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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 613-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
 É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante sua gestão em fundação privada de 
apoio à Universidade Federal. 
 
DIREITO CIVIL 
OBRIGAÇÕES 
 Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória. 
 
ARBITRAGEM 
 O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no polo passivo de eventual ação 
anulatória. 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
 Devedor pode ajuizar ação de prestação de contas contra a instituição financeira com o objetivo de se conhecer o 
resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido. 
 
USUCAPIÃO 
 A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para que o possuidor possa adquirir este 
bem por usucapião. 
 Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, esta decisão produzir 
efeitos no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no estacionamento externo e 
gratuito do estabelecimento. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CURADOR ESPECIAL 
 Curador especial pode apresentar reconvenção. 
 
RECURSOS 
 Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado, deve-se reconhecer que houve dúvida 
objetiva, que justifica o princípio da fungibilidade. 
 
EXECUÇÃO 
 Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES NO ECA 
 Se a infração penal envolveu dois adolescentes, o réu deverá ser condenado por dois crimes de corrupção de 
menores (art. 244-B do ECA). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
CRIME AMBIENTAL 
 Art. 56 da Lei 9.605/98 é crime de perigo abstrato e dispensa prova pericial. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
REMIÇÃO 
 É possível a remição pela participação em coral musical. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PIS/PASEP COFINS 
 Lei 10.865/2004 autorizou que decreto reduzisse ou restabelecesse as alíquotas do PIS/PASEP e COFINS, de forma 
que o Decreto nº 8.426/2015 é válido. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
É possível PAD contra servidor público federal que pratica ilegalidade durante 
sua gestão em fundação privada de apoio à Universidade Federal 
 
Atenção! Concursos federais 
É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e sanção, nos moldes da Lei nº 
8.112/90, em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de fundação privada 
de apoio à instituição federal de ensino superior. 
STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/08/2017 (Info 613). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é professor concursado da Universidade Federal de Brasília (UNB). 
Ele foi, então, designado para o cargo de Diretor-Presidente da Fundação de Estudos e Pesquisas em 
Administração (FEPAD), uma fundação privada, sem fins lucrativos, que presta apoio à UNB. 
Durante a gestão na fundação privada, João teria praticado atos ilícitos, razão pela qual o Ministro da 
Educação instaurou processo administrativo disciplinar para apurar a sua conduta. 
Ao final, foi aplicada pena de demissão contra o servidor. 
Diante disso, João impetrou mandado de segurança contra o ato do Ministro alegando, entre outros 
argumentos, que, “tratando-se de atividades realizadas em fundação privada, o poder disciplinar da 
Administração Pública não pode atingi-las, porquanto aquele só possui alcance quando o comportamento 
relaciona-se às atribuições do cargo público, o que não é seu caso.” Logo, a instauração do PAD e a punição 
imposta seriam ilegais. 
 
O STJ acolheu o pedido do impetrante? 
NÃO. Não houve qualquer ilegalidade. O STJ entendeu que: 
É legal a instauração de procedimento disciplinar, julgamento e sanção, nos moldes da Lei nº 8.112/90, 
em face de servidor público que pratica atos ilícitos na gestão de fundação privada de apoio à instituição 
federal de ensino superior. 
STJ. 1ª Seção. MS 21.669-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/08/2017 (Info 613). 
 
Os atos praticados por servidor público federal que assumiu cargo de gestão em fundação de natureza 
privada podem ser apurados no âmbito da Lei nº 8.112/90. 
Rafael Verol
 Informativo 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
As fundações de natureza privada são regidas pelo direito privado e possuem o objetivo de propiciar 
agilidade e autonomia às atividades acadêmicas como um todo, captando e administrando recursos 
públicos e/ou privados. 
Embora os atos ilícitos tenham sido perpetrados em uma fundação de apoio de natureza privada, é 
perfeitamente legal a instauração do procedimento disciplinar, o julgamento e a sanção, nos moldes da 
Lei nº 8.112/1990, especialmente quando a acusação imputada envolve desvios de recursos públicos 
oriundos de universidade federal - na qual o impetrante exercia cargo de professor adjunto -, o que 
contraria os princípios basilares da administração pública. 
Assim, o fato de passar a integrar também o corpo funcional da fundação não faz com que o impetrante 
deixe de ser servidor público federal, mantendo-se, portanto, sob o regramento da Lei nº 8.112/90. 
Em outras palavras, o fato de estar vinculado ao ente de apoio não o exime das sanções previstas no 
regime jurídico dos servidores públicos civis da União. 
Ademais, não se pode esquecer que, a despeito do caráter privado da fundação, está-se tratando, na 
espécie, de entidade para o fim específico de dar apoio a instituição federal, utilizando para isso recursos 
públicos. Dessa forma, observa-se uma relação intrínseca entre a universidade e a fundação, o que 
significa que devem ser observados os deveres impostos ao servidor público, esteja ele exercendo 
atividade na universidade federal ou na própria fundação de apoio, concomitantemente ou não. 
Logo, eventuais irregularidades praticadas no ente de apoio irão refletir necessariamente na universidade 
federal e causarão, de algum modo, dano ao erário. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
OBRIGAÇÕES 
Não é possível a cumulação da perda das arras 
com a imposição da cláusula penal compensatória 
 
Importante!!! 
Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a 
cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem. 
Ex: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora 
imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de 
R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a 
pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal compensatória 
prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 
10% das prestações que foram pagas por ele. Trata-se de cláusula penal compensatória. 
Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste 
caso, João perderá apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal 
compensatória. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula 
penal compensatória.Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada 
a apenas reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613). 
 
CLÁUSULA PENAL 
Conceito 
Cláusula penal é... 
- uma cláusula do contrato 
- ou um contrato acessório ao principal 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
 Informativo 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga 
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação. 
 
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena 
convencional. 
 
Natureza jurídica da cláusula penal 
Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal. 
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado. 
 
Finalidades da cláusula penal 
A cláusula penal possui duas finalidades. 
• Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do 
devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer 
prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento 
de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato. 
• Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação, 
considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional. 
 
Espécies de cláusula penal 
MORATÓRIA 
(compulsória): 
COMPENSATÓRIA 
(compensar o inadimplemento) 
Estipulada para desestimular o devedor a incorrer 
em mora ou para evitar que deixe de cumprir 
determinada cláusula especial da obrigação 
principal. 
É a cominação contratual de uma multa para o 
caso de mora. 
Estipulada para servir como indenização no caso 
de total inadimplemento da obrigação principal 
(inadimplemento absoluto). 
Funciona como punição pelo retardamento no 
cumprimento da obrigação ou pelo 
inadimplemento de determinada cláusula. 
Funciona como uma prefixação das perdas e 
danos, ou seja, representa um valor previamente 
estipulado pelas partes a título de indenização 
pela inexecução contratual. 
Ex.1: em uma promessa de compra e venda de um 
apartamento, é estipulada multa para o caso de 
atraso na entrega. 
Ex.2: multa para o caso do produtor de soja fornecer 
uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”. 
Ex.: em um contrato para que um cantor faça um 
show no réveillon, é estipulada uma multa de R$ 
100 mil caso ele não se apresente. 
A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, 
o credor poderá exigir o cumprimento da 
obrigação principal mais o valor da cláusula penal 
(poderá exigir a substituição da soja inferior e 
ainda o valor da cláusula penal). 
A cláusula penal compensatória não é cumulativa. 
Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir 
o cumprimento da obrigação principal ou apenas 
o valor da cláusula penal. 
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para 
o caso de mora, ou em segurança especial de outra 
cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de 
exigir a satisfação da pena cominada, juntamente 
com o desempenho da obrigação principal. 
Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para 
o caso de total inadimplemento da obrigação, esta 
converter-se-á em alternativa a benefício do 
credor. 
 
Multa moratória = obrigação principal + multa 
Multa compensatória = obrigação principal ou multa 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
ARRAS 
O que são as "arras"? 
Quando duas pessoas celebram um contrato, é possível que elas combinem que uma delas irá pagar à 
outra um valor em dinheiro (ou em outro bem fungível) como forma de: 
1) demonstrar que irá cumprir a obrigação no momento em que chegar o dia do vencimento; ou 
2) como uma espécie de valor que será perdido caso ela queira desistir do negócio. 
 
Para Sílvio Rodrigues, as arras “constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um contratante 
ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de firmar a presunção de acordo final e 
tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos 
contratantes, o direito de arrependimento” (Direito Civil. Vol. 2, 30ª ed, São Paulo: Saraiva. 2002, p. 279). 
 
Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia 
dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento. É o que diz o Código Civil: 
Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, 
dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou 
computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal. 
 
As arras só existem em contratos bilaterais (obrigações para ambas as partes) que tenham por objetivo 
transferir o domínio (propriedade) de alguma coisa. 
As arras possuem natureza jurídica de contrato acessório. 
 
Finalidades das arras 
A Min. Nancy Andrighi identifica que as arras têm por finalidades: 
a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o ajuste (caráter confirmatório); 
b) servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo gênero da obrigação principal); 
c) prefixar o montante das perdas e danos devidos pelo descumprimento do contrato ou pelo exercício do 
direito de arrependimento, se expressamente estipulado pelas partes (caráter indenizatório). 
 
Espécies de arras 
A partir do conceito acima dado, é possível identificar duas espécies diferentes de arras e a diferença 
principal entre elas está no objetivo de cada uma: 
Confirmatórias (arts. 418 e 419) Penitenciais (art. 420) 
São previstas no contrato com o objetivo de 
reforçar, incentivar que as partes cumpram a 
obrigação combinada. 
 
São previstas no contrato com o objetivo de 
permitir que as partes possam desistir da 
obrigação combinada caso queiram e, se isso 
ocorrer, o valor das arras penitenciais já 
funcionará como sendo as perdas e danos. 
A regra são as arras confirmatórias. Assim, no 
silêncio do contrato, as arras são confirmatórias. 
Ocorre quando o contrato estipula arras, mas 
também prevê o direito de arrependimento. 
Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, 
as arras serão devolvidas para a parte que as havia 
dado. Poderão também ser utilizadas como parte 
do pagamento. 
Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, 
as arras serão devolvidas para a parte que as havia 
dado. Poderão também ser utilizadas como parte 
do pagamento. 
 Se a parte que deu as arras não executar 
(cumprir) o contrato: a outra parte (inocente) 
poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas 
para si. 
 Se a parte que deu as arras decidir não cumprir 
o contrato (exercer seu direito de 
arrependimento): ela perderá as arras dadas. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 Se a parte que recebeu as arras não executar o 
contrato: a outra parte (inocente) poderá exigir 
a devolução das arras mais o equivalente*. 
 Se a parte que recebeu as arras decidir não 
cumprir o contrato (exercer seu direito de 
arrependimento):deverá devolver as arras 
mais o equivalente*. 
Além das arras, a parte inocente poderá pedir: 
 indenização suplementar, se provar maior 
prejuízo, valendo as arras como taxa mínima; 
 a execução do contrato, com as perdas e danos, 
valendo as arras como o mínimo da indenização. 
As arras penitenciais têm função unicamente 
indenizatória. Isso significa que a parte inocente 
ficará apenas com o valor das arras (e do 
equivalente) e NÃO terá direito a indenização 
suplementar. Nesse sentido: 
Súmula 412-STF: No compromisso de compra e 
venda com cláusula de arrependimento, a 
devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua 
restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui 
indenização maior, a título de perdas e danos, salvo 
os juros moratórios e os encargos do processo. 
 
* Equivalente: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex: Mário deu R$ 500 de arras 
a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele terá que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais 
o equivalente (R$ 500), totalizando R$ 1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização 
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. 
 
Exemplo de arras confirmatórias 
João está se mudando e combina de comprar o carro de Gabriel, que custa R$ 100 mil; o comprador pede 
para receber o veículo e pagar o preço só daqui a três meses, quando irá passar a morar na cidade; o 
vendedor não queria aceitar porque existem outros interessados no veículo e ele desejava vender logo; 
depois de muita insistência, ele acabou concordando, mas impôs uma exigência, qual seja, a de que João 
pagasse R$ 10 mil adiantados, como "sinal"; Gabriel explicou que este valor serviria como uma 
demonstração de que João teria intenção de cumprir o contrato e que não iria desistir; o vendedor 
explicou, ainda, que, quando o comprador pagasse o preço (R$ 100 mil), ele iria devolver o cheque com o 
"sinal" de R$ 10 mil. Este "sinal" é chamado, juridicamente, de "arras". 
 
Exemplo de arras penitenciais 
Antônio comprometeu-se a vender seu apartamento para Ricardo. No contrato, havia uma cláusula 
prevendo que o promitente-comprador deveria dar um sinal de R$ 10 mil reais, valor este que foi pago. 
Vale ressaltar que o contrato estipulou que as partes tinham direito de desistir do negócio (direito de 
arrependimento). Antes que a primeira prestação fosse paga, Ricardo resolveu não mais comprar o imóvel. 
Isso significa que ele irá perder o sinal (arras) que pagou. Em outras palavras, não terá direito de pedir de 
volta essa quantia. Da mesma forma, Antônio não poderá exigir nenhum outro valor de Ricardo, ainda que 
tenha tido outros prejuízos decorrentes da desistência. 
 
CUMULAÇÃO DAS ARRAS COM CLÁUSULA PENAL 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora imobiliária para 
aquisição de um apartamento. 
João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. 
No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. 
No contrato, havia uma cláusula penal prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a 
incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. Trata-se de cláusula penal 
compensatória. 
Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Neste caso, ele perderá as arras e também os 10% a título de cláusula penal compensatória? É possível 
a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória? 
NÃO. 
 
Na hipótese de inadimplemento, as arras funcionam como uma espécie de cláusula penal compensatória, 
representando o valor previamente estimado pelas partes para indenizar a parte não culpada pela 
inexecução do contrato. A perda das arras, na hipótese, representa o efeito da resolução imputável e 
culposa. 
Assim, as arras, a princípio, têm a função de indicar que a obrigação será cumprida. No entanto, ocorrendo 
a inexecução contratual elas passam a ter função de cláusula penal. 
Tanto nas arras confirmatórias como nas arras penitenciais, se a parte que deu as arras não executar o 
contrato, a outra parte (inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si. 
Dessa forma, o que se conclui é que, na hipótese de inadimplemento do contrato, as arras apresentam 
natureza indenizatória, desempenhando papel semelhante ao da cláusula penal compensatória. 
Logo, se as arras cumprem a mesma função da cláusula penal compensatória, não é possível que a parte 
inocente exija da parte culpada tanto as arras como a cláusula penal compensatória. Isso seria bis in idem 
(dupla condenação a mesmo título), o que é vedado pelo Direito. 
 
Qual das duas deverá, então, prevalecer: as arras ou a cláusula penal? 
Se previstas cumulativamente para o inadimplemento contratual, entende-se que deve incidir 
exclusivamente a pena de perda das arras, ou a sua devolução mais o equivalente, a depender da parte a 
quem se imputa a inexecução contratual. Isso porque o art. 419 do CC afirma que as arras valem como 
"taxa mínima" de indenização pela inexecução do contrato. 
Assim, em nosso exemplo, como quem praticou a inexecução contratual foi quem deu as arras (João), ele 
perderá as arras. 
 
Em suma: 
Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula 
penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613). 
 
 
 
ARBITRAGEM 
O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade 
para figurarem no polo passivo de eventual ação anulatória 
 
A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não possui 
interesse processual nem legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a sua 
anulação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2017 (Info 613). 
 
Em que consiste a arbitragem 
Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que 
a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. 
Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual 
o conflito é resolvido por um terceiro. 
 
 Informativo 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Regulamentação 
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC 
versando sobre o tema. 
 
Convenção de arbitragem 
As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de 
arbitragem (art. 3º). 
Convenção de arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies: 
• a cláusula compromissória e 
• o compromisso arbitral. 
 
Cláusula compromissória 
A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... 
- uma cláusula prevista no contrato, 
- de forma prévia e abstrata, 
- por meio da qual as partes estipulam que 
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato 
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). 
 
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei nº 9.307/96: 
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato 
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possamvir a surgir, relativamente a tal 
contrato. 
 
Compromisso arbitral 
O compromisso arbitral é... 
- um acordo (convenção) feito entre as partes 
- após o conflito já ter surgido, 
- por meio do qual se combina que a solução desta lide 
- não será resolvida pelo Poder Judiciário, 
- mas sim por intermédio da arbitragem. 
 
No compromisso arbitral, as partes renunciam ao seu direito de buscar a atividade jurisdicional estatal e 
decidem se valer da arbitragem. 
 
Diferença entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral: 
Cláusula compromissória Compromisso arbitral 
É uma convenção de arbitragem em que as 
partes declaram que qualquer conflito futuro 
será resolvido por arbitragem. 
É uma convenção de arbitragem posterior 
ao conflito. O conflito surgiu e as partes 
decidem resolvê-lo por arbitragem. 
É uma cláusula prévia e abstrata, que não se 
refere a um conflito específico. 
É pactuado após o conflito ter surgido e se 
refere a um problema concreto, já 
instaurado. 
Em regra, mesmo havendo a cláusula 
compromissória no contrato, as partes ainda 
precisarão de um compromisso arbitral para 
regular como a arbitragem será feita. 
Exceção: Fredie Didier ressalta que não será 
necessário o compromisso arbitral se a 
Mesmo que não exista cláusula 
compromissória no contrato, as partes 
poderão decidir estabelecer um 
compromisso arbitral para resolver o 
conflito. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
cláusula compromissória for completa, ou 
seja, contiver todos os elementos para a 
instauração imediata da arbitragem (exs.: 
quem serão os árbitros, o direito a ser 
aplicável, o tempo de duração etc.). 
 
Regras para a escolha dos árbitros 
As regras relacionadas à escolha dos árbitros estão previstas nos arts. 13 a 18 da Lei nº 9.307/96. 
 
Quem pode ser árbitro? 
Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiança das partes (art. 13). 
As partes que escolhem quem elas querem como árbitro. 
As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, 
suplentes. 
 
Órgão arbitral institucional ou entidade especializada 
Em vez de as partes escolherem individualmente os árbitros que irão julgar a causa, elas podem ainda 
escolher um órgão arbitral institucional ou entidade especializada. 
Órgão arbitral institucional ou entidade especializada é uma pessoa jurídica constituída para a solução 
extrajudicial de conflitos por meio da mediação, negociação, conciliação e arbitragem. Também pode ser 
chamada de “instituição arbitral”. 
Desse modo, as partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros ou 
adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada (art. 13, § 3º). 
 
Escolha de árbitros caso as partes optem por um órgão arbitral institucional ou entidade especializada 
Se as partes escolherem um órgão arbitral institucional ou entidade especializada para solucionar a causa, 
a seleção dos árbitros será feita, em princípio, pelas regras previstas no estatuto da entidade. 
Normalmente, tais entidades possuem uma lista de árbitros previamente cadastrados e a escolha recai 
sobre um desses nomes. 
 
Feita esta revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “BM” mantinha um contrato com a empresa “PP”. 
No contrato havia uma cláusula compromissória definindo que os litígios que surgissem envolvendo as 
empresas deveriam ser resolvidos pela “Câmara de Arbitragem Empresarial Norte Sul - CAENS”, uma 
instituição arbitral, ou seja, uma pessoa jurídica especializada na solução extrajudicial de conflitos por 
meio da arbitragem. 
A CAENS julgou o conflito em favor da empresa “BM”. 
Inconformada, a empresa “PP” propôs contra a empresa “BM” e contra a “CAENS” ação anulatória de 
processo arbitral sob o argumento de que o consentimento para a instauração da arbitragem não foi dado 
pelo verdadeiro representante legal da empresa, mas sim por uma gerente que não tinha poderes para 
tanto. 
Em contestação, a “CAENS” arguiu preliminar de ilegitimidade passiva argumentando que é apenas uma 
instituição administradora de procedimentos arbitrais. Sua prestação de serviços restringe-se às 
atividades de apoio técnico, logístico e operacional às partes e aos árbitros, sendo que sua atuação 
institucional não envolve quaisquer atos jurisdicionais decisórios, cuja competência é exclusiva do árbitro. 
 
A instituição arbitral deve ou não figurar no polo passivo da ação anulatório de processo arbitral? 
NÃO. 
O órgão arbitral institucional é uma entidade de natureza essencialmente administrativa e a sua atuação 
não envolve nenhum ato jurisdicional, cuja competência é exclusiva dos árbitros nomeados pelas partes. 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Vale registrar que, segundo a doutrina especializada, nem mesmo os árbitros, embora prolatores do ato 
considerado viciado, teriam, em tese, legitimidade para integrar o polo passivo da ação anulatória de 
sentença arbitral. Logo, com muito mais razão, a instituição arbitral (que só tem funções administrativas) 
é parte ilegítima. 
A ação anulatória de sentença arbitral é como se fosse uma ação rescisória de sentença judicial. Em uma 
ação rescisória, o juiz que prolatou a sentença não figura como réu. O réu da ação rescisória é a parte que 
figurou na relação original. Esse mesmo raciocínio deve ser transportado para a ação anulatória de 
processo arbitral. 
 
Em suma: 
A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não possui interesse 
processual nem legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a sua anulação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/09/2017 (Info 613). 
 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
Devedor pode ajuizar ação de prestação de contas contra a instituição financeira com 
o objetivo de se conhecer o resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido 
 
Mesmo antes do advento da Lei nº 13.043/2014, que deu nova redação ao art. 2º do Decreto-
Lei nº 911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas relativas aos 
valores auferidos com o leilão extrajudicial de veículo apreendido em busca e apreensão. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 05/10/2017 (Info 613). 
 
Alienação fiduciária 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
Regramento 
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: 
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; 
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e 
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento 
bancário com garantia de alienação fiduciária. 
 
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma 
subsidiária: 
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidadefiduciária submetem-
se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste 
Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial. 
 
 
 
 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Resumindo: 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS fungíveis e 
infungíveis quando o credor 
fiduciário for instituição 
financeira 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS infungíveis 
quando o credor fiduciário for 
pessoa natural ou jurídica (sem 
ser banco) 
Alienação fiduciária de 
bens IMÓVEIS 
Lei nº 4.728/65 
Decreto-Lei nº 911/69 
Código Civil de 2002 
(arts. 1.361 a 1.368-B) 
Lei nº 9.514/97 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS (DL 911/69) 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o 
Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento 
do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel 
é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade 
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e 
o automóvel passa a pertencer a Antônio. 
 
O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? 
Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69): 
 
Notificação do devedor 
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, 
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de 
busca e apreensão. Confira: 
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado 
fiduciariamente. 
 
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório 
de Títulos e Documentos? 
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa 
ser realizada por intermédio do Cartório de RTD. 
 
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? 
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§ 
2º do art. 2º do DL 911/69). 
Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no 
endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. 
 
Ajuizamento da ação de busca e apreensão 
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão 
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior. 
 
Concessão da liminar 
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a 
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69). 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
Possibilidade de pagamento integral da dívida 
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a 
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese 
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal: 
Art. 3º (...) 
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse 
plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, 
quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro 
por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os 
valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do 
ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
 
O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? 
Todo o débito. 
Segundo decidiu o STJ, a Lei nº 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor a 
possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente as prestações 
vencidas. 
Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou 
seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a 
execução da liminar. 
O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor 
dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o devedor consegue evitar 
as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n. 
10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora. 
Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte 
conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes: 
Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias 
após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta 
como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da 
propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso 
repetitivo) (Info 540). 
 
Resposta 
No prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante apresentará 
resposta (uma espécie de contestação). 
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da 
dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição. 
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas 
contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso 
justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora. 
 
Venda do bem 
Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário) poderá 
vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra 
medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do DL 
911/69). 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar os débitos do 
devedor para com o credor e também para custear as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida. 
Se, após o pagamento da dívida, ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao devedor. 
 
Dever do credor de prestar contas 
A Lei nº 13.043/2014alterou o caput do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que o credor, após fazer 
a alienação do bem, tem o dever de prestar contas ao devedor a fim de que este tenha ciência do valor 
que foi apurado com a venda e possa fiscalizar para saber se sobrou algum saldo, já que tais recursos lhe 
pertencem. Compare: 
Antes da Lei nº 13.043/2014 Depois da Lei nº 13.043/2014 
Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas 
obrigações contratuais garantidas mediante 
alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou 
credor poderá vender a coisa a terceiros, 
independentemente de leilão, hasta pública, 
avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial 
ou extrajudicial, salvo disposição expressa em 
contrário prevista no contrato, devendo aplicar o 
preço da venda no pagamento de seu crédito e das 
despesas decorrentes e entregar ao devedor o 
saldo apurado, se houver. 
Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas 
obrigações contratuais garantidas mediante 
alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou 
credor poderá vender a coisa a terceiros, 
independentemente de leilão, hasta pública, 
avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial 
ou extrajudicial, salvo disposição expressa em 
contrário prevista no contrato, devendo aplicar o 
preço da venda no pagamento de seu crédito e das 
despesas decorrentes e entregar ao devedor o 
saldo apurado, se houver, com a devida prestação 
de contas. 
 
Desse modo, depois da venda, caso o credor não tenha informado acerca de eventual saldo, o devedor 
poderá, inclusive, ajuizar ação de prestação de contas em desfavor da instituição financeira, com o 
objetivo de se conhecer o resultado da alienação extrajudicial do bem apreendido na forma do DL 
911/1969, e se apurar eventual saldo em favor do autor. 
 
Essa possibilidade de o devedor exigir prestação de contas do credor somente surgiu com a edição da 
Lei nº 13.043/2014? 
NÃO. 
Mesmo antes do advento da Lei nº 13.043/2014, que deu nova redação ao art. 2º do Decreto-Lei nº 
911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas relativas aos valores auferidos com 
o leilão extrajudicial de veículo apreendido em busca e apreensão. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 05/10/2017 (Info 613). 
 
O interesse do devedor fiduciário para o ajuizamento da referida ação é evidente nos casos de alienação 
extrajudicial, pois busca saber o quantum da arrecadação e a forma de aplicação dos valores. 
Se, por um lado, garante-se ao credor uma forma executiva extremamente célere e sem interferência 
direta do Estado, por outro, tem o devedor, no mínimo, o direito de saber da solução realizada pelo credor, 
a qual necessariamente afeta seu patrimônio. 
Ao credor cumpre zelar pela correta destinação da quantia obtida com a alienação extrajudicial. Essa 
incumbência também está ligada ao patrimônio do devedor, o qual ficará vinculado pela dívida 
remanescente ou terá saldo a receber. 
Dessa forma, tem-se por inegável a existência de um vínculo entre o credor e o devedor, sendo que desta 
relação decorre o interesse de agir (utilidade e adequação) para o devedor fiduciário ajuizar ação de 
prestação de contas, especificamente quanto aos valores decorrentes do leilão extrajudicial do bem. 
A alteração promovida pela Lei nº 13.043/2014 teve como objetivo apenas reforçar um direito que o 
devedor já possuía. 
 
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USUCAPIÃO 
A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o 
prazo para que o possuidor possa adquirir este bem por usucapião 
 
O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é 
interrompido com a decretação da falência. 
Ex: João é possuidor, há 4 anos e 6 meses, de uma área urbana de 200m2, que utiliza para a 
sua própria moradia. Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos 
esses anos sem oposição de ninguém. Imagine que foi decretada a falência da empresa que é 
proprietária desse imóvel. Isso significa que, neste instante, o prazo para João adquirir o bem 
por usucapião vai ser interrompido, ou seja, vai recomeçar do zero. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2017 (Info 613). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é possuidor, há 4 anos, de uma área urbana de 200m2, que utiliza para a sua própria moradia. Ele não 
tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Vale 
ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural. 
O imóvel onde mora João pertence à indústria “ZZZ”, mas a empresa, durante todo esse tempo nunca 
procurou saber do terreno. 
Em março/2015, João procurou a Defensoria Pública perguntando se ele poderia regularizar o imóvel em 
seu nome. O Defensor explicou que se ele ficasse mais 1 ano morando lá, completaria 5 anos de posse 
ininterrupta no imóvel e que, neste caso, poderia ingressar com uma ação de usucapião, conforme 
previsto no art. 1.240 do Código Civil: 
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros 
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou 
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano 
ou rural. 
 
Em setembro/2015, foi decretada a falência da indústria “ZZZ”. 
Em março/2016, João voltou à Defensoria Pública e o Defensor ajuizou ação de usucapião em favor do 
assistido. 
 
Essa ação de usucapião terá êxito? 
NÃO. Isso porque, com a decretação da falência, houve a interrupção do prazo de usucapião. Em outras 
palavras, em setembro/2015 recomeçou o prazo necessário para que o possuidor (João) tenha que ficar 
no imóvel para poder ter direito à usucapião. 
 
A sentença declaratória de falência forma a massa falida subjetiva e objetiva. 
A massa objetiva é a afetação do patrimônio do falido como um todo para o pagamento das dívidas. 
Vale ressaltar que a sentença declaratória da falência produz efeitos imediatos, tão logo prolatada pelo 
juízo concursal. 
Com a decretação da falência, há a constrição geral do patrimônio do falido por meio de um ato de 
“penhoramento abstrato”. Isso quer dizer que, com a decretação da falência, é como se todos os bens do 
falido ficassem automaticamente vinculados ao pagamento das dívidas. 
Essa constrição sobre os bens do falido ocorre independentemente de qualquer ato formal de penhora ou 
sequestro. 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Desse modo, a pessoa que estava na posse do bem do falido aguardando o prazo da usucapião perde a a 
posse pela incursão do Estado na sua esfera jurídica. 
 
Em suma: 
O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com 
a decretação da falência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/10/2017 (Info 613). 
 
 
 
USUCAPIÃO 
Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, 
esta decisão produzir a efeitos no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto 
 
Há perda de objeto da ação de usucapião proposta em juízo cível na hipótese em que juízo 
criminal decreta a perda do imóvel usucapiendo em razão de ter sido adquirido com 
proventos de crime. 
João praticou um crime. Com o dinheiro obtido com o delito, ele comprou uma casa. No 
processo criminal,o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa comprada. João fugiu 
e abandonou o imóvel. Em abril/2012, Pedro invadiu a casa e passou a morar lá. Em 
maio/2017, após mais de 5 anos morando no imóvel, Pedro ajuizou ação de usucapião (art. 
1.240 do CC). A ação de usucapião estava tramitando até que, em outubro/2017, transitou em 
julgado a sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da condenação, 
o magistrado determinou o confisco da casa (art. 91, II, “b”, do CP). A ação de usucapião perde 
o objeto, considerando que este tema foi definido no juízo criminal. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.563-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/09/2017 
(Info 613). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João praticou um crime. 
Com o dinheiro obtido com o delito, ele comprou uma casa de 200m2 na favela. 
Dessa forma, podemos dizer que o imóvel foi adquirido com os proventos do crime, ou seja, com o “lucro” 
obtido com a prática da infração penal. 
Ocorre que o delito foi descoberto e João passou a responder a uma ação penal. 
Neste processo criminal, o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa comprada, nos termos do 
art. 125 do CPP. 
Vale ressaltar que o sequestro torna o bem indisponível, ou seja, ele não poderá ser transferido a outra 
pessoa. O sequestro, contudo, não priva o uso do bem, isto é, em tese, a pessoa pode continuar utilizando 
o imóvel. Esta medida serve para que o acusado não se desfaça dele durante o curso da ação penal. 
João fugiu e abandonou o imóvel. 
Em abril/2012, Pedro e a sua família invadiram a casa e passaram a morar lá. 
Em maio/2017, após mais de 5 anos morando no imóvel sem qualquer questionamento, Pedro ajuizou 
ação de usucapião, com base no art. 1.240 do Código Civil: 
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros 
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou 
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano 
ou rural. 
 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
A ação de usucapião estava tramitando normalmente até que, em outubro/2017, transitou em julgado a 
sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da condenação, o magistrado 
determinou o confisco da casa, conforme prevê o art. 91, II, “b”, do Código Penal: 
Art. 91. São efeitos da condenação: 
(...) 
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: 
(...) 
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente 
com a prática do fato criminoso. 
 
O que acontece com a ação de usucapião? O juiz poderá julgar esta demanda procedente? 
NÃO. A ação de usucapião perde o objeto. 
 
Independência das instâncias, sistema da separação e sistema da adesão 
Em regra, as instâncias criminal e cível são independentes. Essa separação, contudo, é relativa. 
Assim, diz-se que a regra é o “sistema da separação”, mas que existem situações em que o direito adota 
o “sistema da adesão”. 
Sistema da adesão significa dizer que em algumas situações uma instância simplesmente adere ao 
julgamento da outra, ou seja, o resultado de uma instância irá produzir efeitos na outra. 
Exemplo de adesão do juízo cível ao que foi decidido no juízo criminal: 
Código Civil 
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais 
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem 
decididas no juízo criminal. 
 
Exemplo de adesão do juízo criminal ao que foi decidido no juízo cível: 
Código de Processo Penal 
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o 
juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso 
até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, 
entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. 
 
O exemplo retrata uma situação excepcional em que se deve adotar o sistema da adesão 
Como já dito, o art. 91 do CP estabelece a perda do proveito do crime como um dos efeitos da condenação. 
O art. 130 do CPP, por sua vez, prevê que o acusado ou o terceiro que não concordarem com o sequestro 
deverão impugná-lo por meio de embargos, que serão julgados, em regra, pelo próprio juízo criminal. 
A análise conjunta dessas duas previsões nos leva à conclusão de que a finalidade da norma foi a de excluir 
da competência do juízo cível a decisão sobre o destino do bem constrito para fins penais. 
Assim, pode-se concluir que, após decretado o confisco do bem por meio de sentença penal condenatória 
transitada em julgado, nada resta ao juízo cível senão curvar-se à decisão exarada pelo juízo criminal. 
Preste atenção! Não significa que a parte interessada perdeu completamente a causa. Ela poderia, em 
tese, ter ingressado com embargos de terceiro no juízo criminal para discutir ali se houve ou não 
usucapião. O que não se pode é continuar essa discussão no juízo cível, sendo que já houve decisão do 
juízo criminal. 
Aplica-se, para o presente caso, uma máxima do direito francês, segundo a qual “le criminal tient le civil 
en etat” (o juízo criminal paralisa o civil no estado em que se encontra). 
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Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Sobre esse ponto, Guilherme de Souza Nucci afirma que "o juízo cível nada tem a ver com a constrição, 
não lhe sendo cabível interferir na disposição dos bens" (Manual de processo penal e execução penal. 12ª 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 318). 
Assim, entendendo-se que o juízo cível está subordinado aos comandos da sentença proferida pelo juízo 
criminal, impõe-se reconhecer que a ação de usucapião deve ser julgada extinta, sem resolução do mérito, 
por perda do objeto. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido 
no estacionamento externo e gratuito do estabelecimento 
 
Importante!!! 
A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o cliente, pela reparação 
de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento. 
Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do STJ, para 
entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo que o prejuízo tenha 
sido causado por roubo, se este foi praticado no estacionamento de empresas destinadas à 
exploração econômica direta da referida atividade (empresas de estacionamento pago) ou 
quando o estacionamento era de um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado. 
Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de lanchonete 
fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. Nesta 
situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior), que afasta do 
estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar. 
Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de crime de 
roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com emprego de arma de 
fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido pelo estabelecimento 
comercial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas 
Bôas Cueva,julgado em 15/08/2017 (Info 613). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João lanchou na McDonald´s que fica em uma rua próxima à sua casa. 
Após realizar a refeição, ao retornar ao estacionamento da lanchonete, João foi abordado por dois ladrões 
armados, que levaram a sua motocicleta. 
Vale ressaltar que esta unidade da lanchonete não fica dentro de shopping. Importante também 
esclarecer que o estacionamento oferecido pela lanchonete é externo e gratuito. 
João ajuizou ação de indenização por danos contra a lanchonete, argumentando, em síntese, que: 
• a relação entre ele e a empresa é de consumo, de forma que a responsabilidade é objetiva; 
• houve defeito na prestação do serviço (art. 12 do CDC); 
• a simples disponibilização de estacionamento (ainda que por cortesia e sem efetivo controle de acesso), 
por agregar valor e comodidade ao serviço oferecido, enseja a assunção pela lanchonete dos deveres de 
guarda e vigilância; 
• há dever de indenizar, nos termos do que preconiza a Súmula 130 do STJ. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Súmula 130-STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo 
ocorridos em seu estacionamento. 
 
O pedido de João deve ser acolhido segundo o entendimento do STJ? 
NÃO. 
 
O STJ entendeu que não havia como a lanchonete impedir o roubo da motocicleta, especialmente porque 
o bem foi subtraído diretamente da vítima e o delito foi praticado por meliantes que fizeram uso de arma 
de fogo, situação que caracteriza causa excludente de responsabilidade. 
 
Não se aplica, no caso, a Súmula 130 do STJ porque aqui não se trata de simples subtração (furto) ou avaria 
(dano) da motocicleta pertencente ao autor. Houve, na verdade, um roubo praticado por terceiros, 
inclusive com emprego de arma de fogo, o que evidencia ainda mais a inevitabilidade do resultado danoso. 
 
O art. 393 do Código Civil prevê a força maior e o caso fortuito como causas excludentes do nexo causal 
e, por consequência, da própria responsabilidade civil. O parágrafo único do mencionado dispositivo, por 
sua vez, dispõe que ambos se configuram na hipótese de fato necessário, cujos efeitos se revelem 
impossíveis de evitar ou impedir: 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se 
expressamente não se houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não 
era possível evitar ou impedir. 
 
A ideia que esse dispositivo transmite é que o agente não deve responder pelos danos causados na 
hipótese em que não lhe era possível antever e, sobretudo, impedir o acontecimento, como foi o caso do 
roubo no estacionamento externo e gratuito da lanchonete. 
 
E se o roubo tivesse ocorrido no estacionamento de um grande shopping center? 
Neste caso, haveria sim o dever de indenizar, conforme já decidiu o STJ: REsp 1.269.691-PB, Rel. originária 
Min. Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/11/2013 (Info 534). 
 
Para o STJ, o fornecedor dos serviços deverá indenizar o consumidor em caso de roubo armado ocorrido em: 
• Estacionamentos privados (pagos); 
• Estacionamentos de grandes shopping centers; 
• Estacionamentos de de grandes redes de hipermercados; 
 
Estacionamentos privados (pagos) 
Se a empresa explora serviço de estacionamento, ela não poderá invocar o argumento da força maior. Isso 
porque o roubo é algo inerente à atividade comercial que ela explora. Os riscos oriundos de seus deveres 
de guarda e segurança constituem, na verdade, a própria essência do serviço oferecido e pelo qual ela 
cobra a contraprestação. 
Logo, trata-se daquilo que a doutrina e a jurisprudência chamam de fortuito interno. 
A culpa exclusiva de terceiros somente elide (elimina) a responsabilidade objetiva do fornecedor se for 
uma situação de “fortuito externo”. Se o caso for de “fortuito interno”, persiste a obrigação de indenizar. 
Fortuito interno Fortuito externo 
Está relacionado com a organização da empresa. 
É um fato ligado aos riscos da atividade 
desenvolvida pelo fornecedor. 
Não está relacionado com a organização da 
empresa. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
É um fato que não guarda nenhuma relação de 
causalidade com a atividade desenvolvida pelo 
fornecedor. 
É uma situação absolutamente estranha ao 
produto ou ao serviço fornecido. 
Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa 
de transporte coletivo; 
 
 
 
Ex2: cracker invade o sistema do banco e 
consegue transferir dinheiro da conta de um 
cliente. 
 
Ex3: durante o transporte da matriz para uma das 
agências, ocorre um roubo e são subtraídos 
diversos talões de cheque (trata-se de um fato 
que se liga à organização da empresa e aos riscos 
da própria atividade desenvolvida). 
Ex1: assalto à mão armada no interior de ônibus 
coletivo (não é parte da organização da empresa 
de ônibus garantir a segurança dos passageiros 
contra assaltos); 
 
Ex2: um terremoto faz com que o telhado do 
banco caia, causando danos aos clientes que lá 
estavam. 
O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do 
fornecedor de indenizar o consumidor. 
O fortuito externo é uma causa excludente de 
responsabilidade. 
 
Estacionamentos de grandes shoppings centers ou redes de hipermercados 
O fornecedor deverá indenizar o consumidor com base na aplicação da teoria do risco (risco-proveito). 
Além disso, se a pessoa é roubada em locais como esse, verifica-se a violação de uma legítima expectativa 
do consumidor, que imagina que estará seguro frequentando um ambiente como esse. 
 
Voltando ao caso da lanchonete 
No caso de João, ele foi vítima de assalto em um estacionamento aberto, gratuito, desprovido de controle 
de acesso, cercas ou de qualquer aparato de segurança, circunstâncias que evidenciam que o consumidor 
não poderia ter legítima expectativa de que estaria completamente seguro em um ambiente como aquele. 
 
Em suma: 
Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do STJ, para entender 
que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo que o dano tenha sido causado por 
roubo, se este foi praticado no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta 
da referida atividade (hipótese em que configurado fortuito interno) ou quando esta for explorada de 
forma indireta por grandes shopping centers ou redes de hipermercados (hipótese em que o dever de 
reparar resulta da frustração de legítima expectativa de segurança do consumidor). 
Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de lanchonete fast-food, 
se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido. Nesta situação, tem-se 
hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior), que afasta do estabelecimento comercial 
proprietário da mencionada área o dever de indenizar (art. 393 do Código Civil). 
Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de crime de roubo a cliente 
de lanchonete, praticado mediante grave ameaça e com emprego de arma de fogo, ocorrido no 
estacionamento externo e gratuito oferecido pelo estabelecimento comercial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas 
Cueva, julgado em 15/08/2017 (Info 613). 
 
 
 Informativocomentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Temas correlatos 
A questão envolvendo furtos e roubos e responsabilidade civil do fornecedor é repleta de casos 
interessantes e nem sempre a solução dada é a mesma. Veja esse quadro com algumas situações já 
enfrentadas pela jurisprudência do STJ: 
SITUAÇÃO 
FORNECEDOR 
RESPONDE? 
EXPLICAÇÃO 
Furto ou roubo no cofre do 
banco que estava locado para 
guardar bens de cliente. 
SIM 
O roubo ou furto praticado contra instituição financeira e que 
atinge o cofre locado ao cliente constitui risco assumido pelo 
banco, sendo algo próprio da atividade empresarial, 
configurando, assim, hipótese de fortuito interno, que não exclui 
o dever de indenizar (REsp 1250997/SP, DJe 14/02/2013). 
Cliente roubado no interior da 
agência bancária. 
SIM 
Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco inerente 
à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14, CDC) (REsp 
1.093.617-PE, DJe 23/03/2009). 
Cliente roubado na rua, após 
sacar dinheiro na agência. 
NÃO 
Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do banco) o 
dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação 
dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, DJe 04/02/2013). 
Cliente roubado no 
estacionamento do banco. 
SIM 
O estacionamento pode ser considerado como uma extensão da 
própria agência (REsp 1.045.775-ES, DJe 04/08/2009). 
Roubo ocorrido no 
estacionamento privado que é 
oferecido pelo banco aos seus 
clientes e administrado por 
uma empresa privada. 
SIM 
Tanto o banco como a empresa de estacionamento têm 
responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal serviço 
especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de 
segurança em relação ao público em geral (Lei 7.102/1983), dever 
este que não pode ser afastado por fato doloso de terceiro. Logo, não 
se admite a alegação de caso fortuito ou força maior já que a 
ocorrência de tais eventos é previsível na atividade bancária (AgRg 
nos EDcl no REsp 844186/RS, DJe 29/06/2012). 
Cliente, após sacar dinheiro na 
agência, é roubado à mão 
armada em um 
estacionamento privado que 
fica ao lado, mas que não tem 
qualquer relação com o banco. 
NÃO 
Não haverá responsabilidade civil nem do banco nem da empresa 
privada de estacionamento. 
A empresa de estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda 
do veículo, não sendo razoável lhe impor o dever de garantir a 
segurança e integridade física do usuário e a proteção dos bens 
portados por ele (REsp 1.232.795-SP, DJe 10/04/2013). 
Passageiro roubado no interior 
do transporte coletivo (exs.: 
ônibus, trem etc.). 
NÃO 
Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa 
transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, 
como é o assalto ocorrido no interior do coletivo (AgRg no Ag 
1389181/SP, DJe 29/06/2012). 
Cliente roubado no posto de 
gasolina enquanto abastecia 
seu veículo. 
NÃO 
Tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de roubo 
praticado contra clientes não pode ser enquadrado, em regra, 
como um evento que esteja no rol de responsabilidades do 
empresário para com os clientes, sendo essa situação um exemplo 
de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a 
exclusão da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 
10/05/2012). 
Roubo ocorrido em veículo sob 
a guarda de vallet parking que 
fica localizado em via pública. 
NÃO 
No serviço de manobrista em via pública não existe exploração de 
estacionamento cercado com grades, mas simples comodidade 
posta à disposição do cliente. Logo, as exigências de garantia da 
segurança física e patrimonial do consumidor são menos 
contundentes do que aquelas atinentes aos estacionamentos de 
shopping centers e hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 
10/09/2013). 
Furto ocorrido em veículo sob a 
guarda de vallet parking que fica 
localizado em via pública. 
SIM 
Nas hipóteses de furto, em que não há violência, permanece a 
responsabilidade, pois o serviço prestado mostra-se defeituoso, 
por não apresentar a segurança legitimamente esperada pelo 
consumidor. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Furto ou roubo ocorrido em 
veículo sob a guarda de vallet 
parking localizado dentro do 
shopping center. 
SIM 
A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de 
responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança 
física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado 
pelo estabelecimento comercial. 
Tentativa de roubo ocorrida na 
cancela do estacionamento do 
shopping center. 
SIM 
A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de 
responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurança física 
e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço prestado pelo 
estabelecimento comercial (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014). 
Roubo ocorrido em 
estacionamento externo e 
gratuito de lanchonete. 
NÃO 
Constitui verdadeira hipótese de caso fortuito (ou motivo de força 
maior), de forma que não se aplica a Súmula 130 do STJ. 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
CURADOR ESPECIAL 
Curador especial pode apresentar reconvenção 
 
Importante!!! 
O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu cujos 
interesses está defendendo. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/08/2017 (Info 613). 
 
Curador especial 
O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que nomear um curador especial que irá 
defender, no processo civil, os interesses do réu. 
O curador especial também é chamado de curador à lide. 
 
Hipóteses em que será nomeado curador especial: 
Estão previstas no art. 72 do CPC. São quatro situações: 
a) Quando o réu for incapaz e não tiver representante legal; 
b) Quando o réu for incapaz e tiver representante legal, mas os interesses deste (representante) colidirem 
com os interesses daquele (incapaz); 
c) Quando o réu estiver preso; 
d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. 
 
Veja a redação legal: 
Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: 
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, 
enquanto durar a incapacidade; 
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for 
constituído advogado. 
 
Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo? 
O curador especial exerce um múnus público. 
Sua função é a de defender o réu em juízo naquele processo. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Possui os mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer as diversas defesas 
(contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e interpor recursos. 
Obviamente, o curador especial não pode dispor do direito do réu (não pode, por exemplo, reconhecer a 
procedência do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido. 
Vale ressaltar que, ao fazer a defesa do réu, o curador especial pode apresentar uma defesa geral 
(“contestação por negação geral”), não se aplicando a ele o ônus da impugnação especificada dos fatos 
(parágrafo único do art. 341 do CPC). Desse modo, o curador especial não tem o ônus de impugnar 
pontualmente (de forma individualizada) cada fato alegado pelo autor. 
 
O curador especial pode apresentar reconvenção? 
SIM.O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu cujos interesses está 
defendendo. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.088.068-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/08/2017 (Info 613). 
 
Como já dito, o curador nomeado tem como função precípua defender o réu nas hipóteses legais. 
Por “defesa”, deve-se entender isso de forma ampla, incluindo, portanto, também a possibilidade de 
propor reconvenção. 
Tal orientação é a que melhor se coaduna com o direito ao contraditório e à ampla defesa. 
A doutrina vai além e afirma que o curador especial pode também propor ações autônomas de 
impugnação, a exemplo do mandado de segurança contra ato judicial. 
 
Este art. 72 é aplicável apenas ao processo (fase) de conhecimento? 
NÃO. O art. 72 deve ser aplicado em qualquer processo, inclusive no caso de execução. 
Súmula 196-STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será nomeado 
curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos. 
 
O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública? 
A Lei Orgânica da Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte: 
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: 
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei; 
 
Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve ser exercido pelo 
Defensor Público. 
O CPC/2015 também afirmou isso expressamente: 
Art. 72 (...) 
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. 
 
Quando o Defensor Público atua como “curador especial”, ele terá direito de receber honorários? 
NÃO. 
O Defensor Público não faz jus ao recebimento de honorários pelo exercício da curatela especial por estar no 
exercício das suas funções institucionais, para o que já é remunerado mediante o subsídio em parcela única. 
STJ. Corte Especial. REsp 1.201.674-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/6/2012. 
 
Todavia, ao final do processo, se o réu se sagrar vencedor da demanda, a instituição Defensoria Pública 
terá direito aos honorários sucumbenciais. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Desse modo, apenas para que fique claro, o que se está dizendo é que o Defensor Público que atua como 
curador especial não tem que receber honorários para atuar neste múnus público, considerando que já se 
trata de uma de suas atribuições previstas em lei. 
 
O Ministério Público pode exercer a função de curador especial? 
NÃO. 
 
 
 
RECURSOS 
Se a decisão proferida pelo juiz induzir a parte a interpor o recurso errado, deve-se reconhecer 
que houve dúvida objetiva, que justifica o princípio da fungibilidade 
 
O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, pode 
ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na interposição do recurso cabível 
decorrer da prática de ato do próprio órgão julgador. 
STJ. 2ª Seção. EAREsp 230.380-RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/09/2017 
(Info 613). 
 
Princípio da fungibilidade 
O princípio da fungibilidade recursal também é chamado de “teoria do recurso indiferente”, “teoria do 
tanto vale”, “princípio da permutabilidade dos recursos” ou “princípio da conversibilidade dos recursos”. 
 
Qual é o sentido desse princípio? 
A parte recorrente não será prejudicada se interpôs o recurso errado, desde que esteja de boa-fé, não 
tenha sido um erro grosseiro e o recurso incorreto tenha sido manejado no prazo do recurso certo. 
 
Previsão no CPC 
O princípio da fungibilidade não está previsto de forma específica nem genérica no CPC. Apesar disso, a 
doutrina admite a sua existência. Nesse sentido: 
Enunciado 104-FPPC: O princípio da fungibilidade recursal é compatível com o CPC e alcança todos os 
recursos, sendo aplicável de ofício. 
 
Alguns autores afirmam que o CPC/2015 previu o princípio da fungibilidade de forma específica em dois casos: 
• recebimento de embargos de declaração contra decisão monocrática em tribunal como agravo interno 
(art. 1.024, § 3º); 
• recebimento de REsp como RE e vice-versa (arts. 1.032 e 1.033). 
 
Art. 1.024 (...) 
§ 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender 
ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no 
prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do 
art. 1.021, § 1º. 
 
Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa 
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente 
demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 613-STJ (08/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao 
Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior 
Tribunal de Justiça. 
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição 
afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de 
tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial. 
 
Requisitos 
Com base na jurisprudência do STJ, para a aplicação do princípio da fungibilidade, é necessário o 
preenchimento dos seguintes requisitos: 
a) dúvida objetiva a respeito do recurso cabível; 
b) inexistência de erro grosseiro; 
c) que o recurso interposto erroneamente tenha sido apresentado no prazo daquele que seria o correto. 
 
Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1656690/RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 
19/10/2017. 
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação: 
João, executado, ingressou com uma espécie de defesa chamada “exceção de pré-executividade”. 
Podemos vislumbrar dois cenários mais prováveis neste caso: 
1) O juiz acolhe a exceção de pré-executividade e extingue a execução: isso é feito por meio de sentença 
e, caso o exequente não se conforme, poderá interpor como recurso a apelação. 
2) O juiz rejeita a exceção de pré-executividade e mantém o prosseguimento da execução: isso é feito por 
meio de decisão interlocutória e, caso o executado não se conforme, poderá interpor como recurso o 
agravo de instrumento. 
 
Suponhamos que o juiz rejeitou a exceção de pré-executividade de João. Qual seria o recurso que ele 
deveria interpor? Agravo de instrumento. 
Ocorre que João se equivocou e interpôs apelação. 
O Tribunal de Justiça não conheceu da apelação afirmando justamente que João interpôs o recurso errado. 
João não se conformou e interpôs recurso especial contra o acórdão do TJ. 
No Resp, João alegou que o TJ deveria ter aplicado o princípio da fungibilidade e que foi induzido em erro 
pelo juiz. Isso porque o magistrado nomeou a decisão que rejeitou a exceção de pré-executividade como 
“sentença”. Além disso, a Secretaria da vara teria lançado no sistema a decisão como sentença. Essas 
circunstâncias geraram uma dúvida objetiva na parte, fazendo com que ela acabasse concluindo que se 
tratava realmente de sentença e, contra ela, deveria ser interposta apelação. 
 
A tese de João foi acolhida pelo STJ? 
SIM. 
O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, pode ser 
relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco

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