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Transtorno_personalidade_04

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AN02FREV001/REV 4.0 
 66 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
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CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
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MÓDULO IV 
 
 
8 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE 
 
 
8.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade 
dependente 
 
Uma necessidade global e excessiva de ser cuidado, que leva a um 
comportamento submisso e aderente e a temores de separação que se manifestam 
no início da idade adulta e estão presentes em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, cinco dos seguintes critérios: 
(1) Dificuldade em tomar decisões do dia a dia sem uma quantidade 
excessiva de conselhos e reasseguramento da parte de outras pessoas; 
(2) Necessidade de que outros assumam a responsabilidade pelas 
principais áreas de sua vida; 
(3) Dificuldade em expressar discordância de outros, pelo medo de perder 
apoio ou aprovação. Nota: Não incluir temores realistas de retaliação. 
(4) Dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (em 
vista de uma falta de autoconfiança em seu julgamento ou capacidades, não 
por falta de motivação ou energia); 
(5) Vai a extremos para obter carinho e apoio, a ponto de oferecer-se para 
fazer coisas desagradáveis; 
(6) Sente desconforto ou desamparo quando só, em razão de temores 
exagerados de ser incapaz de cuidar de si próprio; 
(7) Busca urgentemente um novo relacionamento como fonte de carinho e 
amparo, quando um relacionamento íntimo é rompido; 
 
 
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(8) Preocupação irrealista com temores de ser abandonado à própria 
sorte. 
FONTE: DSM-IV 
 
 
O aspecto fundamental do transtorno da personalidade dependente é uma 
necessidade invasiva e excessiva que a pessoa sente de ser cuidada, que leva a um 
comportamento submisso e a temores de separação. Os fatores culturais e etários 
devem ser levados em conta na avaliação diagnóstica deste transtorno. O 
comportamento dependente deve ser considerado característico do transtorno 
apenas quando claramente excede as normas culturais do sujeito ou reflete 
preocupações irreais. 
Algumas sociedades valorizam a passividade e o tratamento respeitoso. Da 
mesma forma, existem sociedades que apoiam e desencorajam claramente o 
comportamento dependente. Estes sujeitos são incapazes de tomar decisões por 
eles mesmos, buscam e aceitam a orientação dos outros em todos os assuntos, 
sejam eles importantes ou não, por exemplo, o que vestir em uma determinada 
situação, onde morar, e assim por diante. 
Carecem de autoconfiança, sentem-se impotentes e incapazes de funcionar 
por conta própria. Para não perderem o cuidado e o apoio que necessitam, sujeitam 
as suas necessidades às dos outros, concordam com eles, na tentativa de agradá-
los, chegando algumas vezes a anular-se. 
 
FIGURA 15 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
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As pessoas com este transtorno sentem-se incapazes de cuidar de si 
próprios ou de realizar alguma tarefa sem o apoio de outros. Temem ficar sozinhos, 
e quando isto acontece podem achar difícil executar tarefas sem a ajuda alheia. 
Devido à sua baixa autoestima e insegurança, elas tendem a evitar posições de 
responsabilidade e tornam-se ansiosas se forçadas a isso. Frequentemente 
procuram alguém que consideram como todo-poderoso, a quem possam ligar-se e 
de quem possam depender para protegê-los da solidão, responsabilidade e tomada 
de decisões. 
 
 
FIGURA 16 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
 
A grande necessidade de manter o vínculo de apego pode dificultar os 
relacionamentos íntimos – por exemplo, eles podem admirar excessivamente a força 
e competência do seu parceiro, que consideram “superior”, ou podem tolerar um 
parceiro que é abusivo só para não ficarem sós. Quando um relacionamento íntimo 
termina, podem rápida e indiscriminadamente procurar um novo relacionamento, de 
modo que possam, mais uma vez, sentirem-se cuidados. 
De acordo com os critérios do DSM-IV, o transtorno da personalidade 
dependente muitas vezes ocorre junto com outros transtornos da personalidade, 
mais frequentemente transtornos da personalidade Borderline, esquiva e histriônica. 
 
 
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8.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
Estima-se que muitos pacientes com transtorno da personalidade 
dependente cresceram em lares onde os pais comunicaram explícita ou 
implicitamente a ideia de que a independência é cheia de perigos. Os pacientes 
dependentes são geralmente filhos de mães invasivas e superprotetoras. Estes 
pacientes geralmente são recompensados pelos seus pais por se manterem leais a 
eles e são rejeitados frente a qualquer movimento em direção à separação e 
independência. 
Ao contrário do transtorno da personalidade Borderline, por exemplo, os 
pacientes dependentes, embora temendo a separação, quando esta acontece, 
podem simplesmente sentar e chorar. 
 Esta atitude submissa, característica do paciente dependente, pode ter 
muitos significados. Ele busca cuidados devido a ansiedades que se encontram 
abaixo da superfície. O psicoterapeuta deve perguntar a cada sujeito: “O que, em 
relação à independência é mais assustador?” O apego dependente muitas vezes 
mascara a agressão. O comportamento dependente também pode ser uma forma de 
evitar a reativação de experiências traumáticas passadas. 
 
 
8.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
 
 
 A psicoterapia de pacientes com transtorno da personalidade dependente 
apresenta um dilema terapêutico imediato. Para estes resolverem seus problemas 
com a dependência, eles primeiro devem desenvolver dependência do terapeuta. O 
psicoterapeuta tem que estar atento, pois o paciente frequentemente vê a 
dependência do terapeuta como um fim em si mesmo, mais que um meio para se 
chegar ao seu objetivo. 
Depois de algum tempo de terapia estes pacientes podem esquecer a 
natureza da queixa que os trouxe para tratamento e o seu único objetivo passa a ser 
 
 
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a manutenção da sua ligação com o terapeuta. Com medo do término da terapia, 
eles podem falar a todo o momento para seu terapeuta de como estão mal. Se o 
terapeuta comenta alguma melhora, o paciente pode piorar, já que para eles, a ideia 
de melhora é sinônima de término. 
Estes pacientes tentam fazer com que o terapeuta diga a eles o que fazer, 
permitindo que continuem sua dependência e façam um conluio para evitar a 
tomada de decisões ou afirmação dos seus próprios desejos. O terapeuta deve estar 
frustrando estes desejos, estimulando o pensamento e a ação independente do 
paciente. 
 
 
FIGURA 17 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
Uma regra básica no tratamento dos pacientes dependentes é relembrá-los 
que o que eles dizem que querem, provavelmente não é o que
eles precisam. O 
psicoterapeuta deve passar a ideia de que a ansiedade, produzida pela frustração, é 
possível tolerar, e também é produtiva na medida em que pode levar a associações 
sobre as origens da dependência e os medos associados a ela. 
A seguir temos um caso-exemplo: 
 
Uma estudante do curso de pós-graduação, de 32 anos, procurou terapia 
declarando, entre lágrimas, que estava “apavorada” com que seu namorado 
pudesse deixá-la. Ela vinha fazendo de tudo para agradá-lo, mas sentia-se 
incapaz de aceitar algumas de suas estranhas expectativas sexuais. Agora, 
 
 
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ela temia ser deixada sozinha à sua própria sorte. Ela sempre dependera 
dele ou de outras pessoas para decidir por ela – por exemplo, ela 
recentemente comprou um carro do qual não gostava porque ele o 
recomendara, e ele “sabia melhor”. Ela também mudara recentemente o 
tema da sua tese para um assunto pelo qual tinha pouco interesse, tendo 
sido incapaz de discordar da sua recomendação porque temia perder seu 
apoio. De fato, ela se referia ao namorado como seu “diretor de tese”, 
explicando que não tinha competência para trabalhar nela a menos que ele 
estabelecesse e supervisionasse seu programa de trabalho diário. Ela temia 
ser incapaz de obter seu grau de mestre, caso o relacionamento 
terminasse. Entretanto, ela tentava tranquilizar-se de que rapidamente 
encontraria outro namorado ou se mudaria de volta para casa dos pais para 
recuperar a “disciplina” e a sensação de apoio que necessitava. (KAPLAN e 
SADOCK, 1999, p. 1572, v. 2). 
 
 
9 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIVA 
 
 
9.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade esquiva 
 
Um padrão global de inibição social, sentimentos de inadequação e 
hipersensibilidade à avaliação negativa, que se manifesta no início da idade adulta e 
está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, quatro dos 
seguintes critérios: 
(1) Evita atividades ocupacionais que envolvam contato interpessoal 
significativo por medo de críticas ou rejeição; 
(2) Reluta a envolver-se, a menos que tenha certeza da estima da pessoa; 
(3) Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos, em razão do medo 
de passar vergonha ou ser ridicularizado; 
(4) Preocupação com críticas ou rejeição em situações sociais; 
(5) Inibição em novas situações interpessoais, em virtude de sentimentos 
de inadequação; 
(6) Vê a si mesmo como socialmente inepto, sem atrativos pessoais, ou 
inferior; 
(7) Extraordinariamente reticente em assumir riscos pessoais ou envolver-
 
 
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se em quaisquer novas atividades, porque estas poderiam provocar 
vergonha. 
FONTE: DSM IV 
 
 
FIGURA 18 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
Os sujeitos com transtorno da personalidade esquiva, diferentemente do 
paciente esquizoide, desejam relacionamentos interpessoais próximos, mas os 
temem. Eles são muito temerosos e sensíveis à rejeição, críticas, desaprovação, 
humilhação e vergonha. Para se protegerem desse tipo de dor, evitam não apenas 
relacionamentos íntimos, mas também muitas das atividades sociais e ocupacionais. 
Quando se envolvem com outras pessoas, na maioria das vezes só o fazem 
quando estão certos de serem queridos, necessitando de garantias de aceitação por 
parte do outro. Como resultado desta esquiva eles têm poucos amigos. Entretanto, 
desejam muito a companhia humana e aceitação por parte dos outros: são mais 
tímidos do que antissociais. Vivem o doloroso dilema de desejar a intimidade, mas 
temer que esta traga a rejeição e a humilhação. 
 Os sujeitos com transtorno da personalidade esquiva aparentam ser 
tímidos, tensos e constrangidos, o que pode provocar zombaria por parte dos outros, 
reforçando assim seus medos. O medo da rejeição e a ansiedade podem ser 
expressos pela dificuldade de falar em público; uma tendência a se expressar por 
intermédio de incertezas ou uma relutância em pedir favores às outras pessoas. A 
 
 
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recusa de um favor pode fazê-lo retrair-se ainda mais. 
 
 
FIGURA 19 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
Estes sujeitos preocupam-se excessivamente em como os outros os estão 
avaliando, especialmente em situações sociais. Em função desta dificuldade em lidar 
com uma avaliação negativa, tendem a ver as outras pessoas como críticas, 
algumas vezes interpretando de forma errada seus comentários como depreciativos. 
Eles podem tentar proteger-se desta suposta agressividade e crítica com 
retraimento. 
Visto que estas pessoas estão sempre muito preocupadas em agradar, elas 
podem desempenhar-se adequadamente em seus empregos. Entretanto, sua 
timidez, seu medo de ser humilhado se fracassar, pode impedi-los de aceitar 
empregos à sua altura, exercer autoridade e progredir profissionalmente. Por 
exemplo, podem recusar uma promoção pelos desafios que ela acarreta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 20 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
O comportamento esquivo geralmente começa na infância, com timidez, 
isolamento, medo de estranhos e de situações novas. Embora a timidez seja um 
fator comum do transtorno, na maioria das vezes ela tende a dissipar-se com a 
idade. Por outro lado, os sujeitos que desenvolvem o transtorno da personalidade 
esquiva podem tornar-se progressivamente tímidos e arredios durante a 
adolescência e início da idade adulta, quando novos relacionamentos assumem uma 
importância especial. 
Existem algumas evidências de que, em adultos, o transtorno da 
personalidade esquiva tende a tornar-se menos manifesto ou a apresentar remissão 
com a idade. 
 
 
9.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
A timidez ou a evitação são defesas contra o embaraço, humilhação, 
rejeição e fracasso. Como em qualquer outra forma de ansiedade, seu significado 
 
 
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dinâmico deve ser explorado para a compreensão de suas origens em cada sujeito 
em especial. Entretanto, o tratamento psicoterapêutico e psicanalítico de sujeitos 
com estas preocupações muitas vezes revela a vergonha como experiência central. 
O paciente esquivo com frequência se retrai dos relacionamentos 
interpessoais devido a um desejo de “esconder-se” do afeto demasiadamente 
desagradável da vergonha. Do ponto de vista psicodinâmico a vergonha não pode 
ser vinculada, de forma reducionista, a um momento do desenvolvimento na vida da 
criança, mas parece evoluir a partir de muitas experiências diferentes, em várias 
idades. 
Aparentemente presente desde cedo, a vergonha parece evidente no início 
da ansiedade a estranhos, em torno dos oito meses de idade. A vergonha e a 
autoexposição estão intimamente ligadas. O que estes sujeitos temem é qualquer 
situação na qual eles tenham que revelar aspectos de si mesmos, deixando-os 
vulneráveis. As situações sociais são evitadas por permitirem que suas 
inadequações sejam reveladas e vistas por todos. Eles podem sentir vergonha de 
muitos aspectos diferentes neles mesmos; por exemplo, perceber-se como fracos, 
física ou mentalmente incapazes. 
 
 
9.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
 
 
Os pacientes com transtorno da personalidade esquiva são bons candidatos 
para todos os tipos de psicoterapia psicodinâmica. O psicoterapeuta precisa ser 
empático para lidar com o embaraço e a humilhação que vem associada à 
exposição neste tipo de paciente, procurando elementos que os encoraje a expor-se 
às situações temidas. 
O psicoterapeuta deve primeiro consolidar a aliança por meio
do 
reconhecimento e interpretação do uso defensivo da esquiva. Isto pode ajudar a 
prevenir a interrupção prematura devido aos medos de rejeição ou crítica do 
paciente e a relutância em encarar os afetos envolvidos no enfrentamento de 
questões dolorosas. No tratamento o paciente começa a ganhar insight de seus 
desejos e medos inconscientes, contra os quais pode defender-se com seu 
 
 
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comportamento esquivo. 
Os esforços exploratórios iniciais podem ser frustrantes porque os pacientes 
esquivos não têm total certeza do que eles temem. Fantasias específicas podem ser 
exploradas. Pacientes esquivos geralmente são muito ansiosos em relação à 
exposição inerente à psicoterapia. Quando um paciente enrubesce em função de 
algo que ele falou, o terapeuta pode perguntar: “Você pode me dizer do que se 
envergonhou agora? É alguma reação que você imagina que eu estou tendo ao que 
você acabou de dizer?” Buscando os detalhes de situações específicas, o paciente 
irá desenvolver uma maior consciência dos fatores que estão por trás da vergonha. 
A seguir temos um caso-exemplo: 
 
A Srta. TT era uma estudante de enfermagem de 24 anos que buscou 
psicoterapia por se sentir insatisfeita com sua vida. Tinha dificuldade de 
estabelecer relacionamentos heterossexuais e sentia ansiedade em 
situações sociais. Ela descreveu problemas crônicos de timidez em relação 
aos homens. Considerando-se que era excepcionalmente atraente, ela 
repetidas vezes recebia convites, mas sua ansiedade em relação a cada 
encontro chegava a um ponto em que ela tinha que ingerir álcool para 
relaxar. Ela disse a seu terapeuta que se sentia com risco de desenvolver 
dependência, pois era capaz de abrir-se para os homens apenas quando 
estava sob o efeito do álcool. A Srta. TT também observou a mesma 
sensação de ansiedade quando se percebeu “se soltando” com outras 
pessoas, como colegas na escola de enfermagem. 
Ela havia tentado a psicoterapia de grupo por vários meses, mas não 
conseguia falar e ficou retraída. Ela raramente conversava por medo de 
“dizer a coisa errada”. Quando começou a faltar às sessões de psicoterapia 
de grupo, ela racionalizou para si mesma sua ausência dizendo que não 
importava, já que de qualquer forma ela não estava participando. A Srta. TT 
decidiu procurar psicoterapia individual por pensar que seria mais fácil abrir-
se para uma pessoa em vez de para oito. 
Na sua terceira sessão de psicoterapia, começou a ficar em silêncio. O 
terapeuta foi paciente durante estes silêncios, mas depois de algumas 
sessões ele observou que seus silêncios pareciam ocorrer quando ela 
estava prestes a vivenciar fortes sentimentos. Ela admitia que sentia um 
terrível medo de perder o controle quando ficava emotiva. O terapeuta 
perguntou a Srta. TT se ela se preocupava com a resposta dele à 
expressão das suas emoções. A Srta. TT disse que ela tinha certeza de que 
ele a criticaria e a faria “sentir-se envergonhada” por “agir como um bebê”. 
Neste ponto, o terapeuta perguntou a Srta TT se seu medo era baseado em 
qualquer experiência passada semelhante. Ela iniciou uma extensa 
descrição de como seu pai a havia tratado quando criança. Disse que ele 
era “um grande homem, que não podia ser criticado, mas podia criticar”. 
Cada vez que ela trazia para casa o boletim ele gritava com ela, exigindo 
“Por que você não tirou um A?” Ela também lembrou haver derramado seu 
leite na mesa do jantar, sendo severamente repreendida por seu pai, que 
ralhou com ela: “Por que você não pode ser como sua irmã?” Com 
considerável embaraço ela disse que seu pai nunca havia feito ela se sentir 
confortável sobre o fato de ser mulher. Ele implicou com ela no dia de sua 
primeira menstruação, dizendo-lhe que agora tinha uma desculpa por ficar 
“ruim” uma vez por mês. Ela lembrava ter ficado extraordinariamente 
magoada e chorar em seu quarto por horas. Quando chegou em casa um 
 
 
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dia cheia de entusiasmo por ter sido selecionada como animadora da 
torcida, seu pai a chamou de “convencida e mimada”. Ela tinha uma forte 
convicção de que nunca seria capaz de equiparar-se às expectativas de seu 
pai. 
Em certo ponto da terapia, a Srta. TT estava falando sobre suas 
dificuldades em tentar frequentar festas ou outras situações sociais. 
Novamente, o terapeuta perguntou a respeito de situações passadas que 
pudessem estar relacionadas a seu medo. A Srta. TT relembrou que 
quando ela era menina sua mãe a vestia e a levava para a casa de uma 
amiga, e todos comentavam como ela estava “bonitinha”. Ela relembrou sua 
sensação de embaraço com estes comentários como se ela estivesse “se 
exibindo”. À medida que o terapeuta a ajudou a explorar mais este 
sentimento, ela percebeu que até certo ponto ela havia gostado da 
exposição, por ter recebido um feedback tão positivo, em contraste com a 
crítica constante de seu pai. 
O terapeuta estimulou-a a ir a algumas das situações sociais para a qual ela 
havia sido convidada para ver que outras associações vinham a sua mente 
durante a crise de ansiedade. Quando a Srta. TT começou a se socializar 
mais sem antes ficar bêbada, percebeu que tinha medo de se divertir. Se 
ela gostava dos elogios dos homens que a cercavam num encontro social, 
então passava a acreditar que era “convencida e mimada”, como seu pai 
costumava dizer. Esta convicção fazia com que ela se sentisse uma 
“menina má”. (GABBARD, 1998, p. 391-392). 
 
 
Esse caso ilustra o quanto o sucesso nos relacionamentos interpessoais 
muitas vezes pode ser tão temido quanto o fracasso. A emoção de uma 
apresentação exibicionista pode desencadear antigas repreensões parentais a 
respeito de “se exibir”. Muitos sujeitos com transtorno da personalidade esquiva 
temem se intoxicar com eles mesmos quando estão sob os refletores. 
Associado ao medo que a Sra. TT tem de ser o centro das atenções, existe 
o medo de ficar muito abaixo das expectativas que havia estabelecido para si 
mesma. Estas expectativas foram internalizadas a partir das altas expectativas do 
seu pai. A Sra. TT não conseguia expressar sua raiva do pai e sentia vergonha até 
mesmo de ter estes sentimentos. Na terapia, ela foi capaz de admitir sua intensa 
raiva por ele muitas vezes a envergonhar e fazê-la sentir-se em conflito em relação à 
sua sexualidade e feminilidade. 
A psicoterapia de grupo pode aumentar a confiança dos pacientes em 
situações sociais, especialmente se a situação de grupo for mais benigna e 
satisfatória do que a que os pacientes geralmente encontram. A terapia familiar ou 
de casal pode ser útil quando estes relacionamentos reforçam o comportamento 
esquivo do paciente – quando, por exemplo, membros da família superprotegem ou 
humilham socialmente o paciente. 
 
 
 
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10 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA 
 
 
10.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade obsessivo-
compulsiva 
 
Um padrão global de preocupação com organização, perfeccionismo e 
controle mental e interpessoal, à custa de flexibilidade, abertura e eficiência, que se 
manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes critérios: 
 
(1) Preocupação tão extensa com detalhes, regras, listas, ordem, 
organização ou horários, que o alvo principal da atividade é perdido; 
(2) Perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., é incapaz 
de completar um projeto porque não consegue atingir seus próprios padrões 
demasiadamente rígidos); 
(3) Devoção excessiva ao trabalho e à produtividade, em detrimento de 
atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade
econômica); 
(4) Excessiva conscienciosidade, escrúpulos e inflexibilidade em questões 
de moralidade, ética ou valores (não explicados por identificação cultural ou 
religiosa); 
(5) Incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo 
quando não têm valor sentimental; 
(6) Relutância em delegar tarefas ou trabalhar em conjunto com outras 
pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as 
coisas; 
(7) Adoção de um estilo miserável quanto a gastos pessoais e com outras 
pessoas; o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para 
 
 
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catástrofes futuras; 
(8) Rigidez e teimosias. 
FONTE: DSM-IV. 
 
 
A diferença entre neurose obsessivo-compulsiva e personalidade obsessivo-
compulsiva está baseada nos sintomas e traços de caráter persistentes. O paciente 
que apresenta neurose obsessivo-compulsiva é atormentado por pensamentos 
desagradáveis recorrentes e levado a realizar rituais. O paciente reconhece estas 
manifestações como problemas e geralmente deseja livrar-se delas. 
Em contraste, os traços que constituem o transtorno da personalidade 
obsessivo-compulsiva são duradouros, vitalícios. Estes traços raramente são 
causadores de estresse no paciente e pode ser até considerado como altamente 
adaptativo. 
 
 
FIGURA 21 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
As pessoas com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva são 
sobrecarregadas por padrões elevados de busca da perfeição, a ponto de retardar 
ou não completar suas tarefas por serem incapazes de satisfazer seus próprios 
padrões excessivamente rígidos. Para manter um senso de controle, elas se 
 
 
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prendem tanto a detalhes, regras, listas, ordem, organização e métodos que perdem 
a visão do objetivo principal da tarefa. 
Por exemplo, na tentativa de redigir um relatório perfeito e completo, podem 
despender um tempo muito grande revisando detalhes históricos relativamente 
insignificantes, que omitem os pontos principais e perdem o prazo de entrega. Elas 
também podem distribuir mal seu tempo, deixando as tarefas mais importantes para 
a última hora. 
Em função da crença de que seu modo de fazer as coisas é o correto, estas 
pessoas tendem a dar aos outros, instruções altamente detalhadas sobre como uma 
tarefa deveria ser realizada e ficar incomodada quando não acatam ou sugerem 
métodos alternativos. Quando os outros não se submetem ao seu modo de fazer as 
coisas, podem relutar em trabalhar com eles. Estas pessoas podem negar ajuda, 
mesmo quando necessário, por acharem que a tarefa não será feita corretamente. 
As pessoas com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva são 
muito dedicadas ao trabalho. Essa dedicação leva a altas realizações nas 
profissões, nas quais seja essencial a atenção a detalhes. Elas tendem a trabalhar 
muitas horas e nos fins de semana (por razões outras que não uma necessidade 
econômica) e, quando tiram algum tempo para atividades de lazer e férias, podem 
levar junto a fim de não “desperdiçar tempo”. Elas tendem a encarar passatempos e 
atividades recreativas como tarefas sérias que exigem planejamento detalhado e 
grandes esforços. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 22 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
O sucesso na esfera do trabalho com frequência tem um preço alto para 
estas pessoas. Seus parentes e as pessoas mais próximas comumente acham difícil 
viver com elas. As pessoas com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva 
tendem a ser excessivamente conscienciosas, escrupulosas e inflexíveis, com 
relação a questões de moralidade, ética e valores. Elas podem acreditar de forma 
tão firme em seus pontos de vista e podem ser relutantes em fazer concessões que 
provocam irritação nos outros. São altamente críticas tanto de si mesmas quanto 
aos outros. 
As pessoas com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva tendem 
a expressar suas emoções de maneira formal, controlada. Embora sejam capazes 
de intimidade e lealdade, acham difícil expressar afeição. Quando perguntadas 
sobre seus sentimentos, suas respostas podem ser distantes, por exemplo: “O 
sentimento é recíproco”. Estas podem ser miseráveis em relação a si próprias, 
negando a si mesmas coisas de que precisam devido a sua necessidade de 
prevenir-se para o futuro. Podem demonstrar também falta de generosidade, com 
 
 
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dificuldade de dar aos outros tempo, dinheiro ou presentes quando há pouca 
probabilidade de um retorno. 
As pessoas com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva 
podem ser incapazes de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo que eles 
não tenham valor sentimental, porque consideram que possam ser úteis no futuro. 
Estes sujeitos podem admitir que são “guardadores de entulho”, enchendo a casa 
com revistas velhas, peças quebradas e roupas que são imprestáveis. 
Apesar da tendência a tornarem-se irritadas quando incapazes de manter o 
controle ou quando os outros não correspondem aos seus elevados padrões, estas 
pessoas muitas vezes têm dificuldade em expressar sua raiva adequadamente. Por 
exemplo, ao invés de criticar diretamente um colega pelo desempenho insatisfatório 
de um projeto conjunto, podem raivosamente refazer o trabalho. Por outro, podem 
expressar abertamente sua raiva em um acesso de “justificada” indignação a um 
problema aparentemente sem importância. 
Um aspecto característico das pessoas com transtorno da personalidade 
obsessivo-compulsiva é a indecisão. Elas podem adiar, evitar uma tomada de 
decisão a ponto de esquecer prazos. A causa desta indecisão está principalmente 
na necessidade de procurar evidências mais concretas e de pesar todas as 
alternativas de modo que possam tomar a decisão certa. 
Os mecanismos de defesa, como intelectualização, deslocamento, 
isolamento do afeto, formação reativa e anulação podem ser evidentes. Durante 
uma entrevista, por exemplo, estas pessoas podem demonstrar pouca emoção, 
parecer sérios e formais, vestir-se de uma maneira muito elegante, se manter rígidos 
e responder as perguntas de forma detalhada, precisa e intelectualizada. 
Os pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo enfrentam problemas no 
relacionamento em função da sua rigidez, dificuldade de expressar o afeto, 
dedicação de tempo excessivo ao trabalho e avareza. Entretanto, de todos os 
transtornos, este pode ser o que provoca menos comprometimento, já que 
perfeccionismo, atenção a detalhes e perseverança podem ser traços bastante 
desejáveis, principalmente na esfera profissional. Estas pessoas podem prestar-se 
para empregos que necessitem trabalho metódico e atenção a detalhes. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 85 
 
 
 
10.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
As primeiras contribuições psicanalíticas estabeleceram uma ligação entre 
traços de caráter como obstinação parcimônia e ordem – a fase anal do 
desenvolvimento psicossexual. Os pacientes com estas características de 
personalidade eram vistos como tendo regredido da fase edípica do 
desenvolvimento, para o período anal. 
Guiados por um superego punitivo, eles, como já dissemos, se usam de 
operações defensivas como, isolamento do afeto, formação reativa, anulação, 
deslocamento e intelectualização. Sua ordem obsessiva, por exemplo, foi definida 
como uma formação reativa contra um desejo subjacente de envolver-se na sujeira 
anal e seus derivados. 
A relativa dificuldade que os pacientes com personalidade obsessivo-
compulsiva têm de expressar a agressão
foi relacionada a lutas precoces de poder 
com a figura materna em torno do treinamento em hábitos de toalete. A teimosia 
destes sujeitos também poderia ser vista como consequência destas mesmas lutas. 
Contribuições mais recentes foram além das vicissitudes da fase anal para 
enfocar os problemas interpessoais. Os sujeitos com transtorno da personalidade 
obsessivo-compulsiva sofrem de grande insegurança. Suas experiências de criança 
foram de que eles não eram amados ou valorizados o suficiente por seus pais. Em 
alguns casos, esta percepção pode ter relação com um relacionamento frio ou um 
distanciamento real das figuras parentais, enquanto em outros a criança pode 
simplesmente ter necessitado de mais segurança e afeto que a criança comum. 
 O tratamento psicodinâmico destes pacientes mostra fortes anseios 
dependentes não preenchidos e uma raiva dirigida aos pais por não estarem 
emocionalmente mais disponíveis. Levando-se em conta que estes pacientes 
consideram tanto a raiva quanto a dependência, não aceitáveis de forma consciente, 
eles se defendem contra estes sentimentos com defesas como a formação reativa e 
o isolamento afetivo. 
 
 
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 86 
Na tentativa de negar alguma dependência de qualquer pessoa, muitos 
pacientes obsessivo-compulsivos fazem qualquer coisa para demonstrar sua 
independência. Da mesma forma, eles tentam um controle total da raiva, evitam 
qualquer impressão de que possuem sentimentos de raiva. 
As relações íntimas são um problema para o paciente obsessivo compulsivo. 
Os sentimentos inerentes a estas relações são ameaçadores, por terem o potencial 
de deixar o sujeito “fora de controle”, um dos principais medos da pessoa obsessivo-
compulsiva. A pessoa amada geralmente queixa-se que o sujeito obsessivo-
compulsivo é muito controlador. O paciente com este transtorno dificilmente 
consegue admitir que outra pessoa possa fazer melhor as coisas. 
Esta necessidade de controlar os outros tem origem no temor de perda 
desta situação confortável. Em alguma parte da pessoa obsessivo-compulsiva existe 
uma criança que não se sente amada. Esta percepção infantil de não ser amada, 
associada a uma baixa autoestima, leva geralmente à ideia de que os outros 
prefeririam não conviver com elas. 
O alto nível de agressão e os intensos desejos de destruição espreitando no 
inconsciente do sujeito obsessivo-compulsivo também podem contribuir para o medo 
de perder os outros. Estes pacientes geralmente temem que sua destrutividade 
afaste as outras pessoas. 
O sujeito obsessivo-compulsivo é caracterizado por uma busca constante de 
perfeição. Eles parecem possuir uma crença secreta de que se puderem alcançar 
um estágio transcendental de perfeição eles finalmente receberão a aprovação e a 
estima dos pais, que tanto buscam. Estas crianças na maioria das vezes crescem 
com a convicção de que não se esforçaram o suficiente e, da mesma forma, como 
adultos, sentem que “não estão fazendo o bastante”. O genitor que nunca parece 
satisfeito é internalizado como um superego severo que espera cada vez mais do 
paciente. 
Muitos sujeitos obsessivo-compulsivos tornam-se viciados no trabalho, por 
serem inconscientemente levados pela convicção de que o amor e o 
reconhecimento podem ser obtidos somente por meio dos esforços heroicos para 
alcançar destaque na profissão escolhida. Entretanto, a ironia nesta busca constante 
de perfeição é que estas pessoas dificilmente parecem satisfeitas com quaisquer de 
suas realizações. Elas parecem estar sendo levadas mais pelo desejo de obter alívio 
 
 
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 87 
de seu superego atormentador do que por um desejo de obter prazer. 
Esta dinâmica do paciente obsessivo-compulsivo leva a um estilo cognitivo 
característico. De modo análogo ao Sr. Spock em “Jornada nas Estrelas”, os sujeitos 
obsessivo-compulsivos buscam ser totalmente racionais e lógicos no que fazem. 
Qualquer situação de emoção descontrolada os atemoriza. Seu pensamento é lógico 
apenas dentro de certos parâmetros estreitos, podendo ser caracterizado como 
rígido e dogmático. 
Além disso, esta tentativa de ser totalmente destituído de afeto pode levar os 
que estão a sua volta a não darem atenção a ele. Dinamicamente, estas 
características podem ser entendidas como compensatórias da insegurança e 
ambivalência que estas pessoas carregam. 
O sujeito obsessivo-compulsivo apresenta uma atenção exagerada a 
detalhes, mas uma quase total falta de espontaneidade ou flexibilidade, sendo a 
intuição considerada quase como algo “ilógico”. Estas pessoas têm um gasto de 
energia muito grande para manter seus estilos rígidos de atenção e cognição de 
forma que tudo que fazem é com muito esforço. Elas com frequência se prendem a 
detalhes e perdem o principal objetivo da tarefa em questão. 
Sua indecisão pode estar dinamicamente relacionada a profundos 
sentimentos de insegurança. Elas podem sentir que o risco de cometer um erro é tão 
grande que impede uma decisão definitiva para um lado ou para outro. Da mesma 
forma, sua preocupação de que o resultado final de uma tarefa pode não ficar tão 
perfeito quanto ela espera, pode contribuir para sua indecisão. Muitas pessoas 
obsessivo-compulsivas são muito articuladas verbalmente, mas encontram grandes 
dificuldades psicológicas na escrita em função da sua preocupação que o resultado 
final possa não ser tão perfeito. 
O superego do paciente obsessivo-compulsivo é incansável nas suas 
exigências de perfeição. Quando estas exigências não são satisfeitas por um longo 
período de tempo, pode instalar-se uma depressão. Esta ligação entre a 
personalidade obsessivo-compulsiva e a depressão tem sido observada por clínicos 
há muito tempo. O sujeito obsessivo-compulsivo pode ter um risco elevado de 
depressão na meia-idade, quando os sonhos idealizados da juventude são 
despedaçados pela realidade do tempo que se vai com o avanço da idade. Estes 
pacientes podem tornar-se suicidas neste momento do ciclo vital, apesar da longa 
 
 
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 88 
história de funcionamento razoavelmente bom em uma situação de trabalho. 
 
 
10.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
 
 
As pessoas com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva 
podem procurar tratamento porque percebem que faltam prazer e satisfação em 
suas vidas ou porque seu equilíbrio foi abalado por problemas de trabalho ou 
relacionamento. Psicoterapia psicanalítica individual e psicanálise são geralmente os 
tratamentos de escolha para o transtorno. 
O psicoterapeuta deve primeiro ter empatia com as implicações da 
psicoterapia dinâmica nestes pacientes. A própria ideia de inconsciente ameaça a 
necessidade de controle destes pacientes. A teoria psicodinâmica ensina que somos 
inconscientemente controlados e conscientemente confundidos. Consequentemente, 
estes pacientes irão se preocupar com a premissa básica da psicoterapia – a 
existência do inconsciente. 
Para lidar com o sentimento de ser ameaçado, o sujeito obsessivo 
compulsivo pode tentar desqualificar as colocações do psicoterapeuta, 
considerando-as como “nada de novo”. A resistência pode ser entendida como 
operações defensivas típicas que o paciente manifesta no processo terapêutico (ver 
glossário). 
Os psicoterapeutas se defrontam com lutas pelo controle, falas isentas de 
emoções e um desejo de obter fórmulas e soluções metódicas para os problemas. O 
isolamento afetivo, por exemplo, pode se mostrar como uma falta de consciência de 
quaisquer sentimentos em relação ao terapeuta. O paciente pode falar de situações, 
tanto presentes como passadas, sem nenhuma reação emocional aparente. 
Quando o psicoterapeuta retorna de férias prolongadas,
o paciente pode 
relutar em admitir qualquer reação emocional à separação. Se a formação reativa é 
uma defesa proeminente o paciente provavelmente irá responder: “Não. Não me 
importei. Apenas espero que você tenha tido boas férias e que se sinta 
descansado”. 
Muitos pacientes obsessivo-compulsivos tentarão tornar-se o “paciente 
 
 
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 89 
perfeito”. Eles podem tentar dizer exatamente o que eles pensam que o terapeuta 
quer escutar, com a fantasia inconsciente de que irão finalmente obter o amor e a 
estima que acham que não obtiveram quando crianças. 
Uma estratégia eficaz do tratamento psicoterapêutico destes pacientes é 
atravessar a cortina de fumaça das palavras e ir diretamente aos sentimentos. O 
paciente tenta, na maioria das vezes, imobilizar o processo terapêutico na busca de 
fatos para afastar os sentimentos, como no seguinte exemplo: 
 
O Sr. SS era um estudante de pós-graduação de 29 anos que buscou 
psicoterapia com a queixa principal de não ser capaz de terminar sua 
dissertação. Seu terapeuta era um residente em psiquiatria um pouco mais 
jovem que ele. Nas primeiras sessões o paciente lutou com sua 
preocupação a respeito da idade do terapeuta, tentando estabelecer certos 
fatos. 
Sr. SS: Você provavelmente não tem idade suficiente para ser um psiquiatra 
totalmente treinado. Eu diria que você tem aproximadamente a mesma 
idade que eu. Está certo? 
Terapeuta: Sim. Eu tenho aproximadamente a mesma idade que você. 
Sr. SS: Suponho, é claro, que você tenha tido um considerável treinamento 
em psicoterapia. Correto? 
Terapeuta: Sim, tive. 
Sr. SS: Afinal, quanto tempo leva uma residência em psiquiatria? 
Terapeuta: Quatro anos. 
Sr. SS: Em que ano você está? 
Terapeuta: No terceiro. 
Sr. SS: Eu suponho que você tem um supervisor, não é? 
Neste ponto o residente percebeu que esta abordagem de pergunta e 
resposta estava se desviando dos sentimentos do paciente. Em vez de 
meramente responder a todos os questionamentos do paciente, o terapeuta 
escolheu abordar o próprio processo. 
Terapeuta: Sr. SS, me parece que esta tentativa de estabelecer os fatos de 
meu treinamento é uma forma de não abordar o que você está sentindo por 
ter um terapeuta que tem aproximadamente a sua idade e que está em 
treinamento. Eu fico pensando se não sente alguma raiva e possivelmente 
até mesmo um pouco de humilhação por ter sido encaminhado para um 
residente. (GABBARD, 1988, p. 387). 
 
 
Esse relato de caso mostra como o terapeuta deve abordar os sentimentos 
do paciente, mesmo quando este nega sua existência. Os pacientes obsessivo-
compulsivos também irão fugir de sentimentos para com a pessoa do terapeuta, 
protegendo-se em longos discursos sobre fatos já ocorridos há muito tempo. O 
terapeuta pode muitas vezes ter que trazer o paciente para o aqui e agora. 
O objetivo geral do tratamento psicoterápico do paciente obsessivo-
compulsivo é a modificação do superego. Em termos mais simples, isto significa que 
estes pacientes devem aceitar sua condição humana. Eles devem aceitar que seu 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 90 
desejo de transcender os sentimentos de raiva, ódio, luxúria, dependência e assim 
por diante está condenado ao fracasso. Os sentimentos devem ser entendidos como 
parte da existência humana. Eles devem ser integrados ao eu do sujeito, em vez de 
suprimidos, negados ou reprimidos como pertencendo à outra pessoa. Em suma, 
devem ser aceitos. 
Para realizar esta tarefa de tornar o superego uma estrutura mais benigna, 
comentários como “você não é tão ruim quanto você pensa que é” ou “você é muito 
duro com você mesmo” irão parecer vazios para os pacientes. As modificações no 
superego têm maior probabilidade de ocorrer por meio da interpretação dos conflitos 
do paciente em torno da dependência, agressão e sexualidade, associadas à 
neutralidade do terapeuta ao longo do tempo. Assim, o terapeuta pode facilitar o 
reconhecimento de que o paciente está atribuindo sua própria atitude crítica e 
julgadora ao terapeuta quando tenta vê-lo como crítico e juiz. 
À medida que estes pacientes começam a entender que as outras pessoas 
não são tão críticas como eles, sua autoestima pode aumentar. Ao passo que 
sentem que o terapeuta os aceitou como eles são, começam a perceber que os 
outros também os aceitam muito mais do que eles haviam imaginado. 
Ao compreenderem que seus conflitos sobre agressão e dependência têm 
origem nas situações infantis, eles começam a obter domínio sobre estes 
sentimentos e os aceitam como parte da condição humana. O psicoterapeuta pode 
confrontar as expectativas irreais que estes pacientes apresentam em relação a si 
mesmos. 
Um paciente, por exemplo, censurou a si mesmo numa sessão, por seus 
sentimentos de rivalidade em relação ao irmão mais velho. O terapeuta comentou: 
“você parece acreditar que deve ser capaz de transcender a todos os sentimentos 
de competição com seu irmão e acha que você é um fracasso caso isto não ocorra”. 
Quando os pacientes obsessivo-compulsivos conseguem vivenciar e 
expressar a raiva que sentem pelo terapeuta de forma direta, eles aprendem que ela 
não é tão destrutiva quanto eles haviam pensado. O terapeuta é uma pessoa 
consistente, duradoura, que está lá semana após semana, claramente intocado 
pelas expressões de raiva. De forma análoga, estes pacientes descobrem que eles 
também não são transformados em monstros pela raiva – como a metamorfose do 
Incrível Hulk. 
 
 
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 91 
A terapia de grupo de orientação psicodinâmica pode também ser útil para 
fornecer algum insight e o apoio necessário para explorar novos sentimentos e 
situações. Entretanto, os pacientes podem ter dificuldade em participar de um grupo 
devido às suas necessidades de estar no controle. 
 
 
 
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 92 
 
GLOSSÁRIO 
 
Retirado do Vocabulário da Psicanálise (LAPLANCHE e PONTALIS, 1983). 
Anulação - este mecanismo também é característico dos pacientes obsessivo-
compulsivos. Envolve pensamento mágico, sendo uma ação simbólica realizada 
com o objetivo de anular ou cancelar um pensamento ou ação completamente 
inaceitável. 
CONTRATRANSFERÊNCIA- Conjunto e reações inconscientes do analista à 
pessoa do analisando, mais particularmente à transferência deste. Do ponto de vista 
da delimitação do conceito, temos variações. Certos autores entendem por 
contratransferência tudo o que, da personalidade do analista, pode intervir no 
tratamento, e outros limitam a contratransferência aos processos inconscientes que 
a transferência do analisando provoca no paciente. 
COMPLEXO DE ÉDIPO - Conjunto organizado e hostil que a criança experimenta 
relativamente aos pais. Sob a chamada forma positiva, o complexo apresenta-se 
como na história de Édipo: desejo de morte do rival, que é a personagem do mesmo 
sexo e desejo sexual da personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, 
apresenta-se inversamente: amor pelo genitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao 
progenitor do sexo oposto. Na realidade, estas duas formas se encontram em graus 
diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo. 
Segundo Freud, o complexo de Édipo é vivido no seu período máximo entre os três 
e os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de 
latência. Conhece na puberdade uma revivescência e é superado com maior ou 
menor êxito em um tipo essencial de escolha de objeto. O complexo de Édipo 
desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade e na 
orientação do desejo humano. Os psicanalistas fazem dele o eixo de referência 
principal da psicopatologia, procurando para cada tipo patológico determinar os 
modos da sua posição e da sua resolução.
A antropologia psicanalítica procura 
reencontrar a estrutura triangular do complexo de Édipo, afirmando a sua 
 
 
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 93 
universalidade nas culturas mais diversas, e não apenas naquelas em que 
predomina a família conjugal. 
Deslocamento - este mecanismo de defesa é um processo inconsciente por meio 
do qual os sentimentos ligados a uma fonte são direcionados a outra. A 
transferência constitui um exemplo óbvio de deslocamento, visto que os sentimentos 
por uma pessoa do passado são transferidos para uma pessoa do presente. 
Fase anal - segunda fase da evolução libidinal, segundo Freud, que podemos situar 
aproximadamente entre os dois e os quatro anos: é caracterizada por uma 
organização da libido sob o primado da zona erógena anal; a relação de objeto está 
impregnada de significações ligadas à função de defecação (expulsão-retenção) e 
ao valor simbólico das fezes. 
FASE ORAL – Primeira fase da evolução libidinal: o prazer sexual está então ligado 
de forma predominante à excitação da cavidade bucal e dos lábios, que acompanha 
a alimentação. A atividade de nutrição fornece as significações eletivas pelas quais 
se exprime e se organiza a relação de objeto; por exemplo, a relação de amor com a 
mãe será marcada pelas significações seguintes: comer, ser comido. 
Formação reativa - este mecanismo de defesa é caracterizado pelo desvio de um 
impulso ou desejo inaceitável por meio da adoção de um traço de caráter 
diametralmente oposto. 
Isolamento do afeto - este mecanismo de defesa é muito observado em pacientes 
obsessivo-compulsivos, dissocia o afeto da ideação. Por exemplo, uma memória 
traumática pode ser facilmente recordada, porém estará despida de quaisquer 
sentimentos intensos concomitantes. O isolamento com frequência atua 
simultaneamente com a intelectualização, que realiza uma operação semelhante de 
evitar o afeto. 
 
Resistência – pode ser definida como as defesas do paciente que se manifestam no 
tratamento psicodinâmico, a fim de defender a enfermidade do paciente, 
contrapondo os esforços do terapeuta de produzir insight e mudanças. As 
resistências ao tratamento são universais, podendo assumir muitas formas, como o 
 
 
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 94 
atraso para as consultas, permanecer em silêncio durante as sessões etc. Elas 
podem ser conscientes, pré-conscientes ou inconscientes. 
 
SUPEREGO – Uma das instâncias da personalidade, tal como Freud a descreveu 
no quadro da sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao 
de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na 
auto-observação, na formação de ideais, funções do superego. Classicamente, o 
superego é definido como o herdeiro do complexo de Édipo; constitui-se por 
interiorização das exigências e das interdições parentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO IV 
 
 
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 95 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). CID 10. Classificação Estatística 
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 8. ed. São Paulo: 
Editora da Universidade de São Paulo, 2000. 
 
 
DSM IV - TR Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2002. 
 
 
GABBARD, G. O. Psiquiatria Psicodinâmica. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas 
Sul, 1998. 
 
 
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Tratado de Psiquiatria. 6. ed., v. 1. Porto Alegre: 
Artes Médicas Sul, 1999. 
 
 
KOHUT, H. Psicologia do Self e a Cultura Humana. Porto Alegre: Artmed, 1985. 
 
 
LAPLANCHE, L.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. 7. ed., São Paulo: 
Martins Fontes, 1983. 
 
 
MAHLER, M. S.; SOUZA, H. M. Processo de Separação Individuação. Porto 
Alegre: Artmed, 1982. 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO CURSO!

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