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Transação Penal no Direito Processual Penal

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SEMINÁRIO – DIREITO PROCESSUAL PENAL – ND9
NOME: Gabriela Chaves Honório – RA00146497
Resposta:
Com o objetivo de evitar que seja instaurada uma ação penal contra suposto autor de fato delituoso, é oferecida a proposta de transação penal, ato pelo qual, acusado e Ministério Público acordam em concessões bilaterais para evitar instauração do processo penal condenatório.
Transação é consenso entre as partes, é convergência de vontades, é acordo de propostas, é ajuste de medidas, enfim, tudo o mais que se queira definir como uma verdadeira conciliação de interesses.
A esse respeito leciona Guilherme de Souza Nucci (2006, p. 76): [...] a transação envolve um acordo entre o órgão acusatório, na hipótese enunciada no art. 76 da Lei 9.099/95, e o autor do fato, visando à imposição de pena de multa ou restritiva de direitos, imediatamente, sem a necessidade do devido processo legal, evitando-se, pois, a discussão acerca da culpa e os males trazidos, por consequência, pelo litígio na esfera criminal.
O momento oportuno para oferecimento da proposta de transação penal é na audiência preliminar, após frustrada a conciliação, ou, antes da audiência preliminar.
O benefício só é disponível para crimes de menor potencial ofensivo, assim entendidos por força do artigo 61 da Lei 9099/95 como as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, e observados os requisitos estabelecidos no artigo 76 da mesma Lei:
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. 
        § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. 
        § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
        I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
        II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
        III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
        § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.
        § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
        § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
        § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
Ademais, em que pese o texto do artigo 76 da aludida lei, o qual diz que ‘’Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.’’ (grifo nosso), o entendimento predominante é de que esse ‘’poder’’ transforma-se um ‘’dever’’ ao parquet quando todos os pressupostos de admissibilidade da transação penal estão preenchidos pelo agente.
A proposta do benefício deve ser realizada no Juizado Especial Criminal da comarca em que a infração de menor potencial ofensivo aconteceu, em audiência preliminar, na qual deve comparecer o autor do fato, seu advogado e o representante do Ministério Público.
Nessa audiência, o Ministério Público oferece ao agente a proposta de transação penal, a qual deve consistir, nos termos do artigo 76 da Lei nº 9.099/95, em pena restritiva de direitos ou multas. Essa proposta pode ou não ser aceita pelo autor do fato, que, certo de sua inocência, pode não a aceitar e ver-se processado, a fim de que prove sua inocência ao longo da instrução probatória.
Uma vez aceita a proposta de acordo pelo agente, cabe a este cumpri-la, sendo que, assim que o fizer, terá sua punibilidade declarada extinta. Caso não a cumpra, os autos serão encaminhados ao representante do Ministério Público para que este ofereça a denúncia, iniciando-se, portanto, a ação penal.
Cabe ao Ministério Público o poder-dever de formular a proposta de transação, devendo a recusa ser obrigatoriamente comprovada em alguma das causas impeditivas constantes dos incisos do § 2º do artigo supracitado.
Portanto fica claro a necessidade de se oferecer a proposta caso não esteja presente qualquer das hipóteses impeditivas.
Assim, a transação penal nada mais é do que um benefício concedido pelo legislador, que, ante ao atendimento de certos requisitos legais, visa o não oferecimento da denúncia e a consequente instauração da ação penal, mediante o cumprimento de penas diversas das restritivas de liberdade ou multas. Tal benefício dá-se através de um ato jurídico entre o autor do fato e o representante do Ministério Público (ou, nos casos de ação penal privada, do querelante), realizado em audiência preliminar, na presença de um magistrado.
Nesse sentido, Mirabete afirma: “A transação penal é instituto jurídico novo, que atribui ao Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública, a faculdade de dela dispor, desde que atendidas as condições previstas na Lei, propondo ao autor da infração de menor potencial ofensivo a aplicação, sem denúncia e instauração de processo, de pena não privativa de liberdade.” (MIRABETE, Júlio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: Comentários, Jurisprudência e Legislação. 4. ed. São Paulo. Atlas. 2000. p. 117)
Referido instituto possui fundamento constitucional tanto no artigo 98, inciso I da Constituição Federal, como no artigo 129, inciso I da mesma Carta Magna. Referido institutos, quando analisados conjuntamente, deixam claro a existência da transação, nos casos legais, bem como a titularidade do Ministério Público para promovê-la, ver ser este o órgão responsável pela proposição da ação penal.
Mas foi a Lei n.º 9.099/95 que aprofundou a transação, esmiuçando suas características e as hipóteses de cabimento, como se pode aferir do artigo 76 da referida lei.
Importante a ressalva de que o oferecimento da transação penal só é possível quando não for caso de arquivamento do termo circunstanciado ou do inquérito policial. Ou seja, se da análise das investigações o representante do Ministério Público depreender que não há elementos mínimos de autoria e materialidade, deve arquivar os autos. A proposta de transação deve ser realizada apenas quando tais elementos forem verificados pelo legislador.

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