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DIREITO CIVIL I Aula 2 Exercício e Abuso de Direitos Subje=vos Carlos Affonso Pereira de Souza Corte de Amiens, França, 1913 Tribunal reconheu que a instalação de quatro lanças de ferro na propriedade do réu não acresciam em nada à utilidade do bem (“não eram cercas dado o seu espaçamento”) e serviam apenas para causar dano aos dirigíveis de Clemént-Bayard. Caracteriza abuso no exercício do direito de propriedade Direito Subjetivo e Objetivo Norma geral de conduta – dir. obj Projeção individual da norma – dir. subj. “O Direito impõem a todos o direito à propriedade” vs “O proprietário tem o direito de repelir a agressão à coisa” Norma agendi x Facultas agendi Divisão como “aspecto social” (direito obje7vo) e “aspecto individual” (direito subje7vo) lança o problema da iden7ficação do direito subje7vo como o ins7tuto por excelência do voluntarismo jurídico. Não existe direito subje7vo – Kelsen, Duguit Direito subje7vo é vontade – Windscheid “Poder de ação assegurado pela ordem jurídica” “Com base no direito obje6vo tem a pessoa a faculdade de fazer ou de não fazer uso da norma, para exigir a efe6vação de uma conduta e para u6lizar contra o transgressor as sações cominadas” Rudolf von Ihering (Aurich, Frísia, 22 de agosto de 1818 — Gotinga, 17 de setembro de 1892) foi um jurista alemão. Ocupa ao lado de Friedrich Karl von Savigny lugar ímpar na história do direito alemão, e cuja obra influenciou diversas outras em todo o mundo ocidental. Direito subje7vo é interesse – Jhering Crí7ca: “Deficiente mental ou menor não tem vontade, mas têm direitos” Dois elementos: “substancial, que se situa na sua finalidade prá7ca, isto é, na sua u7lidade, na sua vantagem, ou no interesse; outro formal, por via do qual se efe7va o primeiro, ou seja, a sua proteção jurídica por meio de ação na jus7ça.” “Direito subje7vo é uma faculdade de querer, porém dirigida a determinado fim” Teorias mistas “Como facultas agendi, o direito subje7vo é a expressão de uma vontade, traduz um poder de querer, que não se realiza no vazio, senão para perseguir um resultado ou visando à realização de um interesse.” Quem quer quer alguma coisa. “Direito subje7vo é um poder da vontade, para sa7sfação dos interesses humanos, em conformidade com a norma jurídica.” Poder de ação + Interesse + Submissão ao direito obje7vo Mas quem está do outro lado da relação? Poder corresponde a um dever Dever: dar, fazer, abster-‐se Poder: exigir o cumprimento do dever Direitos Potesta7vos: poder-‐sujeição “Não há dever, mas apenas submissão à manifestação unilateral do 6tular do direito” Elementos do direito subje7vo (Caio Mário): “1. Sujeito – que tem o poder de exigir 2. Objeto – que traduz a sa6sfação daquele poder 3. Relação – meio técnico de que se vale a ordem legal para integração do poder de vontade” Elementos do direito subje7vo: 1. Sujeito – é o 7tular do direito; é aquele a quem a ordem jurídica assegura a faculdade de agir. Nascituro – o sujeito existe, embora o Direito se contente em que, embora transitoriamente, permaneça em estado potencial. Se não chega a nascer, o direito não se integra. Pessoas jurídicas 2. Objeto – é o bem jurídico sobre o qual o indivíduo exerce o poder. Ver art. 104 CC 3. Relação jurídica – é o vínculo entre as pessoas, não entre o sujeito e o objeto Classificação dos direitos subje7vos 1. Intrinsecamente considerados: absolutos (oponível à generalidade de indivíduos, erga omnes) ou rela7vos (dever jurídico imposto apenas a determinadas pessoas); 2. Reciprocamente considerados: principal (existência autônoma) ou acessório (decorre de outro). Classificação dos direitos subje7vos 3 . D i spon ib i l i dade : t r ansmi s s í ve l ou intransmisível 4. Economicamente considerados: patrimoniais (tem objeto avaliável pecuniariamente) ou não patrimoniais (direitos da personalidade) Estrutura e Função Kelsen e Bobbio Consequências da análise funcional Queda do mito da neutralidade jurídica Derrocada do voluntarismo (dir. subjetivo) O abuso do direito é o exercício do direito fora da função - O Ato Emulativo - o direito romano - o direito medieval O castigo ao escravo como forma de ato emulativo. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. (…) § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. O caso da chaminé: A Corte Francesa em 1853 determinou a destruição da chaminé. A negação do abuso Teoria moral do abuso Teorias finalistas Teorias axiológicas O Abuso do direito no Brasil: - O direito processual (abuso do direito de ação e defesa) Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: • (…) II - proceder com lealdade e boa-fé; III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito. V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de naturezaantecipatória ou final. Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes. Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo O Código Civil de 1916. Art. 160. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; CC2002 Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. O Código Civil de 2002 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. ARTIGO 334º Código Civil Português (Abuso do direito) É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito. Guilherme Calmon: a diferença entre o ato ilícito e o abusivo reside na constatação de que enquanto “no ato ilícito o agente viola frontal e diretamente o comando legal que previa a conduta que deveria ser tomada, no ato abusivo há o exercício de direito aparentemente pelo titular com violação dos valores que justificam o reconhecimento e proteção desse direito pelo ordenamento jurídico em vigor.” “manifestamente”? “exercê-lo”? “direito”? (i) Para comprovação do ato ilícito é imprescindível a demonstração de culpa. E o abuso do direito? (ii) A conseqüencia do ato ilícito é o dever de indenizar (art. 927, caput, CC). E o abuso do direito? No que diz respeito à primeira indagação, a jurisprudência e doutrina majoritária já se posicionaram no sentido de ser desnecessário o elemento volitivo. Enunciado 37 – A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se somento no critério objetivo- finalístico. Súmula 127 TJ/RJ - "Para a configuração do abuso do direito é dispensável a prova da culpa". Quanto à segunda indagação: “Conclui-se, sintetizando, que pertence ao juiz determinar, caso por caso, segundo os referidos critérios, não apenas se existe acto abusivo, mas ainda as conseqüências sancionatórias que dele derivam. Algumas vezes, haverá lugar a restauração natural, nomeadamente através da remoção do que se fez com o abuso do direito; ao passo que, outras vezes, ocorrerá tão-só indemnização pecuniária dos danos. Além desta responsabilidade, poderão verificar-se sancões de vária ordem, visando impedir que o autor do acto abusivo obtenha ou conserve as respectivas vantagens. Exemplifica-se: por um lado, com a nulidade, a anulabilidade, a inoponibilidade (…)” Mário Júlio de Almeida Costa O abuso é, então, o ato que possui a aparência de direito, conformando-se com a estrutura formal deste, mas contraria ou descumpre a intenção normativa que fundamenta e constitui o direito (interesse) invocado. - Bons Costumes: conjunto de regras de convivência, de práticas de vida, que, num dado ambiente e em certo momento, as pessoas honestas e corretas aceitam comumente. (Larenz). - Fim Econômico: proveito material ou vantangem que o exercício do direito trará para o seu titular, ou a perda que suportará pelo seu não-exercício. - Fim Social: funcionalização dos institutos. Os interesses particulares têm que se compatibilizar com os interesses da sociedade. • “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CHEQUE PRÉ-DATADO. APRESENTAÇÃO ANTES DO PRAZO. (...) O cheque pós- datado, mais conhecido como pré-datado, é usualmente utilizado nas relações negociais entre fornecedores e consumidores de produtos e serviços como substituto da nota promissória e instrumento popular e informal de concessão de crédito, cuja contratação se dá normalmente de forma verbal e vincula ambas as partes, assumindo o consumidor a obrigação de prover os fundos necessários na data aprazada para compensação do crédito, enquanto o fornecedor do produto/ serviço assume o compromisso de não apresentá-lo antes deste prazo, a despeito de sua natureza de ordem de pagamento à vista. Assim, o depósito antecipado do cheque viola a boa-fé objetiva e o dever de probidade que regem os contratos, evidenciando-se o abuso de direito (art. 187, do Código Civil). Precedentes do Superior Tribunal de Justiça e desta Corte Estadual, no mesmo sentido.” TJRJ, Oitava Câmara Cível. Apelação Cível n° 2007.001.35823, rel. Des. Orlando Secco, j. em 31.07.2007. • “FATURAS DE ENERGIA ELÉTRICA ADIMPLIDAS NO VENCIMENTO. CONTAS PAGAS APRESENTADAS AO PREPOSTO DA RÉ. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. ABUSO DE DIREITO. ATO ILÍCITO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM REPARATÓRIO EXACERBADO. • (...) O conjunto probatório dos autos demonstra que a autora nunca esteve inadimplente ou sequer em mora, pagando suas contas sempre na data do vencimento. Afigura-se a responsabilidade civil objetiva da ré, por evidente defeito na prestação de serviço, fundada no art. 14, caput, e § 1º, da Lei nº 8.078/90 e na teoria do risco empresarial. É plausível a mácula da honra objetiva da primeira ré perante seus clientes ao se depararem com o Posto de Gasolina fechado durante 48 horas. A conduta do preposto da ré que insistiu em interromper o fornecimento de energia elétrica mesmo diante da apresentação das faturas quitadas consubstancia o abuso do direito, o que reforça o dever de reparação.” • TJRJ, Nona Câmara Cível. Apelação Cível n° 2007.001.24999, rel. Des. Roberto de Abreu e Silva, j. em 31.07.2007. Abuso do direito nas relações existenciais: Assim como nas relações patrimoniais, também é possível exceder os limites impostos às situações subjetivas existenciais. Abuso na manifestação do pensamento Lei de Imprensa Art. 12. Aquêles que, através dos meios de informação e divulgação, praticarem abusos no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei e responderão pelos prejuízos que causarem. Enéas Costa Garcia “Agiu ele de modo leal? Adotou as cautelas necessárias para certificar-se da exatidão da notícia? Foi fiel aos fatos? Agiu com lealdade com o investigado, ouvindo-o, conferindo a sua versão? Tinha elementos suficientes para justificar sua crença na seriedade e veracidade do fato noticiado? Transmitiu a notícia de modo honesto, sem dar margens a dúvidas e insinuações? Corrigiu prontamente eventual equívoco?” Direito civil. Indenização por danos morais. Publicação em jornal. Reprodução de cognome relatado em boletim de ocorrências. Liberdade de imprensa. Violação do direito ao segredo da vida privada. Abuso de direito. - A simples reprodução, por empresa jornalística, de informações constantes na denúncia feita pelo Ministério Público ou no boletim policial de ocorrência consiste em exercício do direito de informar. - Na espécie, contudo, aempresa jornalística, ao reproduzir na manchete do jornal o cognome – "apelido" – do autor, com manifesto proveito econômico, feriu o direito dele ao segredo da vida privada, e atuou com abuso de direito, motivo pelo qual deve reparar os conseqüentes danos morais. STJ, Resp 613.374/MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. em 17.05.2005 (vencido o Min. Carlos Alberto Direito). “Com o delineamento dos fatos, ficou evidenciado que a recorrida, ao reproduzir na manchete do jornal o cognome – "apelido" – do autor, atitude que redundou em manifesto proveito econômico, feriu o direito do recorrente ao segredo de sua vida privada, divulgando desnecessariamente o "apelido" repugnado, e, portanto, atuou com abuso de direito, exsurgindo como conseqüência do ferimento ao direito de todo cidadão manter a vida privada distante do escrutínio público.” INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - EXAME DNA - CONDUÇÃO DO RÉU "DEBAIXO DE VARA". Discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais implícitas e explícitas - preservação da dignidade humana, da int imidade, da intangibilidade do corpo humano, do império da lei e da inexecução específica e direta de obrigação de fazer - provimento judicial que, em ação civil de investigação de paternidade, implique determinação no sentido de o réu ser conduzido ao laboratório, "debaixo de vara", para coleta do material indispensável à feitura do exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental , consideradas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no que voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova dos fatos. (HC 71.373, Min. Francisco Rezek) Maria Celina Bodin: “O direito à integridade física configura verdadeiro direito subjetivo da personalidade, garantido constitucionalmente, cujo exercício, no entanto, se torna abusivo se servir de escusa para eximir a comprovação do vínculo genético, a fundamentar adequadamente as responsabilidades decorrentes da relação de paternidade.” Menezes Cordeiro: “O abuso do direito, é, por definição, um espaço aberto, apto à expansão para novas áreas.”
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