Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Administração Pública Descritiva - Turma 01 MÓDULO III - DESEMPENHO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SEUS AGENTES Ao final deste módulo o aluno será capaz de: Conceituar termos originários da administração em geral; Identificar a visão contingencial do aparelho estatal; Apresentar aspectos da Modernização administrativa; Compreender o ajuste fiscal de governo e sua implicação nas contas públicas; Classificar os tipos de agentes públicos existentes; Descrever o modelo gerencial dos administradores públicos; Destacar os fundamentos da Qualidade Total, sob o enfoque da Atividade Pública; e, Identificar as Leis que mais afetam a atividade pública. Unidade 1 - Efetividade, eficácia e eficiência da Administração Pública Agora que já conhecemos os fundamentos da Administração e funções do gestor público, vamos esclarecer o significado dos conceitos originários da administração geral, bastante usados na Administração Pública. O acentuado aumento do tamanho da máquina administrativa percebido a partir da década de 60 ergueu questionamentos acerca dos resultados dessa máquina, em termos de bens e serviços públicos. O administrador público deve ter instrumentos e percepção que lhe possibilitem saber o grau de sucesso de suas ações, o que permitirá agir sobre o sistema para a correção de rumos e aperfeiçoamento de resultados. Para tanto, emprega-se três conceitos elementares: efetividade, eficácia e eficiência. Pág. 2 Efetividade O conceito de efetividade significa muito pouco e diz respeito tão somente à produção de um efeito, que pode ser tanto negativo quanto positivo. Deixar de ser efetivo significa simplesmente resultar em nada. Exemplo: Pretendendo diminuir a saída de dólares do País, o presidente do Banco Central optou por mexer na taxa de câmbio. Contudo, a moeda continuou saindo na mesma proporção. Perceba que, nesse caso, a ação da Administração não surtiu efeito algum, ou seja, não foi efetiva. Nesse mesmo exemplo, caso a evasão de moeda estrangeira tivesse aumentado ainda mais com a ação da Administração, esta teria sido efetiva, embora em sentido contrário do pretendido. A efetividade, portanto, não presta informação acerca do sucesso da ação administrativa. Pág. 3 Eficácia Já o conceito de eficácia dá uma garantia a mais. A eficácia diz respeito ao cumprimento bem sucedido de um objetivo. Na eficácia existe o efeito, que, necessariamente, é positivo. Quando uma ação é eficaz, significa afirmar que atendeu ao que se destinava. Trata-se a eficácia de conceito, ainda, carente de certo significado importante, pois não leva em consideração os meios empregados, mas tão somente o objetivo atingido. Afirmar que uma ação administrativa foi eficaz significa reconhecer que o resultado pretendido foi alcançado, sem nada dizer, contudo, de quanto tenha custado em termos de recursos, tempo ou pessoal. Exemplo: Por desídia do gestor, chegou-se ao término de contrato público sem que processo de renovação tivesse sido proposto há tempo de que a tramitação administrativa possibilitasse a nova contratação por licitação sem descontinuidade do objeto. Resultado disso foi a adoção de contrato emergencial. Nesse caso, houve eficácia, pois o novo contrato permitiu a continuidade da prestação. Não se pode afirmar, contudo, que tenha sido mais econômico, pela pressa e falta de concorrência. Pág.4 Eficiência Por último, vem o conceito de eficiência, que garante, além da efetividade e da eficácia, a economia dos meios empregados. O ato eficiente é mais barato, demora apenas o necessário, emprega menos pessoas, gasta menos material, proporciona resultados mais duradouros. É certo, portanto, que a administração gerencial busque, constantemente, a eficiência. Tanto é assim, que a Emenda nº 19 incluiu a Eficiência entre os princípios da Administração, e não a efetividade ou a eficácia. Vamos a alguns outros exemplos hipotéticos: 1) O fornecimento de remédios de alto custo ao público em determinada farmácia de governo acontece somente nas manhãs das segundas-feiras. Formam-se grandes filas e as pessoas passam por longos períodos de espera. Todos deixam o local com os medicamentos de que necessitam. Perceba que, nessa situação, há eficácia, ou seja, as pessoas recebem seus remédios. Contudo, as longas filas e o tempo de espera indicam que não há eficiência. O cidadão se sente mal atendido, perde seu tempo e, provavelmente, sai reclamando, embora esteja com o remédio nas mãos. Pág. 5 2) Uma prefeitura necessita adquirir papel ofício de expediente, pois o estoque atual é suficiente para apenas mais um mês. Nesse período de um mês, a aquisição emergencial é realizada, e o material chega a tempo de atender à urgência. Na compra, gastou-se 5% a mais do que em vezes anteriores, realizadas conforme os mandamentos das compras públicas. Mais uma vez houve eficácia, sem ter havido eficiência, devido ao gasto maior na compra. Aí se percebe clara falta de planejamento. 3) Determinado órgão de governo tem setor de atendimento ao cidadão em que são feitos, em média, 300 atendimentos por dia. Ao chegar, a pessoa pega uma senha e lê cartaz na parede: “Nesta agência você será atendido em, no máximo, 20 minutos.” Do outro lado do balcão há uma equipe de 10 atendentes treinados e equipados com sistema de informação em computador. A meta de 20 minutos é cumprida, o que contribuiu com a credibilidade do órgão perante a sociedade. As pessoas saem satisfeitas, considerando-se bem atendidas. Tendo assumido um novo gestor, por observação da rotina este considerou que, com treinamento, 7 atendentes conseguiriam cumprir essa meta de 20 minutos de espera, o que liberaria 3 servidores para atividades outras, também necessárias. Assim se deu. Aconteceu o treinamento, reduziu-se o número de atendentes para 7. Ainda assim o tempo de espera foi reduzido para 19 minutos. Nesse exemplo houve eficácia com eficiência. A meta foi alcançada com sobra, além de ter havido racionalização de pessoal – liberou-se 3 pessoas para outra atividade. Se, pelo contrário, com as medidas tomadas o tempo tivesse aumentado, extrapolando os 20 minutos de espera, a meta teria deixado de ser cumprida, não fazendo sentido falar-se em eventual eficiência, resultante da realocação de 3 pessoas. Pior de tudo – o serviço prestado ao cidadão teria se degradado, com perda de credibilidade, o que um gestor eficiente deve considerar trágico. Unidade 2 - Visões sistêmica ou contigencial do aparelho do Estado Agora que já entendemos os conceitos que permitem ao administrador público perceber o grau de sucesso de suas ações e agir sobre o sistema para a correção de resultados, vamos entender a importância de se ter visão de futuro, aspecto cada vez mais estratégico nas políticas de administração dos órgãos de governo. Vejamos então: Visão contingencial e sistêmica. Com a descentralização acentuada pela qual passou o aparelho público a partir da década de 60, sob o predomínio da especialização técnica de Taylor e Ford, que leva ao isolamento, os administradores públicos desacostumaram-se de ter diante dos olhos a visão plena do “todo” que envolve seus processos de gestão. Deve-se considerar que um dado fenômeno administrativo faz parte de outro fenômeno maior, sendo o desempenho de um sistema notadamente influenciado pelo grau de relações desse sistema com esse outro, maior, que o engloba. Eis o princípio administrativo do expansionismo. Segundo Chiavenato (2008), a transferência da visão focada nos elementos fundamentais para uma visão focada no todo sedenomina abordagem sistêmica. Atenção: Ter visão sistêmica significa, então, enxergar o fenômeno administrativo como sendo cercado por outros com os quais interage dinamicamente, na produção de resultados. Ter visão sistêmica, portanto, contribui com a eficiência e com a qualidade dos serviços prestados. O administrador que possui visão do todo está mais preparado para enfrentar contingências externas, que raramente o pegam desprevenido. Pode ele, inclusive, com visão sistêmica, melhor contribuir com os sistemas periféricos que o cercam. Pág. 2 Já a visão contingencial deixa de lado essa abordagem sistêmica, para focar o futuro da administração na ocorrência de contingências. Uma contingência é um evento futuro provável, mas não certo, que pode afetar seriamente o trabalho de uma organização pública, como a mudança de governo, uma greve no setor, ou alterações repentinas na política institucional. É algo que pode ser tanto incerto quanto eventual, podendo suceder ou não, dependendo das circunstâncias. As características das organizações públicas são fortemente decorrentes do que existe fora delas: seu ambiente. O conhecimento do ambiente passou a ser vital para a compreensão dos mecanismos organizacionais do Estado. Atenção: A teoria contingencial age conforme as necessidades ambientais. As decisões tomadas são previamente confrontadas com as mudanças ocorridas no ambiente no qual a organização encontra-se inserida. Analisando a partir de uma visão contingencial, o ambiente é de extrema importância para a compreensão dos mecanismos organizacionais. Unidade 3 - Modernização administrativa no presidencialismo de coalizão Vimos na unidade anterior as visões sistêmicas e contingencial. Vamos agora apresentar aspectos do presidencialismo de coalizão que causam impacto em plano de modernização da máquina pública. A modernização administrativa tem sido a meta de diversos governos desde a década de 1930. Objeto de diversas reformas levadas a efeito, a modernização administrativa tem sido fortemente impactada pelas coalizões de forças políticas na base de apoio ao governo. Pág. 2 A moderna Administração Pública Podemos afirmar que, com as reestruturações feitas em diversas unidades do serviço público, surgiu um grande fenômeno chamado “moderna Administração Pública”. Essa modernização tende a ser vista por alguns críticos como uma ideologia com base no mercado. Porém, foi considerada por outros como uma Administração híbrida, com foco contínuo nos valores fundamentais do serviço público, embora expressa de uma nova maneira. No entanto, muitos concordam que a nova Administração Pública deva ser encarada como uma importante e significativa ruptura nos padrões da Administração do setor público. Atenção: Em resumo, a “modernização da Administração Pública” é um sistema de pensamento ideológico caracterizado pela importação de ideias geradas em áreas do setor privado para dentro das organizações do setor público”. Exemplos de ações nesse sentido seriam a eliminação do desperdício no setor, pelo desmonte dos sistemas de corrupção; a introdução de novos regulamentos, que sejam mais flexíveis em termos de gestão; a redução da diferenciação vertical, com adoção de estruturas decisórias mais horizontalizadas; o emprego de terceirização em atividades que a legislação assim o permita; a instituição de dispositivos de premiação/incentivo para os servidores. Pág. 3 Teoricamente, já existem modelos resultantes da tentativa de modernização da Administração Pública, quais sejam: Impulso para a eficiência Foi o primeiro modelo a representar uma tentativa de tornar o setor público mais parecido com a iniciativa privada, orientado por noções rudimentares de eficiência. Para alguns críticos, o modelo é inadequado, tendo sido importado da administração do setor privado sem levar em consideração, contudo, as características peculiares das organizações públicas. Downsizing e descentralização Esse modelo busca uma maior flexibilidade organizacional, o abandono do alto grau de padronização, o aumento da descentralização da responsabilidade estratégica e orçamentária, o aumento da terceirização e a separação entre um pequeno núcleo estratégico e uma grande periferia operacional. São elementos constitutivos do modelo: Mudança da gestão hierárquica para a gestão por contrato; Estruturas organizacionais mais horizontalizadas; Redução na folha de pagamento; Alianças estratégicas entre organizações. Pág. 4 Busca da excelência Trata-se de um modelo mais associado à corrente da “excelência”. Ou seja, tem a sua grande ênfase na importância da cultura organizacional. Enfatiza o papel dos valores, cultura, ritos e símbolos no modo como chefes e subordinados se comportam no ambiente de trabalho. Neste modelo há forte interesse na maneira como as organizações administram a mudança e a inovação, nas formas carismáticas de liderança, em lugar das formas tradicionais. Na Administração Pública existe uma tendência à preferência por instrumentos da Administração privada sem que se faça uma leitura crítica da real validade. Deve-se ter em mente que nem todas as práticas de gestão da atividade privada aplicam-se à atividade pública. Os instrumentos administrativos e as políticas que servem para a empresa privada, na exata forma em que foram concebidos, nem sempre são indicados para a Administração Pública. É certo, entretanto, que determinados princípios administrativos se aplicam ao setor público e ao privado com igual eficiência. Contudo, a simples transposição de um modelo empresarial de Administração à esfera Pública pode gerar consequências danosas às instituições governamentais, dentre elas, a perda da identidade. Na fase de concepção de um modelo administrativo para o setor público, há que se identificar as diferenças entre uma e outra instituições. Cada órgão da Administração Pública tem um objetivo distinto, definido por seu estatuto, regulamento ou lei que o instituiu. Sendo assim, a aplicação de um modelo gerencial nesses órgãos deverá passar por adaptações específicas, com base na estrutura da instituição que se quer “modernizar”, com foco na atividade-fim dessa entidade. Pág. 5 A modernização da Administração Pública, portanto, é um processo inevitável no desenvolvimento do setor governamental. A busca de um modelo gerencial eficiente, entretanto, passa por um amplo estudo de toda a máquina do Estado, em que se faz necessário conhecer as funções de cada componente da estrutura estatal. Desse modo, conhecendo os princípios administrativos voltados à eficiência gerencial, será possível identificar, examinar e eliminar as deficiências de cada órgão do setor público, bem como de cada regulamento, norma ou lei aplicada à esfera governamental. Ocorre que, desde a implantação do pluripartidarismo e da abertura política ao final do regime militar, pratica-se no País um presidencialismo de coalizão, onde para ter suas políticas levadas a efeito, o Executivo necessitava formar uma base de apoio com partidos e coligações, visando garantir a força necessária para a aprovação de matérias de interesse do governo no Congresso. No presidencialismo de coalizão, o Presidente da República cede ministérios inteiros e instituições da Administração Indireta a partidos políticos que montam estruturas de gestão próprias e fracamente engajadas num processo uniforme de administração gerencial. São nomeações políticas, que não necessariamente privilegiam a meritocracia, mas sim a manutenção do prestígio e do poder político, pela ocupaçãode espaço no governo. Unidade 4 - Ajuste fiscal de governo Ter as contas públicas superavitárias tem sido a meta de todos os governos havidos desde o processo político que ficou conhecido como redemocratização do país. O objetivo desta unidade é o de apresentar aspectos desse ajuste fiscal na Administração Pública. Com o intuito de financiar a construção de uma máquina administrativa proporcional à grandiosidade territorial brasileira, o governo do regime militar, ao invés de buscar recursos em poupança interna, que historicamente é insignificante no País, ou de praticar uma política tributária mais eficiente, optou por endividar-se no exterior, assumindo grandes compromissos financeiros – a chamada “dívida externa”. Com o passar dos anos, apenas o pagamento dos serviços da dívida, que são os juros pagos pelos empréstimos, onerou sobremaneira o orçamento público, levando à necessidade de reduzir-se o gasto de governo. Essa disposição governamental de redução de gastos deveu-se, inclusive, ao atendimento de metas do Fundo Monetário Internacional (FMI), órgão financeiro multinacional que empresta dinheiro novo para que os países endividados, como o Brasil, refinanciem suas dívidas, conforme condições impostas de saneamento nas contas públicas. Atualmente, devido a isso, as economias públicas de diversos países são influenciadas por metas prescritas pelo FMI. Pág. 2 Um dos quesitos de saneamento das contas públicas é o chamado resultado primário, que representa a diferença entre o que um governo arrecada e o que gasta. Caso esse resultado seja negativo, houve déficit primário, caso seja positivo, houve superávit primário. No Brasil, o saneamento das contas do governo seguiu dois rumos. O primeiro deles diz respeito à contenção da despesa de custeio da máquina, especialmente com o achatamento dos salários dos servidores e das aposentadorias pagas aos trabalhadores do regime geral e do serviço público. O outro rumo foi o da redução do investimento público em áreas relevantes como habitação social, educação e saúde, por exemplo. Essa vertente de redução do gasto público com servidores, aposentados e pensionistas explica a edição de três emendas constitucionais (nos 20, 41 e 47) apenas para as reformas previdenciárias do setor público, com reduções significativas dos benefícios dos servidores e aumento de requisitos para a aposentadoria. Some-se a isso a política de reajuste salarial do servidor, que passou por prolongado vazio durante os governos Collor e FHC. Pág. 3 Outro mecanismo para a redução de despesa foi a própria redução do aparelho do Estado, por meio das privatizações. Nos leilões das empresas estatais, contudo, o governo aceitou como moeda de pagamento os títulos da dívida pública, pelo valor de face, chamados por muitos críticos de “moeda podre”. Outro aspecto a ser considerado nesse processo foi a possibilidade de endividamento por parte dos compradores das empresas privatizadas com recursos oficiais do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). Em ambas as situações, a venda das estatais não implicou na entrada de dinheiro novo no cofre do governo, uma vez que o pagamento recebido era feito com recursos públicos tomados sob empréstimo e títulos públicos com pouco valor. O benefício advindo dessas privatizações, em termos de redução da carga de despesas, se deu com a eliminação de salários e demais custos trabalhistas, além do fim das despesas operacionais das empresas privatizadas. Atenção: O ajuste fiscal é, portanto, esse movimento de equilíbrio econômico entre receita e despesa pública. Para atender às metas do FMI, o governo deve gastar menos do que arrecada, e essa diferença, em favor da reserva orçamentária, leva ao chamado superávit primário. Pág. 4 A Lei Orçamentária Anual (LOA) Outro fator que contribui com o resultado primário é o contingenciamento orçamentário. A Lei Orçamentária Anual (LOA) estabelece a divisão do bolo orçamentário federal pelos diversos órgãos do Poder Público. Isso não significa, contudo, que cada um deles possa dispor do orçamento que lhe seja destinado. Por decreto, o Presidente da República, atendendo à política do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), contingencia porções desse orçamento, estabelecendo as reservas de contingência. Isso ganha o nome de “contingência”, pois serve para atender às despesas imprevistas. Caso estas não aconteçam, essa reserva deixa de ser utilizada e passa a compor o resultado primário. Críticos do modelo afirmam que, com o aumento do resultado primário, o dinheiro colocado em reserva deixa de atender às finalidades do Estado, que é o supremo interesse da sociedade. Assim, reduz-se a dívida pública financeira, aumentando-se, por outro lado, a dívida pública social, uma vez que carências da sociedade deixam de ser providas por serviços públicos de qualidade, enquanto que o cumprimento das metas do FMI passa a ser priorizado. Por fim, cabe mencionar que outro argumento empregado pelos críticos diz respeito a uma necessária auditoria dessa dívida externa, que, por muitos, é considerada já paga mais de uma vez. Unidade 5 - Os Agentes Públicos O Desenvolvimento Humano tem sido o principal desafio de modernidade para a Atividade Pública. Capacitar, fidelizar e motivar o agente público implica diretamente na qualidade do serviços prestados pela Administração. Tal é o desafio da finalidade pública, com a supremacia do interesse do cidadão. O objetivo desta unidade é o de classificar os tipos de agentes públicos existentes, abordando especificidades da área tais como o provimento de cargos comissionados e funções de confiança, a vedação ao nepotismo, a motivação e o empedramento do Servidor Público. "O tal cidadão, que fala tão imponentemente de importantes questões administrativas, é quase um analfabeto. O que fez ele? Arranjou servir adido à repartição que cobiçava, deixando o lugar obscuro que ocupava, numa repartição obscura do mesmo ministério. Tinha fortes pistolões e obteve. O diretor, que possuía também um candidato, para a mesma causa, aproveitou a vaza e colocou de igual forma o seu. Há um fim de ano de complacências parlamentares e todos eles arrancam do Congresso uma autorização, na cauda do orçamento, aumentando os lugares, na tal repartição cobiçada, e mandando também aproveitar os 'adidos'. Está aí a importância do homenzinho que não cessa de falar como um orador". Lima Barreto, O Trem de Subúrbios, 1921. Componente da maior relevância para a Administração Pública é o Agente Público, ou Agente do Estado. É ele quem define e faz operar a máquina pública, conforme os princípios já vistos neste estudo. Pág. 2 Dividem-se eles em duas categorias, que já citamos anteriormente: Agente Público político, que é o detentor de mandato eletivo, com período delimitado, nos poderes Executivo e Legislativo. Nessa categoria estão os que definem a Administração conforme premissas de natureza política, na forma de políticas públicas voltadas à gestão do Estado. Isso pode dar-se na forma das leis e por decretos emitidos pelos chefes do Executivo nas três esferas da federação. Já o Agente Público burocrático, ou administrativo, é aquele que faz funcionar a máquina do Estado, conforme as regras previamente definidas pelos agentes políticos. São eles os servidores públicos civis, os militares, os empregados públicos e, peculiarmente, os trabalhadores terceirizados. Indo do último para o primeiro da lista, parece estranho considerar-se o trabalhador terceirizado como um Agente Público. Porém, no exercício de seu trabalhopúblico, é exatamente nisso que ele se transforma. A terceirização não representa a adoção de um regime jurídico celetista pela Administração, posto que não se contrate trabalhadores diretamente, mas sim empresas prestadoras de serviços que colocarão seus empregados a serviço do Estado, na forma de um contrato firmado entre essa empresa e o Poder Público. Pág. 3 A presença do trabalhador terceirizado na atividade pública não é recente, datando do regime militar, mais uma vez na forma do Decreto-Lei nº 200, de 1967, que diz: Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. § 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução... Somente em 1997, por meio do Decreto nº 2.271, o Executivo regulamentou a contratação de serviços terceirizados, nos seguintes termos: Art. 1º No âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto de execução indireta as atividades materiais acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade. § 1º As atividades de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática, copeiragem, recepção, reprografia, telecomunicações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações serão, de preferência, objeto de execução indireta. § 2º Não poderão ser objeto de execução indireta as atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo extinto, total ou parcialmente, no âmbito do quadro geral de pessoal. ... Pág. 4 A terceirização de serviços A adoção da terceirização de serviços fez surgir uma nova classe de trabalhadores do Estado, representada pelos empregados de empresas prestadoras de serviços à Administração, regidos por legislação da iniciativa privada, sem vínculo de “subordinação dos empregados da contratada à administração da contratante”. A subordinação do empregado terceirizado se dá com seu empregador, que não é o Estado, mas sim a empresa prestadora. Acerca das responsabilidades trabalhistas, contudo, a Administração possui responsabilidade subsidiária à da empresa terceirizada. Por essa razão, deve o gestor do contrato assegurar-se que a empresa cumpre com suas obrigações trabalhistas para com os empregados prestadores de serviços. Não faz sentido hoje em dia, por exemplo, realizar-se concurso público para funções de motorista, serviços gerais ou ascensorista de elevador. Tais categorias de trabalhadores devem ser chamadas à Administração Pública por meio de contratações de empresas de mercado, na forma da Lei nº 8.666, de 1993. Isso aponta um rumo muito correto adotado pela Administração, que é o da especialização em suas atividades típicas, com o abandono de áreas para as quais a iniciativa privada apresente resposta eficiente. Pág. 5 Embora inexista vínculo funcional entre o trabalhador terceirizado de empresa privada contratada pela Administração com o órgão público contratante, esse empregado deve atuar e portar-se conforme as premissas da Administração Pública, enquanto esteja no exercício da prestação de serviços. Exemplo: Um trabalhador de empresa terceirizada que organize a fila de entrada em determinado órgão de governo onde haja atendimento ao cidadão, como um DETRAN estadual, deve portar-se com espírito público (agir com urbanidade, civilidade e educação; ser solícito, prestativo); deve atuar com impessoalidade. A respeito disso, a lei da improbidade administrativa (Lei nº 8.429, de 1992) alcança não apenas o servidor ou empregado público, mas também o particular, como segue: Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei. (grifos nossos) ... Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior. ... Pág. 6 Empregado público Fazem também parte da Administração, notadamente na Administração Indireta, os empregados públicos, que são os trabalhadores de empresas estatais e sociedades de economia mista, admitidos por processos seletivos análogos ao concurso público, para assumirem empregos públicos, regidos pela CLT, sem estabilidade. Um funcionário do Banco do Brasil, por exemplo, é um empregado público e não um servidor público. Valem para estes, contudo, as premissas da Administração Pública. Constitucionalmente, os militares não são considerados servidores públicos, cabendo-lhes legislação específica, com normas bastante distintas daquelas dos servidores, agravadas pelos princípios da hierarquia e da disciplina. Tanto é assim que, aos militares, não se aplicam as reformas previdenciárias levadas a efeito desde a década de 1990 – por exemplo, sua inclusão no instituto da previdência complementar privada do servidor público, previsto pela Lei nº 12.618, de 2012, que instituiu o regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo (FUNPRESP). Ao militar cabe, por exemplo, a prisão administrativa por delito funcional que pratique, sem direito a habeas corpus, fato que não existe para o servidor civil. Para o militar, inexiste a regra constitucional do ingresso por concurso público, sendo deixado o assunto para a deliberação de lei específica: Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela ... ... § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando sê- lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: ... IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos; ... X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra. ... Pág. 7 Por último, há a categoria dos servidores públicos civis, que podem ser compreendidos em servidores efetivos de carreira, ou simplesmente servidores efetivos, e servidores nomeados para “cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração” (CF, art. 37, II), ou servidores comissionados. A Lei nº 8.112, de 1990, prescreve que são requisitos básicos para investidura emcargo público, sendo proibida a participação em gerência ou administração de sociedade privada: Art. 5°.... I - a nacionalidade brasileira; II - o gozo dos direitos políticos; III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; V - a idade mínima de dezoito anos; VI - aptidão física e mental. Deve ficar registrado que a legislação da área é esparsa, cabendo ao chefe do Executivo de cada ente federado dispor acerca de seu quadro de servidores em legislações próprias. A Lei nº 8.112, que instituiu o regime jurídico único do servidor público, alcança apenas os servidores federais, na esfera da União. Deixando de ser, assim, uma legislação nacional. Pág. 8 Baseado em dados do IBGE, do Ministério do Trabalho e Emprego e de orçamentos públicos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou, em 2011, o Comunicado nº 110, intitulado Ocupação no Setor Público Brasileiro: tendências recentes e questões em aberto. São conclusões do Comunicado: A recomposição de pessoal na Administração Pública, na década de 2000, foi suficiente apenas para repor em parte os quadros de servidores que deixaram a atividade pública, principalmente por aposentadoria. O perfil dos servidores admitidos nesse período se deu em sua maioria nas áreas “estratégicas, tais como: advocacia pública, arrecadação e finanças, controle administrativo, planejamento e regulação”. Entre 1995 e 2010 ocorreu significativa redução do percentual de servidores públicos federais, com menor redução de percentual de servidores estaduais, em contraste com o aumento do percentual de servidores municipais. Essa tendência acompanha a lógica do municipalismo implantado na Constituição de 1988; Pág. 9 Ao longo da década de 2000, os gastos com pessoal do setor público mantiveram-se estáveis e dentro do controle do governo; Entre 1995 e 2010 observou-se elevação no nível educacional do servidor público, reduzido na esfera federal em 2002, devido ao elevado número de aposentadorias havidas nesse período. Pág. 10 Entre 2002 e 2010 houve recuo nos percentuais de servidores de serviços administrativos nas esferas da União e estados, com crescimento na esfera municipal. Isso se deve ao avanço da presença das tecnologias da informação (TI) na atividade pública, com disseminação inclusive nos cargos de chefia e direção, que incorporaram essas atividades em seus perfis. Isso reduz a necessidade de pessoal de apoio administrativo. Nos municípios, o crescimento percentual indica que nessa esfera o uso de TI ainda não seja tão evidente. Pág. 11 Formas de ingresso e estabilidade Acerca da legislação do servidor público, é o que considera Chiavenato (2008): “A legislação que regula as relações de trabalho no setor público é inadequada, notadamente pelo seu caráter protecionista e inibidor do espírito empreendedor. São exemplos imediatos desse quadro a aplicação indiscriminada do instituto da estabilidade para o conjunto dos servidores públicos civis submetidos a regime de cargo público e de critérios rígidos de seleção e contratação de pessoal que impedem o recrutamento direto no mercado, em detrimento do estímulo da competência” O que o autor pretende afirmar é que esse quadro de estabilidade e de reserva de atuação contribui para o desestímulo funcional do servidor efetivo, que, em meio a essas salvaguardas, não encontra estímulos para o desenvolvimento continuado e atuação eficiente na atividade. Nesse cenário, considera o autor haver forte tendência à estagnação profissional, com consequente má prestação do serviço público. É certo que o servidor público esteja fortemente influenciado pelo meio, como ocorre com qualquer trabalhador. Considerando que este atue em um ambiente que apresente carências de gestão, onde o desafio e a busca pela excelência não sejam premissas perseguidas pela organização, ou setor, o risco de que se instale uma cultura de desinteresse pela eficiência e qualidade torna-se real. Num ambiente assim, em que não se trabalhe aspectos de gestão e motivação funcional, dificilmente a renovação de quadros por concurso público, por exemplo, surtirá efeitos que durem além do médio prazo. Sem mudanças na cultura, que é o conjunto de valores e premissas adotados pelas pessoas, a realização de concurso público, o que teoricamente oxigenaria o ambiente com novos pensamentos e atitudes, deixaria de ser eficaz. Além disso, deve-se levar em consideração que os objetivos mais evidentes de quem hoje busca um emprego público nem sempre são o espírito público, ou a supremacia do interesse público, mas sim a estabilidade de emprego e o melhor salário, quesitos a princípio dissociados da qualidade na prestação dos serviços. Pág. 12 Outra crítica que se faz ao modelo do concurso público diz respeito à falta de regularidade de realização. Com isso, a cada concurso absorve-se uma quantidade grande de novos servidores, em intervalos longos sem que haja admissões. Isso torna desigual a distribuição dos servidores ao longo das carreiras, que são curtas, não indo além de 20% a distância entre o menor e o maior nível remuneratório. Quanto à perda do cargo público, a Constituição inclui três hipóteses em que isso ocorra: Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. Destes, o inciso III refere-se à perda do cargo por baixo desempenho, cuja avaliação seja periódica. Ocorre, contudo, que esse dispositivo ainda não vigora, posto que a mencionada lei complementar ainda não foi, até hoje, elaborada. O dispositivo foi acrescentado à Constituição pela Emenda nº 19, da reforma administrativa gerencial. Embora essa seja uma linha de raciocínio hoje posta, a estabilidade do servidor é uma garantia da continuidade da Administração Pública. Buscando proteger a máquina da gestão patrimonialista, que, provavelmente, submeteria à substituição os servidores por critérios clientelistas, o instituto da estabilidade garante ao agente público a proteção necessária de seu cargo para que atue na forma da lei, ainda que submetido a gestões temerárias. O servidor público, diante de situação de improbidade de que tome conhecimento, deve denunciá- la, sem que corra o risco da perda posterior do cargo, por perseguição política. Na mesma linha, o acesso por concurso público impede a seleção de servidores pelos critérios subjetivos da preferência política. É uma garantia de que o acesso ao cargo público seja facultado, por mérito, a qualquer cidadão que cumpra os pré-requisitos formais com impessoalidade. Art. 37. A administração pública direta e indireta... I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; ... Pág. 13 O cargo em comissão Além do ingresso no serviço público por concurso, a Constituição também faculta o livre provimento de cargo em comissão, para atribuições de direção, chefia e assessoramento. A nomeação em cargo em comissão que não atenda a essas necessidades incorre em desvio constitucional. É certo, contudo, que inexista definição fechadapara o termo “assessoramento”, e grande parte dos desvios e exageros hoje existentes decorre da interpretação ilimitada desse termo. Art. 37. A administração pública direta e indireta... ... II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (grifo nosso) ... V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; (grifo nosso) ... O servidor comissionado distingue-se do efetivo não apenas na origem de sua nomeação, mas também no modelo previdenciário, que decai sobre o regime geral do INSS. Em caso de licença por tratamento de saúde que seja superior a quinze dias, diferentemente do servidor em cargo efetivo, o comissionado passa a perceber benefício do INSS, conforme as regras e tetos remuneratórios daquele instituto. (Constituição Federal) Art. 39.... ... § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social. ... Pág. 14 No Poder Executivo, o cargo em comissão recebe o nome de Grupo – Direção e Assessoramento Superiores (DAS), que pode ser de 4 níveis – DAS 1, 2, 3 e 4. Devido à rigidez do concurso público/estabilidade, esse dispositivo acabou por representar alternativa para que a Administração recrutasse profissionais de mercado, sem estabilidade, para atuarem de forma mais alinhada com uma administração gerencial. É importante destacar, contudo, que esse recurso de livre provimento pode ensejar o desvio da finalidade pública, na forma patrimonialista da indicação política, o que muitos críticos chamam de aparelhamento do Estado. Pelo Decreto nº 5.497, de 2005, o Executivo fez dar cumprimento ao dispositivo constitucional que determina o estabelecimento de percentual mínimo de cargos DAS que devam ser providos por servidores efetivos a partir da data de sua vigência. Pág. 15 Vedação ao nepotismo Considerando o princípio constitucional da impessoalidade, a nomeação de familiares para cargos em comissão de livre provimento, manifestação explícita de patrimonialismo, é atitude inconstitucional. Pretendendo pôr fim a essa prática muitas vezes observada na Administração, o Supremo Tribunal Federal (STF) fez publicar no Diário Oficial da União, do dia 29 de agosto de 2008, a Súmula Vinculante nº 13, com o seguinte teor: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.” A referida súmula causou forte abalo nas áreas de recursos humanos da Administração, uma vez que tenha sido por demais abrangente na interpretação do nepotismo. Exemplo disso é o grau de parentesco, que, para o Código Civil, vai apenas até o 2º grau. Para regulamentar a aplicação da Súmula nº 13 na esfera do Executivo, o Presidente da República publicou o Decreto nº 7.203, de 2010, onde estabelece permissões e vedações para a nomeação de pessoal à luz da decisão do STF. Pág. 16 Instrumentos de motivação do servidor “Do ponto de vista dos quadros técnicos, gerenciais e operacionais, observa-se que a administração de recursos humanos carece da existência de um sistema de incentivos para o profissional, sendo patente a ausência de uma política orgânica de formação, capacitação permanente e de remuneração condizente com a valorização do exercício da função pública” (CHIAVENATO, 2008, p. 196) De fato, há que se admitir que sejam raros os dispositivos de motivação à disposição do gestor público para incentivar sua equipe. A ascensão por mérito se dá praticamente de forma automática, ano após ano, até que o servidor alcance o teto da carreira, sendo compulsória no segundo ano de mesmo nível remuneratório. É certo, porém, que haja a possibilidade de nomear-se o servidor para cargo em comissão, embora essa hipótese dependa da disponibilidade do cargo, o que ocorre em quantidade insuficiente para manter-se motivada uma equipe inteira. Um instituto motivacional empregado modernamente tem sido a gratificação por desempenho, incorporada aos planos de carreira de diversos órgãos públicos. Nele, o chefe pactua com o servidor as metas a serem atingidas, e este, após um período avaliativo, passa a perceber o percentual de gratificação de desempenho, em conformidade com o resultado alcançado. Nesse modelo, além de uma parcela avaliativa individual, há outra, que resulta da avaliação setorial da unidade em que atue o servidor. Essa avaliação coletiva estimula o trabalho cooperativo e fortalece critérios de cobrança entre colegas de um mesmo setor, posto que o resultado decorra do esforço de cada um. Esse é um modelo bastante desafiador para quem avalia, uma vez que as relações pessoais constituídas ao longo tempo tendem a interferir na isenção do processo avaliativo. Pág. 17 Há, ainda, em alguns órgãos de governo, a gratificação por especialização, constituída em níveis percentuais conforme os cursos de formação (graduação, especialização, mestrado, doutorado), ou ações de capacitação – como este nosso curso em Educação a Distância – que agregam valores à remuneração do servidor por iniciativa realizada. Sob o enfoque da capacitação continuada do servidor público, assim afirma a Constituição: Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios... ... § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados. ... Políticas consistentes de capacitação costumam surtir bom efeito na motivação dos servidores. Uma meta razoável nesse sentido seria conseguir que cada servidor realizasse, ao menos, uma ação de capacitação por ano. A capacitação contribui para a requalificação dos quadros que tiveram seus cargos extintos, ou que foram remanejados para outros órgãos, uma vez que as demandas da Administração evoluem e são hoje distintas daquelas existentes quando do ingresso do servidor na carreira. Para tanto, é necessário que os órgãos públicos desenvolvam planos plurianuais de capacitação, como afirma Chiavenato (2008): “A política é composta de dois elementos básicos: cursos genéricos com conteúdos uniformes para diferentes públicos-alvo (gerentes, pessoal de apoio etc.), que reflitam um diagnóstico de necessidades comuns a toda a Administração Pública, e cursos específicos, relativos à área de atuação dos órgãos e dos servidores. Adicionalmente, prevê-se que atividades de capacitação sejam incluídas entre os requisitos paraa promoção nas diversas carreiras” Pág. 18 Essa política de capacitação deve considerar que, devido à escassez de renovação de quadros na Administração havida nas últimas décadas, os servidores hoje egressos de concurso público, notadamente bem capacitados, convivem com servidores antigos que estão próximos da aposentadoria, e que, muitos deles, encontram-se desatualizados de maneira bastante precária. São públicos distintos, cujas especificidades devem ser consideradas. Inclusive, é salutar desenvolver-se planejamento para incentivar os servidores a que desfrutem da licença-capacitação, instituída no Regime Jurídico Único, pela mesma lei que extinguiu a licença-prêmio. Depois de transcorridos cinco anos de exercício, o servidor tem direito a três meses de licença-capacitação para realizar curso financiado pela Administração. (Lei nº 8.112, de 1990) Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: ... V - para capacitação; (redação dada pela Lei nº 9.527, de 1997) ... Nada mais justo, portanto, que esse esforço de capacitação do servidor seja refletido em sua remuneração, quer seja pela ascensão na carreira, quer seja por meio de uma gratificação de especialização. Pág. 19 Para encerrar esta breve abordagem acerca dos dispositivos de motivação para o servidor público, destacamos citação de Chiavenato (2008), que, com lucidez, aborda o tema em perspectiva: “Torna-se, assim, essencial repensar o sistema de motivação dos servidores públicos brasileiros. Não há dúvida que a motivação positiva fundamental é aquela relacionada com o sentido de missão do servidor. Para o servidor público é mais fácil definir esse sentido do que para o empregado privado, já que a atividade do Estado está diretamente voltada para o interesse público, enquanto que a atividade privada só o está indiretamente, através do controle via mercado. Entretanto, em momentos de crise e de transição como o que vivemos, o papel do Estado e do servidor público ficam confusos. A ideia burocrática de um Estado voltado para si mesmo está claramente superada, mas não foi possível ainda implantar na Administração Pública brasileira uma cultura de atendimento ao cidadão-cliente. A segunda motivação é a da profissionalização do serviço público, não apenas através de concursos e processos seletivos públicos, mas principalmente através de um sistema de promoções na carreira em função do mérito acompanhadas por remuneração correspondentemente maior. Essa motivação é fundamental, mas já vimos que não pode ter a rigidez peculiar às carreiras burocráticas. É preciso garantir a profissionalização sem a correspondente rigidez da burocracia. Finalmente, é essencial contar com uma motivação negativa, possibilitada através da demissão por insuficiência de desempenho. Embora secundária em relação às motivações positivas, não há dúvida que sem ela será muito difícil, senão impossível, levar o funcionário comum a valorizar o seu emprego”. Pág. 20 Empowerment Uma das formas mais efetivas de se conquistar a motivação dos servidores em um cenário que seja restritivo em termos de premiações remuneratórias é o “empoderamento” das pessoas. Dessa maneira, o servidor passa a se considerar responsável e protagonista do processo produtivo. Além disso, a natural descentralização daí resultante acaba por liberar tempo para que gestores se dediquem a assuntos mais estratégicos, como pensar a organização ao longo do tempo. É o que afirma Chiavenato (2008) sobre o empoderamento: “Eles (os gestores) precisam abandonar rapidamente os antigos métodos de comando autocrático e de controle coercitivo sobre as pessoas, adotar o compartilhamento de ideias e de objetivos comuns e dotar os subordinados de empowerment. É o fortalecimento das pessoas por meio do trabalho em equipe. O ‘empoderamento’ das pessoas passa, obrigatoriamente, por cinco providências fundamentais: 1) Participação direta das pessoas nas decisões; 2) Atribuição de responsabilidades pelo alcance de metas e resultados. 3) Liberdade para que as pessoas escolham métodos e processos de trabalho, programas de ação, com a ajuda e o apoio do gestor; 4) Atividade grupal e solidária e trabalho em equipe. Equipe, equipe e mais equipe. Tudo deve ser feito em trabalho conjunto. Dessa maneira, o servidor passa a se considerar responsável e protagonista do processo produtivo. 5) Avaliação do próprio desempenho da equipe. A auto avaliação é um importante meio de retroação e de melhoria constante” Sob esse novo prisma, o gestor assume mais o papel didático e desenvolvedor, incentivando o grupo na busca de suas soluções, das quais toma parte mais como um treinador, coach, do que propriamente um chefe. Ao invés de assumir posição de superioridade, muitas vezes arrogante, o líder assume papel na retaguarda, de garantidor de recursos, de legitimador da autonomia da equipe. Unidade 6 - Liderança, mudança, cultura e clima, transparência Novas tendências de desenvolvimento de pessoas têm despontado na administração como ciência social de forma muito evidente nas organizações mais avançadas do setor privado. Trazer leituras traduzidas de tais tendências sob o enfoque da Administração Pública para o setor do estado é via de desenvolvimento institucional altamente recomendável. O objetivo desta unidade é o de descrever o modelo gerencial dos administradores públicos, abordando aspectos de mudança organizacional, cultura, clima e transparência na atividade pública. Pág. 2 Liderança Na administração pública, a chefia e a direção são exercidas por servidores efetivos, ou comissionados, investidos nos cargos em comissão. No Executivo, esses são os cargos do Grupo-DAS. Nos demais Poderes, para os encargos de chefia e direção, há designações equivalentes. Acerca do provimento desses cargos, percebe-se existir forte movimento no sentido de que os cargos de chefia sejam exercidos por servidores de carreira dos órgãos. Isso se dá por apresentarem eles ficha corrida com experiência de trabalho, além de mais amplo conhecimento de suas próprias organizações. Assim, os servidores efetivos apresentam-se mais preparados para, em suas organizações, exercitarem o comando. Além disso, o forte espírito de corpo existente nas organizações públicas costuma garantir maior apoio por parte de servidores do quadro para gestores que sejam dentre eles selecionados. Essa é a situação de alguns dos ministérios do Executivo, que têm, para o cargo de Secretário Executivo (maior cargo depois do de Ministro), provimento por servidor do próprio ministério. Quando em posições de comando, servidores efetivos costumam atuar de forma mais institucional, isenta e autônoma, uma vez que, para eles, a perda do cargo não implica o desligamento da Administração. Servidores comissionados, por outro lado, preservam-se mais na condução de suas gestões, pois, para eles, a saída do cargo representa o desemprego. O servidor comissionado costuma manter relação mais próxima e atitude mais alinhada com a autoridade nomeante. Assista ao vídeo "Como se forma Capital Humano" ( http://bit.ly/1HOstw1) com uma entrevista com o Professor Chiavenato. Duração: 1min44 Atenção: Caso não consiga visualizar o vídeo: 1) seu a cesso a o Youtube pode estar bloqueado; 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.adobe.com/br/flashplayer/) Pág. 3 Em termos gerais, especialmente em face do presidencialismo de coalizão já abordado neste estudo, administrações mais técnicas, profissionalizadas e focadas no desempenho institucional privilegiam servidores efetivos para posições de gestão,sem prescindir de servidores comissionados para a função de assessoramento técnico. Administrações mais orientadas pela política e pelo exercício de poder costumam adotar para suas posições de comando servidores sem vínculo efetivo. Atualmente, são cada vez mais frequentes na Administração as carreiras de gestão, nas quais seus membros sejam preparados especificamente para essa atribuição. Nelas, o servidor aprovado em concurso público específico passa por um processo de capacitação que o prepara para exercer a função de gestor público. Essa é uma tendência que resulta de maior preocupação com a administração gerencial. Nesse caso, ao invés de elevar-se à posição de gestor um servidor de carreira comum, cujo foco de formação profissional não tenha sido o gerenciamento, opta-se por um profissional qualificado e apto, conhecedor tanto da administração geral, quanto da pública. Falamos até aqui de autoridade formal, que é aquela praticada em função do exercício de um cargo de comando, oficialmente provido dentro da estrutura de um organismo público. Sabe-se, contudo, que embora seja socialmente reconhecida, essa autoridade formal não tem a capacidade, por si só, de conquistar genuinamente o reconhecimento e a aceitação social, ou seja, nem sempre os chefes formais são os mais preparados para conduzirem suas equipes. Pág. 4 Liderança, por outro lado, não decorre de investidura formal. É qualidade intrínseca da pessoa, que pode ser assimilada ou desenvolvida e que diz respeito à consideração, credibilidade e capacidade de influência que o líder exerce sobre determinado grupo. Vejamos o que afirma Chiavenato (2008): “O grau em que uma pessoa demonstra qualidades de liderança depende somente de suas próprias características individuais, mas também das características da situação na qual se encontra. A liderança é função das necessidades existentes em uma determinada situação e consiste em uma relação entre um indivíduo e um grupo” ... “A liderança é realizada pelo processo de comunicação humana. Ela pode ser definida como a arte de induzir as pessoas a cumprirem suas obrigações com zelo e correção. É a capacidade de influenciar as pessoas a fazerem aquilo que devem fazer. O líder exerce influência sobre as pessoas, conduzindo suas percepções de objetivos em direção aos seus objetivos”. Dessas citações, pode-se concluir que o líder deva ser, antes de tudo, um bom comunicador. A comunicação institucional quem sabe seja uma das maiores precariedades de gestão nas organizações públicas. Muitas vezes, o chefe deixa de ser claro em suas comunicações, e o servidor deixa de saber o que dele se espera. Pág. 5 Esse processo de indução exercido pelo líder sobre seus subordinados resulta, especialmente, da relação de confiança estabelecida em equipe. O líder deve inspirar confiança no grupo, deve servir de modelo e exemplo para os que com ele compõem a equipe. Ao mesmo tempo em que o líder precisa conquistar a confiança da equipe, deve ele próprio conhecê-la, individualmente, de forma que se torne capaz de exercitar aquilo que mais enriquece o trabalho em equipe, que é a delegação. Sabe-se que uma das dificuldades mais frequentes no serviço público é o recrutamento de talentos dentro das organizações, visando à formação de equipes. Em geral, os líderes da área devem moldar seus esquemas de gestão às pessoas com quem podem contar, com limitada capacidade de escolha. Isso torna a habilidade de liderança ainda mais desafiadora. Ao invés de simplesmente solicitar ao RH do órgão que providencie um servidor com determinadas habilidades, deve ele conhecer os servidores que estão ao seu lado, identificar neles competências, desenvolvê-las, e delegar-lhes tarefas que estejam em conformidade com essas competências individuais. O processo de avaliação da equipe pelo líder deve ser permanente. Ele deve ser capaz de dialogar com os servidores, informando pontos que devem ser melhorados, deve passar ensinamentos, estimular as pessoas no sentido do melhor desempenho. Servidores com desempenho inferior ao que deles se espera devem ser capacitados e motivados. O líder deve tomar o cuidado de não praticar injustiça distributiva, que ocorre quando o servidor de menor desenvoltura é deixado com menos atribuições, enquanto que o de melhor performance fica sobrecarregado de tarefas. Isso desestimula a equipe. Pág. 6 Em termos de estilo, pode-se classificar o processo de liderança em: No estilo autocrático, o líder assume papel centralizador, dominador e autoritário, exercendo acentuada pressão sobre a equipe. As pessoas se sentem tensas e infelizes no trabalho. No estilo liberal, prepondera a pouca participação e interesse do líder, que não contribui com as decisões, sempre tomadas pelo grupo. Nessa situação, o líder não avalia nem regula o grupo. Nesse estilo, desponta o individualismo dos componentes, com destruição do espírito de grupo, acirramento da agressividade e desprestígio do líder. Já o estilo marcado pela gestão democrática, ou participativa, é aquele que surte melhores resultados. Nele há satisfação e felicidade funcional. As pessoas correspondem mais apropriadamente ao que delas seja esperado, apresentando acentuado espírito de comprometimento e responsabilidade. Nesse estilo, o líder exerce seu papel, sem desviar-se de seus objetivos, privilegiando a autonomia das pessoas, demonstrando confiança e tranquilidade para delegar. Pág. 7 Mudança Infelizmente, o servidor público de maneira geral ainda não está se preparando para o processo de mudança pelo qual vem passando a Administração Pública desde a década de 1990. Considerando-se, supostamente, protegidos pelo instituto da estabilidade, muitos servidores deixaram de se preparar para o futuro da atividade, que, a cada dia, exige mais profissionalismo e conhecimento. Atuar ao lado de servidores com elevada formação, perfil típico dos que têm sido, recentemente, egressos dos concursos públicos, é um desafio que se apresenta para a geração mais antiga e, ainda, mais numerosa na área. Isso se agrava quando se considera que, desde a última reforma previdenciária, a da Emenda nº 47, de 2004, esses novos servidores perderam direito à integralidade e paridade de suas aposentadorias. Aqueles que ingressarem na atividade pública já a partir de 2012, estarão sujeitos ao teto de aposentadoria do INSS. São realidades muito distintas que passam a coexistir na Administração, o que já tem sido fonte de conflitos. Acerca dessas reformas previdenciárias, deve-se considerar que o instituto do direito adquirido não é aplicado aos que ainda estão na carreira. Para estes, reconhece-se a mera expectativa de direito, o que não lhes tem assegurado as condições vigentes originalmente na época do ingresso no serviço público. Esse choque de gerações, agravado pela evidente disparidade de vantagens, tende a propiciar conflitos para os quais os gestores públicos devem estar atentos. A forma como se conduzem as políticas públicas da área tem tornado a solidariedade entre as gerações de servidores um valor cada vez menos considerado. Engana-se, portanto, o servidor que se imagine imune às mudanças que se operam na Administração. Delas, devem todos participar e a elas se antecipar, de forma que as contingências não os tornem despreparados e inaptos para atuar em novos cenários. Pág. 8 São atitudes positivas para a boa gestão do processo de mudança: esteja atento ao seu ambiente de trabalho e avalie o futuro de forma realista; desenvolva-se sempre: estude, leia matérias relacionadas à AdministraçãoPública, participe com desenvoltura das capacitações promovidas por seu órgão, faça cursos de especialização e mestrados profissionais; desenvolva sua percepção do ambiente: avalie oportunidades e riscos; deixe de ser reativo e passe a ser proativo: com previsão e visão de futuro, antecipe-se aos acontecimentos; demonstre interesse pelos assuntos do órgão, ou setor, ainda que não componham seu processo de trabalho; prepare-se para a mudança – é certo que ela acontecerá e o alcançará, estando você pronto para ela ou não; amplifique sua visão de si próprio: aprenda a observar-se como se fosse outra pessoa; seja ético e fortaleça o espírito de equipe: a união fortalece o grupo nos momentos de crise, que, geralmente, antecedem as mudanças; seja conhecido, tenha tempo, seja lembrado; conduza a sua própria mudança: seja o seu principal agente. A título de subsídio adicional para o melhor enfrentamento do processo de mudança, recomenda-se a leitura do texto “Quem mexeu no meu queijo?”. Disponível na Internet, trata-se de uma abordagem motivacional bastante didática acerca do impacto que a mudança tem na vida profissional, e pessoal, das pessoas. Pág. 9 Cultura e clima organizacionais “A cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças, que foram estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas e que são compartilhados por todos os membros da organização. A cultura espelha a mentalidade que predomina em uma organização... a cultura organizacional mostra aspectos formais e facilmente perceptíveis, como as políticas e diretrizes, os métodos e os procedimentos, os objetivos, a estrutura organizacional e a tecnologia adotada. Contudo, oculta alguns aspectos informais, as normas grupais, etc. Os aspectos ocultos da cultura organizacional são os mais difíceis não somente de compreender e interpretar, como também de mudar ou de sofrer transformações.” (CHIAVENATO, 2008, p. 224) Importando essa definição de cultura corporativa para o contexto da Administração Pública, podemos traçar com bastante clareza seus aspectos mais evidentes, sendo alguns deles os que mais carecem de transformação. O primeiro deles é a cultura da desconfiança, fortemente arraigada na burocracia pública. O excesso de normas e leis que, a cada dispositivo, ordenam procedimentos, papéis e ameaças de penalidade aos servidores que deles se afastem. Essa lógica da concentração na atividade meio, no processo em detrimento do resultado, representou um avanço lá no princípio da organização da máquina do Estado, ao tempo de Vargas, onde prevalecia o interesse do administrador. Hoje, porém, esse exagero regulatório deixou de ser necessário. A falta de indicadores de qualidade dos serviços prestados demonstra o aspecto cultural do menosprezo ao controle de qualidade, uma vez que somente se pode avaliar aquilo que se pode medir e comparar com padrões mínimos de qualidade. Pág. 10 Outro aspecto cultural muito típico do serviço público é o apego ao formalismo, com baixo interesse pela inovação. Há o pensamento de que “na Administração sempre foi assim”, que a área está imune a perturbações devido à falta de concorrência. Tudo isso tende a lançar o servidor na área de conforto, do desinteresse pelo desenvolvimento profissional e pela passividade diante da mudança. A cultura das organizações públicas tende a se mostrar conservadora, com valores e tradições arraigadas ao longo do tempo e de difícil modificação. Como consequência disso, resulta o descrédito por parte da sociedade, que vê, no serviço público, o espaço da ineficiência e do atraso. Isso incomoda sobremaneira o cidadão que contribui com uma pesada carga de impostos. Em termos de mudança cultural, a grande meta da Administração Gerencial é a de promover autêntica renovação de valores, tornando a cultura dos órgãos de governo mais adaptáveis e flexíveis, onde se substitua o controle e a desconfiança pela eficiência e o resultado positivo. Diferentemente da cultura, o clima é o ambiente psicológico onde transcorre a atividade produtiva, refletindo-se diretamente na qualidade do ambiente e no grau de motivação da equipe. O clima é um dos componentes importantes do contexto organizacional para a definição do grau de satisfação, ou de insatisfação, das pessoas. É certo, então, que o clima impacte diretamente na produtividade da equipe, em seu grau de comprometimento. Esses são valores sutis que determinam o índice de sucesso do grupo. “Clima organizacional constitui o meio interno de uma organização, a atmosfera psicológica e característica que existe. O clima é o ambiente humano dentro do qual as pessoas executam seu trabalho. O clima pode se referir ao ambiente dentro de um setor, ou de um órgão inteiro. O clima não pode ser tocado ou visualizado, mas pode ser percebido psicologicamente... o clima influencia o comportamento das pessoas.” ... “O clima organizacional influencia a motivação, o desempenho humano e a satisfação no trabalho” (CHIAVENATO, 2008, p.229) Pensando em clima organizacional, assista ao vídeo "Relacionamento na Empresa" com Max Gehringer (http://bit.ly/1MFAZAQ) Duração: 5min57 Atenção: Caso não consiga visualizar: 1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado; 2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.adobe.com/br/flashplayer/) Pág. 11 Diante disso, fica muito claro que o clima de uma organização pública seja fortemente influenciado pelo ambiente exterior. Em que ponto ter sido o salário do servidor divulgado na Internet afeta seu clima interno de trabalho? Essa é uma questão que deve ser muito bem avaliada. A imagem do servidor público tem passado, desde a década de 1990, por um acentuado processo de desconstrução. A generalização dos casos de corrupção descobertos tem afetado essa imagem, pois leva a sociedade a agravar sua visão sobre o servidor. Esse nível de descontentamento manifesto é certo que realimenta o sistema emocional do funcionalismo, que deve ser capaz de renovar o clima interno do órgão, em favor de sua finalidade pública, que deve ser bem desenvolvida. Levando a questão ao nível da micro administração, o chefe do setor é responsável por manter o clima interno de seu grupo em condições ideais para o melhor funcionamento. Uma chefia autoritária, centralizadora, propensa à desconfiança, tende a propiciar um clima de incerteza, tensão interna, com infelicidade laboral. Chefias democráticas, que incentivam os servidores, destacam os acertos e abordam os erros de forma crítica e construtiva, favorecem o estabelecimento de um clima de confiança, de energia positiva. Fica claro que esta segunda possibilidade promova de forma bem mais eficiente a qualidade e a produtividade. Reconhece-se que a figura do servidor público tem sido alvo das políticas de ajuste fiscal, com cortes de salários e benefícios. Infelizmente, as políticas dessa natureza colocam gasto com funcionalismo antes como um custo, do que como investimento. Essa é uma tendência que a administração gerencial reverte. Nela, o agente público é o protagonista do sucesso de governos bem avaliados. Pág. 12 Dentre outras, são entradas do sistema motivacional que interferem no clima corporativo de uma organização de governo: cultura organizacional; boa comunicação; oportunidades de crescimento; salário; possibilidades de capacitação; estilo de liderança; ambiente externo; consciência de significado do trabalho. As saídas, se positivas, são: o melhor desempenho; a produtividade elevada; a qualidade dos serviços prestados; a inovação. A preocupação do gestor e da própria equipe, portanto, deve ser a garantia de que as variáveis de entrada propiciem saídas positivas. Exemplo: um ambiente em que o clima seja de insegurança, desinformação e farta circulação de boatos, provavelmente carece de boa comunicação. Reunir a equipe com regularidade, passar informações ao grupo, utilizar melhor os canais de comunicação existentes, como o e-mail e o quadro de avisos, dentre outros, costuma reverter essa situação ruim. O clima organizacional pode ser medido, a partir de pesquisas de clima, por meio de questionários respondidos pela equipe e tabulados conforme as técnicas de aferição. Essas pesquisas costumam apontar precariedades que devem ser atingidas em etapas subsequentes. Nada pior do que erguer a expectativa de mudança nas pessoas, com a realização da pesquisa de clima, para, em seguida, nada acontecer. “O importante é salientar que o gestor pode não ter muitas condições pessoais de intervir e de modificar a cultura organizacional de sua entidade. Todavia, quase sempre ele tem plenas condições de alterar e melhorar o clima organizacional do seu departamento ou da sua equipe de trabalho, seja intervindo nos elementos que o compõem, seja atuando nas variáveis de entrada que influenciam as variáveis dependentes que produzem resultados na organização.” (CHIAVENATO,2008, p.231) Pág. 13 Transparência Uma das premissas mais significativas da Administração Pública modernamente tem sido a da transparência, representada pelos Portais da Transparência, e pela Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527, de 2011). O assunto é disciplinado com tanta gravidade na Constituição, que a ele foram dedicados dispositivos de três artigos, quais sejam: Art. 5º.... XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; ... Art. 37.... ... § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: ... II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; ... Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro... ... § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. ... Fica patente, portanto, que o acesso à informação pública deve ser franqueado ao cidadão comum, ou a entidades organizadas, com a ressalva de sigilo apenas para casos definidos em lei. Isso aponta a necessidade de organização e sistematização da informação produzida nos órgãos públicos. Os servidores devem estar conscientizados de que as informações que produzem ou manipulam devem ser devidamente preservadas e guardadas, de forma que se favoreça o acesso imediato. Com esse objetivo, os Poderes organizaram portais de informações, onde constam dados de contratos públicos e execução orçamentária, e também sobre seu quadro de servidores e remuneração. Pág. 14 É notória a agilidade conquistada ao se colocar a informação disponível para o cidadão valendo-se dos recursos da Internet. O Executivo, por exemplo, desenvolveu o Governo Eletrônico que é um verdadeiro portal de informações públicas inteiramente disponíveis para consulta. No Senado Federal, o portal da transparência pode ser acessado na opção de menu “transparência” de seu sítio. Com a entrada em vigência da Lei de Acesso à Informação, a gestão estratégica da Administração, em seus três poderes, decidiu colocar os salários nominais dos servidores para o livre acesso das pessoas na Internet, a título de cumprimento da Lei. Embora essa exposição não esteja manifestamente expressa, foi interpretação da Lei que fundamentou a decisão. Fato é que o controle social tem fortemente contribuído para uma verdadeira mudança na cultura de órgãos públicos. Cada vez mais, o patrimonialismo, atualmente ainda existente apenas em posições bastante isoladas, se vê constrangido e menos liberto para agir. Isso contribui com a necessária evolução que se deve dar ao ordenamento jurídico da área, onde, com menos riscos de mau uso da máquina devido ao controle social, pode-se adotar regulamentos menos rígidos e mais flexíveis, condição indispensável para o atingimento da administração gerencial. Pág. 15 Acerca do controle social, há que se considerar que a Constituição vai além da mera necessidade de acesso às informações públicas. Nela, há dispositivos que expressamente facultam aos usuários dos serviços públicos instrumentos de denúncia contra serviços mal prestados. A mencionada lei, até o momento, ainda não foi editada. Art. 37.... § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; ... III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. Unidade 7 - Qualidade total na Administração Pública A metodologia da Qualidade Total tem marcado fortemente o desenvolvimento das organizações privadas, numa evolução em que a sutileza tem representado o diferencial na conquista e fidelização do mercado. O objetivo desta unidade é o de destacar os fundamentos da Qualidade Total, com interpretações desses princípios sob o enfoque da Atividade Pública. Pág. 2 Na administração como ciência, o conceito de qualidade despontou com maior evidência a partir da massificação da produção, quando passou a existir a necessidade de padronização de produtos que deixaram de ser manufaturados, passando a ser produzidos em processos industriais. Em face de uma produção em larga escala com baixa intervenção humana, tornava-se necessário garantir que cada item não fugisse de suas características básicas de projeto, que deveriam estar presentes em todo o lote produzido, com as menores variações possíveis. Originalmente, o controle de qualidade por inspeção foi anterior isso, datando de antes mesmo da Revolução Industrial. Nos primórdios da indústria moderna, a inspeção era feita pelo próprio artesão, que tinha interesse em fazer produtos segundo especificações rigorosas, que atendessem suas próprias exigências estéticas ou que impressionassem positivamente os clientes. Esse modo de inspeção do produto continua hoje sendo praticado pelos consumidores nas feiras livres, nos supermercados e no comércio de produtos artesanais, com a finalidade de encontrar o que melhor atenda às suas necessidades e interesses. Num cenário de produção massificada, contudo, passaram a ser adotados controles estatísticos de qualidade, com aferição de lotes pinçados aleatoriamente do volume total produzido. Definiu-se um índice máximo aceitável de desconformidade e, o que excedia a esse valor, era retirado da linha produtiva. Assim, um bem produzido em uma fábrica de determinada marca deveria ser idêntico ao produzido em outra fabrica, ao ponto de que não fosse possível distinguir a origem de um e outro. Com o passar do tempo e com a especialização dos métodos produtivos, que passaram a propiciar maiores
Compartilhar