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AULA 7: DESENHOS DE ESTUDOS UTILIZADOS EM EPIDEMIOLOGIA Professora: Daniela Aquino Na investigação de um tema, três estratégias independentes de abordagem vêm sendo utilizadas, de longa data, pelos profissionais da área de saúde: • Estudo de casos • Investigação experimental em laboratórios • Pesquisa populacional Estudo de Casos: é a primeira abordagem de um tema, usado para avaliação inicial de problemas ainda mal conhecidos. Trata-se de observar um ou poucos indivíduos com uma mesma doença ou evento e, a partir da descrição dos respectivos casos, traçar um perfil das suas principais características. Características do Estudo • Relativamente fácil de ser realizado e de baixo custo; • Pode restringir-se a uma simples descrição ou sugerir explicações sobre elementos pouco conhecidos; • Observação de um ou poucos indivíduos; • Pode-se acompanhar os pacientes durante anos ou décadas e obter detalhes da sua condição; • Observação intensiva de cada caso; • Indivíduos altamente selecionados; • Raramente abrange pacientes em todas as fases de manifestação da doença; • Falta de indivíduos-controle para comparar os resultados, pode fazer com que simples coincidências sejam difíceis de interpretar. Investigação Experimental em Laboratórios: nesta modalidade de estudo é possível imprimir maior precisão a todas as etapas da investigação. Características do Estudo • Local ideal para estudos experimentais, pois o grau de subjetividade na aferição dos dados pode ser reduzido, pela adoção de rígidos controles, que também servem de parâmetros para a comparação dos resultados; • Por motivos éticos, o foco da avaliação incide sobre animais (macacos, camundongos e cães, etc); • Numerosas hipóteses podem ser testadas; • Recomenda-se prudência na extrapolação dos resultados observados em animais para os seres humanos. • Pesquisa Populacional: É a abordagem central da epidemiologia para estudo de um tema. Estudos aplicados em Saúde Coletiva • Estudos descritivos • Estudos analíticos ▫ Ensaio clínico randomizado ▫ Estudo de coorte ▫ Estudo de caso-controle ▫ Estudo transversal • Estudos ecológicos • Estudos Descritivos: têm o objetivo de informar sobre a distribuição de um evento, na população, em termos quantitativos (incidência ou prevalência). São considerados estudos não- controlados, pois não há formação de grupo- controle para comparação. A população pode ser composta só de doentes (hospitais), só de sadios (cobertura vacinal), ou de sadios e doentes (estudos de morbidade). Exemplos: • Incidência de infecção chagásica em habitantes rurais; • Variação regional na utilização de serviços de saúde no estado da Bahia; • Principais causas de óbito da população de Recife, Pernambuco. O alvo principal deste tipo de estudo é a correta determinação de freqüências; Bancos de dados bem organizados facilitam a realização de estudos descritivos; Os resultados dos estudos descritivos servem para: identificar grupos de risco e sugerir explicações para as variações de frequência. • Estudos Analíticos: são estudos utilizados após os estudos descritivos, e estão subordinados a uma ou mais questões científicas, as “hipóteses”, que relacionam eventos: causa/efeito ou exposição/doença. Há formação de grupo- controle para comparação dos resultados. Exposição (causa) Doença (efeito) Obesidade Diabetes Fumo Câncer Toxoplasmose Anomalia congênita Vacina Prevenção Medicamento Cura EXPOSIÇÃO DOENÇA Estudos de coorte E ECR Estudo de caso-controle Estudo Transversal Tabela padrão para apresentação dos resultados dos estudos analíticos Exposição Doença . Sim Não Total Sim a b a + b Não c d c + d Total a + c b +d N Estudo Experimental: Ensaio Clínico Randomizado Os indivíduos são alocados aleatoriamente para grupos de estudo (ou experimental) e controle (ou testemunha), de modo a serem submetidos a uma vacina, um medicamento ou outro produto ou procedimento. Os resultados são verificados pela comparação das taxas de incidência, reações colaterais, desfechos clínico e laboratorial, etc nos grupos de estudo e controle. • Questão central: Quais são os efeitos da intervenção? Grupos Casos de doença Sim Não Total Taxa de Incidência (%) Vacinados 20 980 1000 2 Não- vacinados 100 900 1000 10 Total 120 1880 2000 6 Estudo experimental (ensaio clínico randomizado): investigação sobre a eficácia de uma vacina quando comparada com placebo. A relação entre os dois grupos é expressa pelo “risco relativo” (RR=0,2)= 2/10 ou de maneira inversa 10/2 o RR=5, o que muda é a maneira de interpretar. • Eficácia da vacina= [(10-2)/10] x 100 = 80% • Somente quando os grupos têm igual incidência de casos, o RR será igual a 1, informando que a vacina é igual ao placebo, ou seja, sem utilidade na prevenção da doença. Vantagens • Alta credibilidade como produtor de evidências científicas; • A cronologia dos acontecimentos é determinada sem equívocos: existe certeza de que o tratamento é aplicado antes de aparecerem os efeitos; • Muitos desfechos clínicos podem ser investigados simultaneamente; • Interpretação dos resultados relativamente livres dos fatores de confundimento. Desvantagens • Por questões éticas, muitas situações não podem ser experimentalmente investigadas: efeitos de viroses na gravidez sobre os recém-nascidos; • Impossibilidade de ajustar o tratamento em função das necessidades de cada indivíduo; • Alguns participantes deixam de receber um tratamento potencialmente benéfico, ou são expostos a um procedimento maléfico. Estudo de Coorte Neste tipo de estudo parte-se da exposição em direção ao efeito. Um grupo de pessoas é identificado e a informação pertinente sobre a exposição de interesse é coletada, de modo que o grupo possa ser seguido, no tempo, com o intuito de determinar quais de seus membros desenvolvem a doença. Formam-se pelo menos dois grupos “expostos” e “não-expostos”, de modo que os resultados em um e em outro grupo possam ser comparados. Não há randomização. • Questão central: Quais são os efeitos da exposição? Atividade física Óbitos . Sim Não Total Taxa de mortal. por mil Sedentário 400 4.600 5.000 80 Não- sedentário 80 1.920 2.000 40 Total 480 6.520 7.000 69 Estudo de coorte: investigação sobre associação entre exercício físico e mortalidade coronariana em adultos de meia-idade Incidência entre expostos: a/ (a+b) Incidência entre não-expostos: c/(c+d) Risco relativo= 80/40 = 2. Um indivíduo sedentário tem o dobro de chance de morrer por doença coronariana que um não-sedentário. Vantagens • Não há problemas éticos quanto a decisões de expor as pessoas a fatores de risco ou tratamentos, como acontece nos estudos randomizados; • A seleção dos controles é relativamente simples; • Muitos desfechos clínicos podem ser investigados simultaneamente; • Os dados referentes à exposição são conhecidos antes da ocorrênciada doença. Desvantagens • Alto custo, especialmente nos estudos prospectivos de longa duração; • Perdas de seguimento podem ser grandes; • O número de pessoas a ser acompanhado costuma ser grande, tanto maior quanto menos freqüente é o efeito; • Interpretação dificultada pela presença de fatores de confundimento; • Método impossível de ser aplicado em estudos etiológicos de doenças raras: um enorme contingente de pessoas teria de ser reunido. Estudo de Caso-controle Este tipo de investigação parte do efeito para elucidar as causas (retrospectiva). As pessoas escolhidas porque têm a doença (os casos) e pessoas comparáveis que não possuem a doença (os controles) são investigadas para saber se forem expostas a fatores de risco, de modo a determinar se tais fatores de risco são causas contribuintes da doença. • Questão central: Quais são as causas da doença? Sorologia positiva para toxoplasmose Deficiência mental Sim (casos) Não (controles) Sim 45 15 Não 255 285 Total 300 300 Estudo de caso-controle: investigação sobre associação entre toxoplasmose e debilidade mental de crianças. Há maior freqüência de toxoplasmose entre os casos (45 em 300) do que nos controles (15 em 300). Neste tipo de investigação, o risco relativo é estimado pelo cálculo do odds ratio, “razão dos produtos cruzados” OR= (45 x 285)/ (15 x 255)= 3,35 Vantagens • Os resultados são obtidos rapidamente; • Baixo custo; • Muitos fatores de risco podem ser investigados simultaneamente; • Não há necessidade de acompanhamento dos participantes; • Método prático para a investigação de doenças raras. Desvantagens • A seleção do grupo-controle é uma grande (ou a maior) dificuldade; • Os dados de exposição podem ser viciados: os casos, em especial quando a doença é grave, têm melhor noção de suas possíveis causas do que os controles, supervalorizando as experiências que tiveram, o que não acontece com os controles; • Se a exposição é rara, nos casos, pode ser difícil realizar o estudo ou interpretar os resultados; • Interpretação dificultada pela presença de fatores de confundimento. Estudo Transversal Este tipo de investigação, também designado como seccional, corte, corte-transversal, vertical, pontual ou prevalência, é uma pesquisa em que a relação exposição-doença é examinada numa dada população, em um momento particular. Ele fornece um retrato de como as variáveis estão relacionadas naquele momento. Estudo Transversal • Questões: Quais são as freqüências do fator de risco e da doença? • A exposição ao fator de risco e a doença estão associadas? Migração Doença mental . Sim Não Total Taxa de prev. de doença mental (%) Migrante 18 282 300 6 Não-migrante 21 679 700 3 Total 39 961 1.000 4 Estudo transversal: investigação sobre a associação entre migração e doença mental em adultos de meia-idade Prevalência entre expostos: a/ (a+b) Prevalência entre não-expostos: c/(c+d) Cálculo de risco: Razão de prevalências = 6/3 = 2 – Há duas vezes mais doença mental em migrantes do que nos não-migrantes. OR = (18 x 679)/ (282 x 21)= 2 Vantagens • Simplicidade e baixo custo; • Rapidez; • Objetividade na coleta dos dados; • Não há necessidade de seguimento das pessoas; • Facilidade para obter amostra representativa da população; • Único tipo de estudo possível de realizar em numerosas ocasiões, para obter informação relevante, em limitação de tempo e de recursos. Desvantagens • Condições de baixa prevalência exigem amostra de grande tamanho; • A relação cronológica entre os eventos pode não ser facilmente detectável; Estudo Ecológico Também chamado de estudo de grupos, de agregados, de conglomerados, estatísticos ou comunitários, trata-se de uma pesquisa realizada com estatísticas. A unidade de análise não é constituída de indivíduos, mas de grupo de indivíduos. Ex.: Uma pesquisa internacional de correlação entre o consumo de álcool e a incidência de câncer de estômago, em diversos países, que utilize informações de anuários estatísticos. Vantagens • Simplicidade e baixo custo; • Rapidez- os dados estão usualmente disponíveis, sob a forma de estatísticas, para serem utilizados; • As conclusões são generalizáveis com mais facilidade do que em estudo de base individual. Desvantagens • Não há acesso a dados individuais, só a informações estatísticas: por exemplo, não se sabe se quem é exposto também é doente; logo possibilidade de falácia ecológica: interpretação enganosa por atribuir a um indivíduo o que se observou em estudos estatísticos; • Dificuldade de proceder à análise estatística por causa de a unidade de observação ser um grupo de pessoas; • Dificuldade em controlar os fatores de confundimento.
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