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SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
Unidade II
O “desenvolvimento”, entendido como fenômeno geográfico global (Yves 
Lacoste), é um conceito relativamente recente. Ele esteve completamente 
ausente dos manuais escolares no imediato pós‑guerra dedicados a África, 
Ásia e América Latina. Na melhor das hipóteses, informam‑nos em 1963 
do desenvolvimento do ensino e de “projetos de equipamentos de energia 
hidrelétrica que devem permitir o desenvolvimento econômico da Guiné”. 
Nenhuma menção ainda aos níveis de desenvolvimento, os problemas de 
desenvolvimento de jovens estados independentes ou prestes a sê‑lo.
Apesar da pobreza em equipamentos, da falta de capital, das dificuldades 
no desenvolvimento agrícola e do crescimento da população serem 
mencionados, eles estão sempre isolados e por si mesmos. As sínteses e os 
resumos que aparecem no final dos capítulos sobre as pessoas e as empresas 
adotam um discurso simplificador centrado no dualismo progresso/tradição, 
civilizado/primitivo para justificar mais facilmente, sem dúvida, a empresa 
colonial (FRANÇOIS, 2003, tradução nossa).
Aberto o caminho, iremos apresentar as visões (conceitos, crenças e teorias) de desenvolvimento 
liberal, desenvolvimentismo, sociologia do desenvolvimento em linha reta e o desenvolvimento pela 
diversidade cultural das práticas sociais e depois pela visão de influência etnológica de desenvolvimento 
original, com seus instrumentos culturais próprios. 
Também debateremos as posições existentes entre o desenvolvimento determinado em linha reta e 
o desenvolvimento pela diversidade cultural das práticas sociais e, daí, proporemos alternativas.
5 VISÕES DO DESENVOLVIMENTO CONCENTRADO E O DEBATE SOBRE 
SUBORDINAÇÃO E DEPENDÊNCIA: TEORIAS E CONCEITOS 
A especialidade é geralmente determinada pela natureza do seu âmbito temático 
de investigação: falamos de sociologia rural, sociologia urbana, sociologia do 
trabalho ou da educação, estritamente pela natureza de uma área geográfica de 
intervenção, sociologia do Terceiro Mundo, raramente, por seu projeto.
Algumas palavras, ao passarem para a linguagem corrente, tornam‑se 
desconhecidas, e portanto Sociologia do Desenvolvimento poderia ter toda 
a obsolescência da terminologia comtiana: sociologia da ordem, sociologia 
do progresso. Ou aquela das finalidades morais (LOMBARD, 1982, p. 245, 
tradução nossa).
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Unidade II
O que não se pode aceitar é a hipótese […] segundo a qual os atuais 
padrões de consumo dos países ricos tendem a generalizar‑se em escala 
planetária. Esta hipótese está em contradição direta com a orientação geral 
do desenvolvimento que se realiza atualmente no conjunto do sistema, da 
qual resulta a exclusão das grandes massas que vivem nos países periféricos 
das benesses criadas por esse desenvolvimento. Ora, são exatamente esses 
excluídos que formam a massa demográfica em rápida expansão (FURTADO, 
1974, p. 81‑2). 
[…] a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas 
de vida dos atuais povos ricos é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de 
forma irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, 
no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema 
capitalista (FURTADO, 1974, p. 83). 
Neste momento do raciocínio, o foco recai sobre a Sociologia do Desenvolvimento que, 
embora seja campo interdisciplinar, é ramo da Sociologia. É preciso, pois, considerar o processo 
de desenvolvimento.
O processo de desenvolvimento implica a consideração de países desenvolvidos e subdesenvolvidos. 
Diante desse discurso, intelectuais como Celso Furtado e Fernando H. Cardoso elaboram a Teoria da 
Dependência para explicar o sistema que pereniza a relação de subordinação de uns países por outros, 
bem como dirige a modernização e as diretrizes da pesquisa e implantação tecnológica. 
Estamos mantendo os dois eixos de tratamento das transformações sociais, um como expressão 
do ser social (complexidade e pluralidade) e aquele do desenvolvimento convencional e imperialista 
(redução linear, evolucionismo).
Antes de falar das ciências do desenvolvimento, tratemos do desenvolvimento, que é seu objeto.
Desenvolvimento
A ideia de desenvolvimento como performance internacional apresenta‑se 
dissociada das estruturas sociais, simples expressão que é de um pacto entre 
grupos internos e externos interessados em acelerar a acumulação. Portanto, 
tem um conteúdo estreitamente economicista. Ignorando as aspirações – 
conflitantes ou não – dos grupos constitutivos da sociedade, ela aponta 
para o simples transplante da civilização industrial concebida como estilo 
material de vida originado fora do contexto histórico do país em questão 
(FURTADO, 2008, p. 108).
Faríamos apenas uma inserção nas colocações de Celso Furtado: não tomaremos o país como 
agente privilegiado (o Estado‑nação é o agente privilegiado das ciências sociais clássicas, seja 
da Economia, da Geopolítica, da Geografia Política), embora fundamental, pois é no local que 
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as pessoas de carne e osso vivem. O mercado não pode ser um todo abstrato que se coloca 
sobre e apesar das pessoas; precisa ser uma ligação democrática entre pessoas, grupos legítimos 
autoconstituídos e seus lugares.
Cabe reiterar advertência de diálogo entre as disciplinas que nos segue desde o início: tanto a noção 
corrente ou do senso comum de desenvolvimento (nas ruas ou na academia) quanto o conceito rigoroso 
são construções sociais, portanto políticas, econômicas, geográficas e, neste trabalho, principalmente, 
culturais. Tal interdisciplinaridade é referida por Alessandro André Leme e Antônio Brasil Júnior (2014). 
Os autores também mencionam que a “relação entre cultura e economia já se encontra em Weber, 
em sua teorização clássica sobre as afinidades eletivas entre um ethós protestante, caracterizador de 
condutas e práticas sociais, e uma linha de ação específica na esfera econômica” (LEME; BRASIL JR., 
2014, p. 10). Diretamente em Weber:
A casuística etnográfica, tanto muito interessante quanto até agora 
incompletamente desenvolvida, das diferentes fases de desenvolvimento 
das associações políticas primitivas não pode ser exposta neste lugar. 
Mesmo em condições de propriedade de bens relativamente desenvolvidas, 
uma associação política especial e até todos os seus órgãos podem faltar por 
completo (WEBER, 1999, p. 161‑2).
E Weber segue discorrendo sobre demandas e institucionalizações de organizações sociais não 
capitalistas, antigas ou suas contemporâneas, que nos permitem inferir de seu relato padrões distintos 
de deliberações e formas diversas de progresso, porém com a mesma finalidade moral universal: resolver 
problemas (obstáculos à sobrevivência) e melhorar a condição de vida. 
Então, a ideia de desenvolvimento associa‑se àquelas de transformações e de movimento. A realidade 
movimenta‑se e desafia a teorização. Como é o mundo em que vivemos? Como se constitui nosso 
entorno, nossa realidade? Há um complexo de diretivas que ordena e conforma os indivíduos nas várias 
dimensões sociais (economia, política, cultura, território), uniformizando cada um, apesar da diversidade 
territorial e das histórias localizadas. Para Walter Frantz (2010, p. 11):
[...] cria e desenvolve um modo novo e universal de pensar e agir. Cada 
vez mais as pessoas são construídas (conformadas) pelos valores da lógica 
capitalista. Da lógica capitalista nasce uma ampla estrutura de controle socialque não se reduz apenas ao poder de apropriação da mais‑valia econômica, 
mas na apropriação do próprio modo de ser das pessoas. Corre‑se o risco de 
unidimensionalizar a vida: cada vez mais os aspectos econômicos orientam 
e dão sentido à vida. Tudo o que estiver fora do sentido da dimensão 
econômica da vida perde em importância. 
Entre as principais transformações na vida social, estão o consumismo associado ao gigantismo e 
poder político e econômico das corporações, desagregação social, perda de significados e rapidez das 
relações com valores inconsistentes.
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Economia, cultura, lazer, trabalho e paisagens tornam‑se mercadoria e, segundo Walter Frantz: 
Buscar compreender o mundo em transformação é tarefa da Sociologia. A 
sua compreensão é condição básica para poder participar ativamente do 
processo de desenvolvimento da sociedade. A Sociologia pode contribuir para 
que a sociedade, isto é, os seres humanos, tomem consciência de si mesmos 
e de seus problemas. É pela Sociologia que se busca explicar e compreender 
a atuação dos seres humanos, a partir das relações que estabelecem entre 
si no processo de construção da vida. Exatamente nesse ponto de partida, 
contudo, é que começa a polêmica que se expressa em diferentes teorias 
explicativas a respeito da convivência social ou contradições, no campo 
da economia, da política, da cultura, da educação, enfim, nos espaços da 
dimensão humana. (FRANTZ, 2010, p. 13).
Para esse autor, desenvolvimento é um processo complexo e polêmico: 
[...] um fenômeno que engloba Economia, História, Geografia, política, cultura, 
ciência, tecnologia etc. É um processo que abrange também as relações dos 
seres humanos com a natureza e as relações sociais entre si, orientadas 
por aspectos da vida social, seja da economia, da política, da cultura 
etc. Trata‑se de um processo social que contém necessidades, interesses, 
contradições por meio dos quais os seres humanos constroem seus espaços 
de vida. Explicar tudo isso é tarefa da Sociologia, especialmente o processo 
do desenvolvimento. Existem diferentes definições de desenvolvimento 
(FRANTZ, 2010, p. 14).
Para Biderman, Cozac e Rego: 
[...] o conceito de desenvolvimento surgiu com a ideia de progresso, ou seja, de 
enriquecimento da nação, conforme o título do livro de Adam Smith, fundador 
da Ciência Econômica. O pensamento clássico, tanto na linha liberal como na 
marxista, via no aumento da produção a chave para melhoria do bem‑estar 
social, e a tendência foi assimilar o progresso ao produtivismo. Hoje, já 
ninguém confunde aumento da produção com melhoria do bem‑estar social. 
Mede‑se o desenvolvimento com uma bateria de indicadores sociais que vão 
da mortalidade infantil ao exercício das liberdades cívicas. Desse ponto de 
vista, o Brasil apresenta um quadro muito pouco favorável, pois é um dos 
países em que é maior a disparidade entre o potencial de recursos e a riqueza 
já acumulada, de um lado, e as condições de vida da grande maioria da 
população, de outro. O crescimento econômico pode ocorrer espontaneamente 
pela interação das forças do mercado, mas o desenvolvimento social é fruto 
de uma ação política deliberada. Se as forças sociais dominantes são incapazes 
de promover essa política, o desenvolvimento se inviabiliza ou assume formas 
bastardas (BIDERMAN; COZAC; REGO, 1996, p. 64). 
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SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
 Saiba mais
Ver também: 
OLIVEIRA, F. de. Elegia para uma re(li)gião. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1987.
SEM, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2000.
Cassio Antunes de Oliveira, no texto em destaque a seguir, apresenta três diferentes abordagens do 
desenvolvimento. 
Consolidação de eixos de desenvolvimento econômico no estado de São Paulo
“O capitalismo global está muito mais preocupado em expandir o domínio das 
relações de mercado do que, por exemplo, em estabelecer a democracia, expandir a 
educação elementar, ou incrementar as oportunidades sociais para os pobres no 
mundo.” Amartya Sen.
Antes de iniciar as considerações sobre a temática do desenvolvimento, é válido deixar 
registrado uma afirmação de Joseph Alois Schumpeter que deve servir para que o leitor 
reflita a partir de seu juízo de valor. De acordo com Schumpeter (1954), “o observador 
analítico é, ele mesmo, produto de um meio social dado – e de sua situação pessoal nesse 
meio, o que condiciona a ver certas coisas preferentemente às demais, e para que as veja 
a partir de um ponto de vista determinado” (p. 4). Esta reflexão sobre a perspectiva de 
visão do autor deve ser constantemente lembrada pelo leitor, que também, certamente, 
possui um pensamento, de certa forma, condicionado. E são dessas condicionalidades que 
brotam as diferentes visões de uma mesma problemática, tornando, certamente, cada 
estudo, singular.
A noção de desenvolvimento é amplamente utilizada pelo senso comum e pela 
academia, situação semelhante ocorre com a noção de exclusão social, conforme 
Dupas (2001) e com a noção de espaço, conforme Santos (2008a). Sua utilização 
pode ser identificada tanto como feita pelo senso comum, por exemplo, ao se referir 
a uma pessoa que “desenvolve um trabalho”, quanto pela academia, e esta última de 
diversas maneiras, os exemplos podem ser observados nos títulos das obras. Há obras 
de Celso Furtado e Ignacy Sachs, cujos títulos são respectivamente “Desenvolvimento 
e subdesenvolvimento” e “Espaço, tempos e estratégias do desenvolvimento”. Mas, o 
fato de desenvolvimento ter se tornado uma palavra polissêmica não quer dizer que 
se deve excluí‑la dos textos científicos e discursos. Ao contrário do que afirma Esteva 
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(2000), a noção desenvolvimento não se tornou vazia de significado, entre outras 
coisas pelo fato de ser utilizada por diferentes pessoas e de diferentes maneiras. Caso o 
pesquisador tenha o cuidado de explicitar em sua concepção o sentido em que emprega 
os conceitos, noções e termos em seu texto, não será muito trabalhoso compreender o 
texto, mesmo utilizando palavras polissêmicas. É com essas preocupações que se deve 
esclarecer qual a relação entre o desenvolvimento e os eixos.
De modo bastante simplificado e arbitrário, há condições de se dizer que há, no 
presente momento histórico, três sentidos ou correntes em que o desenvolvimento é 
abordado. O primeiro é o mais conhecido e o mais disseminado, trata‑se de uma concepção 
em que há o objetivo de que todos os países, estados e municípios se desenvolvam a 
partir da estrutura do modo capitalista de produção. É dessa concepção que se deve 
partir para se compreender o significado atribuído à expressão “países desenvolvidos” 
e “países em desenvolvimento” que, sem sombra de dúvidas, é bastante conhecido pelo 
senso comum e pelos acadêmicos. Nesse caso, o desenvolvimento pode ser entendido por 
meio dos cálculos de Produto Interno Bruto (PIB) e PIB per capita, números da balança 
comercial, crescimento industrial etc. Esta primeira compreensão de desenvolvimento não 
é composta por pessoas que colocam como preocupação fundamental a possibilidade de 
escassez dos recursos naturais como um dos fatores mais importante do desenvolvimento 
(essa preocupação começou a tomar vulto apenas na segunda metade do século XX). 
A preocupação maior é com a interpretação das formas de acumulação de ativos, e 
da expansão cada vez mais acentuada do consumo e do poder de consumo, o objetivo 
principal é identificaros mecanismos estruturais da acumulação. Até meados da segunda 
metade do século XX, essa forma de compreender o desenvolvimento era basicamente 
hegemônica, as outras duas correntes de pensamento não tinham praticamente nenhum 
espaço nos meios midiáticos e acadêmicos.
Esta primeira corrente teve origem nos clássicos do pensamento econômico do 
século XVIII e XIX como Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx (embora Marx tenha sido o 
primeiro a apontar a possibilidade de escassez dos recursos naturais e com as desigualdades 
sociais), e no século XX Myrdal, Galbraith, Stiglitz e a maioria dos pensadores da Comissão 
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), como exemplo, Celso Furtado (também 
demonstrou ter ciência dos problemas de escassez de recursos).
O segundo sentido, ou a segunda corrente, é a que compreende o desenvolvimento 
da mesma forma que a primeira corrente, mas com a inserção de duas preocupações que 
atraíram a atenção de um número grande de intelectuais e de cidadãos comuns. Essas 
duas preocupações são a de diminuição das desigualdades sociais e a da sustentabilidade. 
A pobreza sempre existiu no capitalismo, mas era difícil demonstrá‑la, por exemplo, 
por meio de análises econômicas. Até o final da década de 1980, era comum, nos 
estudos comparativos entre países que focavam a pobreza, utilizarem o PIB per capita 
como parâmetro (TORRES et al, 2003). Deste modo, a pobreza era visível, mas a ajuda 
internacional precisava de números estatísticos para fazer a distribuição da ajuda e melhor 
planejar os seus projetos de combate à pobreza e à desigualdade social. Jannuzzi (2003) 
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aponta que sem indicadores (analfabetismo, nível de pobreza, tamanho populacional, 
etc.) seria praticamente impossível qualquer governo ou instituição aplicar com precisão 
os investimentos e criar e manter projetos sociais.
Nesse contexto, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi elaborado e, por mais 
que seja criticado, muitas vezes com razão, o IDH significou um golpe para os países 
desenvolvidos e para os organismos de ajuda internacional. Uma vez que com o IDH foi 
possível revelar que países como Serra Leoa possuía IDH menor que 0,300, enquanto 
o da Noruega é próximo de 1. Escancarou‑se a pobreza e a miséria de uma forma que 
até então era ofuscada. Por um lado, é lógico que a concepção de desenvolvimento 
humano vinculada ao IDH é a dos países capitalistas ocidentais. Por outro, a maioria 
das populações dos países pobres almejam condições de vida mais próxima dos padrões 
modernos, do que as de seus antepassados, e isto foi potencializado pelo aumento de 
pessoas vivendo em cidades. Além do mais, o IDH serve mais como um parâmetro para 
se elaborar índices adaptados com as condições locais de cada região do que como um 
indicador que deve ser adotado às cegas. O estado de São Paulo serve de exemplo, pois 
a Fundação Seade elaborou os indicadores IPRS e IPVS baseados no IDH, mas que levam 
em conta as particularidades do estado.
A outra preocupação é com a sustentabilidade que se tornou obsessão nesse início de 
século XXI. No caso da sustentabilidade, pode‑se afirmar que, se por um lado, pode haver 
realmente a preocupação em preservar os recursos naturais na conservação do planeta; por 
outro lado, a sustentabilidade e as práticas sustentáveis tornaram‑se em mais um nicho de 
mercado, em uma ideologia para alguns. Há geração de lucros com a exploração da ideia da 
sustentabilidade. A produção e comercialização de produtos orgânicos, por exemplo, pode 
ser vista como um nicho de mercado. Enfim, qualquer empresa que queira conquistar maior 
confiança do consumidor lança mão de referências à responsabilidade ambiental. Um bom 
exemplo são os domínios eletrônicos na internet das empresas, uma vez que, em quase 
todos os sites das empresas dos eixos que foram visitados, há duas seções interessantes: a 
de responsabilidade social que mostra os programas sociais que a empresa está envolvida e 
a de responsabilidade ambiental.
A conservação ambiental tornou‑se mais uma estratégia da psicoesfera para as 
empresas. Fora essa estratégia, há também o uso da preocupação ambiental, que 
aparece na mídia com diversas facetas: aquecimento global, efeito estufa, meio 
ambiente, sustentabilidade etc., na forma de produtos ambientalmente corretos, como 
exemplo, sandálias feitas de pneu e lona de caminhão. Pouco se questiona se o gasto 
com energia para fabricar as mercadorias feitas com produtos reciclados corretamente 
(como as sandálias de pneu, as embalagens de perfume feitas com papel reciclado) 
é menor do que os que não o são, mesmo levando‑se em conta, nos últimos anos, a 
retirada de matéria‑prima do planeta para sua elaboração.
Pode‑se perceber claramente a vinculação entre consumir serviços que, a princípio, não 
deveria ter nada a ver com conservação ambiental e [com] a conservação da natureza.
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[Em] imagem retirada de uma revista que possui publicação semanal, há na publicidade 
uma vinculação entre adquirir financiamento de veículo e preservar a Mata Atlântica. É 
importante salientar que este tipo de apelo da publicidade é cada vez mais comum nos 
diversos meios de transmissão de informação. Há que se esclarecer também que as iniciativas 
de conservação ambiental e de usos mais racionais dos recursos disponíveis ao Homem 
no planeta são importantes, mas junto a estas ações conservacionistas, deve‑se, também, 
discutir o modo de produção dominante nesse início de século XXI.
Frente a essas considerações, é interessante registrar que é fato que a maioria das empresas 
e dos países incorporou definitivamente a preocupação e as práticas ambientais, e aconselham a 
todos a preservar e conservar o planeta. Mas há algo que não é comentado nem pelas empresas 
e muito menos pelos governos, trata‑se de aconselhar as pessoas a consumirem menos produtos. 
Isto sim surtiria efeito significativo para o mundo que se legará às futuras gerações. Aliás, os 
presidentes dos Estados Unidos e Brasil (Barack Obama e Lula, respectivamente) no âmago da crise 
de 2007/2008 conclamaram aos seus respectivos cidadãos para intensificarem o consumo para 
contribuir no sentido de que seus países superassem a crise. Há uma contradição no que se refere 
à preocupação ambiental na reunião no Fórum Econômico Mundial (FEM), que reúne os principais 
governantes em Davos na Suíça para discutirem as reduções de gases poluentes, uma vez que as 
metas propostas certamente não serão alcançadas.
As crises do petróleo em 1973/1979 e a reestruturação produtiva com suas práticas 
produtivas flexíveis, provavelmente, significaram economias de energia e de matéria‑prima 
muito mais eficientes do que toda essa propaganda e falácia sobre a conservação ambiental 
e a sustentabilidade conseguiu até o presente.
Os principais autores desta segunda corrente são: Ignacy Sachs (1986) com o 
ecodesenvolvimento, José Eli da Veiga (2006) e Amartya Sen (2000; 2010).
A terceira corrente é minoritária, principalmente porque suas reflexões estão fora do 
paradigma de desenvolvimento vigente, e porque seus expoentes têm, como convicção, que 
a sociedade até o momento tomou rumos inadequados no sentido de busca de melhoria 
do bem‑estar social. Para esta corrente, os processos de promoção do desenvolvimento 
estão equivocados e deve‑se dar uma guinada na direção de conduzir para uma forma de 
organização da sociedade em que haja bem‑estar de fato, e não a propagada diminuição 
drástica do consumismo.
A verdadeira qualidade de vida seria baseada em diminuição do ritmo frenético constatado 
em muitasmetrópoles, uma vez que não seria necessário mais a produção de quantidades tão 
grandes de produtos considerados supérfluos e nem o avanço tecnológico precipitado tal qual se 
tem. Os dois argumentos são, de certa forma, verdadeiros e difíceis de serem contestados. Basta 
dar uma volta pelos calçadões das grandes cidades para constatar a quantidade de produtos 
supérfluos e “descartáveis” que existem nas lojas, como exemplo, capas de celulares, enfeites para 
residências, embalagens com excesso de material e gasto e tinta etc., e isto se agrava nas vésperas 
de final de ano com as montanhas de enfeites de natal.
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O pior é que a grande quantidade de trabalho, matéria‑prima e serviços empregados 
na produção desses enfeites e embalagens terão valor durante um mês, em seguida serão 
direcionados ao lixo, e tudo recomeça no próximo ano.
Em relação ao avanço tecnológico precipitado há, por exemplo, a utilização quase 
total de sementes de soja transgênicas nas lavouras brasileiras e muito pouco se sabe das 
consequências dos transgênicos na saúde humana. Lembrando que o óleo de soja é o tipo 
de óleo mais utilizado na culinária brasileira, além disso, a soja também é base na ração de 
frangos e outros animais. Os principais autores desta terceira corrente de pensamento são 
Ted Trainer (1989) e Gustavo Esteva (2000). 
O excerto a seguir exemplifica o que Trainer (1989) defende.
“Qualquer solução para o problema dos limites para o crescimento tem que envolver 
uma enorme redução nas taxas de consumo per capita de recursos e energia dos países ricos 
do mundo. Consequentemente, a primeira implicação é tirar vantagem das alternativas 
que existem para a redução da produção desnecessária, diminuindo ou eliminando muitos 
produtos supérfluos, desenvolvendo produtos duráveis e que possam ser consertados, 
reciclando, descentralizando para que as pessoas possam ir trabalhar sem carros e reduzindo 
o custo dos recursos de muitos de nossos sistemas, especialmente trazendo‑se a produção 
de alimentos para mais perto de onde serão consumidos. O primeiro princípio deve ser a 
aceitação de estilos de vida conservacionistas muito mais simples e menos sofisticados” 
(TRAINER, 1989, p. 212).
Não se pode negar que esta é uma proposta muito interessante, mas não é viável se 
não for transformado drasticamente o modo capitalista de produção, e Trainer (1989) não 
conseguiu fazer apontamentos significativos para essa transformação, embora percebesse 
o problema.
“Entretanto, há problemas não técnicos bastante consideráveis bloqueando a transição 
necessária. O maior deles é que ela não pode ser compreendida em larga escala em uma 
economia basicamente capitalista, uma vez que envolve não somente a mudança para uma 
economia na qual haveria muito menos produção e consumo que no momento, mas uma 
mudança para uma economia de não crescimento, para um modo de vida que tem outros 
objetivos que não o enriquecimento constante em termos materiais e consumistas. Tais 
princípios são totalmente incompatíveis com uma economia capitalista, que não consegue 
funcionar sem a máxima possível de atividade comercial e um aumento constante de 
investimentos, produção e consumo ao longo do tempo” (p. 214).
Em suma, ser contrário às ideias de Trainer (1989) e Esteva (2000) requer capacidade 
argumentativa bastante convincente. O grande problema é transformar suas propostas 
em realidade. Para que isso ocorra, é necessário lutar contra os interesses dos países mais 
desenvolvidos e das corporações, controladores de grande parte do sistema produtivo 
mundial. Em outras palavras, há que se transformar toda uma mentalidade economicista 
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reinante nas mentes da maioria das pessoas que vivem nos países influenciados pelos 
modos de vida ditados pelo modo capitalista de produção. Não se deve esquecer que 
essa conjuntura produtivo‑econômico‑social foi moldada pela organização estrutural do 
capitalismo ao longo de mais de dois séculos.
Na Geografia, entre os autores consultados, o autor que mais se aproximou de 
uma proposta plausível e mais próxima da de Trainer (1989) e Esteva (2000) talvez seja 
Milton Santos principalmente no seu livro intitulado Por outra globalização, que foi 
publicado em 2001. Isto é, pelo fato de o autor apontar sobre os possíveis processos 
que promoveriam a guinada dos “de baixo”, mostrando sua tomada de consciência e 
suas atitudes transformadoras na sociedade, tratar‑se‑ia finalmente de uma outra 
natureza de desenvolvimento.
“Estamos convencidos que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento 
de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países 
ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo 
liberado partícipe das novas massas e não acorrentado; o pensamento livre e não o discurso 
único” (SANTOS, 2003, p. 14).
Assim, buscar compreender as diferentes concepções de desenvolvimento serve como 
possibilidades para ampliar as discussões sobre a noção de desenvolvimento e as maneiras 
de compreendê‑la nos textos que a utilizam, que são importantes para as ciências sociais.
Por último, deve‑se alertar ao leitor que a primeira corrente apresentada coincida com 
a maneira mais apropriada em que se deve tratar o desenvolvimento para se compreender 
a consolidação dos eixos de desenvolvimento econômico. O desenvolvimento, nesse caso, 
não deve ser tratado com significado próximo ou como sinônimo de liberdades individuais 
e coletivas e nem com qualidade de vida. Essas noções devem ser discutidas partindo‑se de 
suas próprias denominações, ou seja, a qualidade de vida deve ser estudada como “qualidade 
de vida” e não como desenvolvimento ou liberdades. A vinculação entre desenvolvimento 
e qualidade de vida e liberdades, na verdade serve para fomentar a ideologia impressa 
na concepção de desenvolvimento vigente nos discursos políticos e em muitos textos 
científicos. O desenvolvimento de que fala Souza (2009) e Sen (2000; 2010) se confunde 
com a concepção de desenvolvimento de Sunkel e Paz (1976), Furtado (1974) e Schumpeter 
(1988), mas não se tratam essencialmente da mesma concepção. Por essa razão seria mais 
apropriado Souza (2009) e Sen (2000; 2010) apenas se referir à autonomia, ao contrário de 
“desenvolvimento como autonomia” no caso de Souza e de liberdades (sociais ou individuais) 
ao contrário de “desenvolvimento como liberdade” no caso de Sen.
Assim, continuar a associar nas interpretações de desenvolvimento temas como a 
qualidade de vida, a autonomia (individual e coletiva) e as liberdades serve para dissimular 
em um conceito avanços que não ocorrerão sem que se altere de forma estrutural o 
modo de produção dominante. Muito do que se acrescenta à noção de desenvolvimento 
não se concretizará, uma vez que são propostas “atraentes”, mas significativamente 
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incompatíveis com um modo de produção cuja finalidade principal do trabalho humano 
sob seus auspícios é a acumulação de riquezas. Essas propostas são bem‑sucedidas se o 
capitalismo também o é.
Adaptado de: Oliveira (2011, p. 30‑8).
Mesmo um intelectual radicalmente crítico, como Yves Lacoste (1975, p. 159‑60), assume boa parte da 
via linear civilizatória, típica do iluminismo e de quem quer levar o modo correto de se organizar aos demais 
(prática danosa, mesmo quando tem boas intenções); é disso que se trata o processo civilizatóriode que Darcy 
Ribeiro fala tão bem. Lacoste, usando a escala de valores do desenvolvimento capitalista, discorre que: 
Se alguns caracteres do subdesenvolvimento são muito antigos (a fome), 
outros são muito mais recentes (situação de subordinação econômica), 
outros enfim surgiram há alguns decênios (ampliação do crescimento 
demográfico e tomada de consciência). E a combinação progressiva destes 
fatores de natureza variada que fez surgir na superfície do globo a situação 
de subdesenvolvimento (LACOSTE, 1975, p. 159‑60).
É claro que podemos questionar seus parâmetros, mas podemos encontrar traços comuns aos 
países pobres; mesmo que sua pobreza possa ter sido causada por sua própria inserção na economia 
internacional via colonialismo e imperialismo. O autor expõe um levantamento das características 
básicas que a “grande maioria dos países do Terceiro Mundo” apresenta em uma lista:
• Insuficiência alimentar.
• Recursos negligenciados ou desperdiçados. 
• Grande número de agricultores de baixa produtividade. 
• Industrialização restrita e incompleta. 
• Hipertrofia e parasitismo do setor terciário. 
• Situação de subordinação econômica. 
• Violentas desigualdades sociais. 
• Estruturas tradicionais deslocadas. 
• Ampliação das formas de subemprego e trabalho das crianças. 
• Baixa integração nacional. 
• Graves deficiências das populações. 
• Aumento do crescimento demográfico. 
• Lento crescimento dos recursos de que dispõem efetivamente as populações. 
• Tomada de consciência e uma situação em plena evolução.
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 Observação
Radical é termo que se atribui a um sujeito com a qualidade de ir às 
raízes das coisas, por isso é uma propriedade fundamental do cientista e 
daqueles que procuram a verdade. 
Ele próprio, depois de tentar sistematizar o subdesenvolvimento, faz um adendo às suas observações 
e ensaia relativizá‑las: 
É verdade que em cada país subdesenvolvido encontram‑se outros caracteres 
e fatores que tornam a combinação ainda mais complexa. Mas estes fatores 
que só se estendem a uma parte do Terceiro Mundo, ou que são próprios a 
um ou dois países somente, não são fundamentais. São fatores secundários 
ou aspectos particulares de um fator geral.
É fato que, segundo o país, os elementos da combinação são mais ou menos 
acentuados. Atualmente, pode‑se mesmo verificar que, em alguns Estados, 
certo número (dois ou três) destes fatores fundamentais estão ausentes. Na 
realidade existiram até uma época recente, mas foram progressivamente 
encobertos, ou foram bruscamente suprimidos. Suas consequências são, 
contudo, ainda perfeitamente discerníveis (LACOSTE, 1975, p. 159‑60).
Lacoste (1975, p. 160) assume que a “combinação que forma o subdesenvolvimento não é estática 
e estável. Ela é ao contrário eminentemente evolutiva”, e fala da tomada de consciência da parte das 
populações de sua própria condição.
 Observação
As principais categorias e indicadores nessa via de desenvolvimento são: 
• O Produto Interno Bruto (PIB).
• O Produto Nacional Bruto (PNB).
• Indicadores de renda, escolaridade e propriedade, para identificação 
do grau de desenvolvimento.
• O Índice de Desenvolvimento Humano e o Brasil (IDH).
• Outros indicadores do desenvolvimento social.
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 Saiba mais
Recomenda‑se o material de referência para pesquisa:
SANDRONI, P. Dicionário de economia e administração. São Paulo: Nova 
Cultural, 1996.
Sobre o desenvolvimentismo, veja o que afirma Pereira:
O pensamento econômico brasileiro no pós‑guerra não se estruturou 
nos meios acadêmicos como havia ocorrido na formação econômica dos 
países desenvolvidos. Desde o início, formou‑se uma visão econômica 
politicamente engajada na defesa da industrialização, o chamado 
desenvolvimentismo. As ideias‑força do desenvolvimentismo eram: 1) a 
industrialização é a via da superação da pobreza e do subdesenvolvimento; 
2) um país não consegue industrializar‑se só através dos impulsos do 
mercado, sendo necessária a intervenção do Estado (intervencionismo); 
3) o planejamento estatal é que deve definir a expansão desejada dos 
setores econômicos e os instrumentos necessários; 4) a participação do 
Estado na economia é benéfica, captando recursos e investindo onde o 
investimento privado for insuficiente (PEREIRA, 2011).
Já a respeito da Sociologia do Desenvolvimento, Martins apresenta o seguinte:
Por isso (JK promete avançar 50 anos em 5), temas como crescimento 
econômico/desenvolvimento econômico, planejamento econômico, 
subdesenvolvimento, pleno emprego, substituição de importações, 
Divisão Internacional do Trabalho, deteriorização dos termos de troca, 
centro/periferia que compunham o léxico econômico tornam‑se 
referência para as interpretações sobre a realidade brasileira do 
período (1950). […]. Nesse momento, as ciências sociais, em especial 
a Sociologia, se debruçaram sobre a problemática do desenvolvimento 
brasileiro, enfrentando de forma particular a questão nacional do Brasil 
de meados do século XX. Nesse sentido, é possível associar aqueles 
temas aos que compuseram as discussões específicas nas Ciências 
Sociais, tais como mudança social, atraso/moderno, desenvolvimento 
social, planejamento social, reforma social, crise, revolução social, 
imperialismo, nação, alienação, transplantação (MARTINS, 2010).
Após algumas palavras sobre o desenvolvimento, passamos às considerações sobre Sociologia do 
Desenvolvimento.
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Wallerstein (apud FRANTZ, 2010, p. 14) afirma a Sociologia do Desenvolvimento como esforço 
de compreensão dos processos de mudança e transformações, apontando diferentes teorias sobre 
desenvolvimento. Afirma‑se um campo de conhecimento: 
[...] a Sociologia do Desenvolvimento, que procura entender e explicar 
como esse fenômeno humano se processa historicamente. A Sociologia do 
Desenvolvimento é um campo de investigação que se afirmou no século 
20, portanto é relativamente novo. A discussão sobre desenvolvimento 
tomou corpo, especialmente, após a Segunda Guerra Mundial, por volta da 
segunda metade do século passado, quando se ampliou o foco do debate, 
incorporando dimensões não econômicas.
Sociologia do Desenvolvimento
A Sociologia do Desenvolvimento, como um campo decorrente da Sociologia Geral, 
constituiu‑se no contexto da expansão da sociedade capitalista, especialmente a partir do 
capitalismo industrial e de sua internacionalização. Na América Latina e no Brasil, portanto, a 
discussão sobre desenvolvimento se aprofundou, especialmente, no contexto das discussões 
da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – Cepal. O quadro de mudanças e 
transformações passou a desafiar os teóricos das Ciências Sociais, no sentido de se entender 
a direção do processo de expansão da urbanização, vinculada ao avanço do capitalismo. A 
partir desse esforço de entendimento estruturou‑se a Sociologia do Desenvolvimento.
No histórico da constituição da Sociologia do Desenvolvimento, portanto, cabem 
fenômenos sociais como: a industrialização e o surgimento de novas potências industriais; 
a afirmação do capitalismo monopolista, apropriando‑se do mercado e pondo fim à 
livre concorrência; o surgimento de novos Estados, envoltos em conflitos políticos, 
ideológicos, culturais, econômicos; a transformação dos processos produtivos, por meio da 
modernização tecnológica, provocando resultados positivos e negativos, como a riqueza, apobreza, a desestruturação de processos produtivos milenares, a europeização do mundo, 
dos mercados, da cultura, da política, da economia, do pensamento; a submissão do campo 
à cidade; o consumo de massa; a globalização (HARTFIEL, 1976).
De modo sucinto, segundo Hartfiel, pode‑se aceitar a afirmação de que a industrialização 
da economia e a internacionalização do sistema capitalista levaram ao surgimento da 
Sociologia do Desenvolvimento. A necessidade de explicar, de compreender os fenômenos 
da expansão capitalista e da industrialização, no sentido de sua afirmação ou negação, 
levou à elaboração de diferentes teorias sociológicas sobre desenvolvimento. Existem 
diferentes teorias a respeito do desenvolvimento, ou seja, diferentes opiniões e ideias – 
isto é, explicações – com relação ao fenômeno do desenvolvimento das sociedades. Teorias 
procuram explicar fenômenos. Essas explicações se enquadram em paradigmas, isto é, 
em modelos explicativos, em grandes linhas explicativas, que se fundamentam em visões 
teóricas amplas, como a estrutural‑funcionalista e a histórico‑crítica. Aqui, vale lembrar o 
esforço de explicação teórica do imperialismo e da dependência.
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Nas teorias sobre o desenvolvimento, estão as concepções de sociedade que orientam sobre 
a direção do processo de desenvolvimento. A Sociologia do Desenvolvimento não é apenas o 
estudo das teorias a respeito do desenvolvimento. Não é apenas a constatação das mudanças, 
mas a análise dos processos, das forças em ação e reação, dos fatores que levam à mudança 
e da compreensão de seu direcionamento que interessa à Sociologia do Desenvolvimento. 
A Sociologia se serve das teorias para esclarecer os processos de desenvolvimento, a direção 
do fenômeno de alteração das estruturas sociais. Os questionamentos da Sociologia do 
Desenvolvimento, com relação às mudanças e alterações de uma estrutura social, implicam 
conceitos que orientam sobre a direção do desenvolvimento.
A Sociologia do Desenvolvimento busca conhecer e discutir ideias e teorias a respeito 
do desenvolvimento, como um processo social de dimensão política, cultural, econômica 
e ambiental. Busca entender a direção do desenvolvimento de uma sociedade. Segundo 
Hartfiel (1976), a Sociologia do Desenvolvimento consiste na aplicação sistemática de 
teorias, de questionamentos, de métodos de pesquisa à realidade social com o intuito 
de análise e entendimento do sentido das mudanças que nela se processam. Estruturas 
sociais passam por mudanças e a Sociologia do Desenvolvimento procura entender a 
direção dessas alterações.
Por isso, esta ciência pode ser definida como um instrumento de análise e 
interpretação da dinâmica social. Por meio da Sociologia do Desenvolvimento, segundo 
o autor, procura‑se entender os processos sociais que levam à alteração de estados 
materiais e espirituais, à alteração de relações de forças, em uma estrutura social. 
Procura‑se entender o seu desenvolvimento, isto é, o que vai por dentro de processos 
que alteram estruturas sociais.
Afirma Hartfiel que é comum que se inicie o estudo sociológico do desenvolvimento 
pela comparação das estruturas sociais, econômicas e políticas de diferentes 
sociedades, de sociedades industrializadas e não industrializadas, tendo no processo 
de desenvolvimento das modernas sociedades industrializadas uma referência 
para a análise da situação nas sociedades subdesenvolvidas ou consideradas em 
desenvolvimento. Essa visão eurocêntrica e tendo o processo de industrialização como 
referência marcou, profundamente, o debate sobre desenvolvimento. Dela decorrem 
diferentes abordagens teóricas sobre modernização. 
A Sociologia do Desenvolvimento se afirmou, especialmente, ao procurar 
analisar e interpretar os fatores condicionantes das situações de desenvolvimento 
e subdesenvolvimento das sociedades de diferentes países. Passou‑se a questionar 
a relação entre sociedades consideradas desenvolvidas e classificadas como 
subdesenvolvidas, perguntando pela existência ou não de condicionantes ideológicos, 
econômicos e técnicos entre desenvolvimento e subdesenvolvimento. Procurou‑
se identificar e analisar as interdependências, os conflitos, as adaptações e reações 
que decorrem do encontro das diferentes sociedades, de seus diferentes interesses e 
condições materiais e culturais.
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Hartfiel (1976) observa que, em razão das carências materiais persistentes nas regiões 
de desenvolvimento, a Sociologia do Desenvolvimento, em seu começo, preocupava‑se 
quase que exclusivamente com os fenômenos sociais, políticos e culturais, colaterais ou 
consequentes do desenvolvimento econômico. A atenção dos estudiosos voltava‑se à 
dimensão econômica, decorrente da importância dada à questão do crescimento econômico 
e à expansão da economia.
Dessa forma, argumenta Hartfiel, os resultados insatisfatórios do questionamento 
e das medidas voltadas ao desenvolvimento econômico têm incrementado entre os 
estudiosos, a convicção da necessidade de abordagem multidimensional na Sociologia 
do Desenvolvimento, discutindo‑se, cada vez mais, as relações entre sistemas culturais 
de valores e normas; estrutura política; estrutura social; comportamento de procriação; 
organização familiar; postura de trabalho e o desenvolvimento industrial‑tecnológico‑
econômico. Cada vez mais consideram‑se fatores não econômicos no estudo dos processos 
de desenvolvimento. Assim, analisa‑se a relação entre cultura, ideologia e visão de mundo. 
Estudam‑se as funções dos fatores não econômicos locais no processo de desenvolvimento 
e os efeitos sociais da relação de dependência – econômica, política ou cultural – que 
provocam tensões nas sociedades em desenvolvimento ou, eventualmente, à adaptação aos 
interesses do exterior, inclusive levando à perda da cultura tradicional local pela assimilação 
de valores e comportamentos estrangeiros.
A definição do que vem a ser desenvolvimento, no contexto histórico contemporâneo 
da humanidade, reveste‑se cada vez mais de polêmica. Desenvolvimento é um processo 
complexo em virtude das relações sociais a ele inerentes. É composto pelos mais diversos 
aspectos da vida humana. O desenvolvimento é um processo que contém dimensões 
culturais, expressas no comportamento das pessoas, nas explicações dos fatos, nas 
afirmações de valores. Os conceitos de desenvolvimento gozam de alguns aspectos 
comuns, no entanto, diante de suas práticas concretas, verifica‑se uma dispersão de 
opiniões e posições.
Segundo Perrot (2001, p. 191), recorre‑se “a um mesmo termo para designar 
fenômenos não somente diferentes, mas antagônicos”. Aos processos de desenvolvimento 
subjazem vetores de forças contrárias entre si. A dificuldade da conceituação reflete 
a dificuldade da prática. Aos estudiosos do fenômeno do desenvolvimento cabe 
“discernir a extrema sutileza das significações socioculturais dadas às práticas por 
aqueles que são os seus autores” (p. 200).
Não me parece necessário fazer citações específicas aqui a respeito dessa diversidade de 
entendimentos. Lembro tão somente a existência de divergências com relação à explicação 
e conceituação do desenvolvimento com o propósito de orientar a atenção do leitor ou da 
leitora, especialmente, para buscar novos textos de leitura.
Fonte: Frantz (2010, p. 15‑6‑7).
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Yves Goussault, em 1982, afirmava que a Sociologia do Desenvolvimento tinha ainda um longo 
caminhoa percorrer em busca da cientificidade:
Convém recordar que a Sociologia do Desenvolvimento ainda está longe 
de desfrutar de reconhecimento adequado, científico e institucional, seus 
praticantes reivindicam um olhar imparcial sobre seus trabalhos e sua 
finalidade (GOUSSAULT, 1982, tradução nossa). 
Segundo Yves Goussault, há várias formas para se aproximar da questão. Para tanto, as enumera:
• Histórica: deve dar conta da série de processos históricos responsáveis 
por sua eclosão, nos anos 1960, marcados por muitos eventos 
políticos, como a descolonização, neocolonialismo, movimentos 
revolucionários (na China, Cuba, Vietnã, Argélia) etc.
• Cursos e atividades sociológicas: identificar as características constitutivas 
dessa Sociologia do Desenvolvimento e procurar sua especificidade nos 
trabalhos mais marcantes. Isso envolve vários critérios como a natureza 
social do problema estudado (objeto), o método e as técnicas utilizadas 
(construção sociológica do objeto), as implicações teóricas do estudo 
ou atividades consideradas (conceitos), a formação e qualificação 
de educadores e investigadores (sociólogos), o apoio do patrocínio 
institucional para o trabalho (depósito científico ou educacional). 
• Epistemológica: a abrangência da questão revelou tal necessidade, 
e perguntamos se há uma Sociologia do Desenvolvimento com um 
estatuto científico que lhe confira uma singularidade reconhecida no 
âmbito das ciências sociais?
Yves Goussault (1982) destaca algumas questões acerca do teor, da magnitude e da relevância da 
Sociologia do Desenvolvimento, surgidas por ocasião da organização e publicação de um dossiê sobre 
o tema em 1982: 
• A Sociologia do Desenvolvimento não teria outra definição se não a de 
ser um momento de crise das ciências sociais existentes, especialmente 
da Sociologia, diante das questões colocadas pelo subdesenvolvimento, 
pelas definições de Terceiro Mundo, pela teoria da dependência, pelas 
críticas ao europocentrismo e ao neocolonialismo.
• Existiria uma Sociologia periférica própria, com suas correntes 
teóricas e suas práticas, porque o terreno e as condições históricas 
em que se desenvolveu são irredutíveis aos da Sociologia ocidental. 
A especificidade da Sociologia do Desenvolvimento é baseada 
em “leis” próprias ao desenvolvimento periférico. A Sociologia do 
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Desenvolvimento seria bastante contraditória em decorrência de seus 
objetos críticos e ligações com os movimentos sociais. 
• Sociologia do Desenvolvimento é uma Sociologia de “grandes 
contradições” e conflitos “efervescentes”. Ela está intimamente ligada 
aos movimentos sociais mais agitados.
• A Sociologia do Desenvolvimento é uma Sociologia de intervenção. 
Ela está fundamentalmente ligada às mudanças sociais provocadas 
pelas intervenções do Capital e dos Estados nos vários setores sociais 
e nas estruturas gerais das sociedades. Como tal, é uma sociologia das 
estratégias, e estratégias e intervenções que não podem ser dissociadas 
dos movimentos e lutas aos quais eles respondem. Essa concepção de 
Sociologia do Desenvolvimento ilumina algumas conclusões sobre a 
importância das atividades aplicadas (acompanhamento de projetos), 
em vez de metodologias de avaliação e número de sociólogos para 
universitários etc. (GOUSSAULT, 1982, p. 241‑2, tradução nossa).
Há muito por fazer nessa área e é preciso partir do que já foi consolidado, defende Yves Goussault 
(1982, p. 242‑3).
Uma sociologia entre outras, para Jacques Lombard (1982), a Sociologia do Desenvolvimento deve 
partir da constatação e da necessidade, nem sempre assumida, da interdisciplinaridade da temática 
do desenvolvimento. Aponta que o subdesenvolvimento não pode ser estudado de modo eficaz sem 
a cooperação de todas as ciências sociais, isto é, Economia, Sociologia, Demografia, Antropologia, 
Geografia, Psicologia etc.
Ainda nas definições, é fundamental a de Roger Bastide em seu livro Antropologia Aplicada:
A Sociologia do Desenvolvimento enfatiza as mudanças econômicas que 
devem engendrar as mudanças na estrutura social e, através delas, “as 
mudanças das mentalidades” e ele não receia atribuir como tarefa dessa 
Sociologia a definição “de critérios de subdesenvolvimento, que são tanto 
da ordem econômica, demográfica quanto social” colocando em evidência 
os “obstáculos internos e estruturais ao desenvolvimento econômico, eles 
mesmos de outras ordens, e finalmente, entre outros objetivos, o papel das 
relações internacionais na persistência do subdesenvolvimento. Programa, 
como se vê, que vai muito além horizonte habitual do sociólogo, até mesmo 
o mais imperialista” (BASTIDE apud LOMBARD, 1982, p. 247, tradução nossa). 
Silvia Sigal (1982, p. 401) adverte que há o perigo das confusões. Ela enfatiza que é difícil ler sobre a 
América Latina sem encontrar o termo “dependência”, filiado à “teoria da dependência” (1982, p. 400). 
Fala do marxismo, cujas principais interpretações da desigualdade entre as nações são atribuídas aos 
interesses e instrumentos do imperialismo (este, determinante das políticas internas aos países pobres 
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e das relações internacionais), visível na divisão internacional, e territorial, do trabalho, o que explicaria, 
assim, as transformações das nações dependentes, dominadas.
Essa abordagem – que se opunha principalmente à dos historiadores liberais – coexistirá a partir dos 
anos 1950 com uma segunda, conhecida em Economia e em Teoria da Modernização na Sociologia, sob 
o nome de “desenvolvimentismo” (1982, p. 402). 
E, ao perseguir a superação da Teoria da Dependência, que ela acredita ter envelhecido, Sigal passa a 
considerar novos temas que vão além da industrialização, perguntando: “a sociologia do desenvolvimento 
deve ser o estudo da sociedade em situação de dependência, ou da dependência, em si mesma?” (1982, p. 403).
Fernanda Beigel (2014) trata da Teoria da Dependência, como questionamento da condição periférica 
da América Latina, surgida num contexto conceitual polêmico, pois “a principal disputa entre seus 
expoentes era a respeito da determinação do que poderia ser considerada uma ‘situação concreta de 
dependência’”. Ela afirma que enquanto “alguns afirmavam que a contradição principal ocorria entre a 
nação e o sistema internacional […], outros defendiam que a prioridade explicativa estava situada no 
âmbito nacional e nas relações de classe”. Trocavam acusações e “disputavam a posição mais radical da 
mudança social”. O que ela denomina “dependentismo” estava no interior de “uma tensão entre o legado 
do Estruturalismo Cepalino e o marxismo heterodoxo que surgia como corrente crítica dos partidos 
comunistas latino‑americanos” (BEIGEL, 2014, p. 73).
Dada a complexidade dessa tradição intelectual, nesse texto, distinguimos 
três usos diferentes do conceito de “dependência” que se cruzam 
simultaneamente: a) a dependência como uma condição histórica 
cambiante; b) o dependentismo como teoria social elaborada entre 1964 e 
1973; e c) os dependentistas, quer dizer, os acadêmicos que desenvolveram 
esse enfoque a partir de diferentes espaços institucionais. Na primeira parte, 
abordamos o conjunto de tradições intelectuais existentes e o contexto 
institucional no qual teve a sua origem a “Teoria da Dependência”. Na 
segunda, enfocamos o processo produtivo levado a cabo dentro dos grupos 
de trabalho de dependentistas de diferentes instituições acadêmicas. 
Finalmente, analisamos a contribuição do dependentismo com o objetivo 
de proporcionar uma melhor compreensão do processo de construção de 
paradigmas sociológicosenraizados na América Latina (BEIGEL, 2014, p. 73).
E a autora faz a seguinte observação: 
O uso da expressão [“teoria da dependência”] pretende nos distanciar do 
seu uso habitual no campo intelectual americano, que unifica o que, de 
fato, constituía um conjunto de múltiplos enfoques analíticos. Ao longo 
[de seu trabalho utiliza] o termo “dependentismo” para [se] referir à Escola 
Latino‑americana da Dependência, porque representa melhor o fato de que 
estes enfoques nunca chegaram a constituir uma única teoria sistemática 
(BEIGEL, 2014, p. 73).
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Ainda sobre a Teoria da Dependência, segundo Graciolli e Duarte (2007, p. 1), após a Segunda Guerra 
Mundial, tiveram lugar, na América Latina, teorias que se propunham a analisar mercados, economias 
locais “e as relações da região com o resto do mundo”. Os autores afirmam que: 
Uma dessas teorias foi a Teoria do Desenvolvimento, que tinha como 
principal objetivo a identificação dos obstáculos que se impunha à plena 
implantação da modernidade. É dentro da perspectiva dessa teoria que 
surge a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). A 
Agência, que nasceu com o intuito de fundar uma base institucional que 
criasse condições de desenvolvimento para os países da região, defendia que 
os países latino‑americanos só se desenvolveriam a partir da montagem de 
um aparato industrial orientado pela ação do Estado (GRACIOLLI; DUARTE, 
2007, p. 1).
Há mudanças na perspectiva dos autores envolvidos no grande projeto da Teoria da Dependência, 
como é o caso de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto em 1960‑1970, que, na ocasião, propunha 
análises integradas, não apenas econômicas, do desenvolvimento:
Ainda que os graus de diferenciação da estrutura social dos diversos 
países da região condicionem de forma diversa o crescimento 
econômico, não é suficiente substituir a interpretação “econômica” 
do desenvolvimento por uma análise “sociológica”. Falta uma análise 
integrada que forneça elementos para dar resposta de forma mais 
ampla e matizada às questões gerais sobre as possibilidades do 
desenvolvimento ou estagnação dos países latino‑americanos, e que 
responda às perguntas decisivas sobre seu sentido e suas condições 
políticas e sociais (CARDOSO; FALETTO, 1975, p. 15).
Cardoso e Faletto (1975, p. 16‑7) tocam na questão dos tipos de sociedade ou, como dizem: “a 
análise tipológica: sociedades tradicionais e modernas”; análises que, segundo os autores, encaminham 
propostas de “formulação de modelos ou tipos de formações sociais”. Eles encaminham uma crítica a 
essa concepção que denomina perspectiva dualista e evolucionista: 
Sustenta‑se que as sociedades latino‑americanas pertenceriam a um tipo 
estrutural denominado geralmente “sociedade tradicional” e que se está 
produzindo a passagem a outro tipo de sociedade chamada “moderna”. No 
curso do processo de mudança social pareceria que, antes de se constituir 
a sociedade moderna, forma‑se um padrão intermediário, híbrido, que 
caracteriza as sociedades dos países “em desenvolvimento”. Quando não, 
formam‑se situações estanques entre um setor da sociedade que se 
moderniza e outros que permanecem arcaicos. Invoca‑se então a noção 
de dualismo estrutural. Na realidade, metodologicamente, trata‑se de uma 
renovação da velha dicotomia “comunidade‑sociedade” em sua formulação 
clássica em Tönnies (CARDOSO; FALETTO, 1975, p. 16‑7).
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Há realmente problemas imensos nos dualismos, pois não permitem enxergar a totalidade e os 
processos desencadeadores, formadores, impedem de serem alcançadas as razões últimas, sem falar 
nos desvios de interpretação proporcionados pelos modelos evolucionistas. O autor mira o processo de 
transformação com um motor, apenas. Nós, aqui, estamos pensando na valorização de tantos motores, 
quantas sociedades diferentes houver, sem desintegrar o mundo, mas se não o rejeitando, questionando 
a unipolaridade (principalmente, estadunidense) difusora e mantenedora do capitalismo, ao menos no 
conteúdo que vem sendo imposta. 
Bem, quando falamos em sociedades tradicionais, falamos de outro ponto de vista, falamos de 
seus valores e organizações intrínsecos e originais, não como algo que precise mudar pelo ângulo da 
modernidade capitalista que confirma e impõe o tempo linear e os usos do espaço standards. Não 
precisa mudar do modo imposto, mas pode se beneficiar dos avanços tecnológicos e no aprendizado de 
experiências já realizadas pelas nações ricas e industrializadas, isso num mundo que mais compartilhe 
do que venda. 
Fernando Henrique Cardoso, noutro momento de seu pensamento, propõe‑nos uma readequação 
do termo “dependência” para “interdependência”, motivada por sua inserção atual no cenário político e 
acadêmico (2008), como percebemos nesse trecho sobre a perspectiva da interdependência (condição de 
globalização) no conjunto do sistema. Haveria uma grande diferença entre imperialismo e globalização? 
Segue o trecho: 
Variando entre uma atitude isolacionista e outra missionária, os Estados 
Unidos entraram na segunda metade do século XX, depois da derrota do 
nazismo, dizendo uma coisa e fazendo outra, ardendo de fervor moral e 
fazendo arder a pele dos demais sob o fogo de suas armas, sempre que 
o “interesse nacional” o exigisse. A interdependência criada pelo mercado 
globalizado e pelo predomínio tecnológico e organizacional das empresas 
americanas não se compaginava mais com o isolacionismo. As razões de 
estado e, quem sabe, a vontade de império impediam que o ardor da crença 
universal na liberdade e na democracia levasse o governo americano a 
apoiar apenas as “boas causas”. A intolerância americana às tentativas de 
estabelecimento de políticas sociais e econômicas alternativas na América 
Latina (República Dominicana, Guatemala, Chile, Nicarágua, para não falar 
em Cuba) exemplifica amplamente esse comportamento, pois todo tipo de 
opositor a esses governos, democratas ou mercenários facinorosos, recebeu 
apoio (CARDOSO, 2008, p. 23).
Também Milton Santos, que viveu o período e tem seu trabalho convergente com essa concepção de 
mundo, afirma que a visão deve ser superada: “Há, em tudo isso, uma grande contradição. Abandonamos 
as teorias do subdesenvolvimento, o terceiro‑mundismo, que eram nossa bandeira nas décadas de 1950‑
60 (SANTOS, 2000, p. 151).
Segue o trecho de Latouche sobre as confusões com o conceito de desenvolvimento, que remete às 
nossas ideias sobre a linearidade (teórica e realizadora) do desenvolvimento capitalista.
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Conceito de desenvolvimento
O conceito de “desenvolvimento” é sem dúvida o mais polêmico dos conceitos. A 
noção de desenvolvimento que tem predominado na atualidade é o conceito ocidental 
de “desenvolvimento”. Uma imposição ideológica marcada por uma visão capitalista, [em 
que] o urbano e o industrial e o moderno são sinônimos, estando impregnado de valores 
específicos e de interesse dos detentores do capital.
Contemplamos no termo em análise um processo de ocidentalização que acabou 
implantando a ideia hegemônica – do capitalismo. A ideia de periferia é fruto dessa 
imposição ideológica.
A criação do ideal de “desenvolvimento”, nos moldes capitalistas, ganhou o mundo, 
especialmente entre as décadas de 1950 e 1980, inclusive no Brasil. No Brasil, a política 
desenvolvimentista é a maior evidencia de tal ideal.
Para Latouche (1996), o Ocidente colocou o Progresso (para o capitalismosinônimo de 
desenvolvimento) como pedra angular da modernidade, as nações viram‑se mergulhadas em 
atraso. Desta forma, o desenvolvimento criou a noção de subdesenvolvimento, obrigando a 
todos a seguir os passos do “desenvolvimento”, nos moldes capitalista, é claro. 
Fonte: Bodart (2013). 
 Lembrete
Reiteramos que é preciso tomar muito cuidado com os sinônimos, como 
no caso que acabamos de apresentar, pois as palavras adquirem significações 
conforme as visões de mundo de que provêm. É o caso de desenvolvimento, que 
pode dar sentido à pobreza como “atraso” de uma nação, responsabilizando 
o próprio país pobre; enquanto podemos observá‑lo como transformado à 
força, “de fora”, por esse movimento capitalista do centro para a periferia 
(imperialismo). Percebam que a perspectiva muda tudo! 
6 A CULTURA, O POVO E A REGIÃO: DESENVOLVIMENTO COM TRADIÇÃO
A etnoecologia é o estudo e descrição de sistemas de conhecimento de 
grupos étnicos rurais indígenas sobre o mundo natural. Esse conhecimento 
tem muitas dimensões, incluindo linguística, botânica, zoologia, artesanato 
e agricultura, e deriva da interação direta entre os seres humanos e o meio 
ambiente. Os povos indígenas extraem as informações mais adaptáveis e 
úteis do meio através de sistemas especiais de conhecimento e percepção. 
Desse modo, preservam e repassam informações de geração a geração por 
meios orais ou empíricos. Seu conhecimento sobre solos, climas, vegetação, 
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animais e ecossistemas geralmente resulta em estratégias produtivas 
multidimensionais (isto é, múltiplos ecossistemas com múltiplas espécies), 
e essas estratégias proporcionam, dentro de certos limites ecológicos e 
técnicos, a autossuficiência alimentar dos agricultores em uma determinada 
região (ALTIERI, 2004, p. 34).
[...] conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes 
e saber‑fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido 
oralmente de geração em geração. Para muitas dessas sociedades, sobretudo 
para as indígenas, existe uma interligação orgânica entre o mundo natural, 
o sobrenatural e a organização social. Nesse sentido, para estas, não existe 
uma classificação dualista, uma linha divisória rígida entre o “natural” e o 
“social” mas sim um continuum entre ambos (DIEGUES, 2000a, p. 30).
O livro‑texto de Sociologia do Desenvolvimento expressa um raciocínio sobre o modo como as 
sociedades satisfazem suas necessidades em termos de produção, repartição, consumo do produto 
e organização social desse processo. E, mais importante, essa ideia está associada a uma espécie de 
arranjo optimum, ótimo organizacional, ou ainda de satisfação universal da comunidade ou grupo. Por 
ora, basta essa asserção simplificada da noção de desenvolvimento, detalhada ao longo do texto.
Satisfação perseguida e construída pelos agrupamentos humanos ao longo de séculos, dependendo 
do povoamento e da região do planeta, por meio de atividades sustentáveis originais ou saberes e 
personagens vernáculos: extração (extrativismo como pesca e coleta de frutos), agriculturas, 
domesticação, cultivo e criação de plantas, animais, fungos etc. em experiências e práticas circulares ou 
“rotineiras” (e até mesmo ritualísticas).
Em algumas regiões, as populações desenvolveram práticas muito peculiares concernentes às 
necessidades e às técnicas (soluções) constituídas em função das barreiras. Nesse sentido, estamos 
falando muito mais de envolvimento e de vínculos do que do desenvolvimento no sentido moderno.
As culturas vernaculares são “independentes” em sua origem, e a modernidade de cunho iluminista 
representa a negação da tradição, tida por primitiva e, portanto, contrassenso pelas teorias da 
normalidade econômica ou liberais. Os povos e seus usos ou atividades originais marcam seus ambientes 
com dinâmicas territoriais ancestrais. É como afirma Carlos Walter Porto Gonçalves:
As identidades coletivas implicam, portanto, um espaço tornado próprio 
pelos seres que as instituem, enfim, implicam um território. Se é possível 
estender para outras sociedades o conceito de desenvolvimento, dele 
retirando o seu caráter moderno produtivista, podemos, então, afirmar que 
o devir de qualquer sociedade, seu desenvolvimento próprio, se inscreve 
numa ordem específica de significados, entre os quais o modo como elas 
marcam a terra, rigorosamente do ponto de vista etimológico, se geo‑
grafam (GONÇALVES, 1996, p. 10). 
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Se desenvolver é transformar, então, estamos estudando aqui as transformações do ambiente, ou 
seja, a natureza conhecida. Logo, a primeira complicação: como chegar até esse ambiente que posso 
calcular, planejar? Como fazemos isso num curso de agronegócios? Para isso, é preciso ir dos mitos, 
da religião, da arte, da filosofia antiga até a Ecologia, a Agronomia e a ciência geográfica e, por fim, 
a administração territorial dos recursos ambientais. O manejo dos ambientes dá‑se em dois níveis 
principais: aquele da intervenção direta na estrutura biológica (da célula, dos tecidos, da genética etc.) 
e aquele que mais compete à organização territorial do ambiente (do geógrafo, administrador); mas 
ambos os níveis, micro e macro, complementam‑se e alguns profissionais podem eventualmente atuar 
mais diretamente em um ou em outro, como o agrônomo, o biólogo, o engenheiro, o profissional de 
saúde pública e mesmo o médico.
Se a “natureza inteira” é impensável e requer simplificação para o manejo, surge o ambiente como 
sistema de inspiração matemática, com o qual podemos operar, calcular, equacionar. Então, natureza 
somos nós juntamente com todos os outros e de todas as formas e possibilidades, conhecidas e 
desconhecidas. Aqui, não trataremos das formas desconhecidas, mas sim daquilo que conhecemos: 
o ambiente. Eis, assim, a solução que nos leva até a Ecologia (biomas, ambientes ou ecossistemas), 
Geografia (localizações, escalas e territórios dos usos) e Administração (organização e técnicas de 
controle dos usos). A natureza não é algo objetivo que está a nossa espera para manipulá‑la e nos 
satisfazer; é, sim, a mistura de coisas com as quais estamos envolvidos, sejam plantas, fungos, rochas, 
minerais, gases, animais, insetos, dentre todos os demais seres.
A razão da redução é a manipulação do conhecido: não há outro jeito de planejar e fazer projetos. 
Num sistema, sabemos o que está ligado e para onde o conjunto se dirige.
A humanização do sapiens‑sapiens resulta diretamente de sua progressiva competência técnica, 
que requereu experimentação e conhecimento dos elementos de seu entorno com os quais passou a 
se relacionar conscientemente, primeiro de modo operacional e mítico, e, só recentemente, científico. 
Vejamos algo desses 15 mil anos, fundamental para nossa análise: a domesticação dos outros seres 
nessa relação com a natureza.
Ambiente, para nós, é uma primeira resposta racional e experimental ao problema do desconhecido: 
ambiente é uma redução da natureza ao conhecido; é a natureza conhecida. É uma redução sistêmica, 
isto é, redução a um todo funcional de elementos e situações conhecidos e projetados.
A vida humana em desenvolvimento implica criação e manutenção de condições de existência, 
tanto materiais quanto espirituais, cujas principais dimensões sociais são política, econômica, cultural 
e territorial. 
O ambiente e os ambientes como um lugar das trocas de energia (cadeias alimentares, por 
exemplo), que liga tudo que identificamos e delimitamos, supõe problemas: quanto à ignorância dos 
desdobramentos da interferência nos processos biogeoquímicos nos níveis de seu funcionamentoe 
quanto à sua apropriação social desigual, isto é, problemas no acesso diferenciado aos recursos e às 
riquezas produzidas a partir deles. A decisão e o controle do ambiente não são democráticos, aliás, nem 
mesmo se manifestam; é questão secreta e naturalizada. 
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O que está fora da questão ambiental? Nada. Nada está fora desse pacote, pois todos os seres estão 
em associação direta e indireta; plantas e rochas, estas e o clima ou as condições atmosféricas, ou ainda, a 
topografia, as águas e as modalidades de usos sociais. Os conjuntos ou ambientes variam na combinação 
e no grau de ocorrência ou relevância dos elementos, cujas formas resultantes podemos observar nas 
diferentes paisagens, como desertos quentes e secos, áreas pantanosas e florestais, por exemplo.
O que significam os termos “lugar”, “território” e “paisagem”? Qual sua relação com o ambiente? São 
categorias geográficas de análise espacial e nos servirão de instrumentos de precisão no tratamento dos 
usos dos recursos. 
Primeiramente, todas as atividades requerem recursos como matéria‑prima, energia e administração, 
localizados e combinados em territórios sempre disputados. 
As atividades de que estamos tratando são aquelas já chamadas primárias, isto é, agrárias, que 
englobam agricultura e pecuária, mais especificamente, na qualidade de sustentável. 
Quanto à sustentabilidade da produção, Gliessman (2000) afirma que agroecologia é a consideração 
dos processos ecológicos para uma agricultura sustentável e complementa: “Eu sempre começo 
dizendo que a agroecologia é a aplicação dos conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de 
agroecossistemas sustentáveis” (GLIESSMAN, 2000, p. 4).
Já agricultura sustentável “é uma agricultura que protege a base de recursos naturais e permite 
uma economia viável e também propõe um aspecto social justo e aberto a todos que fazem parte da 
sociedade” (GLIESSMAN, 2000, p. 4).
Em se tratando de produção e negócios, é preciso caracterizar os papéis públicos e privados, 
isto é, aqueles do aparelho de Estado como um todo, nos níveis municipal, estadual e federal 
(autarquias, secretarias e ministérios) e aqueles dos setores privados (empresas de vários portes 
e investidores individuais). O que há de “novo” na sociedade e nos agronegócios é a via da 
sustentabilidade ambiental, da preservação do ambiente como valor ético, de uma ética prática: 
se não preservarmos as fontes, há sérias dúvidas quanto à disponibilidade de estoques no futuro.
A via sustentável é original em meio ao fazer corrente (restrita à sustentabilidade econômica dos 
negócios), que esgota recursos como solos, florestas, rios, mares, animais e suas áreas de ocorrência. 
Porém, é preciso distinguir o discurso das práticas efetivas dos agentes sociais. 
As políticas governamentais, as práticas levadas adiante por empresas privadas e os trabalhos de inúmeras 
organizações sociais são responsáveis pela direção e pela qualidade do desenvolvimento do país (ABRAMOVAY, 
2010, p. 97). Esse autor reflete sobre a relação desintegrada entre essas diversas instâncias com suas atribuições, 
não formando um todo coerente, o que lhes retira justamente o alcance estratégico. Para ele: 
Desenvolvimento sustentável é o processo de ampliação permanente das 
liberdades substantivas dos indivíduos em condições que estimulem a manutenção 
e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas às sociedades 
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humanas. Ele é formado por uma infinidade de fatores determinantes, mas cujo 
andamento depende, justamente, da presença de um horizonte estratégico entre 
seus protagonistas decisivos (ABRAMOVAY, 2010, p. 97).
Para Abramovay (2010, p. 97), a sustentabilidade é de qualidade ética, estando em jogo “o conteúdo 
da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as sociedades optam 
por usar os ecossistemas de que dependem”.
Ainda, segundo esse autor, embora tenham ocorrido melhorias sociais no Brasil, persistem graves 
problemas no acesso à educação, moradia, justiça, segurança. Ele vê graves problemas nos padrões 
dominantes de produção e consumo que se apoiam na degradação ambiental muito mais vigorosa 
do que o poder da legislação voltada à sua contenção. Haveria que promover inovação tecnológica 
“cada vez mais orientada a colocar a ciência a serviço de sistemas produtivos altamente poupadores de 
materiais, de energia, e capazes de contribuir para a regeneração da biodiversidade” (ABRAMOVAY, 2010, 
p. 98). Indo direto ao ponto em sua análise da estrutura produtiva brasileira, o autor acrescenta que:
[...] os significativos progressos dos últimos anos são ameaçados pela ausência 
do horizonte estratégico voltado ao desenvolvimento sustentável, tanto por 
parte do governo como das direções empresariais: de um lado a redução no 
desmatamento da Amazônia não é acompanhada por mudança no padrão 
dominante de uso dos recursos. Assim, apesar da contenção da devastação 
florestal, prevalece entre os agentes econômicos a ideia central de que a produção 
de commodities (fundamentalmente carne, soja e madeira de baixa qualidade), 
minérios e energia é a vocação decisiva da região. Além disso, ao mesmo tempo 
em que se reduz o desmatamento na Amazônia, amplia‑se de maneira alarmante 
a devastação do cerrado e da caatinga. De outro lado, o segundo exemplo aqui 
apresentado mostra que o trunfo representado pela matriz energética brasileira 
não tem sido aproveitado para a construção de avanços industriais norteados pela 
preocupação explícita em reduzir o uso de materiais e de energia nos processos 
produtivos. A consequência e o risco é que o crescimento industrial brasileiro – 
ainda que marcado por emissões relativamente baixas de gases de efeito estufa 
– se distancie do padrão dominante da inovação contemporânea, cada vez mais 
orientada pela descarbonização da economia (ABRAMOVAY, 2010, p. 98).
Anteriores aos processos agrários e industriais (tanto os ancestrais, extrativistas, quanto os 
agroindustriais) com crescentes valores econômicos agregados à produção, muito impactantes nas 
organizações dos grupos humanos, em seus estilos de vida e sistemas ambientais, e as alternativas mais 
sustentáveis de desenvolvimento, vamos apresentar brevemente formas de vida e produção que têm 
melhores relações com os ambientes, usando‑os, mas mantendo‑os, como agriculturas sustentáveis 
originais, com métodos vernaculares e que podem nos ensinar muito ainda hoje. 
São formas de vida muito antigas com aproximadamente dez mil anos (HAVILAND et al., 2011, p. 
120) que, como veremos adiante, praticavam atividades de coleta (extrativismo) e cultivo (agricultura, 
pecuária) similares àquelas que hoje chamamos “Agroecologia” – conjunto de conhecimentos e 
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procedimentos inspirados nos baixos impactos negativos dos velhos saberes e usos. A Agroecologia 
soube aprender. 
O território, que é nossa porta de entrada para a variedade histórica e cultural de questões produtivas 
mencionadas anteriormente, é moldado pelos usos dos grupos sociais, suas ligações com a natureza, mais 
especificamente com aquilo a que chamamos “ecossistemas” ou “conjunto ambientais”, e por mais organismos, 
identificando‑os, classificando, inventariando, aplicando conhecimento, e também pelo modo como esses 
grupos representam tais usos na cultura que desenvolvem. Por usos, nos referimos a todo trabalho desenvolvido 
pelo ser humano

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