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AN02FREV001/REV 4.0 41 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 42 CURSO DE TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 43 MÓDULO III 5 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL 5.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade antissocial A. Um padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios, que ocorre desde os 15 anos, indicado por, no mínimo, três dos seguintes critérios: (1) Incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos lícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção; (2) Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer; (3) Impulsividade ou fracasso de fazer planos para o futuro; (4) Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas; (5) Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; (6) Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras; (7) Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém. B. O indivíduo tem, no mínimo, 18 anos de idade. AN02FREV001/REV 4.0 44 C. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de idade. D. A ocorrência do comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia ou Episódio Maníaco. (FONTE: DSM-IV). O transtorno da personalidade antissocial é caracterizado por um comportamento invasivo, crônico, de desrespeito e violação dos direitos dos outros; tem início na infância ou na adolescência, continua na vida adulta e está presente em uma grande variedade de contextos. Os antissociais talvez sejam os pacientes mais amplamente estudados, de todos os pacientes com transtorno de personalidade. Eles foram chamados de pacientes “psicopatas”, “sociopatas” e com “transtorno de caráter”, termos que em psiquiatria tradicionalmente significa o mesmo que ser intratável. Alguns podem até argumentar que estes pacientes devem ser considerados “criminosos” e não devem ser incluídos na jurisdição da psiquiatria. Entretanto, a experiência clínica sugere que o rótulo de antissocial é aplicado tanto aos totalmente intratáveis como aos tratáveis sob certas condições. Este transtorno parece estar associado a situações econômicas desfavoráveis e a certos contextos urbanos. Uma infância marcada por pais negligentes, ríspidos e fisicamente abusivos são fatores de risco para o desenvolvimento da personalidade antissocial. Em alguns casos, o diagnóstico pode ser aplicado incorretamente, na medida em que um comportamento antissocial pode servir como uma estratégia de sobrevivência. O transtorno da personalidade antissocial é muito mais comum em homens do que em mulheres. AN02FREV001/REV 4.0 45 FIGURA 9 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. A definição está pautada na ideia de que o comportamento antissocial começa na adolescência. Antes disso, a personalidade provavelmente é caracterizada por distração e agressividade. Histórias de enurese, sonambulismo, atos de crueldade, também são prognósticos característicos de um futuro desenvolvimento do transtorno. Já na adolescência, a perturbação assume a forma de comportamentos tipicamente antissociais como: mentira, vadiagem, vandalismo, promiscuidade, chegando a incluir comportamentos sexuais agressivos e abuso de substâncias. Aproximadamente um terço dessas pessoas têm problemas de alcoolismo. A incapacidade do adulto jovem de se desempenhar satisfatoriamente no trabalho, como pai ou cônjuge, completa o quadro clínico. Os comportamentos antissociais tendem a alcançar um pico nos primeiros anos de vida adulta e diminuem gradativamente com a idade. AN02FREV001/REV 4.0 46 FIGURA 10 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. Os sujeitos com o transtorno são regidos por coação ou vantagem pessoal. Eles valorizam os outros pelo que eles têm a oferecer e acreditam que precisam extorquir o máximo que puderem. Este modo de pensar geralmente manifesta-se em comportamentos ilegais, tais como destruição intencional do patrimônio alheio, furto e intimidação física. Estes comportamentos estão associados à maldade, crueldade e sadismo, isto é, prazer pelos problemas que causaram aos outros. São cometidos em benefício próprio, sem preocupação aos danos que pode acarretar ao outro. Os sujeitos com transtorno de personalidade antissocial carecem de lealdade, fidelidade e honestidade, o que os impede de manter relacionamentos duradouros ou satisfatórios para ambos os lados. Sua aparente autoconfiança e demonstração de desembaraço podem impressionar, mas a incapacidade de apresentar razões sinceras ou significativas para seus motivos e sentimentos torna-se um obstáculo inaceitável para aqueles que buscam um relacionamento íntimo. Sua infidelidade, fuga de obrigações e quebra de promessas são um traço marcante. A ausência de ligações significativas e os sentimentos superficiais as separam dos outros. As pessoas antissociais veem o mundo exterior como AN02FREV001/REV 4.0 47 afetivamente frio e automático. Elas podem geralmente justificar sem remorso, a desconsideração pelas regras e pelos direitos dos outros. 5.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA Estudos indicam que fatores genéticos podem influenciar o desenvolvimento do transtorno, mas não são claros o quanto são específicas estas influências genéticas. Estes fatores biológicos podem, por sua vez, contribuir para problemas precoces na relação mãe-filho. Estas crianças, em função de fatores constitucionais, podem ser intranquilas, o que interfere na relação com os pais. Pacientes antissociais frequentemente têm histórias de negligência ou abuso na infância por parte de figuras parentais. Independente de se a responsabilidade é da criança, da mãe, ou de ambos, estes sujeitos não alcançaram o nível evolutivo da constância objetal descrito por Mahler (1975). Assim, eles não possuem uma introjeção materna tranquilizadora. A falta da confiança básica, associada à ausência de experiências amorosas com uma figura maternal, apresenta graves implicações no desenvolvimento futuro das pessoas com o transtorno da personalidade antissocial. O processo de desenvolvimento fica paralisado antes de ser completada a separação/individuação (Mahler, 1975) e desenvolver-se a constância objetal. Ao mesmo tempo, o vínculo emocional entre a criança e a mãe é perturbado porque a mãe é sentida como uma estranha. A marca clássica no sentido dinâmico do psicopata é o fracasso do desenvolvimento do superego. A ausência de qualquer sentido moral nestes sujeitos é uma das apavorantes qualidades que os fazem parecer destituídos de qualquer humanidade. A agressão é seu único sistema de valores, independente da consequência. Eles não fazem o menor esforço para justificar moralmente seu comportamento antissocial. Na situação terapêutica eles podem mentir, enganar, roubar, ameaçar ou agir de forma irresponsável ou enganosa. AN02FREV001/REV 4.0 48 FIGURA 11 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 5.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA A psicoterapia individual do paciente com transtorno antissocial grave está condenada ao fracasso. O psicopata puro, num sentido dinâmico, não irá responder à psicoterapia. O paciente mente e os engodos são tão generalizados que o terapeuta não terá ideia do que realmente está ocorrendo na vida do mesmo. Em um contexto hospitalar ou institucional existe algum otimismo com um grupo de pacientes antissociais. Ambientes de tratamento tradicionais não são particularmente úteis, eles estimulam as piores qualidades destes pacientes. Os afetos serão descarregados por meio da ação, por não haver nenhum ambiente onde estes possam ser canalizados, contidos. Podemos citar algumas características clínicas que contraindicam a psicoterapia: - a história da conduta sádica ou violenta em relação aos outros que resultaram em ferimentos graves ou morte; - total ausência de remorso ou racionalização deste comportamento; - inteligência muito superior ou na faixa de retardo mental leve; - história de incapacidade de desenvolver ligações emocionais com outras pessoas. AN02FREV001/REV 4.0 49 Os testes projetivos podem ajudar muito a avaliar a severidade da patologia antissocial destes pacientes. Embora eles possam ter sucesso ao iludirem os clínicos durante uma entrevista, eles têm muito mais dificuldade com o estímulo ambíguo de um borrão, como no teste Rorschach, por exemplo. O terapeuta que tenta a psicoterapia com pacientes antissociais deve ser capaz de confrontar rapidamente seus pacientes, ou serão enganados repetidas vezes, pois enquanto o objetivo do terapeuta é uma busca incansável da verdade, o objetivo do paciente é o engodo. Estes pacientes experimentam um poderoso sentido de prazer, ou excitação sempre que convencem o terapeuta de algo que não é verdade. Os terapeutas devem aprender a aceitar o fato de que serão enganados apesar de todos os esforços de estarem alertas para evitar isto. A aliança com o terapeuta pode estar completamente ausente quanto percebida apenas em breves e descontínuos lampejos de colaboração. Se, mesmo assim, os psicoterapeutas conseguem aceitar o fato de que estes pacientes irão trapacear, eles podem continuar com a psicoterapia baseados nas recomendações daqueles psicoterapeutas que tiveram muita experiência com esta população. Estas recomendações podem ser resumidas em seis princípios básicos: FIGURA 12 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. AN02FREV001/REV 4.0 50 1- O psicoterapeuta deve ser estável, persistente e totalmente incorruptível. Estes pacientes farão de tudo para corromper o terapeuta para que tenha condutas não éticas ou desonestas. Assim, mais do que com qualquer outro grupo de pacientes, o psicoterapeuta deve manter rígidos os procedimentos normais na terapia. 2- O psicoterapeuta deve repetidamente confrontar a negação e minimização da conduta antissocial pelo paciente. Se o paciente diz: “Eu apaguei o cara”, o psicoterapeuta pode confrontar o paciente respondendo: “Então você é um assassino”. Esta técnica de confrontação pode ajudar o paciente a ter consciência da sua tendência de externalizar todas as responsabilidades, podendo fazê-lo começar a admitir e aceitar a responsabilidade pela sua conduta antissocial. 3- O psicoterapeuta deve ajudar o paciente a fazer a ligação entre atitudes e estados internos. Os pacientes precisam ter consciência desta ligação. 4- Confrontações do aqui e agora sobre a conduta são mais eficazes que interpretações de material inconsciente do passado. Em especial, a constante desvalorização que o paciente faz do psicoterapeuta e do processo deve ser constantemente desafiada. 5- A contratransferência deve ser rigorosamente monitorada para evitar atuação por parte do psicoterapeuta. Qualquer conluio deve ser evitado. 6- O psicoterapeuta deve evitar ter expectativas excessivas de melhora. Os psicoterapeutas cuja autoestima depende da melhora de seus pacientes não devem tratar pacientes antissociais. O progresso é muito lento nos pacientes antissociais. Estes pacientes podem sentir a terapia como uma ameaça ao seu eu grandioso. Eles lutarão com o psicoterapeuta para evitar abandonar sua grandiosidade. Por longos períodos o psicoterapeuta pode sentir-se paralisado pelas ameaças explícitas ou veladas do paciente. Consequentemente, deve estar atento a esta resistência e às tentativas de controle. Para finalizar, devemos pontuar que não é razoável que os psicoterapeutas que tratam de pacientes esperem manter uma posição neutra em relação às atividades antissociais de seus pacientes. Fazer isto é o mesmo que fazer um endosso silencioso, um conluio com as atitudes do paciente. Quando os terapeutas se chocam com suas atitudes antissociais, devem comunicar isto ao paciente. AN02FREV001/REV 4.0 51 Terapeutas competentes, que são capazes de impedir serem destruídos pelo paciente, são os que tendem a despertar uma intensa inveja, que pode aparecer como ódio em relação ao objeto amado e idealizado, no caso o psicoterapeuta, levando geralmente a uma reação terapêutica negativa intratável. Apesar de todas estas armadilhas, muitos clínicos acreditam que os esforços psicoterapêuticos com estes pacientes podem valer a pena, com frequência suficiente para justificar este tratamento. A seguir temos um caso-exemplo que ilustra a dinâmica do transtorno da personalidade antissocial: Um homem de 25 anos foi encaminhado para tratamento por um órgão de assistência social para avaliação de seu consumo de álcool. A intoxicação tinha sido a causa declarada do esquecimento das entrevistas desde que ele deixara sua namorada e seus três filhos pequenos. No dia em que foi embora, ele esvaziou sua conta bancária, roubou as joias da namorada e levou os dois carros que tinham. Ele disse ao entrevistador que era, na verdade, um cidadão honesto e que seu comportamento se justificava porque a namorada o havia censurado por dirigir após beber “apenas algumas cervejas”. As informações do órgão encaminhador, entretanto, revelavam uma longa história de comportamento delinquente, começando com repetida vadiagem, provocação de incêndios e furtos na escola primária. Desde a adolescência, o paciente havia roubado mais de 20 carros, frequentemente dirigia intoxicado e faltava muito ao trabalho. Quando confrontado com esta informação, o paciente riu e disse que roubava apenas de pessoas que tinham roubado dinheiro de outros. Com relação às faltas ao trabalho, disse que tinha conseguido dinheiro suficiente para cuidar de suas próprias necessidades e que, uma vez que não tinha casado com sua namorada, não se sentia responsável por ela ou por seus filhos. Ele não expressava qualquer remorso por seu recente comportamento em relação à sua família, dizendo que tinha certeza que “o sistema” tomaria conta deles. (KAPLAN e SADOCK, 1999, v. 2, p. 1562). AN02FREV001/REV 4.0 52 6 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOIDE E ESQUIZOTÍPICA 6.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS Embora os transtornos da personalidade esquizoide e esquizotípica sejam entidades distintas, elas serão consideradas juntas aqui, pelo fato de que tanto a compreensão dinâmica quanto as abordagens terapêuticas destes transtornos têm muito em comum. Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno de personalidade esquizoide ___________________________________________________________________ A. Um padrão global de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes critérios: (1) Não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família; (2) Quase sempre opta por atividades solitárias; (3) Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro; (4) Tem prazer em poucas atividades, se alguma; (5) Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau; (6) Mostra-se indiferente a elogios ou críticas; (7) Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno do humor com características psicóticas, outro transtorno psicótico ou transtorno AN02FREV001/REV 4.0 53 global do desenvolvimento, nem é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral. Nota: Se os critérios são satisfeitos antes do início da esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, por exemplo, “transtorno da personalidade esquizoide (pré-mórbido)”. FONTE: DSM IV FIGURA 13 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. Os sujeitos com transtorno da personalidade esquizoide se mantêm distantes dos relacionamentos sociais e apresentam pouca expressão emocional em contextos interpessoais. Eles são solitários, preferindo passar a maior parte do tempo a sós, o que leva a um significativo isolamento social. Eles não têm amigos íntimos ou confidentes, exceto, talvez, o cônjuge ou um parente próximo. Poucos namoram e raramente se casam. Apresentam uma falta de desejo por intimidade ou envolvimento com outros; eles têm um desejo muito pequeno por relações emocionais íntimas, não gostam de relacionamentos íntimos e mostram-se indiferentes às oportunidades para desenvolvê-los. Esta falta de interesse estende-se às experiências sexuais. Eles preferem atividades solitárias, frequentemente intelectuais, tais como jogos de computador e matemáticos, passatempos envolvendo engenhocas mecânicas. Há poucas atividades que consideram prazerosas. AN02FREV001/REV 4.0 54 Os portadores deste transtorno são desatentos, tanto no que diz respeito a sua vida emocional quanto a dos outros. Suas emoções são brandas e monótonas. São insensíveis a críticas e elogios, o que os fazem parecer, além de socialmente desadaptados, frios, distantes e indiferentes. Os sujeitos portadores do transtorno da personalidade esquizoide têm uma tendência de estar dissociados dos prazeres corporais e sensoriais; eles, por exemplo, podem não sentir emoção alguma ao assistir a um lindo pôr do sol. Sua preferência por atividades solitárias pode levá-los a uma vida rica de fantasias, que lhes é mais gratificante do que a realidade. Em suas fantasias, podem envolver-se nos relacionamentos que faltam às suas vidas e amizades casuais podem assumir grande importância neste mundo interior autista. FIGURA 14 FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. Os portadores deste transtorno têm dificuldade em experimentar quaisquer emoções, em particular, raiva e agressividade. Muitas vezes reagem passivamente às circunstancias adversas e mostram-se indecisos ou incapazes de responder a acontecimentos importantes. Suas vidas parecem sem sentido, sem objetivos. Por outro lado, estes sujeitos podem funcionar adequadamente no trabalho, se encontrarem um emprego que exija pouca interação social. O trabalho pode AN02FREV001/REV 4.0 55 permitir-lhes o desenvolvimento de alguns relacionamentos estáveis, embora um pouco distantes. Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade esquizotípica A. Um padrão global de deficits sociais e interpessoais, marcado por desconforto agudo e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes critérios: (1) Ideias de referência (excluindo delírios de referência); (2) Crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e não estão de acordo com as normas da subcultura do indivíduo (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias e preocupações bizarras); (3) Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas; (4) Pensamento e discurso bizarros (p. ex. vago, circunstancial, metafórico, supernóstico ou estereotipado); (5) Desconfiança ou ideação paranoide; (6) Afeto inadequado ou constrito; (7) Aparência ou comportamento esquisito, peculiar ou excêntrico; (8) Não tem amigos íntimos ou confidentes, exceto parentes em primeiro grau; (9) Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada com temores paranoides, em vez de julgamentos negativos acerca de si próprio; B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno do humor com características psicóticas, outro transtorno psicótico ou um transtorno global do desenvolvimento. Nota: Se os critérios são satisfeitos antes do início de esquizofrenia, acrescentar AN02FREV001/REV 4.0 56 “pré-mórbido”, por exemplo, “Transtorno da personalidade esquizotípica (pré- mórbido)”. FONTE: DSM-IV O transtorno da personalidade esquizotípica é caracterizado pela capacidade reduzida para relacionamentos sociais ou íntimos, distorções cognitivas, perceptivas e comportamento excêntrico. Estas distorções podem incluir ideias (não delírios) de crenças bizarras ou pensamento mágico, experiências perceptivas incomuns e desconfiança. Os pacientes podem, por exemplo, sentir a presença de outra pessoa na sala com eles, ouvir uma voz murmurando seu nome ou pensar que os outros estão falando com eles. Entretanto, não são psicóticos; eles são capazes de testar a realidade e podem geralmente reconhecer que tais distorções são geradas interna e não externamente. Este transtorno é diferenciado da esquizofrenia pela ausência de psicose persistente ou de sintomas que satisfaçam os critérios totais para esquizofrenia. O transtorno da personalidade esquizotípica pode ser uma variante mais moderada, mais do tipo traço, ou pode representar os aspectos centrais da esquizofrenia. Estas distorções estão em claro desacordo com as normas culturais. São persistentes, isto é, não ocorrem apenas em períodos de estresse emocional ou períodos de depressão, ansiedade ou raiva. O discurso das pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica pode ser vago, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado, em suma, bizarro. Por exemplo, um paciente descreveu sua depressão da seguinte forma: “Eu fui arrastado; os referentes não estavam operando”. Os sujeitos com o transtorno têm dificuldades significativas nas suas relações interpessoais. Na maioria das vezes experimentam excessiva ansiedade social, especialmente em situações que envolvem pessoas desconhecidas. Mesmo quando as pessoas se tornam mais familiares, a ansiedade não diminui e tende a estar associada a medos paranoides com relação às motivações dos outros. Assim, uma pessoa que está em uma sala de aula pode tornar-se cada vez mais tensa perto dos outros alunos e desconfiada das motivações da professora AN02FREV001/REV 4.0 57 (“Ela não está do meu lado”). Ao invés de se sentir confiante, como resultado, pode abandonar as aulas. As pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica têm dificuldade em lidar com todo tipo de afeto. Eles, portanto, acham difícil envolver-se em conversas casuais ou significativas e na maioria das vezes relacionam-se de forma inadequada, fria ou reservada. Como resultado da dificuldade em lidar com as situações sociais, excentricidades ou falta de desejo por relacionamentos, não têm amigos íntimos ou confidentes, além dos parentes próximos ou, eventualmente o cônjuge. Suas graves dificuldades de relacionamento podem exacerbar suas prováveis disfunções profissionais. A presença deste comprometimento social e sintomas paranoides severos podem estar associados com um prognóstico desfavorável. Aproximadamente 10 a 20% dos pacientes com transtorno da personalidade esquizotípica acabam evoluindo para a esquizofrenia. A seguir, um caso-exemplo: Uma mulher de 49 anos foi trazida para tratamento porque sua sogra achou que um psiquiatra poderia ser capaz de tratar de sua depressão. A paciente que usava um vestido manchado e que não lhe servia e ocasionalmente murmurava para si mesma – admitiu com relutância que talvez estivesse um pouco deprimida. Ela atribuía sua depressão ao fato de ser incapaz de realizar seus trabalhos de arte devido à “influência do professor”. Embora “o professor” , como se soube em seguida, fosse um instrutor de arte de um programa de televisão, ela alegava que eles tinham uma “comunhão mágica”, referindo-se às suas capacidades clarividentes de sentir os pensamentos e sentimentos um do outro. Ela acreditava que pôde sentir sua presença na sala, enquanto ela fazia seus trabalhos artísticos. Estas experiências não a haviam incomodado até recentemente, quando começou a achar que tal presença estava interferindo em sua pintura. Entretanto, quando questionada um pouco mais, ela protestou que não estava convencida daquilo e tornou-se desconfiada dos motivos do entrevistador. Ela e seu marido negaram que ela alguma vez tivesse experimentado delírios, alucinações ou outros sintomas psicóticos. Além de seu marido, a paciente não tinha qualquer relacionamento mais íntimo com outra pessoa. A vida social deles consistia de visitas à família dele e idas à igreja. Ela evitava outras pessoas porque se sentia extremamente desconfortável perto delas, suspeitava de que frequentemente falavam dela pelas costas e considerava-se geralmente indigna de confiança. Por estas razões, fora incapaz de trabalhar nos últimos 20 anos e passava a maior parte do tempo sozinha, fazendo seus trabalhos de arte que depois colocava no porão. (KAPLAN e SADOCK, 1999, p. 1556). 6.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA AN02FREV001/REV 4.0 58 Tanto os pacientes esquizoides, quanto os esquizotípicos, com frequência vivem à margem da sociedade. Eles podem ser ridicularizados ao serem caracterizados como “esquisitos”, “excêntricos” ou desajeitados, ou meramente serem deixados a sós para seguirem uma existência solitária. Seu isolamento pode levar os outros a sentirem pena deles e estender-lhes a mão. Entretanto, geralmente os sujeitos que têm estas atitudes desistem, depois de serem repetidamente rejeitados. Os membros da família podem ficar preocupados a ponto de forçar seu familiar esquizoide ou esquizotípico a uma situação de tratamento. Os pais de adolescentes ou adultos jovens podem levar seu filho ou filha a um psiquiatra por estarem preocupados por este(a) não estar aproveitando suficientemente a vida. Outros vêm a tratamento psiquiátrico voluntariamente em função da dolorosa solidão. A característica mais marcante dos pacientes esquizoides e esquizotípicos é uma aparente falta de relação com os outros. O trabalho psicanalítico com estes pacientes sugere que eles têm sentimentos e anseios pelos outros, mas estão congelados numa fase inicial do desenvolvimento, em termos de relacionamento. O mundo interno destes pacientes pode diferir da aparência externa. O indivíduo aparenta ser aberto, desapegado, autossuficiente, distraído e assexuado, enquanto internamente ele é sensível, emocionalmente carente, extremamente vigilante e criativo. A avaliação retrospectiva sugere que estes pacientes muitas vezes têm histórias que começam no início da vida, de pais maciçamente inadequados, frios ou negligentes. Essas atitudes criam um deficit fundamental na capacidade de se relacionar. As teorias psicodinâmicas sugerem que essas experiências traumáticas indicam uma expectativa de que os relacionamentos não serão gratificantes, e assim, um consequente afastamento defensivo das outras pessoas. 6.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA AN02FREV001/REV 4.0 59 Tanto a terapia individual como a terapia dinâmica de grupo, ou a combinação das duas, é proveitosa para os pacientes esquizoides e esquizotípicos. Considerando-se que um grupo geralmente produz muita ansiedade, a maior parte destes pacientes sentir-se-á mais confortável iniciando com uma terapia individual. Como as primeiras relações mostram-se inadequadas, estes pacientes parecem reproduzi-las ao longo da vida, distanciando-se de todos. O terapeuta deve descobrir como se relacionar com o paciente de forma corretiva em termos maturacionais. A tarefa terapêutica é “dissolver”, “derreter” estas relações congeladas do paciente, oferecendo-lhe novas experiências de relacionamento. Dizer que o objetivo da terapia é propiciar um novo relacionamento a ser internalizado parece ser simples e direto. Esta estratégia apresenta muitos obstáculos. Primeiro, a forma básica de vida do paciente é o não relacionamento. Assim, o terapeuta está pedindo que o paciente transforme sua forma de relacionar-se. Como esperado, os esforços do terapeuta de oferecer um novo modelo de relacionamento serão vistos com distância emocional e muito silêncio. Os terapeutas que tentam tratar pacientes esquizoides e esquizotípicos devem aceitar o seu silêncio. Este deve ser considerado não apenas como uma simples resistência, mas também como uma forma de comunicação não verbal. Durante estes longos períodos de silêncio o terapeuta deve reconhecer que a relação ainda está ocorrendo. A psicoterapia dinâmica de grupo é orientada no sentido de ajudar os pacientes na socialização, que é onde os pacientes esquizoides e esquizotípicos mais sofrem. Também é um ambiente no qual podem ser criados relacionamentos com a função parental. Para muitos pacientes o grupo pode funcionar como uma família reconstruída. Alguns pacientes literalmente não têm qualquer contato social além de suas sessões de terapia em grupo. Assim, eles podem se beneficiar do mero contato regular com outras pessoas. À medida que passam a se sentir aceitos pelos outros e percebem que seus medos não são concretizados, eles paulatinamente sentem-se mais confortáveis com as pessoas. AN02FREV001/REV 4.0 60 De forma análoga à terapia individual, as reações dos outros membros do grupo podem oferecer uma experiência que é oposta a todas as experiências anteriores de relacionamento, proporcionando assim uma possível reestruturação destas formas de relação. O silêncio, que também surge na terapia de grupo, pode gerar ressentimento nos outros membros do grupo. Estes sentimentos podem ocasionar um tipo de “conspiração” dos outros membros para forçar o paciente a falar. Nestes momentos, o terapeuta deve apoiar este paciente e ajudar os outros membros do grupo a aceitarem que ele necessita permanecer em silêncio. O grupo pode também ignorar este paciente esquizoide ou esquizotípico, agindo como se ele não existisse. Nestas situações, a tarefa do terapeuta é trazer o paciente para o grupo, chamando a atenção para como um comportamento que ocorre fora do grupo está se repetindo dentro da terapia. Os pacientes esquizotípicos ou esquizoides cujo comportamento é bizarro ou cujo pensamento é psicótico podem se tornar bodes expiatórios pelo fato de serem diferentes dos outros membros do grupo. Com estes pacientes a terapia individual pode ser a melhor escolha. AN02FREV001/REV 4.0 61 7 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA 7.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade histriônica Um padrão global de excessiva emotividade e busca de atenção, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes critérios: (1) Desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções; (2) A interação com os outros frequentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor; (3) Mudanças rápidas e superficialidade na expressão das emoções; (4) Constante utilização da aparência física para chamar a atenção sobre si; (5) Estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes; (6) Dramaticidade, teatralidade e expressão emocional exagerada; (7) Sugestionabilidade, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias; (8) Considerar os relacionamentos mais íntimos do que realmente são. FONTE: DSM-IV As pessoas com transtorno da personalidade histriônica mostram-se expressivas, dramáticas e exuberantes. Suas emoções são expressas de forma inadequada. A simpatia é expressa com ardor, intensamente, a tristeza com choro ou melancolia excessiva, a raiva com fúria intensa. Esta intensa exibição das emoções pode ser cativante, mas pode também, não parecer sincera. As pessoas podem suspeitar que os portadores deste transtorno fingem suas emoções, as quais podem parecer superficiais. AN02FREV001/REV 4.0 62 O discurso das pessoas com transtorno da personalidade histriônica pode refletir seu estilo dramático, sendo exageradamente impressionista e ausente de detalhes. Por exemplo, quando solicitado a descrever um amigo, a pessoa pode ser incapaz de ser mais específica do que: “Ele é uma pessoa maravilhosa, maravilhosa!” As pessoas com transtorno da personalidade histriônica buscam ser o centro das atenções. Quando isto não acontece sentem-se desconfortáveis. Podem tentar desviar a atenção para si sendo alegres, dramáticas ou sedutoras. Frequentemente gostam de representar diante de uma plateia. As pessoas podem cansar-se do seu comportamento egocêntrico. Os portadores deste transtorno podem expressar sua sedução, não apenas em relação a pessoas pelas quais tenham um interesse romântico, mas também em relação a relacionamentos sociais e profissionais. São preocupados em demasia com seus atrativos físicos, gastando tempo e esforços excessivos para vestir-se e enfeitar-se, e podem esperar elogios pela sua aparência. As pessoas com o transtorno tendem a exagerar a intimidade de seus relacionamentos. Elas podem, por exemplo, referir-se a um conhecido recente como sendo um amigo íntimo. Sua ânsia por emoções fortes pode se refletir no abandono de relacionamentos conhecidos em favor da excitação de um novo relacionamento. Buscam também a satisfação imediata das gratificações, frustrando-se quando isto não acontece. São descritas como criativas, impressionáveis e influenciáveis por novidades, tendo pouco interesse em atividades intelectuais e pensamento analítico. Elas geralmente confiam excessivamente nos outros, especialmente em figuras de autoridade, as quais podem ser vistas como capazes de resolver magicamente seus problemas. O comportamento dos sujeitos com transtorno da personalidade histriônica pode ser influenciado pelos estereótipos do papel sexual. Por exemplo, um homem pode vestir-se e comportar-se de um modo identificado como “machão”, procurando ser o centro das atenções e mostrando habilidades atléticas, ao passo que uma mulher pode escolher roupas muito femininas, sensuais e falar do quanto impressionou seu instrutor de dança. AN02FREV001/REV 4.0 63 Antes que estes vários traços, como sedução, dramaticidade, emotividade, possam ser considerados como evidências do transtorno da personalidade histriônica, é importante verificar se eles causam prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo. Traços de personalidade como egocentrismo, tendência ao exagero, falta de atenção a detalhes e às informações concretas são desvantagens significativas em situações sociais e em ocupações que requerem submissão, organização e meticulosidade. 7.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA As pacientes com estilos de personalidade histriônica tendem a encontrar dificuldades em dois estágios psicossexuais do desenvolvimento: elas vivenciaram relativa privação materna durante a fase oral, tendo dificuldade em resolver a situação edípica e de ter uma identidade sexual definida. A mulher histriônica dirige- se a seu pai para obter satisfação das necessidades de dependência em função da falha materna. Cedo aprende que o comportamento sedutor e o exibicionismo dramático da emoção são necessários para que ela obtenha a atenção do pai. À medida que cresce, ela aprende que deve reprimir sua sexualidade genital para continuar sendo a “filhinha do papai”. A dinâmica evolutiva delineada para o sexo feminino pode também ser aplicada ao sexo masculino. O sujeito histriônico do sexo masculino viveu privação materna e procurará seu pai como conforto. Se o pai é ausente ou não está disponível emocionalmente, a criança se depara com duas alternativas: ela pode modelar a si mesma segundo sua mãe e desenvolver uma identidade passiva efeminada, ou na ausência de um modelo masculino, ela pode imitar vários estereótipos culturais do papel masculino para fugir da ansiedade de ser efeminado. AN02FREV001/REV 4.0 64 7.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA Os pacientes com este transtorno de personalidade geralmente respondem bem à psicoterapia individual. Embora alguns pacientes apresentem sintomas nítidos, como disfunção sexual, o mais comum é eles iniciarem a psicoterapia devido a uma insatisfação geral com seus relacionamentos. O evento desencadeante pode ser a ruptura de um casamento ou de um relacionamento amoroso. A atenção à interação paciente-terapeuta é importante desde o início da terapia. Com frequência estes pacientes iniciam a psicoterapia com uma expectativa inconsciente de que o terapeuta deve ser capaz de compreendê-lo de forma intuitiva, não verbal e global, sem necessidade de detalhar seu mundo intrapsíquico. Os terapeutas que se deparam com estas expectativas devem, na realidade, comunicar aos pacientes que a única forma de eles desenvolverem uma compreensão é oferecendo um relato detalhado da sua experiência interna. Assim, a abordagem inicial deve voltar-se para a obtenção de tantos detalhes quanto possível. À medida que estes pacientes tornam-se capazes de identificar seus sentimentos, atitudes e ideias, eles desenvolvem um maior sentido de si como responsáveis pela interação com o ambiente, ao contrário de vítimas passivas. Com frequência estas pessoas têm imagens visuais e fantasias vividas, mas não as traduzem em palavras, a não ser que o terapeuta facilite este processo. Assim, o terapeuta auxilia seu paciente a identificar o que quer e sente. Ele aprende também que não é perigoso ter certos pensamentos e sentimentos. Embora a psicoterapia possa ser efetiva e gratificante com este tipo de paciente, o mau manejo da transferência pode causar o fracasso terapêutico. Os problemas que o paciente encontra nos seus relacionamentos fora da terapia serão reproduzidos na transferência. Se o psicoterapeuta, por exemplo, sucumbir à tentação de aceitar a transferência sedutora ou idealizadora destes pacientes, pode reforçar as motivações manipuladoras que estão por trás dessa típica forma de relação. AN02FREV001/REV 4.0 65 Os pacientes com transtorno da personalidade histriônica podem ser mais problemáticos na terapia grupal, pois com frequência “passarão por cima” dos outros pacientes do grupo, exigindo ser o centro das atenções por meio de exibições emocionais. Com assiduidade são as “estrelas” do seu grupo. Tais pacientes podem ser tratados de forma eficaz em psicoterapia grupal somente se também estiverem em psicoterapia individual. A seguir teremos um caso-exemplo que pode auxiliar na compreensão do transtorno da personalidade histriônica: Um homem de 45 anos iniciou uma terapia de casais por insistência de sua esposa, que o acusava de ser “mulherengo”. Ela explicou que ele sempre havia flertado descaradamente com outras mulheres, fazendo-lhes insinuações provocadoras, mesmo na sua presença. Ela também estava cansada de sua necessidade de ser o centro das atenções em reuniões sociais, o que ele conseguia contando estórias dramáticas de suas proezas no tempo de faculdade. O paciente defendia-se dizendo que sua esposa casara com ele sabendo que “simplesmente é assim que eu sou”; acrescentava que era um “ator frustrado” que não podia deixar de evitar ser um Don Juan e que sua esposa sempre havia tolerado seu comportamento. Ele expressava afeto por sua esposa, descrevendo-a como uma “garota doce muito bonita”, mas era incapaz de expor mais profundamente seus sentimentos por ela. O paciente desempenhava relativamente bem seu trabalho como vendedor, embora reconhecesse que, em diversas ocasiões, havia sido advertido por seu comportamento espalhafatoso e sedutor no escritório. Ele também relatou que tinha ficado surpreso quando diversos colegas, a quem considerava “amigos queridos”, lhe haviam dito, em tom de crítica, que era uma futilidade ele ficar tão preocupado com suas roupas e seu bronzeado. (KAPLAN e SADOCK, 1999, p.1570). FIM DO MÓDULO III
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