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Transtorno_personalidade_03

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AN02FREV001/REV 4.0 
 41 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
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CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
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MÓDULO III 
 
 
5 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL 
 
 
5.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade antissocial 
 
A. Um padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios, que ocorre 
desde os 15 anos, indicado por, no mínimo, três dos seguintes critérios: 
 
(1) Incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a 
comportamentos lícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem 
motivo de detenção; 
(2) Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes 
falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer; 
(3) Impulsividade ou fracasso de fazer planos para o futuro; 
(4) Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou 
agressões físicas; 
(5) Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; 
(6) Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em 
manter um comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras; 
(7) Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter 
ferido, maltratado ou roubado alguém. 
 
B. O indivíduo tem, no mínimo, 18 anos de idade. 
 
 
 
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C. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de 
idade. 
 
D. A ocorrência do comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o 
curso de Esquizofrenia ou Episódio Maníaco. (FONTE: DSM-IV). 
 
O transtorno da personalidade antissocial é caracterizado por um 
comportamento invasivo, crônico, de desrespeito e violação dos direitos dos outros; 
tem início na infância ou na adolescência, continua na vida adulta e está presente 
em uma grande variedade de contextos. 
Os antissociais talvez sejam os pacientes mais amplamente estudados, de 
todos os pacientes com transtorno de personalidade. Eles foram chamados de 
pacientes “psicopatas”, “sociopatas” e com “transtorno de caráter”, termos que em 
psiquiatria tradicionalmente significa o mesmo que ser intratável. Alguns podem até 
argumentar que estes pacientes devem ser considerados “criminosos” e não devem 
ser incluídos na jurisdição da psiquiatria. Entretanto, a experiência clínica sugere 
que o rótulo de antissocial é aplicado tanto aos totalmente intratáveis como aos 
tratáveis sob certas condições. 
Este transtorno parece estar associado a situações econômicas 
desfavoráveis e a certos contextos urbanos. Uma infância marcada por pais 
negligentes, ríspidos e fisicamente abusivos são fatores de risco para o 
desenvolvimento da personalidade antissocial. Em alguns casos, o diagnóstico pode 
ser aplicado incorretamente, na medida em que um comportamento antissocial pode 
servir como uma estratégia de sobrevivência. O transtorno da personalidade 
antissocial é muito mais comum em homens do que em mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 9 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
A definição está pautada na ideia de que o comportamento antissocial 
começa na adolescência. Antes disso, a personalidade provavelmente é 
caracterizada por distração e agressividade. Histórias de enurese, sonambulismo, 
atos de crueldade, também são prognósticos característicos de um futuro 
desenvolvimento do transtorno. 
Já na adolescência, a perturbação assume a forma de comportamentos 
tipicamente antissociais como: mentira, vadiagem, vandalismo, promiscuidade, 
chegando a incluir comportamentos sexuais agressivos e abuso de substâncias. 
Aproximadamente um terço dessas pessoas têm problemas de alcoolismo. A 
incapacidade do adulto jovem de se desempenhar satisfatoriamente no trabalho, 
como pai ou cônjuge, completa o quadro clínico. 
Os comportamentos antissociais tendem a alcançar um pico nos primeiros 
anos de vida adulta e diminuem gradativamente com a idade. 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 10 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
Os sujeitos com o transtorno são regidos por coação ou vantagem pessoal. 
Eles valorizam os outros pelo que eles têm a oferecer e acreditam que precisam 
extorquir o máximo que puderem. Este modo de pensar geralmente manifesta-se em 
comportamentos ilegais, tais como destruição intencional do patrimônio alheio, furto 
e intimidação física. 
Estes comportamentos estão associados à maldade, crueldade e sadismo, 
isto é, prazer pelos problemas que causaram aos outros. São cometidos em 
benefício próprio, sem preocupação aos danos que pode acarretar ao outro. Os 
sujeitos com transtorno de personalidade antissocial carecem de lealdade, fidelidade 
e honestidade, o que os impede de manter relacionamentos duradouros ou 
satisfatórios para ambos os lados. 
Sua aparente autoconfiança e demonstração de desembaraço podem 
impressionar, mas a incapacidade de apresentar razões sinceras ou significativas 
para seus motivos e sentimentos torna-se um obstáculo inaceitável para aqueles 
que buscam um relacionamento íntimo. Sua infidelidade, fuga de obrigações e 
quebra de promessas são um traço marcante. 
A ausência de ligações significativas e os sentimentos superficiais as 
separam dos outros. As pessoas antissociais veem o mundo exterior como 
 
 
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afetivamente frio e automático. Elas podem geralmente justificar sem remorso, a 
desconsideração pelas regras e pelos direitos dos outros. 
 
 
5.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
Estudos indicam que fatores genéticos podem influenciar o desenvolvimento 
do transtorno, mas não são claros o quanto são específicas estas influências 
genéticas. Estes fatores biológicos podem, por sua vez, contribuir para problemas 
precoces na relação mãe-filho. Estas crianças, em função de fatores constitucionais, 
podem ser intranquilas, o que interfere na relação com os pais. Pacientes 
antissociais frequentemente têm histórias de negligência ou abuso na infância por 
parte de figuras parentais. 
Independente de se a responsabilidade é da criança, da mãe, ou de ambos, 
estes sujeitos não alcançaram o nível evolutivo da constância objetal descrito por 
Mahler (1975). Assim, eles não possuem uma introjeção materna tranquilizadora. A 
falta da confiança básica, associada à ausência de experiências amorosas com uma 
figura maternal, apresenta graves implicações no desenvolvimento futuro das 
pessoas com o transtorno da personalidade antissocial. 
O processo de desenvolvimento fica paralisado antes de ser completada a 
separação/individuação (Mahler, 1975) e desenvolver-se a constância objetal. Ao 
mesmo tempo, o vínculo emocional entre a criança e a mãe é perturbado porque a 
mãe é sentida como uma estranha. A marca clássica no sentido
dinâmico do 
psicopata é o fracasso do desenvolvimento do superego. 
A ausência de qualquer sentido moral nestes sujeitos é uma das 
apavorantes qualidades que os fazem parecer destituídos de qualquer humanidade. 
A agressão é seu único sistema de valores, independente da consequência. Eles 
não fazem o menor esforço para justificar moralmente seu comportamento 
antissocial. Na situação terapêutica eles podem mentir, enganar, roubar, ameaçar ou 
agir de forma irresponsável ou enganosa. 
 
 
 
 
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FIGURA 11 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
5.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
A psicoterapia individual do paciente com transtorno antissocial grave está 
condenada ao fracasso. O psicopata puro, num sentido dinâmico, não irá responder 
à psicoterapia. O paciente mente e os engodos são tão generalizados que o 
terapeuta não terá ideia do que realmente está ocorrendo na vida do mesmo. 
Em um contexto hospitalar ou institucional existe algum otimismo com um 
grupo de pacientes antissociais. Ambientes de tratamento tradicionais não são 
particularmente úteis, eles estimulam as piores qualidades destes pacientes. Os 
afetos serão descarregados por meio da ação, por não haver nenhum ambiente 
onde estes possam ser canalizados, contidos. 
Podemos citar algumas características clínicas que contraindicam a 
psicoterapia: 
- a história da conduta sádica ou violenta em relação aos outros que 
resultaram em ferimentos graves ou morte; 
- total ausência de remorso ou racionalização deste comportamento; 
- inteligência muito superior ou na faixa de retardo mental leve; 
- história de incapacidade de desenvolver ligações emocionais com outras 
pessoas. 
 
 
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Os testes projetivos podem ajudar muito a avaliar a severidade da patologia 
antissocial destes pacientes. Embora eles possam ter sucesso ao iludirem os 
clínicos durante uma entrevista, eles têm muito mais dificuldade com o estímulo 
ambíguo de um borrão, como no teste Rorschach, por exemplo. O terapeuta que 
tenta a psicoterapia com pacientes antissociais deve ser capaz de confrontar 
rapidamente seus pacientes, ou serão enganados repetidas vezes, pois enquanto o 
objetivo do terapeuta é uma busca incansável da verdade, o objetivo do paciente é o 
engodo. 
Estes pacientes experimentam um poderoso sentido de prazer, ou excitação 
sempre que convencem o terapeuta de algo que não é verdade. Os terapeutas 
devem aprender a aceitar o fato de que serão enganados apesar de todos os 
esforços de estarem alertas para evitar isto. 
A aliança com o terapeuta pode estar completamente ausente quanto 
percebida apenas em breves e descontínuos lampejos de colaboração. Se, mesmo 
assim, os psicoterapeutas conseguem aceitar o fato de que estes pacientes irão 
trapacear, eles podem continuar com a psicoterapia baseados nas recomendações 
daqueles psicoterapeutas que tiveram muita experiência com esta população. Estas 
recomendações podem ser resumidas em seis princípios básicos: 
 
 
FIGURA 12 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
 
 
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1- O psicoterapeuta deve ser estável, persistente e totalmente incorruptível. 
Estes pacientes farão de tudo para corromper o terapeuta para que tenha condutas 
não éticas ou desonestas. Assim, mais do que com qualquer outro grupo de 
pacientes, o psicoterapeuta deve manter rígidos os procedimentos normais na 
terapia. 
2- O psicoterapeuta deve repetidamente confrontar a negação e 
minimização da conduta antissocial pelo paciente. Se o paciente diz: “Eu apaguei o 
cara”, o psicoterapeuta pode confrontar o paciente respondendo: “Então você é um 
assassino”. Esta técnica de confrontação pode ajudar o paciente a ter consciência 
da sua tendência de externalizar todas as responsabilidades, podendo fazê-lo 
começar a admitir e aceitar a responsabilidade pela sua conduta antissocial. 
3- O psicoterapeuta deve ajudar o paciente a fazer a ligação entre atitudes e 
estados internos. Os pacientes precisam ter consciência desta ligação. 
4- Confrontações do aqui e agora sobre a conduta são mais eficazes que 
interpretações de material inconsciente do passado. Em especial, a constante 
desvalorização que o paciente faz do psicoterapeuta e do processo deve ser 
constantemente desafiada. 
5- A contratransferência deve ser rigorosamente monitorada para evitar 
atuação por parte do psicoterapeuta. Qualquer conluio deve ser evitado. 
6- O psicoterapeuta deve evitar ter expectativas excessivas de melhora. Os 
psicoterapeutas cuja autoestima depende da melhora de seus pacientes não devem 
tratar pacientes antissociais. 
O progresso é muito lento nos pacientes antissociais. Estes pacientes 
podem sentir a terapia como uma ameaça ao seu eu grandioso. Eles lutarão com o 
psicoterapeuta para evitar abandonar sua grandiosidade. Por longos períodos o 
psicoterapeuta pode sentir-se paralisado pelas ameaças explícitas ou veladas do 
paciente. Consequentemente, deve estar atento a esta resistência e às tentativas de 
controle. 
Para finalizar, devemos pontuar que não é razoável que os psicoterapeutas 
que tratam de pacientes esperem manter uma posição neutra em relação às 
atividades antissociais de seus pacientes. Fazer isto é o mesmo que fazer um 
endosso silencioso, um conluio com as atitudes do paciente. Quando os terapeutas 
se chocam com suas atitudes antissociais, devem comunicar isto ao paciente. 
 
 
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Terapeutas competentes, que são capazes de impedir serem destruídos 
pelo paciente, são os que tendem a despertar uma intensa inveja, que pode 
aparecer como ódio em relação ao objeto amado e idealizado, no caso o 
psicoterapeuta, levando geralmente a uma reação terapêutica negativa intratável. 
Apesar de todas estas armadilhas, muitos clínicos acreditam que os esforços 
psicoterapêuticos com estes pacientes podem valer a pena, com frequência 
suficiente para justificar este tratamento. 
A seguir temos um caso-exemplo que ilustra a dinâmica do transtorno da 
personalidade antissocial: 
 
Um homem de 25 anos foi encaminhado para tratamento por um órgão de 
assistência social para avaliação de seu consumo de álcool. A intoxicação 
tinha sido a causa declarada do esquecimento das entrevistas desde que 
ele deixara sua namorada e seus três filhos pequenos. No dia em que foi 
embora, ele esvaziou sua conta bancária, roubou as joias da namorada e 
levou os dois carros que tinham. Ele disse ao entrevistador que era, na 
verdade, um cidadão honesto e que seu comportamento se justificava 
porque a namorada o havia censurado por dirigir após beber “apenas 
algumas cervejas”. As informações do órgão encaminhador, entretanto, 
revelavam uma longa história de comportamento delinquente, começando 
com repetida vadiagem, provocação de incêndios e furtos na escola 
primária. Desde a adolescência, o paciente havia roubado mais de 20 
carros, frequentemente dirigia intoxicado e faltava muito ao trabalho. 
Quando confrontado com esta informação, o paciente riu e disse que 
roubava apenas de pessoas que tinham roubado dinheiro de outros. Com 
relação às faltas ao trabalho, disse que tinha conseguido dinheiro suficiente 
para cuidar de suas próprias necessidades e que, uma vez que não tinha 
casado com sua namorada, não se sentia responsável por ela ou por seus 
filhos. Ele não expressava qualquer remorso por seu recente 
comportamento em relação à sua família, dizendo que tinha certeza que “o 
sistema” tomaria conta deles. (KAPLAN e SADOCK, 1999, v. 2, p. 1562). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE
ESQUIZOIDE E ESQUIZOTÍPICA 
 
 
6.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Embora os transtornos da personalidade esquizoide e esquizotípica sejam 
entidades distintas, elas serão consideradas juntas aqui, pelo fato de que tanto a 
compreensão dinâmica quanto as abordagens terapêuticas destes transtornos têm 
muito em comum. 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno de personalidade esquizoide 
___________________________________________________________________ 
A. Um padrão global de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita 
de expressão emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no 
início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes critérios: 
(1) Não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer 
parte de uma família; 
(2) Quase sempre opta por atividades solitárias; 
(3) Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com 
um parceiro; 
(4) Tem prazer em poucas atividades, se alguma; 
(5) Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em 
primeiro grau; 
(6) Mostra-se indiferente a elogios ou críticas; 
(7) Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. 
 
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno do 
humor com características psicóticas, outro transtorno psicótico ou transtorno 
 
 
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global do desenvolvimento, nem é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos 
de uma condição médica geral. 
 
Nota: Se os critérios são satisfeitos antes do início da esquizofrenia, acrescentar 
“pré-mórbido”, por exemplo, “transtorno da personalidade esquizoide (pré-mórbido)”. 
FONTE: DSM IV 
 
 
FIGURA 13 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
Os sujeitos com transtorno da personalidade esquizoide se mantêm 
distantes dos relacionamentos sociais e apresentam pouca expressão emocional em 
contextos interpessoais. Eles são solitários, preferindo passar a maior parte do 
tempo a sós, o que leva a um significativo isolamento social. Eles não têm amigos 
íntimos ou confidentes, exceto, talvez, o cônjuge ou um parente próximo. Poucos 
namoram e raramente se casam. 
Apresentam uma falta de desejo por intimidade ou envolvimento com outros; 
eles têm um desejo muito pequeno por relações emocionais íntimas, não gostam de 
relacionamentos íntimos e mostram-se indiferentes às oportunidades para 
desenvolvê-los. Esta falta de interesse estende-se às experiências sexuais. Eles 
preferem atividades solitárias, frequentemente intelectuais, tais como jogos de 
computador e matemáticos, passatempos envolvendo engenhocas mecânicas. Há 
poucas atividades que consideram prazerosas. 
 
 
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Os portadores deste transtorno são desatentos, tanto no que diz respeito a 
sua vida emocional quanto a dos outros. Suas emoções são brandas e monótonas. 
São insensíveis a críticas e elogios, o que os fazem parecer, além de socialmente 
desadaptados, frios, distantes e indiferentes. 
Os sujeitos portadores do transtorno da personalidade esquizoide têm uma 
tendência de estar dissociados dos prazeres corporais e sensoriais; eles, por 
exemplo, podem não sentir emoção alguma ao assistir a um lindo pôr do sol. Sua 
preferência por atividades solitárias pode levá-los a uma vida rica de fantasias, que 
lhes é mais gratificante do que a realidade. Em suas fantasias, podem envolver-se 
nos relacionamentos que faltam às suas vidas e amizades casuais podem assumir 
grande importância neste mundo interior autista. 
 
 
FIGURA 14 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
Os portadores deste transtorno têm dificuldade em experimentar quaisquer 
emoções, em particular, raiva e agressividade. Muitas vezes reagem passivamente 
às circunstancias adversas e mostram-se indecisos ou incapazes de responder a 
acontecimentos importantes. Suas vidas parecem sem sentido, sem objetivos. 
Por outro lado, estes sujeitos podem funcionar adequadamente no trabalho, 
se encontrarem um emprego que exija pouca interação social. O trabalho pode 
 
 
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permitir-lhes o desenvolvimento de alguns relacionamentos estáveis, embora um 
pouco distantes. 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade 
esquizotípica 
 
A. Um padrão global de deficits sociais e interpessoais, marcado por desconforto 
agudo e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de 
distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que se 
manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de 
contextos, indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes critérios: 
(1) Ideias de referência (excluindo delírios de referência); 
(2) Crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o 
comportamento e não estão de acordo com as normas da subcultura do indivíduo (p. 
ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças 
e adolescentes, fantasias e preocupações bizarras); 
(3) Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas; 
(4) Pensamento e discurso bizarros (p. ex. vago, circunstancial, metafórico, 
supernóstico ou estereotipado); 
(5) Desconfiança ou ideação paranoide; 
(6) Afeto inadequado ou constrito; 
(7) Aparência ou comportamento esquisito, peculiar ou excêntrico; 
(8) Não tem amigos íntimos ou confidentes, exceto parentes em primeiro grau; 
(9) Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar 
associada com temores paranoides, em vez de julgamentos negativos acerca de si 
próprio; 
 
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno do humor 
com características psicóticas, outro transtorno psicótico ou um transtorno global 
do desenvolvimento. 
 
Nota: Se os critérios são satisfeitos antes do início de esquizofrenia, acrescentar 
 
 
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“pré-mórbido”, por exemplo, “Transtorno da personalidade esquizotípica (pré-
mórbido)”. 
FONTE: DSM-IV 
 
 
O transtorno da personalidade esquizotípica é caracterizado pela 
capacidade reduzida para relacionamentos sociais ou íntimos, distorções cognitivas, 
perceptivas e comportamento excêntrico. Estas distorções podem incluir ideias (não 
delírios) de crenças bizarras ou pensamento mágico, experiências perceptivas 
incomuns e desconfiança. Os pacientes podem, por exemplo, sentir a presença de 
outra pessoa na sala com eles, ouvir uma voz murmurando seu nome ou pensar que 
os outros estão falando com eles. Entretanto, não são psicóticos; eles são capazes 
de testar a realidade e podem geralmente reconhecer que tais distorções são 
geradas interna e não externamente. 
Este transtorno é diferenciado da esquizofrenia pela ausência de psicose 
persistente ou de sintomas que satisfaçam os critérios totais para esquizofrenia. O 
transtorno da personalidade esquizotípica pode ser uma variante mais moderada, 
mais do tipo traço, ou pode representar os aspectos centrais da esquizofrenia. Estas 
distorções estão em claro desacordo com as normas culturais. São persistentes, isto 
é, não ocorrem apenas em períodos de estresse emocional ou períodos de 
depressão, ansiedade ou raiva. 
O discurso das pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica pode 
ser vago, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado, em suma, 
bizarro. Por exemplo, um paciente descreveu sua depressão da seguinte forma: “Eu 
fui arrastado; os referentes não estavam operando”. 
Os sujeitos com o transtorno têm dificuldades significativas nas suas 
relações interpessoais.
Na maioria das vezes experimentam excessiva ansiedade 
social, especialmente em situações que envolvem pessoas desconhecidas. Mesmo 
quando as pessoas se tornam mais familiares, a ansiedade não diminui e tende a 
estar associada a medos paranoides com relação às motivações dos outros. 
Assim, uma pessoa que está em uma sala de aula pode tornar-se cada vez 
mais tensa perto dos outros alunos e desconfiada das motivações da professora 
 
 
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(“Ela não está do meu lado”). Ao invés de se sentir confiante, como resultado, pode 
abandonar as aulas. 
As pessoas com transtorno da personalidade esquizotípica têm dificuldade 
em lidar com todo tipo de afeto. Eles, portanto, acham difícil envolver-se em 
conversas casuais ou significativas e na maioria das vezes relacionam-se de forma 
inadequada, fria ou reservada. Como resultado da dificuldade em lidar com as 
situações sociais, excentricidades ou falta de desejo por relacionamentos, não têm 
amigos íntimos ou confidentes, além dos parentes próximos ou, eventualmente o 
cônjuge. Suas graves dificuldades de relacionamento podem exacerbar suas 
prováveis disfunções profissionais. 
A presença deste comprometimento social e sintomas paranoides severos 
podem estar associados com um prognóstico desfavorável. Aproximadamente 10 a 
20% dos pacientes com transtorno da personalidade esquizotípica acabam 
evoluindo para a esquizofrenia. 
A seguir, um caso-exemplo: 
Uma mulher de 49 anos foi trazida para tratamento porque sua sogra achou 
que um psiquiatra poderia ser capaz de tratar de sua depressão. A paciente 
que usava um vestido manchado e que não lhe servia e ocasionalmente 
murmurava para si mesma – admitiu com relutância que talvez estivesse um 
pouco deprimida. Ela atribuía sua depressão ao fato de ser incapaz de 
realizar seus trabalhos de arte devido à “influência do professor”. Embora “o 
professor” , como se soube em seguida, fosse um instrutor de arte de um 
programa de televisão, ela alegava que eles tinham uma “comunhão 
mágica”, referindo-se às suas capacidades clarividentes de sentir os 
pensamentos e sentimentos um do outro. Ela acreditava que pôde sentir 
sua presença na sala, enquanto ela fazia seus trabalhos artísticos. Estas 
experiências não a haviam incomodado até recentemente, quando começou 
a achar que tal presença estava interferindo em sua pintura. Entretanto, 
quando questionada um pouco mais, ela protestou que não estava 
convencida daquilo e tornou-se desconfiada dos motivos do entrevistador. 
Ela e seu marido negaram que ela alguma vez tivesse experimentado 
delírios, alucinações ou outros sintomas psicóticos. Além de seu marido, a 
paciente não tinha qualquer relacionamento mais íntimo com outra pessoa. 
A vida social deles consistia de visitas à família dele e idas à igreja. Ela 
evitava outras pessoas porque se sentia extremamente desconfortável perto 
delas, suspeitava de que frequentemente falavam dela pelas costas e 
considerava-se geralmente indigna de confiança. Por estas razões, fora 
incapaz de trabalhar nos últimos 20 anos e passava a maior parte do tempo 
sozinha, fazendo seus trabalhos de arte que depois colocava no porão. 
(KAPLAN e SADOCK, 1999, p. 1556). 
 
 
6.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
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Tanto os pacientes esquizoides, quanto os esquizotípicos, com frequência 
vivem à margem da sociedade. Eles podem ser ridicularizados ao serem 
caracterizados como “esquisitos”, “excêntricos” ou desajeitados, ou meramente 
serem deixados a sós para seguirem uma existência solitária. Seu isolamento pode 
levar os outros a sentirem pena deles e estender-lhes a mão. Entretanto, geralmente 
os sujeitos que têm estas atitudes desistem, depois de serem repetidamente 
rejeitados. 
Os membros da família podem ficar preocupados a ponto de forçar seu 
familiar esquizoide ou esquizotípico a uma situação de tratamento. Os pais de 
adolescentes ou adultos jovens podem levar seu filho ou filha a um psiquiatra por 
estarem preocupados por este(a) não estar aproveitando suficientemente a vida. 
Outros vêm a tratamento psiquiátrico voluntariamente em função da dolorosa 
solidão. 
A característica mais marcante dos pacientes esquizoides e esquizotípicos é 
uma aparente falta de relação com os outros. O trabalho psicanalítico com estes 
pacientes sugere que eles têm sentimentos e anseios pelos outros, mas estão 
congelados numa fase inicial do desenvolvimento, em termos de relacionamento. 
O mundo interno destes pacientes pode diferir da aparência externa. O 
indivíduo aparenta ser aberto, desapegado, autossuficiente, distraído e assexuado, 
enquanto internamente ele é sensível, emocionalmente carente, extremamente 
vigilante e criativo. A avaliação retrospectiva sugere que estes pacientes muitas 
vezes têm histórias que começam no início da vida, de pais maciçamente 
inadequados, frios ou negligentes. 
Essas atitudes criam um deficit fundamental na capacidade de se relacionar. 
As teorias psicodinâmicas sugerem que essas experiências traumáticas indicam 
uma expectativa de que os relacionamentos não serão gratificantes, e assim, um 
consequente afastamento defensivo das outras pessoas. 
 
 
6.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
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Tanto a terapia individual como a terapia dinâmica de grupo, ou a 
combinação das duas, é proveitosa para os pacientes esquizoides e esquizotípicos. 
Considerando-se que um grupo geralmente produz muita ansiedade, a maior parte 
destes pacientes sentir-se-á mais confortável iniciando com uma terapia individual. 
Como as primeiras relações mostram-se inadequadas, estes pacientes 
parecem reproduzi-las ao longo da vida, distanciando-se de todos. O terapeuta deve 
descobrir como se relacionar com o paciente de forma corretiva em termos 
maturacionais. 
A tarefa terapêutica é “dissolver”, “derreter” estas relações congeladas do 
paciente, oferecendo-lhe novas experiências de relacionamento. Dizer que o objetivo 
da terapia é propiciar um novo relacionamento a ser internalizado parece ser simples 
e direto. Esta estratégia apresenta muitos obstáculos. Primeiro, a forma básica de 
vida do paciente é o não relacionamento. Assim, o terapeuta está pedindo que o 
paciente transforme sua forma de relacionar-se. Como esperado, os esforços do 
terapeuta de oferecer um novo modelo de relacionamento serão vistos com distância 
emocional e muito silêncio. 
Os terapeutas que tentam tratar pacientes esquizoides e esquizotípicos 
devem aceitar o seu silêncio. Este deve ser considerado não apenas como uma 
simples resistência, mas também como uma forma de comunicação não verbal. 
Durante estes longos períodos de silêncio o terapeuta deve reconhecer que a 
relação ainda está ocorrendo. 
A psicoterapia dinâmica de grupo é orientada no sentido de ajudar os 
pacientes na socialização, que é onde os pacientes esquizoides e esquizotípicos 
mais sofrem. Também é um ambiente no qual podem ser criados relacionamentos 
com a função parental. Para muitos pacientes o grupo pode funcionar como uma 
família reconstruída. 
Alguns pacientes literalmente não têm qualquer contato social além de suas 
sessões de terapia em grupo. Assim, eles podem se beneficiar do mero contato 
regular com outras pessoas. À medida que passam a se sentir aceitos pelos outros e 
percebem que seus medos não são concretizados, eles paulatinamente sentem-se 
mais confortáveis com as pessoas. 
 
 
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 60 
De forma análoga à terapia individual, as reações dos outros membros do 
grupo podem oferecer uma experiência que é oposta a todas as experiências 
anteriores de relacionamento, proporcionando assim uma possível reestruturação 
destas formas
de relação. 
O silêncio, que também surge na terapia de grupo, pode gerar ressentimento 
nos outros membros do grupo. Estes sentimentos podem ocasionar um tipo de 
“conspiração” dos outros membros para forçar o paciente a falar. Nestes momentos, 
o terapeuta deve apoiar este paciente e ajudar os outros membros do grupo a 
aceitarem que ele necessita permanecer em silêncio. 
O grupo pode também ignorar este paciente esquizoide ou esquizotípico, 
agindo como se ele não existisse. Nestas situações, a tarefa do terapeuta é trazer o 
paciente para o grupo, chamando a atenção para como um comportamento que 
ocorre fora do grupo está se repetindo dentro da terapia. 
Os pacientes esquizotípicos ou esquizoides cujo comportamento é bizarro 
ou cujo pensamento é psicótico podem se tornar bodes expiatórios pelo fato de 
serem diferentes dos outros membros do grupo. Com estes pacientes a terapia 
individual pode ser a melhor escolha. 
 
 
 
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 61 
7 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA 
 
 
7.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade histriônica 
Um padrão global de excessiva emotividade e busca de atenção, que se 
manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes critérios: 
(1) Desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções; 
(2) A interação com os outros frequentemente se caracteriza por um 
comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor; 
(3) Mudanças rápidas e superficialidade na expressão das emoções; 
(4) Constante utilização da aparência física para chamar a atenção sobre si; 
(5) Estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes; 
(6) Dramaticidade, teatralidade e expressão emocional exagerada; 
(7) Sugestionabilidade, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros ou pelas 
circunstâncias; 
(8) Considerar os relacionamentos mais íntimos do que realmente são. 
FONTE: DSM-IV 
 
 
As pessoas com transtorno da personalidade histriônica mostram-se 
expressivas, dramáticas e exuberantes. Suas emoções são expressas de forma 
inadequada. A simpatia é expressa com ardor, intensamente, a tristeza com choro 
ou melancolia excessiva, a raiva com fúria intensa. Esta intensa exibição das 
emoções pode ser cativante, mas pode também, não parecer sincera. As pessoas 
podem suspeitar que os portadores deste transtorno fingem suas emoções, as quais 
podem parecer superficiais. 
 
 
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O discurso das pessoas com transtorno da personalidade histriônica pode 
refletir seu estilo dramático, sendo exageradamente impressionista e ausente de 
detalhes. Por exemplo, quando solicitado a descrever um amigo, a pessoa pode ser 
incapaz de ser mais específica do que: “Ele é uma pessoa maravilhosa, 
maravilhosa!” 
As pessoas com transtorno da personalidade histriônica buscam ser o centro 
das atenções. Quando isto não acontece sentem-se desconfortáveis. Podem tentar 
desviar a atenção para si sendo alegres, dramáticas ou sedutoras. Frequentemente 
gostam de representar diante de uma plateia. As pessoas podem cansar-se do seu 
comportamento egocêntrico. 
Os portadores deste transtorno podem expressar sua sedução, não apenas 
em relação a pessoas pelas quais tenham um interesse romântico, mas também em 
relação a relacionamentos sociais e profissionais. São preocupados em demasia 
com seus atrativos físicos, gastando tempo e esforços excessivos para vestir-se e 
enfeitar-se, e podem esperar elogios pela sua aparência. 
As pessoas com o transtorno tendem a exagerar a intimidade de seus 
relacionamentos. Elas podem, por exemplo, referir-se a um conhecido recente como 
sendo um amigo íntimo. Sua ânsia por emoções fortes pode se refletir no abandono 
de relacionamentos conhecidos em favor da excitação de um novo relacionamento. 
Buscam também a satisfação imediata das gratificações, frustrando-se quando isto 
não acontece. 
São descritas como criativas, impressionáveis e influenciáveis por 
novidades, tendo pouco interesse em atividades intelectuais e pensamento analítico. 
Elas geralmente confiam excessivamente nos outros, especialmente em figuras de 
autoridade, as quais podem ser vistas como capazes de resolver magicamente seus 
problemas. 
O comportamento dos sujeitos com transtorno da personalidade histriônica 
pode ser influenciado pelos estereótipos do papel sexual. Por exemplo, um homem 
pode vestir-se e comportar-se de um modo identificado como “machão”, procurando 
ser o centro das atenções e mostrando habilidades atléticas, ao passo que uma 
mulher pode escolher roupas muito femininas, sensuais e falar do quanto 
impressionou seu instrutor de dança. 
 
 
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Antes que estes vários traços, como sedução, dramaticidade, emotividade, 
possam ser considerados como evidências do transtorno da personalidade 
histriônica, é importante verificar se eles causam prejuízo ou sofrimento clinicamente 
significativo. Traços de personalidade como egocentrismo, tendência ao exagero, 
falta de atenção a detalhes e às informações concretas são desvantagens 
significativas em situações sociais e em ocupações que requerem submissão, 
organização e meticulosidade. 
 
 
7.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
As pacientes com estilos de personalidade histriônica tendem a encontrar 
dificuldades em dois estágios psicossexuais do desenvolvimento: elas vivenciaram 
relativa privação materna durante a fase oral, tendo dificuldade em resolver a 
situação edípica e de ter uma identidade sexual definida. A mulher histriônica dirige-
se a seu pai para obter satisfação das necessidades de dependência em função da 
falha materna. Cedo aprende que o comportamento sedutor e o exibicionismo 
dramático da emoção são necessários para que ela obtenha a atenção do pai. 
À medida que cresce, ela aprende que deve reprimir sua sexualidade genital 
para continuar sendo a “filhinha do papai”. A dinâmica evolutiva delineada para o 
sexo feminino pode também ser aplicada ao sexo masculino. O sujeito histriônico do 
sexo masculino viveu privação materna e procurará seu pai como conforto. 
Se o pai é ausente ou não está disponível emocionalmente, a criança se 
depara com duas alternativas: ela pode modelar a si mesma segundo sua mãe e 
desenvolver uma identidade passiva efeminada, ou na ausência de um modelo 
masculino, ela pode imitar vários estereótipos culturais do papel masculino para fugir 
da ansiedade de ser efeminado. 
 
 
 
 
 
 
 
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7.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
Os pacientes com este transtorno de personalidade geralmente respondem 
bem à psicoterapia individual. Embora alguns pacientes apresentem sintomas 
nítidos, como disfunção sexual, o mais comum é eles iniciarem a psicoterapia devido 
a uma insatisfação geral com seus relacionamentos. O evento desencadeante pode 
ser a ruptura de um casamento ou de um relacionamento amoroso. 
A atenção à interação paciente-terapeuta é importante desde o início da 
terapia. Com frequência estes pacientes iniciam a psicoterapia com uma expectativa 
inconsciente de que o terapeuta deve ser capaz de compreendê-lo de forma 
intuitiva, não verbal e global, sem necessidade de detalhar seu mundo intrapsíquico. 
Os terapeutas que se deparam com estas expectativas devem, na realidade, 
comunicar aos pacientes que a única forma de eles desenvolverem uma 
compreensão é oferecendo um relato detalhado da sua experiência interna. Assim, a 
abordagem inicial deve voltar-se para a obtenção de tantos detalhes quanto
possível. 
À medida que estes pacientes tornam-se capazes de identificar seus 
sentimentos, atitudes e ideias, eles desenvolvem um maior sentido de si como 
responsáveis pela interação com o ambiente, ao contrário de vítimas passivas. Com 
frequência estas pessoas têm imagens visuais e fantasias vividas, mas não as 
traduzem em palavras, a não ser que o terapeuta facilite este processo. Assim, o 
terapeuta auxilia seu paciente a identificar o que quer e sente. Ele aprende também 
que não é perigoso ter certos pensamentos e sentimentos. 
Embora a psicoterapia possa ser efetiva e gratificante com este tipo de 
paciente, o mau manejo da transferência pode causar o fracasso terapêutico. Os 
problemas que o paciente encontra nos seus relacionamentos fora da terapia serão 
reproduzidos na transferência. Se o psicoterapeuta, por exemplo, sucumbir à 
tentação de aceitar a transferência sedutora ou idealizadora destes pacientes, pode 
reforçar as motivações manipuladoras que estão por trás dessa típica forma de 
relação. 
 
 
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Os pacientes com transtorno da personalidade histriônica podem ser mais 
problemáticos na terapia grupal, pois com frequência “passarão por cima” dos outros 
pacientes do grupo, exigindo ser o centro das atenções por meio de exibições 
emocionais. Com assiduidade são as “estrelas” do seu grupo. Tais pacientes podem 
ser tratados de forma eficaz em psicoterapia grupal somente se também estiverem 
em psicoterapia individual. 
A seguir teremos um caso-exemplo que pode auxiliar na compreensão do 
transtorno da personalidade histriônica: 
Um homem de 45 anos iniciou uma terapia de casais por insistência de sua 
esposa, que o acusava de ser “mulherengo”. Ela explicou que ele sempre 
havia flertado descaradamente com outras mulheres, fazendo-lhes 
insinuações provocadoras, mesmo na sua presença. Ela também estava 
cansada de sua necessidade de ser o centro das atenções em reuniões 
sociais, o que ele conseguia contando estórias dramáticas de suas proezas 
no tempo de faculdade. O paciente defendia-se dizendo que sua esposa 
casara com ele sabendo que “simplesmente é assim que eu sou”; 
acrescentava que era um “ator frustrado” que não podia deixar de evitar ser 
um Don Juan e que sua esposa sempre havia tolerado seu comportamento. 
Ele expressava afeto por sua esposa, descrevendo-a como uma “garota 
doce muito bonita”, mas era incapaz de expor mais profundamente seus 
sentimentos por ela. O paciente desempenhava relativamente bem seu 
trabalho como vendedor, embora reconhecesse que, em diversas ocasiões, 
havia sido advertido por seu comportamento espalhafatoso e sedutor no 
escritório. Ele também relatou que tinha ficado surpreso quando diversos 
colegas, a quem considerava “amigos queridos”, lhe haviam dito, em tom de 
crítica, que era uma futilidade ele ficar tão preocupado com suas roupas e 
seu bronzeado. (KAPLAN e SADOCK, 1999, p.1570). 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO III

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