25 40 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 Elas não podem ser consideradas apenas como ações de cunho religioso, para a conversão ao cristianismo dos povos pagãos do Oriente, já que tinham objetivos econômicos, tais como os de colonização e de exploração das regiões que conquistavam. A partir delas, houve a aproximação de dois universos muito diferentes: o feudalismo europeu, com predominância das atividades rurais, e a exuberância urbana das nações orientais, que, ao contrário das primeiras, buscavam ativamente o comércio e a obtenção de lucros. Heilbroner (1980, p. 74) comenta que “(...) os simplórios cruzados viam-se transformados em peões de um jogo de interesses econômicos que eles pouco entendiam (...)”. No rol dessas mudanças, não se pode esquecer do forte papel desempenhado pela constituição dos Estados nacionais, em função da aglutinação das fragmentadas entidades econômicas e políticas da Europa em conjuntos maiores. Durante grande parte da Idade Média, muitos dos direitos do senhor feudal tornaram-se fracos ou incertos, ocasionando a fragmentação do poder político. Papel de grande importância em todas essas transformações foi também representado pela empreitada das grandes explorações marítimas, entre os séculos XIV a XVI. Elas permitiram um afluxo de metais preciosos (ouro e prata) para a Europa, a partir da Espanha, originados das minas do México e do Peru. Tais metais eram transferidos para outros países, com os pagamentos, em ouro, das importações espanholas. Tal fato elevou drasticamente a inflação, favorecendo a especulação e o comércio. Outro fator de destaque para a explicação dessas mudanças pode ser encontrado na mudança do espírito religioso que vigorava na época. A Igreja, detentora de grandes fortunas, exercia uma enorme influência sobre a vida humana em geral. Abreu (1995, p. 23) 5 10 15 20 25 30 41 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 comenta que “o pensamento econômico medieval era prático e dependente da moral cristã, a qual exercia uma forte restrição ao ganho excedente. A Igreja reconhecia a dignidade do trabalho, mas condenava os juros e só admitia o preço justo”. A Igreja ensinava que era temporária a vida na terra e, assim, todos deveriam se preparar para a eternidade. O reformador protestante João Calvino (1509-1564) foi um dos responsáveis por uma grande reforma, ao pregar com base em uma nova ótica teológica, segundo a qual, desde o começo, Deus tinha escolhido os salvos e os condenados, e nada que o homem pudesse fazer na terra alteraria essa determinação sagrada e inviolável. Heilboner (1980, p. 67) comentando a condenação à usura: Durante toda a época medieval, a Igreja – principal organização social do período – suspeitou da atividade de compra e venda. Em parte, isso refletia a aversão pelas práticas de exploração da época e, em parte, era consequência de um antigo desprezo pelo ganho de dinheiro e, especialmente, pelo empréstimo de dinheiro (usura). Os líderes religiosos da época preocupavam-se a respeito dos preços ‘justos’ e não admitiam que a compra e a venda não regulamentadas dessem origem a preços justos. Os calvinistas aprovavam, porém, o esforço humano, o que desenvolveu a ideia de que isso era uma demonstração da dedicação à vida religiosa. Foi tomando corpo a ideia de que um homem bem-sucedido poderia estar mais perto de Deus. Gradualmente, foi ocorrendo, também, a monetarização das obrigações feudais. Os pagamentos em espécie são gradativamente substituídos por tributos e rendas da terra em dinheiro, o que era bem-visto pela nobreza rural, que precisava 5 10 15 42 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 pagar por seu consumo. A inflação, destarte, corroía o valor real dos recebimentos feudais, diminuindo o seu poder de compra. A expansão da economia monetária é, pois, um novo fator que transferiu o poder às novas classes mercantis, bem mais habituadas ao uso do dinheiro. Weber (2008, p. 129): A riqueza (...) é condenável eticamente só na medida em que constituir uma tentação para vadiagem e para o aproveitamento pecaminoso da vida. Sua aquisição é má somente quando é feita com o propósito de uma vida posterior mais feliz e sem preocupações. Mas, como o empreendimento de um dever vocacional, ela não é apenas moralmente permissível, como diretamente recomendada. Os reis foram cada vez mais se associando aos mercadores, já que estavam frequentemente endividados e tinham grandes despesas com a manutenção do reino e o suporte às atividades militares. Síntese do item Neste item, foram abordadas as grandes transformações que estavam ocorrendo nas sociedades econômicas a partir do século X, e que levaram ao surgimento da sociedade de mercado. 3.2 A configuração dos fatores de produção: trabalho, terra e capital O progressivo aumento da monetarização alterou as próprias relações sociais e o modo de produção da economia. O trabalho já não era meramente uma relação social em que servo ou aprendiz trabalhava para um senhor feudal ou mestre de corporação, recebendo deste uma proteção militar e econômica 5 10 15 43 ECONOMIA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 0 4/ 03 /2 01 0 // 3 ª R ev is ão : N íz ia / C or re çã o: M ár ci o - 08 /0 3/ 10 para a sua subsistência; transformou-se numa mercadoria, oferecida no mercado pelo melhor preço que se pudesse obter, desprovida de quaisquer responsabilidades recíprocas por parte do comprador, excetuando o pagamento de salários. A terra passou a ser considerada também possível de ser comprada ou arrendada, em função do retorno econômico que propiciava. A renda monetária determinada pelo seu uso produtivo substituiu os antigos tributos e taxas e os pagamentos em espécie. Ocorre a mesma transformação com a propriedade: passou a ser tratada como capital, podendo gerar juros ou lucros. Os cercamentos e delimitações dos campos pelos senhores rurais eram fortemente estimulados pelo florescimento da manufatura e crescimento das exportações de lã, também fontes de receita monetária, ao permitir a criação de carneiros e ovelhas. Com a delimitação das terras para criação de carneiros, aldeias inteiras foram dizimadas. Sir Thomas More descreveu esse episódio no Livro I de sua Utopia: Esses animais [os carneiros], tão dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte, são entre vós de tal modo vorazes e ferozes que devoram mesmo os homens e despovoam os campos, as casas, as aldeias. De fato, a todos os pontos do reino onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa acodem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e até os santos abades. Essa gente não se satisfaz com as rendas,
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