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academico.direito rio.fgv.br ccmw images 1 17 Direito Penal Geral

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DIREITO PENAL GERAL
AUTOR: RODRIGO COSTA
COLABORAÇÃO: ADRIANA VIDAL DE OLIVEIRA E MARCELA SIQUEIRA MIGUENS
ROTEIRO DE CURSO
2010.1
4ª EDIÇÃO
Sumário
direito penal Geral
I. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................................3
II. PLANO DE AULAS ..................................................................................................................................................................... 05
 1. Aula 1: Introdução ao Direito Penal e ao Processo Penal .......................................................... 05
 2. Aulas 2 e 3: Fontes do Direito Penal e sua relação com outras disciplinas jurídicas; Princípios ..... 
 Constitucionais e Direito Penal ............................................................................................... 09
 3. Aula 4: Aplicação da Lei penal e processual penal no tempo e no espaço ................................. 17
 4. Aula 5: Conceito de crime ....................................................................................................... 26
 5. Aula 6: Teorias da ação e a omissão penalmente relevante ........................................................ 30
 6. Aula 7: Nexo de causalidade e imputação objetiva do resultado ............................................... 39
 7. Aula 8: Dolo e culpa ............................................................................................................... 48
 8. Aulas 9 e 10: Exclusão da ilicitude ........................................................................................... 56
 9. Aula 11: Culpabilidade / Imputabilidade ................................................................................ 61
 10. Aula 12: Teoria do erro e exigibilidade de conduta diversa ..................................................... 72
 11. Aula 13: Iter criminis, tentativa, crime consumado, desistência voluntária, arrependimento ...... 
 eficaz, arrependimento posterior e crime impossível ............................................................... 79
 12.Aula 14: Concurso de pessoas ................................................................................................. 87
 13. Aula 15: Das penas: espécies, cominação. Pena Privativa de liberdade .................................... 95
 14. Aulas 16 e 17: Penas restritivas de direito e pena de multa ................................................... 100
 15. Aula 18: Execução Penal ..................................................................................................... 108
 16. Aulas 19 e 20: Prisão ........................................................................................................... 118
 17. Aula 21: Concurso de Crimes ............................................................................................. 128
 18. Aula 22: Suspensão condicional da pena, do processo, transação penal e livramento condicional .. 135
 19. Aula 23: Das medidas de segurança ..................................................................................... 143
 20. Aula 24: Extinção da punibilidade ...................................................................................... 147
 21. Aula 25 e 26: Processo Penal ............................................................................................... 151
3FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
i. introdUÇÃo
O presente curso da disciplina Direito Penal Geral tem o objetivo de apresentar 
não só matérias que tradicionalmente tratam os cursos de Direito Penal, mas mos-
trar uma perspectiva multidisciplinar que visa à integração das vertentes material e 
processual com o escopo de permitir ao aluno a visão integrada necessária à resolu-
ção dos conflitos do cotidiano. 
Para isso, tendo em mente que o estudante ainda não teve qualquer contato com 
a disciplina, estruturou-se o curso em blocos de modo a propiciar a construção de 
um raciocínio lógico por parte do aluno, de forma que ao final deste semestre inicial 
esteja familiarizado não só com os conceitos da disciplina, bem como com a habili-
dade específica para o desenvolvimento dos trabalhos solicitados. 
Um primeiro bloco introdutório será realizado para que o aluno se acostume não 
só com os conceitos preliminares do Direito Penal, mas também com as divergências 
e interseções com o Processo Penal. 
Um segundo bloco será realizado em torno do conceito de crime. A chamada Teo-
ria do Crime engloba parcela significativa do Direito Penal e a compreensão do que 
é crime, e a apreensão dele como uma tomada de decisão histórica, portanto variável 
de acordo com os valores adotados por um determinado macro-cosmo social. 
A terceira parte do curso será destinada à pena. Característica exclusiva desse 
ramo do Direito, a pena ganha relevo, principalmente a mais conhecida delas, a pri-
vativa de liberdade, diante do quadro que nosso sistema prisional apresenta. A noção 
de pena, suas conseqüências, sua forma de aplicação e seus efeitos, são noções funda-
mentais que devem ser apreendidas pelos alunos ao longo desta parte do curso. 
Por fim, reserva-se a parte final do curso para um olhar mais aprofundado a cer-
tos temas do processo penal. 
É de se ressaltar que, de acordo com o planejamento já realizado, os conteúdos de 
processo penal, de forma mais específica, serão diluídos ao longo dos três períodos 
do curso, o que permitirá uma familiaridade maior do aluno com a disciplina e, 
também, possibilitará uma melhor distribuição do conteúdo. 
Cabe observar que, em face deste objetivo, pretende-se compor as aulas que têm 
conteúdo primário referentes ao Direito Penal com noções de Processo Penal. Com 
isso, supõe-se que ao final do curso, o aluno já esteja familiarizado com boa parte 
desse conteúdo. 
A metodologia utilizada será aquela adotada pela escola de Direito da Fundação 
Getúlio Vargas – Rio, com ênfase no método participativo. Será necessária a leitura 
prévia da bibliografia básica encaminhada para cada aula. Tal leitura poderá se dar 
em qualquer dos manuais indicados, restando a escolha a critério do aluno. 
Ademais, serão partes integrantes do curso as seguintes atividades as quais pode-
rão acarretar a atribuição de até um ponto extra:
I – Na primeira prova, através da elaboração de um júri simulado com base 
no livro “O caso dos exploradores de caverna” de Lon L. Fuller, onde serão 
4FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
utilizados os ensinamentos ministrados em sala de aula em atividade seme-
lhante à prática.
II – Na segunda prova, através da elaboração da sentença faltante referente ao 
processo que será objeto de estudo. 
A avaliação será feita por meio da realização de duas avaliações escritas e disserta-
tivas valendo 10,0 (dez pontos) cada uma delas. 
5FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
ii. plano de aUlaS 
1. aUla 1: introdUÇÃo ao direito penal e ao proceSSo penal 
1.1. Introdução 
Segundo Fragoso1, Direito Penal é “o conjunto de normas jurídicas mediante as 
quais o Estado proíbe determinadas ações ou omissões, sob ameaça de característica 
sanção penal”. 
Assim, logo se percebe que, com o próprio nome já destaca, a pena é talvez a mais 
importante característica deste ramo do Direito. 
E é a partir da pena que se pode estabelecer a especificidade própria do Direito 
Penal. Isto porque é ela que vai diferenciar o Direito Penal e estabelecê-lo como a 
mais grave forma de intervenção estatal na vida do cidadão. 
Ocorre que a simples caracterização de uma conduta como criminosa não impli-
ca que alguém seja punido por essa conduta. Isso porque é necessária a instauração 
de um processo penal para que 
E, ao contrário do que se pensa, não basta noticiar-se o crime na delegacia para 
que se dê por iniciado um processo penal.Esquematicamente, quando alguém vai a uma Delegacia de Polícia comunicar a 
prática de um delito é gerado um registro de ocorrência.
Esse registro de ocorrência gera um inquérito policial, que é uma investigação 
onde a polícia, sob a supervisão do Ministério Público (promotor de Justiça) vai 
verificar se houve crime e quem foi que cometeu esse crime. 
Chegando a polícia a conclusão de que houve um crime e identificando o pos-
sível autor dessa infração, o promotor responsável vai preparar uma denúncia (a 
petição inicial do processo penal), onde estará formalizada a acusação contra um 
determinado indivíduo. 
Sendo formulada a denúncia, essa será encaminhada ao juiz competente que, 
julgando estarem ali presentes elementos mínimos que provem a existência do crime 
e sua provável autoria, receberá a mesma dando início, aqui, a um processo penal. 
No processo penal, em regra, serão ouvidos o acusado, as testemunhas de acu-
sação (arroladas pelo promotor na denúncia) e as de defesa (arroladas pelo acusado 
após o seu interrogatório), em três audiências diferentes. Depois disso, e da manifes-
tação tanto da acusação quanto da defesa, o juiz poderá dar a sentença.
Ressalte-se que daí pode haver uma série de recursos, e um sujeito só poderá ser 
considerado culpado após o trânsito em julgado de uma sentença penal condenató-
ria, ou seja, após a sentença tornar-se imutável. 
Assim, percebe-se as diferenças iniciais, bem como a intersecção existente entre o 
Direito Penal e o Processo Penal. 
Mas, certamente algumas dúvidas fazem-se presentes. E, com base no caso, per-
gunta-se: é necessária a proposição de um processo penal para que se possa punir 
alguém? Qual a diferença da pena para as sanções existentes nos outros ramos do 
Direito?
1 FRaGOSO, Heleno Cláudio. 
Lições de Direito Penal. parte 
Geral 1 ª ed. at. Fernando Fra-
goso. Rio de Janeiro: Forense, 
2004, p. 3.
6FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
1.2. o Caso 
Renato era um jovem de 23 anos, morador de uma comunidade carente da Zona 
Sul carioca, que trabalhava como entregador numa farmácia perto de sua casa. O 
jovem namorava Brenda, 16 anos, sua vizinha, e, como um casal jovem, tinha suas 
instabilidades emocionais. Numa dessas crises Renato termina o relacionamento 
com Brenda que, desesperada, chega em casa chorando e revela a sua mãe sua raiva 
e desapontamento com o jovem, alegando que apenas praticou relações sexuais com 
Renato, desde os seus 13 anos, em face de suas juras de amor. 
Chocada, Deise, mãe de Brenda, liga para José, pai da mesma relatando o fato e 
exigindo providências. Com o boato se espalhando, a comunidade se revolta e inva-
de a casa de Renato tentando linchar o rapaz. 
Desesperado, Renato consegue se desvencilhar da turba, mas é impedido de pros-
seguir sua rota de fuga, pois é capturado pelos integrantes da facção criminosa que 
domina sua comunidade, outrora alertada pela mãe de Brenda. Os meliantes, des-
tinados à resolução da causa, realizam uma espécie de tribunal. Ouvem a suposta 
vítima, o suposto autor do crime e as testemunhas do fato: os pais de ambos e os 
amigos mais próximos que viveram o relacionamento. Ao final dessa apuração che-
gam os “julgadores” à conclusão de que, apesar de não haver propriamente um culpa 
por parte de Renato, este deveria Ter se precavido nessa relação. Assim, decidem que 
o rapaz deve imediatamente deixar a comunidade onde vive. 
Abalado por tudo, e ciente da sua inocência, Renato, sem ter a quem recorrer, 
acata a decisão e vai em busca de uma nova vida. O que o rapaz não esperava é que, 
três meses depois do fato, um policial o visitasse em casa com uma intimação para 
que este prestasse esclarecimentos sobre o episódio com Brenda. Isto ocorreu já que 
José, pai da menina, foi à Delegacia de Polícia do bairro e registrou a ocorrência 
competente, o que findou por levar Renato a, posteriormente, responder a uma ação 
penal como réu pelo crime de estupro (Art. 213, c/c 224, c, CP). 
1.3. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 52-61. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 1-12. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 1-16. 
1.4. BIBlIografIa Complementar 
BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. RJ: REVAN, 
2001. 
7FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
BUSATO, Paulo César; HUAPAYA, Sandro Montes. Introdução ao Direito Penal: 
Fundamentos para um Sistema Penal Democrático. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2003. 
direito penal
Conceito, funções e caracteres
1. Conceito:
a) formal – previsão de condutas delitivas e cominação de penas ou medidas 
de segurança;
b) material – referênciaa comportamentos danosos a bens jurídicos 
fundamentais.
2. Funções:
a) proteção de bens jurídicos;
b) garantia
3. Natureza: constitutiva e sancionatória.
4. Caracteres: normativo, público, cultural, valorativo e finalista.
Direito Penal objetivo e Direito Penal 
subjetivo 1. Direito Penal objetivo: normatividadade criadora de delitos e de sanções.2. Direito Penal subjetivo: direito de punir do Estado.
Direito Penal comum e Direito Penal 
especial 1. Direito Penal comum : Código Penal (Parte Geral e Parte Especial).2. Direito Penal especial: leis penais extravagantes.
Dogmático penal, política criminal e 
Direito Constitucional
1. Dogmático penal: interpretação, sistematização e aplicação lócico-racional 
do Direito Penal.
2. Política criminal: análise crítica do Direito Penal posto.
3. Criminologia: estudo causal- explicativo do fenômeno criminal. 
direito penal e outros ramos do ordenamento jurídico: delimitação
Direito Constitucional
 O Direito Constitucional, por estabelecer os princípios fundamentais que 
garantem a liberdade perante o Estado e Salvaguardar bens jurídicos essenciais 
do individuo e da comunidade, apresenta estreita ligação com Direito Penal. A 
lei constitucional, fonte material da lei penal, contempla uma série de normas 
de direito público, dentre as quais se destacam as referentes às garantias e 
direitos individuais. 
Direito Administrativo
Delito e infração administrativa têm um conteúdo material semelhante e 
idêntica, estrutura lógica. Penas criminais e sanções administrativas encontram 
justificação na magnitude da lesão a um bem jurídico determinado e na sua 
necessidade de imposição, como ex-pressão de um juízo desvalorativo ético-
social. Entre crimes e infrações administrativas existem apenas diferenças 
quantitativas. Incumbe ao legislador traçar os limites entre ilícito penal e ilícito 
administrativo, pautando-se pela gravidade das infrações do ponto de vista 
material e por considerações de ordem político-criminal.
Direito Processual Penal
Somente através de processo penal é que se pode aplicar praticamente o 
Direito Penal; ele é seu único instrumento de execução para os casos concretos. 
Enquanto o Direito Penal enumera as condutas puníveis e as respectivas 
sanções a elas cominadas, o Direito Processual Penal disciplina o processo, 
isto é, a atividade desempenhada pelos órgãos estatais com o escopo de 
estabelecer se a lei penal foi violada e qual pena deve ser imposta ao autor da 
transgressão.
8FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
Direito Privado 
Muitos conceitos do Direito Privado são úteis ao Direito Penal, por serem 
indispensáveis à correta interpretação e aplicação de seus preceitos. O Direito 
Penal também presta significativa contribuição ao Direito Privado ao tratar 
das indenizações civis ex delicto, tornando-as consectários obrigatórios da 
condenação. Em sede comercial, constata-se a proteção penal do cheque, 
das duplicatas, da emissão de warrants e a cominação de penas paraa fraude 
mercantil e para as especulações abusivas. Ainda, na decretação da falência, 
a tutela penal é meio eficaz de coibir os abusos sobre as garantias do crédito 
mercantil. 
enciclopédia das ciências penais
Filosofia e Historia Filosofia do Direito Penal História do Direito Penal 
 Legislação penal comparada
Ciências causal – explicativas 
(criminologia)
 Antropologia e biologia criminais 
 Psicologia criminal 
 Sociologia criminal 
 Penologia
Ciências penais 
 Direito Penal (dogmática penal)
 Direito Processual Penal
 Direito Penitenciário 
 Política criminal
Ciências de investigação Criminalística
 Política científica 
Ciências auxiliares Estatística criminal Medicina legal
 Psiquiatria forense
9FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
2. aUlaS 2 e 3: FonteS do direito penal e SUa relaÇÃo com oUtraS 
diSciplinaS jUrídicaS; princípioS conStitUcionaiS e direito penal 
2.1. Introdução 
É de se observar que o Direito Penal, assim como todo e qualquer ramo do Di-
reito, deve ser entendido a partir dos seus princípios. Além de facilitar o raciocínio 
do operador, inegavelmente estes permitem realizar aquela que talvez seja a grande 
missão do Direito Penal. Isto porque, nunca é demais repetir, permitem poder dife-
renciar Direito Penal, enquanto disciplina, e o poder de punir. O exercício de poder 
punitivo nas mãos do Estado ocorre por edição de uma série de normas de natureza 
criminal. Ao editar tais normas, o legislador, a princípio, encontraria-se livre de 
quaisquer amarras, podendo arbitrariamente determinar as incriminações que bem 
desejasse. Os princípios fundamentais do Direito Penal vêm socorrer não só o opera-
dor do Direito (juiz, promotor, advogado, professor, estudante etc...), mas também 
o próprio legislador, ao instituir parâmetros a serem seguidos desde a elaboração da 
norma penal até sua execução. 
Assim, não é de se espantar a denominação que costuma-se conferir a tais prin-
cípios não só como princípios fundamentais do Direito Penal, mas também como 
princípios limitadores do Poder Punitivo. 
Há de se destacar, que majoritariamente costuma-se conferir a estes um conteúdo 
meramente programático, a exceção daqueles que contém base normativa. Mesmo 
assim, observa-se a sua importância como vetor interpretativo na solução dos con-
flitos de natureza penal. 
Contudo, o Direito Penal não resta isolado em sua torre de marfim do ordena-
mento jurídico. A sua autonomia não é afetada pela interdependência que este man-
tém com um sem número de disciplinas jurídicas que não só auxiliam a sua concre-
tização, mas também permitem uma melhor compreensão do fenômeno criminal. 
Assim, que princípios podem se extrair do caso que ora se apresenta? 
2.2. o Caso 
HC nº 84.412-sp (furto de r$ 25,00 praticado por jovem desempregado) 
10FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
11FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
12FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
13FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
2.3. JurIsprudênCIa 
HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE 
JUSTA CAUSA EVIDENCIADA DE PLANO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFI-
CÂNCIA. APLICABILIDADE. FURTO DE PEQUENO VALOR TENTADO. 
BEM SUBTRAÍDO. PANELA DE PRESSÃO. 
1. O pequeno valor da res furtiva não se traduz, automaticamente, na aplicação 
do princípio da insignificância. Há que se conjugar a importância do objeto material 
para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica, o valor sen-
timental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de 
modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. 
2. Consoante se constata dos termos da peça acusatória, o valor da res furtiva 
pode ser considerado ínfimo, tendo em vista, outrossim, as condições econômicas da 
vítima. Além disso, o fato não lhe causou qualquer conseqüência danosa, uma vez 
que a Paciente foi presa em flagrante antes de consumar o delito, de posse da coisa, 
justificando, assim, a aplicação do Princípio da Insignificância ou da Bagatela, ante a 
falta de justa causa para a ação penal. Precedentes. 
3. Vislumbra-se, na hipótese, verdadeira inconveniência de se movimentar o Po-
der Judiciário já tão assoberbado na tutela de bens jurídicos mais gravemente lesa-
dos. 
4. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal por falta de 
justa causa. (HC 36947 / SP ; HABEAS CORPUS 2004/0101974-7 Relatora:Mi-
nistra LAURITA VAZ; Órgão Julgador: QUINTA TURMA STJ) 
RECURSO ESPECIAL. PENAL. FURTO QUALIFICADO PELO CONCUR-
SO DE AGENTES. VIOLAÇÃO AO ART. 155, § 4º, INC. IV, DO CÓDIGO PE-
NAL RECONHECIDA. APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA 
PREVISTA PARA O ROUBO PRATICADO EM CONCURSO DE AGENTES. 
INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. PENA AQUÉM 
DO MÍNIMO LEGAL. ATENUANTES. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 
231 DO STJ. RECURSO PROVIDO. 
1. O estatuto repressivo prevê como qualificado o furto cometido por dois ou 
mais agentes, estabelecendo no § 4º do art. 155 do Código Penal a pena de 2 (dois) 
a 8 (oito) anos como limite à resposta penal. 
2. Fere o referido dispositivo legal o decisum que, em nome dos princípios da 
proporcionalidade e da isonomia, aplica ao furto qualificado o aumento de pena pre-
visto no § 2º do art. 157 do Código Penal, haja vista que, em obediência ao princípio 
da reserva legal, não cabe ao julgador criar figuras delitivas ou aplicar penas que o 
legislador não haja determinado. 
3. “A incidência de circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena 
abaixo do mínimo legal” (Súmula n.º 231/STJ). 
4. Recurso provido. (REsp 755019 / RS ; RECURSO ESPECIAL 2005/0089165-
0; Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA; T5 – QUINTA TURMA; STJ, Data do 
julgamento: 06/10/2005; DJ 14.11.2005 p. 400) 
14FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
2.4. Questões de ConCurso 
I – O Supremo Tribunal Federal, julgando RHC n1 81.057/SP, 10 Turma, rel. Min. 
Ellen Gracie, rel Acórdão Min. Sepúlveda Pertence, j. 25.5.04, DJU 29.04.05, as-Min. Sepúlveda Pertence, j. 25.5.04, DJU 29.04.05, as-
sim decidiu: 
Porte consigo de arma de fogo, no entanto, desmuniciada e sem que o agente tivesse, 
nas circunstâncias, a pronta disponibilidade de munição: inteligência do art. 10 da 
Lei nº 9437/97: Atipicidade do fato. 
Da ementa acima, observa-se que o STF levou em consideração a teoria moderna 
que dá realce aos princípios da necessidade da incriminação e da lesividade do fato 
criminoso, ainda que se trate de crime de mera conduta. Nesse contexto, comente a 
referida decisão. (Concurso para Juiz de Direito Substituto – MG / 2005) 
2.5. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 139-154. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 13-34. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 17-28. 
2.6. BIBlIografIa Complementar 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. 
Segunda parte, teoria do delito. Capítulos III e V 
CERNICCHIARO, Luiz Vicente e COSTA JR., Paulo José da. Direito Penal na 
Constituição. 3 ed. São Paulo, RT, 1995. 
LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. Porto Alegre: Sergio Antonio 
Fabris, 1991. 
15FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
princípio da leGalidade
Formulação Não há crime (infração penal), nem pena ou medida de segurança (sanção penal) sem prévia lei (stricto sensu).
Garantias e conseqüências 
Garantias criminal e penal – A lei formal, e tão-somente ela, é fonte criadora 
de crimes e de penas, de causas agravantes ou de medidas de segurança, 
sendo inconstitucional a utilização em seu lugar de qualquer outro ato 
normativo, do costume ou do argumento analógicoin malam partem – 
exigencia de lei escrita (nulla poena sine lege scripta).
Garantias jurisdicional e penitenciaria ou de execução – Expressa-se nos arts. 
5º, XLVIII, XLIX, LIII, LVII, E 92 da Constituição e 2º da Lei de Execuções Penais.
Princípio da irretroatividade da lei e sua execução – Trata-se de restringir 
o arbítrio legislativo e judicial na elaboralção ou aplicação retroativo de lei 
prejudiacial.
Princípio da taxatividade ou da determinação – Significa que o legislador 
deve redigir a disposição legal de modo suficientemente determinado para 
uma mais prefeita descrição do fato típico (lex certa).
princípio da diGnidade da peSSoa hUmana
Conceito 
A dignidade da pessoa humana, como dado inerente ao homem enquanto 
ser, é guindada à condição de princípio constitucional insculpido no artigo 
1º, III, da Constituição Federal. Nesse princípio reside o limite minimo a que 
está subordinada toda e qualquer legislação. Antecede, portanto, o juizo 
axiológico do legislador e vincula de forma absoluta sua atividade normativa, 
mormente no campo penal. Daí por que toda lei que viole a dignidade da 
pessoa humanadeve ser reputada inconstitucional.
princípio da cUlpabilidade
Conceito
Postulado basilar de que não há pena sem culpabilidde (nulla)poena sine 
culpa) e de que a pena não pode ultarpassar a medida da culpabilidade – 
proporcionalidade na culpabilidade.
principio da exclUSiva proteÇÃo de benS jUrídicoS
Conceito
O escopo imediato e primordial do Direito penal reside na proteção de 
bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade- dentro do quadro 
axiológico contitucionalou decorrente da concepção de Estado de Direito 
democrático.
princípio da intervenÇÃo mínima
Conceito 
Segundo a intervenção mínima, a lei penal só deverá intervir quando for 
absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade, como na 
ultimata ratio e, de preferência, só deverá fazê-lo na medida em que for capaz 
de ter eficácia.
princípio da FraGmentabilidade
Conceito 
Segundo o princípio da fragmentariedade, só devem os bens jurídicos ser 
defendidos penalmente diante de certas formas de agressão, consideradas 
socialmente intoleráveis.
princípio da peSSoalidade da pena
16FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
Conceito Só o autor d infração penal pode ser apenado. Impede-se a punição por fato alheio.
princípio da individUalizaÇÃo da pena
Conceito O julgador deve fixar a pena conforme a cominação legal e determinar a forma de sua execução.
princípio da proporcionalidade da pena
Conceito Deve sempre haver uma medida de justo equilíbrio entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta. 
princípio da proporcionalidade 
Conceito
Com relação à proporcionalidade entre os delitos e as penas (poena debet 
commensurari delicto), deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio 
– abstrata (legislador) e concreta (juiz) – entre a gravidade do fato ilícito 
praticado, do injusto penal (desvalor da ação e desvalor do resultado), e a 
pena cominada ou imposta. A pena deve estar proporcionada ou adequada 
à intensidade ou magnitude da lesão ao bem jurídico representado pelo 
delito e a medida de segurança à periculosidade criminal do agente. A noção 
de proporcionalidade vem a ser uma exigência de justiça e não somente de 
prevenção (geral/especial). 
princípio da hUmanidade
Conceito
Em um Estado de Direito democrático vedam-se a criação, a aplicação ou a 
execução de pena, bem como de qualquer outra medida que atentar contra 
a dignidade humana.
princípio da adeqUaÇÃo Social
Conceito
Para o princípio da adequação social, apesar de uma conduta se subsumir ao 
modelo legal, não será considerada típica se estiver de acordo com a ordem 
social da vida historicamente condicionada.
princípio da inSiGniFicância
Conceito O princípio da insignificância postula que devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetem infimamente um bem jurídico-penal.
17FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
3. aUla 4: aplicaÇÃo da lei penal e proceSSUal penal no tempo e no 
eSpaÇo 
3.1. Introdução 
Para que a lei possa ser aplicada, é fundamental o estabelecimento de alguns parâ-
metros. Isso porque, o julgador, ou qualquer outro operador do Direito, deve poder 
nortear-se por determinados critérios fundamentais para que dúvidas não surjam no 
tocante à lei aplicável ao caso concreto. 
Se observada a quantidade exorbitante de legislação penal produzida pelo Legis-
lativo, pode-se perceber que, por vezes, conflitos podem surgir. É de se notar que a 
produção de leis penais não é necessariamente danosa. Por vezes, isto se apresenta 
como verdadeira necessidade do modelo de Estado a que aderiu o país. Mas a utili-
zação meramente simbólica do Direito Penal pode redundar num fato curioso: num 
mesmo processo, que costuma durar alguns anos, várias leis podem versar sobre um 
mesmo assunto. Nesse caso, o estabelecimento de critérios para a aplicação da lei 
penal no tempo é fundamental para o socorro do operador. 
Todavia, este não é o único conflito que pode surgir. 
Torna-se imperiosa a determinação de critério para a aplicação da lei penal no 
espaço. Isto porque, com a criminalidade transnacional cada vez mais se fazendo 
presente, uma série de dúvidas podem surgir quanto a aplicação, ou não, da lei bra-
sileira. Uma bomba colocada numa aeronave brasileira que decola de Buenos Aires, 
destinando-se ao Rio de Janeiro, e explode numa escala em Montevidéu matando 
todos os passageiros, pode fazer com que a lei brasileira seja aplicável ao autor desse 
crime? 
Mais do que isso: será que os critérios utilizados para a aplicação da lei penal no 
tempo e no espaço, podem também ser absorvidos quando tratar-se da aplicação da 
lei processual penal no tempo e no espaço? 
3.2. o Caso 
lei de Crimes Hediondos
A lei n.º 8072/90, conhecida como lei de Crimes Hediondo, tem interessante 
história que no trecho abaixo acaba sendo esclarecido. Em 2003 o senador Demós-
tenes Torres apresentou projeto de lei no sentido de, dentre outras medidas, tornar 
qualificado, e portanto hediondo, o homicídio praticado por alguém que se preva-
leceu da condição de familiar ou das relações de coabitação com a vítima. Numa 
entrevista à época concedida o parlamentar justifica a Lei de crimes hediondos e 
também o seu projeto.
AT – Os juristas criticam que a inclusão do homicídio na Lei dos Crimes He-
diondos ocorreu no curso de enorme consternação por conta do crime que vitimou 
18FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
a jovem atriz Daniela Peres, assassinada pelo ex-namorado e também ator, ambos 
contracenando em uma novela de grande audiência da Rede Globo. Dizem os críti-
cos que a lei resultou numa imperfeição jurídica, a ponto de a simples qualificação 
de hediondez, embora mesmo não provada, obsta a concessão de liberdade provi-
sória, contrariando princípios constitucionais, como o da presunção de inocência. 
Destino idêntico não poderá ocorrer com o seu projeto?
Demostenes Torres – A Lei 8.072 que criou os Crimes Hediondos, foi promul-
gada em julho de 1990, antes da morte de Daniela Perez. Na verdade, a lei à qual 
você se refere foi criada em decorrência do sequestro do empresário Rubem Medina, 
no Rio de Janeiro. O crime de homicídio passou a ser considerado hediondo no mês 
de setembro de 1994 após intensa mobilização social no País, que teve à frente a 
novelista Glória Perez, mãe da atriz assassinada, anos depois do crime. O projeto que 
apresentei realmente torna qualificado, e portanto, hediondo o homicídio praticado 
por alguém que se prevaleceu da condição de familiar ou das relações de coabitação 
com a vítima, e a idéia é exatamente esta. É intolerável que alguém que cometa 
crime tão grave fique em liberdade, enquanto a família, desolada, sepulta seu ente 
querido. E nenhum juiz decreta a prisão preventiva de qualquerpessoa sem estarem 
presentes a certeza da autoria e da materialidade do crime.
(Retirado de http://copodeleite.rits.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/noticias.
shtml?x=42)
19FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
20FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
21FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
3.3. JurIsprudênCIa 
PENAL. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO. NOVATIO LEGIS IN 
PEJUS. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE AO TEMPO DOS FATOS. MAIS BE-
NÉFICA. 
1 – Se a lei nova entra em vigor no decorrer do processo, agravando a pena de 
quem praticara conduta delituosa descrita no anterior diploma legal, inexiste abolitio 
criminis, mas novatio legis in pejus, conflito de leis penais no tempo, que se resolve 
pela aplicação da lei mais benéfica, vigente ao tempo dos fatos, em obediência ao 
princípio tempus regit actum. 
2 – Ordem denegada. 
(HC 12.370/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA; 
STJ, julgado em 13.02.2001, DJ 12.03.2001 p. 177) 
RHC. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONÚN-
CIA. IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DO PROCESSO NOS TERMOS 
DO ARTIGO 366 DO CPP. FATO ANTERIOR À LEI 9.217/1996. PRISÃO 
QUE DECORRE DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. RÉU NÃO ENCON-
TRADO NO ENDEREÇO CONSTANTE DO INQUÉRITO POLICIAL. CI-
TAÇÃO POR EDITAL. REGULARIDADE. 
“Na hipótese dos autos, a novatio legis prevê, além da suspensão do processo, a 
suspensão do prazo prescricional, sendo prejudicial ao réu. Em situações tais, desca-
be a retroatividade da lei penal in pejus para alcançar infração penal cometida em 
momento anterior a sua vigência.” Legitimidade da citação editalícia, se esgotados 
os meios disponíveis para a localização do réu. Precedentes desta Corte e do Excelso 
Pretório. 
“O recorrente, preso preventivamente, foi pronunciado, mantendo-se seu encar-
ceramento. Diante da sentença de pronúncia, a sua custódia, que era da preventiva, 
passou a ser conseqüência natural da sentença de pronúncia. Precedentes.” Recurso 
desprovido. 
(RHC 17.838/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA 
TURMA; STJ, julgado em 13.09.2005, DJ 03.10.2005 p. 288) 
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. APLICAÇÃO DA LEI BRASI-
LEIRA. COMPETÊNCIA JURISDICIONAL. CRIME INICIADO EM TERRI-
TÓRIO NACIONAL. SEQÜESTRO OCORRIDO EM TERRA. IMPOSSIBI-
LIDADE DE REEXAME PROBATÓRIO. CONDUÇÃO DA VÍTIMA PARA 
TERRITÓRIO ESTRANGEIRO EM AERONAVE. PRINCÍPIO DA TERRITO-
RIALIDADE. LUGAR DO CRIME – TEORIA DA UBIQÜIDADE. IRRELE-
VÂNCIA QUANTO AO EVENTUAL PROCESSAMENTO CRIMINAL PELA 
JUSTIÇA PARAGUAIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ORDEM 
DENEGADA. 
1. Aplica-se a lei brasileira ao caso, tendo em vista o princípio da territorialidade 
e a teoria da ubiqüidade consagrados na lei penal. 
22FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
2. Consta da sentença condenatória que o início da prática delitiva ocorreu nas 
dependências do aeroporto de Tupã/SP, cuja tese contrária exigiria exame profundo 
do acervo fático-probatório, incabível em sede de habeas corpus, sendo assegurado ao 
acusado o reexame das provas quando do julgamento de recurso de apelação eventu-
almente interposto, instrumento processual adequado para tal fim. 
3. Afasta-se a competência da Justiça Federal, pela não-ocorrência de quaisquer 
das hipóteses previstas no art. 109 da Constituição Federal, mormente pela não-con-
figuração de crime cometido a bordo de aeronave. 
4. Não existe qualquer óbice legal para a eventual duplicidade de julgamento 
pelas autoridades judiciárias brasileira e paraguaia, tendo em vista a regra constante 
do art. 8º do Código Penal. 
5. Ordem denegada. 
(HC 41.892/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TUR-
MA; STJ, julgado em 02.06.2005, DJ 22.08.2005 p. 319) 
3.4. Questões de ConCurso 
I – Samuel, cidadão brasileiro, foi acusado da prática do delito de tráfico internacio-
nal de entorpecentes perante a Justiça francesa e brasileira. Certa feita, Samuel resol-
veu viajar para os Estados Unidos, sendo preso, face à existência de um mandado de 
prisão expedido pela Justiça francesa, sendo que, após, o Governo francês requereu 
a sua extradição para a França, onde veio a ser processado e condenado à pena de 8 
anos de reclusão. Depois de cumprir 4 anos de pena, Samuel foi beneficiado com o 
livramento condicional e expulso da França. No Brasil, em decorrência do mesmo 
fato, Samuel teve decretada a sua prisão preventiva e irá responder a ação penal. Em 
hipótese como a retratada, qual a solução que o Direito Penal oferece? 
(OAB-RJ 18º Exame de ordem – 2ª fase) 
II – Processado pela prática de determinada infração penal, surge, no decorrer do 
processo, Lei Processual nova a implicar em prejuízo para o réu. Pergunta-se: Po-
deria o acusado alegar a irretroatividade da Lei Processual Penal? Existe hipótese de 
ultratividade da Lei Processual Penal? (MP – RJ, XXI Concurso para ingresso na 
classe inicial da carreira do Ministério Público)
3.5. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 200-213. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 203-246. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 117-168 
23FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 6 ed. São 
Paulo, Saraiva, 2004, p. 37-48. 
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 5 ed. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2005, p. 13-22. 
3.6. BIBlIografIa Complementar
Aplicação da lei processual penal: TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. 
Processo Penal 1. São Paulo, Saraiva, 2001. 
FRANCO, Alberto Silva. Retroatividade penal benéfica. Revista dos Tribunais. São 
Paulo: RT, v. 589, 1984. 
LEIRIA, Antônio José Fabrício. Teoria e aplicação da lei penal. São Paulo: Saraiva, 
1981. 
aUla 4. âmbito temporal da lei penal
Irretroatividade, e retroatividade da lei 
penal favorável 
a) prevalência do princípio constitucional da irretroatividade (art. 5.º, XL, da CF);
b) vedação absoluta de retroatividade in pejus;
a) retroatividade da lei favorável (abolitio criminis, art. 2.º, CP; lex mitior, art. 
2.º, parágrafo único, CP);
b) ultratividade de lei mais benéfica; e) lei intermediaria: retroatividade da lex 
mitior e irretroatividade da lex gravior. 
Lei excepcional ou temporária e lei 
penal em branco 
a) lei excepcional ou temporária: regime específico da ultratividade gravosa (art. 
3.º, CP);
b) lei penal em branco: retroatividade de lex mitior e irreteoatividade da lex 
gravior;
c) lei pena em branco que vis aa assegurar efeito regulador das normas de 
referência; ultratividade.
Tempo do crime 
1. Teoria da ação ou da atividade; tempo do crime é momento da ação ou 
omissão.
2. Teoria do resultado ou do evento: momento do crime é aquele em que ocorreu 
o efeito.
3. Teoria mista ou unitária: tempo do crime é tanto o da ação como o do resultado.
4. Considerando que o CP adota a teoria da ação (art. 4.º), o tempo do crime será:
a) nos crimes permanentes: o tempo de sua duração;
b) nos delitos habituais: momento da caracterização da habitualidade;
c) nos crimes continuados: tempo da prática de cada ação ou omissão;
d) nos delitos omissivos: último momento em que o agente poderia realizar a 
ação obrigada ou impedri o resultado;
e) no concurso de pessoas: momento de cada uma das condutas 
individualmente consideradas. 
âmbito eSpacial da lei penal
24FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
Princípios fundamentais
1. Principio da territorialidade: a lei penal é aplicada aos fatos praticados em 
território nacional, irrelevante a nacionalidade dos sujeitos ativo e passivo e do 
bem jurídico (art.n 5.º, caput, CP);
2. Princípio real, da defesa ou proteção de interesses: lei penal aplicável éa do 
Estado titular do bem juridico lesado (art. 7.º, I, CP);
3. Princípio da nacionalidade ou da personalidade: lei penal nacional é aplicável é 
a do país de origem do agente, onde quer que ele se encontre (art. 7.º, II, b, CP). É 
subsidiário;
4. Princípio da universalidade ou da justiça mundial: lei penal nacional é aplicável 
a todos os delitos, independentemente do lugar de sua ocorrência, nacionalidade 
do agente ou origem do bem jurídico tutelado (art. 7.º, II, a, CP);
5. Princípios da representação, da bandeira ou do pavilhão: lei aplicável é a do 
Estado em que está registrada a embarcação ou aeronaves, ou cuja bandeira 
ostenta, quando ocorra delito no estrangeiro que aí não seja julgado (art. 7.º, II, c, 
CP).
Conceito de território nacional
Âmbito espacial sujeito ao poder soberano estatal. Pode ser:
a) efetivo ou real: superfície terrestre, águas territoriais e espaço aéreo 
correspondente;
b) por extensão ou flutuante: embarcações e aeronaves (ficção jurídica – art. 5.º, § 
1.º, do CP).
Lugar do delito 
1. Teoria da ação: lugar do delito é onde se realizou a ação ou omissão.
2. Teoria do resultado: lugar do delito é onde se deu o resultado. 
3. Teoria da intenção: local do crime é onde devia ocorrer o resultado.
4. Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais próximo: lugar do crime é onde a 
energia movimentada pela ação do sujeito alcança a vítima ou o bem jurídico.
5. Teoria da ação à distância ou da longa mão: local do delito é o do ato executivo.
6. Teoria limitada da ubiqüidade: lugar do crime é o da ação ou o do resultado.
7. Teoria pura da ubiqüidade, mista ou unitária: lugar do delito é o da ação, do 
resultado ou do bem jurídico atingido. É a acolhida pelo atual CP (art. 6.º).
Extraterritorialidade 
a) extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira sem nenhuma 
condicionante (art. 7.º, I, a, b, c e d e § 1.ºdo CP);
b) extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira satisfeitos certos 
requisitos (art. 7.º, II, a, b, c e § 3.º, do CP).
Imunidade diplomática
Privilégios outorgados aos agentes diplomáticos consistentes em inviolabilidade, 
imunidade de jurisdição penal e civil e isenção fiscal.
Imunidade de jurisdição implica processo e julgamento do agente diplomático 
somente no Estado que representa (art. 37, § § 1.º, 2.º e 3.º, do Dec. 56.435/1965).
Imunidade parlamentar 
Privilégio de Direito Público interno de cunho personalíssimo, decorrente da 
função exercida:
a) imunidade material: inviolabilidade do parlamentar (senador, deputado federal, 
deputado estadual e vereador), no exercício do mandato, por suas opiniões, 
palavras e vostos.
b) Imunidade formal: parlamentares (exceto vereadores) não poderão ser presos, 
salvo em flagrante de crime inafiançável, mas poderão ser processados por crimes 
comuns, sendo reservado à Casa Legislativa respectiva o direito de sustar o 
andamento da ação até a decisão final. 
25FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
Extradição
1. Conceito: Entrega de um delinqüente de um Estado a outro, competente para 
julga-lo ou para executar a pena imposta.
2. Classificação:
a) ativa – em relação ao Estado reclamante;
b) passiva – relativa ao Estado que concede;
c) voluntária – com o consentimento do extraditado;
d) imposta – sem esse consentimento;
e) reextradição – Estado que obteve a extradição é requerido por outro para 
nova efetuação do processo.
3. Princípios:
a) princípio da legalidade (art. 91, I do EE);
b) princípio da especialidade;
c) princípio da identidade (art. 77, II, EE);
d) princípio da comutação (art. 91, III, EE);
e) princípio da jurisdicionalidade (art. 77, VIII, EE);
f ) princípio non bis in idem (art. 77, III, e 91, II, EE);
g) princípio da reciprocidade (art.76, EE).
4. Condições: arts. 77 (condições negativas) e 78 (condições positivas) do EE.
5. Limitações à extradição:
a) nenhum brasileiro está extraditado, salvo o naturalizad, por crime comum 
praticado antes da naturalização, ou por comprovado envolvimento em 
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (art. 5.º, LI, da CF, e art. 77 do EE);
b) não será concedida extradição por crime político ou de opinião (art. 5.º, LII, 
da CF, e art. 77, VII, do EE);
c) será adotado o critério da prevalência com relação aos delitos políticos 
relativos;
d) proibição de extradição não alcança os crimes de genocídio, contra a 
humanidade, de guerra, tortura e de terrorismo. 
concUrSo aparente de leiS 
Conceito e pressupostos Situação em que várias leis são aparentemente aplicáveis a um mesmo fato, mas apenas uma tem real incidência.
Pressupostos: unidade de fato e pluralidade de leis.
Critérios para a resolução do concurso 
aparente de leis 
1. Critério da especialidade: lei especial derroga lei geral (art. 12, CP). Ex. tipos 
básicos e tipos derivados (art. 121, caput, e art. 121, § 2.º, do CP – especialidade 
abstrata); homicídio e infanticídio (arts. 121 e 123 do CP – especialidade concreta).
2. Critério da subsidiariedade: aplica- se um tipo penal quando outro não puder 
ser aplicado. Ex. art. 132 do CP (subsidiariedade expressa); arts. 148 e 149 do CP 
(subsidiariedade implícita).
3. Critério da consunção: um crime é fase de realização de outro, ou forma regular 
de transição para este (crimes progressivos). Ex.: arts. 171 e 298; 217 e 218 do CP.
4. Antefato, pós-fato e fato concomitante impuníveis: ações anteriores ou 
supervenientes que a lei toma por necessárias, expressa ou tacitamente.
26FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
4. aUla 5: conceito de crime 
4.1. Introdução 
Um dos pontos centrais no estudo do Direito Penal diz respeito ao conceito 
de crime. Isto porque, facilmente pode-se observar que o crime é um dos objetos 
centrais de estudo da doutrina penal. Se o Direito Penal é o ramo do Direito que 
proíbe determinadas condutas, comissivas ou omissivas, sob a ameaça de pena, é 
fundamental o estudo dessas ações e omissões proibidas, ou seja, do crime. 
E, logo aqui, um preconceito deve ser enfrentado. Influenciado por um vas-
to manancial de informações com as quais somos constantemente bombardeados, 
temos a tendência natural de ver o crime como uma obra perversa de um sujeito 
igualmente perverso. Ao contrário, o crime não tem, muitas vezes, nada de perverso 
e, mais que isso, muitas vezes é fenômeno inerente a todo e qualquer ordenamento 
social e passível de ser cometido por qualquer pessoa. 
O crime é nada mais do que um comportamento desviante do padrão socialmen-
te pré-estabelecido. Portanto, note-se que uma conduta considerada como crimino-
sa, é assim resultante de uma decisão tomada segundo um determinado momento 
histórico, conseqüência de um determinado ordenamento social. Com isso o crime 
hoje pode não mais ser assim considerado amanhã. 
Essa relatividade, que deve ser compreendida, engloba uma das faces do crime. 
Isto porque o crime, como qualquer outro objeto, pode ser conceituado de acordo 
com as mais variadas características por ele apresentadas. 
O crime pode ser observado de um ponto de vista simplesmente formal, outro 
material e ainda de uma forma analítica. 
Pode-se utilizar a lei para, a partir dela, conceituar-se o crime. 
Pode-se utilizar o bem jurídico como parâmetro para atingir-se um conceito de 
crime. 
Pode-se dissecar o crime na inteireza de seus elementos para que, a partir daí, 
possa-se atingir mais um conceito de crime. 
Com isso, algumas questões devem ser colocadas: qual o conceito de crime em 
face da lei? Materialmente, utilizando-se o bem jurídico como referência, qual o 
conceito de crime? E quais seriam os elementos do crime, numa perspectiva analíti-
ca? E, mais que isso, algum desses conceitos é mais correto do que o outro? 
4.2. o Caso 
pai que assume falsidade pelo filho 
27FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
28FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
29FGVDIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
4.3. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 251-259 e 265-274. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 255-268. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 169-179.
4.4. BIBlIografIa Complementar 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. 
Segunda 
parte, teoria do delito, capítulos X, XII, XVIII e XX. 
TAVARES, Juarez. Teoria do Injusto Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. Se-Belo Horizonte: Del Rey, 2003. Se-Se-
gunda parte, capítulos 1, 2 e 3. 
aUla 5 conceito de delito
Formal ou nominal Fato humano proibido pela lei penal.
Material ou substancial Lesão ou perigo de lesão a um bem juridico-penal.
Analítico ou dogmático Ação ou omissão típica, ilícta e culpável.
Sistemas
Tripartido: crimes, delitos e contravenções.
Bipartido: crimes ou delitos e contravenções. Adotado pelo Código Penal brasileiro: crimes 
ou delitos punidos com penas privativas de liberdades, restritivas de direitos e multa; 
contravenções sancionadas com prisão simples e multa.
30FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
5. aUla 6: teoriaS da aÇÃo e a omiSSÃo penalmente relevante 
5.1. Introdução 
Visto que o primeiro dos elementos do conceito analítico de crime é a tipici-
dade, deve-se agora defini-la. A tipicidade é o juízo de valor realizado a partir da 
adequação entre a conduta praticada pelo agente e aquela abstratamente prevista 
pelo legislador.
Assim, resta investigar o primeiro dos elementos integradores da tipicidade, qual 
seja, a ação. Isto porque, fácil é perceber que dentro de uma extensa gama de condu-
tas por todos adotadas, não serão todas as penalmente relevantes.
De pronto, pode-se responder que serão ações penalmente relevantes aquelas que 
forem proibidas pela legislação vigente. Mas, qual será o conceito doutrinário hábil 
a identificar uma ação com relevância penal? Um epilético que no meio de uma cri-
se atinge a face de alguém que vem a socorrê-lo pode ter essa conduta considerada 
como uma ação penalmente relevante?
Se as indagações são feitas no campo da ação, mais relevo ainda guardam quando 
se trata da omissão.
Por óbvio que não será toda inação capaz de possuir relevância penal. Mas quan-
do uma omissão será considerada penalmente relevante? Será que o simples fato de 
alguém não agir pode dar ensejo à responsabilidade penal? Será que daí é necessária 
a ocorrência de um resultado, ou basta a inação?
5.2. o Caso 
morte na piscina do clube 
31FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
32FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
33FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
34FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
35FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
36FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
37FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
5.3. JurIsprudênCIa
PENAL E PROCESSUAL. MAUS TRATOS. LEGITIMIDADE PASSIVA AD 
CAUSAM. DENÚNCIA. NEXO DE CAUSALIDADE. INÉPCIA. JUSTA CAU-
SA. AUSÊNCIA. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. 
Ao sócio que exerce a gerência de sociedade por cotas de responsabilidade limita-
da, dedicada à exploração, com fins lucrativos, de clínica médica, é cabível a imputa-
ção de autoria do delito tipificado no art. 136 do Código Penal. 
Não é inepta a denúncia que descreve adequadamente a conduta incriminada, 
ainda que não detalhada individualmente, se é possível ao denunciado compreender 
os limites da acusação e, em contrapartida, exercer ampla defesa. 
O nexo causal que resulta da omissão é de natureza normativa e não naturalística, 
de sorte que a omissão é erigida pelo Direito como causa do resultado porque quem 
tem o dever legal de evitá-lo, não o faz. 
Incabível, em habeas corpus, o exame de questões inerentes à comprovação da 
materialidade do crime, quando o deslinde da questão demande dilação probatória. 
Ordem denegada. 
(HC 23.362/RJ, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA; STJ, jul-
gado em 01.06.2004, DJ 01.08.2005 p. 559) 
PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO. CA-
RACTERIZAÇÃO. 
HABEAS-CORPUS DE OFÍCIO. COMPETÊNCIA. 
NOS CRIMES COMISSIVOS POR OMISSÃO, O NÃO IMPEDIMENTO 
DO RESULTADO E EQUIPARADO A CAUSAÇÃO. SÓ TEM RELEVÂNCIA 
PENAL, POIS, A OMISSÃO DE PROVIDÊNCIA COM VIRTUDE DE IMPE-
DIR O RESULTADO, POR QUEM PODIA E DEVIA AGIR NESSE SENTIDO, 
A TEOR DO DISPOSTO NO ART. 13, PAR. 2., DO CÓDIGO PENAL. 
CONCESSÃO DE HABEAS-CORPUS DE OFÍCIO A UM DOS RECOR-
RENTES, CUJO RECURSO CINGIU-SE A QUESTÕES DE NATUREZA 
PROCESSUAL, PARA CASSAR A CONDENAÇÃO. COMPETÊNCIA DO SU-
PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RECONHECIDA, DADO O CARÁTER 
INCIDENTAL DO HABEAS-CORPUS DE OFÍCIO, COMO FILTRA DO 
ART. 654, PAR. 2., DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 
(REsp 8.127/RS, Rel. MIN. COSTA LEITE, SEXTA TURMA; STJ, julgado em 
10.02.1992, DJ 16.03.1992 p. 3108) 
5.4. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 314-323 e 336-338. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 269-300. 
38FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 181-185 e 281-293.
5.5. BIBlIografIa Complementar 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. 
Segunda parte, teoria do delito, capítulos XIII, XIV, XV, XVI e XVII. 
TAVARES, Juarez. Direito Penal da Negligência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2003. Parte 2. Parte I, item 2. 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. 
Segunda parte, teoria do delito, capítulo XI. 
39FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
6. aUla 7: nexo de caUSalidade e impUtaÇÃo objetiva do reSUltado 
6.1. Introdução 
A verificação da conduta como penalmente relevante não esgota as etapas que 
devem ser percorridas no sentido da afirmação da tipicidade penal. Ao contrário, 
esse é apenas o primeiro passo nessa trilha. É fundamental verificar-se, por exemplo, 
se a conduta praticada gerou o resultado que está sendo verificado. 
Apesar da pergunta parecer óbvia, não necessariamente o é. Isto porque deve ha-
ver uma mínima ligação entre conduta e resultado que permita verificar que aquela 
ação/omissão foi a causa daquele resultado. 
Mas isso não encerra essa persecução. Isto porque, verificou-se, com o tempo, 
que essa ligação não era suficiente na busca pelo estabelecimento da responsabili-
dade penal. Entendeu-se que se fazia necessário a verificação de quais os requisitos 
seriam precisos para se atribuir um resultado como obra de um sujeito. 
Assim, põem-se as questões: o que deve ser considerado como causa de um cri-
me? Quais os critérios que podem ser adotados nesse sentido? Causação e atribuição 
são a mesma coisa? Quais os critérios que podem redundar na atribuição de um 
resultado como obra de um agente?
6.2. o Caso 
acidente automobilístico em silva Jardim 
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6.3. JurIsprudênCIa 
RESP – PENAL – CRIME – RELAÇÃO DE CAUSALIDADE MATERIAL 
– ELEMENTO SUBJETIVO – NÃO HÁ CRIME SEM RELAÇÃO DE CAUSA-
LIDADE ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO. URGE, ENTRETANTO, 
NÃO FICAR RESTRITO AO VÍNCULO MATERIAL. CASO CONTRÁRIO, 
CONSAGRAR-SE-A A RESPONSABILIDADE OBJETIVA, CONSTITUCIO-
NALMENTE REPELIDA. URGE, ADEMAIS, DISTINGUIR, PREVISÃO, OU 
PREVISIBILIDADEDO RESULTADO EM TESE, DO RESULTADO CON-
CRETO. AO DIREITO PENAL DA CULPA SÓ INTERESSA O SEGUNDO. 
O TEMA GANHA RELEVO DADO O CÓDIGO PENAL DISTINGUIR A 
CONCAUSA SUPERVENIENTE QUE, POR SI SÓ, PRODUZIU O RESUL-
TADO, DA QUE APENAS CONCORRE, COLABORA PARA O RESULTADO 
FINAL. 
(REsp 104.221/SP, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA 
TURMA; STJ, julgado em 19.11.1996, DJ 10.03.1997 p. 6019)
RESP – PENAL – PREFEITO MUNICIPAL – CONTRIBUIÇÃO PREVI-
DENCIÁRIA – OMISSÃO – NÃO RECOLHIMENTO – O FATO CRIME RE-
CLAMA CONDUTA E RESULTADO. ANALISADOS DO PONTO DE VISTA 
NORMATIVO. A RESPONSABILIDADE PENAL (CONSTITUIÇÃO DA RE-
PÚBLICA E CÓDIGO PENAL) E SUBJETIVA. NÃO HÁ ESPAÇO PARA A 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MUITO MENOS PARA A RESPONSABI-
LIDADE POR FATO DE TERCEIRO. A CONCLUSÃO APLICA-SE A QUAL-
QUER INFRAÇÃO PENAL. “NÃO RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÃO 
PREVIDENCIÁRIA” CARACTERIZA CRIME OMISSIVO PRÓPRIO. 
A OMISSÃO NÃO E SIMPLES NÃO FAZER, OU FAZER COISA DIVERSA. 
E NÃO FAZER O QUE A NORMA JURÍDICA DETERMINA. O PREFEITO 
MUNICIPAL, COMO REGRA NÃO TEM A OBRIGAÇÃO (SENTIDO NOR-
MATIVO) DE EFETUAR OS PAGAMENTOS DO MUNICÍPIO; POR ISSO, 
NO ARCO DE SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS, NÃO LHE CUMPRE PRATI-
CAR ATOS BUROCRÁTICOS, DENTRE OS QUAIS, ELABORAR A FOLHA 
E EFETUAR PAGAMENTOS. LOGO, RECOLHER AS CONTRIBUIÇÕES 
PREVIDENCIÁRIAS. O PORMENOR E IMPORTANTE, NECESSÁRIO POR 
SER INDICADO NA DENÚNCIA. DIZ RESPEITO A ELEMENTO ESSEN-
CIAL DA INFRAÇÃO PENAL. A AUSÊNCIA ACARRETA NULIDADE DA 
DENÚNCIA. NÃO HÁ NOTÍCIA AINDA DE HIPÓTESE DO CONCURSO 
DE PESSOAS (CP, ART. 29). 
(REsp 63.986/PR, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA 
TURMA; STJ, julgado em 30.05.1995, DJ 28.08.1995 p. 26688)
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6.4. Questões de ConCurso 
I – CARLOS JOSÉ, conduzindo um veículo da marca Volkswagen, Brasília, placa 
DDD 3131, em péssimo estado de conservação, realiza uma manobra brusca, com 
imperícia, projetando o veículo contra um barranco. JOSEFINA DA LUZ, cardía-
ca, que transitava pelo local, ao ver a cena assusta-se e tem um infarto fulminante. 
Pergunta-se: CARLOS JOSÉ responde pela morte de JOSEFINA DA LUZ? Expli-
que, justificando. (OABRJ 27º Exame de ordem – 2ª fase)
II – Flávio desentendeu-se com um transeunte e desferiu-lhe dois tiros, os quais o 
acertaram, levemente, na perna, sem que, contudo, tenha a vítima caído ou cam-
baleado. Flávio, inobstante tivesse mais balas em seu revólver, não mais aciona sua 
arma e deixou o local. Entretanto, a vítima veio a falecer, uma vez que era hemofí-
lica, condição desconhecida por Flávio. Justificando a resposta, que delito pode ser 
atribuído a Flávio? 
(OAB-RJ 17º Exame de ordem – 2ª fase) 
III – A lei brasileira adotou na caracterização da causalidade a teoria da equivalência 
das condições. De acordo com essa teoria, poder-se-ia dizer que o Código acolheu 
e a relevância das concausas? Por quê? (1º Concurso para Juiz Federal Substituto 
– TRF – DF) 
6.5. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 324-336 e 338-356. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 301-315. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 200-205. 
6.6. BIBlIografIa Complementar 
ROXIN, Claus. Funcionalismo e Imputação Objetiva no Direito Penal. Rio de Ja-
neiro/ São Paulo: Renovar, 2002. Pontos III, IV, V e VI da parte escrita por 
Luis Greco. 
GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. In: Revista Brasilei-
ra de Ciências Criminais. São Paulo: IBCCRIM, n.º 32, 2000, pp. 120 e ss. 
TAVARES, Juarez. Direito Penal da Negligência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2003. Parte 2. itens 4.4.3.3. e 4.4.3.4. 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. 
Segunda parte. Da causalidade às teorias da imputação objetiva.
47FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
nexo de caUSalidade e impUtaÇÃo objetiva
1. Teoria da equivalência das condições: causa é condição sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. Classificação dos antecendentes causais:
a) absolutamente independentes (preexistentes/ concomitantes/ supervenientes): 
exclusão do nexo causal (art. 13, caput, CP);
b) relativamente independentes:
b.1) preexistentes/ concomitantes: resultado imputável ao autor (art. 13, CP);
b.2) supervenientes:
- se por si só produziu o resultado: imputabilidade dos fatos anteriores (art. 13, § 
1.º, CP);
- fato posterior prolongamento do anterior imputabilidade do resultado final 
(art.13, caput, CP).
2. Teoria da causalidade adequada: causa é condição mais adequada para produzir o resul-
tado.
3. Teoria da imputação objetiva: causa depende da criação de perigo juridicamente desap-
rovado pelo autor.
4. Teoria da qualidade do efeito ou da causa eficiente: causa é condição da qual depende a 
qualidade do resultado.
5. Teoria da condição mais eficaz ou ativa: causa é condição que contribuiu mais eficaz-
mente para o resultado.
6. Teoria do equilíbrio ou da preponderância: causa é a condição positiva que prepondera 
sobre a negativa.
7. Teoria da causa próxima ou última: causa é a última condição da cadeia causal.
8. Teoria da causalidade jurídica: escolha da causa responsável por resultado antijurídico 
dado.
9. Teoria da causa humana: característica exclusivamente humana da causa. 
10. Teoria da tipicidade condicional: sucessão, necessidade e uniformidade de relação 
causal.
Teoria da imputação objetiva 
do resultado
Procura fixar os critérios normativos que permitem atribuir um resultado a determinado 
comportamento (ação ou omissão). Com vistas a elaborar uma teoria geral da imputação 
para os delitos de resultado (dolosos ou culposos) desvinculada do dogma causal, Claus 
Roxin elaborou uma série de critérios normativos, a saber: a diminuição do risco; a criação 
ou não criação de um risco juridicamente relevante; o incremento ou falta de aumento do 
risco permitido e o âmbito de proteção da norma. O denominador comum desses critérios 
encontra-se no princípio do risco, pelo qual o decisivo é saber se a conduta do autor criou 
ou não um risco juridicamente relevante de lesão típica de um bem jurídico em relação com 
determinado resultado. Para que um resultado seja objetivamente imputável a um com-
portamento é preciso que este incorpore um risco juridicamente desaprovado consubstan-
ciado em um resultado.
A teoria da imputação objetiva visa a separar o mero acaso, a casualidade, daquilo que 
é realmente obra do sujeito. Mas não é possível conseguir tal propósito através do tipo 
objetivo, pois este só permite imputar ao sujeito os acontecimentos fortuitos, a mera casu-
alidade, nada que possa ser qualificado como obra sua. Somente saberemos se algo é obra 
do sujeito se esse acontecimento se encontrar abarcado pela vontade – tipo objetivo e tipo 
subjetivo devem operar em conjunto.
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DIREITO pEnal GERal
7. aUla 8: dolo e cUlpa 
7.1. Introdução 
Grande parte dos movimentos humanos, por mais simples que sejam, estão im-
pregnados de um elemento: a vontade. Quando você acorda pela manhã e dirige-se 
ao espelho para pentear seus cabelos, isso ocorre em virtude de um processo inte-
lectivo/volitivo que ilustra bem o que foi dito. Ao acordar você percebe o quão des-
penteado está e nota que para resolver isso é necessária a escova para que os cabelos 
possam ser arrumados. Portanto, esta frugal atitude teve contida vontade. 
Nos crimes também é assim. Via de regra o sujeito, ao praticar uma ação crimi-
nosa, o faz de maneira deliberada. Senão assim, pelo menos assume o risco de que 
aquele determinado resultado, que ele enxerga como possível, ocorra. 
Mas será que apenas as atitudes realizadas com vontade podem serpenalmente 
relevantes? Será possível alguém cometer um crime sem ter a intenção de fazê-lo? E 
quais serão as características necessárias para isso acontecer? 
É bom não esquecer que se vive no mundo contemporâneo cercado de riscos. O 
trânsito talvez seja o melhor exemplo para identificar uma realidade ontologicamen-
te arriscada. Diante dessa característica, põe-se um dilema em face do Direito Penal: 
proibir tal sorte de atividade parece impensável, visto que isso implicaria, muitas ve-
zes, na inviabilização da própria vida em sociedade. Então qual seria a alternativa?
7.2. o Caso 
erro médico 
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7.3. JurIsprudênCIa
Habeas-corpus: desclassificação de crime doloso para culposo: caso excepcional 
de cabimento e procedência. 1. É cabível o habeas-corpus para desclassificar a im-
putação de crime doloso para crime culposo, quando não se pretende para tanto 
substituir por outra a versão do fato acolhida nas instâncias ordinárias, mas sim dar a 
esta a correta qualificação jurídica. 2. Não configura dolo eventual, mas culpa – quiçá 
consciente – a ativação da offendicula na qual sequer se insinua que o agente a teria 
efetivado ainda quando previsse o evento morte como certo e não só como prová-
vel. 
(HC 75666 / BA – BAHIA HABEAS CORPUS Relator(a): Min. SEPÚLVEDA 
PERTENCE Julgamento: 25/11/1997 Órgão Julgador: Primeira Turma; STF – Pu-
blicação: DJ 06-02-1998 PP-00005) 
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONDENAÇÃO 
PELA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 95, “D”, DA LEI 8.212/1991. 
DENÚNCIA. INÉPCIA. 
AUSÊNCIA DE DOLO. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. 
TESE DEFENSIVA DEDUZIDA NAS RAZÕES DE APELAÇÃO E NÃO APRE-
CIADA PELA INSTÂNCIA AD QUEM. NULIDADE.
De acordo com o princípio da excepcionalidade dos crimes culposos (parágrafo 
único do art. 18 do CP) a punição por dolo é a regra, enquanto a sanção por culpa é 
excepcional, só sendo admitida quando a lei textualmente o prevê. Logo, na hipótese 
de delito praticado com dolo, torna-se despicienda, na denúncia, a referência explíci-
ta desse elemento subjetivo do tipo, que deflui da própria descrição fática. 
Inexigibilidade de conduta diversa ante a difícil situação financeira da empresa: 
matéria que, por reclamar detido revolver de provas, transborda o âmbito de aprecia-
ção do habeas corpus.
Acórdão que não apreciou tese defensiva ventilada no recurso de apelação do réu. 
Nulidade configurada por ofensa ao art. 93, IX, da CF.
Ordem parcialmente concedida para que outro julgamento seja proferido com a 
devida análise de todas as teses de defesa.
(HC 13.199/MA, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA 
TURMA, julgado em 13.09.2000, DJ 23.10.2000 p. 154)
7.4. Questões de ConCurso 
I – Josefina Martins, que estava grávida de dois meses, ingeriu, por descuido, uma 
substância abortiva, sem se dar conta do que estava fazendo (ingeriu um remédio 
que, como efeito colateral, poderia causar aborto, supondo estar ingerindo um ou-
tro remédio). Poucos minutos depois, contudo, ela percebeu o que havia feito, mas 
apesar de morar próxima a um posto de saúde e portanto ter perfeitas condições de 
procurar auxílio médico que impossibilitasse o possível advento do aborto, ela deixa 
54FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
de fazê-lo, pensando: “se o aborto acontecer, que se dane.” Em virtude dessa suces-
são de acontecimentos, Josefina, efetivamente, vem a ter a gravidez interrompida, 
ocorrendo a morte do feto como conseqüência orgânica dos efeitos do remédio que 
ela havia ingerido inadvertidamente. Com base no Direito Penal brasileiro em vigor, 
analise todos os aspectos jurídicos do que foi exposto, solucionando o caso. (OAB-
MG Exame de Ordem, Março / 2005)
II – Morador do interior do Amazonas, local sem qualquer acesso aos meios de co-
municação, Manoel sai de casa à noite para caçar capivaras para alimentar sua famí-
lia, fato comum na região. Naquela mesma noite, João, pesquisador ambiental, ha-
via se dirigido à floresta para realizar estudos de campo, se escondendo no mato para 
melhor observar os hábitos noturnos dos animais. No escuro, Manoel, percebendo 
uma movimentação atrás dos arbustos, atira em direção a João, vindo a atingir o 
mesmo de raspão. Com o grito do rapaz, Manoel percebe seu engano e carrega João 
até o povoado mais próximo. Interpelado pela polícia, justifica-se alegando estar 
apenas caçando capivaras. Sabendo que Manoel foi prontamente detido pela auto-
ridade policial por violação aos arts. 129 do Código Penal, formule o fundamento 
jurídico passível de evitar a condenação. (OAB-RJ 23º Exame de ordem – 2ª fase) 
III – Dispõe o art. 19 do Código Penal que “pelo resultado que agrava especialmente 
a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”. 
À luz deste dispositivo, e da teoria da culpabilidade adotada pelo Código Penal, analise 
o conceito e localização do dolo dentro da teoria geral do crime, os elementos da culpa-
bilidade, os crimes qualificados pelo resultado e preterdolosos e a “actio libera in causa”. 
(XLIII Concurso para ingresso à carreira do Ministério Público; Promotor – RS) 
7.5. BIBlIografIa oBrIgatórIa 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2005, p. 371-384. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. 10ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 332-344 e 347-362. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. Parte Geral. At. Fernando 
Fragoso. 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 208-216 e 271-280. 
7.6. BIBlIografIa Complementar 
TAVARES, Juarez. Direito Penal da Negligência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2003. Parte 2. 
TAVARES, Juarez. Teoria do Injusto Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. Se-Belo Horizonte: Del Rey, 2003. Se-
gunda parte, capítulo 4. 
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Derecho Penal Parte General. Buenos Aires: Ediar. Se-
gunda parte, teoria do delito. Segunda Parte, capítulos XIII, XIV, XV e XVI. 
55FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
aUla 8 dolo e cUlpa
Tipo objetivo e tipo sub-
jetivo 
1. Tipo objetivo: caracteres objetivos do tipo. Comporta núcleo (verbo) e elementos secundári-
os ou complementares. Entre seus elementos, distinguem-se:
a) elementos descritivos: identificação advém da verificação sensorial;
b) elementos normativos: identificação exige juízo de valor.
2. Tipo subjetivo: caracteres subjetivos ou anímicos do tipo. Comporta o elemento subjetivo 
geral e eventualmente elemento subjetivo especial do tipo.
Elemento subjetivo geral
1. Dolo: consciência e vontade de realizar os elementos objetivos do tipo. Abrange fim visado 
pelo agente, meios empregados e conseqüências secundárias. Comporta:
a) elemento cognitivo ou intelectual;
b) elemento volitivo.
2. Espécies de dolo:
a) dolo direto ou imediato: agente quer resultado como fim de sua ação;
b) dolo eventual: agente assume risco de produção do resultado.
3. Teorias sobre o dolo:
a) teoria da vontade: dolo é a vontade dirigida ao resultado;
b) teoria da representação: dolo é representação subjetiva do resultado;]
c) teoria do consentimento: dolo abrange consentimento da causação do resultado;
d) teoria da probabilidade: dolo é aceitação do resultado como provável;
e) teoria da evitabilidade: há dolo eventual quando a vontade do agente estiver orientada 
no sentido de evitar o resultado;
f ) teoria do risco: a existência do dolo depende do conhecimento pelo agente do risco 
indevido (tipificado) na realização de um comportamento ilícito;
g) teoria do perigo a descoberto: fundamenta-se apenas no tipo objetivo. Perigo a desco-
berto vem a ser a situação na qual a ocorrência do resultadolesivo subordina-se à sorte ou 
ao acaso;
h) teoria da indiferença: estabelece a distinção entre dolo eventual e culpa consciente por 
meio do “alto grau de indiferença por parte do agente para com o bem jurídico ou a sua 
lesão”. 
Culpa - Conceito e elemen-
tos
1.Culpa: conduta humana que realiza tipo penal através da infração de norma de cuidado. É 
elemento normativo do tipo.
2. Elementos:
a) inobservância de cuidado objetivamente devido;
b) resultado e nexo causal;
c) previsibilidade objetiva do resultado;
d) conexão interna entre desvalor da ação e desvalordo resultado.
3. Excepcionalidade do delito culposo: art. 18, § único, CP.
Modalidades de culpa 1. Imprudência: ação (comissão) sem a cautela necessária.2. Negligência: inatividade (omissão) conduz a resultado evitável pelo agente.
3. Imperícia: ausência de aptidão técnica para exercício profissional. 
Espécies de culpa 1. Culpa inconsciente: ausência de previsão de resultado provável 
2. Culpa consciente: previsão do resultado com expectativa de sua inocorrência.
Dolo eventual e 
Culpa consciente
1. Dolo eventual: anuência em assumir o risco da produção do resultado
2. Culpa consciente: não aceitação de superveniência do resultado.
56FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
8. aUlaS 9 e 10: exclUSÃo da ilicitUde 
8.1. Introdução 
O estudo do crime não se encerra com a firmação da tipicidade. Ao contrário, a 
tipicidade é apenas o primeiro dos seus elementos e, sem a sua constatação, impos-
sível se torna afirmar a presença de conduta delituosa. 
Assim, presente a tipicidade, resta a análise do próximo elemento constitutivo do 
crime, qual seja, a antijuridicidade. Com isso, não é correto afirmar que o fato de 
alguém matar outra pessoa implica na prática do delito de homicídio. Deve-se veri-
ficar, além da presença ou não da culpabilidade, que será posteriormente estudada, 
se tal conduta é ou não ilícita. Desde já vale ressaltar que antijuridicidade e ilicitude 
são sinônimos que podem ser usados indistintamente. 
E a antijuridicidade implica na contraposição existente entre uma conduta que 
possui danosidade social e ordenamento jurídico. Não basta a mera submissão da 
conduta à descrição típica. É necessário que tal conduta vá contra o espírito do 
ordenamento e, mais que isso, que ela provoque uma repercussão ruim, danosa, no 
meio social em que ela ocorre. 
O curioso é que o método de verificação da antijuridicidade é diverso daquele re-
servado à tipicidade. Isto porque a antijuridicidade é constatada a partir da ausência 
de suas causas de exclusão, também chamadas de causas de justificação. As causas 
legais de justificação são quatro: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cum-
primento do dever legal e exercício regular de um direito. 
Além delas, pode-se citar como exemplo de causa supra legal de exclusão da an-
tijuridicidade o consentimento do ofendido. 
O consentimento do ofendido não atuará dessa forma sempre que ocorrer. Ele 
só irá excluir a antijuridicidade desde que verse sobre bem jurídico disponível, seja 
concedido antes da lesão ser cometida e que seja válida a manifestação de vontade. 
Assim, pode-se consentir que alguém destrua um bem seu sem que a pessoa incorra 
na prática do crime de dano (art. 163, CP). 
Voltando às causa legais deve-se ressaltar que apesar da constatação da ilicitude 
ocorrer dessa forma, isso não implica que o condenado reste obrigado a provar a pre-
sença de uma causa de exclusão da antijuridicidade para que reste como inocente. 
Isto porque, em processo penal, o ônus da prova é exclusivo do Ministério Público, 
que é quem, em regra, é o titular do exercício do direito de ação (quem acusa). As-
sim, somando-se a isso o princípio constitucional da presunção de inocência, deve-
se ressaltar que o MP é quem deve provar a ausência de uma causa de justificação 
para alegar a antijuridicidade da conduta. Se o imputado restar inerte, sem produzir 
qualquer prova e, ainda assim, o Ministério Público não conseguir provar a prática 
de um CRIME (fato típico, antijurídico e culpável) deve este ser absolvido. 
Com isso, deve-se questionar, em face do caso apresentado, vislumbrando a hi-
pótese de legítima defesa, quais são os requisitos necessários para a afirmação dessa 
excludente de ilicitude? 
57FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
O presente caso irá ser utilizado em seqüência nas duas aulas sendo que parte da 
segunda aula será utilizada para a realização de um júri simulado. 
Nessa atividade a turma deverá se dividir nos seguintes grupos: acusação, defesa 
e jurados. 
O caso a ser explorado é o livro “O Caso dos Exploradores de Caverna” de Lon 
L. Fuller, editado pela Sergio Antônio Fabris. 
Pretende-se com isso, além de testar o poder de argumentação e convencimento 
dos alunos, testar os conhecimentos apreendidos em sala de aula que serão coloca-
dos em prática diante do julgamento simulado. As instruções pormenorizadas serão 
dadas em sala de aula.
8.2. o Caso 
Custódio 
Caso dos exploradores de caverna 
8.3. JurIsprudênCIa 
RHC – PENAL – PROCESSUAL PENAL – JÚRI – LEGÍTIMA DEFESA 
DO PATRIMÔNIO – QUESTIONÁRIO – A LEGITIMA DEFESA REAL, EX-
CLUDENTE DE ILICITUDE, DEVE SER INDAGADA DO CONSELHO DE 
SENTENÇA, ISTO É, SE HOUVE ATUAL (OU IMINENTE) AGRESSÃO A 
DIREITO DO RÉU, OU DE TERCEIRO, COM RESPOSTA MODERADA, 
ATRAVÉS DOS MEIOS NECESSÁRIOS. DISPENSÁVEL, PORÉM, CONSIG-
NAR A ESPÉCIE DO DIREITO DEFENDIDO. ESTE PORMENOR É ELE-
MENTO CIRCUNSTANCIAL, NÃO SE COLOCA ENTRE OS ESSENTIALIA. 
FUNDAMENTAL É O DIREITO, POUCO IMPORTANDO SER PESSOA, 
HONRA, PATRIMÔNIO. DESNECESSÁRIO, POIS, QUESITO EXPLÍCITO, 
INTERROGADO SE PATRIMONIAL O DIREITO DEFENDIDO. 
(RHC 2.367/DF, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA 
TURMA; STJ, julgado em 04.05.1993, DJ 14.06.1993 p. 11791)
8.4. Questões de ConCurso 
I – João, fazendeiro, contrata mediante paga, Braguinha, conhecido pistoleiro, com 
a finalidade de eliminar o fiscal do Trabalho de José, a quem tinha lhe aplicado alta 
multa por explorar o trabalho escravo. Braguinha coloca-se em local ermo e escuro 
esperando a passagem de José para matá-lo. José, ao se aproximar do local, percebe 
o vulto de Braguinha e na suposição de que seria vítima de assalto, utiliza de um 
revolver que trazia consigo vindo efetivamente à atingir Braguinha, que vem falecer 
em virtude do único disparo efetuado por João. Pergunta-se: 
58FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal GERal
a) poderia José alegar alguma causa de exclusão de culpabilidade, ou de ilicitude? 
b) A conduta de João é penalmente relevante? 
(OAB-RJ 24º Exame de ordem – 2ª fase) 
II – Quanto à legítima defesa, aborde os seguintes pontos: a) excesso doloso e exces-
so culposo na ação defensiva; b) excesso de legítima defesa exculpante; c) argüição 
de legítima defesa quando a agressão é cometida por doente mental. (MP – RN, 
Concurso para ingresso na carreira do Ministério público / 2001) 
III – Pode o Juiz absolver o acusado reconhecendo causa de exclusão da ilicitude não 
prevista em lei? (MPE – Concurso para Promotor de Justiça – SE / 2002) 
IV – Tendo havido uma discussão em um bar, verificou-se que Paulo Luís, desmoti-
vadamente, deu um soco na face de João, com quem discutia. Esse, então, revidou 
a agressão que estava recebendo com um outro soco em Paulo, que caiu ao chão, 
desnorteado. João passou a chutar Paulo violentamente, embora ele não estivesse 
mais agredindo-o. Paulo, ao recobrar-se, segundos depois da queda, conseguiu sa-
car o revólver que trazia consigo e desferiu, do chão, um único disparo em João, 
acertando-o no tórax. João, ferido e assustado, cessou os chutes, afastando-se rapi-
damente. A seguir, Paulo se levantou, com a arma em punho, e foi-se embora. Dois 
dias depois João morreu no hospital, em virtude dos ferimentos provocados pelo 
disparo que sofreu. Processado criminalmente por homicídio,

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