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Livro Texto Unidade II
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que pode ser alcançada quando acessados os canais certos de conhecimento, dando-nos uma perspectiva de que, naquele instante, as noções representacionistas da cognição eram dominantes – tal como falamos anteriormente sobre o pensamento representacionista. Outro fato que se desenvolveu junto com a autorreferencialidade da obra e o seu nomadismo foi que a arte moderna, segundo Crimp (2005), surgiu presa em um movimento capitalista, mas camuflada por um objetivo maior e global, tornando-se “mercadoria especializada de luxo”. A autonomia e o nomadismo da arte moderna eram, pois, também a sua condição de circulação, “do estúdio para a galeria comercial, dali para a residência do colecionador, desta para o museu ou para o saguão da sede de alguma grande empresa” (CRIMP, 2005, p. 137). 5.3 A pós-modernidade Na pós-modernidade, passa-se a desconfiar de diversas noções presentes na modernidade. Será o progresso mesmo bom para todos? Será que aquilo que dizem ser o certo e a verdade realmente pode ser aplicado para toda a sociedade? Será que o sujeito pode ser definido em termos universais? Será que a experiência com a obra de arte é sempre pura e imediata? Diversas são as relações que se modificam. Descobertas na ciência questionaram a noção de verdade. A física quântica mostrou que o ponto de vista do observador altera o comportamento do objeto observado, colocando em pauta a ideia de incerteza e indeterminação. Essa nova perspectiva nos diz que verdades não são unânimes e que o contexto no qual o observador está inserido é também uma variável de considerável importância. O mundo Pós-moderno é percebido como complexo, tal como vimos em Morin, devido à ênfase nas relações que se dão em padrão de teia entre as diversas partes que compõem a sociedade. Tais relações podem ocorrer de maneiras diversas, permitindo conceber o sujeito como uma entidade plural e diversificada. Isso gera a ideia de subjetividades múltiplas, concebidas a partir de variadas categorias como raça, gênero, classe e idade, diferindo assim do sujeito moderno, universal e único. Da mesma 68 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 Unidade II forma, as ideias de autenticidade e gênio criador, tão presentes na arte moderna, são postas em discussão, tornando complexos o processo criativo e a esfera da arte. A arte pós-moderna acredita que nada de novo possa ser inventado e passa a utilizar a cópia com o mesmo valor que o original, colocando em questão as ideias de originalidade e autenticidade. Plurarismo, multiplicidade e diversidade, segundo as autoras, são termos que caracterizam a pós-modernidade e a noção de subjetividade. Reunidos, os sujeitos passam a lutar e a reivindicar por causas coletivas. A segunda metade do século XX acolhe diversas revoluções sociais, como o feminismo, as causas GLS, o ambientalismo e a contracultura. Busca-se questionar as estruturas da sociedade traçando relações de força e controle, revelando ideologias e valores que justificavam a dominação de um humano sobre outro. Essa nova compreensão sobre o sujeito se estendeu aos observadores-leitores, que passam agora a ser abordados em sua complexa e distinta teia cultural, fazendo com que emerja o entendimento de que as imagens são interpretadas de maneiras diferentes por sujeitos diferentes. A obra adquire um campo polissêmico, ou seja, de muitos significados. No pós-modernismo, os artistas “produzem obras que examinam reflexivamente sua própria posição em relação à arte ou ao contexto institucional da obra de arte” (STURKEN; CARTWRIGHT, 2001, p. 254, tradução nossa). A reflexividade ainda existe, mas não está centrada na linguagem e na plasticidade do próprio trabalho: dialoga diretamente com o próprio sistema da arte em si e seu contexto de produção. Por isso, “a arte pós-moderna não está preocupada em representar a realidade, mas sim em repensar a função da arte e enfatizar o papel que o contexto institucional tem na produção de significado” (STURKEN; CARTWRIGHT, 2001, p. 263, tradução nossa). Para além dessas características, Sturken e Cartwritght (2001) colocam que a reflexividade na arte pós-moderna passou a rever o papel do observador com relação à imagem ou à narrativa, por vezes fazendo o trabalho artístico criar a consciência, no observador, de estar a observar e, por consequência, a afirmar a existência e a recriação – por meio de sua compreensão – da própria obra. Podemos perceber mais claramente essa situação quando os artistas minimalistas passam a utilizar o espelho como material basilar do trabalho –abordaremos mais adiante o minimalismo. Na pós-modernidade, as imagens estabelecem outro nível de relação com as pessoas. As autoras trazem para o diálogo o pensamento do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard, que nos apresenta o paradigma da representação – que faz referência ao real – como sendo substituído pelo paradigma da simulação – em que a imagem não busca mais representar o real, mas, sim, ser mais real do que o real, borrando os limites entre o real e o virtual. Cria-se aí um novo ponto de situação, o da hiper-realidade, em que “o hiper-real ultrapassa o real, e o simulacro cresce, em parte, através de novas formas de mídia, como as novas formas de existência pós-moderna (STURKEN; CARTWRIGHT, 2001, p. 237, tradução nossa). O simulacro cria superfícies de mediação que, como foi dito, apresentam-se mais reais do que o real. Na pós-modernidade, as experiências humanas são mediadas não somente pelas superfícies de contato e tecnologias, mas também pelas linguagens, imagens, pelos contextos sociais e históricos de vida que representam o lugar de imersão do observador. O modernismo não tinha essa perspectiva, pois ainda considerava a experiência como pura, clara e direta, na qual a 69 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 ARTES VISUAIS MODERNISMO E ATUALIDADES informação, ou conhecimento, chegava ao destinatário da forma que o emissor havia articulado, desconsiderando todo o contexto. Saiba mais O livro O que é Pós-moderno, de Jair Ferreira dos Santos, fala de maneira sucinta e clara sobre o pós-modernismo. Na parte intitulada “Bye, Bye, real”, o autor apresenta uma síntese sobre o tema que acabamos de abordar. SANTOS, J. F. O que é Pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004. Com a ajuda de Sturken e Cartwright (2001) apresentamos pistas e indícios, iniciando um caminho com alguns dos olhares possíveis para algumas das faces da modernidade e da pós-modernidade. Nossa intenção é possibilitar a compreensão das manifestações de arte contemporânea a partir da ótica da pós-modernidade, pois aquilo que é cunhado normalmente como “arte contemporânea” historicamente se associa com o modo Pós-moderno de estar no mundo e olhar para ele, sendo para isso necessário perceber também a modernidade que a antecede. Caberá ao aluno continuar a percorrer esse caminho caso se interesse em abordar a arte contemporânea a partir dessa perspectiva, conhecendo novos rostos da multifacetada pós-modernidade. 5.4 Regimes da arte Acabamos de ver como o enquadramento na pós-modernidade contextualiza e amplifica o território de atuação dos artistas no século XX, alterando, por consequência, os modos de produção e os produtos artísticos na arte contemporânea. Traremos agora uma perspectiva proposta pela filósofa e artista plástica francesa Anne Cauquelin. Temos como referência o livro Arte Contemporânea: Uma Introdução, no qual a autora aborda a arte contemporânea a partir do próprio sistema da arte ao definir regimes que determinam a distinção entre a arte moderna e a contemporânea, respectivamente denominadas “regime de consumo” e “regime de comunicação”.