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TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1 Aula 3: A teoria dos direitos fundamentais ............................................................................. 2 Introdução ............................................................................................................................ 2 Conteúdo............................................................................................................................... 4 Princípio da proporcionalidade ......................................................................................... 4 Conceito de proporcionalidade ......................................................................................... 4 Noção de proporção ............................................................................................................ 5 Direito público ....................................................................................................................... 5 Ordenamentos ...................................................................................................................... 6 Setor do direito público e o conceito de proporcionalidade ....................................... 7 Ensinamentos doutrinários de Luís Roberto Barroso .................................................... 7 A proporcionalidade na jurisprudência do Supremo .................................................... 9 Proporcionalidade e linguagem ...................................................................................... 10 Proporcionalidade no direito ........................................................................................... 11 A proporcionalidade como postulado ........................................................................... 11 Critérios do postulado ....................................................................................................... 14 Subprincípios ....................................................................................................................... 15 Proporcionalidade em sentido estrito ............................................................................ 18 Conclusão ............................................................................................................................ 19 Atividade proposta ............................................................................................................. 20 Aprenda Mais ..................................................................................................................... 21 Referências ......................................................................................................................... 21 Exercícios de fixação ........................................................................................................ 22 ........................................................................................................... 27 Chaves de resposta TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2 Introdução A aplicação do princípio da proporcionalidade, ou da proibição de excesso, possivelmente configura um dos temas de maior relevância no direito público contemporâneo, fortalecendo a necessidade de se buscar de forma explícita, mas justificada, a ideia de justiça material, a qual se submete todo sistema jurídico em um Estado Democrático de Direito. O princípio da proporcionalidade é plenamente compatível com a ordem jurídica brasileira e vem ganhando relevo de maneira gradativa, principalmente se pensarmos que o pensamento filosófico-jurídico brasileiro se posiciona em direção às vertentes neoconstitucionais, tendo em vista a evolução da jurisprudência do STF para reconhecer que esse princípio, atualmente, possui sua sede materiae no inciso LIV da Carta de 1988. Porém, a verdade é que esse reconhecimento, por si só, não consegue encobrir as dificuldades de sua aplicação. A própria metodologia para se atingir a proporcionalidade ou, até mesmo, para apontar a sua ausência em determinados atos normativos legais ou administrativos é objeto de grandes discussões no âmbito da teoria jurídica contemporânea. De toda sorte, o Brasil vem evoluindo nesse propósito, sendo que a teoria proposta por Robert Alexy, independentemente das críticas que recebe, é uma das mais aceitas no universo jurídico brasileiro, relacionando-se fortemente às perspectivas pós-positivistas e neoconstitucionais. Representa um dos poucos TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 3 métodos que aponta para um iter metodológico capaz de explicitar o raciocínio jurídico que levou o jurista àquele juízo de proporcionalidade. São esses temas que serão por nós enfrentados. Objetivo: 1. Compreender o que representa o princípio da constitucionalidade como postulado fundamental na ordem jurídica brasileira, inserida no paradigma neoconstitucional pós-positivista; 2. Analisar a metodologia de análise para resolução de casos concretos, a partir dos critérios do postulado da proporcionalidade propostos por Robert Alexy. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 4 Conteúdo Princípio da proporcionalidade O que seria proporcionalidade? O princípio da proporcionalidade não pertence exclusivamente ao direito público, podendo definir-se, inclusive, de forma mais adequada, como um princípio de teoria geral. Trata-se, de fato, de um critério elementar e universal de justiça, que, atravessando de forma transversal os vários ramos do direito, encontra aplicação ampliada no seio do direito público-constitucional, principalmente se levarmos em conta uma visão deste como filtro sistêmico em sistemas neoconstitucionais. Na sua aceitação mais ampla e geral, isso implica que cada medida adotada deva ser “proporcional”, ou seja, a busca pela consecução de um fim predeterminado, com o menor sacrifício possível àqueles que serão afetados pela sua aplicação. Conceito de proporcionalidade O conceito de proporcionalidade encontra origem nas ciências matemáticas e foi utilizado na área do direito, posteriormente ao desenvolvimento em outras ciências sociais (economia, filosofia, política). Na Grécia antiga, foi tema desenvolvido por Aristóteles, sendo que, para este, o justo, na esfera pública, mostra-se como um meio termo entre dois extremos, que, sem a observação dessa justa medida, não se alcançaria as decisões corretas. No código justiniano, a justiça se define como “vontade constante e perpétua de atribuir a cada um o que lhe é devido”, sendo que, até os dias de hoje, a noção de proporcionalidade mantém uma relação estreita com concepções jurídicas, que dão prevalência à ideia de justiça em detrimento da ideia de segurança (embora entendamos que são valores que se complementam). TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 5 Noção de proporção Para exemplificar a proporção, veja a história abaixo. Hoje, a noção de proporção encontra aplicação em quase todas as áreas do conhecimento. Recentemente, foram aplicados testes de avaliação de raciocínio matemático em vários países do mundo, sendo que a ideia de mensuração da proporcionalidade era tida como fundamental para a solução de problemas cotidianos. Infelizmente, os alunos brasileiros não foram bem nas avaliações. Voltando para o campo da juridicidade, a importância transcendente da ideia de proporção também é observada em todos os campos do direito (do direito privado ao direito penal, do direito do trabalho ao falimentar, do direito tributário ao direito internacional), sendo que as diversas aplicações são caracterizadas por um fator comum: uma estreita relação de balanceamento entre dois ou mais elementos, cuja comparaçãoseja suscetível de ponderação e de equilibrada composição. Direito público Sobre o uso da proporcionalidade no âmbito do direito público, cabem as seguintes informações: TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 No direito público, a proporção, especificamente, nasceu como conceito de derivação pretoriana para o trâmite da função criativa do juiz. Deve-se relevar que, em realidade, o princípio já estava inconscientemente enunciado em algumas elaborações doutrinais. Trata-se de um evidente sinal que era já percebido como um primogênito do princípio de justiça. Sua origem jurisprudencial mais explícita é do fim do século XIX, no ordenamento alemão (ordenamento este a quem mais se deve o desenvolvimento do princípio em termos jurídicos), sendo que sua primeira aplicação é a do paradigmático caso Kreuzberg, de 1882, que considerou ilegítimo o determinado ato administrativo estabelecido pelo Tribunal Administrativo da Prússia. Esse teria fechado estabelecimento que havia sido surpreendido vendendo álcool sem licença. Na oportunidade, a nulidade do ato administrativo se fundamentou no argumento de que a autoridade deveria ter adotado providências menos penalizantes ao ente privado. Posteriormente, o princípio começou a ser aplicado de forma esporádica pelos juízes administrativos, mas recebeu um implícito reconhecimento na Grundgesetz (Constituição Alemã), de forma a ser utilizado de modo constante e significativo pela Bundesverfarssungsgericht (Tribunal Constitucional Alemão) e, consequentemente, pelas cortes administrativas. Ordenamentos Com base na experiência alemã, o princípio foi sendo recebido por outros ordenamentos. Inicialmente, nos países de língua alemã, como Suíça e Áustria; posteriormente, em outros países, como França, Bélgica, Holanda, entre outros. A partir dos anos setenta do século passado, a Corte de Justiça da comunidade europeia elevou-o a princípio geral do ordenamento comunitário, aplicando-o constantemente. Assim, o princípio da proporcionalidade passou a ganhar ampla difusão também nos ordenamentos aonde não havia ainda conseguido TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 penetrar, inclusive em sistemas como o francês, dominado pela tradição de direito jurisprudencial pela função “objetiva” da função contenciosa e pelo princípio da lei como “anteparo” ao controle de constitucionalidade a posteriori (a França, cabe lembrar, utiliza-se, primordialmente, do controle preventivo de constitucionalidade). Setor do direito público e o conceito de proporcionalidade É no setor do direito público que o conceito de proporcionalidade encontra o próprio campo de eleição por excelência, atuando como limite harmonizante do exercício do poder, bem como instrumento idôneo para orientar, de forma eficaz, o exercício deste poder, seja na esfera legislativa, executiva ou judiciária. No direito constitucional, a proporcionalidade, especificamente, se destina a verificar a legitimidade constitucional de um dispositivo de lei, isto é, se o ato normativo posto no sistema pelo legislador estiver apto a produzir os efeitos idôneos para perseguição dos fins, por meio de um adequado balanceamento dos valores, cada vez mais comum para países que aderem a uma visão neoconstitucional. No direito administrativo, a proporcionalidade, em específico, é usada a fim de avaliar se a ação administrativa em análise está em grau de conseguir atingir o objetivo prefixado, sacrificando, da menor forma possível, os interesses que entraram no processo de ponderação. Outro uso comum é o de verificar, dentre as alternativas administrativas praticáveis, aquela que melhor “explique” a justa medida do uso do poder do Estado. Ensinamentos doutrinários de Luís Roberto Barroso Conheça mais sobre os ensinamentos de Luiz Roberto Barroso. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 8 No Brasil, seguindo ensinamentos doutrinários de Luís Roberto Barroso, inúmeros autores tratam como sinônimo os institutos do princípio da proporcionalidade e razoabilidade. Tanto doutrina quanto a jurisprudência brasileira ainda não fazem clara distinção entre os termos, embora as terminologias, por si só, já apontem ser a proporcionalidade um instituto em que a aplicabilidade de um princípio deve ser observada de forma a respeitar graus (maior ou menor) de incidência deste princípio, enquanto a razoabilidade parece propor uma relação de possibilidade/impossibilidade no que se refere à solução proposta (algo é razoável ou não). Porém, mesmo Luís Roberto Barroso, cuja primeira posição era a de que seriam institutos semelhantes, vem declarando haver uma distinção: a proporcionalidade seria uma construção do direito alemão, com um desenvolvimento dogmático mais analítico e ordenado, enquanto a razoabilidade, fundamentada no devido processo legal substantivo, teria destaque no sistema norte-americano e não demonstraria preocupação com uma formulação sistemática. De toda sorte, parece-nos preferível usar a terminologia “proporcionalidade” todas as vezes em que se analisa a existência TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 de conflito principiológico em um dado caso concreto, no qual a ponderação de valores seja um imperativo na busca da melhor solução. O controle de proporcionalidade é atualmente um dos pouquíssimos princípios gerais de justiça reconhecidos universalmente, sendo sua aplicação estendida a todos os níveis do direito, especial e obrigatoriamente em nível governamental, quando estamos diante de um Estado Democrático de Direito, que tem na justiciabilidade do sistema um imperativo incontornável. Porém, seu uso, mais ou menos alargado, depende da tradição do sistema que o aplica, pois uma utilização mais abrangente pelo Poder Judiciário, por exemplo, implica na possibilidade de um maior ativismo judicial e, consequentemente, para alguns, maiores chances de decisões arbitrárias. A proporcionalidade na jurisprudência do Supremo Para entender melhor sobre a atuação da proporcionalidade na jurisprudência do Supremo, Veja abaixo alguns exemplos. A primeira referência à ideia de princípio da proporcionalidade na jurisprudência do STF se relaciona ao RE nº 18.331, da relatoria de Orozimbo Nonato, que trata da proteção ao direito de propriedade. Na oportunidade, Orozimbo Notato considerou que o direito à taxação não pode ser de tal extensão que descaracterize o direito à propriedade e o direito de liberdade ao trabalho, ao comércio e à indústria. Posteriormente, em 1968, o STF reconheceu a inconstitucionalidade de norma constante na Lei de Segurança Nacional (Artigo 48 do Decreto-lei nº 314/67), que tornava impraticável o exercício de profissão, mesmo no âmbito privado, àquele acusado de prática contra a segurança nacional. Na oportunidade, o STF reconheceu a desproporção da sanção, por violação ao direito à vida. Mais recentemente, em caso paradigmático, já que utilizada uma metodologia mais complexa e consistente, o STF enfrentou a questão da proporcionalidade TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 10 de dispositivos constantes no direito estadual do Paraná (Lei nº 10.248/93), que fixava a exigência de pesagem, à vista do consumidor, pelos estabelecimentos de venda de gàs liquefeito, bem como devolução do valor da sobra de gás presente nos botijões ou cilindros no ato de substituição dos mencionados compartimentos. Na oportunidade, o STF entendeu, em sede de ADI (nº 855, de 01/10/93, sob a relatoria de Sepúlveda Pertence), que havia a violação do princípio da proporcionalidade, já que teria sido demonstrado,tecnicamente, que a impossibilidade da pesagem nos caminhões, bem como as sobras de gás nos compartimentos, não locupletavam as empresas distribuidoras. Posteriormente, outros casos encontraram, implícita ou explicitamente, seu fundamento de decisão no próprio princípio da proporcionalidade. De qualquer forma, a jurisprudência do Supremo vem evoluindo no sentido de reconhecer e, cada vez mais, observar a ideia de proporcionalidade em sua decisões, espraiando essa tendência para todos os demais tribunais brasileiros. Proporcionalidade e linguagem A linguística, em seu esforço de estabelecer um estudo da forma e da função da linguagem, informa-nos que as estruturas linguísticas que atuam com figuras conceituais e perceptivas permitem que determinados significados sejam expressos por intermédio de significantes polivalentes, sendo que o fenômeno se alastra de forma muito ampla no universo jurídico, como mais adiante teremos a oportunidade de confirmar. Por essa razão, podemos inferir, em uma dimensão pragmática da linguística, que o significado no qual se processa uma determinada informação pode vir impregnado de conotações múltiplas, típicas do grupo no qual aquele desencadeamento discursivo se desenvolve. Em outros termos, é com base na linguística pragmática que se verifica a utilização, a aplicação dada a TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 11 determinados signos, palavras ou locuções, quando ocorre a comunicação voltada a um segmento social, como, por exemplo, a esfera técnica do direito. Proporcionalidade no direito No direito, o recurso à pragmática vem ganhando importância no que se refere ao processo de compreensão dos signos jurídicos. O próprio significado de uma expressão normativa, como entidade linguística, invoca o emprego da pragmática para sua elucidação de forma eficaz, com a análise das relações semânticas e sintáticas existentes entre as expressões jurídicas, de forma a tentar preservar a legitimidade normativa do material em um processo que segue o quadro de racionalidade discursiva que abordamos no tópico anterior. Daí que a pragmática linguística não se contente com uma visão isolada do significante (imagem gráfica da palavra ou, simplesmente, o signo que representa um conceito), que contemplaria tão somente sua pureza literal, gramatical e, até mesmo, semântica (que cuida do valor da verdade/falsidade das proposições). Mas o direito, como ciência normativa, não se projeta no mundo como verdadeiro ou falso. A pragmática abre um campo extenso de possibilidades interpretativas e aplicativas aos significantes, rompendo com uma posição restritiva. Todavia, dizer que o significado mantém relação com contexto não significa afirmar o relativismo semântico ou, indo direto ao ponto, relativismo normativo. Pelo contrário, a consideração de regras, convenções e condições de uso excluem (ou devem excluir) a arbitrariedade, externando o processo de constituição e de alteração da significação normativa. A proporcionalidade como postulado Embora a denominação mais frequente seja “princípio da proporcionalidade”, há quem denomine o instituto jurídico objeto de estudo de “postulado da proporcionalidade”. Há, sem dúvida, utilidade em tal distinção, visto que ela se refere principalmente ao fato de diferenciar a definição de TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 12 princípio como, por exemplo, mandado de otimização (na via de Alexy), mas, também, como derivado de principium, que é aquele que toma o primeiro lugar, que inicia algo. Como postulado, é essa última conotação que deve se dar, já que a proporcionalidade não pode ser otimizada, mas, sim, aplicada em sua máxima extensão, pois ela é quem guiará o processo de ponderação, entre outros princípios quando estes estiverem em conflito. A proporcionalidade não entra em conflito com outros princípios: é ela o próprio instrumento fundamental da ponderação. Feitas as considerações citadas, continuemos nosso percurso. O postulado da proporcionalidade, na perspectiva alemã, é um mandamento de proibição do excesso como derivação natural da racionalidade do Estado Democrático de Direito; no entanto, para os americanos, é ele um corolário do princípio do devido processo legal em sua vertente substantiva (due process of law), correspondendo a uma limitação constitucional dos poderes de Estado, principalmente em face de direitos fundamentais. Conforme já mencionado, o postulado da proporcionalidade oferece um alto grau de tecnicidade para a busca do equilíbrio entre princípios em colisão, conferindo racionalidade ao processo e, consequentemente, contribuindo com a segurança jurídica, uma vez que proporciona um grau aceitável de razoabilidade ao sistema. Nesse sentido, há uma aproximação (nem sempre clara) dos ideais de justiça e segurança. Leia a descrição da primeira imagem, a seguir, para ajudá-lo a entender os critérios racionais adotados pela teoria do postulado da proporcionalidade. Nessa imagem, há um menino com cabelos pretos, calça jeans e blusa branca, que está segurando uma regra escolar de 30 cm. Essa criança tem 10 anos e está fazendo a seguinte reflexão: – Tenho 10 anos e meço 1,50 metro. Com 20 anos, vou medir 3 metros? TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 13 Agora vamos ao princípio propriamente dito. Os critérios racionais adotados pela teoria do postulado da proporcionalidade (a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito, que analisaremos adiante) estão inseridos em uma perspectiva discursiva, em busca de uma fundamentação fincada na teoria da argumentação jurídica, principalmente quando se tratar de decisão do Poder Judiciário. Diversos fatores devem ser observados para que os pronunciamentos possam estar corretamente justificados, ou seja, adequados às razões exteriorizadas no sistema jurídico. Assim, esses critérios metodológicos buscam as razões materiais constantes no ordenamento para, diante das posições jurídicas, bens, interesses e valores compreendidos no âmbito protetivo do direito submetido à restrição por uma colisão constatada, promover a concordância prática. Considera-se que não só nas decisões concretas, mas mesmo no controle abstrato de normas, há um campo aberto, franqueável ao operador, pois, excetuando casos em que a invalidade é por demais evidente, a manifestação do caso concreto parece colocar em evidência as particularidades da norma sob exame, abrindo-se esta para verificações mais abrangentes, onde o juízo de validade/invalidade é determinado a partir de uma avaliação racional. Coerentemente, na perspectiva de Alexy – na qual é acompanhado por numerosa doutrina, principalmente entre muitos daqueles que aderem a uma perspectiva de análise neoconstitucional –, as normas que exprimem o dever ser ideal que se infere de cada disposição de direito fundamental são princípios, enquanto as regras traduzem o dever ser real. Dever ser ideal é aquele que não pressupõe que o devido seja possível jurídica e faticamente em sua totalidade, mas obriga a maior medida possível de seu cumprimento aproximado (a ideia de mandado de otimização a que nos referimos mais acima). O princípio anuncia somente um ideal, que dificilmente coincidirá com o real, embora pretenda sempre que o real se aproxime ao máximo deste referido ideal. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 14 Critérios do postulado Hoje, bastante reconhecida é a metodologia utilizada por Robert Alexy, que subdivide o princípio da constitucionalidade em três subprincípios (adequação, necessidade e proporcionalidade strictosensu), estabelecendo um iter para alcançar a melhor solução. No caso em pauta, os três subprincípios representam passos metodológicos em direção à solução ótima do caso concreto. Esses passos metodológicos visam evitar a ruptura no equilíbrio estabelecido pela Constituição, equilíbrio este que permite e estimula a ponderação de seus princípios. Sucessivamente aplicados, os critérios objetivam estabelecer a providência proporcional, a justa medida entre as antinomias em confronto, diante das possibilidades fáticas, jurídicas e axiológicas (vejam que estamos a tratar das três dimensões do direito). Dessa forma, em alguma medida, a proporcionalidade comporta uma dimensão conectada à ideia de justiça material, não se limitando a uma conotação meramente procedimental/formal. Para tanto, o postulado da proporcionalidade não dispensa uma estrutura argumentativa correta e válida. De antemão, o cumprimento dessa exigência pode ser imputado à universalidade de seus critérios, o que nos leva a reafirmar a importância do conceito kantiano de racionalidade prática no processo construtivo de outra espécie de racionalidade, em maior consonância TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 15 com as necessidades sistêmicas. Contudo, esta não nos parece ser suficiente para garantir a segurança jurídica que se espera do postulado. Por isso, exige-se esforços do operador, no sentido de que, ao aplicar os critérios, externe ele não só a fórmula procedimental, mas também os argumentos materiais fundamentadores das conclusões atingidas em cada fase ultrapassada. Subprincípios A transparência de razões é de grande importância no processo, compreendendo estas partes como necessidade de fundamentação normativa, bem como análise de fatores axiológicos, ideológicos e teleológicos inspiradores da ordem constitucional, e que foram privilegiados no processo decisório para encontrar o resultado ótimo. Analisemos cada um dos “subprincípios” clicando em cada título abaixo. Adequação O critério da adequação decorre da necessidade de que a medida proposta seja apropriada às finalidades almejadas. Indaga tal critério se a medida adotada pelo Estado é adequada à obtenção do fim perseguido. Como explica Alexy, a medida Estatal M1 deve se mostrar apta a produzir o fim F, exigido pelo princípio P1; do contrário, está fulminada. Por intermédio do critério da adequação, analisamos se determinados meios são aptos, adequados, idôneos a realizar o fim principiológico, ou seja, se a adoção de um meio específico levará consequentemente à produção daquele fim objetivado. Necessidade O critério da necessidade, por sua vez, configura-se como uma implicação lógica da positivação constitucional de mais de uma norma principiológica. Essa multiplicidade de princípios pode ocasionar antinomias diante do caso concreto, com a restrição a princípios jusfundamentais em virtude da implantação de meios para satisfazer outros interesses. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 16 Essas incompatibilidades devem ser resolvidas com adoção de providências que promovam a concordância prática entre os fins principiológicos, visto que todos não só merecem igual proteção, como são portadores de semelhante força normativa expansiva. A necessidade reside basicamente nessa exigência sistêmica ou, mais sinteticamente, demonstrar que a escolha adequada é, também, comparada com outras possíveis alternativas; ainda assim, é a mais eficaz e a menos gravosa para o destinatário da norma. Tal como o critério da adequação, a necessidade está fortemente relacionada ao plano fático, embora também demande análises tipicamente jurídicas. Envolve a comparação de meios alternativos àquele primeiramente indicado pelo operador, já considerado adequado e que, tal como este, consiga promover o fim principiologicamente objetivado. Leia descrição de uma segunda imagem, a seguir, para ajudá-lo para entender um pouco mais sobre o subprincípio necessidade. Em uma sala de aula, a professora entregou uma tabela dividida em duas colunas: em uma, estava escrita a palavra “aranha”; em outra, lia-se “pernas”. – Completem essa tabela com o seguinte pensamento: se uma aranha tem oito pernas, quantas pernas têm duas aranhas? E três? Após esse questionamento, uma criança começou a fazer muitos palitinhos e a contar até 16. E esse menino deu a resposta: – Duas aranhas, juntas, possuem 16 pernas. Nesse momento, a professora fez a seguinte pergunta: – Mas você não vai se cansar de fazer tantos tracinhos? Imagine quando for representar as pernas de 10 aranhas? Alguém tem outra ideia? Outra criança responde: – Eu sei: 8 + 8=16; 16+8=24. É só somar 8. – E vocês notaram que, conforme aumenta o número de aranha, é maior também o número de pernas? – perguntou a professora. – É verdade – responde uma criança. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 17 Para concluir, a professora fala: – Agora, respondam: se, em cinco carros, temos 20 rodas, quantas rodas existem em 10 carros? Determinado aluno pergunta: – Professora, preciso montar outra tabela? Outra criança responde: – Acho que não, porque, se 10 carros são o dobro de 5, então o resultado são 40 rodas, porque este é o dobro de 20! Agora vamos ao subprincípio necessidade, propriamente dito. Parte da indagação referente à necessidade de implementação do meio adequado com o intuito de defender, proteger ou promover um direito fundamental, acaba por causar, como efeito paralelo, uma restrição do conteúdo de um direito fundamental ou bem jurídico de índole constitucional diverso. Por isso, uma reflexão que enfoque apenas o fator empírico, com o objetivo de se avaliar se o efeito colateral é mais ou menos prejudicial, parece-nos insuficiente. Nessa esteira, a necessidade exige, portanto, que sejam disponibilizadas todas as alternativas adequadas aptas a promover a finalidade principiológica, a fim de que, analisada a primeira alternativa, fique verificado se os meios alternativos (adequados, portanto) reduzem a abrangência do interesse sub examen ou outro interesse relevante juridicamente, colateralmente afetado. Diante dessa equação, o que observamos é que o meio necessário será aquele que, apesar de causar efeitos nocivos em um princípio colidente, se mostrar, ao final, o menos restritivo, causando, assim, menor impacto prejudicial. A necessidade decorre, por um lado, da indispensabilidade da adoção da providência. Contudo, esse conceito se mostra mais inteligível quando o contextualizamos inversamente: um meio é desnecessário quando promove uma agressão maior do que a necessária para a realização do fim principiológico, de forma que não TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 18 satisfaça o elemento necessidade a todas as medidas que não sejam as menos gravosas possíveis para o indivíduo. Proporcionalidade em sentido estrito Na última etapa do postulado da proporcionalidade, passamos a analisar a proporcionalidade em sentido estrito, que impõe que o resultado obtido seja capaz de trazer um benefício maior do que o ônus imposto pela medida. Mais claramente: não basta tão somente que se atinja o resultado almejado, mas só se justifica o meio de intervenção proposto pela norma se o resultado obtido atinge uma melhora real na situação de garantia de direitos de indivíduo. Para tanto, o exame da proporcionalidade em sentido estrito determina-se por meio de uma comparação entre a importância da realização do fim principiológico e as restrições que foram impostas em outros domínios tutelados para que aquele fosse assegurado.Trata-se, por um lado, do cumprimento de um mandado constitucional de ponderação de bens entre a gravidade ou intensidade de intervenção deste último e, por outro, o peso das razões que a justificam, ou seja, a relevância do fim principiológico, figurando como pano de fundo o sistema constitucional positivado e seus demais princípios. Para isso, devemos verificar a importância material no sistema constitucional dos direitos, bens e interesses em pauta para que cheguemos ao peso em abstrato destes. Quanto maior for o relevo material de um princípio constitucional dentro do sistema, maior será seu peso no processo de ponderação. O passo a seguir é a análise não só do grau de restrição, mas, também, do grau de satisfação dessas mesmas grandezas individualizadamente analisadas. Diante das avaliações individualizadas, indaga-se: o grau de importância da promoção do fim justifica o grau da restrição causada? Em outros termos: as vantagens obtidas com a promoção do meio são proporcionais às desvantagens daí oriundas, de forma que a valia da realização do fim corresponda à desvalia TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 19 da restrição causada? O resultado surge da relação entre os benefícios e os sacrifícios. Críticas a esse método são sempre realizadas. A verdade é que, apesar do processo de ponderação de valores mostrar-se alicerçado sobre razões justificantes de jaez material, não há como nos furtarmos completamente dos posicionamentos particularizados dos operadores, cuja racionalidade pode escapar a um conjunto de razões taxativamente selecionadas. Por isso, há quem entenda que, por exemplo, no processo interpretativo constitucional, deve-se reconhecer a natureza constitutiva (e não a declaratória), já que o significado da norma seria uma produção do intérprete. Conclusão Como se pode observar, a metodologia do princípio da proporcionalidade não é simples. Pelo contrário, é de alta complexidade. Embora, na prática, haja uma grande dificuldade em sua aplicação, não se pode deixar de observar que o grande mérito da utilização do princípio da proporcionalidade e, mais especificamente, da metodologia acima apresentada, é que o intérprete, no ato de motivação de suas escolhas, é o responsável por explicitar os motivos pelo qual estabeleceu suas preferências, permitindo que as decisões proferidas permitam o devido controle por parte, não só dos atores do campo jurídico, mas, também, da sociedade como um todo, principalmente quando estão em jogo a defesa de direitos fundamentais e os critérios de justiça a que o direito não pode se desconectar (daí a utilização mais ampla pelos que aderem às posições neoconstitucionais). A nossa Corte, atenta às dificuldades que surgem dia a dia, fruto da demanda de uma sociedade cada vez mais complexa, vem atuando de forma cada vez mais próxima a esse postulado, verdadeiro ícone do ideal de justiça, perseguido por todo Estado Constitucional de Direito e que, hoje, é instrumento incontornável do sistema de justiça de vários Estados que se utilizam de concepções neoconstitucionais como filtro teórico de suas ordens jurídicas. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 20 Atividade proposta A proporcionalidade remete-se a uma raiz conceitual matemática. Todavia, nos dias de hoje, parece estar plenamente vinculada a uma concepção jurídica. Em que sentido a proporcionalidade vem conseguindo vincular as ideias de justiça e direito no plano neoconstitucional brasileiro? Chave de resposta: Em uma perspectiva jurídica neoconstitucional, a proporcionalidade, como justo meio entre extremos, busca vincular a solução jurídica aplicável a um ideal de justiça que não mais se prende à mera aplicação da regra previamente estabelecida, mas, sim, à ideia de ponderar os princípios jurídicos em conflito, construindo a regra aplicável ao caso concreto de forma a contemplar, nesse caso, menos a ideia de segurança e mais a ideia de justiça. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 21 Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre o direito público, leia o artigo O princípio da proporcionalidade na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: novas leituras, disponível em nossa biblioteca virtual, e faça uma análise do conteúdo estudado e do artigo, pois estas informações serão importantes complementações para seu crescimento profissional. Referências SANTOS, Gustavo Ferreira. O princípio da proporcionalidade na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: Limites e possibilidades. Rio de Janeiro, Lumen Iuris, 2004. STEINMETZ, Wilson Antônio. Colisão de Direitos Fundamentais e princípio da proporcionalidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. SARMENTO, Daniel. A ponderação de Interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2003. CARBONELL, Miguel (Coord.) El princípio de proporcionalidade en el Estado constitucional. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2007. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 22 Exercícios de fixação Questão 1 Sobre o princípio da proporcionalidade, leia as assertivas abaixo: I – É um conceito originário do direito e que, posteriormente, foi “exportado para a matemática e outras ciências sociais”. II – É importante instrumento de verificação da legitimidade constitucional de uma determinada norma constitucional, principalmente nas atuais concepções neoconstitucionais, ao servir de parâmetro no caso de balanceamento dos valores em colisão. III – Em razão da natureza do direito constitucional, mais aberto e menos denso que as demais áreas do direito, o princípio da proporcionalidade é usado tão somente para ponderação em sede constitucional, não sendo possível ser utilizado nas demais áreas do direito. IV – O Estado Democrático de Direito, por suas características essenciais, exige, de forma incontornável, o uso da proporcionalidade como instrumento propiciador de um sistema jurídico justo. Estão corretas: a) As assertivas I e II b) As assertivas II e III c) As assertivas I e III d) As assertivas II e IV Questão 2 O princípio da proporcionalidade, como princípio jurídico fundante da ordem jurídica, tem sua origem explicitamente apresentada: a) Na jurisprudência de tribunal americano TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 23 b) Na jurisprudência do STF c) Na jurisprudência do Supremo Tribunal Constitucional alemão d) Na jurisprudência alemã Questão 3 Sabe-se que o princípio da proporcionalidade é um instrumento desenvolvido pela doutrina alemã, sendo largamente utilizado pela Corte germânica. Sobre a utilização do princípio da proporcionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, é possível afirmar: a) Trata-se de um instituto alemão, ainda não aceito pelo STF. b) O princípio da proporcionalidade vem sendo crescentemente utilizado pelo STF, inclusive no âmbito do controle de constitucionalidade de normas subconstitucionais. c) É um princípio já utilizado pela Corte brasileira, mas em claro desuso, dado o grau de subjetividade que seus juízos geram. d) É um princípio que só foi utilizado pelo STF a partir da Carta de 1988, já que as Constituições anteriores não o previam. Questão 4 Sobre a questão do uso das terminologias “princípio da proporcionalidade” e “princípio da razoabilidade”, é INCORRETO afirmar que: a) Não existe nenhuma polêmica envolvendo o tema, sendo correto utilizar qualquer uma das duas terminologias como sinônimas. b) Trata-se de uma questão polêmica, sendo que, hoje, já se começa a buscar uma distinção entre as expressões.TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 24 c) A expressão “princípio da razoabilidade” está mais vinculada ao sistema jurídico americano, enquanto a expressão “princípio da proporcionalidade” está relacionada ao sistema jurídico alemão. d) A doutrina e a jurisprudência brasileira ainda não utiliza uma clara linha de distinção entre os termos, embora caminhem nesta direção. Questão 5 Analise as assertivas abaixo: I – O STF, a partir de uma lógica preferencialmente positivista, prefere não se utilizar do parâmetro da proporcionalidade nos processo de produção de suas decisões. II – A proporcionalidade é princípio metodológico inafastável no processo de utilização da ponderação de valores pelo STF. III – A proporcionalidade não é princípio admitido pelo STF, dada a incerteza dos resultados que produz quando não há regra definida para a solução do caso concreto. Diante das afirmações acima, é possível afirmar que está(ão) correta(s): a) Somente a assertiva I b) Somente a assertiva II c) Somente a assertiva III d) Todas as assertivas Questão 6 A metodologia utilizada por Robert Alexy para tratar de hard cases em que seja necessária a utilização do princípio da constitucionalidade se subdivide nos seguintes subprincípios, EXCETO: TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 25 a) Necessidade b) Proporcionalidade stricto sensu c) Proporcionalidade lato sensu d) Adequação Questão 7 No que se refere ao subprincípio da adequação, assinale a característica que não se coaduna com ele: a) Decorre da necessidade de que a medida proposta seja apropriada às finalidades almejadas. b) Analisa se determinados meios são aptos, adequados e idôneos a realizar o fim principiológico. c) Refere-se uma implicação lógica da positivação constitucional de mais de uma norma principiológica. d) Avalia se a adoção de um meio específico levará, consequentemente, à produção de um fim objetivado. Questão 8 No que se refere ao subprincípio da necessidade, assinale a característica que não se coaduna com ele: a) Decorre da necessidade de que a medida proposta seja apropriada às finalidades almejadas. b) O meio necessário será aquele que, apesar de causar efeitos nocivos em um princípio colidente, ao final, se mostrar o menos restritivo, causando, assim, menor impacto prejudicial. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 26 c) Demonstra que a escolha adequada é também comparada com outras possíveis alternativas, ainda assim, a mais eficaz e a menos gravosa para o destinatário da norma. d) Envolve a comparação de meios alternativos àquele primeiramente indicado pelo operador. Questão 9 No que se refere ao subprincípio da proporcionalidade stricto sensu, assinale a característica que não se coaduna com ele: a) Exige que se atinja o resultado almejado, mas só se justifica o meio de intervenção proposto pela norma se o resultado obtido atinge uma melhora real na situação de garantia de direitos de indivíduo. b) Determina-se por meio de uma comparação entre a importância da realização do fim principiológico e as restrições que foram impostas em outros domínios tutelados para que aquele fosse assegurado. c) Demonstra que a escolha adequada é, também, comparada com outras possíveis alternativas, a mais eficaz e a menos gravosa para o destinatário da norma. d) Por uma parte, revela o cumprimento de um mandado constitucional de ponderação de bens entre a gravidade ou intensidade de intervenção deste último e, por outra, o peso das razões que a justificam, ou seja, a relevância do fim principiológico. Questão 10 No que se refere ao princípio da proporcionalidade e seus subprincípios, analise as assertivas que seguem: I – O postulado da proporcionalidade exige uma estrutura argumentativa correta e válida. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 27 II – Os passos metodológicos visam evitar a ruptura no equilíbrio estabelecido pela Constituição, equilíbrio este que justamente permite e estimula a ponderação de seus princípios. Sobre as assertivas acima, marque a resposta que revela a veracidade ou falsidade delas: a) Ambas as assertivas estão corretas b) Ambas as assertivas estão erradas c) A assertiva I está correta e a assertiva II está incorreta d) A assertiva I está incorreta e a assertiva II está correta Exercícios de fixação Questão 1 - D Justificativa: A assertiva I está errada, porque o princípio da proporcionalidade é um instituto originário da matemática e só, posteriormente, foi importado pelo direito. A assertiva III está incorreta, pois o princípio da proporcionalidade é um instituto que deve ser aplicada em todas as áreas do direito, e não apenas no Direito Constitucional. Questão 2 - D Justificativa: Como visto, sua origem é jurisprudencial, mais propriamente estabelecida no fim do século XIX, no ordenamento alemão (ordenamento este a quem mais se deve o desenvolvimento do princípio em termos jurídicos), sendo que sua primeira aplicação é a do paradigmático caso Kreuzberg, de 1882, que considerou ilegítimo determinado ato administrativo estabelecido por Tribunal Administrativo da Prússia. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 28 Questão 3 - B Justificativa: Como foi dito, a jurisprudência do Supremo vem evoluindo no sentido de reconhecer e, cada vez mais, observar a ideia de proporcionalidade em suas decisões, espraiando esta tendência para todos os demais tribunais brasileiros. Questão 4 - A Justificativa: No Brasil, inúmeros autores tratam como sinônimo os institutos do princípio da proporcionalidade e razoabilidade, sendo que tanto a doutrina quanto a jurisprudência brasileira ainda não fazem clara de distinção entre os termos. Porém, as terminologias, por si só, já apontam que a proporcionalidade é um instituto em que a aplicabilidade de um princípio deve ser observada de forma a respeitar graus (maior ou menor) de incidência deste princípio, enquanto a razoabilidade parece propor uma relação de possibilidade/impossibilidade no que se refere à solução proposta (algo é razoável ou não). Luís Roberto Barroso, cuja primeira posição era a de que seriam institutos semelhantes, vem declarando haver uma distinção: a proporcionalidade seria uma construção do direito alemão com um desenvolvimento dogmático mais analítico e ordenado, enquanto a razoabilidade, fundamentada no devido processo legal substantivo, teria destaque no sistema norte-americano e não demonstraria preocupação com uma formulação sistemática. De toda sorte, parece-nos preferível usar a terminologia “proporcionalidade” todas as vezes em que se analisa a existência de conflito principiológico em um dado caso concreto, no qual a ponderação de valores seja um imperativo na busca da melhor solução. Questão 5 - B Justificativa: A assertiva I está errada, já que o STF tem, crescentemente, se utilizado de uma lógica neoconstitucional, em que o uso da proporcionalidade é uma exigência. Na assertiva III, o uso da proporcionalidade visa exatamente mitigar o grau de incerteza que a ausência de norma costuma produzir. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 29 Questão 6 - C Justificativa: iter metodológico possui os seguintes passos: subprincípio da adequação, subprincípio da necessidade e, por fim, o subprincípio da proporcionalidade stricto sensu. Questão 7 - C Justificativa: Essa característica diz respeito ao subprincípio da necessidade. Questão 8 - A Justificativa: Essa característica diz respeito ao subprincípio da adequação. Questão 9 - C Justificativa:Essa característica diz respeito ao subprincípio da necessidade. Questão 10 - A Justificativa: Ambas as assertivas estão corretas e são fundamentais para que se configure a proporcionalidade. Ligada ao princípio da justiça, a proporcionalidade envolve, necessariamente, a ponderação de valores e uma estrutura argumentativa válida e que preze a correção dos motivos em jogo.
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