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SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL, sob a ótica da legislação comentada. por Aldo BRUNO Ferreira Pelotas, RS, dezembro de 2015. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 2 O AUTOR Aldo BRUNO Ferreira, Oficial da Reserva da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Analista de Sistemas, Pós-Graduado em Gestão de Segurança Cidadã, Pós-Graduando em Defesa Civil, com formação nos Cursos de Soldado, Sargento e Tenente da Polícia Militar, Tutor dos Cursos EAD da SENASP/MJ, fez parte da Força Nacional de Segurança Pública, na área da Segurança Privada os Cursos de Vigilante, Segurança Bancária, Extensão em Transporte de Valores e Escolta Armada, além de ser Instrutor credenciado pela Polícia Federal para ministrar aulas nos cursos de Formação e Especialização de Vigilantes, Faixa Preta 5º Dan de Taekwondo e Faixa Preta 4º Dan de Hapkido, tendo atuado como Instrutor de Defesa Pessoal dos Cursos de Formação e Especialização da Polícia Militar Gaúcha. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 4 2. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 5 2.1 Áreas de atuação da Segurança Privada Brasileira 5 2.1.1 Os baixos investimentos em Segurança Pública 5 2.1.2 A Segurança Privada como alternativa para a prevenção de delitos 10 2.1.3 A Legislação e as Funções Autorizadas 12 2.1.3.1 Decreto-Lei nº 1.034/1969 12 2.1.3.2 Decreto-Lei nº 1.103/1970 13 2.1.3.3 Lei nº 7.102/1983 14 2.1.3.4 Decreto nº 89.056/1983 20 2.1.3.5 Portaria nº 3.233/2012 27 2.2 Os equipamentos autorizados para a Segurança Privada 43 2.2.1 O Estatuto do Desarmamento e a Segurança Privada 43 2.2.2 Os equipamentos autorizados pela Portaria nº 3.233/2012-DG/DPF/2012 46 3. BIBLIOGRAFIA 55 SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 4 1. INTRODUÇÃO O autor, através deste trabalho, visa levar aos Profissionais da Segurança Privada e interessados na temática, conhecimentos sobre esta atividade em crescente e acentuado crescimento no Brasil, principalmente em função da sensação de insegurança pública vivida pela população brasileira, onde, de forma complementar, a segurança privada tem tido um papel fundamental para o desenvolvimento das mais diversas atividades, desde o sistema financeiro, universidades, hospitais, escolas, empresas públicas e privadas, entre outras. Destarte, a falta de conhecimento mais aprofundado sobre o desenvolvimento das atividades legais a serem desenvolvidas por empresas e profissionais da área tem levado ao cometimento de inúmeros equívocos, tanto para contratantes, quanto para contratados, bem como, aqueles que tem interesse em dedicar-se de forma empreendedora nesta atividade, para isto, iremos contextualizar a forma legalmente prevista para atuação administrativa e operacional na segurança privada brasileira. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 5 2. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 2.1 Áreas de atuação da Segurança Privada Brasileira Nesta unidade desenvolveremos os temas e conteúdos que norteiam a atuação da segurança privada no Brasil. 2.1.1 Os baixos investimentos em Segurança Pública Para manutenção da convivência basilar e desenvolvimento da sociedade brasileira, sabemos que são três as pilastras básicas, ressaltadas principalmente nos períodos eleitorais, seja no nível municipal ou nos níveis estadual e federal, quais sejam: saúde, educação e segurança. Contudo, essas pilastras possuem tratamentos diferenciados, especialmente no que tange aos recursos aplicados pelos três níveis de governo, ou seja, federal, estadual e municipal, onde a saúde e educação contam com percentuais orçamentários definidos com padrões mínimos constitucionais e legais para aplicação de recursos, enquanto a segurança ainda não conta com tal garantia. Vejamos, na saúde a União precisa aplicar pelo menos 15% (Emenda Constitucional nº 86/2015), os Estados 12% e Município 15% (Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, que regulamentou a Emenda Constitucional nº 29/2000), já na educação a União deve empregar nunca menos que 18%, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios precisam despender taxa maior, no mínimo, 25% da aludida base de cálculo (art. 212 da CF/1988), além de contarem com uma aplicação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde. Observemos a tabela abaixo quanto aos recursos aplicados pela União em Policiamento, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no ano de 2014: Ano Valores em Reais aplicados pela União no Policiamento 2007 1.539.285.884,57 2008 1.347.046.303,95 2009 756.223.674,22 2010 541.756.538,25 2011 879.901.982,11 2012 1.516.730.943,66 2013 1.660.117.484,47 Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no ano de 2014, página 56. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 6 Em uma análise preliminar da tabela acima apresentada, quanto a importância declinada pelo Governo Federal em relação à Segurança Pública diante dos recursos aplicados, bem como, diante de uma visão popular, onde no ano de 2013 foram investidos R$ 1,6 bilhão destinados ao Policiamento, frente aos R$ 3,5 bilhões em gastos gerados no mesmo período para manter o Senado Federal, mostram claramente o porquê do atual quadro de violência e criminalidade crescente no Brasil, fazendo com que a população, as empresas e os próprios entes públicos invistam em segurança privada, gastando anualmente um valor aproximado de quase R$ 40 bilhões com seguro e contratação de equipamentos e trabalhadores em segurança. Os baixos recursos aplicados em segurança pública refletem, entre outros, na falta de efetivos policiais disponibilizados para o atendimento à população, desde as questões preventivas, investigativas e de reclusão. Vamos usar como exemplo o Estado do Rio Grande do Sul, segundo dados do IBGE, que mesmo tendo um incremento populacional, usando como referência os anos de 1990 e 2014, de mais de 2 milhões de habitantes (9,1 milhões em 1990 e 11,2 milhões em 2014), não houve o mesmo incremento de efetivo para os serviços prestados pela Brigada Militar, que em 1990 contava com um efetivo de 25.080 homens e mulheres no policiamento, caindo para 22.161 em 2014, diante de um efetivo previsto de 36.637, correspondendo a uma defasagem de 39,51%, em outras palavras, cresce a população e diminuem os policiais, situação semelhante em relação aos demais entes da segurança pública do Rio Grande do Sul (Polícia Civil, SUSEPE e IGP), bem como nos demais Estados da Federação. Em função disto, o Brasil, como muitos outros países, vive um cenário de crise na segurança pública, com altas taxas de incidência criminal, que cresceram de forma significativa ao longo dos anos. Até os anos 70, o crime era concebido basicamente como um problema de polícia, onde a esquerda esperava, como em outros países, que o fim da ditadura e a democratização, de alguma forma resolveriam a questão. O tema da criminalidade era concebido como sendo “da direita”, dos defensores da lei e da ordem, e qualquer ênfase na questão já era vista como suspeita. Em consequência, não existia sequer a reflexão, nem a proposta dos setores progressistas que se contrapusesse à simples demanda pela ordem por parte dos grupos conservadores.No entanto, o notável avanço da criminalidade trouxe o tema da segurança pública para a agenda política e social, independente da bandeira partidária, da qual não sairia nunca mais. O fracasso das políticas tradicionais no controle da criminalidade e da violência abriu espaço para reformas e propostas inovadoras. Inclusive, algumas vozes se levantaram pedindo uma mudança completa de paradigma na segurança pública. A ideia de uma segurança pública mais democrática, com maior atenção à prevenção, o surgimento de novos atores, a noção de polícia comunitária ou, simplesmente, de uma polícia que compatibilizasse eficiência com respeito aos direitos humanos são sintomas do novo período de debate e relevância. No Brasil, a segurança pública, segundo previsão constitucional, é fundamentalmente da competência dos Estados. Cada um deles tem, por exemplo, suas forças policiais – Polícia Civil e Polícia Militar – e seu Tribunal de Justiça, conforme o modelo federativo. A Polícia Federal, por seu lado, tem porte reduzido – inferior ao de muitas polícias estaduais – e o sistema de justiça criminal federal tem competências limitadas a determinados crimes. Por isso, o papel do poder federal foi, sobretudo incentivar, por meio de financiamentos, intervenções nos Estados, que atendam certos requisitos técnicos e políticos. As prefeituras, de outra banda, têm um relevante e estratégico papel na área da prevenção, principalmente, embora a expansão das Guardas Municipais inclua também tarefas de repressão. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 7 A percepção dos cidadãos da crescente insegurança provocou, ao longo dos últimos anos, uma pressão social para que todas as autoridades tomassem medidas no campo da segurança pública, independentemente de suas competências oficiais. Todavia, a difícil situação financeira dos Estados, aliado as escolhas na prioridade dos recursos, tem impedido investimentos significativos e apropriados em segurança pública, o que tem contribuído para o crescimento da participação dos poderes municipal e federal neste campo, na tentativa de evitar um caos provocado pela grande sensação de medo e insegurança em grande parte das cidades brasileiras. O problema da segurança, portanto, não pode mais estar apenas adstrito ao repertório tradicional do direito e das instituições da justiça, particularmente, da justiça criminal, presídios e polícia. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da capacidade do Estado em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito das políticas públicas de segurança, mas também devem passar pelo alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade civil e com a produção acadêmica mais relevante à área. Em síntese, os novos gestores da segurança pública (não apenas policiais, promotores, juízes e burocratas da administração pública) devem enfrentar estes desafios além de fazer com que o amplo debate nacional sobre o tema transforme-se em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais ainda, estimule a parceria entre órgãos do poder público e sociedade civil na luta por segurança e qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Trata-se na verdade de ampliar a sensibilidade de todo o complexo sistema da segurança aos influxos de novas ideias e energias provenientes da sociedade e de criar um novo referencial que veja na segurança espaço importante para a consolidação democrática e para o exercício de um controle social da segurança. Investimentos adequados em segurança pública, aliados a recursos utilizados em programas sociais, principalmente nas periferias e locais dominados pelo tráfico de drogas, pela violência e pela miséria, podem mudar alguns dos quadros e situações de insegurança citados anteriormente, onde podemos indicar como modelo desta mudança a cidade gaúcha de Canoas, na Grande Porto Alegre, conforme informações disponibilizadas em seu Site, a Prefeitura investiu num programa de combate à criminalidade por suas violentíssimas ruas, onde mais de cem câmeras foram instaladas pelo município, um centro de monitoramento foi construído para monitorar as imagens, a polícia passou a ser treinada para agir de maneira comunitária e um sistema de supermicrofones (audiomonitoramento) capazes de detectar tiros de armas de fogo - inteligentes o suficiente para diferenciá-los de um rojão ou do escapamento de uma motocicleta - foi fixado no bairro mais violento, o de Guajuviras, que, segundo informações encontradas na Coluna de Igor Paulin na Revista Época, chegou a ser chamado de a “Bagdá Gaúcha”, perdendo o apelido após os investimentos realizados. No citado bairro se conseguiu reduzir as mortes por assassinato em 73%. Em todo o município as taxas de homicídio caíram para a metade, reduzindo de 28 homicídios por 100 mil habitantes, antes da implantação dos programas sociais e recursos em segurança pública, para 16 homicídios por 100 mil habitantes, levando-se em conta o mesmo período de um ano para o outro. Outra constatação importante foi a do uso de armas de fogo, que também caiu, onde 80% dos assassinatos eram causados por elas, reduzindo para 58% das mortes que se deram por elas. Por causa do sucesso obtido no programa canoense, o prefeito do município, Jairo Jorge, responsável por implementar as ações contra a violência e criminalidade, foi o único administrador público da América do Sul convidado pelo Programa das Nações para o Desenvolvimento (Pnud), da Organização das Nações SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 8 Unidas, para palestrar em uma conferência sobre violência realizada em Genebra, na Suíça, no ano de 2011. Importante se faz, mostrar experiências exitosas de segurança pública ocorridas em outros países, para isto mostraremos algumas informações disponibilizadas por Bruna Waquim na Revista Jus Navigandi, onde em meados da década de 1990, o aumento da criminalidade fez surgir o medo da "colombização" do Brasil. Temia-se que se repetisse aqui a realidade de metrópoles colombianas como Bogotá e Medellín, recordistas mundiais em homicídios, sequestros e assaltos a mão armada. Nos últimos anos, deixou de fazer sentido temer a "colombização". Mais prudente seria seguir o exemplo colombiano. Desde 2001 a taxa de homicídios caiu 43% e a de sequestros reduziu-se em 55%. Na capital, Bogotá, os resultados foram ainda melhores. Os homicídios caíram 64% e os sequestros 85% desde 1995, quando um pacote de medidas de segurança foi adotado pela prefeitura. Em dez anos, Bogotá tornou-se mais segura que a cidade do Rio de Janeiro, hoje com um número de homicídios duas vezes maior. A Colômbia é parecida com o Brasil em vários aspectos – há lá vastas áreas fora do controle do Estado e o crime organizado tem conexões políticas –, mas enfrenta uma agravante: a guerra civil que envolve guerrilheiros de esquerda, paramilitares de direita, narcotraficantes e as tropas do governo. Ainda assim, os colombianos conseguiram reduzir a criminalidade e dar maior segurança a seus cidadãos. O programa de combate ao crime mais eficiente, o de Bogotá, sustenta-se em três pilares: investimentos na polícia, lei seca durante a madrugada e reurbanização das áreas degradadas. A Polícia Nacional em Bogotá ganhou em eficiência sem precisar aumentar o efetivo. A partir de 1995, o orçamento para segurança pública dobrou. Cada policial é agora equipado com um radiotransmissor, o que facilita os atendimentos de emergência e os pedidos de reforços. Foi criado um sistema de informações integrado do qual fazem parte a prefeitura, a Polícia Nacional, a Procuradoria-Geral da República e os órgãos de inteligência do Exército. O cruzamento de dados facilita a identificação de criminosos e o mapeamento dasáreas mais violentas. Isso permitiu estipular metas de redução do crime, concentrando o policiamento onde a criminalidade é mais crítica. O combate à corrupção na polícia foi intenso e inclemente, com expulsões sumárias. A segunda medida do pacote, a lei seca, consistia em obrigar o fechamento dos bares à 1 hora da madrugada, para evitar os crimes relacionados a bebedeira. Em 2002, o horário de fechamento foi ampliado para as 3 horas da manhã. A terceira medida foi aplicada entre 1998 e 2000, quando os vendedores ambulantes começaram a ser retirados das ruas e as áreas urbanas degradadas passaram por um processo de revitalização. As calçadas foram ampliadas, e Bogotá ganhou 1 milhão de metros quadrados de novas praças e áreas de lazer, que em alguns lugares substituíram cortiços e pontos de uso de drogas. Em meio a todas essas medidas, também foram proibidos a venda e o porte de armas pela população. Como não trouxe resultados práticos, em 2001 a proibição foi revogada. Segundo o cientista político Hugo Acero, assessor de segurança da Polícia Nacional em Bogotá, "Combate à criminalidade se faz com planejamento, investimento em polícia, presença do Estado nas regiões violentas e participação da sociedade civil. Sem essas medidas, o desarmamento é uma medida inócua". De acordo com a revista The Economist (20/07/2013), no ano de 2012, foram registrados apenas 69 assaltos a bancos, empresas e correios na Inglaterra e no País de Gales, em comparação com 500 por ano na década de 1990. Em 1990, cerca de 147 mil carros foram roubados em Nova York. No ano passado, menos de 10.000. Em 1997, 400 mil carros foram roubados na Inglaterra e no País de Gales, em 2012, essa cifra caiu para 86 mil. Na Holanda e na Suíça traficantes de rua e prostitutas foram expulsos dos centros urbanos; viciados são agora homens idosos, muitas vezes alcoólatras, vivendo em albergues estaduais. Em países como a Lituânia e a Polônia, os gangsteres SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 9 que antes costumavam traficar pessoas e drogas, hoje atuam em atividades menos violentas, como fraude. O artigo aponta que não existe uma única causa da queda, mas sim, vários fatores que coincidiram. As sociedades ocidentais estão envelhecendo, e a maioria dos crimes é cometida por homens jovens; o policiamento melhorou muito nas últimas décadas, especialmente em grandes cidades como Nova York e Londres, fortalecidos pelo uso de computadores para analisar a incidência de crime. Em algumas partes de Manhattan essa técnica ajudou a reduzir a taxa de roubo em mais de 95% e a epidemia de crack e heroína parece ter desaparecido. O maior fator pode ser, simplesmente, que as medidas de segurança melhoraram (ou seja, prevenção secundária, que cria dificuldades para o crime). Ações concretas foram adotadas em parceria com a própria comunidade, tais como: mecanismos imobilizadores de veículos (que conseguiram acabar com o roubo de carro apenas para diversão); vidros à prova de balas, seguranças e dinheiro marcado, ajudaram na queda dos assaltos a bancos; alarmes e bancos de dados de DNA aumentaram a chance de um ladrão ser pego; roubos caíram devido à redução no custo dos aparelhos eletrônicos. Mesmo pequenas lojas agora investem em câmeras de CFTV e etiquetas de segurança. Alguns crimes agora parecem muito arriscados, e isso é importante porque, como mostram as pesquisas criminológicas, o principal impedimento para o crime é o medo de ser preso, obvio, que em Países e Estados onde a Lei é mais rígida. Muitos conservadores podem pensar que esta lista omitiu o principal motivo da queda na criminalidade: penas mais duras de prisão. Um em cada cem adultos americanos se encontra encarcerado. Isso obviamente teve algum efeito, já que um jovem na prisão não pode roubar o seu carro, mas se as penas mais pesadas fossem a causa da queda da criminalidade, o crime não estaria caindo na Holanda e Alemanha, que reduziram suas populações carcerárias nos últimos anos. A população carcerária de Nova York foi reduzida a 1/4 desde 1999, e ainda assim, sua taxa de criminalidade caiu mais rápido do que o de muitas outras cidades. Punições severas, ou longas sentenças obrigatórias para determinados crimes, são cada vez mais contraproducentes. As prisões americanas estão cheias de homens idosos, muitos dos quais já cumpriram suas penas e usuários de drogas não-violentos, que estariam em melhores condições se estivessem em tratamento. Na Califórnia, estado pioneiro da sentença obrigatória, mais de um quinto dos presos tem mais de 50 anos de idade. Manter cada um dos presos ali dentro custa 47.000 dólares por ano (quase o mesmo que um lugar na Universidade de Stanford). E porque a prisão salienta punição ao invés de reabilitação, o que mais resta do problema do crime é realmente a questão de reincidência. Na Inglaterra e País de Gales, por exemplo, o número de réus primários caiu 44% desde 2007. O número daqueles com mais de 15 condenações aumentou. Os países que agora estão comemorando a diminuição dos crimes já fizeram o que o Brasil nunca fez: uma política social inclusiva sistemática. Isso significa prevenção primária. De outro lado, eles jogaram muito dinheiro na prevenção secundária (obstáculo para o cometimento do delito, com mais segurança, mais medidas protetivas, mais vigilância etc.). Nós, nem cuidamos da prevenção primária (condições socioeconômicas menos desiguais), nem da prevenção secundária (obstáculos à prática do crime). Aliás, pouquíssima atenção damos para a prevenção. Nossa política joga toda energia na repressão. Prende muito e, com isso, gera muita reincidência (porque também não cuidados da prevenção terciária, que consiste na recuperação do preso). SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 10 Diante de tantos equívocos na nossa política criminal, destacando-se, dentre eles, a demagogia dos políticos, que só sabem aprovar novas e ineficazes leis penais em todo momento, o resultado não poderia ser outro: todos os crimes estão aumentando. 2.1.2 A Segurança Privada como alternativa para a prevenção de delitos Diante do quadro de parcos recursos investidos em segurança pública e programas sociais, apresentados no item anterior, aliado a precária legislação e um sistema penitenciário, em sua grande maioria, apenas encarcerador e com mínimas perspectivas de reintegração social dos apenados eficiente e com redução significativa de reincidência, tem levado a população brasileira, as empresas e aos próprios órgãos da administração pública, investirem em tecnologias de segurança e na contratação de profissionais da segurança privada, um recurso aproximado de 30 bilhões por ano. No Brasil, desde 1967, quando oficialmente se iniciaram os serviços autorizados de segurança privada, regulamentados a partir de 1969, a demanda em função do grande número de delitos diários que levam a uma sensação de insegurança e a consequente procura de alternativas para a incapacidade do Estado em gerir a segurança pública de forma adequada e com os recursos condizentes com a necessidade da população e aos altos impostos pagos, tem sobrecarregado ainda mais a conta dos contribuintes, pois terminam ficando sem opção, restando a aplicação de mais recursos financeiros para garantir sua segurança e do seu patrimônio, através dos serviços de segurança privada. Dentre algumas análises que merecem nossa dedicação, quanto as alternativas para a prevenção de delitos, iniciemos pela afirmativa de Edwin Sutherland: "É inútil tirar os indivíduos, um após outro, das situações que produzem criminosos e permitir que essas situações continuem", ou seja, precisamos fazer as devidas alterações dos cenários propícios ao cometimento de inúmeros acontecimentosdelituosos. Existem alguns pressupostos básicos para que os crimes aconteçam, conforme veremos a seguir, e, precisam ser estudados, avaliados e alterados, visando minimizar ou evitar que essas situações delituosas continuem acontecendo: - Falta de vigilância sobre o objeto/pessoa: são várias as situações e até ditos populares, dentre eles destacamos “a ocasião faz o ladrão”, ou seja, mediante o descuido, a falta de uma vigilância constante e eficiente da coisa ou da pessoa, pois os alvos são inúmeros, principalmente pela forma distraída com que as pessoas, em função do estresse diário de rotinas de trabalho, estudo, casa, tarefas diversas, terminam gerando oportunidades para aqueles que pretendem auferir vantagem financeira diversa, correndo um risco pequeno para concretizar sua ação. - Motivação do criminoso: podemos citar como um dos fatores motivacionais do cometimento de delitos atualmente, a drogadição e o tráfico de drogas, fazendo com que dependentes químicos transforme suas próprias casas em alvos, mas outros tantos fatores levam as pessoas a correrem o risco de média e alta complexidade, visando lucros maiores, em busca de um “status” e padrão de vida mais elevado, satisfazer sua ganância e até mesmo em função das necessidades basilares de sobrevivência pessoal e familiar. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 11 - Alvo apropriado: nesses casos especificamente, os delinquentes já sabem o que querem, porém, dentre um leque extenso de possibilidades, estudam, pesquisam, procuram, o objeto/alvo desejado, geralmente correndo um risco mais elevado, visando lucros maiores, raramente agindo de forma individual, ou seja, envolvendo quadrilhas ou grupos organizados, porém, ao final escolhendo entre as opções aquela que oferece o menor risco. Para evitar ou pelo menos minimizar o acontecimento crimes que venham atingir as pessoas, seus patrimônios ou as instituições públicas, como importante e indispensável complemento da segurança pública, hoje no Brasil já são aproximadamente 1,5 milhão de Vigilantes contratados para as mais diversas funções autorizadas pelo Ministério da Justiça, através do Departamento de Polícia Federal, desde a segurança patrimonial, transporte de valores, escolta armada e a segurança pessoal, sendo que deste total, apenas 600 mil Vigilantes trabalham formalmente de carteira assinada, outros 800 mil são contratados clandestinamente, ou seja, sem a garantia de seus direitos trabalhistas e legais assegurados, segundo informações da Abrevis (Associação Brasileira das Empresas de Vigilância). Componente indispensável para o monitoramento, prevenção e registro de crimes, o mercado de segurança física eletrônica (SFE) no Brasil (CFTV – Circuito Fechado de TeleVisão) tem apresentado grandes desafios e oportunidades para os fabricantes de produtos de segurança e outros participantes da cadeia de valor, sendo muito competitivo e fragmentado, mas apresentando um crescimento considerável, com investimentos estimados em cerca de R$ 1,2 bilhão ao ano, com previsão de alcançar R$ 3,7 bilhões até 2017. A indústria de segurança física eletrônica no Brasil está composta por cerca de 10.000 empresas (incluindo fabricantes, distribuidores, integradores e instaladores), que atendem aos distintos segmentos de produtos de segurança. Essas empresas incluem tanto as nacionais como as multinacionais, com a última tendo uma presença maior, uma vez que os dispositivos de segurança eletrônica exigem componentes de alta tecnologia que têm que ser importados. O setor é diretamente responsável por 113.000 empregos. São inúmeras as atividades desenvolvidas no Brasil, pelas empresas de segurança privada, além dos Vigilantes e CFTV, temos os vigias, seguranças, porteiros e uma série de dispositivos eletrônicos para alarmes residenciais e veiculares. O Rio Grande do Sul, visando controlar aquelas atividades que não estão no bojo do Departamento de Polícia Federal, possui o Grupamento de Supervisão de Vigilância e Guardas (GSVG), pertencente a Brigada Militar, com atribuições de controlar e fiscalizar as atividades assemelhadas, como sejam as atividades de vigias, seguranças, zeladores e empresas instaladoras de alarmes, os quais, mesmo com as dificuldades de efetivo e viaturas, tem tido um papel fundamental na repressão às empresas e pessoas não autorizadas ao pleno desenvolvimento das atividades complementares relacionadas à segurança privada. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 12 2.1.3 A Legislação e as Funções Autorizadas 2.1.3.1 Decreto-Lei nº 1.034/1969 Os sistemas de alarme, monitoramento e proteção eletrônica, bem como, as funções de segurança privada desenvolvidas por pessoas no Brasil, desde o ano de 1969 começaram a ser regulamentadas pela legislação, visando a autorização, o controle e a fiscalização por parte do poder público, além de estilar sansões às empresas e pessoas não credenciadas para exercer atividades essenciais para a população brasileira, às empresas e instituições públicas. Iniciando o ordenamento jurídico em segurança privada no Brasil, o Decreto-Lei nº 1.034, de 21 de outubro de 1969 (Revogado pela Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983), dispôs sobre medidas de segurança para instituições bancárias, caixas econômicas e cooperativas de créditos. Veja o que tratava e a importância desta legislação para a época, bem como, denominações e termos utilizados, visto que esta norma foi apresentada pelos Ministros das Forças Armadas (Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica): Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer dependência de estabelecimento de crédito, onde haja recepção de depósitos, guarda de valores ou movimentação de numerário, que não possua, aprovado pela Secretaria de Segurança ou Chefatura de Polícia o respectivo Estado, dispositivo de segurança contra saques, assaltos ou roubos, na forma preceituada neste Decreto- lei. Importante marco para a segurança privada que obrigou, a partir da publicação deste Decreto- Lei, as agências bancárias no Brasil a possuírem dispositivos de segurança para que estivessem autorizadas a funcionar. Segundo informações contidas no site da Scielo (Scientific Eletronic Library Online), já no ano de 1964 o Brasil contava com 7.005 agências bancárias, o que certamente gerou um considerável número de vagas de empregos aos primeiros profissionais da segurança privada, bem como investimentos em sistemas de alarme, pois, segundo o Artigo 2º do Decreto-Lei 1.034/69 e seus incisos I e II, eram indispensáveis. Art. 2º Os estabelecimentos de que trata o artigo anterior deverão adotar - no prazo máximo de um ano, contado do início da vigência deste Decreto-lei - dispositivo de segurança contra roubo e assaltos, que consistirá obrigatoriamente, em: I - Vigilância ostensiva, realizada por serviço de guarda composto de elementos sem antecedentes criminais, mediante aprovação de seus nomes pela Polícia Federal, dando-se ciência ao Serviço Nacional de Informações; II - Sistema de alarme, com acionadores em diversos locais do estabelecimento e em comunicação direta com a Delegacia, Posto Policial, agência bancária ou estabelecimento de crédito mais próximo. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 13 Estranho, rudimentar e até indelicado, era o tratamento, pelo alto escalão militar da época, a estes profissionais de suma importância para a manutenção da segurança em nosso país, os homens e mulheres “Vigilantes”, que, pelos termos usados no inciso I anteriormente citado, os identificava como “elementos”, forma equivocada e jamais aceitável nos dias atuais. Sem dúvidas, o setor bancário e financeiro é um dos que mais investe, por força de lei, em geração de empregos aosVigilantes e Segurança Física Eletrônica, visto que, no mês de março de 2015, segundo informações do Banco Central do Brasil, foram contabilizadas 23.161 agências bancárias no país, além dos 10.405 postos de atendimento bancários. 2.1.3.2 Decreto-Lei nº 1.103/1970 O Decreto-Lei nº 1.103 de 06 de abril de 1970 (Revogado pela Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983), teve como principal escopo, alterar dispositivos do Decreto-Lei nº 1.034/1969, que dispôs sobre a segurança das Instituições Bancárias, Caixas Econômicas e Cooperativas de Créditos no território brasileiro. Passemos a analisar os artigos 1º, 2º e 3º do Decreto-Lei nº 1.103/70: Art. 1º É fixada a data de 31 de maio de 1970 para o cumprimento obrigatório, pelos estabelecimentos de credito, onde haja recepção de depósito, guarda de valores ou movimentação de numerário, dos dispositivos de segurança contra roubo e assaltos, a que se refere o artigo 2º do Decreto-lei nº 1.034, de 21 de outubro de 1969. Art. 2º Enquanto não se organizarem os serviços especiais de que trata o artigo 4º do Decreto- Lei nº 1.034, a vigilância ostensiva referida no artigo 2º do mesmo Decreto-Lei poderá ser realizada, através convênio das entidades representativas dos mencionados estabelecimentos com as Secretarias de Segurança das unidades federativas, mediante utilização dos respectivos efetivos policiais. Art. 3º O transporte de numerário em montante superior a 250 (duzentos e cinquenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País, para suprimento ou recolhimento do movimento diário das agências dos estabelecimentos de crédito deverá ser obrigatoriamente efetuado através de carros dotados de requisitos de segurança e policiamento adequados, observado o disposto no parágrafo 1º do art. 2º do Decreto-lei nº 1.034. Fixava como prazo final o dia 31 de maio de 1970 para que as agências bancárias no Brasil só funcionassem se já estivessem com os dispositivos de segurança contra roubo e assaltos instalados, ou seja, com sistemas de alarme e Vigilantes. Interessante neste Decreto-Lei, que possibilitava, enquanto não estivessem devidamente organizadas as empresas especializadas nos serviços de vigilância ostensiva, que as agências bancárias tivessem sua segurança efetuada por efetivos policiais. O transporte de valores também teve seu marco neste Decreto-Lei, que obrigava seu emprego para condução de valores superiores a 250 vezes o maior salário mínimo vigente no País, através de carros equipados com dispositivos de segurança e policiamento adequados. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 14 Importante também conhecer o fator impositivo às agências bancárias, a que lhes foi imposto pela força da legislação a obrigatoriedade dos dispositivos de segurança, conforme redação do Artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.103/69, que veremos abaixo: Art. 5º O Banco Central do Brasil interditará o funcionamento das agências dos estabelecimentos de credito referidos no artigo 1º que, a partir de 31 de maio de 1970, não possuírem, aprovado pela Secretaria de Segurança ou Chefatura de Polícia do respectivo Estado, os dispositivos de segurança de que tratam este Decreto-Lei e o Decreto-Lei nº 1.034. 2.1.3.3 Lei nº 7.102/1983 Neste item, vamos abordar a Lei nº 7.102 de 20 de junho de 1983, que dispôs sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelecendo normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dando outras providências, bem como suas alterações impostas pelos seguintes dispositivos: Lei nº 8.863 de 28 de março de 1994, Lei nº 9.017 de 30 de março de 1995, Lei nº 11.718 de 20 de junho de 2008 e Medida Provisória nº 2.184-23 de 24 de agosto de 2001. Apesar de ser considerada como ultrapassada e dos frequentes movimentos para sua atualização, a Lei nº 7.102/1983 ainda está em vigência e regula as principais atividades desenvolvidas pelas empresas que prestam serviço de segurança privada, escolas de formação e especialização dos profissionais que atuam em segurança privada, bem como a profissão de vigilante. Vamos destacar a seguir alguns dispositivos da Lei nº 7.102/1983, bem como suas alterações, que regulamentam a segurança privada brasileira. Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação de numerário, que não possua sistema de segurança com parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na forma desta lei. ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). § 1º Os estabelecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito e suas respectivas dependências. (Parágrafo único transformado em § 1º e com nova redação dada pela Lei nº 11.718, de 20/6/2008). Aos moldes das legislações anteriores, percebemos na redação do Art. 1º e no seu § 1º a obrigatoriedade das instituições financeiras no Brasil possuírem sistemas de segurança para terem deferidos seus pedidos de funcionamento, bem como algumas exceções asseguradas no mesmo artigo no seu § 2º, onde destacamos o inciso III: III - dispensa de contratação de vigilantes, caso isso inviabilize economicamente a existência do estabelecimento. (Parágrafo acrescido pela Lei nº 11.718, de 20/6/2008). Podemos destacar como exemplo de dispensa de contratação de vigilantes, conforme cita o inciso III do § 2º do Art. 1º, por alegarem que inviabilizaria o negócio, as agências lotéricas, SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 15 consideradas como postos de atendimento bancário, em função das atividades que exercem, tais como depósitos, saques, pagamento de contas, o que tem sido alvo de várias legislações estaduais e municipais construídas pelo Brasil tentando impor a contratação de postos de vigilância para garantir a segurança de trabalhadores e usuários, mas com pouco sucesso efetivo. Por esta norma, conforme podemos observar a seguir, no seu Art. 2º e seus incisos, continuam garantidos os vigilantes e os sistemas de alarme, com a novidade da obrigatoriedade de acrescentar a estes dois, pelo menos mais um dispositivo daqueles citados nos incisos I, II e III. Cabe destacar ainda a intenção do legislador em criar, através do inciso II, formas de retardar a ação dos criminosos, visando sua perseguição, identificação e captura. Principal destaque na redação do caput do Art. 2º deve-se aos vigilantes, como cita: “pessoas adequadamente preparadas”, ou seja, os profissionais formados em escolas credenciadas pelo Departamento de Polícia Federal e que preenchem todos os requisitos impostos pela profissão. Art. 2º O sistema de segurança referido no artigo anterior inclui pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas vigilantes; alarme capaz de permitir, com segurança, comunicação entre o estabelecimento financeiro e outro da mesma instituição, empresa de vigilância ou órgão policial mais próximo; e, pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens que possibilitem a identificação dos assaltantes; II - artefatos que retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, identificação ou captura; e III - cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o expediente para o público e enquanto houver movimentação de numerário no interior do estabelecimento. O Art. 3º e seus incisos estipulam critérios para quem prestará os serviços de vigilância e transporte de valores, geralmente terceirizado eexecutado por empresas especializadas no setor, mas também com a possibilidade do próprio estabelecimento financeiro, cumprindo o rito legal, organizar tais serviços. Curiosidade destacada para o parágrafo único do Art. 3º, que possibilita o emprego de Policiais Militares para desempenharem o serviço de vigilância ostensiva nos estabelecimentos financeiros do seu respectivo Estado da Federação, ou seja, caso o Governo do Estado do Rio Grande do Sul achasse conveniente, policiais da Brigada Militar poderiam, por exemplo, executar seu trabalho no Banco Banrisul. Art. 3º A vigilância ostensiva e o transporte de valores serão executados: I - por empresa especializada contratada; ou II - pelo próprio estabelecimento financeiro, desde que organizado e preparado para tal fim, com pessoal próprio, aprovado em curso de formação de vigilante autorizado pelo Ministério da Justiça e cujo sistema de segurança tenha parecer favorável à sua aprovação emitido pelo Ministério da Justiça. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 16 Parágrafo único. Nos estabelecimentos financeiros estaduais, o serviço de vigilância ostensiva poderá ser desempenhado pelas Polícias Militares, a critério do Governo da respectiva Unidade da Federação. (Artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Quanto ao transporte de valores, tivemos algumas mudanças significativas com relação a legislação anterior, tanto nas quantias envolvidas, quanto na forma de execução do serviço, possibilitando o transporte em veículos comuns, não blindados, conforme preconizam os Art. 4º e 5º da norma em questão, conforme segue: Art. 4º O transporte de numerário em montante superior a vinte mil Unidades Fiscais de Referência (Ufir), para suprimento ou recolhimento do movimento diário dos estabelecimentos financeiros, será obrigatoriamente efetuado em veículo especial da própria instituição ou de empresa especializada. (Artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Art. 5º O transporte de numerário entre sete mil e vinte mil Ufirs poderá ser efetuado em veículo comum, com a presença de dois vigilantes. (Artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Os Art. 6º e 20º discorrem sobre as atribuições do Ministério da Justiça, geralmente delegadas ao Departamento de Polícia Federal, no que dizem respeito a autorização e fiscalização do cumprimento desta norma pelos estabelecimentos financeiros, quanto àquelas relacionadas às atividades de segurança privada, perceba: Art. 6º Além das atribuições previstas no art. 20, compete ao Ministério da Justiça: I - fiscalizar os estabelecimentos financeiros quanto ao cumprimento desta lei; II - encaminhar parecer conclusivo quanto ao prévio cumprimento desta lei, pelo estabelecimento financeiro, à autoridade que autoriza o seu funcionamento; III - aplicar aos estabelecimentos financeiros as penalidades previstas nesta lei. Parágrafo único. Para a execução da competência prevista no inciso I, o Ministério da Justiça poderá celebrar convênio com as Secretarias de Segurança Pública dos respectivos Estados e Distrito Federal. (Artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Art. 20. Cabe ao Ministério da Justiça, por intermédio do seu órgão competente ou mediante convênio com as Secretarias de Segurança Pública dos Estados e Distrito Federal: ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995) I - conceder autorização para o funcionamento: a) das empresas especializadas em serviços de vigilância; b) das empresas especializadas em transporte de valores; e c) dos cursos de formação de vigilantes; SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 17 II - fiscalizar as empresas e os cursos mencionados dos no inciso anterior; Ill - aplicar às empresas e aos cursos a que se refere o inciso I deste artigo as penalidades previstas no art. 23 desta Lei; IV - aprovar uniforme; V - fixar o currículo dos cursos de formação de vigilantes; VI - fixar o número de vigilantes das empresas especializadas em cada unidade da Federação; VII - fixar a natureza e a quantidade de armas de propriedade das empresas especializadas e dos estabelecimentos financeiros; VIII - autorizar a aquisição e a posse de armas e munições; e IX - fiscalizar e controlar o armamento e a munição utilizados. X - rever anualmente a autorização de funcionamento das empresas elencadas no inciso I deste artigo. (Inciso acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994) Parágrafo único. As competências previstas nos incisos I e V deste artigo não serão objeto de convênio. (Parágrafo único com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Existem muitas dúvidas com relação a quem são as pessoas autorizadas para prestar serviço de Vigilante, bem como, que tipo de empresas estão credenciadas tanto para a formação de Vigilantes, quanto para as atividades de segurança privada, devidamente amparadas legalmente, visto que existem muitas pessoas e empresas executando atividades correlatas da segurança privada de forma clandestina. Os Art. 10, 11, 12, 13 e 14, a seguir, discorrem sobre os tipos de atividades na segurança privada que estão legalmente autorizadas pelo Ministério da Justiça, que podem ser desenvolvidas no território brasileiro, tais como: a vigilância patrimonial nas instituições financeiras, estabelecimentos públicos e privados, a segurança de pessoas físicas, o transporte de valores, além de vetar a participação na sociedade e na administração das empresas de estrangeiros e pessoas com antecedentes criminais. Art. 10. São considerados como segurança privada as atividades desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade de: ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). I - proceder a vigilância patrimonial das instituições financeiras e de outros estabelecimentos, públicos ou privados, bem como a segurança de pessoas físicas; (Inciso acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). II - realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga. (Inciso acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 18 § 1º Os serviços de vigilância e de transporte de valores poderão ser executados por uma mesma empresa. (Parágrafo único transformado em §1º pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). § 2º As empresas especializadas em prestação de serviços de segurança, vigilância e transporte de valores, constituídas sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses previstas nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; a estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residenciais; a entidades sem fins lucrativos; e órgãos e empresas públicas. (Parágrafo acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). § 3º Serão regidas por esta Lei, pelos regulamentos dela decorrentes e pelas disposições da legislação civil, comercial, trabalhista, previdenciária e penal, as empresas definidas no parágrafo anterior. (Parágrafo acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). § 4º As empresas que tenham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do transporte de valores, que utilizem pessoal de quadro funcional próprio, para execução dessas atividades, ficam obrigadas ao cumprimento do disposto nesta Lei e demais legislações pertinentes. (Parágrafo acrescido pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). Art. 11. A propriedade e a administração das empresas especializadas que vierem a se constituir são vedadas a estrangeiros. Art. 12. Os diretores e demais empregados das empresas especializadas não poderão ter antecedentes criminais registrados. Art. 13. O capital integralizado das empresas especializadasnão pode ser inferior a cem mil Ufirs. (Artigo com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995). Art. 14. São condições essenciais para que as empresas especializadas operem nos Estados, Territórios e Distrito Federal: I - autorização de funcionamento concedida conforme o art. 20 desta Lei; e II - comunicação à Secretaria de Segurança Pública do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal. Especificamente sobre os Vigilantes, os Art. 15, 16, 17, 18 e 19 norteiam a profissão, definindo os requisitos que devem ser preenchidos para estar apto ao pleno exercício legal de suas funções, levando em consideração sua nacionalidade, idade mínima, grau de instrução, antecedentes criminais, quitações eleitorais e militares, aprovação em curso específico de formação, prévio registro no Departamento de Polícia Federal, estar apto física e mentalmente, além de garantir alguns direitos, entre eles o porte de arma em serviço, uniforme cedido pela empresa, prisão especial por ação ocorrida durante o serviço, seguro de vida, entre outros. Ressaltar o Art. 18 em seu caput, determinando que o Vigilante utilize seu uniforme somente durante o serviço, sendo proibido sua utilização fora do posto, inclusive para o seu deslocamento na chegada ou saída do seu turno de trabalho, ficando o profissional e a empresa passível de punições. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 19 Art. 15. Vigilante, para os efeitos desta Lei, é o empregado contratado para a execução das atividades definidas nos incisos I e II do caput e §§ 2º, 3º e 4º do art. 10. (Artigo com redação dada pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994). Art. 16. Para o exercício da profissão, o vigilante preencherá os seguintes requisitos: I - ser brasileiro; II - ter idade mínima de 21 (vinte e um) anos; III - ter instrução correspondente à quarta série do primeiro grau; IV - ter sido aprovado, em curso de formação de vigilante, realizado em estabelecimento com funcionamento autorizado nos termos desta Lei. (Inciso com redação dada pela Lei nº 8.863, de 28/3/1994); V - ter sido aprovado em exame de saúde física, mental e psicotécnico; VI - não ter antecedentes criminais registrados; e VII - estar quite com as obrigações eleitorais e militares. Parágrafo único. O requisito previsto no inciso III deste artigo não se aplica aos vigilantes admitidos até a publicação da presente Lei. Art. 17. O exercício da profissão de vigilante requer prévio registro no Departamento de Polícia Federal, que se fará após a apresentação dos documentos comprobatórios das situações enumeradas no art. 16. ("Caput" do artigo alterado pela Medida Provisória nº 2.184-23, de 24/8/2001). Parágrafo único. Ao vigilante será fornecida Carteira de Trabalho e Previdência Social, em que será especificada a atividade do seu portador. Art. 18. O vigilante usará uniforme somente quando em efetivo serviço. Art. 19. É assegurado ao vigilante: I - uniforme especial às expensas da empresa a que se vincular; II - porte de arma, quando em serviço; III - prisão especial por ato decorrente do serviço; IV - seguro de vida em grupo, feito pela empresa empregadora. Apesar de falar mais profundamente sobre armamento e equipamentos autorizados para utilização pela segurança privada mais ao final desta unidade, não poderia deixar de, acompanhando o desenvolvimento dos conhecimentos desta norma, citar os Art. 21 e 22, que preliminarmente SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 20 regulam armamentos e equipamentos, deixam claro que estes são de propriedade e responsabilidade das empresas, tanto especializadas, quanto orgânicas, devendo durante o serviço os profissionais da segurança privada utilizarem armas e equipamentos autorizados em lei e devidamente destinados à função específica que irá executar, a exemplo da espingarda calibre 12, de uso permitido e fabricação nacional, exclusiva para emprego em transporte de valores. Art. 21. As armas destinadas ao uso dos vigilantes serão de propriedade e responsabilidade: I - das empresas especializadas; II - dos estabelecimentos financeiros quando dispuserem de serviço organizado de vigilância, ou mesmo quando contratarem empresas especializadas. Art. 22. Será permitido ao vigilante, quando em serviço, portar revólver calibre 32 ou 38 e utilizar cassetete de madeira ou de borracha. Parágrafo único. Os vigilantes, quando empenhados em transporte de valores, poderão também utilizar espingarda de uso permitido, de calibre 12, 16 ou 20, de fabricação nacional. Por fim, entre algumas partes da Lei 7.102/83 que merecem destaque especial, citamos o Art. 23, que impõe as empresas especializadas e aos cursos de formação de Vigilantes algumas penalidades, caso deixem de cumprir a presente norma. Art. 23. As empresas especializadas e os cursos de formação de vigilantes que infringirem disposições desta Lei ficarão sujeitos às seguintes penalidades, aplicáveis pelo Ministério da Justiça, ou, mediante convênio, pelas Secretarias de Segurança Pública, conforme a gravidade da infração, levando-se em conta a reincidência e a condição econômica do infrator: I - advertência; II - multa de quinhentas até cinco mil Ufirs; (Inciso com redação dada pela Lei nº 9.017, de 30/3/1995) III - proibição temporária de funcionamento; e IV - cancelamento do registro para funcionar. Parágrafo único. Incorrerão nas penas previstas neste artigo as empresas e os estabelecimentos financeiros responsáveis pelo extravio de armas e munições. 2.1.3.4 Decreto nº 89.056/1983 O Decreto nº 89.056, de 24 de novembro de 1983, foi editado com o fulcro de regulamentar a Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, que dispôs sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelecendo normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores. Este decreto sofreu algumas alterações e atualizações, através do Decreto nº 1.592, de 10 de agosto de 1995. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 21 Analisando os Art. 1º ao 11º, a seguir, observamos que pouca coisa muda em relação a Lei 7.102/83, visto que o objetivo principal foi cumprir um rito jurídico legal necessário, em função disto, traremos a destaque neste conteúdo, apenas aqueles dispositivos mais relevantes, onde, neste primeiro momento citamos o número adequado de Vigilantes constante no caput dos Art. 2º e 6º, devendo a quantidade ficar estabelecida no estudo desenvolvido e apresentado no plano de segurança de cada local, conforme suas peculiaridades. Art. 1º É vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimento de numerário, que não possua sistema de segurança com parecer favorável à sua aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na forma deste Regulamento. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Parágrafo único. Os estabelecimentos financeiros referidos neste artigo compreendem bancos oficiais ou privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, subagências e seções. Art 2º O sistema de segurança será definido em um plano de segurança compreendendo vigilância ostensiva com número adequado de vigilantes, sistema de alarme e pelo menos mais um dos seguintes dispositivos: I - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens instalados de forma a permitir captar e gravar as imagens de toda movimentação de público no interior do estabelecimento; Il - artefatos que retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perseguição, identificação ou captura; ou IlI - cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o expedientepara o público e enquanto houver movimentação de numerário no interior do estabelecimento. Art 3º. O estabelecimento financeiro ao requerer a autorização para funcionamento deverá juntar ao pedido o plano de segurança, os projetos de construção, instalação e manutenção do sistema de alarme e demais dispositivos de segurança adotados. Art 4º. O Banco Central do Brasil autorizará o funcionamento do estabelecimento financeiro após verificar o atendimento dos requisitos mínimos de segurança indispensáveis, ouvida a Secretaria de Segurança Pública da Unidade da Federação onde estiver situado o estabelecimento. Art 5º. Vigilância ostensiva, para os efeitos deste Regulamento, consiste em atividade exercida no interior dos estabelecimentos e em transporte de valores, por pessoas uniformizadas e adequadamente preparadas para impedir ou inibir ação criminosa. Art 6º. O número mínimo de vigilantes adequado ao sistema de segurança de cada estabelecimento financeiro será definido no plano de segurança a que se refere o art. 2º, observados, entre outros critérios, as peculiaridades do estabelecimento, sua localização, área, instalações e encaixe. Art 7º. O sistema de alarme será de reconhecida eficiência, conforme projeto de construção, instalação e manutenção executado por empresa idônea, e de modo a permitir imediata SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 22 comunicação do estabelecimento financeiro com órgão policial mais próximo, outro estabelecimento da mesma instituição ou empresa de vigilância. Art 8º. Os dispositivos de segurança previstos nos incisos I, II e III do art. 2º, adotados pelo estabelecimento financeiro, obedecerão a projetos de construção, instalação e manutenção executados por empresas idôneas, observadas as especificações técnicas asseguradoras de sua eficiência. Art. 9º O transporte de numerário em montante superior a 20.000 (vinte mil) Unidades Fiscais de Referência (UFIR), para suprimento ou recolhimento do movimento diário dos estabelecimentos financeiros, será efetuado em veículo especial da própria instituição ou de empresa especializada. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). § 1º. Consideram-se especiais para os efeitos, deste Regulamento, os veículos com especificações de segurança e dotados de guarnição mínima de vigilantes a serem estabelecidas pelo Ministério da Justiça. § 2º. Os veículos especiais para transporte de valores deverão ser mantidos em perfeito estado de conservação. § 3º. Os veículos especiais para transporte de valores serão periodicamente vistoriados pelos órgãos de trânsito e policial competentes. Art. 10. Nas regiões onde for comprovada a impossibilidade do uso de veículo especial pela empresa especializada ou pelo próprio estabelecimento financeiro, o Ministério da Justiça poderá autorizar o transporte de numerário por via aérea, fluvial ou outros meios, condicionado à presença de no mínimo, dois vigilantes. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Art. 11. O transporte de numerário entre 7.000 (sete mil) e 20.000 (vinte mil) UFIR poderá ser efetuado em veículo comum, com a presença de dois vigilantes. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). O § 2º do Art. 12, continua permitindo que nos estabelecimentos financeiros estaduais, o serviço de vigilância ostensiva possa ser executado por Policiais Militares. § 2º Nos estabelecimentos financeiro estaduais, o serviço de vigilância ostensiva poderá ser desempenhado pelas Polícias Militares, a critérios do Governo da respectiva Unidade da Federação. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). O Art. 14 e seus incisos, com a nova redação dada pelo Decreto nº 1.592/95, finalmente regulou e impôs penalidades e multa relevante aos estabelecimentos financeiros que descumprirem o ordenamento previsto em legislação, quanto a execução dos serviços e dispositivos de segurança que são fundamentais para o seu funcionamento. Art. 14. O estabelecimento financeiro que infringir qualquer das disposições da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, e deste Regulamento, ficará sujeito às seguintes penalidades, aplicáveis SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 23 pelo Ministério da Justiça, conforme a gravidade da infração e levando-se em conta a reincidência e a condição econômico do infrator: (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). I - advertência; (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995); II - multa, de 1.000 (mil) a 20.000 (vinte mil) UFIR; (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995); III - interdição do estabelecimento. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Parágrafo único. O Ministério da Justiça disporá sobre o procedimento para aplicação das penalidades previstas neste artigo, assegurado ao infrator direito de defesa e possibilidade de recurso. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). O Art. 16, através dos seus incisos e parágrafos, nos traz como novidade a imposição de que os cursos de formação de Vigilantes somente poderão ser realizados por empresa devidamente autorizada pela Polícia Federal, além de dar especial enfoque aos exames psicológicos para a formação e desempenho da função. Art 16. Para o exercício da profissão, o vigilante deverá registrar-se na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho, comprovando: I - ser brasileiro; lI - ter idade mínima de 21 (vinte e um) anos; III - ter instrução correspondente à quarta série do ensino do primeiro grau; IV - ter sido aprovado em curso de formação de vigilante, realizado em estabelecimento com funcionamento autorizado. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995) V - ter sido aprovado em exame de saúde física, mental e psicotécnico; VI - não ter antecedentes criminais registrados; e VII - estar quite com as obrigações eleitorais e militares. § 1º. O requisito previsto no inciso III deste artigo não se aplica aos vigilantes em exercício da profissão, desde que admitidos por empresa especializada até o dia 21 de junho de 1983. § 2º. O exame de sanidade física e mental será realizado de acordo com o disposto em norma regulamentadora do Ministério do Trabalho. § 3º. O exame psicotécnico será realizado conforme instruções do Ministério do Trabalho. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 24 Os Art. 23 a 29, vem justamente dar os primeiros passos em nossa legislação no sentido de impor requisitos para a formação de Vigilantes, que só poderá ocorrer nas instituições capacitadas, idôneas e autorizadas pelo Ministério da Justiça, através da Polícia Federal. A intenção do legislador, através desta norma, foi buscar uma formação adequada àqueles profissionais que colocarão suas vidas e a vida de terceiros em risco, por isto, os treinamentos visam conteúdos teóricos e práticos, com avaliações e carga horária a ser cumprida de forma rigorosa, com os dados dos candidatos em até cinco dias enviados ao órgão fiscalizador, geralmente a Polícia Federal, para que, não contemplando requisitos como bons antecedentes, serão retirados do curso de formação, não permitindo sua conclusão. Art 23. O curso de formação de vigilantes somente poderá ser ministrado por instituição capacitada e idônea, autorizada a funcionar pelo Ministério da Justiça. § 1º Não será autorizado a funcionar o curso que não disponha de instalações seguras e adequadas, de uso exclusivo, para treinamento teórico e prático dos candidatos a vigilantes. § 2º - Na hipótese de não haver disponibilidade de utilização de estande de tiro no municípiosede do curso, pertencente a organizações militares ou policiais civis, será autorizada a instalação de estande próprio. Art 24. O Ministério da Justiça fixará o currículo do curso de formação de vigilantes e a carga horária para cada disciplina. Art 25. São requisitos para a inscrição do candidato ao curso de formação de vigilantes: I - ser brasileiro; lI - ter instrução correspondente à quarta série do ensino do primeiro grau; III - ter sido aprovado em exame de saúde física, mental e psicotécnico; IV - não ter antecedentes criminais registrados; e V - estar quite com as obrigações eleitorais e militares. Parágrafo único. Aos vigilantes em exercício na profissão, contratados até 21 de junho de 1983, não se aplica a exigência do inciso lI. Art 26. A avaliação final do curso em formação de vigilantes será constituída de exame teórico e prático das disciplinas do currículo. Parágrafo único. Somente poderá submeter-se à prova de avaliação final o candidato que houver concluído o curso com frequência de 90% (noventa por cento) da carga horária de cada disciplina. Art 27. O candidato aprovado no curso de formação de vigilantes receberá certificado nominal de conclusão do curso expedido pela instituição especializada e registrado no Ministério da Justiça. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 25 Art 28. O curso de formação de vigilantes será fiscalizado pelo Ministério da Justiça. Art 29. A instituição responsável pelo curso de formação de vigilantes remeterá ao órgão fiscalizador, até 5 (cinco) dias após o início de cada curso, relação nominal e qualificação dos candidatos nele matriculados. O Art. 31 e seus parágrafos 1º e 2º, define as empresas orgânicas, permitindo que possam constituir sua própria segurança ostensiva e instalar seus dispositivos de alarme, obedecendo a presente norma, mas proibindo que comercializem estes serviços para terceiros. Art. 31. As empresas que tenham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do transporte de valores, que utilizem pessoal de quadro funcional próprio para a execução dessas atividades, ficam obrigadas ao cumprimento do disposto neste Regulamento e demais legislações pertinentes. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). § 1º Os serviços de segurança a que se refere este artigo denominam-se serviços orgânicos de segurança. (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995). § 2º As empresas autorizadas a exercer serviços orgânicos de segurança não poderão comercializar os serviços de vigilância e transporte de valores. (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Os parágrafos 8º, 9º e 10º do Art. 32, impõem condições e requisitos indispensáveis para a execução das atividades de segurança pessoal privada (SPP) e de escolta armada, exigindo, entre outros, cursos de extensão específicos para o desempenho de cada uma delas, com currículos elaborados e fixados pelo Ministério da Justiça, além de cursos de reciclagem a cada dois anos. § 8º Para o desempenho das atividades de segurança pessoal privada e escolta armada, o vigilante, além do curso de formação, deverá: (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995). a) possuir experiência mínima, comprovada, de um ano na atividade de vigilância; b) ter comportamento social e funcional irrepreensível; c) ter sido selecionado, observando-se a natureza especial do serviço; d) portar credencial funcional, fornecida pela empresa, no moldes fixados pelo Ministério da Justiça; e) frequentar os cursos de reciclagem, com aproveitamento, a cada período de dois anos, a contar do curso de extensão. § 9º Para o exercício das atividades de segurança pessoal privada e de escolta armada, o vigilante deverá ter concluído, com aproveitamento, curso de extensão correspondente em empresas de curso devidamente autorizada a ministrá-lo. (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995). SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 26 § 10. O Ministério da Justiça fixará o currículo para os cursos de extensão em escolta armada e segurança pessoal privada. (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Os Art. 33 e 34, regulam os uniformes a serem utilizados pelos Vigilantes, devendo ser condizentes às condições climáticas, mas sobretudo evitando qualquer semelhança aos fardamentos utilizados pelas formas armadas e auxiliares brasileiras. Importante destacar o Art. 35, especialmente no que se refere ao permanente treinamento que as empresas devem propiciar aos seus profissionais, pois sabe-se da evolução do crime, das armas, técnicas e táticas, o que se faz imprescindível esta evolução também àqueles que prestam serviços na área de segurança. Art 33. O uniforme será adequado às condições climáticas do lugar onde o vigilante prestar serviço e de modo a não prejudicar o perfeito exercício de suas atividades profissionais. § 1º. Das especificações do uniforme constará: I - apito com cordão; II - emblema da empresa; e III - plaqueta de identificação do vigilante. § 2º. A plaqueta de identificação prevista no inciso III do parágrafo anterior será autenticada pela empresa, terá validade de 6 (seis) meses e conterá o nome, número de registro na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho e fotografia tamanho 3x4 do vigilante. Art 34. O modelo de uniforme especial dos vigilantes não será aprovado pelo Ministério da Justiça quando semelhante aos utilizados pelas Forças Armadas e Forças Auxiliares. Art 35. Não será autorizado o funcionamento de empresa especializada que não disponha de recursos humanos e financeiros ou de instalações adequadas ao permanente treinamento de seus vigilantes. Por fim, quanto às armas e munições, os Art. 42 a 47, normatizam que todo armamento empregado nas atividades de vigilância, transporte de valores, escolta armada e segurança pessoal privada, deve pertencer às empresas especializadas, orgânicas e as escolas de formação de Vigilantes, devidamente autorizadas e fiscalizadas pelo Ministério da Justiça. Art. 42. As armas e as munições destinadas ao uso de treinamento dos vigilantes serão de propriedade e responsabilidade: (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995) I - das empresas especializadas; (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995); II - dos estabelecimentos financeiros, quando dispuserem de serviço organizado de vigilância, ou quando contratarem empresa especializada; (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995); SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 27 III - da empresa executante dos serviços orgânicos de segurança. (Incluído pelo Decreto nº 1.592, de 1995); Art 43. As armas e as munições utilizadas pelos Instrutores e alunos do curso de formação de vigilantes serão de propriedade e responsabilidade da instituição autorizada a ministrar o curso. Art. 44. O Ministério da Justiça fixará a natureza e a quantidade de armas de propriedade e responsabilidade do estabelecimento financeiro, do curso de formação de vigilantes, da empresa especializada e da executante dos serviços orgânicos de segurança. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Art. 45. A aquisição e a posse de armas e munições por estabelecimento financeiro, empresa especializada, empresa executante de serviços orgânicos de segurança e cursos de formação de vigilantes dependerão de autorização do Ministério da Justiça. (Redação dada pelo Decreto nº 1.592, de 1995). Art 46. As armas e munições de propriedade e responsabilidade dos cursosde formação de vigilantes, das empresas especializadas e dos estabelecimentos financeiros serão guardadas em lugar seguro, de difícil acesso a pessoas estranhas ao serviço. Art 47. Todo armamento e munição destinados à formação, ao treinamento e ao uso dos vigilantes serão fiscalizados e controlados pelo Ministério da Justiça. 2.1.3.5 Portaria nº 3.233/2012 Portaria nº 3.233/2012-DG/DPF, de 10 de dezembro de 2012 (Alterada pela Portaria nº 3.258/2013-DG/DPF, publicada no D.O.U em 14/01/2013 e pela Portaria nº 3.559/2013-DG/DPF, publicada no D.O.U. em 10/06//2013), dispõe sobre as normas relacionadas às atividades de segurança privada no Brasil, dos quais destacaremos apenas alguns itens principais, visto que iremos abordá-la novamente na próxima unidade da nossa disciplina, onde trataremos especificamente sobre a formação dos profissionais, as principais funções e as formas de atuação. A redação do Art. 1º e seus Parágrafos 1º, 2º e 3º, com seus Incisos, nos traz algumas novidades e denominações importantes para a compreensão e desenvolvimento das atividades de segurança privada. A primeira novidade em nossos estudos sobre a legislação de segurança privada brasileira, apresentada nesta Portaria, vem do caput do Art. 1º, quando disciplina as atividades “armada ou desarmada”, ou seja, permitindo o emprego de profissionais desarmados durante o serviço, obviamente, dependendo do tipo de atividade e local. Já o § 1º do Art. 1º regula que as atividades de segurança privada serão “complementares às atividades de segurança pública”, na verdade, entendendo a necessidade desta força privada de segurança para a prevenção de delitos, além do que complementa o inciso II do § 2º deste mesmo artigo, quando coloca entre os objetivos da política de segurança privada a “segurança dos cidadãos”. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 28 A definição e conceituação das atividades de segurança privada ficaram a cargo dos incisos I, II, III, IV e V do § 3º do Art. 1º da presente Portaria, conforme seguem abaixo. Art. 1º. A presente Portaria disciplina as atividades de segurança privada, armada ou desarmada, desenvolvidas pelas empresas especializadas, pelas empresas que possuem serviço orgânico de segurança e pelos profissionais que nelas atuam, bem como regula a fiscalização dos planos de segurança dos estabelecimentos financeiros. § 1º. As atividades de segurança privada serão reguladas, autorizadas e fiscalizadas pelo Departamento de Polícia Federal - DPF e serão complementares às atividades de segurança pública nos termos da legislação específica. § 2º. A política de segurança privada envolve a Administração Pública e as classes patronal e laboral, observando os seguintes objetivos: I - dignidade da pessoa humana; II - segurança dos cidadãos; III - prevenção de eventos danosos e diminuição de seus efeitos; IV - aprimoramento técnico dos profissionais de segurança privada; e V - estímulo ao crescimento das empresas que atuam no setor. § 3º. São consideradas atividades de segurança privada: I - vigilância patrimonial: atividade exercida em eventos sociais e dentro de estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a integridade do patrimônio; II - transporte de valores: atividade de transporte de numerário, bens ou valores, mediante a utilização de veículos, comuns ou especiais; III - escolta armada: atividade que visa garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou de valor, incluindo o retorno da equipe com o respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente necessários; IV - segurança pessoal: atividade de vigilância exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física de pessoas, incluindo o retorno do vigilante com o respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente necessários; e V - curso de formação: atividade de formação, extensão e reciclagem de vigilantes. O Art. 2º e seus incisos, nos apresenta algumas terminologias que precisam fazer parte do vocábulo das pessoas que estudam ou desenvolvem atividades relacionadas, tanto com a segurança privada, quanto com a segurança pública. SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 29 Art. 2º Para os efeitos desta Portaria são utilizadas as seguintes terminologias: I - Empresa especializada: pessoa jurídica de direito privado autorizada a exercer as atividades de vigilância patrimonial, transporte de valores, escolta armada, segurança pessoal e cursos de formação; II - Empresa possuidora de serviço orgânico de segurança: pessoa jurídica de direito privado autorizada a constituir um setor próprio de vigilância patrimonial ou de transporte de valores, nos termos do Art. 10, § 4º da Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983; III - Vigilante: profissional capacitado em curso de formação, empregado de empresa especializada ou empresa possuidora de serviço orgânico de segurança, registrado no DPF, e responsável pela execução de atividades de segurança privada; e IV – Plano de segurança: documentação das informações que detalham os elementos e as condições de segurança dos estabelecimentos referidos no Capítulo V. (texto alterado pela Portaria nº 3.258/13-DG/DPF, publicada no D.O.U em 14/01/2013). Fundamental aos estudiosos da temática das atividades de segurança privada, conhecer as unidades de controle e fiscalização, conforme dispositivos contidos no Art. 3º da presente Portaria, os quais possibilitam regular e nortear essa importante atividade complementar a segurança pública, protegendo o patrimônio e a incolumidade física das pessoas. Art. 3º O controle e a fiscalização das atividades de segurança privada serão exercidos pelos órgãos e unidades abaixo indicados: I - Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada - CCASP, órgão colegiado de natureza deliberativa e consultiva, presidido pelo Diretor-Executivo do DPF e, em suas faltas e impedimentos, pelo Coordenador-Geral de Controle de Segurança Privada, cuja composição e funcionamento são regulados pela Portaria no 2.494, de 3 de setembro de 2004, do Ministério da Justiça; II - Coordenação-Geral de Controle de Segurança Privada - CGCSP, unidade vinculada à Diretoria-Executiva do DPF, responsável pela coordenação das atividades de segurança privada, assim como pela orientação técnica e acompanhamento das atividades desenvolvidas pelas Delegacias de Controle de Segurança Privada e Comissões de Vistoria; III - Delegacias de Controle de Segurança Privada - Delesp, unidades regionais vinculadas às Superintendências de Polícia Federal nos Estados e no Distrito Federal, responsáveis pela fiscalização e controle das atividades de segurança privada, no âmbito de suas circunscrições, cabendo-lhe ainda: a) realizar a orientação técnica e a uniformização de procedimentos, em observância às normas e orientações gerais expedidas pela CGCSP; b) manter permanente contato com as Comissões de Vistoria, para coordenação de esforços em âmbito regional; e SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 30 c) manifestar-se em relação a consultas e dúvidas efetuadas em matéria de controle de segurança privada, auxiliando, quando necessário, as Comissões de Vistoria, seguindo as normas e orientações gerais expedidas pela CGCSP; IV - Comissões de Vistoria - CVs, unidades vinculadas às Delegacias de Polícia Federal descentralizadas, responsáveis pela fiscalização e controle das atividades de segurança privada, no âmbito de suas circunscrições, presididas por um Delegado de Polícia Federal e compostas por, no mínimo, mais dois membros titulares e respectivos suplentes. § 1º As CVs, cujas atribuições são as constantes
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