Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 1 Aula 1: Princípios constitucionais tributários ................................................................................ 2 ............................................................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................................................ 3 Conteúdo Princípios constitucionais vinculados ao valor segurança jurídica ......................... 3 Princípio da Legalidade .................................................................................................... 4 Princípio da Irretroatividade ............................................................................................ 8 Princípio da Anterioridade ............................................................................................. 10 Princípio da Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima ou Mitigada ... 11 Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça ............................................. 11 Princípios constitucionais vinculados aos valores liberdade e federalismo ........ 17 Atividade proposta .......................................................................................................... 22 ....................................................................................................................... 23 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 23 Referências ......................................................................................................... 24 Exercícios de fixação Notas ........................................................................................................................................... 31 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 31 ..................................................................................................................................... 31 Aula 1 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 31 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 2 Introdução A Suprema Corte Brasileira sofre de uma verdadeira enxurrada de processos judiciais. De fato, poucos acreditam que uma corte superior possa avaliar tantos processos em um ano. O curioso, entretanto, é que o maior responsável pela quantidade de processos não é outro senão o próprio Estado. E isso se dá pelo fato de que o Estado, ansiando por uma grande tributação, pratica inconstitucionalidades de grande porte. Eu o desafio a separar as súmulas por temas e procurar identificar aquelas que afrontam cada capítulo de nossa Constituição. Certamente, o capítulo com o maior número de enunciados é o Sistema Tributário Nacional. Em razão disso, começamos o nosso estudo enfrentando o maior problema, o direito mais violado em nosso ordenamento jurídico: as limitações constitucionais ao poder de tributar. Objetivo: 1. Identificar os princípios constitucionais tributários vinculados ao valor segurança jurídica e seus aspectos mais relevantes; 2. Examinar os princípios constitucionais tributários vinculados ao valor justiça e suas principais controvérsias e dificuldades de efetivação; 3. Explorar os princípios constitucionais tributários vinculados aos valores liberdade e federalismo e suas aplicações práticas. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 3 Conteúdo Princípios constitucionais vinculados ao valor segurança jurídica Uma das atividades mais importantes para aqueles que se aventuram no mundo dos negócios é a precificação de seus produtos e serviços. Para isso, você conta com a previsão de seus custos com fornecedores, mão de obra e, naturalmente, com a carga tributária. Imagine como seria se você firmasse um contrato para a prestação de um serviço. Imagine, ainda, que, se depois de firmado o negócio, após você ter entregue, por exemplo, a mercadoria ao cliente e ele ter efetuado o pagamento, fosse publicada uma lei que duplicasse o valor do tributo. Isso é a insegurança que, trazida para o Direito, é denominada insegurança jurídica. Cada ramo do Direito tem a sua forma de limitar ou evitar a insegurança jurídica. No Direito Tributário, temos como resultado, genericamente, três grandes princípios: Legalidade; Tipicidade; Não surpresa. Tais princípios, estendidos, correspondem a cinco normas princípios: Legalidade; Tipicidade; Irretroatividade; Anterioridade; Noventena. Fique ciente que estamos estudando a partir do pressuposto de que “a natureza jurídica das limitações ao poder de tributar é de garantia constitucional” (CARNEIRO, 2012, p. 386). SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 4 Princípio da Legalidade Conheça, a seguir, cada um dos princípios constitucionais, começando pelo da Legalidade: 1 – Legalidade João, conhecido como João Sem Terra, foi rei da Inglaterra de 1199 a 1216. Seu reinado sofreu de grande ataques militares em guerras com a França, que deixaram suas contas bastante deficitárias. Como recurso para reforçar seu exército e seu reino de forma geral, aumentava tributos, o que deixava os barões bastante insatisfeitos. Assim, para tentar um acordo com os barões, se viu forçado a assinar um dos documentos mais famosos de toda a história, a Magna Carta. Nela, dentre outros compromissos, havia o de somente cobrar os tributos que fossem aprovados por lei, ou seja, submetidos ao parlamento, que era, também, composto pelos próprios barões. Essa regra vige até hoje e é assim que se criam os tributos, na forma do Artigo 150, I, da Constituição da República. E apenas para não nos esquecermos: lei é ato normativo genérico, abstrato, coercitivo, resultado de um processo legislativo constitucionalmente estabelecido. Assim, não podemos entender como lei qualquer ato normativo, mas somente aqueles previstos na própria Constituição, no Artigo 59, como capazes de inovar no mundo jurídico, criando novos direitos e obrigações. Aliás, que tipo de lei é essa? Como regra, a criação de tributos se dá por lei ordinária. Ao contrário do que muitos estudantes do Direito acabam por decorar, a criação de tributos não será objeto de lei complementar. A lei complementar tem como principal função o estabelecimento de normas gerais, ou seja, aquelas que estabelecem um padrão de comportamento a ser SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 5 observado por todos os entes federativos na fiscalização e cobrança de qualquer tributo, salvo exceções fixadas em leis específicas. Os tributos que serão criados por lei complementar são: • Os empréstimos compulsórios (Artigo 148 da CR); • O imposto sobre grandes fortunas (Artigo 153, VII, da CR); • Os impostos residuais (Artigo 154, I, da CR); • As contribuições da seguridade social residuais (Artigo 195, §4º, da CR). Dos desdobramentos do Princípio da Legalidade Conheça, abaixo, alguns pontos inerentes ao princípio em questão. Concessão de benefícios fiscais Na dicção do Artigo 150, I, da Constituição, a limitação imposta traz garantia ao contribuinte. E a pergunta que lhe faço é: você precisaria ser protegido contra uma redução ou extinção de tributo? Já antecipo a resposta que tenho certeza que você me deu: não! Afinal, ninguém reclama de boas surpresas. Então, poderia parecer que, para reduzir-se um tributo, bastaria a edição de qualquer ato normativo. Mas isso só nãoé correto porque a Constituição traz no §6º do mesmo Artigo a exigência de lei específica para concessão de qualquer benefício ao contribuinte. Medida provisória Ainda outro ponto, que há muito se discutiu, é a possibilidade de medida provisória criar ou aumentar tributo. Medida provisória não é lei. Mas tem força de lei. Sendo assim, como ficamos? A insatisfação poderia surgir do fato de que a medida provisória é ato normativo editado diretamente pelo Executivo e que já começa a produzir efeitos antes mesmo de qualquer chancela do Legislativo – poder que representa a vontade do povo na criação de atos normativos. Mas o STF nunca reconheceu nenhuma inconstitucionalidade em medida provisória e, recorrentemente, temos novas medidas provisórias sobre a matéria. Aliás, a Emenda Constitucional nº 32/2001, que introduziu novas regras relativas à SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 6 medida provisória, estabelece a sua possibilidade e aplicação. O texto poderia ser inconstitucional, já que o poder de reforma da Constituição não é ilimitado, mas, como dito, tal inconstitucionalidade nunca foi afirmada pelo STF. Exceções Um último ponto a tratarmos sobre a Legalidade é que há exceções. Mas devemos entender, antes, as razões dessas exceções. Como será tratado na próxima aula, nem todos os impostos têm função arrecadatória, nem todos se prestam a prover, simplesmente, dinheiro aos cofres públicos. Alguns tributos têm a função de intervir na economia, de servir de instrumento de política pública. Assim é com os impostos sobre o comércio exterior (importação e exportação), sobre produtos industrializados e sobre operações financeiras. E, nesse sentido, caso fosse necessária a publicação de uma lei para qualquer aumento ou redução em suas alíquotas, considerando a quantidade de leis que ocupam a jornada do Legislativo, essas alterações somente seriam aprovadas depois de a intervenção não mais ser necessária. É por isso que os quatro impostos acima relatados são, na forma do Artigo 153, §1º, da CR, verdadeiras exceções à legalidade. Mas isso só no que diz respeito às suas alíquotas, ou seja, o percentual correspondente. Todos os outros elementos desses tributos deverão ser fixados por lei. Princípio da Tipicidade 2 – Tipicidade Na doutrina alemã, desenvolveu-se outro princípio, que não encontra previsão expressa em nossa Constituição. É o princípio da tipicidade. Tipo é a descrição legal da situação que deverá ocorrer para que os efeitos nela previstos sejam aplicados. Em matéria de tributos, é correto afirmar que o tipo tributário é composto pelos elementos da obrigação tributária (que serão vistos na próxima disciplina, mas que aqui já adiantamos): aspecto material, temporal, espacial, subjetivos e quantitativos; ou seja, o que precisa ocorrer, quando se considera isto ocorrido, onde se considera isto ocorrido, quem pagará, a quem, e o quanto. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 7 Esse princípio possui alguns pontos importantes a serem discutidos. Vejamos a seguir: Obrigações acessórias e prazos O Princípio da Legalidade se aplica aos elementos do tipo tributário. E como não são elementos do tipo tributário, o prazo e as denominadas obrigações acessórias do Artigo 113, §2º, do CTN (Código Tributário Nacional) podem ser, em princípio, alterados por qualquer ato normativo. Mas por que “em princípio”? Porque não podemos esquecer que se, de algum modo, a regra relativa à obrigação acessória interferir em prejuízo do particular na obrigação principal, aquela deverá se submeter a todos os princípios e regras aplicáveis à esta. Isso é bastante comum com as regras relativas à escrituração do ICMS, com vistas a garantir a não cumulatividade, o que veremos mais adiante. Tipicidade aberta ou fechada Entender o que é tipicidade não deve ser algo difícil, como vimos. O problema que surge refere-se à linguagem: o tipo tributário admitirá conceitos legais indeterminados e normas em branco. Vejamos o que é cada um desses institutos. O conceito legal indeterminado é o recurso utilizado pelo legislador que transfere ao intérprete o dever de complementar a lei. Assim, o legislador se utiliza de palavras que, por si só, possuem um significado amplo, inexato. É o caso, por exemplo, de imóvel rural. Imóvel rural é aquele localizado em área rural ou é aquele cuja utilização tem características rurais? Você percebeu como a expressão permite mais de uma interpretação? E isso gera problemas? É claro! Há uma grande controvérsia, que será vista em uma próxima disciplina, sobre quando deve incidir ITR e quando deve incidir IPTU. A norma em branco é aquela que se utiliza do recurso de permitir que venha ela a ser complementada por outro ato normativo – no mais das vezes, ato SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 8 normativo de hierarquia inferior; por exemplo, um decreto ou uma resolução. Em matéria tributária, podemos, de certa forma, afirmar que a tabela do IPI não deixa de ser uma norma que complementa a lei ordinária que institui o IPI. Atenção Na prática, acaba valendo a tipicidade aberta. Não é, em verdade, possível conviver sem os conceitos legais indeterminados. Até seria possível abrir mão das normas em branco. Mas quando a linguagem cria obstáculos ao legislador, eles costumam ser bem difíceis de serem ultrapassados. Assim, o uso de expressões abertas é um recurso indissociável da atividade legislativa. Princípio da Irretroatividade 3 – Irretroatividade Não basta, para a segurança, que o tributo seja fixado por lei. Até porque a lei poderia criar regras para situações já ocorridas e isto traria uma grande insegurança. Então, o Artigo 150, III, a, da Constituição determina que as leis somente podem alcançar fatos geradores/situações que ocorrem na vigência que os instituiu ou aumentou. Note bem um detalhe que difere do Princípio da Legalidade: aqui, a redução de tributo pode alcançar fato que ocorreu antes. É claro que se a Constituição não trouxer regra que o proíba (e não há), a lei pode fixar tratamento mais benéfico para situação anterior. Princípio da Irretroatividade Assim como os demais princípios vistos até aqui, esse possui pontos a serem destacados. Vejamos a seguir: SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 9 Exceções Há exceções à irretroatividade? Em verdade, não. Poderia parecer, pela leitura do Artigo 106 do Código Tributário Nacional, que há exceções. Abra seu código agora e faça a leitura do artigo. No primeiro inciso, temos a lei interpretativa. O que é uma lei interpretativa? É aquela que, ao invés de trazer um novo direito ou uma nova obrigação, traz apenas uma definição, uma classificação. E como ela não traz nem direito nem obrigação novos, não se submete à irretroatividade, pois não onera ninguém. No inciso II, a irretroatividade não diz respeito, em verdade, a uma norma tributária, e, sim, a uma norma penal. Estabelece, ele, que a lei que reduz penalidade ou traz qualquer outro tratamento mais benéfico ao infrator alcançará infrações já praticadas. Imposto de renda Mas, de tudo isso, o que traz maior perplexidade no estudo desse princípio é a análise da Súmula nº 584 do STF. O fato gerador do imposto de renda é definido, por muitos doutrinadores, como complexivo ou periódico (formado por um conjunto de fatos ocorridos ao longo de determinado período – a saber, 1º de janeiro a 31 de dezembro). Caso uma lei entre em vigor em qualquer outro dia que não 1º de janeiro, a pergunta lançada é: qual é a lei aplicável ao imposto de renda? A antiga, até quefeche o ano? A nova, a partir da sua vigência? A nova para o ano todo? De acordo com o Artigo 105 do CTN, parece-nos que a lei nova seria aplicável retroagindo a 1º de janeiro do mesmo ano em que entra em vigor. Mas isso viola, flagrantemente, o princípio da irretroatividade. Pela Súmula nº 584 do STF, a solução é ainda mais gravosa para o contribuinte. Ela determina que seja aplicada a lei que estiver em vigor, não no ano da ocorrência do fato, mas no ano em que deve ser feita a declaração. É isso mesmo que você está lendo! Aos rendimentos que você tem recebido, será aplicada a lei que estiver em vigor no ano que vem! O que deve prevalecer é a aplicação do Artigo 150, III, SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 10 a, CR. A lei nova somente poderá alcançar fato que tenha tido início, meio e fim sob sua vigência. Princípio da Anterioridade 4 – Anterioridade Se refletirmos sobre o propósito de garantir segurança jurídica ao contribuinte, tão somente Legalidade mais Irretroatividade não produzem um resultado satisfatório. Imagine você firmar um contrato, contando com uma carga tributária tal e, amanhã, ser publicada (com vigência imediata) uma lei que duplique esta carga tributária. Ainda assim, haveria insegurança. É por isso que o ordenamento jurídico brasileiro conta com o Princípio da Anterioridade – a lei que cria ou aumenta um tributo deve ser publicada até o ano anterior para que possa ser aplicada. Anualidade Mas nem sempre foi assim; ou melhor, nem sempre que se quis garantir esse reforço à segurança jurídica, se fez pelo princípio da anterioridade. O outro recurso era o princípio da anualidade tributária, que consistia na exigência de uma autorização no orçamento anual para que, naquele ano, o tributo pudesse ser cobrado. Dessa maneira, a ausência de previsão orçamentária impedia a cobrança do tributo naquele ano. Se você quiser, pode confirmar: a nossa Constituição não trata do princípio da anualidade. Este princípio esteve presente na Constituição de 1824, 1946 (até ser revogado pela EC nº 18/65) e 1967 (até ser também revogado pela EC nº 1/69). Exceções Você viu que a legalidade tem exceções por conta da extrafiscalidade? O mesmo ocorre com a anterioridade, tanto para os casos de extrafiscalidade como para os casos de urgência. As exceções se encontram listadas nos seguintes artigos da Constituição de 1988: Artigo 150, §1º, primeira parte; Artigo 195, §6º; Artigo 177, §4º, I, b; e Artigo 155, §4º, IV, c. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 11 Princípio da Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima ou Mitigada 5 – Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima ou Mitigada O legislador brasileiro não foge à fama e, comumente, deixa tudo para a última hora. Não raro, somos surpreendidos com uma verdadeira enxurrada de leis tributárias no mês de dezembro. Como a surpresa do contribuinte tem, de certa forma, data marcada, o fluxo negocial pode ser interrompido, visto que o prudente evitaria firmar contratos no final do ano. Foi por isso que a Constituição mereceu, em 2003, um pequeno reparo. A EC nº 42/03 incluiu no Artigo 150, III, a alínea “c”, que exige, para além da irretroatividade e da anterioridade, um prazo de 90 dias a contar da publicação, para que a lei possa ser aplicada. Não se esqueça que isto é um plus à anterioridade. Leis publicadas no início do ano nem precisam da noventena, só aquelas do final do ano ou os casos de exceção à anterioridade que não sejam exceção à noventena. E, por falar nisso, a noventena também tem exceções calcadas na extrafiscalidade e na urgência. Essas exceções estão no Artigo 150, §1º, segunda parte, CR. Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça Você tem noção a respeito da carga tributária brasileira? Você tem ideia do quanto o brasileiro paga por cada tributo? Nem imagina? Pois eu respondo a essas perguntas por meio de um convite: viste o curioso site http://impostometro.com.br. Nele, você pode conferir o quanto já foi pago/arrecadado no Brasil e em cada um dos Estados e capitais. Os valores são exorbitantes. E, dependendo do dia em que você está acessando esta aula, as cifras poderão ser cada vez mais absurdas. Por isso, é tão difícil compreender que nossa Constituição possua tantos dispositivos que protegem o valor justiça. Mas vamos a eles. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 12 Isonomia O primeiro princípio é o da isonomia, que seria capaz de englobar todos os demais princípios que serão tratados neste tópico. E se você é formado em direito, deve saber de cor, quase como um mantra, o que isonomia quer dizer: tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na exata medida de suas desigualdades. A isonomia se encontra no Artigo 150, II, da Constituição, proibindo qualquer tratamento diferenciado; em verdade, não é qualquer tratamento diferenciado, somente os chamados privilégios odiosos – benefícios que não encontram qualquer justificativa ou razão. E isso não apenas no que diz respeito à fixação de tributos por lei, mas, também, ao tratamento imposto pela Administração. Generalidade e universalidade Como decorrência imediata do princípio da isonomia, encontram-se no Artigo 153, §2º, I, da Constituição, os princípios da generalidade e da universalidade. Aliás, para um leigo, essas duas palavras poderiam ser consideradas sinônimas. Mas uma regra fundamental de interpretação da Constituição afirma que ela não contém palavras inúteis ou desnecessárias. Assim, temos de encontrar uma diferença. Parte da doutrina vai afirmar que generalidade é uma expressão que traz uma ideia de subjetividade, de sujeito. Assim é que generalidade significa que “todo aquele que manifestar riqueza será, em princípio, contribuinte”. É por isso que a Constituição veda tratamento privilegiado a determinadas categorias – como é comum ocorrer em regimes ditatoriais que tendem a privilegiar a categoria que se encontra no poder. De igual forma, afirma-se que universalidade traz uma ideia de objetividade, de objeto. Universalidade significa que “todo fato que demonstre riqueza será, em princípio, gerador de tributo”. Então, encontramos aqui o fundamento para a tributação de várias situações, até mesmo do ato ilícito – princípio do pecúnia non olet. Aliás, sobre este princípio, vamos guardar detalhes, pois deixaremos para cuidar dele ao falar de imposto de renda. Também é importante dizer que esses princípios não pertencem exclusivamente ao imposto de renda; são eles princípios aplicáveis a SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 13 todo ordenamento tributário, pois são concretizações de um princípio maior: isonomia. Capacidade contributiva Mas a maior concretização do princípio da isonomia é, sem dúvida, o princípio da capacidade contributiva. Cada um deve contribuir, ainda que forçosamente, para as despesas públicas na medida das forças de sua riqueza. Neste momento, você deve abrir a sua Constituição e ler o §1º do Artigo 145; nele, você encontra a positivação do princípio. A partir dessa redação, vamos fazer a sua análise. A primeira expressão a merecer destaque é “sempre que possível”. O que significa isso? Ora, significa que nem sempre é possível... É verdade! Será possível aplicar esse princípio nos chamados tributos indiretos (aqueles que vêm embutidos no preço daquilo que compramos, que quem recolhe é o comerciante ou mesmo a indústria)? O fisco teria como saber se aquele que suporta o encargo tributário tem condições de pagar? A resposta é simples: não! Afinal, quem consome arroz? Rico ou pobre? Os dois.A segunda expressão é “impostos”. Será que somente devemos aplicar esse princípio aos impostos? Claro que não. Na realidade, nos outros tributos – os chamados tributos vinculados –, o maior parâmetro é o custo estatal. Como eles são vinculados a uma atividade estatal, então a capacidade contributiva encontra um espaço secundário. Mas não é por isso que não será aplicada, afinal de contas, a gratuidade de justiça é análise de capacidade contributiva para uma taxa. A terceira expressão é “caráter pessoal”. Aqui se destaca outra classificação atribuída aos tributos: tributo real e tributo pessoal. E pergunto: o que é um tributo pessoal e um tributo real? Muitos vão dizer que real é aquele que incide sobre a coisa, e pessoal... aí, ficam sem palavras. Bom, o correto é que qualquer tributo incide, genericamente, sobre o patrimônio. Os reais consideram apenas características do fato gerador para determinar seu aspecto SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 14 quantitativo. Os pessoais consideram também características do contribuinte para essa fixação. No dizer da Constituição, o ideal é que essa classificação não seja fechada. Então, não seria correto dizer que o IPTU é um exemplo de imposto real; e isto porque nenhum tributo deveria ser sempre real. Deveria o legislador buscar sempre transformá-los em pessoais – ao menos, sempre que possível. E vemos muitas dessas situações, como, por exemplo, municípios que concedem isenção de IPTU para idosos de baixa renda; isto é pessoalização do tributo! A quarta expressão é “capacidade econômica”, que é diferente de capacidade financeira. Capacidade financeira diz respeito à liquidez, ou seja, o contribuinte possuir ou não dinheiro para pagar o tributo. Já a capacidade econômica diz respeito a possuir patrimônio, ainda que não em espécie. Se o constituinte falasse em capacidade financeira, bastaria comprometer todos os recursos com bens e deixar a sua conta no banco zerada. E como essa capacidade contributiva é avaliada? Através do que chamamos de subprincípios ou princípios-técnicos. Pessoalidade: como visto, é a análise de características do contribuinte como forma de avaliar o montante de tributo devido. É o que ocorre no imposto de renda, quando se avalia a quantidade de dependentes ou a realização de determinados tipos de despesa, ou, ainda, a idade ou condição de saúde. Proporcionalidade: esta é a regra geral. Os tributos devem ser proporcionais. Não devemos buscar a existência de tributos que tenha o mesmo valor para todo mundo. Isso seria a maior das injustiças – que um milionário pagasse o mesmo valor que um mendigo. Assim, a primeira forma de evitar que isso ocorra é a proporcionalidade, que pode ser definida como alíquota fixa – quanto maior a riqueza, maior o valor do tributo devido, mas sempre na mesma SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 15 proporção. Confira agora, na sua legislação, a redação da Súmula nº 656 do STF: ela determina alíquota fixa para o ITBI. Mas proporcionalidade não é o mais justo. Se o imposto de renda tivesse uma alíquota só, se todos tivessem que pagar 10% de imposto de renda, não seria nada justo. Afinal, quem seria mais sacrificado, o pobre ao pagar 10% de seu salário mínimo, ou o rico ao pagar 10% de um rendimento de 100 mil reais, por exemplo. Se você pensou que era o rico, imagine-se tentando sobreviver e pagar suas contas com o que sobra do salário mínimo, e com o que sobra do rendimento de 100 mil reais. Compreendeu agora? Com certeza que sim. Progressividade: há dois aspectos para a progressividade: a progressividade fiscal – que veremos aqui; e a progressividade extrafiscal – que significa que a alíquota será aumentada de forma a desestimular algum comportamento do contribuinte, como forma, portanto, de política pública. Ela é prevista na Constituição para o ITR (Artigo 153, §4º, III) e para o IPTU (Artigo 182, §4º, II), como forma de estimular a função social da propriedade. Mas a progressividade fiscal é que é a técnica de aferição da capacidade contributiva. Segundo ela, quanto maior a riqueza, maior será a alíquota. A Constituição a prevê expressamente para o IR (Artigo 153, §2º, I) e IPTU (Artigo 156, §1º, I). Assim, quanto maior a base de cálculo, maior a alíquota. Durante muito tempo, predominou-se de forma pacífica que essa progressividade precisaria de previsão constitucional. Tanto é, que tivemos a edição duas súmulas do STF nesse sentido: a já referida 656 e a 668. Contudo, recentemente, o STF admitiu a progressividade de alíquotas para o ITD – apesar de não haver previsão constitucional para isto, apenas por aplicação do princípio da capacidade contributiva. Seletividade: como última forma de aplicarmos o princípio da capacidade contributiva, podemos apontar a técnica em que as alíquotas serão fixadas em SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 16 função da essencialidade do bem objeto de tributação. Isso ocorre ao IPI (Artigo 153, §3º, I), ao ICMS (Artigo 155, §2º, III), ao IPVA (Artigo 155, §6º, II) e ao IPTU (Artigo 156, §1º, II). “A essencialidade só pode ser vista na perspectiva de garantia do desenvolvimento das decisões valorativas constitucionais, isto é, aquilo que for essencial para a dignidade humana, para a vida ou para a saúde do homem” (ÁVILA, 2012, p. 380). Não confisco Outro princípio afeto ao valor justiça é o não confisco, com previsão expressa no Artigo 150, IV, da Constituição. Esse princípio está carente de desejável grau de concretude, ou seja, é bastante difícil afirmar, de forma pacífica, quando há ou não confisco. E o que é confisco? Poderíamos dizer que tributação confiscatória é aquela tão elevada que é capaz de extinguir a riqueza tributada. Assim, há uma divergência no fato de como fazer essa análise. O confisco deveria ser analisado de forma geral (ou seja, pela soma de todos os tributos devidos) ou de forma isolada (ou seja, por cada tributo). É claro que a forma mais justa e mais efetiva é a forma geral. No entanto, ela não vem prevalecendo, e o STF somente tem feito essa análise de maneira isolada, até porque, se já o tivesse feito, de forma geral, poderia, segundo muitos, ter reconhecido o confisco no direito brasileiro, afinal, temos as maiores cargas tributárias do mundo. Esse princípio, todavia, cede espaço para a extrafiscalidade. É claro que objetivos maiores podem fazer com que o não confisco seja abandonado; por exemplo, uma alíquota de 330% para o cigarro não é considerada como confiscatória, nem uma alíquota de 60% para as importações. Em ambos os casos, o propósito do fisco é evitar a ocorrência desses fatos geradores. Não cumulatividade Esse princípio está afeto ao valor justiça, pois evita que cada cadeia seja onerada gradativamente. Vejamos a explicação: há tributos que se classificam SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 17 como plurifásicos, ou seja, incidem, por várias vezes, em cada circulação do mesmo bem. Caso a incidência em uma fase fosse completamente independente da outra, haveria a incidência do mesmo tributo sobre ele por várias vezes. A tradição europeia é a tributação pelo valor agregado; esta técnica determina que a base de cálculo do tributo que incide sobre a circulação de bens seja a diferença entre o preço de venda e o preço de aquisição. No Brasil, não adotamos essa técnica e, sim, a da não cumulatividade, segundo a qual o valor recolhido nas operações anteriores servirá de crédito nas operações seguintes. A diferença não é feita pela base de cálculo, mas, sim, pelo tributo arrecadado. Isso impõe uma escrituração extremamentecomplexa e também promove problemas relativos a benefícios fiscais no meio da cadeia, já que o não recolhimento de tributos não gera créditos para as operações subsequentes. Neutralidade Esse princípio não está positivado em nossa Constituição, mas pode ser extraído do conjunto justiça e ordem econômica. A tributação deve ser distribuída nos diversos da economia, como forma de evitar demasiada oneração para uma categoria e privilégio para as demais. Um exemplo para isso pode ser visto no Artigo 146-A, que determina que a lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação para evitar desequilíbrios da concorrência. Princípios constitucionais vinculados aos valores liberdade e federalismo Passaremos ao estudo de dois valores que não são menores, mas demandam um estudo mais específico, pois são objeto de instrumentos normativos peculiares, como é o caso da imunidade – que, em verdade, não é um princípio, mas uma regra. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 18 Os princípios se caracterizam por ideias centrais de um sistema. Inicialmente, não tinham caráter normativo. A doutrina e a jurisprudência compreendiam que, por sua abstração, não teriam o poder de fazer-se valer por qualquer instrumento de coerção direto. Em verdade, o princípio teria a sua concretude através da observância da lei, que, em si, seria o instrumento que trazia a regra jurídica. Liberdade Apesar de não ter sido o primeiro a passar por nosso objeto de análise, a liberdade é o primeiro grande valor a ser construído contra o Estado. Aliás, podemos até dizer que os outros se originam de sua construção. Afinal, sem liberdade, o homem não seria capaz de lutar pelos demais, nem por justiça nem por segurança. O homem é, por natureza, livre. A liberdade, em seu exercício, depende da vontade humana, de sua consciência, da condição de seu agir. Aliás, esse é o primeiro dos valores erigidos no lema da Revolução Francesa – liberté, egalité, fraternité. O custo de tudo que fazemos é um grande impeditivo para seguirmos em uma ou outra direção. Ora, certamente um dos motivos que o impede de desligar este computador, arrumar suas malas e se dirigir ao aeroporto para ver ou rever a Monalisa no Louvre é o custo dessa viagem. Assim, o Estado pode acabar tolhendo os particulares de adotarem uma conduta ou outra pelo custo dos tributos. A saber: Limitação ao tráfego de pessoas e bens Este primeiro princípio se encontra no Artigo 150, V, da Constituição. A liberdade ora tutelada é a liberdade ambulatorial, a liberdade de ir e vir, a liberdade de locomoção. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 19 É claro que essa liberdade somente tem aplicação ampla dentro do território nacional, já que não seria possível à Constituição garantir essa liberdade no território de outros países; mas se aplica a todo o sistema tributário brasileiro. Nesse sentido, somente há uma única exceção prevista na Constituição: o pedágio cobrado em via conservada pelo poder público. Note bem que, em via que não é conservada pelo poder público, não podemos falar de pedágio como espécie de tributo, pois o tributo deve ser cobrado pelo poder público, senão, não é tributo. Aliás, aqui, levanta-se a grande controvérsia sobre a natureza jurídica do pedágio. Segundo autores como Misabel Derzi, Roque Antônio Carrazza e Luciano Amaro, esse dispositivo justifica o reconhecimento de que o pedágio é um tributo, que se submeterá sempre aos limites constitucionais. Geraldo Ataliba reconhece-o, especificamente, como uma taxa, pois remunera serviço público de conservação das estradas, decorrente do gasto pelo uso delas. Já para Sacha Calmon Navarro Coelho, Ricardo Lobo Torres e Hely Lopes Meirelles, é um preço público ou uma tarifa, pois não é cobrada em razão de serviço específico e divisível, nem hoje é cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada – haja vista o enorme número de concessões. Vedação de diferença tributária em razão da origem ou destino Essa proteção está no Artigo 152 da Constituição. Assim como o princípio visto anteriormente, a liberdade tutela é a de ir e vir; isto porque origem e destino trazem a ideia de deslocamento. Mas os destinatários dessa regra são somente os Estados e Municípios. É por isso que não podemos ter alíquota de IPVA diferenciada em razão dos veículos serem ou não importados, e o ICMS interestadual poder ter alíquota distinta conforme o Estado de origem. No primeiro caso, compete ao legislador estadual fixar as alíquotas, e, no segundo caso, conforme o Artigo 155, §2º, IV, da Constituição, compete ao Senado Federal. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 20 Quanto à alíquota do IPVA em carros importados, verifique a decisão proferida pelo STJ no RMS 10.906-RJ: TRIBUTÁRIO. IPVA. ALÍQUOTA. CARRO IMPORTADO. A Constituição Federal, Artigos 150 e 152, proíbe os Estados de estabelecer alíquotas diferenciadas do IPVA para carros importados (Recurso provido. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 10.906-RJ. Recorrente: Germana Lyra Bahr e outros. Recorrido: Estado do Rio de Janeiro. Relator: Ministro Garcia Vieira. Brasília, DF, 5 de junho de 2000. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_registro=19990 0514700&dt_publicacao=05-06-2000&cod_tipo_documento=&formato=PDF). Federalismo Para fecharmos o estudo dos princípios, é importante tratarmos de um valor que não é adotado, nem pode ser, por outros países – o federalismo. Para esclarecermos, federalismo é o sistema político pelo qual vários Estados se reúnem para formar um Estado federal, sem abrir mão de sua autonomia. Assim, é importante em um Estado como o Brasil o respeito pela União da autonomia de Estados e municípios. Vedação de isenção heterônoma A União, na forma do Artigo 151, III, da Constituição, somente pode conceder isenção dos tributos de sua competência. Veremos, em uma próxima aula, que a Constituição atribui a cada ente federativo o poder de instituir tributos, de forma que se garanta autonomia financeira. Dessa maneira, se a União pudesse conceder qualquer benefício para tributos estaduais e municipais, isto poderia desequilibrar financeiramente as contas deste. Há quem afirme, também, que isso só se aplica à isenção, pois a Constituição foi expressa quanto a esta. Na verdade, esse princípio é derivação do próprio pacto federativo. Então, a única conclusão é que qualquer benefício somente pode ser concedido pela União quanto aos tributos federais. Dessa forma, o Artigo 155, II, b, do CTN não pode ter sido recepcionado pela Constituição. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 21 Importante é esclarecer que a concessão de benefícios através de tratados internacionais não constitui benefício heterônomo, porque o benefício é concedido pela República Federativa do Brasil e não pela União Federal. Mas, ainda assim, deve-se ver os reflexos práticos negativos que isso pode gerar na federação. Nesse sentido, posiciona-se o STF, reiteradamente: “A cláusula de vedação inscrita no Artigo 151, inciso III, da Constituição – que proíbe a concessão de isenções tributárias heterônomas – é inoponível ao Estado Federal brasileiro (vale dizer, à República Federativa do Brasil), incidindo, unicamente, no plano das relações institucionais domésticas que se estabelecem entre as pessoas políticas de direito público interno (...). Nada impede, portanto, que o Estado Federal brasileiro celebre tratados internacionais que veiculem cláusulas de exoneração tributária em matéria detributos locais (como o ISS, por exemplo), pois a República Federativa do Brasil, ao exercer o seu treaty-making power, estará praticando ato legítimo que se inclui na esfera de suas prerrogativas como pessoa jurídica de direito internacional público, que detém – em face das unidades meramente federadas – o monopólio da soberania e da personalidade internacional”. (RE 543.943- AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-11-2010, Segunda Turma, DJE de 15-2-2011). Vide: RE 229.096, Rel. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 16-8-2007, Plenário, DJE de 11-4-2008. Uniformidade geográfica Não é só intervindo na tributação dos outros entes que a União pode afrontar o pacto federativo e colocar em conflito os vários entes federativos. Isso pode ocorrer também quando ela conceder algum tratamento mais benéfico aos contribuintes que estejam em um ente da federação. Assim é que o Artigo 151, I, da Constituição, proíbe que a União conceda tratamento que não seja uniforme no território nacional, à exceção da concessão de benefício que tenha por escopo o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico nas diversas SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 22 regiões do país. O exemplo disso é a Zona Franca de Manaus. Nesse sentido, se posiciona o STF: "A Constituição, na parte final do Artigo 151, I, admite a ‘concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país’. A concessão de isenção é ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fiscais e econômicas e, portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judiciário. Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344-AgR“ (RE 344.331, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 14-3-2003). “Não é possível ao Poder Judiciário estender isenção a contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia (RE 159.026)" (RE 344.331, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 11-2-2003, Primeira Turma, DJ de 14-3-2003). Atividade proposta O site http://www.impostometro.com.br demonstra uma previsão, segundo estudos técnicos, do montante de tributo arrecadado. Os valores variam conforme o mês, mas permitem apurar o quanto um brasileiro já arcou de tributos naquela data. O que este site permite que a sociedade perceba? Chave de resposta: É possível identificar todos os recursos tributários que cada ente federativo recebe. Assim, o cidadão pode conferir o recursos de que dispõem o fisco para atendimento das necessidades públicas. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 23 Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista ao vídeo da palestra “O princípio da legalidade, separação de poderes e o exercício da competência”, disponível em nossa galeria de vídeos. Para conhecer mais sobre o assunto, entre em nossa biblioteca virtual e baixe o artigo “Os tratados internacionais e as isenções heterônomas”. Referências ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário. v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 24 Exercícios de fixação Questão 1 Considerando que seja editada lei que, além de reduzir o percentual de multas incidentes sobre os débitos tributários — inclusive no que se refere à sonegação e fraude para se obter redução tributária —, reduza pela metade os juros moratórios e a alíquota incidente sobre a operação de circulação de mercadoria, assinale a opção correta. a) Caberá restituição da diferença da multa já paga, desde que se comprove que outros contribuintes tenham sido beneficiados com a redução concedida, em virtude do princípio da isonomia. b) A redução da multa estabelecida será aplicada, ainda que transitado em julgado o procedimento administrativo fiscal que constituiu o crédito tributário e o executivo fiscal esteja em fase de embargos à execução. c) A redução da multa não será aplicada em caso de descumprimento de acordo de parcelamento do débito tributário. d) Estando o débito tributário pendente de julgamento administrativo fiscal, a ele será aplicada a redução da alíquota, por se tratar de lei mais benéfica. Questão 2 Em setembro de 2011, a União editou decreto determinando a elevação das alíquotas de IPI sobre a importação de automóveis, e instrução normativa determinando a prorrogação do direito de dedução, sobre o imposto de renda anual da pessoa física, da contribuição previdenciária paga a empregado doméstico. Em ambas as normas, há cláusula de vigência para o dia da publicação desses atos normativos. Acerca desse aspecto, é correto afirmar, em conformidade com a CF e com o CTN, que: a) Os efeitos do decreto produzem-se a partir de 1º de janeiro de 2012, e os da instrução normativa, a partir da publicação. b) Os efeitos do decreto produzem-se após 90 dias contados da publicação, e os da instrução normativa, a partir da publicação. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 25 c) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se após 90 dias contados da publicação. d) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se a partir de 1º de janeiro de 2012. e) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se a partir de 1º de janeiro de 2012. Questão 3 Analise a seguinte afirmação: “Não basta, no Direito Tributário, a razoável equivalência entre o fato e a hipótese legal caracterizadora dos modelos abertos; exige-se, rigorosamente, o preciso amoldamento do fato ao tipo legalmente definido. É que, na espécie, o modelo legal é cerrado, fechado, não ensejando dilargamento pelo aplicador da lei, o que confere à preservação de garantias e direitos prestigiados pela Constituição”. (BARRETO, 2009, p. 30). O trecho acima se refere, mais precisamente, ao princípio da: a) Legalidade b) Irretroatividade c) Igualdade d) Não confisco e) Tipicidade Questão 4 Qual dos tributos abaixo não obedece ao Princípio da Anterioridade Mínima Nonagesimal? a) Imposto de renda b) Imposto sobre serviço c) Imposto sobre produtos industrializados d) Contribuição social e) CIDE combustível SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 26 Questão 5 O Estado Alpha, com base em pauta fiscal, exigia, de forma definitiva, o ICMS devido pela futura operação interna, inclusive quanto à operação a ser realizada pelo próprio adquirente, nas compras de mercadorias feitas por comerciantes de Alpha aos comerciantes de outros estados da Federação. Dessa forma, as vendas efetuadas pelo varejista para os consumidores não eram tributadas novamente. Decreto e Instrução Normativa do Estado Alpha alteraram esse regime para algumas mercadorias, passando a ser o de sistema normal de apuração de ICMS, quando o contribuinte tem o direito, que decorre do princípio da não cumulatividade, de descontar do total do débito do imposto decorrente das saídas, o valor do imposto pago na operação anterior. Entretanto, o decreto e a instrução normativa proibiram que as mercadoriasem estoque pudessem, ao serem vendidas, utilizar os créditos fiscais do ICMS antecipadamente pago no sistema anterior. Com base no exposto, assinale a afirmativa correta. a) O decreto e a instrução normativa violam o princípio da anterioridade e a segurança jurídica do comerciante que exauriu sua obrigação fiscal. b) O decreto e a instrução normativa são plenamente vigentes, eis que a venda de estoque representa fato gerador pendente do ICMS. c) O decreto e a instrução normativa são plenamente vigentes, eis que a venda de estoque representa fato gerador futuro do ICMS. d) A mudança do regime não está protegida pelo princípio da legalidade, podendo ocorrer a qualquer tempo, com vigência imediata. Questão 6 A instituição de tributo com alíquotas progressivas, sem ser exageradamente oneroso, não podendo, portanto, ser considerado confisco, faz transparecer, no direito tributário, na instituição do referido tributo, o cuidado com o princípio da: a) Seletividade b) Não diferenciação tributária c) Legalidade estrita SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 27 d) Capacidade contributiva e) Igualdade tributária, em sentido jurídico Questão 7 Analise as assertivas dispostas abaixo: I. O tributo de cunho confiscatório não se define por intermédio de um percentual, mas pelo ônus econômico que se torne insuportável para o contribuinte. II. A dificuldade de se aferir o caráter confiscatório de um tributo encontra-se justamente na determinação prática o que se deve entender como grau abusivo de exigência do patrimônio do contribuinte, sendo que tal determinação deve se processar em cada situação concreta. III. Representa afronta ao princípio do não confisco por parte do Poder Público Municipal, a cobrança simultânea dos valores de Imposto Predial Territorial Urbano devidos por proprietário de imóvel dos últimos cinco anos e que não foram pagos na oportunidade própria. IV. O princípio tributário do não confisco é uma decorrência da premissa constitucional que assegura aos cidadãos o direito de propriedade, desde que esta desempenhe a sua função social. Portanto, constitui uma afronta a esse princípio o estabelecimento por Lei de Alíquota do Imposto Territorial Rural em 20% (vinte por cento) para as chamadas terras absolutamente improdutivas. a) Apenas I e II estão corretas b) Apenas I, II e IV estão corretas c) Todas estão corretas d) Apenas II e III estão corretas Questão 8 Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, poderá ser progressivo o seguinte tributo municipal: a) IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) b) IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículo Automotores) c) IR (Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza) SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 28 d) ISS (Imposto Sobre Serviços de qualquer natureza) e) ITR (Imposto sobre a propriedade Territorial Rural) Questão 9 O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de junho de 2001, que regulamenta os Artigos 182 e 183 da Constituição Federal) é uma norma que disciplina o(a): a) IPTU Progressivo b) Sobretaxa c) Empréstimo Compulsório d) IPVA e) ISS Questão 10 O princípio da seletividade se aplica: a) Ao ICMS b) Às taxas c) Às contribuições d) Aos tributos e) Ao IR Questão 11 Considere a seguinte situação hipotética: lei federal fixou alíquotas aplicáveis ao IPI e estabeleceu que a alíquota relativa aos carros de luxo produzidos no Estado de Sergipe é de 12%, e a dos produzidos nos demais Estados da região Nordeste é de 18%. Tal enunciado normativo viola o princípio constitucional: a) Da uniformidade geográfica da tributação b) Da capacidade contributiva c) Da liberdade de tráfego d) Da não diferenciação tributária entre a procedência e o destino do produto e) Do não confisco SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 29 Questão 12 Considere a seguinte situação hipotética: lei federal fixou alíquotas aplicáveis ao ITR e estabeleceu que a alíquota relativa aos imóveis rurais situados no Rio de Janeiro seria de 5%, e a relativa aos demais Estados do Sudeste de 7%. Tal enunciado normativo viola o princípio constitucional: a) Da uniformidade geográfica da tributação. b) Da legalidade tributária. c) Da liberdade de tráfego. d) Da não diferenciação tributária entre a procedência e o destino do produto. e) Da isonomia. Questão 13 Suponha que a República Federativa do Brasil, ao celebrar acordo bilateral com o país K, com ratificação do respectivo acordo internacional pelo Congresso Nacional e observância de todos os trâmites legislativos impostos pela ordem jurídica interna e internacional, tenha como escopo realizar projeto de comercialização de gás mediante dutos instalados nos territórios das respectivas partes envolvidas, sendo concedida, por meio do referido acordo, isenção de todos os impostos incidentes nesta operação. Ocorre que, no decorrer das obras de construção civil vinculadas à implementação do respectivo projeto, certo Município, localizado no Brasil, no qual era realizada parte das obras, promoveu o lançamento do ISS incidente sobre tais atividades de prestação de serviço realizadas em seu território, por entender que cabe exclusivamente à Municipalidade legislar sobre isenção de tributos de sua competência. À vista disso, o Município: a) Tem razão, tendo em vista que se configura isenção heterônoma, vedada pelo artigo 151, III, da Constituição Federal em vigor, o qual veda a União a instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, sem ressalvas. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 30 b) Tem razão, tendo em vista que tratado ou acordo internacional não poderá dispor de matéria relativa à isenção de tributos, visto que benefício fiscal é matéria a ser veiculada mediante lei ordinária. c) Tem razão, visto que as regras de isenção devem ser interpretadas de forma restrita, não sendo possível alterar a competência tributária das entidades federativas, ainda que por meio de tratados ou acordos internacionais de Direito Tributário. d) Não tem razão, tendo em vista que a isenção prevalece, nada impedindo que a República Federativa do Brasil, na qualidade de pessoa jurídica de direito público externo, exerça as prerrogativas que possui em face das unidades federadas e celebres tratados e acordos internacionais de Direito Tributário. Questão 14 Com relação ao princípio constitucional da imunidade recíproca, previsto na Constituição Federal, Artigo 150, VI, podemos afirmar que: a) Os Municípios estão impedidos de cobrar, da União e dos Estados, taxas pelo serviço de coleta de lixo, bem como quaisquer outras taxas de polícia. b) É defeso à União, Estados, Distrito Federal e Municípios exigir impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros, bem como das autarquias ou fundações por eles mantidas, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou delas decorrentes. c) Não incide Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana sobre os imóveis pertencentes à União, mas o imposto pode ser cobrado dos Estados em relação aos imóveis de que são proprietários. d) Fica vedada a instituição de impostos e de contribuições sociais sobre livros, jornais e periódicos e o papel destinado à sua impressão. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 31 Questão 15 As imunidades tributárias consistem em normas nas quais fica proibida a tributação sobre situações ou pessoas expressamenteindicadas na Constituição Federal. Conclui-se, nesse sentido, que: a) A imunidade recíproca veda a instituição de impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços de União, Estados e Municípios, excluído o Distrito Federal. b) As imunidades tributárias estão todas previstas no Artigo 150, VI, CF, com a única exceção prevista no Artigo 5º, LXXVI, CF, o qual estabelece a gratuidade, para os reconhecidamente pobres, do registro civil de nascimento e da certidão de óbito. c) Considerando que a CF refere-se a isenções e não incidência, quando trata de imunidades, a doutrina brasileira pondera que tais expressões são sinônimas, abarcando o mesmo fenômeno tributário. d) As fundações mantidas por partidos políticos e sindicatos de trabalhadores são imunes tão somente aos impostos, de acordo com o texto constitucional, devendo tais entidades, portanto, recolher os demais tributos do sistema. CTN: Código Tributário Nacional Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 106, II, c, do CTN, que se refere ao ato não definitivamente julgado. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 32 Questão 2 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §1º, da CR, que, aliás, excepciona o IPI do Princípio da Anterioridade, mas não do Princípio da Noventena. Questão 3 - E Justificativa: Resposta fundada na doutrina, para a qual, especificamente, temos o Princípio da Tipicidade, que determina que todos os elementos da obrigação tributária devem ser dotados de precisão, consubstanciando o tipo tributário. Questão 4 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §1º, 2ª parte, da Constituição, que estabeleceu as exceções ao princípio constitucional. Questão 5 - A Justificativa: Resposta fundada no Princípio da Anterioridade, Artigo 150, III, b, da Constituição Questão 6 - D Justificativa: Resposta fundada no Artigo 145, §1º, que conceitua o princípio da capacidade contributiva. Questão 7 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, IV, que conceitua o princípio da vedação ao confisco. Questão 8 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 156, §1º, I, da Constituição. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 33 Questão 9 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 156, §1º, da Constituição, e no Artigo 7º do referido Estatuto. Questão 10 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 155, §2º, III, da Constituição. Questão 11 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 151, I, da Constituição. Questão 12 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 151, I, da Constituição. Questão 13 - D Justificativa: Resposta fundada na noção de que a República Federativa do Brasil representa todos os entes federativos, e, portanto, não há vedação a esse tratado internacional. Questão 14 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, a, da Constituição. Questão 15 - D Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §4º, da Constituição.
Compartilhar