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O MODERNISMO E O BRASIL DEPOIS DE 30

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O MODERNISMO E O BRASIL DEPOIS DE 30
O MODERNISMO E O BRASIL DEPOIS DE 30
     O termo "contemporâneo" é por natureza, elástico, e costuma trair a geração de quem o emprega. Em 1922, por exemplo, houve a semana da arte moderna. Já 1930, evoca menos significados prementes por causa da Revolução de Outubro, mas lançou a literatura num estado adulto e moderno, perto do qual, as palavras de 22 parecem fogachos de adolescente.
     A afirmação não quer absolutamente subestimar o papel relevante da Semana: há um estilo anterior e posterior a esse período. 
    O experimentalismo estético dos melhores artistas de 22 fez-se quase sempre em abstrato, ou em função de vivências de um pequeno grupo dividido entre São Paulo e Paris. Esta atualização leva a uma perda de conteúdos para o receptor, que deforma e enrijece os fragmentos recebidos, como fizeram com Freud.
     Mas nas décadas de 30 e 40, o tenentismo liberal e a política, só em parte, aboliram o velho mundo. A "aristocracia" do café, iria conviver com a burguesia. A tradição não se abala pela vivência sofrida que compõe as estruturas materiais e morais do grupo em que se vive. Essa compreensão estaria reservada aos escritores que amadureceram depois de 1930.
     Enfim, o estado novo (1937-45) e a II guerra exasperaram as tensões ideológicas e, nesse meio tempo, surgiram várias obras da literatura.
     - Dependência e superação
     A literatura não foi cortada após o sistema cultural de 30, apenas novas configurações históricas exigiam novas experiências artísticas. Porém, ficou a linguagem coloquial, prosaica e o empenho em superar a gratuidade lúdica. Mesmo a lírica dos poetas, próxima do neossimbolismo europeu, só foi possível porque tinha havido uma abertura a todas as experiências modernas do Brasil após 22.
     A prosa da ficção beneficiou-se amplamente da "descida" à linguagem oral que a prosa modernista tinha preparado. E até mesmo em direções que parecem espiritualmente afastadas de 22, sente-se o desrecalque psicológico que chegou com o modernismo.
      Poetas, narradores, e ensaístas que estreavam em torno desse divisor de águas, continuaram a escrever até hoje; alguns destes ainda sabem responder às inquietações do leitor jovem e, ao mesmo tempo, capaz de transmitir alta informação estética.
     No entanto, há dois momentos histórico-culturais nesses quarenta anos de vida mental brasileira. Para a literatura, entre 1930 e 1940-45, no seu ritmo oscilante entre o fechamento e a abertura do eu à sociedade e à natureza. Para a poesia, a fase de 30-50 foi, universalmente, metafísica, frenética, ecoando as principais vozes da "poesia pura" européia de entreguerras. 
     A partir de 1950/55 o nacionalismo de direita passa a esquerda. Renova-se o gosto pela arte regional e popular, mas , com atenção ao revolucionário, ficaram alguns excelentes poemas, roteiros fílmicos e algumas letras épicas de música popular.
     Com a "guerra fria", desde 1945 houve a divisão de sistemas e o estruturalismo, a partir de 55, com os meios de comunicação em mass e a explosão industrial dos anos 60 nos EUA e Europa. 
     A literatura tem-se mostrado sensível às exigências que se delinearam com a chamada "geração de 45".
     No provimento de vanguarda, se dirá a seu tempo tópico dedicado à poesia.
     Se o veio neorrealista da prosa regional parece ter-se exaurido ao decênio de 50, confirma viva a ficção intimista, que já dera mostras de peso nos anos de 30 e 40. E o fluxo psíquico tem sido trabalhado em termo de pesquisa no universo da linguagem.
A FICÇÃO
     Os decênios de 39 e 40 serão lembrados como "a era do romance brasileiro". Houve, sobretudo, uma ruptura com certa psicologia convencional, os abalos que sofreu a vida dos brasileiros em torno de 1930 condicionaram novos estilos ficcionais. Assim, ao realismo "científico" e "impessoal" do século XIX, preferiam uma visão crítica das relações sociais. 
     Socialismo, freudismo e catolicismo existencial definiram o homem em sociedade. Passados os "ismos" da arte moderna, veio o Decadentismo. Na década de 30, os romances de um realismo psicológico bruto, do fascismo, racismo, stalinismo, do "new deal". Há um retorno das consciências religiosas às suas fontes pré e antiburguesas.
- As trilhas do romance: uma hipótese de trabalho
     A costumeira triagem por tendências, além de precária, não dá conta das diferenças que separam os romancistas.
     Em face à sociedade burguesa, incapaz de atuar com valores de liberdade, justiça, amor e uma oposição ego/sociedade que funda a forma romanesca: o herói em busca de valores pessoais, que analisa o próprio estado da alma e pode limitar-se no mundo onde foi lançado. Temos provas em diversos romances brasileiros. O dissídio do herói com o grupo, da oposição do "homem natural" e a sociedade, peculiar do romantismo. 
     O reconhecimento dessa faixa "gratuita" permite uma aproximação específica nos textos. Seja como for, não há ciência sem um mínimo de relações necessárias.
     Nessa perspectiva, poderíamos distribuir o romance brasileiro, de 30 para cá, em, pelo menos, quatro tendências:
      - romances de tensão mínima;
      - romances de tensão crítica;
      - romances de tensão interiorizada;
      - romances de tensão transfigurada.
     O esquema foi construído em torno de uma variável: o anti-herói romanesco.
     Há faixas diversas na ficção moderna: o romance da análise, o romance noturno e subterrâneo e o feito de sombras e definição. Há ainda o romance de ego e da literatura visionária. E há a linguagem poética e a tendência estética.
     A linguagem foi renovada, tanto nos níveis literários como nas unidades linguísticas. O que não invalida as motivações do escritor.
Autores e obras:
• José Américo de Almeida
     - A Bagaceira
• Raquel de Queirós
     - O Quinze;
     - João Miguel;
     - Caminho de Pedras;
     - As Três Marias.
• José Lins do Rêgo
     - Menino de Engenho;
     - Doidinho;
     - Banguê;
     - O Moleque Ricardo;
     - Usina;
     - Meus Verdes Anos.
• Graciliano Ramos
     - Vidas Secas;
     - Caetés;
     - Angústia;
     - São Bernardo;
     - Memórias do Cárcere.
• Jorge Amado;
     - Cacau;
     - Suor;
     - Jubiabá;
     - Mar Morto;
     - Capitães de Areia;
     - O Cavaleiro da Esperança;
     - O Mundo da Paz;
     - Gabriela, Cravo e Canela;
     - Dona Flor e Seus Dois Maridos;
     - Os Velhos Marinheiros.

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