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Livro Texto Unidade II
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ato artístico que possui, sendo pensada como objeto inserido no sistema da arte que, ao mesmo tempo que a produz, qualifica-a como arte, assim nos remetendo a Marcel Duchamp como seu predecessor. Como o próprio nome diz, na arte conceitual, o conceito é o elemento prioritário da obra, transformando-se na sua própria estrutura em seu fim único, sobrepondo-se a qualquer tipo de materialidade e linguagem, e, por vezes, resultando em obras inacabadas. Há também o interesse em refletir sobre a esfera comercial da arte, de modo que muitos trabalhos não se baseiam no objeto para que não sejam facilmente comprados ou vendidos. 85 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 ARTES VISUAIS MODERNISMO E ATUALIDADES Cildo Meireles Figura 36 – Dados (1970-1996), de Cildo Meireles Cildo Meireles (1948) é reconhecido como um dos mais importantes artistas brasileiros contemporâneos, tendo já exposto, com direito a retrospectivas, nas mais renomadas instituições culturais do mundo. Seu trabalho Inserções em Circuitos Ideológicos correspondia a alterações sistemáticas em objetos do cotidiano apropriados, modificados e postos novamente em circulação, como é o caso da nota de dinheiro, da garrafa retornável de Coca-Cola e da obra Dados. Suas alterações continham mensagens contra o governo militar ditatorial brasileiro e contra o imperialismo norte-americano, tais como “Yankees go home!”, “Marca registrada de fantasia”, “gravar nas garrafas informações e opiniões críticas e devolvê-las à circulação”. As mensagens eram grafadas nas garrafas retornáveis de Coca-Cola com adesivos em silk-screen. Essas mensagens só poderiam ser lidas quando a garrafa estivesse cheia, pois a tinta vitrificada em branco só aparecia quando em contraste com o líquido escuro do refrigerante. Cildo Meireles fez a ação artística, o ready-made, circular no exterior do sistema da arte pelas mãos da própria população, depositando no trabalho forte carga política. 6.2 Minimalismo O minimalismo nasceu entre escultores norte-americanos durante as décadas de 1960 e 1970. Destacam-se Carl Andre, Dan Flavin, Donald Judd, Sol LeWitt, Agnes Martin e Robert Morris. O minimalismo: 86 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 Unidade II Pode ser visto como uma extensão da ideia abstrata de que a arte deve ter sua própria realidade, e não ser uma imitação de alguma outra coisa. Nós normalmente pensamos sobre a arte como a representação de um aspecto do mundo real (uma paisagem, uma pessoa, ou mesmo uma lata de sopa!); ou refletindo uma experiência como uma emoção ou sentimento. Com o minimalismo, nenhuma tentativa é feita para representar uma realidade exterior, o artista quer que o espectador responda apenas ao que está na frente dele. O meio (ou material) a partir do qual é feito e a forma do trabalho são a sua realidade (MINIMALISM, [s.d.], tradução nossa). Assim, no minimalismo, importam mais a forma e a materialidade da obra do que o seu conteúdo e a sua capacidade representacional. O trabalho artístico deixa de ter a função de mímesis do mundo, ou seja, deixa de ter a função de imitar a realidade, qualquer que seja ela. Os artistas minimalistas tentaram reduzir a obra de arte à sua forma básica, negando a expressão gestual do artista – apagando o vestígio do autor – e buscando alcançar uma forma pura de beleza. Utilizavam para isso materiais pré-fabricados, tintas e materiais industriais e formas geométricas simples. Os minimalistas foram importantes também por introduzirem o observador como elemento conscientemente essencial para a existência da obra, criando a triangulação obra-observador-contexto. Posteriormente, o historiador e crítico de arte norte-americano Michael Fried, em sua obra Art and Objecthood, de 1967, irá declarar como o legado do minimalismo algumas características. Vejamos quais são elas de acordo com o exemplo que segue. Robert Morris Figura 37 – Sem título (1965/71), espelho sobre madeira de Robert Morris 87 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 ARTES VISUAIS MODERNISMO E ATUALIDADES Os cubos espelhados de Morris amplificam a percepção do espaço, mas também introduzem a visão do próprio espaço como constituinte da obra, assim como dão ênfase ao observador como elemento que se reflete na própria obra. Nela, a pessoa ficará consciente do seu próprio corpo à medida que ficar consciente da obra. Conforme o espectador caminha ao redor dos quatro cubos, suas superfícies espelhadas produzem interações complexas e mutáveis entre a galeria e o espectador. Portanto, o observador deixa de ser elemento neutro, mas dele dependerá a experiência da obra. 6.3 Land Art A Land Art é um dos desdobramentos da arte conceitual. Como vimos anteriormente, no pós-modernismo, o artista passa a criar trabalhos que questionam sua posição em relação ao fazer artístico e às instituições de arte (STURKEN; CARTWRIGHT, 2001). Como resposta àquela mobilidade comercial da obra de arte modernista, surgiram os site-specifics. Neles, os trabalhos eram concebidos intrinsecamente com lugares físicos específicos, estabelecendo a relação triádica, denunciada por Fried, entre obra, lugar e observador, e não mais apenas entre obra e observador da modernidade. A Land Art foi uma vertente cujos trabalhos artísticos, na forma de site-specific, contestavam a transformação da obra de arte em objeto comercial através de uma prática que se faz inseparavelmente de seu lugar de concepção e também por situar-se fisicamente em lugares afastados dos centros urbanos, longe de galerias e espaços institucionalizados de arte. É com relação à crítica materialista que os land-artistas se diferenciam fortemente dos minimalistas. Para Crimp (2005), os minimalistas desenvolviam site-specifics em que a incorporação do lugar dentro do território da percepção da obra conseguiu apenas estender o idealismo da arte para o seu entorno, no qual a localização era considerada como específica apenas no sentido formal. Ao aceitar os “espaços” institucionalizados de circulação mercantil da arte como um fato consumado, a arte minimalista não foi capaz nem de expor as condições materiais ocultas da arte moderna, nem de resistir a elas, afirma Crimp (2005). Já os earthworks, como foram chamados os trabalhos da Land Art, na tentativa de se desvencilhar das amarras mercantilistas às quais a arte se via sujeita, aconteciam isoladamente na natureza e em escala monumental com a utilização de materiais e instrumentos que não pertenciam à materialidade modernista: retroescavadeira para desenhar sobre a terra, pedra e cascalho para modelar uma forma etc. Por estarem isolados na natureza, os trabalhos eram perecíveis, realizados sem a presença do público, restando deles apenas os documentos: matéria orgânica ou mineral, fotografias, reportagens, vídeos, entre outros. A este material, o artista estadunidense Robert Smithson dá o nome de non-site. Por meio desses documentos é que os trabalhos podem ser exibidos em galerias. Site e non-site coexistem em diálogo, o que supõe dinâmicas que promovam a transformação recíproca entre ambos. 88 AR TV - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /2 01 6 Unidade II No non-site, as informações estão de tal forma concentradas – frutos da edição e elaboração – que passam a representar a densidade conceitual abstrata que a esfera física pode não abarcar, assim como o site possui características próprias de percepção espacial. Robert Smithson Spiral Jetty talvez seja o earthwork mais