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Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 600-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
 Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a entidade que promoveu 
o concurso (e não contra a instituição contratada). 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de provimento judicial 
precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada. 
 O valor do abono de permanência deverá ser levado em consideração na conversão da licença-prêmio em pecúnia. 
 
DIREITO CIVIL 
DIREITOS DE AUTOR 
 Ideias e indicações de bibliografia não gozam de proteção dos direitos de autor. 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA 
 OSCIP não pode ajuizar ação de busca e apreensão do DL 911/69. 
 
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL 
 Prazo para anular partilha de bens em dissolução de união estável por vício de consentimento é de 4 anos. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
 Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos. 
 Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários é considerado consumidor. 
 Se o consumidor beneficiário de contrato de participação financeira cede seus direitos, a cessionária não será 
considerada consumidora. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA 
 Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do mérito. 
 
ASTREINTES 
 É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, para isso, é indispensável que o recurso 
tenha sido conhecido. 
 
AÇÃO RESCISÓRIA 
 Não é cabível a propositura de rescisória fundada no art. 485, V, do CPC/1973 com base em julgados que não sejam 
de observância obrigatória. 
 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
EXECUÇÃO 
 O fato de ter sido decretada a indisponibilidade do bem não impede que ele seja objeto de adjudicação decretada 
em outro processo. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PIS E COFINS 
 Incide PIS e COFINS sobre o percentual repassado pela empresa de transporte à empresa rodoviária que vende as 
passagens. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
RECEBIMENTO DOS VALORES PREVIDENCIÁRIOS 
 O valor não recebido em vida pelo segurado deverá ser pago aos seus dependentes previdenciários e, na falta deles, 
aos seus sucessores na forma do Código Civil. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSO PÚBLICO 
Ação questionando critérios do psicotécnico previstos no edital deve ser proposta contra a 
entidade que promoveu o concurso (e não contra a instituição contratada) 
 
Importante!!! 
Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em 
razão da subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital – 
a legitimidade passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame. 
Ex: o Estado do ES abriu concurso para agente penitenciário. O CESPE foi contratado para 
realizar as provas. João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas, tendo 
sido, contudo, reprovado no exame psicotécnico. Diante disso, João quer ajuizar ação 
ordinária questionando os critérios de avaliação do exame psicotécnico previstos no edital 
sob o argumento de que eles eram subjetivos. Essa ação terá que ser proposta contra o Estado 
do ES (e não contra o CESPE). 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O Estado do Espírito Santo abriu concurso para agente penitenciário. 
O CESPE (atualmente CEBRASPE) foi contratado para realizar as provas. 
João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido, contudo, reprovado no 
exame psicotécnico. 
Diante disso, João quer ajuizar ação ordinária questionando os critérios de avaliação do exame 
psicotécnico previstos no edital sob o argumento de que eles eram subjetivos. 
 
Surgiu, no entanto, a seguinte dúvida: esta ação deverá ser proposta contra o Estado do Espírito Santo 
(entidade responsável pela elaboração do certame) ou contra o CESPE (entidade contratada para 
executar o concurso e que aplicou o teste psicotécnico)? 
Contra o Estado do Espírito Santo (entidade responsável pela elaboração do certame). 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato em concurso público – em razão da 
subjetividade dos critérios de avaliação de exame psicotécnico previstos no edital – a legitimidade 
passiva será da entidade responsável pela elaboração do certame. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Em ação ordinária na qual se discute a exclusão de candidato em concurso público, a legitimidade passiva 
é da entidade responsável pela realização, regulamentação e organização do certame que, no caso, é o 
Estado do Espírito Santo. 
Além disso, a causa de pedir da ação proposta pelo candidato está relacionada a atuação do órgão 
responsável pela elaboração do edital, alegando-se subjetividade nos critérios de avaliação do exame 
psicotécnico, não se enquadrando nas hipóteses de atuação da banca examinadora. 
 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de 
provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada 
 
Importante!!! 
Se o candidato tomou posse por força de decisão judicial precária e esta, posteriormente, é 
revogada, ele perderá o cargo, mesmo que já o esteja ocupando há muitos anos. Não se aplica, 
ao caso, a teoria do fato consumado. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. 
Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753). 
A situação será diferente se ele se aposentou antes do processo chegar ao fim. 
Imagine que o candidato tomou posse no cargo por força de decisão judicial precária. 
Passaram-se vários anos e ele, após cumprir todos os requisitos, aposentou neste cargo por 
tempo de contribuição. Após a aposentadoria, a decisão que o amparou foi reformada. Neste 
caso, não haverá a cassação de sua aposentadoria. 
Nas palavras do STJ: quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias 
e o servidor se aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de 
contribuição durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação 
posterior da segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não 
pode ocasionar a cassação da aposentadoria. 
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/2/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João prestou concurso para o cargo de agente de polícia e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido, 
contudo, reprovado no exame físico. 
O candidato propôs mandado de segurança questionando o teste físico. 
O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse de João, o que ocorreu em 2002. 
Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. 
Em 2017, o Tribunal, ao julgar a apelação, entendeu que o teste físico realizado não continha nenhum 
vício. Em virtude disso, reformou a sentença. Houve trânsito em julgado. 
 
Neste caso, João poderá permanecer no cargo com base na teoria do fato consumado, considerando que 
ele já exercia a função há muitos anos? 
Rafael Verol
Rafael Verol
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
NÃO. Segundo a Teoria do Fato Consumado, as situações jurídicas consolidadas pelodecurso do tempo, 
amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança 
jurídica e da estabilidade das relações sociais (STJ. REsp 709.934/RJ). 
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e, 
após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída, 
para que não haja insegurança jurídica. 
Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo. 
A Teoria do Fato Consumado não é admitida pela jurisprudência no caso de posse em cargo público por 
força de decisão judicial provisória. 
O STF já até afirmou isso em sede de recurso extraordinário com repercussão geral: 
Não é compatível com o regime constitucional de acesso aos cargos públicos a manutenção no cargo, 
sob fundamento de fato consumado, de candidato não aprovado que nele tomou posse em decorrência 
de execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza precária, 
supervenientemente revogado ou modificado. Igualmente incabível, em casos tais, invocar o princípio 
da segurança jurídica ou o da proteção da confiança legítima. 
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica 
a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em 
concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual 
do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois 
conhece a precariedade da medida judicial. 
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por 
força de decisão judicial provisória posteriormente revista. 
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753). 
 
O STJ possui o mesmo entendimento: 
(...) Esta Corte já pacificou o entendimento de que candidatos que acabam por participar das demais 
etapas do certame por força de decisões judiciais passíveis de reforma, não têm direito adquirido à 
nomeação definitiva, uma vez que não se pode perpetuar uma situação precária. Como cediço, o 
candidato continua na disputa por uma vaga, consciente de que sua situação ainda encontra-se pendente 
de julgamento, ou seja, com o iminente risco de reversão. (...) 
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 474.423/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 04/04/2017. 
 
E se o servidor já tivesse se aposentado? Vamos imaginar o seguinte exemplo: 
Pedro prestou concurso para o cargo de agente de polícia e foi aprovado nas provas teóricas, tendo sido, 
contudo, reprovado no exame físico. 
O candidato propôs mandado de segurança questionando o teste físico. 
O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse de Pedro, o que ocorreu em 2002. 
Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. 
Houve recurso da Fazenda Pública. 
Em 2016, antes que o recurso fosse julgado, Pedro se aposentou, por tempo de contribuição, no cargo de 
agente de polícia. 
Em 2017, o Tribunal, ao julgar a apelação, entendeu que o teste físico realizado não continha nenhum 
vício. Em virtude disso, reformou a sentença. Houve trânsito em julgado. 
 
Neste caso, Pedro, que já está aposentado, perderá a sua aposentadoria? 
NÃO. 
Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se aposentou, 
antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse exercício 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que inicialmente permitira 
ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a cassação da aposentadoria. 
STJ. 1ª Seção. MS 20.558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/2/2017 (Info 600). 
 
Se o impetrante ainda estivesse exercendo o cargo na ativa quando transitou em julgado o mandado de 
segurança, então, neste caso, ele deveria ser afastado do serviço público, aplicando-se o entendimento 
do STF que não admite, em tais casos, a teoria do fato consumado (RE 608482/RN). 
 
Vínculo previdenciário consolidou-se 
No entanto, neste segundo caso, a situação é diferente, porque o impetrante já estava aposentado quando 
veio a decisão desfavorável. Assim, embora o vínculo de trabalho fosse precário, o autor da ação pagou 
mensalmente as contribuições previdenciárias e completou todos os requisitos necessários para a 
aposentadoria, de forma que o vínculo previdenciário foi consolidado. 
 
Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo 
A Lei dos Servidores Públicos federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos 
dos demais entes, preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses: 
a) demissão do servidor público (art. 134); e 
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º). 
 
Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese. 
 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
O valor do abono de permanência deverá ser levado em 
consideração na conversão da licença-prêmio em pecúnia 
 
O abono de permanência insere-se no conceito de remuneração do cargo efetivo, de forma a 
compor a base de cálculo da licença-prêmio não gozada. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
O que é a chamada “licença-prêmio”? 
Licença-prêmio é um benefício segundo o qual o servidor público, após 5 anos de exercício da função, tem 
direito a 3 meses de licença remunerada. 
Ex: João é servidor público e a lei que rege a sua carreira prevê a existência da licença-prêmio. João entrou 
em exercício em 2010. Em 2015, ele adquiriu o direito à licença-prêmio. Isso significa que ele poderá ficar 
3 meses sem trabalhar, recebendo normalmente sua remuneração. Em 2020, ele irá novamente adquirir 
o direito de gozar mais um período de licença-prêmio. Em 2025 mais outro e assim por diante. 
Os servidores públicos federais tiveram direito à licença-prêmio até 1997 quando foi, então, editada a Lei 
nº 9.527/97, que alterou a redação do art. 87 da Lei nº 8.112/90, acabando com esse benefício. 
A maioria das legislações dos Estados e Municípios, contudo, ainda prevê a licença-prêmio para os 
servidores públicos estaduais e municipais. 
Veja o exemplo do Estatuto dos Servidores Públicos de São Paulo: 
Art. 209. O funcionário terá direito, como prêmio de assiduidade, à licença de 90 (noventa) dias 
em cada período de 5 (cinco) anos de exercício ininterrupto, em que não haja sofrido qualquer 
penalidade administrativa. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Conversão da licença-prêmio em pecúnia 
Algumas leis preveem que se o servidor público falecer sem ter gozado a sua licença-prêmio, esses três 
meses a que ele teria direito deverão ser convertidos em pecúnia (dinheiro) e esse valor será pago aos 
beneficiários do servidor público. Isso é previsto, por exemplo, na LC 75/93 (Estatuto dos membros do 
Ministério Público da União): 
Art. 222. Conceder-se-á aos membros do Ministério Público da União licença: 
(...) 
III - prêmio por tempo de serviço; 
(...) 
§ 3º A licença prevista no inciso III será devida após cada quinquênio ininterrupto de exercício, 
pelo prazo de três meses, observadas as seguintes condições: 
a) será convertida em pecúnia em favor dos beneficiários do membro do Ministério Público da 
União falecido, que não a tiver gozado; 
 
Outras leis permitem que o próprio servidor público receba em pecúnia o valor dos 3 meses da licença-
prêmio caso ele não tenha conseguido gozar esse descanso em virtude da necessidade da Administração 
Pública de que ele continuasse trabalhando. É o caso, porexemplo, do Estatuto dos Servidores Públicos 
do Estado de Goiás: 
Art. 248-A. Os períodos de licença-prêmio não usufruídos pelo servidor, quando em atividade, não 
poderão ser convertidos em pecúnia, exceto na hipótese de indeferimento do pedido de gozo em 
razão de necessidade do serviço público. 
 
Base de cálculo da conversão da licença-prêmio em pecúnia 
Pois bem, como vimos acima, em algumas situações, o servidor não goza os 3 meses de descanso da 
licença-prêmio e, por essa razão, ele ou seus herdeiros (em caso de falecimento) deverão ser indenizados 
pelo fato de o servidor não ter aproveitado esse período. Em tais situações, ocorre a chamada conversão 
da licença-prêmio em pecúnia. 
Na prática, isso significa que se paga ao servidor 3 meses a mais de remuneração. Em vez de ganhar 3 
meses de descanso, recebe-se o valor equivalente a 3 meses de remuneração. 
Curiosidade: como se trata de verba indenizatória, sobre esse valor não há pagamento de imposto de 
renda (súmula 136-STJ) nem de contribuição previdenciária. Em outras palavras, a pessoa recebe 3 meses 
de remuneração bruta. 
 
Abono de permanência 
Para o Governo, é desvantajoso quando o servidor público se aposenta. Isso porque, além de pagar a 
aposentadoria, ele terá que contratar outro servidor para desempenhar o cargo do que se aposentou. 
Desse modo, para o Poder Público é interessante incentivar que o servidor permaneça na ativa mesmo 
que já tenha "tempo" para se aposentar. 
Pensando nisso, a EC 41/2003 instituiu o chamado "abono de permanência". 
O abono de permanência é um incentivo financeiro pago ao servidor que, mesmo já tendo preenchido os 
requisitos para se aposentar com proventos integrais, decide adiar a jubilação e continuar trabalhando. 
O instituto está previsto no § 19 do art. 40 da CF/88: 
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentadoria 
voluntária estabelecidas no § 1º, III, "a", e que opte por permanecer em atividade fará jus a um 
abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as 
exigências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído pela EC 41/2003) 
 
Imagine que determinado servidor público está recebendo abono de permanência. Ele completa mais 
um período de licença-prêmio, mas, em virtude de excesso de serviço, não goza do descanso. A 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Administração Pública autoriza, então, que a licença-prêmio seja convertida em pecúnia. A dúvida que 
havia é a seguinte: o valor que o servidor está recebendo a título de abono de permanência será também 
incluído no cálculo da remuneração para fins de pagamento da indenização? 
SIM. 
O abono de permanência insere-se no conceito de remuneração do cargo efetivo, de forma a compor a 
base de cálculo da licença-prêmio não gozada. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.514.673-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
A licença-prêmio não gozada e, portanto, convertida em pecúnia, tem como base de cálculo a 
remuneração do cargo efetivo. 
O abono de permanência é uma vantagem pecuniária permanente, pois essa contraprestação se incorpora 
ao patrimônio jurídico do servidor de forma irreversível ao ocorrer a reunião das condições para a 
aposentadoria, associada à continuidade do labor. Não é, portanto, possível atribuir eventualidade ao 
pagamento da citada vantagem, pois somente com o implemento da aposentadoria ela cessará. 
Assim, o abono de permanência integra o conceito de remuneração do servidor e, portanto, deverá 
também ser considerado no momento da conversão da licença-prêmio em pecúnia. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
DIREITOS DE AUTOR 
Ideias e indicações de bibliografia não gozam de proteção dos direitos de autor 
 
As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de dissertação de 
mestrado não estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor. 
Ex: determinada pessoa fez uma dissertação de mestrado envolvendo literatura de vampiros; 
algum tempo depois, a Faculdade criou uma disciplina na pós-graduação envolvendo esta 
temática e utilizando parte da bibliografia mencionada na dissertação. Embora o texto de sua 
dissertação e das suas conferências realizadas em eventos acadêmicos esteja protegido pela 
Lei de Direitos Autorais, as ideias que lhe serviram de base, bem como a bibliografia de que se 
valeu para a realização da pesquisa não estão abrangidas pela proteção aos direitos de autor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.528.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Maria fez mestrado na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina e a sua dissertação 
foi a respeito das obras literárias que retravam histórias envolvendo vampiros. 
Além disso, ela também apresentou este tema em diversos congressos, palestras e seminários de literatura. 
Algum tempo depois a referida Faculdade criou uma disciplina na pós-graduação destinada a examinar a 
história literária dos vampiros. 
Vale ressaltar que Maria não participou da criação da referida disciplina e, quando soube, ficou chateada 
por entender que isso foi fruto de plágio da pesquisa por ela realizada para a elaboração de sua dissertação 
de mestrado na mesma instituição. 
Diante disso, ela ajuizou ação de indenização contra a UFSC. 
Na demanda, a autora demonstrou que os objetivos, a abordagem e a bibliografia da disciplina eram 
extremamente semelhantes aos de sua pesquisa, o que tornaria evidente a ocorrência de plágio. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com o pedido da autora? Neste caso, deve ser paga 
indenização por violação aos direitos de autor? 
NÃO. 
As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de dissertação de mestrado 
não estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.528.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Direitos de autor 
Plágio é uma forma leiga de se denominar a violação dos direitos de autor. 
Os chamados “direitos de autor” estão garantidos pela Constituição Federal e a sua proteção se encontra 
detalhada na Lei nº 9.610/98, mais conhecida como Lei de Direitos Autorais. 
 
A dissertação de mestrado e a apresentação de palestras estão protegidas como “direitos de autor”? 
SIM. Elas se encontram previstas nos incisos I e II do art. 7º da Lei nº 9.610/98: 
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou 
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais 
como: 
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; 
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; 
 
A dissertação se enquadra no gênero “obras científicas” e as palestras no conceito de “conferências”. 
 
Portanto, não há dúvidas de que a dissertação da autora, bem como as apresentações realizadas em 
eventos científicos, estão devidamente protegidas à luz do direito autoral. 
Deve-se averiguar, porém, em que extensão se dá essa proteção. 
 
Proteção não abrange ideias 
O inciso I do art. 7º sinaliza que as obras literárias e científicas gozam de proteção apenas quanto ao seu 
texto. 
Ademais, o art. 8º expressamente exclui do âmbito de proteção dos direitos autorais as ideias: 
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: 
I - as ideias, (...) 
 
Assim, se, por um lado, as obras são protegidas, por outro, as ideias nelas contidas não gozam da mesma 
proteção. 
Isso se justifica pela própria finalidade dos direitos autorais, que é a de servir de incentivo à produção 
artística, científica e cultural,fomentando o desenvolvimento da cultura. 
O ordenamento protege apenas e tão somente a forma de expressão utilizada na obra, e não a ideia nela 
contida, que se encontra em domínio público e pode ser por todos utilizada. 
Se ideias fossem apropriáveis por aquele que primeiro as tivesse, haveria, sem dúvida, um engessamento 
das artes e das ciências, cujo desenvolvimento dependeria, sempre, da autorização de quem previamente 
detivesse os direitos àquela ideia, o que não se coaduna com a finalidade própria da proteção da 
propriedade intelectual e tampouco com os objetivos da República elencados na Constituição Federal. 
Portanto, embora os textos da dissertação e da apresentação da autora gozem, de fato, da proteção dos 
direitos autorais, a ideia que teve para sua pesquisa - a análise da construção da figura dos vampiros com 
base em obras literárias ao longo do tempo - não pode ser por ela apropriada. 
 
O § 3º do art. 7º da Lei nº 9.610/98 reforça essa conclusão: 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Art. 7º (...) 
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não 
abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os 
demais campos da propriedade imaterial. 
 
Referida norma tem por finalidade justamente impedir o que pretende a autora: a tentativa de 
monopolizar um ramo científico ou enfoque técnico sob o pretexto de proteção a direitos de autor. 
Conclui-se, assim, que os direitos autorais de que goza a autora não têm a extensão que ela pretende, de 
modo que, não tendo havido a transcrição literal de seu trabalho, ou a cópia de trechos literários ou 
artísticos nele eventualmente constantes, não há falar em ofensa a seus direitos. 
 
Existe outro precedente recente do STJ no mesmo sentido: 
(...) 3. O art. 8º da Lei nº 9.610/98 veda, de forma taxativa, a proteção como direitos autorais de ideias, 
métodos, planos ou regras para realizar negócios. Nessa linha, o fato de uma idéia ser materializada não 
a torna automaticamente passível de proteção autoral. Um plano, estratégia, método de negócio, ainda 
que posto em prática, não é o que o direito do autor visa proteger. Assim, não merece proteção autoral 
ideias/métodos/planos para otimização de comercialização de títulos de capitalização destinados à 
aquisição de motos. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1418524/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2014. 
 
E a bibliografia? 
Quanto à bibliografia de sua pesquisa, pode-se aplicar, por analogia, o inciso XIII do art. 7º da Lei nº 
9.610/98: 
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou 
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais 
como: 
(...) 
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras 
obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação 
intelectual. 
 
Essa proteção não abarca, contudo, os dados ou materiais em si mesmos. É o que diz o § 2º do art. 7º da Lei: 
Art. 7º (...) 
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se 
entende sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou 
materiais contidos nas obras. 
 
Sendo assim, ainda que se entenda que a bibliografia de seu trabalho também goza da proteção como 
direito autoral, ela não pode pretender impedir a utilização das obras ali constantes, que por ela também 
foram consultadas, na disciplina criada no programa de pós-graduação da Faculdade de Letras da 
Universidade de Santa Catarina, uma vez que aqueles livros não pertencem a ela. 
No meio acadêmico e científico, as pesquisas se desenvolvem normalmente a partir da revisão 
bibliográfica de pesquisas prévias, que indicam caminhos já percorridos dentro de um campo específico 
do conhecimento, não sendo necessário reinventar diariamente a roda. 
Pelo contrário, o compartilhamento de informações científicas no meio acadêmico mostra-se não apenas 
útil, mas necessário, sendo benéfico para a instituição de ensino e pesquisa, para os pesquisadores e para 
a sociedade como um todo. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA 
OSCIP não pode ajuizar ação de busca e apreensão do DL 911/69 
 
Caso o mutuário de um contrato de alienação fiduciária se torne inadimplente, a instituição 
financeira mutuante poderá ingressar com busca e apreensão do bem, sendo essa uma ação 
especial e muito célere, prevista no Decreto-Lei nº 911/69. 
A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao Programa 
Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser classificada ou 
equiparada à instituição financeira, carecendo, portanto, de legitimidade ativa para requerer 
busca e apreensão de bens com fulcro no Decreto-Lei nº 911/69. 
O procedimento judicial de busca e apreensão previsto no DL 911/69 é um instrumento 
exclusivo das instituições financeiras lato sensu ou das pessoas jurídicas de direito público 
titulares de créditos fiscais e previdenciários. 
A OSCIP não se insere no conceito de instituição financeira nem pode ser a ela equiparada. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.071-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/3/2017 (Info 600). 
 
Conceito de alienação fiduciária 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
Regramento 
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: 
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; 
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e 
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento 
bancário com garantia de alienação fiduciária. 
 
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma 
subsidiária: 
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à 
disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código 
naquilo que não for incompatível com a legislação especial. 
 
Resumindo: 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS fungíveis e 
infungíveis quando o credor 
fiduciário for instituição 
financeira 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS infungíveis 
quando o credor fiduciário for 
pessoa natural ou jurídica (sem 
ser banco) 
Alienação fiduciária de 
bens IMÓVEIS 
Lei nº 4.728/65 
Decreto-Lei nº 911/69 
Código Civil de 2002 
(arts. 1.361 a 1.368-A) 
Lei nº 9.514/97 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
 
Alienação fiduciária de automóveis 
A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. 
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco 
“X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do 
empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras,Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel 
é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade 
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e 
o automóvel passa a pertencer a Antônio. 
 
Imaginemos que Antônio financiou o veículo em 48 prestações. Após pagar 35 parcelas, ele ficou 
desempregado e não conseguiu arcar com as demais prestações. O que acontece em caso de 
inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? 
Havendo mora por parte do mutuário, deverá ser adotado o procedimento previsto no DL 911/69: 
 
1) Notificação do devedor 
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, 
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de 
busca e apreensão (Súmula 72-STJ). 
 
2) Ajuizamento da ação de busca e apreensão 
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão 
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior. 
 
3) Concessão da liminar 
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a 
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69). 
 
4) Inserção de restrições sobre o veículo 
O § 9º do art. 3º do DL 911/69 estipula que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de veículo, deverá 
inserir uma restrição judicial na base de dados do Renavam. 
Renavam significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um banco de dados que 
funciona como um registro de todos os veículos existentes no Brasil. Cada veículo recebe um número 
identificador que é chamado de “código renavam” e lá são registradas todas as informações sobre a “vida” 
do automóvel, desde o momento da sua fabricação ou importação, passando pelo emplacamento, 
mudanças de proprietário, alterações em sua cor e características, até o instante em que o veículo sai de 
circulação. 
 
5) Apreensão do bem 
O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão, deverá entregar o bem e 
seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º). 
 
6) Possibilidade de pagamento integral da dívida 
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar 
a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, 
hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
7) Resposta 
No prazo de 15 dias, o devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação). 
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade da 
dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição. 
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das cláusulas 
contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era abusivo, isso 
justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora. 
 
8) Venda do bem 
Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário) poderá 
vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra 
medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do DL 
911/69). 
O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar os débitos do 
devedor para com o credor e também para custear as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida. 
Se, após o pagamento da dívida, ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao 
devedor. 
 
9) Sentença 
Após todo esse procedimento, o juiz profere a sentença. 
Contra essa decisão cabe apelação, apenas no efeito devolutivo. 
 
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: 
João precisava comprar um fogão industrial, mas não tinha dinheiro suficiente. 
Em virtude disso, celebrou com a “Instituição Comunitária de Crédito ABC” um contrato de financiamento 
com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, a ABC emprestou R$ 30 mil a João para ele comprar o fogão industrial. Como garantia do 
pagamento do mútuo, a propriedade resolúvel do fogão ficou com a ABC e a posse direta com João, que 
ficou usando o bem em suas atividades. 
João assumiu o compromisso de pagar a dívida em 60 meses. 
Vale ressaltar que a ABC é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), ligada ao 
Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado – PNMPO. 
Após a 30ª parcela, João tornou-se inadimplente. 
Diante disso, a ABC ajuizou, pela sistemática do DL 911/69, ação de busca e apreensão do bem ofertado 
em garantia. 
 
A ação proposta terá êxito? 
NÃO. O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito por ilegitimidade ativa ad causam, nos 
termos do art. 485, VI, do CPC, porque a ABC (autora) não tem legitimidade para requerer busca e 
apreensão de bens com fulcro no DL 911/69. 
 
Quem é legitimado para propor esta ação? 
O art. 8º-A prevê que o procedimento judicial de busca e apreensão previsto no DL 911/69 aplica-se 
exclusivamente às seguintes hipóteses: 
(i) operações do mercado financeiro e de capitais; e 
(ii) garantia de débitos fiscais ou previdenciários. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Assim, a retomada de bens pelo procedimento célere do DL 911/69 é instrumento exclusivo das 
instituições financeiras e das sociedades com elas equiparadas. 
 
E quem são as instituições financeiras? 
De acordo com os arts. 17 e 18 da Lei nº 4.595/64, são instituições financeiras... 
- as pessoas jurídicas públicas e privadas que, 
- mediante prévia autorização do Banco Central, 
- tenham como atividade principal ou acessória 
- a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, 
- em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. 
 
Atividades financeiras são vedadas para OSCIPs 
As OSCIPs são reguladas pela Lei nº 9.790/99. Esta Lei proíbe que sejam qualificadas como OSCIPs “as 
organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema financeiro nacional” (art. 
2º, XIII). 
Assim, em nosso exemplo, a ABC não pode ser considerada como instituição financeira, pois seu 
funcionamento não foi autorizado pelo Banco Central e o regime legal das OSCPs proíbe que ela realize 
atividades creditícias vinculadas ao sistema financeiro nacional. 
 
Não pode ser equiparada à instituição financeira 
A ABC também não pode ser equiparada à instituição financeira com base na Lei nº 10.194/2001. 
Esta Lei afirmou que seriam equiparadas à instituição financeira as sociedades de crédito ao 
microempreendedor e à empresa de pequeno porte. 
Essas sociedades de crédito, contudo, têm a sua constituição, organização e funcionamento disciplinados 
pelo Conselho Monetário Nacional e sujeitam-se à fiscalização do Banco Central. 
A Lei nº 10.194/2001 em nenhum momento fala sobre as OSCIPs que, como já vimos, são regidas por lei 
própria (Lei nº 9.790/99). 
 
Desse modo, sendo a autora uma OSCIP, não se insere no conceito de instituição financeira nem pode ser 
ela equiparada, devendo, portanto, ser reconhecida a sua ilegitimidade para ajuizar a busca e apreensão 
regulada pelo DL 911/69. 
 
Resumindo: 
A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao Programa Nacional de 
Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser classificada ou equiparada à instituiçãofinanceira, carecendo, portanto, de legitimidade ativa para requerer busca e apreensão de bens com 
fulcro no Decreto-Lei nº 911/69. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.071-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/3/2017 (Info 600). 
 
E qual instrumento processual poderia ser utilizado pela OSCIP neste caso? 
Ação de reintegração de posse. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL 
Prazo para anular partilha de bens em dissolução de união estável 
por vício de consentimento é de 4 anos 
 
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, 
por vício de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. 
Cuidado: 
 Prazo para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano. 
 Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união estável: 4 anos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria viviam em união estável há muitos anos. 
Maria descobriu, contudo, que João estava tendo uma relação extraconjugal e, por isso, decidiu pôr fim 
ao relacionamento. 
Em abril de 2016, João e Maria foram até um cartório (Tabelionato de Notas) e ali fizeram uma escritura 
pública de dissolução de união estável com partilha de bens. 
Em junho 2017, Maria ajuizou ação contra João pedindo a anulação da partilha de bens realizada, sob o 
argumento de que foi coagida a aceitar a divisão feita, extremamente desvantajosa a ela, porque o réu 
teria ameaçado a autora e seus familiares. 
João contestou a demanda alegando que houve decadência considerando que o prazo para se anular a 
partilha é de 1 ano, nos termos do art. 2.027, parágrafo único, do Código Civil e do art. 657, parágrafo 
único, I, do CPC: 
Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos. 
Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha. 
 
Art. 657. A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário 
ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial 
ou intervenção de incapaz, observado o disposto no § 4º do art. 966. 
Parágrafo único. O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse prazo: 
I - no caso de coação, do dia em que ela cessou; 
 
O argumento do réu deverá ser aceito? 
NÃO. 
É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de união estável, por vício 
de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código Civil. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2017 (Info 600). 
 
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: 
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
 
E o art. 2.027 do CC e o art. 657 do CPC? 
O prazo previsto no art. 2.027, parágrafo único, do CC e no art. 657, parágrafo único, do CPC é aplicado 
apenas para a nulidade de partilha feita em inventário, e não para a partilha decorrente de dissolução de 
união estável. Assim, o prazo decadencial de 01 ano é específico para a anulação da partilha do direito 
sucessório (ou seja, em caso de morte), não devendo essa regra ser estendida para as demais espécies de 
partilha amigável, como aquela decorrente do fim da união estável. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos 
 
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor - CDC ao contrato de transporte de 
mercadorias vinculado a contrato de compra e venda de insumos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.674-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “AUTOTEC” comprou insumos de uma empresa chinesa e contratou a transportadora 
“TRANSLOG” para trazê-los de Shangai (China) para Curitiba (Brasil), via área. 
Ocorre que houve extravio dos referidos insumos, não tendo chegado ao Brasil. 
Diante disso, a empresa “AUTOTEC” ajuizou ação de indenização contra a “TRANSLOG” pedindo a 
aplicação das regras do CDC ao caso, sob o argumento de que haveria relação de consumo. 
 
O pedido da empresa “AUTOTEC” deverá ser aceito? 
NÃO. Não é possível reconhecer a caracterização de relação de consumo no contrato de transporte de 
mercadoria celebrado no caso concreto. 
O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em seu art. 2º, ao estatuir que “consumidor é toda 
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatária final”. 
A nota característica dessa definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica) como 
destinatária final de um produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora. 
A condição de destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação estabelecida pelo 
legislador para a fixação do conceito de consumidor e, consequentemente, para a própria incidência do 
CDC como lei especial. 
Há necessidade, assim, de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o elemento teleológico 
dessa definição. 
Considera-se destinatário final aquele que, no ato de consumir, retira o bem do mercado. 
A jurisprudência, posteriormente, evoluiu para admitir uma certa mitigação da teoria finalista na hipótese 
em que, embora não verificada a condição de destinatário final, constata-se a vulnerabilidade do 
consumidor profissional ante o fornecedor. 
Nesse sentido, confira o seguinte julgado que evidencia a posição atual do STJ acerca da matéria: 
(...) 1. É relação de consumo a estabelecida entre o caminhoneiro que reclama de defeito de fabricação 
do caminhão adquirido e a empresa vendedora do veículo, quando reconhecida a vulnerabilidade do autor 
perante a ré. (...) 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 426.563/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/06/2014. 
 
No caso em tela, não se aplica a referida mitigação da teoria finalista, pois a empresa autora da demanda 
sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a empresa demandada. 
Com efeito, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a contratante do serviço de transporte 
de carga é destinatária final fática e econômica desse serviço. 
Contudo, uma vez que a carga transportada é insumo, o contrato celebrado para o transporte desse 
insumo fica vinculado a essa destinação, não havendo necessidade de se perquirir acerca da destinação 
econômica do serviço de transporte. 
 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores 
e títulos mobiliários é considerado consumidor 
 
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a 
atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, 
o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários. 
Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse 
operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa 
corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A relação entre João e a corretora é 
uma relação de consumo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse operações 
financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa corretora para investirseu 
dinheiro na Bolsa de Valores. 
A “Dinheiro S.A” é, portanto, uma empresa que presta o serviço de corretagem de valores e títulos 
mobiliários. 
João sentiu-se lesado em algumas operações realizadas pela corretora e, por isso, ajuizou ação de 
indenização contra a empresa. 
Na ação, o autor pediu que fosse reconhecida a relação jurídica como sendo consumerista e que fossem 
aplicadas as regras do CDC. 
A corretora contestou a demanda afirmando, entre outros argumentos, que João não poderia ser 
considerado consumidor uma vez que: 
a) O contrato firmado envolve investimentos de valores altíssimos; e 
b) O autor é pessoa extremamente esclarecida, tendo elevado nível de escolaridade. 
 
Esta relação jurídica entre João e a corretora é uma relação de consumo? O magistrado, ao julgar a 
causa, deverá aplicar o Código de Defesa do Consumidor? 
SIM. 
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender 
necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, o serviço de 
corretagem de valores e títulos mobiliários. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600). 
 
Conceito de consumidor 
O CDC possui três dispositivos que trazem definições sobre quem seja consumidor: 
Art. 2º 
Conceito geral 
Art. 17 
Toda e qualquer vítima de fato 
do produto e do serviço 
Art. 29 
Para fins de práticas comerciais 
e de proteção contratual 
Art. 2º Consumidor é toda 
pessoa física ou jurídica que 
adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a 
consumidor a coletividade de 
pessoas, ainda que 
Art. 17. Para os efeitos desta 
Seção, equiparam-se aos 
consumidores todas as vítimas 
do evento. 
 
Tem-se aqui a figura do 
bystander (espectador). 
Art. 29. Para os fins deste 
Capítulo e do seguinte, 
equiparam-se aos consumidores 
todas as pessoas determináveis 
ou não, expostas às práticas nele 
previstas. 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
indetermináveis, que haja 
intervindo nas relações de 
consumo. 
 
 
 
Exemplo: se um avião cai em um 
bairro residencial e causa danos 
aos seus moradores, estes serão 
considerados consumidores por 
equiparação (bystanders), mesmo 
não sendo passageiros ou terem 
qualquer tipo de contrato com a 
companhia aérea. 
 
O art. 29 refere-se a dois 
capítulos: 
Capítulo V - Das Práticas 
Comerciais 
Capítulo VI - Proteção contratual 
 
Teoria finalista 
Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º do CDC deve ser interpretado de forma restritiva e 
que deve ser considerado destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou 
serviço, seja ele pessoa física ou jurídica. 
Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como 
aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, 
o preço final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy Andrighi). 
Para ser considerada uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido com 
finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade negocial). 
Essa é a aplicação da concepção finalista. 
 
Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada 
Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência do STJ 
também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a 
aplicabilidade do CDC nas relações entre os adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente 
utilizando os bens ou serviços para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta 
vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada. 
Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade de se admitir que, 
em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o produto ou serviço como destinatária final, 
possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade. 
Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012. 
Portanto, saber se um destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito de consumidor 
é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica estabelecida é marcada pela vulnerabilidade 
daquele (pessoa física ou jurídica), que adquire ou contrata produto ou serviço diante do seu fornecedor 
(Min. Villas Bôas Cueva). 
 
A corretagem de valor e títulos mobiliários consiste em prestação de serviços 
A corretagem de valores e títulos mobiliários é uma atividade exercida na Bolsa de Valores, sendo 
regulamentada pelas Leis 4.728/65, 6.385/76, 6.404/76, 7.913/89, 7.940/89, 8.178/91, além de diversos 
atos normativos infralegais. 
Apesar de sofrer uma série de restrições e intensa fiscalização, a atividade de corretagem de títulos e 
valores mobiliários continua sendo um serviço que é prestado a um consumidor final. 
 
Alto valor do contrato não descaracteriza relação de consumo 
João é consumidor no contrato que firmou com a corretora, uma vez que é considerado destinatário final 
do serviço prestado pela empresa. 
Aplica-se, portanto, a teoria finalista. 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
O fato de ter sido alto o valor do contrato e dos investimentos realizados não retira do contratante a sua 
condição de consumidor. O CDC é aplicável tanto ao comércio popular quanto ao consumo de alto padrão. 
 
Alto grau de escolaridade do contratante não retira sua condição de consumidor 
Não é cabível retirar a condição de consumidor de uma determinada pessoa em razão de ele ter maior 
nível de escolaridade ou de discernimento, se comparado com a média da população. 
Mesmo tendo maior escolaridade ou discernimento, o autor continua sendo vulnerável frente à empresa. 
Além disso, no caso em tela está sendo aplicada a teoria finalista (e não a teoria finalista mitigada, na qual 
há análise a respeito da vulnerabilidade do consumidor). 
 
 
 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
Se o consumidor beneficiário de contrato de participação financeira 
cede seus direitos, a cessionária não será considerada consumidora 
 
A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do 
contrato de participação financeira. 
Ex: João firmou contrato de participação financeira com a empresa de telefonia. João cedeu os 
direitos creditícios decorrentes do contrato para uma empresa privada especializada em 
comprar créditos, com deságio. A empresa cessionária, ao ajuizar demanda contra a 
companhia telefônica pedindo os direitos decorrentes deste contrato, não poderá invocar o 
CDC. As condições personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/3/2017 (Info 600). 
 
Sistema TELEBRÁS 
Antes da privatização, quem explorava os serviços de telefonia no Brasil era a União, por meio de empresas 
estatais integrantes do chamado sistema TELEBRÁS. 
A TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S.A.) era uma empresa estatal pertencente à União, sendo 
responsável por coordenar e controlar outras empresas estatais que atuavam nos Estados prestando os 
serviços telefônicos. 
Assim, a TELEBRÁS era uma espécie de holding que abrangia inúmeras outras empresas estatais, como a 
TELEBRASÍLIA (que prestava os serviços de telecomunicações no Distrito Federal), a TELECEARÁ (Ceará), a 
TELEMIG (Minas Gerais), a TELERJ (Rio de Janeiro), a TELESP (São Paulo), a TELAMAZON (Amazonas) etc. 
Os serviços que atualmente são prestados pela TIM, VIVO, CLARO etc. eram desempenhados por essas 
empresas estatais.Em 1998, as empresas que compunham o sistema TELEBRÁS foram vendidas em leilão internacional para 
empresas privadas, a chamada "privatização". 
 
Serviços de telefonia antes da privatização 
Antes da privatização, o serviço de telefonia era muito ruim, caro e a área de abrangência era pequena. 
Para poder ter direito ao serviço de telefonia, o consumidor tinha que comprar uma linha. Para isso, ele 
pagava antecipadamente e entrava em uma lista de espera que poderia durar meses até chegar a sua vez. 
Além disso, como na época não havia recursos públicos suficientes para a expansão da rede, as empresas 
de telefonia obrigavam os usuários dos serviços a serem seus financiadores. 
Assim, o consumidor, para ter direito de adquirir o uso de um terminal telefônico, tinha que assinar um 
contrato de adesão por meio do qual era obrigado a comprar ações da empresa de telefonia. Em outras 
palavras, para ter acesso ao serviço de telefonia, o usuário tinha que adquirir uma participação acionária 
na companhia. Por isso, você já deve ter ouvido algumas pessoas mais antigas falarem que tinham ações 
da TELERJ, da TELESP etc. 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
Contratos de participação financeira 
Dessa forma, as pessoas interessadas em ter uma linha de telefone eram obrigadas a assinar um contrato 
com as empresas de telefonia, por meio do qual pagavam um valor a título de participação financeira, 
passando a ter acesso a um terminal telefônico e, além disso, ganhavam o direito de receber determinado 
número de ações da companhia. 
Para se ter uma ideia de como isso era caro, algumas pessoas faziam financiamento bancário para 
poderem obter dinheiro para comprar uma linha telefônica. 
 
Recebimento das ações 
Ocorre que, muitas vezes, o usuário fazia o contrato com a companhia, recebia o direito de usar a linha 
telefônica, mas não recebia na hora as ações a que teria direito. Tais ações somente eram entregues algum 
tempo depois e o cálculo do número de ações a que teria direito o usuário era feito unilateralmente pelas 
empresas de telefonia com base em um valor patrimonial da ação (VPA) futuro. 
A prática revelou que muitas vezes o cálculo realizado pelas companhias estava errado e, por isso, muitos 
contratantes do serviço de telefonia acabaram recebendo uma quantidade menor de ações do que teriam 
realmente direito. 
 
Demanda por complementação de ações de empresas de telefonia 
Diante do cenário acima narrado, diversas pessoas que adquiriram ações das companhias telefônicas e 
receberam menos do que seria devido ingressaram com demandas judiciais pedindo a complementação 
das ações. 
Dessa forma, quando você ouvir falar em "demanda por complementação de ações da empresa de 
telefonia", nada mais é do que a demanda judicial proposta pela pessoa que pagou para ter direito a um 
determinado número de ações da companhia telefônica, mas, apesar disso, recebeu menos do que seria 
devido. Por isso, a pessoa ingressa com o processo judicial pedindo a complementação das ações ou, 
subsidiariamente, o recebimento de indenização por perdas e danos. 
 
Aplicação do CDC 
O STJ entende que demandas propostas com o objetivo de fazer cumprir os contratos de participação 
financeira são regidas pelo CDC. Em outras palavras, quando o usuário ingressa com demanda por 
complementação de ações de empresa de telefonia, ele poderá invocar as regras protetivas do CDC. 
Isso se justifica porque tais demandas estão diretamente relacionadas com serviço de telefonia. 
O interessado, para ter acesso ao serviço público de telefonia, tinha que obrigatoriamente se tornar 
acionista da respectiva concessionária. Nesse sentido, justifica-se que a proteção ao consumidor se 
estenda ao contrato como um todo, tanto no que concerne à prestação de serviços telefônicos quanto à 
retribuição em ações, pois a condição de acionista era imposta ao consumidor. Confira precedente: 
(...) 1. A jurisprudência do STJ é firme em reconhecer a existência de relação de consumo nos contratos 
para aquisição de linha telefônica com cláusula de investimento em ações, haja vista que o contrato de 
participação financeira está atrelado diretamente aos serviços de telefonia. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1266388/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013. 
 
Sucessoras da Telebrás 
Vale ressaltar que, com a privatização ocorrida em 1998, a responsabilidade pela complementação das 
ações de telefonia passou para as empresas privadas que ganharam o leilão e assumiram a prestação dos 
serviços (exs: OI, Brasil Telecom, TIM etc.), considerando que elas são sucessoras da Telebrás. 
 
 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
João firmou contrato de participação financeira com a CRT (Companhia Riograndense de 
Telecomunicações). João é chamado aí de “promitente-assinante”. 
Posteriormente, a CRT foi privatizada e vendida para a OI. 
João tinha direito de receber a complementação de suas ações, mas estava agoniado e não queria esperar. 
Por isso, fez um contrato de cessão de seus direitos para uma empresa privada especializada em comprar 
créditos, com deságio. Assim, a empresa (cessionária) pagou um determinado valor para João (cedente) e 
ficou com os direitos relativos ao contrato de participação financeira. 
A empresa cessionária ajuizou, então, ação ordinária contra a OI S.A., na qual a autora afirma ser 
cessionária do contrato de participação financeira e requer a emissão da diferença de ações a serem 
subscritas com base no contrato. 
Na ação, a empresa pediu que fossem aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor sob o 
argumento de que o cedente (João) era consumidor e, portanto, ela assumiu o crédito com a mesma 
natureza. 
 
O argumento da empresa deve ser acolhido? O cessionário de contrato de participação financeira 
mantém a condição de consumidor do promitente-assinante? 
NÃO. 
A condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere aos cessionários do contrato de 
participação financeira. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.700-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/3/2017 (Info 600). 
 
Os contratos de participação financeira têm natureza híbrida, englobando dentro deles duas relações 
jurídicas autônomas: 
a) A prestação do serviço telefônico entre o usuário e a empresa de telefonia (o direito de o usuário 
utilizar os serviços telefônicos); e 
b) a emissão de ações da companhia em favor do usuário (que passa a ser acionista). 
 
No caso analisado, a linha telefônica permaneceu com o promitente-assinante (João), sendo transferida 
para a empresa cessionária apenas a segunda relação jurídica, ou seja, os valores mobiliários (ações). 
É certo que a jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que o CDC é aplicável às ações que têm como 
objeto o cumprimento de contratos de participação financeira, pois diretamente atrelados ao serviço de 
telefonia. No entanto, no presente caso, a autora é uma empresa especializa em comprar créditos, sendo 
cessionária de milhares de contratos de participação financeira. Não há vulnerabilidade ou 
hipossuficiência do cessionário. Ademais, o pedido da demanda é apenas relacionado com as ações, não 
havendo qualquer discussão sobre o uso dos serviços de telefonia (isso sim é que configura a prestação 
dos serviços). 
Além disso, a cessão está resumida à integralidade dos direitos creditícios decorrentes do contrato de 
participação financeira. Trata-se, portanto, de cessão de crédito e não de cessão de posição contratual, 
pois não há cessão da inteira posição no ajuste. 
Por fim, vale ressaltar que as condições personalíssimas do cedente não se transmitem ao cessionário. 
Logo, a condição de consumidor do promitente-assinante não se transfere ao cessionário do contrato de 
participação financeira.Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA 
Ônus da sucumbência em caso de sentença de extinção do processo sem resolução do mérito 
 
Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do 
objeto da ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual 
dos litigantes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas e 
dos honorários advocatícios deve ser rateado entre as partes. 
Ex: João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular, onde colocaram 
um stent no paciente. Inicialmente, o plano de saúde de João recusou-se a pagar ao hospital os 
valores despendidos com o stent. Diante disso, o hospital ingressou com ação cobrando este 
valor de João. Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de reconsideração ao 
plano de saúde, que foi acolhido e, assim, o convênio transferiu espontaneamente o dinheiro 
do tratamento ao hospital. Neste caso, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução do 
mérito por perda superveniente do interesse de agir e condenar as duas partes ao pagamento 
das custas e dos honorários advocatícios divididos entre elas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/3/2017 (Info 600). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João teve um ataque cardíaco e foi internado em um hospital particular. 
Dois dias depois, foi colocado um stent no paciente. 
O plano de saúde de João pagou ao hospital todas as despesas com a internação, recusando-se, contudo, 
a arcar com os custos do stent alegando que não estaria incluído na cobertura. 
Diante disso, o hospital ingressou com a ação de cobrança contra João pedindo o pagamento de R$ 30 mil 
relativos à colocação do stent. 
João apresentou contestação e o processo já estava concluso para sentença. 
Ocorre que João havia feito um pedido administrativo de reconsideração ao plano de saúde, que foi 
acolhido e, assim, o convênio transferiu espontaneamente o dinheiro do tratamento ao hospital. 
O hospital peticionou ao juiz informando a situação e, em razão disso, o magistrado extinguiu o processo 
sem resolução do mérito por perda superveniente do interesse de agir (art. 485, VI, do CPC/2015). 
Até aí, tudo bem. O ponto polêmico veio agora: na sentença, o juiz condenou o réu (João) ao pagamento 
das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa. 
O réu recorreu argumentando que houve verdadeira desistência do autor (hospital), que requereu a 
extinção do processo sem resolução do mérito, tendo em vista o pagamento do débito pelo plano de 
saúde. Além disso, argumentou que a decisão do plano de quitar o débito não pode lhe prejudicar, não 
tendo sido ele (réu) quem deu causa ao processo. 
 
Afinal de contas, quem deverá pagar as custas e honorários advocatícios: o autor ou o réu? 
Os dois, divididos. 
Nas hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito provocada pela perda do objeto da 
ação em razão de ato de terceiro e sem que exista a possibilidade de se saber qual dos litigantes seria 
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado, o pagamento das custas e dos honorários advocatícios 
deve ser rateado entre as partes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.160-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/3/2017 (Info 600). 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Segundo a jurisprudência do STJ, sendo o processo extinto sem resolução do mérito, cabe ao juiz 
investigar, sob a égide do princípio da causalidade, qual parte deu origem à extinção do processo sem 
julgamento de mérito ou qual das partes seria sucumbente se o mérito da ação fosse julgado. 
No presente caso, a extinção do feito não foi causada por ato das partes, mas sim por ato de terceiro, que 
efetuou o pagamento do valor devido. Desse modo, é impossível dizer qual dos litigantes seria 
sucumbente se o mérito da ação fosse julgado. 
Assim, na situação em tela, é inviável imputar a uma ou a outra parte a responsabilidade pelos ônus 
sucumbenciais, mostrando-se adequado que cada uma das partes suporte os encargos relativos aos 
honorários advocatícios e às custas processuais, rateando o quantum estabelecido pela sentença. 
Vale ressaltar que o plano de saúde é considerado “terceiro” porque não participava da relação processual. 
 
 
 
ASTREINTES 
É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, 
para isso, é indispensável que o recurso tenha sido conhecido 
 
O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão 
é suscitada em recurso de apelação não conhecido. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 7/3/2017 (Info 600). 
 
Astreintes 
A multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537 do CPC/2015: 
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de 
conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja 
suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do 
preceito. 
 
Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de pressionar o devedor a 
cumprir: 
 uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou 
 uma sentença que julgou procedente o pedido do autor. 
 
Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa “XX” entregasse para 
a empresa “YY” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob pena de multa diária de R$ 16 mil reais. 
Essa multa é chamada de astreinte. 
 
Principais características da multa cominatória (astreinte) 
 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte em virtude de ser 
semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é 
chamado. 
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação. Trata-se de 
uma técnica judicial de coerção indireta. 
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito processual. 
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos. 
 Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de execução. 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
 Apesar de no dia-a-dia ser comum ouvirmos a expressão “multa diária”, essa multa pode ser 
estipulada também em meses, anos ou até em horas. O CPC 2015, corrigindo essa questão, não fala 
mais em “multa diária”, utilizando simplesmente a palavra “multa”. 
 O valor da multa deve ser revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das astreintes é a 
pessoa que seria beneficiada com a conduta que deveria ter sido cumprida (STJ REsp 949.509-RS / art. 
537, § 2º do CPC 2015). Geralmente, as astreintes foram impostas para que o réu cumprisse 
determinada conduta, de forma que a multa será revertida em favor do autor. No entanto, é possível 
imaginar alguma situação na qual, durante o processo, o juiz imponha uma obrigação ao autor sob 
pena de multa. Neste caso, o beneficiário das astreintes seria o réu. 
 A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da 
multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor 
da multa ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução. 
 
É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública? 
SIM. É perfeitamente possível ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixar multa diária cominatória 
(astreintes) contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de fazer (STJ. 2ª Turma. 
REsp1654994/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/04/2017). 
 
Pode ser imposta multa ao agente público pelo descumprimento da obrigação de fazer? 
Depende. Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é possível, por ofensa aos princípios 
do contraditório e da ampla defesa. Confira: 
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos do 
Governo do Rio Grande do Norte, foi condenado, ante sua responsabilidade pessoal, pela Corte de origem 
ao pagamento de astreintes devido ao não cumprimento imediato de determinação judicial no bojo de 
mandado de segurança do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada. 
(...) 
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes responsáveis pelo 
cumprimento das determinações judiciais, em particular quando eles foram parte na ação. (...) 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2014. 
 
(...) o agente público não pode ser pessoalmente condenado ao pagamento de astreintes se não figurou 
como parte na relação processual em que imposta a cominação, sob pena de afronta ao direito 
constitucional de ampla defesa. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1433805/SE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/06/2014. 
 
É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu valor? 
SIM. É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, possa limitar o 
valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do exequente. Essa possibilidade está 
prevista no CPC: 
Art. 537 (...) 
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa 
vincenda ou excluí-la, caso verifique que: 
I - se tornou insuficiente ou excessiva; 
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para 
o descumprimento. 
 
Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz coisa julgada. 
Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa. Confira: 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada. 
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa julgada, 
sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser cominada, 
alterada ou suprimida posteriormente. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso 
repetitivo) (Info 539). 
 
Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado, será possível a 
modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que se tornou imutável foi a obrigação 
reconhecida na sentença, mas não a multa. Em outras palavras, o que fez coisa julgada foi a obrigação, 
sendo a multa apenas uma forma executiva de cumpri-la. 
 
Como é analisado se o valor da multa é excessivo? 
Para saber se a multa é excessiva, deve-se analisar o seu valor no momento de sua fixação em comparação 
com o valor da obrigação principal. Assim, no momento em que a multa é estipulada, o seu valor não pode 
ser superior ao da obrigação principal. Isso porque não é razoável que o acessório (multa) seja maior que 
o principal. No entanto, se, no instante em que a multa é fixada, o seu valor é bem abaixo da quantia 
principal, mas o devedor demora muito para cumprir a determinação, podemos considerar que, neste 
caso, a multa não é excessiva, podendo ser cobrada mesmo que, após longo tempo de atraso, ela já esteja 
maior que a obrigação principal. 
Assim, é possível imaginar situações em que o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante 
superior ao da obrigação principal. 
A apuração da razoabilidade e da proporcionalidade do valor da multa diária deve ser verificada no 
momento de sua fixação em cotejo com o valor da obrigação principal. Com efeito, a redução do montante 
total a título de astreinte, quando superior ao valor da obrigação principal, acaba por prestigiar a conduta 
de recalcitrância do devedor em cumprir as decisões judiciais, bem como estimula a interposição de 
recursos com esse fim, em total desprestígio da atividade jurisdicional das instâncias ordinárias. Em suma, 
deve-se ter em conta o valor da multa diária inicialmente fixada e não o montante total alcançado em 
razão da demora no cumprimento da decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do 
devedor em cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória superior ao montante 
da obrigação principal. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado 
em 5/5/2015 (Info 562). 
 
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em 
julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela 
provisória de urgência? 
Sim, é possível. Neste caso, o devedor da multa será obrigado a depositar o valor em juízo. Caso não faça 
voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação (ex: penhora on line). No entanto, o 
credor não poderá levantar imediatamente a quantia. 
O valor da multa permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após o 
trânsito em julgado da sentença favorável a ele. 
 
Veja o dispositivo do CPC/2015 que trata sobre o tema: 
Art. 537. (...) 
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em 
juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte. 
(Redação dada pela Lei nº 13.256/2016) 
 
 
 
Informativo 600-STJ (26/04/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem seja intimado. 
Como é feita esta intimação? 
CPC/1973 CPC/2015 
Havia a seguinte distinção: 
• Obrigação de pagar quantia 
certa: a intimação era feita na 
pessoa do advogado. 
• Obrigação de fazer, não fazer 
e entregar coisa: a intimação 
deveria ser pessoal. 
 
Súmula 410-STJ: A prévia 
intimação pessoal do devedor 
constitui condição necessária 
para a cobrança de multa pelo 
descumprimento da obrigação 
de fazer ou não fazer. 
Segundo a doutrina, não mais existe essa distinção. O devedor será 
intimado na forma do art. 513, § 2º: 
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos 
autos; 
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela 
Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos 
autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; 
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver 
procurador constituído nos autos; 
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na 
fase de conhecimento. 
 
A Súmula 410 do STJ está superada. 
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito 
Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1202. 
 
Feita esta breve revisão sobre astreintes, imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi condenado a pagar R$ 300 mil a Pedro. Desse valor, R$ 100 mil é referente à obrigação principal 
e R$ 200 mil corresponde ao valor das astreintes. 
A sentença transitou em julgado. 
O credor iniciou o cumprimento de sentença. 
João (devedor), após ser intimado, decidiu não pagar a dívida, tendo apresentado impugnação ao 
cumprimento de sentença. 
Na impugnação, ele alegou que o valor da multa era excessivo e que deveria ser reduzido, nos termos do 
art. 537, § 1º, I, do CPC/2015. 
O juiz julgou improcedente a impugnação e determinou o prosseguimento da execução. 
João interpôs apelação contra esta decisão do magistrado. 
 
Agiu corretamente o devedor? 
NÃO. O recurso cabível

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