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DIREITO CIVIL I Aula 10 Imagem Carlos Affonso Pereira de Souza • Função da imagem na Sociedade da Informação • Exploração da fisonomia e do compartamento pessoal • A proteção da imagem para o Direito ultrapassa o simples aspecto da reprodução gráfica dos aspectos físicos da pessoa. • Imagem como exteriorização da personalidade humana (nos aspectos físico e moral) (Walter Moraes) “Direito à imagem é a projeção da personalidade física (traços fisionômicos, corpo, atitudes, gestos, sorrisos, indumentárias, etc.) ou moral (aura, fama, reputação, etc.) do indivíduo (homens, mulheres, crianças ou bebê) no mundo exterior.” (Hermano Duval. Direito à Imagem. São Paulo, Saraiva, 1988; p. 105).. Imagem na CFRB: “Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; (...) X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Sobre a imagem-retrato: • Uso de partes distintivas do corpo da pessoa e sósias: Responsabilidade Civil – Direitos de Personalidade – Violação – Danos Moral e Patrimonial. Responsabilidade Civil. Violação de direitos da personalidade. Exploração do nome e por via reflexa, da imagem, de modelo fotográfico renomado, com uso de sósia em revista com fins lucrativos. Artifícios de imitação para tirar proveito do poder atrativo da própria imagem de modelo de fama. Ausência de autorização e da devida remuneração. Quando a violação de direitos de personalidade deixar também conseqüências econômicas é devido o ressarcimento de ordem patrimonial cumulativo com a reparação do dano moral.” (TJRJ, Embargos Infringentes nº 136/91, rel. Des. Elmo Arueira, julgado em 18.12.91) Sobre a imagem-atributo: A imagem-atributo possui por objeto o conjunto de particularidades comportamentais que distinguem uma pessoa perante terceiros. Tais particularidades podem tanto abonar como desprestigiar a pessoa em referência, não possuindo, assim, qualquer identidade com a honra objetiva do sujeito. Caso George Noonan e Marie Noonan vs. The Winston Company e outros Sobre a imagem-atributo: Caso Xuxa: “Após o lançamento da fita [no cinema], ocorrido em 1982, a 2ª Autora [Xuxa] se projetou, nacional e internacionalmente, com programas infantis na televisão, criando uma imagem que muito justamente não quer ver atingida, cuja vulgarização atingiria não só ela própria como a das crianças que são o seu público, ao qual se apresenta como símbolo da liberdade infantil, de bons hábitos e costumes, e da responsabilidade das pessoas.” (TJRJ, Apelação Cível nº 3819/91, rel. Des. Thiago Ribas Filho, julgada em 27.02.92; fls. 802). Sobre a imagem-atributo: “Civil. Responsabilidade civil. Despedida de relações públicas. Comunicação à praça. Ato sem motivo plausível e lesivo à imagem. Fixação do dano moral. (...) 2. O comunicado à praça de que certo empregado foi demitido e que a empresa não se responsabiliza por seus atos, quando a despedida foi ato rotineiro e sem motivo extraordinário ou especial constitui ato ilícito porque causa dano à imagem profissional da relações públicas. O dano moral deve ser fixado considerando a necessidade de punir o ofensor e evitar que repita o seu comportamento.” (TJRS, Apelação Cível n.º 596100586, rel. Des. Araken de Assis, julgada em 14.11.1996). Sobre a imagem-atributo e publicidade: “O fenômeno ganha vulto em nossos tempos, em que a vinculação publicitária de pessoas bem-sucedidas em suas atividades representa estímulo ao consumo mediante a atração que exercem junto ao público; assim acontece com grandes estadistas, políticos, artistas, escritores, esportistas. Explora-se, nesse passo, a ânsia do espectador de se identificar com os seus ídolos, com os seus hábitos, os seus gostos, as suas preferências, levando-o, pois, ao consumo do produto anunciado, direta ou indiretamente, conforme o caso.” Carlos Alberto Bittar e Carlos Alberto Bittar Filho. Tutela dos Direitos da Personalidade e dos Direitos Autorais nas Atividades Empresariais. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2ª ed., 2002; p. 58. • Da lesão à imagem podem decorrer danos de natureza material e moral. • Peculiaridades: Não importa se o uso foi para louvar a pessoa: “Direito à imagem – Indenização – Ato ilícito – Publicação não autorizada de fotos de renomado ator de televisão em catálogo promocional de empresa de vestuário – Reparação devida, mormente se houve a intenção de explorar e usufruir vantagem – Irrelevância de que tal divulgação não tenha sido desprestigiosa.” Apelação Cível nº 91.030.4/2, rel. Des. Testa Marchi, julgado em 11.05.2000; in RT nº 782 (dez/2000); pp. 236/238. • Dano in re ipsa: “Nesse ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. (...) Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras de experiência comum; provado que a vítima teve o seu nome aviltado, ou a sua imagem vilipendiada, nada mais ser-lhe-á exigido provar, por isso que o dano moral está in re ipsa; decorre inexoravelmente da gravidade do próprio fato ofensivo, de sorte que, provado o fato, provado está o dano moral.” (Sergio Cavalieri Filho. Programa de Responsabilidade Civil, p. 80). • STJ, RESP nº 138.883/PE: “Cuidando-se de direito à imagem, o ressarcimento se impõe pela só constatação de ter havido a utilização sem a devida autorização. O dano está na utilização indevida para fins lucrativos, não cabendo a demonstração do prejuízo material ou moral. O dano, neste caso, é a própria utilização para que a parte aufira lucro com a imagem não autorizada de outra pessoa. Já o colendo Supremo Tribunal Federal indicou que a ‘divulgação da imagem da pessoa, sem o seu consentimento, para fins de publicidade comercial, implica em locupletamento ilícito à custa de outrem, que impõe a reparação do dano.’ (Revista do Superior Tribunal de Justiça nº 116 (abr/99); pp. 215/220). • STJ, RESP nº 46.420-0/SP: “[a]legou-se a inexistência de prejuízo, indispensável para o reconhecimento da responsabilidade civil das demandadas. Ocorre que o prejuízo está na própria violação, na utilização do bem que integra o patrimônio jurídico personalíssimo do titular. Só aí já está o dano moral. Além disso, também poderia ocorrer o dano patrimonial, pela perda dos lucros que tal utilização poderia acarretar, seja pela utilização feita pelas demandadas, seja por inviabilizar ou dificultar a participação em outras atividades do gênero.” RSTJ nº 68 (abr/95); pp. 358/366. • A responsabilidade independe do resultado financeiro obtido com a violação: “Direito à Imagem – Ação indenizatória – Imagem indevidamente incluída em publicação – Limitação do valor do dano sofrido pelo titular do direito ao lucro que uma das infratoras possa ter sofrido – Inadmissibilidade.” “O valor do dano sofrido pelo titular do direito, cujaimagem foi indevidamente incluída em publicação, não está limitado ao lucro que uma das infratoras possa ter auferido, pois o dano do lesado não se confunde com o lucro do infrator, que inclusive pode ter sofrido prejuízo com o negócio.” Recurso Especial nº 100.764/RJ, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, julgado em 24.11.1997, in RT nº 752 (jul/98); pp. 192/196. COLISÃO COM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO • O conflito entre a liberdade de expressão e direitos da personalidade como o direito `a imagem surge em casos nos quais se busca, de uma lado, proteger o interesse de uma parte em livremente expressar o seu pensamento, e, do lado oposto, tutelar direitos da personalidade. • Casos decididos pelos tribunais: • Privacidade e Imagem de pessoas notórias • Interesse sobre fatos criminosos • Imagem e locais públicos • Direito de sátira e caricatura • Uma das principais áreas de conflito reside na publicação de escritos, produção de filmes ou divulgação de fotografias envolvendo pessoas notórias, sobre as quais exista um interesse público, ou sobre aquelas que ocupam determinados cargos públicos. • “Isso não significa que a pessoa notória não deva ter a sua imagem preservada. Apenas existe uma diminuição em seu direito de tutelar a imagem, dada a notoriedade. Desde que o notável esteja em ambiente onde desenvolve sua atividade e sem nenhum resquício de constrangimento, já que está retratando a pessoa como ela é e na forma como desenvolve sua normal atividade, não há nem necessidade de colher-se autorização, muito menos possibilidade de indenização.” (Antonio Jeová Santos) “Civil. Direito de imagem. Reprodução indevida. Lei n° 5.988/73 (art. 49, I, f). Dever de indenizar. Código Civil (art. 159). A imagem é a projeção dos elementos visíveis que integram a personalidade humana, é a emanação da própria pessoa, é o eflúvio dos caracteres físicos que a individualizam. A sua reprodução, conseqüentemente, somente pode ser autorizada pela pessoa a que pertence, por se tratar de direito personalíssimo, sob pena de acarretar o dever de indenizar que, no caso, surge com a sua própria utilização indevida. É certo que não se pode cometer o delírio de, em nome de direito de privacidade, estabelecer-se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de qualquer veiculação atinente à sua imagem; todavia, não se deve exaltar a liberdade de informação a ponto de se consentir que o direito à própria imagem seja postergado, pois a sua exposição deve condicionar-se à existência de evidente interesse jornalístico que, por sua vez, tem como referencial o interesse público, a ser satisfeito, de receber informações, isso quando a imagem divulgada não tiver sido captada em cenário público ou espontaneamente.” Recurso Especial n° 58101/SP, rel. César Asfor Rocha, julgado em 16.09.1997; in Revista do Superior Tribunal de Justiça n° 104 (abr/98); pp. 326/332. “Indenização – Responsabilidade civil – Dano moral – Publicação de notícia ofensiva à imagem de Delegado de Polícia – Fato que diz respeito ao interesse público, devendo ser exposto ao conhecimento de todos – Ação improcedente” “Os fatos depressivos da vida estritamente privada do cidadão não devem ser propalados, ainda que verdadeiros, justamente porque, faltando interesse público, não serviriam a outro propósito que o do escândalo e do desdouro. Já os da pública são do interesse público e não subtraíveis do interesse geral.” TJSP, rel. Des. Walter Moraes, julgado em 23.03.93. Caso Garrincha: “Quanto ao mérito, da leitura do livro não surge nenhuma ofensa à honra ou à imagem de Garrincha. O que ali se descreve é do conhecimento público. Garrincha era doente, sofrendo de alcoolismo, e a sua luta contra a enfermidade é narrada em detalhes, não só por meio da pesquisa que o autor despendeu, como, ainda, através de testemunhos. (...) Os fatos são públicos e notórios e estão estampados no tempo em todos os jornais e revistas de então. Há um ou outro ponto mais picante sobre a vida sexual do biografado, mas nada que conduza a uma ofensa à sua dignidade ou honra. E por isso mesmo não há que se falar em dano moral.” Apelação Cível n° 2270/01, rel. Gustavo Adolpho Kuhl Leite, julgado em 17.07.2001. Fatos criminosos: • A crônica policial apresenta, caso desenvolvida em inobservância aos parâmetros da ética jornalística, gera diversas possibilidades de conflitos, ocasionados pela deturpação dos fatos, condenando-se o investigado através da imprensa antes mesmo do julgamento, e pelo sensacionalismo, que explora comercialmente os detalhes sórdidos dos crimes e transforma tragédia em espetáculo. • ` A deturpação dos fatos, imputando à pessoa conduta criminosa sem proceder ao devido exame da veracidade do que se publica, geralmente decide a contenda favoravelmente ao indivíduo lesionado em sua privacidade ou imagem. “Responsabilidade Civil. Dano Moral. Reportagens jornalísticas que imputam ao autor a acusação de ‘mutreteiro’ e ‘cabeça’ de fraude em concurso público, que derivaria do investigado pelo Ministério Público e por CPI da Câmara Municipal. Acusação não corroborada pelos documentos dos autos, que apenas retratam ser a vítima um dos beneficiários de adulteração de notas no concurso, sem, porém imputar-lhe a condição de responsável pela fraude e muito menos ‘cabeça’ dela. Abuso do direito de informar e deturpação da notícia que ensejam a reparação, com base nos art. 5º, X da CF, por ofenderem a honra e dignidade do demandante.” TJRJ, Apelação Cível n° 25960/01, rel. Binato de Castro, julgado em 18.12.2001. • Direito ao esquecimento • Caso Lebach “Para a atual divulgação de notícias sobre crimes graves tem o interesse de informação da opinião pública, em geral, precedência sobre a proteção da personalidade do agente delituoso. Todavia, além de considerar a intangibilidade da esfera íntima, tem-se que levar em conta sempre o princípio da proporcionalidade. Por isso, nem sempre se afigura legítima a designação do autor do crime ou a divulgação de fotos ou imagens ou outros elementos que permitam a sua identificação. A proteção da personalidade não autoriza que a Televisão se ocupe, fora do âmbito do noticiário sobre a atualidade, com a pessoa e a esfera íntima do autor de um crime, ainda que sob a forma de documentário. A divulgação posterior de notícias sobre o fato é, em todo caso, ilegítima, se se mostrar apta a provocar danos graves ou adicionais ao autor, especialmente se dificultar a sua reintegração na sociedade. É de se presumir que um programa, que identificas o autor de fato delituoso pouco antes da concessão de sue livramento condicional ou mesmo após a soltura, ameaça seriamente o seu processo de reintegração social.” • Locais públicos Celebridades Elemento acessório / elemento principal • Sátira e caricatura Projeto de Lei de Imprensa (PL nº 3232/92), art. 10, §3º: “não será considerada ofensiva à imagem das pessoas sua reprodução gráfica, parcial ou de corpo inteiro, em desenho convencional, artístico ou caricatural, desde que não expresse nem sugira condição ou situação que caracterize calúnia, difamação ou injúria, nos termos do art. 5º.”
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