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Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Todos os julgados foram comentados. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
NOME 
ƒ Alteração de registro civil após aquisição de dupla cidadania. 
 
PRESCRIÇÃO 
ƒ Prazo de 3 anos para pretensão de entidade de previdência privada complementar de reaver verbas relativas a 
benefício indevidamente apropriadas por terceiro 
 
CONDOMÍNIO 
ƒ Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio. 
 
DIREITOS AUTORAIS 
ƒ Responsabilidade pelo pagamento de direitos autorais decorrentes de evento executado por sociedade empresária 
contratada mediante licitação. 
 
PARENTESCO SOCIOAFETIVO 
ƒ (I)legitimidade do filho pedir que sua falecida mãe seja reconhecida como filha dos pretensos avós. 
 
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL 
ƒ Não é possível a partilha de lucros de sociedade empresária quando estes estão destinados à conta de reserva. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PLANO DE SAÚDE 
ƒ Não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado por entidade de autogestão. 
ƒ É abusiva cláusula que autoriza plano de saúde a indeferir procedimentos médico-hospitalares solicitados por 
médicos não integrantes do plano. 
ƒ Direito de o ex-empregado continuar beneficiário em plano de saúde coletivo empresarial. 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
ƒ O prazo máximo de 5 anos que o nome do consumidor pode permanecer negativado inicia-se no dia seguinte ao 
vencimento da dívida. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ADOÇÃO 
ƒ Não é possível que a adoção conjunta seja transformada em unilateral post mortem caso um dos autores desista e 
o outro morra sem ter manifestado intenção de adotar unilateralmente. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO 
ƒ Interpretação extensiva do art. 19, § 1º, I, da Lei nº 10.522/2002. 
 
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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
ƒ Inexigibilidade de obrigação fundada em lei não recepcionada pela Constituição. 
 
DIREITO PENAL 
GESTÃO TEMERÁRIA 
ƒ Dolo no crime de gestão temerária. 
ƒ Análise das circunstâncias judiciais. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS 
ƒ É possível que o juiz fixe valor mínimo para indenização de danos morais sofridos pela vítima de crime. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
ICMS 
ƒ Base de cálculo de ICMS/ST no caso de venda de medicamentos de uso restrito a hospitais e clínicas. 
 
IPVA 
ƒ Termo inicial do prazo prescricional para cobrança de IPVA. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
PREVIDÊNCIA PRIVADA COMPLEMENTAR 
ƒ Prazo de 3 anos para pretensão de entidade de previdência privada complementar de reaver verbas relativas a 
benefício indevidamente apropriadas por terceiro. 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
NOME 
Alteração de registro civil após aquisição de dupla cidadania 
 
O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do 
Brasil, desde que isso não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no 
exercício da cidadania por força da apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome 
imposto por lei estrangeira e diferente do que consta em seus documentos brasileiros. STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.088-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/5/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Francisco Rodrigues Bernardes é brasileiro nato, mas filho de italianos. 
Ele obteve a nacionalidade italiana, passando a ter dupla cidadania. 
Segundo a legislação italiana, os descendentes são registrados com o nome paterno. 
Assim, na Itália, nos documentos do autor consta seu nome como "Francisco Tristão Bernardes". No Brasil, 
todos seus documentos são como "Francisco Rodrigues Bernardes". 
Essa divergência de nomes nos documentos tem gerado vários transtornos. 
Diante disso, ajuizou ação de retificação de registro civil pedindo para que seu nome, no Brasil, mude para 
Francisco Tristão Bernardes, ficando igual ao nome utilizado na Itália. 
 
A questão chegou até o STJ? O pedido foi aceito pelo Tribunal? 
SIM. 
 
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O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro civil do Brasil, desde 
que isso não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por 
força da apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e 
diferente do que consta em seus documentos brasileiros. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.088-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de 
Tarso Sanseverino, julgado em 17/5/2016 (Info 588). 
 
Flexibilização dos arts. 56 e 57 da LRP 
As hipóteses de alteração do nome estão elencadas nos arts. 56 e 57 da Lei nº 6.015/73. 
O pedido formulado pelo autor não está previsto expressamente em nenhuma das hipóteses elencadas 
nesses dois artigos. 
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ tem flexibilizado a interpretação dos arts. 56 e 57 da Lei dos Registros 
Públicos para permitir a alteração de nome desde que haja um "justo motivo" (art. 57, caput). 
Alguns exemplos de situações em que se admitiu a modificação de nome: 
a) inclusão do patronímico de companheiro (REsp 1206656/GO,); 
b) acréscimo do patronímico materno (REsp 1256074/MG); 
c) substituição do patronímico do pai pelo do padrasto (Ag 989812/SP); 
d) inclusão do patronímico do padrasto (REsp 538187/RJ); 
e) alteração da ordem dos apelidos de família (REsp 1323677/MA); 
f) inclusão do nome de solteira da genitora, adotado após o divórcio (REsp 1041751/DF). 
 
Retificação de nome para possibilitar a obtenção de outra nacionalidade 
Importante destacar que o STJ já entendeu que é possível a retificação de nome para possibilitar a 
obtenção de outra nacionalidade. 
No caso concreto, o sobrenome do autor era "Barticiotto" e assim constava em seus documentos no Brasil. 
Ocorre que ele era descendente de italianos e lá esse sobrenome é escrito corretamente como 
"Bartucciotto". Quando a família veio para o Brasil, houve um erro de grafia e, por conta disso, o 
sobrenome ficou diferente daquele adotado na Itália. 
Em virtude disso, o autor ajuizou ação para modificar seu sobrenome, já que, sem essa providência, ele 
não conseguiria adquirir a cidadania italiana. 
O STJ concordou com o pedido considerando haver justo motivo (STJ. 4ª Turma. REsp 1138103/PR, Rel. 
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/09/2011). 
 
Se pode alterar o nome para a pessoa obter a nacionalidade, com mais razão pode-se alterar depois que 
a pessoa adquiriu dupla nacionalidade 
Se o STJ permite a mudança do nome para que o indivíduo possa requerer a cidadania italiana (REsp 
1138103/PR), com maior razão deve permitir a alteração para a pessoa que já obteve a dupla 
nacionalidade, prestigiando, assim, o princípio da simetria, da uniformidade, da verdade real e da 
segurança jurídica, que norteiam o sistema registral brasileiro. 
A posição mais flexível do STJ sobre a imutabilidade do nome civil tem por objetivo sobretudo assegurar o 
exercício da cidadania, ou seja o próprio papel que o nome desempenha na formação e consolidação da 
personalidade de uma pessoa. 
 
A situação narrada pelo autor configura justo motivo? 
SIM. A apresentação de documentos contendo informações destoantes dificulta, na prática, a realização 
dos atos da vida civil, além de gerar transtornos e aborrecimentos desnecessários. 
 
 
 
 
 
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PRESCRIÇÃO 
Prazo de 3 anos para pretensão de entidade de previdência privada complementar de reaververbas relativas a benefício indevidamente apropriadas por terceiro 
 
É de 3 anos o prazo prescricional de ação proposta por entidade de previdência privada 
complementar contra terceiro que se apropriou indevidamente de verbas relativas a benefício 
previdenciário. 
Não há previsão específica para este caso na LC 109/2001, razão pela qual se aplica o art. 206, 
§ 3º, IV, do Código Civil (pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa). 
Ex: o segurado morreu e, como a entidade de previdência não foi informada, continuou a 
depositar, todos os meses, o valor da aposentadoria; tais quantias foram sacadas 
indevidamente da conta bancária por uma sobrinha do falecido; a entidade terá o prazo de 3 
anos para reaver os valores. STJ. 4ª Turma. REsp 1.334.442-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 588). 
 
Veja comentários em Direito Previdenciário. 
 
 
 
CONDOMÍNIO 
Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio 
 
Importante!!! 
O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em 
razão de inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que 
destinadas apenas a lazer. STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João mora no condomínio de apartamentos "Viva la Vida". 
Em virtude de dificuldades financeiras, ele se encontra devendo três meses da cota condominial. 
Diante disso, o síndico proibiu que João e seus familiares utilizem o centro recreativo do condomínio. 
João foi reclamar com o síndico e este mostrou o regimento interno do condomínio que, expressamente, 
proíbe os condôminos inadimplentes de utilizarem as áreas comuns. 
Não satisfeito, João propôs ação declaratória de nulidade da cláusula do regimento interno cumulada com 
indenização por danos morais. 
 
Indaga-se: o regimento interno poderá determinar que o condômino inadimplente fique proibido de 
utilizar as áreas comuns do condomínio? Esta previsão é válida? 
NÃO. 
 
O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de 
inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Direito ao uso das áreas comuns decorre do direito de propriedade 
O direito do condômino ao uso das partes comuns, seja qual for a destinação a elas atribuídas, não 
 
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decorre de ele estar ou não adimplente com as despesas condominiais. Este direito provém do fato de 
que, por lei, a unidade imobiliária abrange não apenas uma fração ideal no solo (unidade imobiliária), mas 
também as outras partes comuns. Veja o que diz o Código Civil: 
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são 
propriedade comum dos condôminos. 
(...) 
§ 3º A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras 
partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no instrumento de instituição do 
condomínio. 
 
Em outras palavras, a propriedade da unidade imobiliária abrange a correspondente fração ideal de todas 
as partes comuns. O proprietário do apartamento também é "dono" de parte das áreas comuns. 
Dessa forma, a proibição de que o condômino tenha acesso a uma área comum (seja qual for a sua 
destinação) viola o que se entende por condomínio, limitando, indevidamente, o direito de propriedade. 
 
Punições para o condômino inadimplente 
Os condôminos possuem o dever de contribuir para as despesas condominiais, conforme determina o art. 
1.336, I, do CC. No entanto, as consequências pelo seu descumprimento devem ser razoáveis e proporcionais. 
No caso de descumprimento do dever de contribuição pelas despesas condominiais, o Código Civil impõe 
ao condômino inadimplente sanções de ordem pecuniária. 
Em um primeiro momento, a lei determina que o devedor seja obrigado a pagar juros moratórios de 1% ao 
mês e multa de até 2% sobre o débito: 
Art. 1.336 (...) 
§ 1º O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados 
ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito. 
 
Se o condômino reiteradamente apresentar um comportamento faltoso (o que não se confunde com o 
simples inadimplemento involuntário de alguns débitos), será possível impor a ele outras penalidades, 
também de caráter pecuniário, nos termos do art. 1.337: 
Art. 1.337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o 
condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar 
multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, 
conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem. 
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social, gerar 
incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a 
pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, 
até ulterior deliberação da assembleia. 
 
Dessa forma, a lei confere meios coercitivos, legítimos e idôneos, à satisfação do crédito, descabendo ao 
condomínio valer-se de sanções outras que não as pecuniárias expressa e taxativamente previstas no Código 
Civil para o específico caso de inadimplemento das despesas condominiais. Em outros termos, não existe 
margem discricionária para a imposição de outras sanções que não sejam as pecuniárias estipuladas na Lei. 
 
Veja um julgado que espelha esse entendimento: 
(...) 1. De acordo com o art. 1.336, § 1º, do Código Civil, o condômino que não pagar a sua contribuição 
ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de 1% (um por cento) ao 
mês e multa de até 2% (dois por cento) sobre o débito. 
2. O condômino que deixar de adimplir reiteradamente a importância devida a título de cotas 
condominiais poderá, desde que aprovada a sanção em assembleia por deliberação de 3/4 (três quartos) 
dos condôminos, ser obrigado a pagar multa em até o quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as 
 
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despesas condominiais, conforme a gravidade da falta e a sua reiteração. 
3. A aplicação da sanção com base no art. 1.337, caput, do Código Civil exige que o condômino seja 
devedor reiterado e contumaz em relação ao pagamento dos débitos condominiais, não bastando o 
simples inadimplemento involuntário de alguns débitos. 
4. A multa prevista no § 1º do art. 1.336 do CC/2002 detém natureza jurídica moratória, enquanto a 
penalidade pecuniária regulada pelo art. 1.337 tem caráter sancionatório, uma vez que, se for o caso, o 
condomínio pode exigir inclusive a apuração das perdas e danos. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1247020/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2015. 
 
Vedar acesso às áreas comuns viola o princípio da dignidade da pessoa humana 
Além das sanções pecuniárias, a lei estabelece em favor do condomínio instrumentos processuais 
efetivos e céleres para se cobrar as dívidas condominiais. 
A Lei nº 8.009/90, por exemplo, autoriza que a própria unidade condominial (apartamento, casa etc.) seja 
penhorada para o pagamento dos débitos, não podendo o condômino devedor alegar a proteção do bem 
de família. 
O CPC/2015, por sua vez, prevê que as cotas condominiais possuem natureza de título executivo 
extrajudicial(art. 784, VIII), permitindo, assim, o ajuizamento direto de ação executiva, tornando a 
satisfação do débito ainda mais célere. 
Desse modo, diante de todos esses instrumentos colocados à disposição pelo ordenamento jurídico 
percebe-se que não há razão legítima para que o condomínio se valha de meios vexatórios de cobrança. 
A proibição de que o devedor tenha acesso e utilize as áreas comuns do condomínio pelo simples fato de 
que ele está inadimplente acaba expondo ostensivamente a sua condição de inadimplência perante o 
meio social em que reside, o que, ao final, viola o princípio da dignidade humana. 
 
STJ avança no tema 
Vale ressaltar que o presente julgado representa um avanço na proteção da dignidade do condômino 
inadimplente. Isso porque o STJ possuía um entendimento anterior que dizia o seguinte: a assembleia 
geral de condôminos não pode proibir o condômino inadimplente de usar os serviços essenciais do 
condomínio (ex: elevador); por outro lado, segundo esta posição anterior, seria possível que se restringisse 
o acesso do devedor a bens e serviços de caráter supérfluo, tais como piscina, sauna, salão de festas etc. O 
julgado a que me refiro é o Resp 1.401.815-ES, Min. Rel. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013. 
Dessa forma, o STJ abandona esta distinção e afirma agora que não se pode negar o direito do condômino 
inadimplente de ter acesso às áreas comuns do condomínio independentemente de sua finalidade, ou seja, 
ele terá direito de usar tais partes comuns, sejam elas de caráter essencial, sejam apenas destinadas ao lazer. 
 
 
 
DIREITOS AUTORAIS 
Responsabilidade pelo pagamento de direitos autorais decorrentes de evento executado 
por sociedade empresária contratada mediante licitação 
 
Se o Município contratou, mediante licitação, uma empresa para a realização do evento, será 
dela a responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais. 
Exceções: esta responsabilidade poderá ser transferida para o Município em duas hipóteses: 
1) se ficar demonstrado que o Poder Público colaborou direta ou indiretamente para a 
execução do espetáculo; ou 
2) se ficar comprovado que o Município teve culpa em seu dever de fiscalizar o cumprimento 
do contrato público (culpa in eligendo ou in vigilando). 
Em síntese: no caso em que sociedade empresária tenha sido contratada mediante licitação 
para a execução integral de evento festivo promovido pelo Poder Público, a contratada - e não 
 
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o ente que apenas a contratou, sem colaborar direta ou indiretamente para a execução do 
espetáculo - será responsável pelo pagamento dos direitos autorais referentes às obras 
musicais executadas no evento, salvo se comprovada a ação culposa do contratante quanto ao 
dever de fiscalizar o cumprimento dos contratos públicos (culpa in eligendo ou in vigilando). STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Determinado Município do interior queria fazer a festa de carnaval da cidade. Para isso, contratou, 
mediante licitação, uma empresa privada produtora de eventos. 
A empresa realizou a festa de carnaval da cidade, que teve a participação de algumas bandas musicais. 
Diante disso, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) ajuizou ação de cobrança contra o 
Município alegando que não foram pagos os valores relativos aos direitos autorais das músicas executadas 
durante a festa. 
Em resposta, o Município alegou que: 
1) o evento era público, na rua, e que não havia intuito de lucro; logo, não seria possível a cobrança de 
direitos autorais. 
2) foi contratada uma empresa privada para a realização de todo o evento, tendo ela recebido para isso; 
desse modo, ela é que seria responsável pelo pagamento dos direitos autorais, caso se considere que estes 
são devidos. 
 
1) O ECAD poderia cobrar direitos autorais relacionados com a realização deste evento? 
SIM. 
 
É possível a cobrança de direitos autorais, pelo ECAD, na hipótese de execução de obras musicais 
protegidas em eventos realizados por entes públicos, independentemente da existência de fins lucrativos. 
A utilização de obras musicais em espetáculos carnavalescos gratuitos promovidos pela municipalidade 
enseja a cobrança de direitos autorais à luz da Lei nº 9.610/98, que não mais está condicionada à auferição 
de lucro direto ou indireto pelo ente promotor do evento. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
A Lei nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais), em regra, não exige que o evento tenha finalidade lucrativa 
(direta ou indireta) para que seja obrigatório o pagamento dos direitos autorais. Em outras palavras, em 
regra, mesmo que a exibição da obra não tenha objetivo de lucro, ainda assim é devido o pagamento da 
retribuição autoral. 
O fato gerador do pagamento dos direitos autorais é a exibição pública da obra artística, em local de 
frequência coletiva. 
 
2) Em princípio, a responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais era do Município? 
NÃO. 
 
Se o Município contratou, mediante licitação, uma empresa para a realização do evento, será dela a 
responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais. 
Exceções: esta responsabilidade poderá ser transferida para o Município em duas hipóteses: 
1) se ficar demonstrado que o Poder Público colaborou direta ou indiretamente para a execução do 
espetáculo; ou 
2) se ficar comprovado que o Município teve culpa em seu dever de fiscalizar o cumprimento do 
contrato público (culpa in eligendo ou in vigilando). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
 
 
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Por que o dever de pagar os direitos autorais é da empresa contratada para realizar o evento? 
De acordo com o § 4º do art. 68 da Lei nº 9.610/98, antes da realização do evento em que haverá a 
execução pública de obras musicais, o "empresário" deve apresentar ao ECAD a comprovação dos 
recolhimentos relativos aos direitos autorais. Se houver o descumprimento desta obrigação, cabe ao ECAD 
cobrar a dívida, judicial ou extrajudicialmente. 
Desse modo, quando o § 4º do art. 68 fala em "empresário", entende-se a pessoa responsável pela 
realização do evento. 
 
E qual é o fundamento para não se cobrar, a princípio, do Município? 
O fundamento para esta conclusão encontra-se no art. 71 da Lei nº 8.666/93: 
Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais 
resultantes da execução do contrato. 
§ 1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não 
transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do 
contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis. 
§ 2º A Administração Pública responde solidariamente com o contratado pelos encargos previdenciários 
resultantes da execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. 
 
A doutrina assevera ao comentar o tema: 
"(...) quando a Administração contrata e paga a empresa ou o profissional para o fornecimento de bens, 
para a prestação de serviços ou para a execução de obras, ela transfere ao contratado toda e qualquer 
responsabilidade pelos encargos decorrentes da execução do contrato. Ao ser apresentada a proposta 
pelo licitante, ele, portanto, irá fazer incluir em seu preço todos os encargos, de toda e qualquer natureza. 
Desse modo, quando o poder público paga ao contratado o valor da remuneração pela execução de sua 
parte na avença, todos os encargos assumidospelo contratado estão sendo remunerados. Não cabe, 
portanto, querer responsabilizar a Administração, por exemplo, pelos encargos assumidos pelo contratado 
junto aos seus fornecedores. (...)" (FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos. 6ª ed., Belo 
Horizonte: Fórum, 2015, p. 599). 
 
A única exceção está expressamente prevista no § 2º do art. 71 da Lei nº 8.666/93, segundo o qual a 
Administração Pública responde solidariamente com o contratado pelos encargos previdenciários 
resultantes da execução do contrato. Fora dessa específica hipótese, não há que se falar em 
responsabilidade solidária do ente público. 
 
No julgamento da ADC nº 16/DF, o STF declarou a constitucionalidade do referido art. 71. 
 
Desde então, a jurisprudência entende que o ente público, em regra, não responde pelos débitos da 
empresa contratada, salvo se provado que contribuiu culposamente para o resultado danoso. Confira: 
(...) Na ADC 16, este Tribunal afirmou a tese de que a Administração Pública não pode ser responsabilizada 
automaticamente por débitos trabalhistas de suas contratadas ou conveniadas. Só se admite sua 
condenação, em caráter subsidiário, quando o juiz ou tribunal conclua que a entidade estatal contribuiu 
para o resultado danoso ao agir ou omitir-se de forma culposa (in eligendo ou in vigilando). (...) 
STJ. 1ª Turma. Rcl 16.846 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 19/5/2015. 
 
Os valores pagos a título de direito autoral estão incluídos nos encargos de que trata o art. 71? 
SIM. Os direitos autorais cobrados pelo ECAD possuem natureza jurídica eminentemente privada e, 
portanto, consideram-se inseridos no conceito de "encargos comerciais". 
 
 
 
 
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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA 
Na ação de busca e apreensão fundada no DL 911/69, o prazo de 15 dias para resposta 
deve ser contado a partir da juntada aos autos do mandado de citação cumprido 
 
Importante!!! 
Atualize seus livros! 
Em ação de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, o termo inicial para a 
contagem do prazo de 15 dias para o oferecimento de resposta pelo devedor fiduciante é a data 
de juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido (e não a data da execução 
da medida liminar). 
O mandado de busca e apreensão/citação veicula, simultaneamente, a comunicação ao devedor 
acerca da retomada do bem alienado fiduciariamente e sua citação, daí decorrendo dois prazos 
diversos: 
a) de 5 dias, contados da execução da liminar, para o pagamento da dívida; e 
b) de 15 dias, a contar da juntada do mandado aos autos, para o oferecimento de resposta. STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.052-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/8/2016 (Info 588). 
 
CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
REGRAMENTO 
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: 
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; 
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e 
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento 
bancário com garantia de alienação fiduciária. 
 
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma 
subsidiária: 
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à 
disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código 
naquilo que não for incompatível com a legislação especial. 
 
Resumindo: 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS fungíveis e 
infungíveis quando o credor 
fiduciário for instituição 
financeira 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS infungíveis 
quando o credor fiduciário for 
pessoa natural ou jurídica (sem 
ser banco) 
Alienação fiduciária de 
bens IMÓVEIS 
Lei nº 4.728/65 
Decreto-Lei nº 911/69 
Código Civil de 2002 
(arts. 1.361 a 1.368-A) Lei nº 9.514/97 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS 
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis. 
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco 
“X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do 
empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas no documento, a propriedade do automóvel 
é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade 
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o 
automóvel passa a pertencer a Antônio. 
 
O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? 
Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69): 
 
1) Notificação do devedor 
No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do simples vencimento do prazo para pagamento, mas 
a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso, notificando o devedor. 
Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, 
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de 
busca e apreensão. Confira: 
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado 
fiduciariamente. 
 
Pergunta importante: como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por 
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? 
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser 
realizada por intermédio do Cartório de RTD. 
Essa foi uma das mudanças operadas pela Lei n.q 13.043/2014 no § 2º do art. 2º do DL 911/69. 
 
 
NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR NA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
 
Antes da Lei n.q 13.043/2014 ATUALMENTE 
 
O credor deveria demonstrar a mora do devedor 
por duas formas: 
a) por carta registada expedida por intermédio de 
Cartório de Títulos e Documentos; ou 
b) pelo protesto do título, realizado pelo 
Tabelionato de Protesto. 
 
Ficou mais fácil. O credor pode demonstrar a mora 
do devedor por meio de carta registrada com aviso 
de recebimento. 
Não mais se exige que a carta registrada seja 
expedida pelo Cartório de Títulos e Documentos. 
É dispensável que haja o protesto do título. 
 
O objetivo da alteração foi o de reduzir o custo da notificação, permitindo que seja feita por mera emissão 
de carta via Correios, evitando, assim, que a instituição financeira tenha que pagar os emolumentos para os 
titulares de Cartórios. 
 
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? 
NÃO. A Lei nº 13.043/2014 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que não se exige que 
a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário. 
 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizadopor Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Obs: apesar de não estar expressamente prevista no DL 911/69, a jurisprudência do STJ já entendia que a 
notificação não precisava ser pessoal, bastando que fosse entregue no endereço do devedor: 
(...) Esta Corte consolidou entendimento no sentido de que, para a constituição em mora por meio de 
notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do devedor, ainda que não 
pessoalmente. (...) 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 419.667/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/05/2014. 
 
Portanto, a alteração legislativa confirma a solução que já havia sido dada pelo STJ ao tema. 
 
2) Ajuizamento da ação 
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão 
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior. 
 
3) Concessão da liminar 
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a 
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69). 
A concessão liminar da busca e apreensão pode ocorrer no plantão judiciário (art. 3º do DL 911/69): 
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo 
§ 2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem 
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. 
 
4) Inserção de restrições sobre o veículo 
Se o bem objeto da alienação fiduciária for um veículo, caso seja concedida a liminar na busca e apreensão, 
uma medida de grande eficácia para conseguir localizar e recuperar o bem é inserir uma restrição judicial 
no “registro” do veículo. 
Pensando nisso, o § 9º do art. 3º do DL 911/69 estipula que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de 
veículo, deverá inserir uma restrição judicial na base de dados do Renavam. 
Renavam significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um banco de dados que funciona 
como um registro de todos os veículos existentes no Brasil. Cada veículo recebe um número identificador que é 
chamado de “código renavam” e lá são registradas todas as informações sobre a “vida” do automóvel, desde o 
momento da sua fabricação ou importação, passando pelo emplacamento, mudanças de proprietário, 
alterações em sua cor e características, até o instante em que o veículo sai de circulação. 
O Poder Judiciário mantém convênio com o DENATRAN por meio do qual os magistrados possuem acesso 
ao sistema informatizado do Renavam. Assim, o juiz pode digitar seu login e sua senha, entrar na página 
interna do Renavam e inserir restrições judiciais incidentes sobre os veículos objeto do processo. Assim, 
quando o carro for parado em uma blitz ou for realizar uma inspeção de rotina no DETRAN, aparecerá 
aquela informação no sistema e o veículo será apreendido e entregue à Justiça. 
Dessa forma, quando o juiz decreta a busca e apreensão, ele próprio, com sua senha, deverá inserir 
diretamente a restrição judicial no RENAVAM. Caso ele não tenha acesso à base de dados, deverá expedir 
um ofício ao DETRAN para que: 
I - registre o gravame referente à decretação da busca e apreensão do veículo; e 
II - retire o gravame após a apreensão do veículo. 
 
5) Apreensão do bem 
Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde está tramitando a ação (ex: o processo 
tramita em Belo Horizonte e o carro foi encontrado em Lavras), a parte interessada poderá requerer 
diretamente ao juízo desta comarca pedindo a apreensão do veículo, bastando que em tal requerimento 
conste a cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do despacho que concedeu a busca e 
apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º do DL 911/69). 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
A apreensão do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a instituição financeira para 
retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do art. 3º). 
O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão, deverá entregar o bem e seus 
respectivos documentos (§ 14 do art. 3º). 
 
6) Possibilidade de pagamento integral da dívida 
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a 
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese 
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal: 
Art. 3º (...) 
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse 
plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando 
for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele 
indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os 
valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do 
ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
 
O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Para que o devedor tenha de volta o bem, ele 
deverá pagar todo o valor do financiamento ou somente as parcelas já vencidas e não pagas (purgação 
da mora)? Ex: Antônio financiou o veículo em 60 parcelas. A partir da 20ª prestação, ele começou a não 
mais pagar. Estão vencidas 5 parcelas. Para ter de volta o bem, ele terá que pagar somente as 5 parcelas 
vencidas (purgação mora) ou todo o financiamento restante (40 parcelas)? 
Todo o débito. 
Segundo decidiu o STJ, a Lei nº 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a 
possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações vencidas. 
Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou 
seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução 
da liminar. 
Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 40 parcelas restantes. 
 
O devedor purga a mora quando ele oferece ao devedor as prestações que estão vencidas e mais o valor 
dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar 
as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n.q 
10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora. 
 
Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte 
conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes: 
Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias 
após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida 
esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da 
propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) 
(Info 540). 
 
Nos contratos anteriores à vigência da Lei n.q 10.931/2004 é permitida a purgação da mora? 
SIM. Antes da Lei n.q 10.931/2004 era permitida a purgação da mora, desde que o devedor já tivesse pago no 
mínimo 40% do valor financiado. Tal entendimento estava, inclusive, consagrado em um enunciado do STJ: 
Súmula 284-STJ: A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos 
pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado. 
 
Informativo 588-STJ(17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
A súmula 284-STJ ainda é válida? 
• Para contratos anteriores à Lei 10.931/2004: SIM. 
• Para contratos posteriores à Lei 10.931/2004: NÃO. 
 
7) Resposta 
No prazo de 15 dias, o devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação). 
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da 
dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição. 
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas 
contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso 
justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora. 
 
Importante. Qual é o termo inicial para a contagem deste prazo de 15 dias: o dia em que for executada a 
medida liminar (apreensão do bem) ou a data da juntada do mandado de citação cumprido? 
Data da juntada aos autos do mandado de citação cumprido. Foi o que decidiu o STJ: 
Em ação de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, o termo inicial para a contagem do 
prazo de 15 dias para o oferecimento de resposta pelo devedor fiduciante é a data de juntada aos autos 
do mandado de citação devidamente cumprido (e não a data da execução da medida liminar). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.052-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/8/2016 (Info 588). 
 
A redação do DL nº 911/1969 dá a entender que o prazo para a resposta será contado da execução da 
liminar. Veja: 
Art. 3º (...) § 3º O devedor fiduciante apresentará resposta no prazo de quinze dias da execução da liminar. 
 
O STJ, contudo, afirma que este prazo de resposta não pode ser contado a partir da execução da liminar. 
Isso porque o juiz concede a busca e apreensão de forma liminar, ou seja, sem ouvir o devedor. 
 
Desse modo, é indispensável que seja realizado um ato formal de citação do devedor, sendo isso 
imprescindível ao desenvolvimento válido e regular do processo, visto que somente a perfeita angularização 
da relação processual é capaz de garantir à parte demandada o pleno exercício do contraditório. 
 
Assim, concedida a liminar inaudita altera parte, cumpre ao magistrado expedir um mandado, que tem 
dupla finalidade: 1) autorizar a busca e apreensão do bem; 2) promover a citação do réu. Assim, depois de 
executada a liminar, ou seja, depois de o bem ter sido apreendido, deverá o réu ser citado. No mandado 
constará o prazo de 15 dias, que começará a ser contado da sua juntada aos autos. 
 
O entendimento do STJ encontra respaldo na doutrina especializada: 
"(...) juntamente com a expedição inicial do mandado de busca e apreensão, em cumprimento aos 
comandos da medida liminar deferida initio litis, segue-se a expedição do mandado de citação, uma vez que 
o ato processual de citação deverá ser realizado tão logo seja consumado o ato processual anterior, qual 
seja, a busca e apreensão da garantia fiduciária. 
Note-se, no tocante à citação, que a Lei nº 10.931/04, ao modificar a redação dos parágrafos do art. 3º do 
Decreto-lei nº 911/69, acabou por omitir nas novas disposições a referência antes existente relativa ao ato 
citatório, em especial ao momento de sua realização. Todavia, apesar da omissão da legislação quando do 
estabelecimento dos novos contornos para o procedimento da ação de busca e apreensão ora sob enfoque, 
de todo razoável admitir-se que esse ato processual de chamamento do réu a juízo deve ocorrer 
imediatamente após o cumprimento da medida liminar, tal como era previsto na revogada redação do art. 
3º do Decreto-lei nº 911/69. Essa redação anterior tinha uma razão de ser, que em nada se modificou com 
a mudança legislativa." (ASSUMPÇÃO, Márcio Calil de. Ação de busca e apreensão: alienação fiduciária. 2ª 
ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 99) 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
"(...) o termo inicial para a contagem do prazo de 15 dias não é a 'execução da liminar', tendo-se em conta a 
necessidade de interpretar-se o art. 3º, § 3º do Dec.-lei 911/1969 sistematicamente com as regras 
insculpidas no Código de Processo Civil (macrossistema instrumental), (...) 
Conclui-se, portanto, que a contagem do prazo de quinze dias para oferecimento de resposta, em ação 
especial de busca e apreensão fundada em propriedade fiduciária tem o dies a quo a partir da juntada aos 
autos do mandado liminar (e citatório) devidamente cumprido, excluindo-se, para tanto, o dia do começo 
(primeiro dia útil após), incluindo o do vencimento." (FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Ação de busca e 
apreensão em propriedade fiduciária. São Paulo: RT, 2005, p. 153-154). 
 
Existe outro precedente do STJ, da 4ª Turma, no mesmo sentido: 
(...) O mandado de busca e apreensão/citação veicula, simultaneamente, a comunicação ao devedor acerca 
da retomada do bem alienado fiduciariamente e sua citação, daí decorrendo dois prazos diversos: (i) de 5 
dias, contados da execução da liminar, para o pagamento da dívida (art. 3º, §§ 1º e 2º, do Decreto-Lei n. 
911/1969, c/c 240 do CPC); e (ii) de 15 dias, a contar da juntada do mandado aos autos, para o 
oferecimento de resposta (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.148.622/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2013. 
 
 
 
PARENTESCO SOCIOAFETIVO 
(I)legitimidade do filho para pedir que sua falecida mãe 
seja reconhecida como filha dos pretensos avós 
 
O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória 
de filiação socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da 
ação, pré-morta (já falecida) - e os supostos pais socioafetivos dela. 
Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento de sua relação de 
parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, seria outra ação, na qual se 
buscaria um direito próprio (e não de sua mãe). STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/8/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Francisca foi criada, desde os 3 anos de idade, por João e Maria, que a tratavam como se fosse filha, 
apesar de não haver nenhum vínculo biológico entre eles. 
Muitos anos se passaram, Francisca cresceu e teve um filho (Pedro). 
Aos 45 anos de idade, Francisca faleceu em virtude de um ataque cardíaco. 
Alguns meses após a morte da mãe, Pedro, que é advogado, ajuizou ação declaratória de paternidade 
socioafetiva contra João e Maria, pedindo que sua falecida mãe (Francisca) seja reconhecida, post mortem, 
como filha socioafetiva do casal. 
 
A ação proposta terá êxito? 
NÃO. 
 
O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão declaratória de filiação 
socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo do ajuizamento da ação, pré-morta (já 
falecida) - e os supostos pais socioafetivos dela. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/8/2016 (Info 588). 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
O Código Civil prevê quem é legitimado para propor ação pedindo o reconhecimento do vínculo de parentesco: 
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele 
morrer menor ou incapaz. 
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o 
processo. 
 
A partir da análise deste dispositivo podemos extrair as seguintes regras: 
x Se a pessoa estiver viva, ela é quem deverá propor a ação; 
x Se a pessoa tiver morrido menor ou incapaz, os herdeiros poderão iniciar a ação; 
x Se a pessoa tiver proposto a ação quando estava viva e no curso do processo tiver falecido, os 
herdeiros poderão continuar o processo. 
 
Oautor ingressou com a ação, em nome próprio, pedindo que a sua falecida mãe fosse reconhecida como 
filha de João e Maria. Ocorre que sua mãe, quando em vida, não propôs a demanda. Além disso, ela 
morreu maior e capaz. Logo, não se enquadra em qualquer das hipóteses do art. 1.606 do CC, até porque 
o estado de filiação é considerado como um direito personalíssimo. 
 
Observação: 
Vale ressaltar que, no caso concreto acima explicado, o autor não ingressou com uma ação de 
reconhecimento de parentesco avoengo. Em outras palavras, ele não ajuizou a ação pedindo que fosse 
reconhecido como neto de João e Maria. Seu pedido foi para que sua falecida mãe fosse declarada como 
filha do casal. Isso é que foi analisado e julgado pelo STJ, encontrando óbice no art. 1.606 do CC. 
Nada impede que o autor ajuíze ação pedindo o reconhecimento de sua relação de parentesco 
socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, será uma outra ação, na qual se buscará um direito 
próprio (e não da falecida mãe). Esta outra ação seria, em tese, processualmente viável, conforme 
entendimento da doutrina majoritária. Nesse sentido: 
Enunciado 521-CJF/STJ: Qualquer descendente possui legitimidade, por direito próprio, para propor o 
reconhecimento do vínculo de parentesco em face dos avós ou de qualquer ascendente de grau superior, 
ainda que o pai não tenha iniciado a ação de prova da filiação em vida. 
 
 
 
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL 
Não é possível a partilha de lucros de sociedade empresária 
quando estes estão destinados à conta de reserva 
 
Algumas vezes, uma empresa apura lucro, mas decide que não irá distribuí-los aos acionistas, 
retendo esses lucros com o objetivo de incrementar o seu capital social. 
O lucro destinado à conta de reserva, ou seja, que não é distribuído aos sócios, continua 
pertencendo à sociedade empresária (e não ao sócio). Em razão disso, essa quantia não será 
partilhada caso um dos sócios termine a união estável que mantinha. 
Em outras palavras, os lucros de sociedade empresária destinados a sua própria conta de 
reserva não são partilháveis entre o casal no caso de dissolução de união estável de sócio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.595.775-AP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2012, João passou a viver em união estável com Maria. 
Antes de iniciar o relacionamento com Maria, João já era sócio de 50% de uma sociedade empresária. 
Em 2015, a sociedade empresária teve lucro líquido de R$ 1 milhão. 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Ocorre que esse dinheiro não foi distribuído aos sócios, tendo sido integralmente mantido na própria 
conta da empresa como reserva para novos investimentos. 
No começo de 2016 chegou ao fim o relacionamento entre João e Maria. 
Maria ajuizou ação de dissolução de união estável pedindo a partilha dos bens adquiridos durante a 
relação. Dentre os bens, ela pediu que fossem pagos a ela R$ 250 mil referentes ao lucro líquido da 
sociedade empresária em 2015. 
O raciocínio da autora foi o seguinte: a empresa lucrou R$ 1 milhão; metade é de um sócio e a outra 
metade de João (R$ 500 mil); ocorre que metade do que é de João pertence a Maria; logo, ela teria direito 
a R$ 250 mil. 
 
O pedido de Maria para divisão do lucro da empresa que está na conta de reserva deve ser aceito? Os 
lucros apurados de uma empresa criada antes da união estável e não revertidos para o sócio por 
ausência de distribuição de lucros no exercício contábil devem ser partilhados com a ex-companheira? 
Em outras palavras, integra o acervo comum do ex-casal o lucro destinado à conta reserva de empresa 
constituída anteriormente à relação? 
NÃO. 
 
Os lucros de sociedade empresária destinados a sua própria conta de reserva não são partilháveis entre 
o casal no caso de dissolução de união estável de sócio. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.595.775-AP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Quando uma empresa apura lucro, existe a necessidade de decidir o que será feito com essa quantia. 
Existem, basicamente, duas possibilidades: 
a) distribuição de dividendos aos acionistas; ou 
b) a retenção dos lucros para constituir reservas ou compensar prejuízos anteriores. 
 
Os lucros retidos consistem em lucros obtidos pela sociedade e que se decidiu manter na própria empresa, 
não distribuindo como dividendos. Normalmente, as empresas retêm os lucros com o objetivo de financiar 
suas operações futuras. Ao deixar de distribuir os lucros a seus acionistas, a empresa se capitaliza, ou seja, 
torna o seu capital próprio maior, melhora sua estrutura de capitais e financia seu crescimento com 
recursos próprios. 
 
Se os dividendos não foram distribuídos aos sócios, tendo permanecido retidos na empresa para 
reinvestimento, isso significa dizer que tais valores continuam pertencendo à pessoa jurídica. Nesse 
sentido é o que diz a doutrina especializada: 
"(...) O Jurista Erymá Carneiro, mestre em contabilidade, conceitua que 'juridicamente reserva nada mais é 
do que o lucro não distribuído, conceito que vamos encontrar confirmado na jurisprudência dos Tribunais 
judiciários e fiscais do País. Verifica-se que nossa lei adotou o conceito contábil de reserva, que assim 
passa a ter conteúdo também de direito, princípio, aliás, que tem sido adotado nas legislações modernas'. 
A finalidade jurídica das reservas, continua aquele autor, é servir de garantia e reforço do capital social, 
garantia dos credores. 'São adiantamentos ao capital das empresas', expõe ele, 'ao qual servem de 
reforço. Daí dizer-se que as reservas pertencem à sociedade e não ao sócio'". (REQUIÃO, Rubens. Curso de 
Direito Comercial. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, v. 2, 2007. p. 245) 
 
Logo, não houve acréscimo patrimonial para o sócio e esta quantia não integrou o patrimônio do casal. No 
caso concreto, o que aconteceu foi a valorização das cotas sociais pertencentes unicamente ao ex-
companheiro. "A valorização patrimonial das cotas sociais de sociedade limitada, adquiridas antes do início 
do período de convivência, decorrente de mero fenômeno econômico, e não do esforço comum dos 
companheiros, não se comunica." (STJ. 3ª Turma. REsp 1.173.931/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso 
Sanseverino, julgado em 22/10/2013). 
 
 
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DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PLANO DE SAÚDE 
Não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado por entidade de autogestão 
 
Não se aplica o CDC às relações entre as operadoras de planos de saúde constituídas sob a 
modalidade de autogestão e seus filiados. 
Assim, os planos de saúde de autogestão podem ser considerados como uma exceção à Súmula 
469 do STJ: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde." 
A operadora de plano privado de assistência à saúde na modalidade de autogestão é pessoa 
jurídica de direito privado sem finalidades lucrativas que, vinculada ou não à entidade pública 
ou privada, opera plano de assistência à saúde com exclusividade para um público 
determinado de beneficiários. 
A constituição dos planos sob a modalidade de autogestão diferencia, sensivelmente, essas 
pessoas jurídicas quanto à administração, forma de associação, obtenção e repartição de 
receitas, dos contratos firmados com empresas que exploram essa atividade no mercado e 
visam ao lucro. 
Em razão disso, não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado por entidade 
de autogestão, por inexistência de relação de consumo. STJ. 2ª Seção. REsp 1.285.483-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (Info 588). 
 
Plano de saúde de autogestão 
Planos de saúde de autogestão (também chamados de planos fechados de saúde) são criados por órgãos, 
entidades ou empresas parabeneficiar um grupo restrito de filiados com a prestação de serviços de saúde. 
Tais planos são mantidos por instituições sem fins lucrativos e administrados paritariamente, de forma que 
no seu conselho deliberativo ou de administração, há representantes do órgão ou empresa instituidora e 
também dos associados ou usuários. 
O objetivo desses planos fechados é baratear para os usuários o custo dos serviços de saúde, tendo em 
vista que não visam ao lucro. 
Exemplo: CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil). 
 
Segundo a Resolução Normativa 137, da ANS, de 14/11/2006, a operadora de autogestão é... 
(...) a pessoa jurídica de direito público ou privado que, diretamente ou por intermédio de entidade 
pública ou privada patrocinadora, instituidora ou mantenedora, administra plano coletivo de assistência à 
saúde destinado exclusivamente a pessoas (e seus dependentes) a ela ligadas por vínculo jurídico ou 
estatutário, ou aos participantes (e seus dependentes) de associações, fundações, sindicatos e entidades 
de classes, nos termos dos incisos I, II e III e § 2º, do art. 2º. 
 
A relação entre a empresa de plano de saúde constituída sob a modalidade de autogestão e os seus 
filiados é regida pelo Código de Defesa do Consumidor? 
NÃO. 
 
Não se aplica o CDC às relações existentes entre operadoras de planos de saúde constituídas sob a 
modalidade de autogestão e seus filiados. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.285.483-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (Info 588). 
 
As operadoras de planos de saúde constituídas sob a modalidade de autogestão possuem inúmeras 
diferenças em relação às operadoras comerciais de plano de saúde. Confira as principais distinções: 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
Planos de saúde comerciais 
(inclui-se aqui as cooperativas Planos de saúde de autogestão 
Operam em regime de mercado. Não operam em regime de mercado. 
Buscam auferir lucro com as contribuições vertidas 
pelos participantes (proveito econômico). 
Não têm objetivo de lucro. 
Os assistidos não participam da gestão do plano. Os assistidos participam da gestão do plano. 
São comercializados para o público em geral. São disponibilizados para um grupo restrito de 
pessoas que possuem alguma relação com o plano. 
 
Por conta dessas diferenças, os atos regulamentares da ANS conferem tratamento diferenciado para os 
planos de saúde de autogestão, com a finalidade de atender às características próprias dessa modalidade 
de operadora, possibilitando a redução dos custos de sua manutenção, cujos serviços são prestados, não 
mediante contraprestação pecuniária com a finalidade de obtenção de lucro, mas a partir de contribuições 
dos participantes calculadas, em regra, com base nos seus salários/aposentadorias etc., observando-se, 
com isso, os princípios do mutualismo e da solidariedade. 
 
Por essas razões, as regras do CDC não se aplicam às relações envolvendo entidades de planos de saúde 
constituídas sob a modalidade de autogestão. Isso porque tais entidades não oferecem serviços no 
mercado e não exercem empresa com o intuito de lucro, razão pela qual não se lhes aplica o conceito de 
fornecedor estabelecido no art. 3º, § 2º do CDC. 
 
O tratamento legal a ser dado na relação jurídica entre os associados e os planos de saúde de autogestão, 
os chamados planos fechados, não pode ser o mesmo dos planos comuns, sob pena de se criar prejuízos e 
desequilíbrios que, se não inviabilizarem a instituição, acabarão elevando o ônus dos demais associados, 
desrespeitando normas e regulamentos que eles próprios criaram para que o plano se viabilize (STJ. 3ª 
Turma. REsp 1121067/PR, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 21/06/2011). 
 
Exceção à súmula 469 do STJ 
O enunciado 469 do STJ preconiza o seguinte: 
Súmula 469-STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. 
 
Dessa forma, pela decisão acima explicada, pode-se concluir que as operadoras de planos de saúde 
constituídas sob a modalidade de autogestão representam uma exceção à regra da súmula 469 do STJ, 
considerando que para elas não se aplica o CDC. 
 
 
 
PLANO DE SAÚDE 
É abusiva cláusula que autoriza plano de saúde a indeferir procedimentos 
médico-hospitalares solicitados por médicos não integrantes do plano 
 
O plano de saúde não pode se recusar a custear exames, internações e tratamentos 
hospitalares usando como único argumento o fato de que tais procedimentos foram solicitados 
por médico não integrante da rede de atendimento do plano. 
A cláusula contratual que prevê o indeferimento de quaisquer procedimentos médico-
hospitalares, se estes forem solicitados por médicos não cooperados, deve ser reconhecida 
como cláusula abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC. STJ. 4ª Turma. REsp 1.330.919-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/8/2016 (Info 588). 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é cliente do plano de saúde Unimed. 
O cardiologista de confiança de João não está entre os médicos cadastrados no plano de saúde. Mesmo 
assim, João faz questão de se consultar com ele, pagando diretamente ao profissional pelo atendimento. 
O médico passou uma série de exames para João, tendo o paciente, de posse do receituário, procurado o 
escritório da Unimed para pegar uma “guia de autorização”, que seria levada ao laboratório credenciado. 
Ocorre que a Unimed recusou-se a autorizar os exames alegando que, no contrato assinado, existe uma 
cláusula prevendo que o plano de saúde somente irá custear exames e procedimentos que tenham sido 
solicitados pelos médicos integrantes da cooperativa. Em outras palavras, a referida cláusula prevê que 
somente serão autorizados exames prescritos pelos médicos do plano de saúde. 
 
A recusa do plano de saúde é legítima? Esta cláusula contratual é válida? 
NÃO. 
 
Em contrato de plano de assistência à saúde, é abusiva a cláusula que preveja o indeferimento de 
quaisquer procedimentos médico-hospitalares quando solicitados por médicos não cooperados. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.330.919-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/8/2016 (Info 588). 
 
A referida previsão é abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC: 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de 
produtos e serviços que: 
(...) 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; 
 
Não há razão que justifique esta cláusula. Se o paciente se consulta com médico de sua confiança e 
procura realizar os exames por ele solicitados em laboratório credenciado ao plano de saúde, não há 
prejuízo algum para a cooperativa, considerando que o valor da consulta foi arcado exclusivamente pelo 
usuário, sem pedido de reembolso. Seria muito mais custoso para o plano de saúde se, além dos exames, a 
consulta também tivesse sido realizada em um médico credenciado. Isso porque o plano de saúde teria 
que pagar a consulta mais os exames. No caso concreto, ele só terá que arcar com os exames. 
 
Desse modo, percebe-se que indeferir a solicitação do procedimento requerido pelo médico não 
cooperado não encontra justificativa no princípio do equilíbrio contratual. Na verdade, trata-se de uma 
violação pelo plano de saúde do princípio da boa-fé objetiva. 
 
Exames, internações e demais procedimentos hospitalares não podem ser vedados aos usuários 
cooperados exclusivamente pelo fato de terem sido solicitados por médico não credenciado porque isso 
configura discriminação com os galenos (médicos) não cooperados, tolhe o direito do consumidor de usar 
o plano de saúdee restringe a sua liberdade de escolher o profissional que lhe aprouver. 
 
Vale ressaltar que, além de ser nula com base no CDC, esta cláusula também é vedada pela Resolução do 
Conselho de Saúde Suplementar - CONSU nº 8, de 3 de novembro de 1998. Confira: 
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde, 
estão vedados: 
(...) 
VI - negar autorização para realização do procedimento exclusivamente em razão do profissional 
solicitante não pertencer à rede própria ou credenciada da operadora. 
 
 
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Não confundir. Alguns planos de saúde permitem que o usuário se consulte com médicos não 
credenciados e depois solicitem o reembolso da quantia paga (total ou parcialmente). Outros planos de 
saúde não oferecem isso. Se o plano de saúde disser no contrato que não irá reembolsar o paciente por 
consultas realizadas com médicos não cadastrados, esta previsão é considerada válida? 
SIM. Essa limitação contratual não se mostra abusiva, uma vez que é razoável e busca resguardar a 
operadora de fortes e imprevisíveis impactos econômico-financeiros do contrato. 
 
 
 
PLANO DE SAÚDE 
Direito de o ex-empregado continuar beneficiário em plano de saúde coletivo empresarial 
 
É assegurado ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao aposentado que contribuiu para o 
plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício o direito de continuar no plano 
durante certo período com as mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava 
quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral (arts. 
30 e 31 da Lei nº 9.656/98). 
Para isso, no entanto, é necessário que, durante o vínculo empregatício, ele contribuísse para o 
pagamento do plano. 
Quando se fala em "contribuição" para o plano, isso significa pagamento de mensalidade. 
Assim, se apenas a empresa contribuía para o plano, o ex-empregado não terá direito de 
continuar nele mesmo que este plano fosse sob a modalidade de coparticipação (quando o 
usuário, apesar de não pagar contribuição mensal, paga uma parte do tratamento/consulta). 
Resumindo: o empregado que for aposentado ou demitido sem justa causa não terá direito de 
ser mantido em plano de saúde coletivo empresarial custeado exclusivamente pelo 
empregador - sendo irrelevante se houver coparticipação no pagamento de procedimentos de 
assistência médica, hospitalar e odontológica -, salvo disposição contrária expressa em 
contrato ou em convenção coletiva de trabalho. STJ. 3ª Turma. REsp 1.594.346-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588). 
 
Situação 1: 
Antônio era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos funcionários da instituição. 
O custeio do plano era mantido da seguinte forma: o empregador arcava todos os meses com R$ 100,00 e 
o empregado pagava outros R$ 100,00. 
Antônio foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano de saúde com as mesmas condições de 
cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 (sua 
parte e a do antigo empregador). Ele possui esse direito? 
SIM. Tal possibilidade encontra-se prevista na Lei nº 9.656/98 (que trata sobre os planos de saúde): 
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, 
em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem 
justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de 
cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu 
pagamento integral. 
 
Repare que, para o trabalhador continuar tendo direito, deverão ser atendidas três exigências: 
a) durante o vínculo empregatício, ele contribuía para o pagamento do plano; 
b) ele foi demitido sem justa causa; 
c) ele se compromete a assumir o pagamento integral das parcelas. 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
O trabalhador terá direito de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo de 24 meses, 
conforme prevê o § 1º do art. 30 da Lei nº 9.656/98. 
Se antes de completar os 24 meses, o consumidor for admitido em um novo emprego, também perderá o 
direito de continuar com as mesmas condições no plano de saúde (§ 5º do art. 30). 
 
Situação 2: 
João era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos funcionários da instituição. 
O custeio do plano era mantido integralmente pelo empregador, ou seja, todos os meses o banco pagava 
R$ 200,00 para manutenção do plano de saúde e João não precisava arcar com nada. 
Vale ressaltar, contudo, que o plano de saúde era regido pelo sistema de coparticipação, ou seja, sempre 
que João iria se submeter a uma consulta ou tratamento, o plano pagava 70% e ele deveria arcar com os 
30% restantes. 
João foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano de saúde com as mesmas condições de 
cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 que 
eram pagos pelo antigo empregador. Ele possui esse direito? 
NÃO. Isso porque o art. 30 acima transcrito afirma que o ex-empregado só tem direito de manter o plano 
de saúde se, durante o contrato de trabalho, ele contribuía para o pagamento do plano. Veja novamente 
trecho da redação: 
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei (...) 
 
João alegou que contribuía para o plano de saúde, considerando que o plano era do tipo coparticipação, 
de forma que todas as vezes que usava, ele tinha que pagar uma parte do tratamento. Essa tese foi 
aceita? A coparticipação pode ser considerada como contribuição do ex-empregado para os fins do art. 
30 da Lei nº 9.656/98? 
NÃO. O § 6º do art. 30 é expresso ao negar essa possibilidade: 
§ 6º Nos planos coletivos custeados integralmente pela empresa, não é considerada contribuição a co-
participação do consumidor, única e exclusivamente, em procedimentos, como fator de moderação, na 
utilização dos serviços de assistência médica ou hospitalar. 
 
Para os fins do caput do art. 30 da Lei nº 9.656/98, contribuir para o plano de saúde significa pagar uma 
mensalidade, independentemente de se estar usufruindo dos serviços de assistência médica. 
 
Essas mesmas regras acima expostas valem também para o empregado que tinha o plano de saúde da 
empresa, mas teve seu contrato extinto porque se aposentou? 
SIM, porém, existem algumas peculiaridades relacionadas com o tempo mínimo em que ele deve ter 
contribuído. Veja: 
Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, 
em decorrência de vínculo empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de 
manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da 
vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral. 
§ 1º Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de assistência à saúde por período inferior ao 
estabelecido no caput é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, à razão de um ano para 
cada ano de contribuição, desde que assuma o pagamento integral do mesmo. 
§ 2º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-ão as mesmas condições estabelecidas nos 
§§ 2º, 3º, 4º, 5º e 6º do art. 30. 
§ 3º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-ão as mesmas condições estabelecidas nos 
§§ 2º e 4º do art. 30. 
 
 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
O prazo máximo de 5 anos que o nomedo consumidor pode permanecer negativado 
inicia-se no dia seguinte ao vencimento da dívida 
 
Importante!!! 
O termo inicial do prazo de permanência de registro de nome de consumidor em cadastro de 
proteção ao crédito (art. 43, § 1º, do CDC) inicia-se no dia subsequente ao vencimento da 
obrigação não paga, independentemente da data da inscrição no cadastro. 
Assim, vencida e não paga a obrigação, inicia-se no dia seguinte a contagem do prazo de 5 anos 
previsto no §1º do art. 43, do CDC, não importando a data em que o nome do consumidor foi 
negativado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.117-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/4/2016 (Info 588). 
 
Como se sabe, se o consumidor está inadimplente, o fornecedor poderá incluí-lo em bancos de dados de 
proteção ao crédito (exs.: SPC e SERASA). Existe um prazo máximo no qual o nome do devedor pode ficar 
negativado? 
SIM. Os cadastros e bancos de dados não poderão conter informações negativas do consumidor referentes 
a período superior a 5 anos. É o que prevê o § 1º do art. 43 do CDC: 
§ 1º - Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil 
compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a 5 (cinco anos). 
 
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa, independentemente de 
como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está sendo cobrada em juízo ou se ainda não foi 
prescrita). 
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito 
até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução. 
 
A partir de quando se começa a contar este prazo de 5 anos: após a data em que houve o vencimento da 
dívida ou após o dia em que o nome do devedor foi inserido no SPC/SERASA? 
Ex: João deixou de pagar a conta do celular que venceu em 01 de março 2015; em 01 de julho 2015, a 
operadora incluiu o devedor no SERASA; caso não pague, o nome de João sairá do cadastro negativo em 
02 de março 2020 ou em 02 de julho de 2020? 
Em 02 de março de 2020. O STJ decidiu que: 
O termo inicial do prazo de permanência de registro de nome de consumidor em cadastro de proteção 
ao crédito (art. 43, § 1º, do CDC) inicia-se no dia subsequente ao vencimento da obrigação não paga, 
independentemente da data da inscrição no cadastro. 
Assim, vencida e não paga a obrigação, inicia-se, no dia seguinte, a contagem do prazo de 5 anos previsto 
no §1º do art. 43, do CDC, não importando a data em que o nome do consumidor foi negativado. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.117-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de 
Tarso Sanseverino, julgado em 26/4/2016 (Info 588). 
 
O § 1º do art. 43 não diz expressamente qual deverá ser o termo inicial da contagem do prazo de 5 anos. 
No entanto, é possível concluir que esta contagem deverá levar em consideração a data do vencimento da 
obrigação (e não o dia de inclusão no cadastro de inadimplentes). Existem duas razões para isso: 
 
 
 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
1ª) Interpretação mais favorável ao consumidor 
O CDC, não possuindo regra expressa, deve ser interpretado sempre de maneira mais favorável ao consumidor. 
Assim, a interpretação que mais se coaduna com o espírito do Código e, sobretudo, com os fundamentos 
para a tutela temporal do devedor, aí incluído o direito ao esquecimento, é aquela que considera como 
termo a quo do prazo a data do fato gerador da informação arquivada. 
Por isso, o prazo começa a fluir após o vencimento da obrigação, não importando o dia em que houve a 
comunicação ao SPC/SERASA ou o dia em que o nome do devedor foi efetivamente registrado. 
 
2ª) O critério deve ser objetivo, evitando o prolongamento indevido da manutenção 
Se o termo inicial do prazo de 5 anos fosse a data do registro, estaria sendo autorizado que as anotações 
fossem "perpétuas", pois bastaria que elas passassem de um banco de dados para outro ou para um banco 
de dados novo para se reiniciar este prazo, até que ocorresse a prescrição. 
Haveria, portanto, uma burla ao prazo máximo de 5 anos, que poderia ser prolongado indevidamente. 
Desse modo, o critério de início de contagem do prazo deve ser objetivo, não podendo "ficar submetido à 
vontade do banco de dados ou do fornecedor, sob pena de esvaziar, por completo, o propósito legal de 
impedir consequências negativas, como a denegação do crédito, em decorrência de dívidas consideradas – 
legalmente – antigas e irrelevantes" (BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor 3ª ed., 
São Paulo: RT, 2011, p. 311). 
 
 
 
ECA 
 
ADOÇÃO 
Não é possível que a adoção conjunta seja transformada em unilateral post mortem caso um dos 
autores desista e o outro morra sem ter manifestado intenção de adotar unilateralmente 
 
Se, no curso da ação de adoção conjunta, um dos cônjuges desistir do pedido e outro vier a 
falecer sem ter manifestado inequívoca intenção de adotar unilateralmente, não poderá ser 
deferido ao interessado falecido o pedido de adoção unilateral post mortem. 
Tratando-se de adoção em conjunto, um cônjuge não pode adotar sem o consentimento do 
outro. Assim, se proposta adoção em conjunto e um dos autores (candidatos a pai/mãe) 
desiste da ação, a adoção deve ser indeferida, especialmente se o outro vem a morrer antes de 
manifestar-se sobre a desistência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.421.409-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/8/2016 (Info 588). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Paulo e Cristina cuidam de Luisa, filha de uma ex-empregada doméstica, desde que ela era um bebê. 
A ex-empregada sumiu e deixou a filha com o casal. 
Diante disso, eles ajuizaram ação de adoção. 
Durante a tramitação do processo de adoção, Paulo ficou muito doente. 
Cristina protocolizou petição de desistência da adoção, explicando que seu esposo encontrava-se muito 
enfermo, prestes a falecer, e afirmando que não queria assumir a responsabilidade por tal ato sozinha. 
Antes que a petição de Cristina fosse analisada, Paulo morreu, tendo sido sucedido no polo processual 
pelo espólio. 
O juiz proferiu sentença decidindo o seguinte: 
a) no que se refere a Cristina, extinguiu o processo sem resolução do mérito, homologando a desistência 
formulada (art. 485, VIII, do CPC); 
b) quanto a Paulo, deferiu a adoção post mortem, de forma que Luisa tornou-se sua filha para todos os 
efeitos legais. 
 
Informativo 588-STJ (17/08 a 31/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
O magistrado argumentou que se o pai/adotante morre no curso do processo, prevalece a sua vontade de 
adotar manifestada na petição inicial, não podendo os familiares/herdeiros desistirem da ação proposta 
pelo falecido. Invocou, para tanto, o art. 42, § 6º do ECA: 
Art. 42 (...) § 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, 
vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. 
 
O espólio de Paulo interpôs recurso e a questão chegou até o STJ. A sentença foi mantida? 
NÃO. 
 
Se, no curso da ação de adoção conjunta, um dos cônjuges desistir do pedido e outro vier a falecer sem 
ter manifestado inequívoca intenção de adotar unilateralmente, não poderá ser deferido ao interessado 
falecido o pedido de adoção unilateral post mortem. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.421.409-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/8/2016 (Info 588). 
 
O § 5º do art. 42 do ECA prevê a chamada adoção póstuma, que ocorre quando o pretenso adotante 
morre no curso do processo, antes de proferida a sentença, sendo permitida a finalização do processo. 
Para isso, no entanto, é indispensável que o de cujus tenha manifestado inequivocamente sua de vontade 
de adotar.

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