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WANESSA MÜLLER BUJOKAS “Elaboração e Análise de Projetos Ambientais e Sociais” -Curitiba- 2014 SUMÁRIO Capítulo 1 Definição de projeto Escolha do tema Formulação do problema Formulação da hipótese Síntese Referências Capítulo 2 Justificativa Objetivos Materiais e Métodos Síntese Referências Capítulo 3 A escrita do projeto Organização para a composição do texto Plágio Síntese Referências Capítulo 4 Elementos textuais Introdução Revisão Bibliográfica Materiais e Métodos Resultados Esperados Considerações Finais e Conclusão Capítulo 5 Implantação do projeto Gerenciar conflitos Avaliação e monitoramento do projeto Síntese Referências Capítulo 6 Degradação Ambiental e Restauração Ecológica Atividades impactantes e a lei ambiental Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) Instrução Normativa no 4 do IBAMA e Composição do PRAD Síntese Referências Capítulo 1 1. Definição de Projeto Convivemos com projetos diariamente e, muitas vezes, nem notamos. Eles são aplicados nas mais diversas áreas, como na criação de um novo carro, na produção de filmes, na construção de moradias e, o que nos interessa aqui, na área ambiental. O tempo de duração de um projeto é variável, dependendo muito do objetivo a ser alcançado. A definição de metas claras e de prazos para atingi-las, no entanto, é fundamental para alcançar bons resultados. Um projeto é um tipo especial e não rotineiro de atividade e, por isso, demanda atenção diferenciada. Difere de um processo contínuo, porque este não possui um fim planejado e o seu produto é gerado por replicação, pura e simples. Isso não impede que, para a melhoria dos resultados, projetos sejam pontualmente utilizados dentro do processo contínuo de produção (RUSKIN, A.M.; ESTES, W.E., 1994). De acordo com o PMI (Project Management Institute), projeto seria “um conjunto de atividades temporárias, realizadas em grupo, destinadas a produzir um produto, serviço ou resultado únicos”.1 Silva e Rebolho (2013) preferem definir projeto como um planejamento sistematizado para solucionar um problema ou atingir um objetivo ou meta. A pesquisa a ser desenvolvida a partir de um projeto deve ser planejada com rigor, para garantir que o investigador terá um bom respaldo metodológico que o ajude a encontrar as respostas procuradas. Segundo Fonseca (2007), as regras para a elaboração de um projeto não são rígidas, pois a sua estrutura dependerá do problema a ser investigado e também do estilo dos seus pesquisadores. Mas é necessário que o projeto contenha dados essenciais de como se dará a pesquisa, quais as etapas que deverão ser desenvolvidas e a partir de quais recursos se alcançarão os objetivos. Os projetos ambientais cresceram em importância com o desenvolvimento industrial e populacional. A preocupação com a recuperação 1 http://brasil.pmi.org/brazil/AboutUS/WhatIsProjectManagement.aspx (acessado em 17 set. 2014). e conservação dos ecossistemas, com as exigências da legislação ambiental e das certificações, tem feito com que as indústrias modifiquem os seus processos para atender à lei, principalmente quando a atividade desenvolvida precisa de licença ambiental para ocorrer. Com isso, o meio industrial passou a produzir uma grande quantidade de projetos ambientais (KAHN, 2003). Portanto, o profissional que possuir qualificações suficientes para confeccionar e desenvolver projetos terá um adicional importante em seu currículo profissional, com potencial de facilitar sua entrada no mercado de trabalho. 2. Escolha do tema Um projeto segue uma forma de texto estruturada, ou seja, um roteiro definido, pois isso facilita a leitura do documento e também a sua avaliação. Iniciamos um projeto com uma ideia vaga a ser desenvolvida. A partir da ideia geral, começamos uma pesquisa, um estudo teórico que nos dará orientação e conhecimento sobre o que já se sabe sobre o assunto e o que poderá ser aprofundado. O tema está relacionado à pergunta: o que estudar? A escolha do tema não é uma tarefa fácil e exige muita reflexão. Independente de ter sido escolhido por você ou por seu orientador, trata-se de um investimento de tempo e energia nesta atividade, portanto deve se sentir motivado. Um tema mal escolhido criará dificuldades para alcançar os resultados esperados. Algumas recomendações podem facilitar: 1– escolha um tema sobre o qual você já tenha um conhecimento prévio. Isso não é uma regra, mas certamente você terá melhores bases para estruturar o projeto; 2– pesquise e leia exaustivamente para ter ideia de bons temas; 3– um problema que foi identificado na sua área de atuação pode ser um tema interessante; 4– procure fazer associações entre como o tema escolhido é apresentado na teoria e como ele pode se estabelecer na prática. 5– tenha sempre em mente que ajustes podem e devem ocorrer no fechamento do tema, pois se trata de algo dinâmico, que se molda com a pesquisa e com o maior conhecimento do assunto. 3. Formulação do problema Podemos dizer que o problema é a pergunta central a ser respondida com o desenvolvimento do projeto. Ele deve ser formulado de forma clara e objetiva, pois facilitará o delineamento da pesquisa e a construção da hipótese central (MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M., 2010, p.143). Essa pergunta deverá conter o tema que você pretende estudar, porém aqui o tema será mais detalhado e direcionado. Identificar a questão principal do projeto fornecerá um ótimo foco para a sua pesquisa e definirá a direção a ser seguida. Muitas vezes a formulação do problema é apresentada em mais de uma pergunta a depender da experiência e da habilidade de cada autor, bem como do tema escolhido. Todas as perguntas, entretanto, devem ser claras e objetivas. Vamos ver alguns exemplos de problemas formulados: 1- “O código florestal trata da mesma forma os diferentes biomas encontrados no território brasileiro?” (RIBEIRO et al.,2010); 2- a) “Qual a densidade adequada de sementes necessária para a ocupação inicial da área degradada?” (ISERNHAGEN, 2010); b) “Em quanto tempo a área degradada será ocupada através da formação de uma comunidade vegetal de ocupação inicial através da semeadura direta?”(ISERNHAGEN, 2010); c) “Quais os investimentos financeiros necessários para a ocupação inicial da área degradada através da semeadura direta e para posterior enriquecimento?” (ISERNHAGEN, 2010); 3- “Qual a atividade econômica que mais degradou a Mata Atlântica no litoral norte do Estado de São Paulo no período de 1980 a 1990?” (VEIGA, 1996). Segundo PROCAN (2000): Se o pesquisador não consegue formular o problema central da pesquisa por meio de uma pergunta bem direta, o mais provável é que ele tenha feito uma discussão insuficiente da produção científica já existente sobre aquele tema. Ou seja, quando o conhecimento sobre o tema selecionado não foi suficientemente digerido, vários problemas se superpõem na mente do pesquisador, e suas tentativas de definir o problema resultam em proposições herméticas, intrincadas e nebulosas. 4. Formulação da hipótese A hipótese é uma suposição que deve ser comprovada ou refutada. Formulamos a hipótese (ou hipóteses) como uma afirmação que respondeprovisoriamente um problema. Com o desenvolvimento da pesquisa podemos confirmar se a hipótese está certa ou errada, aceitando-a ou rejeitando-a. A hipótese é uma resposta à pergunta formulada sobre o tema. A partir do momento que o problema é bem formulado e está claro para o autor do projeto, fica simples a formulação da hipótese. O número de hipóteses elaboradas dependerá do número de questões formuladas. A apresentação da hipótese no projeto de pesquisa não é necessariamente obrigatória. Muitas vezes não está explicitamente redigida no texto, mas isso não quer dizer que não seja importante: afinal, a hipótese é a resposta que se pretende comprovar com a pesquisa. Em alguns casos, pode ocorrer da instituição que abriu o edital para os projetos exigir a redação da hipótese no texto. Em outros, não. Isso irá depender de cada edital. Mas, independente do edital, para ser mais eficiente, o autor precisa ter a hipótese formulada para ele, mesmo que isso não lhe seja exigido. 5. Síntese Uma pesquisa científica, um estudo social ou um produto podem ser desenvolvidos a partir de ações únicas, com prazos definidos de início e término, que denominamos “projeto”. Um projeto pode surgir de uma ideia que seja fruto de simples observação, ou de experiências pessoais da vida particular ou profissional, ou mesmo de uma insatisfação, visando a melhorias ambientais e/ou sociais2. Alguns passos básicos facilitam a elaboração de um projeto, formando um alicerce para o desenvolvimento do estudo e garantindo o sucesso do trabalho. Neste capítulo vimos como é feita a escolha do tema, a formulação do problema e da hipótese. Esses itens são resumidos na figura 1, que exemplifica os passos iniciais para a confecção do projeto e evidencia a importância da revisão literária para o embasamento da hipótese. A pesquisa feita por meio de projetos é uma chave que não só abre portas, mas permite mudança, inovação e otimização de ferramentas que melhoram a vida das pessoas2. Para isso, todavia, é fundamental o entendimento da metodologia científica e de como elaborar de forma consistente um projeto. 2http://www.ecolechambredecommerce.org/pdfs/cours_de_methodologie_et_de_recherche.pdf (acessado em 10 set. 2014) Figura 1 - Passos iniciais para a confecção do projeto Modificado de HUSSAIN 3 3 https://www.academia.edu/903892/Introduction_to_Research (acessado em 10 set. 2014). Identificar a área de pesquisa > definição do tema Identificar o problema da pesquisa > delimitação do tema > formulação do problema Revisar a literatura > descobrir as soluções que já foram encontradas Após a revisão você ainda acredita ter uma boa ideia para resolver o problema de forma mais adquada ou de um jeito mais econômico ou ecológico? Formular a hipótese para a solução do problema SIM NÃO Saiba mais: Talvez você se pergunte qual seria a diferença entre um projeto e uma monografia. Podemos dizer que o projeto é o documento inicial, em que se planejam as atividades que serão desenvolvidas. Posteriormente, este projeto será implantado e o documento final, em que serão apresentados os resultados, chamamos de monografia. Seria, então, o relatório final de um trabalho que foi concluído. O termo monografia é utilizado para definir o trabalho teórico de um indivíduo e, por esta razão, o prefixo “mono” é aplicado. Nesta disciplina focaremos a elaboração de um projeto que poderá ser utilizado tanto no dia a dia de uma empresa ─ quando você estiver atuando como gestor ambiental ─, como no meio acadêmico, para a confecção de um trabalho de conclusão de curso (TCC) ao fim da graduação, bem como de uma dissertação ou uma tese, na pós-graduação. Referências CARVALHO, M. M.; RABECHINI JR., R. Fundamentos em Gestão de Projetos: construindo competências para gerenciar projetos. São Paulo: Editora Atlas, 3ª edição, 2011. 422p. EISENHAGEN, I. Uso de semeadura direta de espécies arbóreas nativas para restauração florestal de áreas agrícolas, sudoeste do Brasil. 2010. 105p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2010. FONSECA, R.C.V. Como Elaborar Projetos de Pesquisa e Monografias – Guia Prático. Curitiba: Imprensa Oficial, 2007. 147p. KAHN, M. Gerenciamento de Projetos Ambientais. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2003. 86p MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2010. 297p. PROCAM. Como elaborar seu projeto de pesquisa. Disponível em:< http://prpg.usp.br/dcms/uploads/arquivos/procam/como%20elaborar%20seu%2 0projeto.pdf >Acesso em 18 fev. 2014. RIBEIRO, C. A. A. S.; SOARES, V. P.; MENEZES, S. J. M. C.; LANA, V. M.; LIMA, C. A. Áreas de preservação permanente: espaços (im)possíveis. Ambiência, Guarapuava, v.6, p.93-102, 2010. SILVA, C.; REBOLHO, B.C.S. Projetos Ambientais. Curitiba: IFPR. 2013. 184p. RUSKIN, A.M.; EUGENE ESTES, W. What Every Engineer Should Know About Project Management. 2 ed. New York : Marcel Dekker, 1994. 277p. Capítulo 2 1. Justificativa A justificativa está relacionada ao convencimento do leitor/avaliador sobre a necessidade de ser o estudo realizado, ou seja, é um item do projeto em que o autor explica quais são os benefícios do estudo, qual a importância da pesquisa e da solução de um problema específico4. Algumas questões podem servir como um roteiro na escrita da justificava. Veja alguns exemplos5: O projeto a ser desenvolvido tem relação com as prioridades da região ou do país? Qual o conhecimento ou a informação que se espera obter? Como os resultados serão utilizados e quem poderá ser beneficiado? Inicie a justificativa com uma sentença simples que resuma o objetivo principal do trabalho. Adicione um parágrafo sobre a raiz do problema, sobre como ele surgiu, seu histórico, o que já é conhecido sobre ele. Explique brevemente como o seu estudo pode solucionar o problema e gerar resultados positivos. Você pode citar iniciativas semelhantes que já foram desenvolvidas para tornar os resultados esperados mais concretos, e enriquecer esse comparativo com a inserção de histórias da vida dos membros da comunidade, por exemplo. Lembre-se que uma proposta de sucesso é escrita com clareza e simplicidade. Evite sempre a repetição, as questões retóricas e as frases complexas. Escreva sentenças simples e que tornem os pontos discutidos mais concretos6. A justificativa poderá fazer parte da introdução ou compor um item separado. Muitas vezes isso é especificado no edital da instituição financiadora. Caso não seja, a escolha será do autor. 4http://pagesped.cahuntsic.ca/sc_sociales/psy/methosite/consignes/etape1.htm#justification(ace ssado em 10 set. 2014) 5http://web4.mty.itesm.mx/temporal/clinicalresearch/wp-content/uploads/2011/07/GUIDE-FOR- WRITING-A-RESEARCH.pdf(acessado em 10 set. 2014) 6http://www.fundsforngos.org/proposal-writing-2/project-justification-grant-proposals/ (acessado em 13 set. 2014). Veja alguns exemplos de justificativas: 1) Em tempos de mudança, é evidente que o capital humano é um fator decisivo para que as organizações se destaquem e concorram com competência e competitividade. Assim, este estudo justifica-se no momento em que busca analisar competências e habilidades do líder em motivarseus colaboradores (SILVA et al, 2011). 2) Considera-se que a conscientização e a informação fundamentam a mudança de atitude. As cartilhas são utilizadas como material de apoio pedagógico, tidas como ferramentas adequadas a proporcionar subsídios para discussões de vários temas, e, nesse caso específico, a relação existente entre o consumo, o lixo e a degradação ambiental. Assim a proposta é a construção de um material didático que além de transmitir conceitos teóricos tenha relação com a realidade dos alunos, buscando metodologias que aproximem o conteúdo de suas vivências.[...] No caso de Franca, existe uma parceria entre a Colifran, que recolhe o material nas casas em dias específicos, e a Cooperativa dos Catadores, que fica responsável pela separação. As estimativas do setor, no entanto, são de que apenas um terço dos recicláveis da cidade é recolhido, em consequência da falta de cooperação das pessoas de separar seu lixo ou de colocá-lo para fora apenas nos dias corretos. Dessa forma, justifica-se a importância de um projeto que busque conscientizar as crianças acerca da importância da coleta seletiva e os impactos positivos da reciclagem, pelo poder de divulgação que têm, junto a seus familiares e a vizinhança. Outros aspectos importantes da produção de lixo serão explorados com a implementação do projeto, tais como: o papel gerador de riquezas que vem sendo cada vez mais atribuído ao lixo; a necessidade de que o poder público trate a questão do lixo com base social e estratégica e a interferência da produção de lixo e entulhos na modificação do espaço geográfico da cidade (CELLINI JR; MATOS, 2008). 2. Objetivos Os objetivos de um projeto são divididos em gerais e específicos. Os objetivos gerais apresentam uma visão mais ampla, mais abrangente de aonde o estudo pretende chegar, enquanto o detalhamento do estudo fica por conta dos objetivos específicos. O detalhamento deverá seguir o limite do objetivo geral, nunca deve ser mais amplo ou com uma linha de raciocínio diferente. Os objetivos estão diretamente ligados ao problema do projeto, e indicam o caminho que será seguido para confirmar ou não a hipótese inicial. Ou seja, é por meio dos objetivos que dizemos o que faremos e aonde pretendemos chegar. Para isso, os objetivos devem ser claros, concisos, mensuráveis e passíveis de execução. Quando escrevemos os objetivos, precisamos nos ater aos verbos que serão utilizados no início de cada item, pois ele indicará a ação que será realizada. O verbo escolhido deverá sempre ser escrito no infinitivo. Abaixo seguem alguns exemplos (Tab.1) a serem utilizados de acordo com a especificidade de cada objetivo. Vale lembrar que nem toda investigação requer a formulação de uma hipótese para a verificação posterior. No entanto, todas as pesquisas devem apresentar os seus objetivos gerais e, se pertinente, os específicos7. Vamos ver alguns exemplos de objetivos: 1) O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar a eficiência técnica e econômica da semeadura direta de espécies arbóreas nativas para a 7http://web4.mty.itesm.mx/temporal/clinicalresearch/wp-content/uploads/2011/07/GUIDE-FOR- WRITING-A-RESEARCH.pdf (acessado em 10 set. 2014) colonização inicial de áreas agrícolas abandonadas com baixa resiliência e para o enriquecimento de áreas florestais restauradas com baixa riqueza de espécies (ISERNHAGEN, 2010). 2) Os objetivos deste estudo são: 1) desenvolver metodologia de classificação de imagens de alta resolução espacial utilizando o método de segmentação e classificação orientada a objeto; 2) analisar o potencial de imagens de alta resolução espacial na identificação de espécies florestais (SOUSA et al., 2010). 3) “O objetivo deste artigo é revisar o progresso feito na evolução da toxicologia para a ecotoxicologia com foco em questões-chave” (CHAPMAN, 1995). TABELA 1: exemplos de verbos para o(s) objetivo(s): NÍVEL VERBOS Conhecimento Apontar, definir, relatar, descrever, identificar. Compreensão Descrever, esclarecer, explicar. Aplicação Aplicar, propor, demonstrar, empregar, ilustrar. Análise Analisar, classificar, comparar, diferenciar, provar, investigar, experimentar. Síntese Reunir, organizar, esquematizar, sintetizar. Avaliação Apreciar, avaliar, escolher, selecionar, validar. Fonte: MIGUEL, 2014 3. Materiais e Métodos Neste item são apresentados e detalhados os procedimentos e as técnicas que serão usados para alcançar os objetivos do projeto8. Se fôssemos transcrever o item em uma pergunta, ela seria: “Como vou realizar o estudo?” E, para facilitar o caminho para respondê-la, podemos seguir pelas demais perguntas: “Qual?” “Quando?” “Onde?” “Quem?” “Por quê?” (ANNESLEY, 2010). Por exemplo, quais as variáveis que serão medidas, como e onde elas serão coletadas e medidas, qual a localização geográfica do estudo e as suas características (clima, economia, população, relevo, vegetação, educação, saúde), ou seja, todas as características pertinentes e relevantes ao projeto. Os pesquisadores gostam de dizer que esse item é como uma receita, que dever ser detalhada a ponto de poder ser repetida para o alcance dos mesmos resultados. Foote (2008) faz até um comparativo com diferentes receitas, como de um picadinho que não é tão complexo e de um suflê, que demanda mais cuidado nas medidas e execução. Portanto, o estudo que será desenvolvido deverá ser passível de repetição, sendo essa uma das premissas de um trabalho científico. Podemos resumir os objetivos da seção Materiais e Métodos em quatro itens (ANNESLEY, 2010): 1- Permitir o entendimento de como e por que os experimentos serão desenvolvidos; 2- Facilitar a compreensão dos resultados esperados; 3- Capacitar a reprodução; 4- Reconhecer que os resultados a serem alcançados serão moldados a partir dos métodos escolhidos para o desenvolvimento do projeto. É interessante dividir a seção de Materiais e Métodos usando subtítulos. Isso auxilia na organização do material utilizado e também facilita a leitura. A 8http://web4.mty.itesm.mx/temporal/clinicalresearch/wp-content/uploads/2011/07/GUIDE-FOR- WRITING-A-RESEARCH.pdf (acessado em 10 set. 2014). descrição de métodos e técnicas deve ser feita em ordem cronológica, mas, caso eles sejam independentes, pode ser feita por ordem de importância. Lembre-se sempre que o tempo verbal a ser utilizado será o futuro, uma vez que as atividades ainda serão desenvolvidas. Na confecção do relatório ou artigo, após o desenvolvimento do projeto, esse item deve ser escrito no passado, atentando para a alternância entre a voz passiva e ativa para não deixar o texto muito cansativo (ANNESLEY, 2010). Ao utilizar um método bem conhecido do meio científico/industrial, você pode apenas citá-lo, juntamente com a referência, sem a necessidade de descrevê-lo em detalhes. Porém, se você for fazer qualquer alteração, é imprescindível relatar a mudança no texto (FOOTE, 2008). Além de descrever como você irá obter os dados e quais as técnicas que utilizará para processá-los, você deverá relatar quais análises serão feitas com esses dados, ou seja, quais análises estatísticas serão aplicadas para interpretá-los. A análise estatística é primordial no desenvolvimento do trabalho, pois dará maior confiabilidade para a interpretação e a redação dos resultados. Portanto, o propósito de analisar os dados é obterinformação útil e aplicável e, por meio da análise estatística, pode-se9: descrever e resumir os dados; identificar as relações entre as variáveis; comparar as variáveis; identificar as diferenças entre as variáveis; prever resultados. 4. Síntese Um projeto é escrito a partir de itens por vezes obrigatórios, por vezes opcionais. Neste capítulo aprendemos um pouco mais sobre alguns dos itens obrigatórios em um projeto: a Justificativa, os Objetivos e os Materiais e Métodos. Cada um desses itens possui características próprias, que desenham 9http://www.bcps.org/offices/lis/researchcourse/develop_writing_data_analysis.html. Acessado em 10 set. 2014. a estrutura do projeto, fornecendo informações específicas. A Justificativa está relacionada principalmente com a relevância do trabalho e com o convencimento do avaliador de que aquele estudo deve ser realizado. Já os Objetivos indicam os caminhos que serão percorridos para atingir os resultados, ou seja, os objetivos descrevem o que se pretende investigar com o projeto. Os Materiais e Métodos descrevem as técnicas e os métodos que serão aplicados para coletar os dados e analisá-los e, com isso, gerar os resultados do estudo. A obrigatoriedade dos itens é importante, pois padroniza a apresentação, isso facilita a leitura e a comparação, no caso, por exemplo, de projetos que competem por financiamento. Antes de escrever um projeto, é primordial que você conheça e entenda o que é necessário em cada um desses itens. Com isso o seu texto será mais claro e o sucesso do projeto ser aceito e desenvolvido será bem maior. Saiba mais: Os organismos vivos são agrupados em populações, porém, quando desenvolvemos um trabalho científico, ambiental ou social, é praticamente impossível trabalhar com todos os indivíduos de uma população. Para facilitar, trabalhamos com uma amostra, que é um número x de indivíduos representativos daquela população. A estatística nos auxilia a encontrar o número adequado de indivíduos para formar uma amostra representativa e passível de análise. Os dados podem ser do tipo qualitativo (nominal ou ordinal) ou quantitativo (discretos ou contínuos). Os dados qualitativos nominais são aqueles que não apresentam ordem em seus resultados (ex. diferentes defeitos em uma calculadora - defeito no teclado, defeito na fonte de energia e soldas soltas ─ pois todos podem ter a mesma severidade). Os dados qualitativos ordinais, como o próprio nome diz, são aqueles que apresentam uma ordenação em seus resultados (ex. níveis de escolaridade ─ de um nível mais básico para um mais complexo, do fundamental ao universitário)10. Os dados quantitativos discretos são aqueles que podem ser contados (ex. número de peças de roupas), enquanto que os dados quantitativos contínuos são os que podem ser medidos (ex. altura ou peso de um indivíduo) (CAVANHA, 2013). Saber qual o tipo de dado você irá coletar é muito importante para a pesquisa. Isso facilita a tabulação dos dados, ou seja, a organização dos dados coletados em uma tabela, que será utilizada como base para a análise estatística. 10http://www.portalaction.com.br/content/13-exposi%C3%A7%C3%A3o-dos-dados. (Acessado em 16 set. 2014) 5. Referências ANNESLEY, T.M. Who, What, When, Where, How, and Why: The Ingredients in the Recipe for a Successful Methods Section. Clinical Chemistry, v. 56, n. 6, p. 897-90, 2010. CAVANHA FILHO, A.O. Estatística Básica. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/estbasica.pdf. Acesso em 16 de setembro de 2014. CELLINI JR., E; MATOS, M.M. Lixo e Cidadania: A Reciclagem Como Fator de Preservação Ambiental e Qualidade de Vida. Disponível em: http://legacy.unifacef.com.br/novo/publicacoes/IIforum/Textos%20IC/Elisier%20 e%20Mayara.pdf. Acesso em 17 de setembro de 2014. CHAPMAN, P.M. Ecotoxicology and Pollution-Key Issues. Marine Pollution Bulletin, v. 31, n. 4-12, p.167-177, 1995. EISENHAGEN, I. Uso de semeadura direta de espécies arbóreas nativas para restauração florestal de áreas agrícolas, sudoeste do Brasil. 2010. 105p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2010. FOOTE, M. Materials and Methods - A Recipe for Success. CHEST, v.133, n. 1, p. 291–293, 2008. MIGUEL, P.A.C. Metodologia Científica. Disponível em: http://cdn.veduca.com.br/uploads/lecture/material/319%20- %20MBA%20EI%20D8%20A2%20Slides.pdf. Acesso em 18 de setembro de 2014. SILVA, C.M.C.; PEIXOTO, R.R.; BATISTA, J.M.R. A Influência da Liderança na Motivação da Equipe. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v.13, n.13, p.195 – 206, 2011. SOUSA, A.M.O.; MESQUITA, P.; GONÇALVES, A.C.; SILVA, J.R.M. Segmentação e classificação de tipologias florestais a partir de imagens QUICKBIRD. Ambiência, Guarapuava, v.6, p.57-66, 2010. Capítulo 3 1. A escrita do projeto Quando vamos escrever um projeto, usamos o que já é conhecido sobre o assunto, ou seja, nos baseamos em estudos que foram desenvolvidos anteriormente e também em nossas experiências e conhecimentos adquiridos. Os motivos para escrever um projeto podem ser vários: obter um título acadêmico, desenvolver um produto ou serviço em uma empresa ou avaliar o impacto de um novo empreendimento. Em qualquer um desses exemplos temos que nos ater à qualidade da escrita. O projeto deve ser claro e objetivo, e a escrita é a forma de se obter essas qualidades. Segundo Katz (2009), durante todo o processo de escrita de um projeto, devemos utilizar os mesmos instrumentos e técnicas para garantir a qualidade, vamos vê-los. 1- Estrutura pré-definida do projeto – seguir um roteiro pré-definido, ou seja, utilizar os itens obrigatórios de um projeto. Eles organizam a ideia do estudo e indicam o caminho para seu desenvolvimento, além de facilitar a leitura. O leitor ou avaliador do projeto já saberá o que virá na sequência, pois já é de conhecimento prévio a estrutura a ser seguida11. 2- Linguagem precisa – em um estudo científico a linguagem deverá ser limpa, clara e desprovida de emoções. No nosso dia- a- dia utilizamos várias palavras que são recheadas de emoções e permitem diferentes interpretações, como, por exemplo, a palavra apaixonante. A questão de ser apaixonante pode ser por uma vivência agradável que você teve, por você achar aquilo bonito, interessante, portanto é algo muito particular, vinculado à sua opinião. Isso deve ser evitado em um trabalho científico. A característica principal da redação científica é a clareza. Palavras que não são objetivas e frases vagas confundem o leitor e não deve haver lugar para ambiguidade no texto de um projeto. Assim, as descrições devem ser precisas, as “receitas” devem ser completas, os dados devem ser exatos, a lógica deve ser transparente e as conclusões devem ser cuidadosas. 11 No próximo capítulo veremos em detalhe os demais itens obrigatórios de um projeto. 3- Uma única e clara direção – junto ao roteiro pré-definido e ao texto transparente, o projeto precisa ser claro na direção a ser seguida. Todo o seu projeto deve apontar para o objetivo principal e como será possível alcançá-lo. Mantenha um único tema na linha de frente, sempre apontando o caminho para o seu leitor. Por exemplo, se o seu tema escolhido for a temperatura, você deverá apresenta-lano título. Na introdução você deverá dizer o que já foi escrito sobre a temperatura. Na seção de Materiais e Métodos você deverá detalhar os instrumentos que serão utilizados e as técnicas a serem executadas envolvendo a temperatura, e assim por diante. 4- Use números – Os números são precisos, objetivos, sem ambiguidade e sem conotação emocional. Os números podem ser usados para descrever muitas coisas. As características quantificáveis são ideais nas descrições científicas. Por exemplo, em vez apenas dizer alto é melhor usar uma definição numérica, como maior do que 2 m (dois metros) ou superior a 7 km (sete quilômetros). No lugar de pesado, use mais do que 10 kg (dez quilos) e, ao dizer breve, especifique se é menos do que 1 min (um minuto) ou menos do que 1s (um segundo). Até mesmo adjetivos totalmente subjetivos, como doloroso, podem ser mais objetivos quando representados por uma escala numérica (Fig. 2). FIGURA 2 – Escala de dor. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0: sem dor 1-3: dor leve 3-5: dor moderada 5-7: dor forte 7-10: dor muito forte (Modificado de KATZ, 2009) 5- Explique as situações – nem tudo pode ser explicado por números. Quando as palavras quantificáveis não estiverem disponíveis, o vocabulário a ser utilizado deverá ser o mais preciso e objetivo possível. Por exemplo, você só deverá escrever “a agulha vibra continuamente” após explicar ao leitor o tipo da agulha e da vibração e em qual período de tempo ela vibrava continuamente. Ou seja, na linguagem científica, a regra é definir todas as situações. Evitar alguns hábitos, como o de utilizar termos vagos ou o de não explicar a situação, garantem um texto melhor. Veja alguns exemplos. Expressões sem limites claros: muito, bastante, em longo ou em curto prazo, muito, um pouco, um pouco mais, mais ou menos; Palavras com interpretações pessoais: seguramente, decepcionante, dúvida, perturbador, requintado, inconveniente, felizmente, milagrosamente, agradável, óbvio, lamentável, notável; Palavras que apenas fazem volume: bem, basicamente, em um sentido, de fato, com efeito, no que diz respeito, uma das coisas que. Claro que a forma de escrever é muito particular de cada pessoa. Os termos vagos muitas vezes podem ser utilizados, mas não em um texto científico. Eles possuem locais e momentos mais adequados para serem aplicados. No caso de um projeto, a objetividade deve imperar, estaremos iniciando um estudo que deverá apresentar relevância e poderá ser útil para o desenvolvimento de uma localidade ou de um produto, portanto, nessa situação, o uso de metáforas não pode ocorrer, tudo tem que ser extremamente claro, objetivo e preciso. 2. Organização para a composição do texto Saianani (2012) sugere que a confecção do texto seja feita em três etapas ou fases: 1- Pré-escrita Não tente iniciar o seu texto sem uma prévia organização do material necessário, gaste mais tempo organizando e menos tempo escrevendo. Reúna todos os livros, artigos e anotações que você pretende usar e faça um roteiro sobre o que será abordado em cada item ou capítulo do estudo. Isso é mais eficiente, pois no momento em que você decidir sentar para escrever você terá tudo ao seu alcance e não precisará ficar interrompendo a linha de raciocínio para procurar por uma determinada informação. Portanto, não tente escrever e obter informação ao mesmo tempo. Essa é a etapa em que você deverá gastar mais tempo, por volta de 70% de toda a escrita. Isso porque é mais eficiente organizar todas as informações e tê-las ao alcance e também porque você evita possíveis distrações. Escrever demanda concentração e, caso você precise procurar alguma bibliografia ou informação na internet, você correrá o risco de olhar o seu e-mail ou a página de uma rede social e gastar muito mais tempo do que se você tivesse o material ao seu lado. Uma forma citada por Saianani (2012) para organizar todo o material é criar um arquivo em um programa de texto, como o Word. Colar ou escrever lá todas as informações que você achar pertinentes e que gostaria de usar na confecção do seu projeto ou na escrita de qualquer outro material científico. Podem ser valores de uma análise específica, gráficos, tabelas, figuras, ou qualquer outra forma de informação. Caso você tenha o seu sistema de organização, pense se ele é mesmo eficiente. Caso ainda não tenha, você poderá criar um, isso é algo bastante pessoal, portanto você não precisa fazer igual ao de alguém, mas invista tempo organizando esse material. 2- Escrita - primeira versão Após coletar, sintetizar e organizar todo o material para o texto é o momento para a redação dele. Esse tende a ser o momento mais temido pelas pessoas, porém, lembre-se de se tratar de uma primeira versão. Portanto, não procure escrever um texto definitivo já na primeira tentativa, redija as ideias principais, compile os dados necessários, mas deixe para “arredondar” o texto na revisão. Aproveite para transformar as suas ideias em frases completas e em ordem, pois, o objetivo desse item é colocar as informações em uma sequência lógica. Ao fazer isso de uma forma organizada, será muito mais fácil ajustar os detalhes depois, na revisão, pois você já tem uma ordenação no seu texto. Como você terá todo o material reunido com as informações necessárias e esta primeira versão será um rascunho, você deverá investir por volta de 10% do tempo total da redação nessa fase. Ao escrever de forma rápida e eficiente, você estará minimizando o sofrimento, já que se trata de um momento temido por muitos. Isso é possível pela organização inicial e por se tratar de um texto que ainda será revisado. 3- Revisão É durante a revisão que o texto será refinado e existem algumas formas de facilitar isso: a)- leia o seu trabalho em voz alta; b)- faça uma revisão organizacional; c)- obtenha uma segunda opinião sobre o seu texto. A leitura em voz alta faz com que o seu cérebro processe a informação de forma diferente da leitura com os olhos. Permite que você perceba, por exemplo, como está a pontuação e a fluidez do tema. Outra dica interessante é fazer uma revisão dos verbos utilizados, selecione alguns parágrafos e sublinhe o verbo principal de cada frase. Caso você tenha muitos verbos “ser” (é, são, foi, foram, tem sido) é possível que você tenha muita voz passiva, revise e substitua por verbos fortes, deixando o seu texto mais fácil de ler e animado. A organização das ideias também deve ser verificada. Uma dica é escrever ao lado de cada parágrafo qual é o tema central. Caso você tenha vários parágrafos falando da mesma coisa em lugares distantes de um mesmo item, você deverá reuni-los. As ideias devem ser agrupadas, mas caso não seja possível, elas deverão ao menos ficar próximas. Sempre fique atento à repetição, tanto em palavras quanto em frases. Evite gírias, jargões e siglas desnecessárias. Prefira usar apenas as siglas já estabelecidas, pois é muito cansativo ter que ficar retornando ao início do trabalho para saber o significado de cada uma novamente. Não se esqueça, mesmo sendo uma sigla bem conhecida, ela deverá ser escrita por completo na primeira vez que for citada. Revisar o próprio texto não é uma tarefa fácil. Como já sabemos o que está escrito, muitas vezes não percebemos os erros ou a falta de clareza, por isso é sempre importanteuma segunda opinião. Não precisa ser sempre alguém da área para revisar o seu texto, mas é necessário que essa pessoa tenha um conhecimento mínimo da língua e de ciência para opinar. Peça para que ela sinalize os parágrafos de difícil entendimento e diga o que pode ser concluído do texto. Isso facilita bastante o encontro de lacunas. Após finalizar a revisão, antes de enviar o trabalho, procure rever alguns pontos específicos: verifique a consistência das afirmações, ou seja, garanta que não ocorram contradições no seu manuscrito; verifique a consistência dos números, confira se o mesmo dado não diverge em pontos específicos, como tabela e texto; verifique as referências, é muito comum o esquecimento de citar uma referência, reveja sempre; confira citações de informações que não foram obtidas no trabalho original, pode ocorrer dela ter sido mal interpretada ou superestimada, portanto, o ideal é sempre rever a fonte original. 3. Plágio Plagiar é o ato de utilizar um conhecimento que não é seu. Quando lemos um artigo ou trecho de um livro e decidimos citá-lo em nosso trabalho, mesmo mudando algumas palavras ou apenas utilizando a ideia central, precisamos citar o autor, pois aquela informação não foi gerada por nós. Isso também é verdadeiro para tabelas e figuras. A partir do momento que não foi você quem gerou aqueles dados ou imagem, você precisa dizer quem foi. Quando você se basear em uma tabela ou figura, mas decidir fazer algumas modificações, isso também deverá ser dito no texto. Você pode fazer da seguinte forma: “modificado de AUTOR, ano”, ou “adaptado de AUTOR, ano”. Se você consulta uma página na internet com um autor especificado ou uma que não apresenta um autor de forma clara, você também precisa dizer quem escreveu aquilo. Isso é possível ao citar a página que foi consultada mediante o endereço, precedido de “Disponível em: endereço da página” e a data em que aquele material foi consultado “Acesso em: data. Caso você precise citar um trecho de outro trabalho, mas você quer transcrevê-lo exatamente como está no original, você deverá citá-lo entre aspas, se o trecho tiver até três linhas. Se ele tiver mais de três linhas, você deverá fazer um recuo nas margens, direita e esquerda, de quatro centímetros e o tamanho da fonte deverá ser menor. Esse tipo de citação é denominado citação direta. Para ficar mais fácil veja alguns exemplos abaixo: a) Informação disponível em uma imagem que foi modificada: Modificado de KATZ, 2009 – citado logo após a imagem. Adaptado de KATZ, 2009 – citado logo após a imagem. KATZ, M.J. From research to manuscript. New York: Springer; 2009. – Citado no item referências bibliográficas. b) Informação disponível em uma página da internet: CELLINI et al, 2014 – citado no texto CELLINI JR., E; MATOS, M.M. Lixo e Cidadania: A Reciclagem Como Fator de Preservação Ambiental e Qualidade de Vida. Disponível em: http://legacy.unifacef.com.br/novo/publicacoes/IIforum/Textos%20IC/Elisier%20 e%20Mayara.pdf. Acesso em 17 de setembro de 2014. – Citado no item referências bibliográficas. c) Citação de um trecho com até três linhas: “O objetivo deste artigo é revisar o progresso feito na evolução da toxicologia para a ecotoxicologia com foco em questões-chave” (CHAPMAN, 1995). – Citado no texto. CHAPMAN, P.M. Ecotoxicology and Pollution-Key Issues. Marine Pollution Bulletin, v. 31, n. 4-12, p.167-177, 1995. – Citado no item referências bibliográficas. d) Citação de um trecho com mais de três linhas: Em tempos de mudança, é evidente que o capital humano é um fator decisivo para que as organizações se destaquem e concorram com competência e competitividade. Assim, este estudo justifica-se no momento em que busca analisar competências e habilidades do líder em motivar seus colaboradores (SILVA et al, 2011). – Citado no texto. SILVA, C.M.C.; PEIXOTO, R.R.; BATISTA, J.M.R. A Influência da Liderança na Motivação da Equipe. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v.13, n.13, p.195 – 206, 2011. – Citado no item referências bibliográficas. Lembre-se de que plagiar é crime, pois é se apossar de algo que não pertence a você, além de ser antiético. Ao fazer anotações para o seu texto, sempre registre a autoria do trecho. Muitas vezes nos atemos apenas à informação que nos interessa e nos esquecemos da autoria. Posteriormente pode ser difícil encontrar de onde anotou, impossibilitando-o de usar uma informação que seria muito útil no seu trabalho. Para se informar mais sobre as citações, você poderá consultar as publicações da ABNT, que é a Associação Brasileira de Normas Técnicas. Duas normas se referem diretamente às citações e às referências: ABNT NBR 6023/2002: referências ABNT NBR 10520/2002: citações em documentos. 4. Síntese A escrita é uma ferramenta poderosa; por meio dela podemos obter e fornecer infinitas informações. Viajamos quando lemos um artigo que descreve um lugar paradisíaco e nos emocionamos quando lemos algo sensível. Cada um desses textos possui uma particularidade para passar a informação. As metáforas, por exemplo, são muito utilizadas em textos não científicos, elas criam expectativas e livres interpretações. Porém, quando falamos da linguagem científica, nada disso tem lugar, a objetividade e a clareza são as metas que devem ser sempre seguidas. Nada de excessos e subjetividades, a concisão deve estar sempre presente. Para escrever um projeto, seguimos um roteiro pré-definido, que facilita a leitura e a comparação. Além disso, a construção textual deve seguir em uma única direção, mostrando ao leitor onde o projeto pretende chegar. Para facilitar o entendimento e não gerar dúvida, podemos usar os números. Eles são sempre pontuais e objetivos. Em outros casos podemos adaptar uma escala para dar mais limite a dados subjetivos. Dividir a redação do texto em etapas é uma forma de simplificar o trabalho e deixá-lo menos penoso. Nesse processo, a pré-escrita é fundamental, pois é nela que organizamos todas as informações pertinentes para a construção do texto, permitindo que elas fiquem ao alcance quando necessárias. Essa fase é a que deve demandar mais tempo, por volta de 70% do total A etapa da escrita deve ser feita para organizar as ideias em uma ordem lógica, sem se preocupar muito com o refinamento do texto, que será realizado durante a terceira etapa, a da revisão. A fase da escrita deverá levar em torno de 10% do tempo total, e o da revisão 20%. Esses valores são apenas indicativos, mas servem para evidenciar em qual momento você deve dispender mais atenção. 5. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências – elaboração e apresentação. Rio de Janeiro, 2002b. KATZ, M.J. From research to manuscript. New York: Springer, 2009. 205p. SAINANI, K. Writing in the Sciences. Stanford School of Medicine. Disponível em: https://class.coursera.org/sciwrite-2012-001/lecture. Acesso em: 21 de julho de 2014. Capítulo 4 1. Elementos textuais Para organizar e facilitar a pesquisa, projetos e demais trabalhos científicos possuem uma estrutura pré-definida. Essa estrutura, ou roteiro, é composta por elementos, divididos em pré-textuais, textuais e pós-textuais. Os elementos pré-textuais são aqueles que precedem o texto propriamente dito. Eles apresentam o trabalhopara o leitor e indicam a organização geral. Capa; Folha de Rosto; Sumário; Resumo Abstract; Listas. Os elementos textuais são o corpo do trabalho, compostos por itens que fornecerão as informações de como, quem, onde e por que o trabalho será desenvolvido:. Introdução; Revisão de Literatura; Materiais e Métodos; Resultados Esperados; Considerações Finais ou Conclusão. Já os elementos pós-textuais são aqueles que complementam as informações fornecidas no corpo do texto. Referências; Cronograma; Glossário; Apêndices; Anexos. Neste capítulo, vamos nos ater aos elementos textuais, veremos como compor cada um deles, o que deverá ser abordado e em qual profundidade, tanto no projeto quanto no relatório final. 2. A introdução A introdução, como o próprio nome sugere, introduz o assunto ao leitor. Ela irá trabalhar o contexto do estudo, preparando o leitor para o que virá em sequência. A introdução deverá seguir um padrão de escrita, que será do grande para o pequeno, do largo para o estreito. Alguns autores visualizam a introdução como um funil, ou uma pirâmide invertida (ANNESLEY, 2010). Ela deve ser focada em uma questão bastante específica, um ponto de apoio, que é baseado no tema escolhido para o trabalho, ou seja, você escreverá a introdução a partir do seu problema, hipótese ou objetivo, mas tudo de uma forma bastante direcionada (SAINANI, 2012). A introdução deverá iniciar com uma parte completa do quebra-cabeça científico, uma região já bem conhecida e de contornos bem definidos. Posteriormente, ela levará o leitor para um espaço do quebra-cabeça que precisa ser montado, que ainda se encontra vazio. É nesse espaço que deverá se encaixar os seus estudos, dando gancho para introduzir o objetivo do trabalho e a importância de fechar essa lacuna ainda aberta (KATZ, 2009). Annesley (2010) sugere os seguintes passos para compor a introdução: a) inicie pela base teórica, sobre o que já se conhece e é estabelecido do tema que você irá abordar; b) Após apresentar a base, você deverá focar na importância da pesquisa, qual a lacuna existente, qual o problema que ainda não foi solucionado, quais as limitações que não foram superadas; c) O funil poderá se estreitar um pouco mais, com o foco no objetivo do trabalho que deverá ser aprofundado, deixando claro o motivo da pesquisa. A introdução não precisa ser um item longo, o mais comum é por volta de três parágrafos, sem ultrapassar cinco. Não há necessidade de esgotar todo o assunto em um único item (SAINANI, 2012). Tente selecionar o que realmente fornece uma base para localizar o leitor sobre o tema principal, o problema e o objetivo a ser alcançado. Na introdução de um projeto você poderá colocar a justificativa da pesquisa, o problema, a hipótese e os objetivos. Lembre-se de que o problema, que pode ser em forma de pergunta, não é obrigatório, bem como a hipótese. Caso o edital não especifique quais os itens que deverão ser abordados, será o autor quem definirá o que será escrito. No caso da justificativa, ela não precisará ser definida como um item, mas deverá compor o desenvolvimento da introdução. Outra questão é que a justificativa é importante no convencimento do leitor/avaliador sobre a necessidade de se desenvolver o trabalho, por isso deve ser bem elaborada. Já o objetivo deverá estar sempre presente, mas como no caso da justificativa, ele poderá compor o texto da introdução, sem estar em um item à parte. 2. Revisão da literatura Esse item nem sempre é exigido em um projeto, dependerá do edital a ser seguido, mas é de suma importância para a pesquisa. Ele se configura por agrupar a literatura que você utilizou para dar embasamento para o seu trabalho. São todos os estudos anteriores sobre o mesmo tema, que foram publicados e que você consultou para se informar. Também chamada de fundamentação teórica, a revisão da literatura é de extrema importância, pois apenas por meio dela você poderá saber o quanto já é conhecido sobre o tema que pretende estudar e quais as lacunas ainda existentes. O texto a ser composto na revisão da literatura deverá ser também estruturado com começo, meio e fim, ou introdução, desenvolvimento e conclusão. A forma de abordar o assunto a ser desenvolvido vai depender do autor. Uma maneira bastante utilizada é a cronológica, ou seja, o assunto será apresentado a partir dos primeiros trabalhos feitos até a atualidade, mostrando ao leitor como o assunto se desenvolveu. Outra forma é iniciar pelo todo e dirigir-se para as partes, ou seja, do global para o específico. Por exemplo, você poderá começar a falar do assunto em termos mundiais, passar para um continente, país, e terminar em uma região ou cidade. Uma revisão não fornece dados novos. Seu propósito é avaliar e trazer à tona o que já é conhecido. O tema a ser abordado e o propósito da resenha devem estar claros desde o início da redação. É interessante elaborar um roteiro ou plano, reunindo as bibliografias com dados próximos. Leia, avalie e resuma os dados. Escreva de forma crítica e não apenas cite passagens dos trabalhos pesquisados (DERISH; ANNESLEY, 2011). 3. Materiais e Métodos O item Materiais e Métodos deve traduzir o problema da pesquisa em uma receita detalhada das operações que serão seguidas para atingir o objetivo final. Nesse item serão relatados os métodos, aparatos e procedimentos em detalhamento suficiente para serem repetidos (KATZ, 2009). Para os materiais: especifique os aparatos, as substâncias químicas e as doses, descreva as características de todos os experimentos; Para os métodos: explique o desenho do seu programa de pesquisa, descreva todas as operações e procedimentos, cite as referências dos métodos já documentados e dos métodos estatísticos, forneça a receita completa para qualquer nova técnica ou para as que forem modificadas (KATZ, 2009). 4. Resultados Esperados . Neste item devemos escrever o que obteremos com o desenvolvimento do projeto. Os Resultados Esperados estão diretamente relacionados aos objetivos do trabalho, bem como aos Materiais e Métodos, pois a partir do desenho escolhido para a pesquisa poderemos alcançar diferentes resultados. Vamos ver alguns exemplos: Resultados Esperados de um projeto de recuperação ambiental de uma lagoa12: melhoria da qualidade da água da lagoa; aumento da diversidade de peixes e redução dos riscos de mortandade; recuperação de espaços aquáticos da lagoa”. Resultados Esperados de um projeto de capacitação de catadores de resíduos sólidos urbanos13: 12 http://www.lagoalimpa.com.br/projeto_objetivos.aspx. Acesso em 11/09/2014 melhoria na qualidade dos serviços prestados de forma sustentável; avanço nas condições de segurança e qualidade do trabalho; aumento da produção, geração de emprego e renda; otimização das atividades de produção; produção de vídeo etnográfico; produção e publicação dos resultados na forma de artigo científico”. Após a implantação e o desenvolvimento do projeto será possível confrontar os resultados obtidos com os esperados inicialmente. Uma forma interessante de apresentar os dados, em relatórios e monografias, por exemplo, é a partir de gráficos e figuras. Eles são mais interativos e podem resumir uma série de números em uma imagem bastante representativa. Nos Resultados você deverá apresentar os dados obtidos com organização, mas sem interpretá-los. A exceção ocorreráem itens que unem os resultados à discussão, mesmo assim, apresente o resultado e em seguida discuta-o. Muito cuidado com a repetição. Ao apresentar os dados em gráficos e tabelas, preste atenção ao seu texto, não existe razão para apenas repetir o que a imagem já mostra. A ordem para relatar os seus resultados poderá ser de várias maneiras e dependerá do tipo de estudo que você desenvolveu. Annesley (2010) sugere algumas sequências que podem ser utilizadas: 1. ordem cronológica; 2. agrupar por tópico ou experimento; 3. do geral para o específico; 4. do mais importante para o menos importante. Outra questão é não confundir dados com resultados. Os dados são números que podem ser brutos ou resumidos, apresentados em tabelas e 13http://www.uneb.br/prograd/files/2013/03/Folder-do-projeto-das-ruas-a-copa_atualizado- 24_01_2013.pdf. Acesso em 11/09/2014 figuras. Os dados brutos são os obtidos diretamente da análise, sem qualquer interpretação. Os dados resumidos são médias, medianas, percentuais, ou intervalos. Os resultados explicam ou resumem o que os dados mostram, são as declarações no texto (ANNESLEY, 2010b; FOOTE, 2009). Resultados negativos também são resultados e não devem ser omitidos. Os autores tendem a não apresentar os resultados negativos, porém eles também são uma informação. O uso dos termos “significativo”, “significância” e “significativamente”, são termos que só podem ser aplicados quando houver uma análise estatística que comprove a significância, caso contrário outros termos deverão ser utilizados. (ANNESLEY, 2010b). 5. Considerações finais ou Conclusão Aqui serão apresentados os principais pontos do projeto e o que queremos atingir com a implantação do mesmo. Quais seriam os benefícios para o ambiente e/ou para a população. É na Conclusão que os aspectos mais relevantes do trabalho são sintetizados (SILVA; REBOLHO, 2013). Este item é mais utilizado quando os resultados já foram obtidos, ou seja, após o desenvolvimento das atividades. As ideias principais do estudo deverão ser sintetizadas em um ou dois parágrafos, diretos e concisos, evidenciando o que foi alcançado com o projeto. 6. Síntese Um projeto apresenta um esqueleto, um roteiro pré-definido com itens e suas características próprias. Isso facilita para o autor e também para o leitor, uma vez que já se sabe o que deverá ser abordado em cada item. Vimos nesse capítulo os componentes de um projeto, que são divididos em pré-textuais (Capa; Folha de Rosto; Sumário; Resumo; Abstract; Listas), textuais (Introdução; Revisão de literatura; Materiais e Métodos; Resultados Esperados; Considerações Finais ou Conclusão), e pós-textuais (Referências; Cronograma; Glossário; Apêndices; Anexos). Maior ênfase foi dada aos elementos textuais, que compõem o corpo do estudo, ou seja, o texto propriamente dito que forma o projeto. Alguns itens não são tão desenvolvidos em um projeto, como os Materiais e Métodos, Resultados Esperados e Conclusão, mas são itens sempre presentes no relatório final de um trabalho profissional ou acadêmico, por isso aproveitamos para apresentar como eles devem ser redigidos no trabalho final. Saiba mais: A Discussão é um item que estará presente na apresentação final dos dados. Um relatório técnico pode exigir apenas a apresentação dos resultados, no entanto, uma monografia ou um artigo científico sempre serão compostos pela Discussão. Ela poderá vir junto ao item dos Resultados ou em um item separado, isso dependerá de cada instituição. Vamos ver algumas dicas para compor o texto desse componente: Segundo Katz (2009), a Discussão deve ser composta de duas coisas: A primeira é que ela deve apresentar os seus dados de forma clara e concisa; A segunda é que ela deverá unir as suas observações e as observações de outros pesquisadores: Comparando os seus dados aos dados que já foram publicados; Usando os seus dados e os dados relacionados dos trabalhos já publicados para gerar uma proposta geral, uma teoria ou um modelo. Katz (2009) ainda sugere iniciar este item com um resumo dos seus dados-chave, o que seria uma forma de atualizar o leitor sobre eles. Posteriormente, você poderá elaborar duas tabelas, uma seria para comparar os seus métodos com os métodos de outros trabalhos. A outra seria para comparar os seus resultados com os resultados de outros autores. A partir dessas duas tabelas você poderá iniciar o texto da Discussão, traçando comparativos entre o que você encontrou e o que foi encontrado pelos outros autores. Segue um exemplo do resumo inicial dos dados: "Durante três dias consecutivos de coleta no verão de 2006, capturamos, medimos e fotografamos 12 tarântulas da espécie Brachypelma mythicosum nas selvas da Guatemala. Sete dessas tarântulas eram do sexo feminino e cinco do sexo masculino. O comprimento do corpo mediano foi de 11,5 cm (variação = 5-17 cm). Todas as 12 aranhas tinham listras brancas dorsais características. O número médio de listras dorsais foi 8 (intervalo = 6- 9)" (KATZ, 2009). Referências ANNESLEY TM. "It was a cold and rainy night." Set the scene with a good introduction. Clinical Chemistry. v. 56, p. 708-713, 2010a. ANNESLEY TM. Show Your Cards: The Results Section and the Poker Game. Clinical Chemistry. v. 56, n. 7, p. 1066–1070, 2010b. DERISH, P.A.; ANNESLEY, T.M. How to Write a Rave Review. Clinical Chemistry. v. 57, n. 3, p. 388–391, 2011. FOOTE, M. The Proof of the Pudding - How to Report Results and Write a Good Discussion. CHEST, v.135, p. 866 – 868, 2009. KATZ, M.J. From research to manuscript. New York: Springer, 2009. 205p. SAINANI, K. Writing in the Sciences. Stanford School of Medicine. Disponível em: https://class.coursera.org/sciwrite-2012-001/lecture. Acesso em: 21 de julho de 2014. SILVA, C.; REBOLHO, B.C.S. Projetos Ambientais. Curitiba: IFPR. 2013. 184p. Capítulo 5 1. Implantação do projeto Até o momento vimos como elaborar um projeto, quais os componentes que o compõem e as características de cada um deles. Agora vamos ver como iniciar o projeto, ou seja, como implantá-lo e desenvolvê-lo para atingirmos os objetivos propostos. É bastante útil ter tudo bem organizado, pois você terá que cumprir um cronograma e um orçamento definidos. Normalmente, o cronograma apresentado no projeto não é suficientemente detalhado, ele é construído com as atividades gerais e, dependendo do tempo do projeto, poderá ser detalhado de forma mensal, bimestral, trimestral ou semestral. Para iniciar, trace as metas principais e veja o que você precisará. Algumas perguntas podem ajudar: 1- qual o material necessário para cada atividade? 2- preciso de apoio ou posso realizar a atividade sozinho? 3- quanto tempo será necessário para cada atividade? 4- minha atividade depende do clima? Caso chova, posso adiantar outra atividade? 5- existe algum material que terei que importar? 6- preciso de alguma licença ambiental para coletar? Caso você possua uma atividade grande, é interessante dividi-la em atividades menores, que são mais fáceis de serem visualizadas e gerenciadas. Delegar funções, se você estiver trabalhando em equipe, também é bastante válido. A equipe deve estar ciente da atividade como um todo, mas cada um poderá executar uma parcela. Outraforma de organização é fazer uma tabela, com as atividades listadas nas linhas e as informações nas colunas; seguem alguns exemplos de informações a serem consideradas (BRAND, 2013): 1- responsáveis: identificar os responsáveis para cada atividade; 2- recursos: determinar os recursos pessoais e materiais para todas as atividades – tipo, quantidade, disponibilidade; 3- prazos de todas as atividades: determinar as datas iniciais, intermediárias e finais; 4- prioridade de cada atividade: baixa, média ou alta; 3- status da atividade: no papel, em desenvolvimento, finalizada ou cancelada; Mantenha, desde o início, um arquivo com anotações; nele você deverá registrar as atividades diárias e as referências correspondentes. Isso auxiliará muito na confecção do trabalho final. Uma forma natural de organizar as anotações é por data. Procure encontrar um momento para registrar as suas observações e recordar as suas ideias. Você pode, inclusive, usar programas específicos para as anotações. Escolha um que seja simples, que organize as informações por datas, e que permita que você insira diferentes objetos, como textos e fotos. Uma sugestão de programa é o EverNote (Evernote Corporation) que você encontra no seguinte endereço (KATZ, 2009): https://evernote.com/intl/pt-br/ Adquira o hábito de anotar tudo, durante e após uma atividade/experimento. Anote todos os problemas, as mudanças e as questões e procure quantificar – medidas ou estimativas de tempo, locais, números, quantidades e tamanhos (KATZ, 2009). Muitas vezes ocorre a necessidade de se fazer ajustes no projeto. A contratação de um especialista para auxiliar em alguma análise específica, uma peça de um equipamento que precise ser trocada, um material de campo que pode ser roubado e terá que ser substituído, ou mesmo um método ou uma técnica que não gera os resultados esperados e uma nova análise ter que ser efetuada. Por isso, é importante ter uma reserva no cronograma e também no orçamento. Um pesquisador precisa saber gerenciar pessoas e situações. Adiantar-se às eventualidades facilita muito o gerenciamento do projeto e a possibilidade de ser bem-sucedido. Ao traçar as metas, pense no que poderia dar de errado e procure agir de forma assertiva, evitar uma má surpresa ainda é a melhor opção. 2. Gerenciar conflitos Na implantação e desenvolvimento de projetos ambientais e sociais, acontece de encontrarmos alguns obstáculos que podem ser contornados ou superados, se estudados previamente. Entre esses obstáculos temos, por exemplo, o conflito com a comunidade. Podem ser vários os motivos que geram desconforto e, até mesmo, o comprometimento do projeto em função da opinião da comunidade. Crença religiosa, interesses políticos e econômicos, diferenças culturais e sociais, são alguns exemplos. Para se evitar isso, é muito importante conhecer as pessoas e as opiniões. O projeto a ser desenvolvido pode não ser de interesse daquele povoado ou comunidade e, se você depender da permissão deles para trabalhar, a situação pode ficar muito difícil. Portanto, antes de iniciar o projeto, visite a área de estudo, informe-se sobre os hábitos e costumes do local, e quais as reais necessidades deles. Isso pode ocorrer de uma maneira informal, como uma conversa, ou a partir de questionários/formulários que poderão ser aplicados a um número representativo de pessoas do local. A questão do gerenciamento de conflitos passa por vários níveis, isso está relacionado ao tamanho e ao tipo do projeto. Aqui, até o momento, estávamos focando uma ação mais individual, ou seja, um projeto a ser desenvolvido por você, mas com dimensões pequenas. Porém, como alunos de um curso de Gestão Ambiental, vocês poderão vir a trabalhar em empresas que desenvolvem projetos com tamanhos consideráveis, como mineradoras, hidrelétricas, empreiteiras, entre outras. Os projetos vinculados a essas empresas podem gerar uma série de conflitos e é interessante discutirmos isso para a formação de vocês. Atores sociais, natureza do conflito, objeto de disputa e dinâmicas, são alguns componentes nos conflitos ambientais14. Vamos ver cada um deles. 1- Atores sociais: São os indivíduos, grupos, organizações ou o Estado; 14http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT05/suzi_theodoro.pdf. Acesso em 11/09/2014 2- Natureza do conflito: Pode ser de natureza econômica, ambiental, política, entre outras; 3- Objetos: Seriam os recursos, que podem ser escassos ou vistos como escassos, de origem pública ou privada, material ou simbólico, profano ou sagrado; 4- Dinâmica: É como o conflito se desenvolve, pode ser rápido e intenso ou mais lento. A gestão ambiental envolve ações de políticas públicas, com a participação do setor produtivo e da sociedade, visando ao uso racional e sustentável dos recursos ambientais. A partir de uma ferramenta importante, a gestão ambiental pode ter participação no processo de negociação quando relacionada ao uso e à proteção dos recursos naturais, procurando viabilizar a resolução do conflito de forma consensual. Essa ferramenta é a mediação (TRENTIN; PIRES, 2012). A mediação é uma forma de resolução de conflitos socioambientais que procura ouvir e dialogar com todos os envolvidos. Atuando de forma preventiva, procura evitar a participação do judiciário15. A ação será conduzida por um mediador, responsável em facilitar o diálogo entre as partes envolvidas e por auxiliar no alcance de uma solução pacífica. Segundo Trentin e Pires (2012), podemos concluir que: A mediação representa um meio extrajudicial de solução de conflitos que pode ser aplicado para resolução dos conflitos ambientais. Nessas formas de resolução de conflitos, há uma maior participação da sociedade na busca de soluções, por meio do diálogo e da construção conjunta de um consenso, o que não ocorre quando a solução da disputa é levada ao poder Judiciário. 15 http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=f2e84d98d6dc0c7a. Acesso em 11/09/2014 Cabe ressaltar a importância da mediação quanto à pressa na resolução dos conflitos, uma vez que contribuirá para a prevenção do dano aos recursos naturais e para o desenvolvimento sustentável. Constata-se que tais mecanismos se têm mostrado eficientes não só no Brasil, mas em outros países, em diversas áreas do Direito. Na área ambiental, no entanto, é imprescindível que haja uma mudança de paradigma, ou seja, de postura cultural da sociedade para evitar atribuir somente ao poder Judiciário o caminho para a resolução dos conflitos ambientais. 3. Avaliação e monitoramento do projeto Com a implantação do projeto, é necessário um acompanhamento periódico para avaliar seu andamento. Levantar quais os pontos positivos e negativos, ajustar ou modificar o que for preciso são algumas das ações que o monitoramento de um projeto permite. A partir desse monitoramento será possível fazer a avaliação, que poderá ocorrer ao final de cada etapa ou somente no final do estudo. O monitoramento e a avaliação podem16: ajudar a identificar os problemas e suas causas; sugerir soluções possíveis para os problemas; levantar questões quanto à estratégia e às previsões realizadas; levar você a refletir para onde está indo e como você está chegando lá; providenciar informações e aspectos internos; encorajá-lo a agir a respeito dessas informações e aspectos; aumentar suas possibilidadesde acerto que farão uma diferença positiva. Para alguns autores não existe diferenciação entre avaliar e monitorar um projeto, portanto você poderá encontrar as duas posições na literatura. 16 http://www.civicus.org/new/media/Monitoramento-e-Avaliacao.pdf. Acesso em 11/09/2014. Evitar alterações no projeto é a melhor forma de obter o sucesso. Para isso, o planejamento inicial é fundamental, assim como o monitoramento, pois você conseguirá controlar melhor o que está ocorrendo e tomar medidas que não interfiram no todo. Segundo Khan (2003), não existe fórmula mais simples para se acabar com um projeto do que ficar mudando o seu escopo a todo o momento. Essas mudanças comprometem o orçamento e também o cronograma, portanto devem ser evitadas. Uma forma de medir os resultados inicialmente propostos é pela formulação de indicadores. Os indicadores podem variar em função da natureza do projeto, bem como de seus objetivos. Eles são divididos em quantitativos ou objetivos e qualitativos ou subjetivos. Os indicadores quantitativos medem os resultados de forma numérica, ou seja, pontual, direta. Já os indicadores qualitativos dependem de observações mais atentas e de pessoas que possuem conhecimento de causa, pois são mais difíceis de serem medidos. O número de indicadores para cada resultado não é exato, vai depender das características do mesmo. Além da avaliação dos resultados, há a avaliação de conteúdo, de processo e de impacto (SMA/CPLEA, 2005). Veja a descrição de cada um abaixo e, posteriormente, alguns exemplos de indicadores de resultados (Tab. 1). Avaliação de resultado: consiste em verificar o cumprimento dos objetivos e das metas estabelecidas, no período de tempo previsto. Normalmente a avaliação inclui uma visita ao local do projeto, a verificação dos relatórios técnicos e fotográficos, listas de presença das reuniões realizadas, e um olhar atento sobre o material gerado como fotos, documentos, material instrucional e de comunicação, entre outros itens. Avaliação de conteúdo: método de análise, descrição e sumarização das tendências verificáveis em documentos escritos tais como: minutas ou memórias de reuniões, publicações, artigos de jornal, relatórios anuais, notas de campo, transcrições de grupos focais ou entrevistas, e outros documentos similares. A análise pode ter uma abordagem qualitativa ou quantitativa. Avaliação de processo: trata-se da avaliação da forma como o projeto é conduzido e procura verificar a eficiência do método de trabalho empregado para atingir os objetivos. A avaliação identifica a coerência, a qualidade e a viabilidade das técnicas e instrumentos pedagógicos utilizados durante o projeto. Avaliação de impacto: refere-se aos impactos sociais e ambientais que os objetivos propostos causaram na área do projeto, e às transformações comportamentais percebidas no público- alvo e/ou na comunidade. Esta etapa da avaliação representa um desafio, uma vez que os ganhos obtidos não são facilmente medidos, pois se referem a questões culturais, à mudança de valores e novas atitudes, mensurando a contribuição do projeto para a emancipação das comunidades atingidas e sua mais eficiente organização e atuação política (SMA/CPLEA, 2005). TABELA 1: Exemplos de avaliação de resultados: Avaliação Atividades Indicadores Meios de verificação R ES U LT A D O S Curso de formação de jovens jardineiros e viveiristas Número de jovens beneficiados Diário de classe Registro fotográfico e documentação de projetos Número e frequência das aulas de atividades implementadas Registro de aula Relatório de atividades Qualidade dos projetos elaborados e implementados Número de projetos elaborados Número de projetos implementados Avaliação dos projetos realizados Percepção da equipe técnica Nível de desempenho dos participantes Questionários e dinâmicas de avaliação aplicados durante e no final do curso Percepção da equipe técnica Número de instituições participantes Relatório de atividades do projeto, contendo a descrição das articulações feitas e parcerias concretizadas. Mapa final de parceiros Fonte: SMA/CPLEA (2005). 4. Síntese A implantação ou implementação de um projeto demanda bastante atenção. É a fase em que desenvolvemos as atividades propostas nos objetivos, colocando-as em prática. Deve-se ter um planejamento detalhado para a execução das atividades para garantir o cumprimento do cronograma e do orçamento já estabelecidos. Conflitos podem ocorrer nesta fase, tanto em relação à equipe envolvida como com a comunidade, portanto deve-se ter um cuidado maior para garantir um bom andamento. Monitorar e avaliar o projeto são ferramentas que garantem um sucesso maior na obtenção dos resultados, pois é possível acompanhar os resultados negativos e, na maioria das vezes, contorná-los sem comprometer o cronograma e o orçamento. 5. Referências BRAND, A.W. Project Management for Dummies. 4 ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013. 390p. KATZ, M.J. From research to manuscript. New York: Springer, 2009. 205p. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE – COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL ESTRATÉGICO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Manual para Elaboração, Administração e Avaliação de Projetos Socioambientais. São Paulo: SMA/CPLEA, 2005. 32p. TRENTIN, T.R.D.; PIRES, N.S.S. Mediação Socioambiental: Uma Nova Alternativa para a Gestão Ambiental. Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí, 2012. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view File/501/469. Acesso em 11 de setembro de 2014. Capítulo 6 1. Degradação Ambiental e Restauração Ecológica Os ecossistemas sofrem constantes pressões em função das atividades antrópicas. Essas pressões podem atingir os seus componentes essenciais, que resultam em desequilíbrios e degradam o ambiente natural. Segundo o IBAMA (2011), área degradada é definida como uma “área impossibilitada de retornar por uma trajetória natural, a um ecossistema que se assemelhe a um estado conhecido antes, ou para outro estado que poderia ser esperado”. A degradação resulta de alterações na estrutura ou no funcionamento de um ambiente natural, diminuindo a sua capacidade produtiva e a sua biodiversidade. Vale lembrar que um distúrbio não é sinônimo de degradação, mas o distúrbio se torna degradação quando ele ultrapassa a capacidade de resiliência do ambiente, ou seja, a capacidade natural do ambiente resistir ou se recuperar (STANTURF, 2005). O dano ambiental pode ocorrer por várias atividades antrópicas e as áreas atingidas podem precisar de recuperação para restabelecer os seus papéis ecológicos (SILVA; REBOLHO, 2013). Diferentes métodos podem ser aplicados nesse processo, a escolha dependerá da forma em que o local foi atingido, se ele foi desmatado, se o solo foi retirado ou se existem substâncias tóxicas a serem removidas. Segundo o Decreto Federal 97.632 (1989), recuperar uma área degradada seria proporcionar o “retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano pré-estabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”. Esse retorno do local degradado pode ocorrer com as seguintes medidas (ABNT NBR 13030, 1999): 1- recuperação: conjunto de
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