Buscar

UNI.III CAPACIDADE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIDADE III – DA CAPACIDADE CIVIL.
1. CONCEITO DE CAPACIDADE JURÍDICA OU CIVIL.
 O art.1º do CC reúne no seu corpo os conceitos de capacidade e de personalidade, ao afirmar que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Ao expressar que a pessoa – natural ou jurídica – tem personalidade, é o mesmo que dizer que ela tem capacidade para ser titular de direitos. 
 Logo capacidade jurídica é a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações, seja de forma direta ou por intermédio de outras pessoas – representantes ou assistentes (Farias e Rosenvald, 2013, p.326). Deste conceito perceber-se que, capacidade jurídica divide-se em: capacidade de direito e capacidade de fato: 
 a) capacidade de direito ou capacidade de aquisição ou de gozo: é a aptidão genérica para a pessoa ser titular de direitos e obrigações, confundindo-se, pois, com a própria noção de personalidade, uma vez que é reconhecida indistintamente a todo e qualquer titular de personalidade, seja natural ou jurídica. Assim, todo aquele que nasce com vida, na medida em que adquire personalidade, adquire também capacidade de direito, de modo que, a privação desta implicará na frustração da daquela. Percebe-se, portanto, que capacidade de direito é reconhecida a todo e qualquer ser humano, tais como, aos privados de discernimento e aos infantes em geral, independentemente de seu grau de desenvolvimento mental. (Farias e Rosenvald, 2013, p.326 e Gonçalves, 2013, p.95-96);
 b) capacidade de fato ou de exercício ou de ação: é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Dessa forma, uma criança de oito anos de idade possui capacidade de direito – que a potencialidade de ser titular de relações jurídicas – embora não disponha de capacidade de fato, não lhe sendo possível praticar pessoalmente qualquer ato da vida civil. Logo, a capacidade de fato, presume a capacidade de direito, mas a recíproca não é verdadeira (Farias e Rosenvald, 2013, p.326).
 Vale ressaltar que, aquele que tem tanto capacidade de direito quanto capacidade de fato, tem capacidade jurídica plena ou geral. Isso implica em dizer que, a plena capacidade jurídica, é possibilidade concedida pelo ordenamento jurídico a um titular de direito para atuar sozinho na esfera civil sem auxílio de terceiros. Diferentemente são aqueles que ostentam somente a capacidade de direito – incapazes – pois neste caso, necessitam de outra pessoa para representar ou assistir a sua vontade na ordem jurídica civil. 
 Ainda como parte dessa abordagem, é importante distinguir capacidade jurídica e legitimação. Esta pode ser entendida como sendo, um requisito legalmente exigido a uma pessoa para prática de certos atos da vida civil, em virtude da posição especial que ela estabelece com certos bens, outras pessoas ou interesses (Farias e Rosenvald, 2013, p.327). 
 Assim, não têm legitimidade, não obstante terem capacidade plena: o tutor de adquirir bens do tutelado (art.1.749, I, CC); o casado, exceto no regime de separação absoluta de bens, de alienar imóveis sem a outorga do outro cônjuge (art.1.647, CC); no caso de venda de imóvel entre ascendente e descendente, para que estes tenham legitimidade, é necessário obter dos demais descendentes e do outro cônjuge, o consentimento por expresso (art.496 do CC).
2. A TEORIA DAS INCAPACIDADES. 
 Sendo a incapacidade a exceção e a capacidade a regra, Gonçalves (2013, p.110) afirma que, a incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, uma vez que a capacidade é a regra. Tal exceção encontra-se tipificada no art.3º, os absolutamente incapazes e no art.4º, os relativamente incapazes. 
 Vale ressaltar que a incapacidade civil refere-se a limitação da capacidade plena no tocante a capacidade de fato – capacidade de exercer pessoalmente, por si só os atos da vida civil – e não a capacidade de direito, haja vista que esta é adquirida pela pessoa ao nascer com vida. Dessa forma um menor de 15 anos – um absolutamente incapaz – enquanto pessoa e dotado de personalidade jurídica (é titular de direitos de uma relação jurídica) tem capacidade de direito, mas, no entanto, não tem capacidade de fato.
 É, pois, visando proteger as limitações dos absolutamente incapazes e dos relativamente incapazes, que o ordenamento jurídico não lhes permite o exercício pessoal de direitos – capacidade de fato – exigindo que sejam representados ou assistidos nos atos da vida civil (Gonçalves, 2013, p.110).
 Para compreender melhor o conteúdo abordado, essa temática será subdividida em duas: a incapacidade absoluta e a incapacidade relativa. 
2.1. A incapacidade absoluta.
 A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, dos atos da vida civil. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. A inobservância desta regra provoca a nulidade do ato – o ato será nulo, não produzirá qualquer efeito jurídico – nos termos do art.166, I, do CC.
 O art.3º dispõe:
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
2.1.1. Os menores de 16 anos.
 No direito pré-codificado, levava-se em conta a puberdade para distinguir a menoridade. Em regra eram absolutamente incapazes os menores impúberes: o menino menor de 14 anos e a menina menor de 12 anos, pois eram ainda privados para procriar (Gonçalves, 2013, p.111).
 O legislador do CC de 2002 entendeu que, até o ser humano atingir 16 anos, não tem discernimento suficiente para dirigir a sua vida e os seus negócios e, por essa razão, deve ser representado na vida jurídica por seus pais, tutores ou curadores. 
OBS (1): O tutor é nomeado – pelo juiz ou mesmo pelos pais através de testamento para responder pelo menor após o falecimento dos pais ou no caso de ausência destes ou, ainda, na hipótese de perda do poder familiar. O curador é nomeado pelo juiz para administrar os interesses do maior incapaz ou impossibilitado, com respeito aos limites determinados na sentença de interdição, que dependem do grau e do tipo da incapacidade. Vale ressaltar que o CC prevê a aplicação do instituto da curatela para administrar os bens do nascituro, bem como para o relativamente incapaz, maior de 16 e menor de 18 anos.
OBS (2): eventualmente os atos praticados pelos menores de 16 anos podem surtir efeitos jurídicos, quando estes resultarem da concretização de situações jurídicas existenciais, se o incapaz demonstrar discernimento para tanto. Ex: art.28, §1º da Lei 8.069/1990.
2.1.2. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos.
 A fórmula genérica empregada pelo legislador abrange todos os casos de insanidade mental, seja provocada por doença ou enfermidade mental congênita (a oligofrenia, que se caracteriza por deficiência ou retardo mental presentes em graus variáveis nas pessoas com Autismo e Síndrome de Down; a esquizofrenia, pois, para muitos cientistas a sua etiologia é genética) seja adquirida (como por exemplo, os pacientes com Alzheimer em estado avançado, os portadores de encefalopatia hepática).
 O ordenamento jurídico brasileiro não reconhece os chamados intervalos lúcidos. Assim, se declarado incapaz, os atos praticados pelo privado de discernimento são NULOS, não se aceitando a tentativa de demonstrar que, naquele momento, encontrava-se lúcido, haja vista que, a incapacidade mental é um estado permanente e contínuo (Gonçalves, 2013, p.113).
2.1.3. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
 A incapacitante não decorre de doençaou deficiência mental permanente, mas sim, pelo fato da pessoa não poder exprimir totalmente sua vontade por causa transitória. Tais pessoas deverão estar representadas por um curador, art.1.767 e 1.780 do CC. Ex: paciente em coma que se encontra internado em um leito de uma UTI hospitalar; uso eventual e excessivo de entorpecentes ou de substancias alucinógenas. 
 Logo será NULO o ato jurídico praticado por pessoa de condição psíquica normal, mas que se encontrava completamente embriagada no momento em que o praticou e que, em virtude dessa situação transitória, não se encontrava em prefeitas condições de exprimir a sua vontade. Vale ressaltar que esse caso NÃO SE REFERE AOS ÉBRIOS HABITUAIS, haja vista que estes, de acordo com art.4º, II do CC, são relativamente incapazes (Gonçalves, 2013, p.120).
2.2. A incapacidade relativa.
 A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que regularmente assistido, sob pena de ANULABILIDADE DO ATO - do ato ser anulável – art.171, I. Destarte, alguns atos o relativamente incapaz pode praticar sem ser assistido, como por exemplo: ser testemunha (art.228, I), fazer testamento (art.1.860, parágrafo único), exercer empregos públicos para os quais não for exigida a maioridade (art.5º, parágrafo único, III), casar (art.1.517), ser eleitor, etc.
 Conforme o art.4º do CC são relativamente:
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
2.2.1. Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
 Os referidos menores podem figurar nas relações jurídicas desde que devidamente assistidos.
2.2.2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido.
 Este dispositivo refere-se tão somente aos alcoólatras e os toxicômanos – viciados em entorpecentes – bem como os fracos de mente, pois, os USUÁRIOS EVENTUAIS que, por efeito transitório dessas substâncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente a sua vontade estão elencados no art.3º, III do CC, como ABSOLUTAMENTE INCAPAZES.
 Interpreta-se deste artigo que, a debilidade mental é apenas reduzida, diferentemente dos absolutamente incapazes, onde o grau de debilidade por ser tão elevado os priva totalmente de praticar os atos da vida civil, haja vista carecerem de discernimento para tal.
 Esta regra se aplica também aos alcoólatras e toxicômanos. Se o grau de dependência psíquica destes já é acentuado, definido uma doença e comprometendo a autodeterminação para os atos da vida civil, será absolutamente incapaz (Gonçalves, 2013, p.124). 
2.2.3. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.
 Abrange aqueles que por alguma anomalia, não evidenciam um desenvolvimento mental completo. Ex: pessoas com deficiência ou retardo mental em grau médio, como o que ocorre em alguns casos de portadores de Síndrome de Down. 
 É importante ressaltar que, o surdo só será considerado um relativamente incapaz, se não tiver recebido uma educação adequada e permanecer isolado do convívio social. Se tiver recebido e puder expressar plenamente a sua vontade, interagindo com a sociedade, será plenamente capaz (Gonçalves, 2013, p.125).
2.2.4. Os pródigos.
 Pródigo, é a pessoa que, por ter um desvio de personalidade, dissipa desvairadamente o seu patrimônio com o risco de reduzir-se à miséria. Ex: a pessoa viciada em jogo, que aposta constantemente bens do seu patrimônio (Gonçalves, 2013, p.125).
 Nem todos concordam com a determinação da incapacidade do pródigo. Inicialmente os doutrinadores Farias e Rosenvald (2013, p.338-339), afirmam que, a prodigalidade, tecnicamente não é causa de incapacidade. Segundo os autores, trata-se de uma verdadeira intervenção do Estado no direito fundamental a liberdade do indivíduo, haja vista que cada um tem o direito de gastar como bem quiser o que é seu. 
 Em um segundo pensamento, os autores por último citados, defendem que a incapacidade do pródigo só deve ser reconhecida quando os seus gastos desordenados comprometerem a si e consequentemente à sua dignidade. Gonçalves (2013, p.126) diz que, a interdição do pródigo justifica-se tão somente, quando encontrar-se sob o risco de reduzir-se à miséria, impossibilitando de se ter uma vida digna para si e a sua família, além do que, uma vez miserável, o Estado arcará com gastos na assistência, principalmente da saúde e da seguridade social.
 Uma vez interditado, não poderá o pródigo, sem assistência do curador, praticar, tão só, atos de natureza patrimonial, como alienação de bens. Poderá, por óbvio, praticar atos da vida civil, sem cunho patrimonial, como o consentimento de casamento de filho menor.
 Conforme se verá da discussão da temática seguinte, o reconhecimento jurídico prodigalidade, assim como as demais incapacidades, se faz mediante a ação de interdição. A legitimidade para a interdição do pródigo é do cônjuge ou companheiro, do ascendente ou descendente, de qualquer parente, até o colateral de quarto grau, e do Ministério Público. 
2.2.5. A situação jurídica dos índios.
 A CF/88 nos seus arts.231 a 232 tutela os índios no tocante aos seus direitos da personalidade – costumes, língua, crenças e tradições – bem como os seus direitos patrimoniais – ocupação de terras, competindo à União demarcá-las, protegê-las e fazer respeitar todos os seus bens, art.22, XIV da CF/88.
 O CC de 2002, diferentemente do CC Beviláqua, afastou os índios do rol dos relativamente incapazes, remetendo à disciplina dos índios para uma legislação especial, art.4º do CC.
 Hodiernamente, a situação jurídica dos índios encontra-se disciplina pela Lei n.6001/1973, que dispõe sobre o estatuto do índio, proclamando que estes devem ficar sob a tutela da União, até se adaptarem à civilização. 
 A referida lei considera nulos os negócios celebrados entre o índio e pessoa estranha à comunidade indígena, sem a participação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), enquadrando-os, pois, como absolutamente incapazes. Entretanto, declara que considerará tal ato válido, se o índio revelar consciência e conhecimento do ato praticado, e, ao mesmo tempo, tal ato não o prejudicar, como se pode aferir da letra do dispositivo:
Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. 
        Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos.
 O art.9º da Lei n.6001/73 estabelece que o índio pode adquirir plena capacidade, desde que seja por decisão judicial, ouvido o MP e atendido os seguintes critérios:
 Art. 9º Qualquer índio poderá requerer ao Juiz competente a sua liberação do regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos seguintes: 
        I - idade mínima de 21 anos; 
        II - conhecimento da língua portuguesa; 
        III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; 
        IV - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. 
 A maioridade civil de 18 anos estipulada pelo CC não afeta a determinada por esta lei, haja vista tratar-se de uma lei especial. 
 Vale ainda ressaltar que, o Presidente da República, por decreto, declarar a emancipação de uma comunidade indígena e de seus membros. A Justiça Federal é competente para atuar das questões atinentes aosíndios (art.11 da Lei n.6001/73).
 
 3. O RECONHECIMENTO DAS INCAPACIDADES E A AÇÃO DE INTERDIÇÃO.
 O reconhecimento da incapacidade jurídica se faz mediante ação de interdição ou curatela dos interditos, cuja sentença é devidamente fundamentada em laudo pericial-médico, que demonstra a absoluta ausência de discernimento da pessoa para os atos da vida (Farias e Rosenvald, 2013, p.334).
 A ação de interdição é um procedimento judicial de jurisdição voluntária – não há lide; não há partes; mas tão somente o Judiciário administrando interesse particular – através do qual se investiga e se declara a incapacidade da pessoa maior, para fim de ser representada (incapacidade absoluta) ou assistida ( relativamente incapaz) por um curador (Farias e Rosenvald, 2013, p.346).
 Possuem legitimidade para promover a ação de interdição, conforme o art.1.768 do CC e art.1.177 do CPC (Farias e Rosenvald, 2013, p.347):
 a) genitores (pai ou mãe);
 b) tutor;
 c) cônjuge (desde que não esteja separado ou divorciado);
 d) qualquer parente, até os colaterais no quarto grau (irmão, tio, sobrinho, primo, tio-avô) os parentes por afinidade, como sogro, o genro, a nora e o cunhado;
 e) companheiro;
 f) Ministério Público: nos casos de anomalias psíquicas, inexistência ou inércia das pessoas legitimadas ou na hipótese dos legitimados serem menores ou incapazes. 
 O pedido de interdição deverá ser formulado por meio de uma petição inicial comprovando-se a legitimidade do autor e especificando os fatos que revelem a anomalia psíquica incapacitante, art.1.180 do CPC. 
 A sentença de interdição tem natureza declaratória, art.1.773 do CC, ou seja, não cria ou extingue direitos, apenas reconhece em juízo uma situação de fato já existente. Através desta nomea-se um curador para zelar pelos interesses do incapaz, sendo, preferencialmente, o seu cônjuge ou companheiro, ou seu parente mais próximo.
 Admite-se que a sentença estabeleça uma graduação da incapacidade jurídica (art.1.772 do CC), reconhecendo diferentes graus de incapacidade – absoluta ou relativa – demonstrados por meio dos elementos probatórios, de modo que, poderá o magistrado, reconhecer a incapacidade relativa, mesmo que autor da ação tenha requerido a declaração de incapacidade absoluta, e vice-versa. 
 Dessa forma a ação de interdição tem o escopo de resguardar a dignidade da pessoa que se reputa incapaz, devendo o juiz, em cada caso, averiguar o grau de incapacidade, indicando se a interdição é total ou parcial e neste último caso, indicar quais os atos jurídicos excepcionados ao incapaz, uma vez que tal decisão atinge frontalmente alguns direitos fundamentais da pessoa, tais como a liberdade e a intimidade.
 Vale ressaltar que há mecanismo jurídico que possibilita o interditado a recuperar a sua plena capacidade. Para tal, art.1.186 do CPC, disciplina o instituto de levantamento de interdição que poderá ser pedido por qualquer interessado (o próprio interditado, o seu cônjuge, ou companheiro, o seu parente...), pelo MP ou Defensor Público ou advogado, dirigido ao mesmo juiz que reconheceu a incapacidade. Da mesma forma é necessário que haja uma perícia para demonstrar a cessação da incapacidade. O art.104 da Lei n.6015/73 – Lei de Registros Públicos – determina que a decisão que levantar a interdição seja averbada. 
 
4. A CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE.
 Em regra, a incapacidade cessa com o fim da causa que lhe determinou – por exemplo, com o desaparecimento da doença mental que afetava a pessoa – ou com a aquisição da maioridade civil, o que ocorre aos dezoito anos de idade (art.5º do CC). Ocorrendo uma dessas situações adquire-se capacidade jurídica plena, o que permite ao indivíduo praticar pessoalmente os atos da vida civil (Farias e Rosenvald, 2013, p.357).
OBS: para fins jurídicos, considera-se a data (dia e mês) como o marco da aquisição dos 18 anos de idade, pouco se importando a hora em que, efetivamente, veio a nascer.
 Ao lado das hipóteses de término da incapacidade, figura-se a possibilidade de ANTECIPAÇÃO DA MAIORIDADE CIVIL, chamada de EMANCIPAÇÃO. Permite-se através desta que, uma pessoa – ainda incapaz em face da idade – seja considerada, do ponto de vista jurídico, plenamente apta, capacitada, para a prática dos atos da vida civil, sem necessidade de assistência ou representação. Em suma, a emancipação consiste na aquisição da capacidade civil antes da idade legalmente prevista (Farias e Rosenvald, 2013, p.359-360).
 Os incisos I ao V do parágrafo único do art.5º do CC descreve as possibilidades de incidência da emancipação. Da hermenêutica destes dispositivos advêm três espécies de emancipação: a emancipação voluntária, a emancipação judicial e a emancipação legal.
 a) Emancipação voluntária.
 Decorre de ato unilateral dos pais, reconhecendo ter o filho menor de dezesseis anos de idade, maturidade necessária para reger sua pessoa e seus bens (art.5º, parágrafo único, I). Tal emancipação só pode ser concedida quem esteja na titularidade do poder familiar, como os pais, ou pelo menos um deles na falta do outro, uma vez que a sua concessão é um atributo (Gonçalves, 2013, p.136). 
 Vale ressaltar que, a emancipação do menor requerida pelos pais, deve ser feita por meio de instrumento público, não necessitando para tal de sentença judicial. A escritura pública deve ser registrada no Cartório do Registro Civil, onde se encontra assentado o registro de nascimento da pessoa-emancipada, art.9º, II do CC (Farias e Rosenvald, 2013, p. 360).
 Havendo conflito de interesses entre os pais, caberá ao juiz dirimir o conflito e decidir se concede, ou não, a emancipação. Cumpre observar, no entanto, que o juiz não poderá emancipar o menor contra a vontade de ambos os genitores, o que importaria, em verdadeira destituição do poder familiar.
 
 
 b) Emancipação judicial.
 A única hipótese de emancipação judicial, que depende de sentença do juiz, é a do menor de dezesseis anos que esteja sob tutela. O tutor desse modo não pode emancipar o tutelado, necessitando, pois, requerer judicialmente ao juiz a emancipação do menor que esteja sob sua tutela. Ao analisar os motivos ensejadores do pedido, o juiz deferirá ou não a emancipação do menor.
 Exige-se para fins de efeitos jurídicos e socais, que a sentença prolatada pelo juiz, que concedeu a emancipação do menor, seja registrada no Cartório do Registro Civil, onde se encontra assentado o registro de nascimento da pessoa-emancipada, art.9º, II do CC.
 
 c) Emancipação legal.
 Decorre da concretização de fatos descritos na lei (art.5º, parágrafo único, incs.II a V). São eles:
 1 - Pelo casamento;
 O casamento válido produz efeito de emancipar o menor de 16 anos. Se a sociedade conjugal logo depois dissolver pela viuvez ou pela separação, não retornará ele a situação de incapaz. O casamento nulo, entretanto, não produz nenhum efeito (art.1.563 do CC), de modo que, proclamada a nulidade, ou mesmo a anulabilidade, o emancipado retorna à condição de incapaz, salvo se contraiu de boa-fé. 
 Excepcionalmente será permitido o casamento de quem não atingiu a idade de 16 anos, porém, só será possível mediante suprimento judicial da idade para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal, em crimes contra os costumes (art.1.520 do CC). Destarte, parte da doutrina afirma que, a Lei n.11.106/2005 que revogou vários incisos do CP dentre estes os incisos VII e VIII do art.207 do CP, determinou também a revogação do art.1.520 do CC, haja vista o casamento não mais extinguir a punibilidade no caso de estupro de vulnerável.
[2: Art.107. Extingue-se a punibilidade:[...];VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial desteCódigo;VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contra da celebração.]
 2- Pelo exercício de emprego público efetivo;
 O fato de ser admitido no serviço público já denota maturidade e discernimento.
 3- Pela colação de grau em curso de ensino superior;
 4- Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
 A economia própria corresponde ao estado econômico de independência do menor, que decorre da propriedade de bens que ele adquire proveniente do seu trabalho. 
 Vale ressaltar que a emancipação legal independe de registro e produzirá seus efeitos desde logo, isto é, a partir do ato ou do fato que a provocou.
OBS: (1): a emancipação, em qualquer de suas formas, é irrevogável. Porém, a irrevogabilidade não se confunde com invalidade do ato, que pode ser reconhecida por meio de uma ação anulatória (Gonçalves, 2013, p.137).
OBS: (2): no que tange aos danos causados pelo menor-emancipado, a jurisprudência brasileira vem entendendo, corretamente, que a emancipação voluntária e a judicial não exime os pais da responsabilidade civil por atos praticados pelos filhos-emancipados. No entanto, em se tratando da emancipação legal, cessa a responsabilidade civil dos pais, respondendo o filho direita e pessoalmente (Farias e Rosenvald, 2013, p.363).

Outros materiais