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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PRODUÇÃO de Mariana – ICHS 2 Esta apostila foi elaborada com o objetivo de complementar a bibliografia básica da disciplina “Produção de Textos”. Por meio de exercícios e propostas de produção de textos, este material visa a orientar o aluno quanto ao desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita, no âmbito acadêmico e profissional. É importante ressaltar que a leitura desta apostila não substitui a leitura de textos básicos, presentes na bibliografia da disciplina, e de outros textos que poderão ser sugeridos durante o semestre letivo. De acordo com o plano da disciplina, trabalharemos, na unidade I, uma reflexão acerca dos conceitos de língua, linguagem e texto, observando aspectos ligados à norma culta e às variedades linguísticas da língua portuguesa. Abordaremos também aspectos ligados às condições de produção e de recepção de textos, destacando restrições de ordem situacional, como os interlocutores e suas relações, o contexto social e histórico das interações, as condições materiais e comunicacionais envolvidas nas interlocuções de um modo geral. Destacaremos também restrições de ordem cognitiva, a exemplo dos objetivos e expectativas dos interlocutores, da atividade inferencial, dos conhecimentos prévios (de mundo e lingüístico), necessários à produção e à recepção de um texto. Na unidade II, trabalharemos com os conceitos de textualidade, com enfoque nos princípios de coesão e coerência, intertextualidade e polifonia, a fim de analisarmos a produção e recepção de textos, do ponto de vista de sua materialidade linguística. Na unidade III, focalizaremos os processos de construção discursiva da argumentação, abordando as condições de produção e as estratégias discursi vas utilizadas em textos argumentativos, a exemplo do artigo de opinião, do editorial, do fórum de discussão e da carta de leitor. Na unidade IV, que será desenvolvida parcialmente em concomitância com as três primeiras, nos dedicaremos à dimensão prática do curso, ou seja, à produção de textos em sala e, eventualmente, em casa, abordando, sobretudo, os gêneros acadêmicos, enfatizando a leitura e a produção de esquemas, resumos e resenhas, com vistas a desenvolver habilidades de documentação de leitura, de síntese crítica e de gestão de vozes por meio do trabalho de citação. 3 PROGRAMA DA DISCIPLINA PRODUÇÃO DE TEXTOS I Professor: Paulo Henrique A. Mendes Código LET712 Departamento LETRAS Unidade ICHS Carga Horária Semanal Teórica 02 Prática 02 N o de Créditos 03 Duração/Semana 15 Carga Horária Semestral 60 horas EMENTA: Estudo dos conceitos de texto, textualidade, textualização, coesão, coerência . O texto argumentativo. Leitura de textos de opinião. Prática de produção de textos, com ênfase nos gêneros acadêmicos. Resumo. Resenha. OBJETIVOS: Possibilitar ao aluno conceber teórica e operacionalmente o processo de leitura e produção de textos como uma das dimensões que compõem o objeto de estudo/trabalho do curso de letras. Desenvolver e/ou refinar no aluno habilidades de leitura e produção de textos que lhe permitam constituir-se como produtor e receptor ‘competente’ de diferentes tipos de textos, com ênfase sobre gêneros discursivos mais recorrentes no universo acadêmico, tais como resumo, resenha, entre outros. MÉTODOS DIDÁTICOS: Diagnóstico das habilidades de produção e leitura de textos, a fim de verificar as diretrizes a serem seguidas na abordagem do objeto de estudo; aulas expositivas e seminários sobre os textos lidos; exercícios interativos de leitura e produção de textos, contemplando os fatores constitutivos das condições de produção e interpretação; leitura e produção de gêneros acadêmicos. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Unidade 1 1.1. Da língua ao texto: uma abordagem enunciativa da linguagem 1.2. Variação, norma e adequação linguística do texto oral ou escrito 1.3. Conceito de texto: condições de produção/recepção, estratégias e efeitos de sentido Unidade 2 2.1. Princípios de textualidade: processos enunciativos e estratégias de textualização 2.2. Coerência e coesão textual 2.3. Intertextualidade e polifonia Unidade 3 3.1. Gêneros discursivos e argumentação 3.2. Letramento e gêneros acadêmicos 3.3. Gestão de vozes, posicionamento crítico e construção da autoria 3.4. O trabalho da citação. Tipos de citação. Citação X plágio 4 Unidade 4 4.1. Leitura e produção de parágrafos, com vistas ao desenvolvimento da capacidade de estruturação de períodos e de organização tópica. 4.2. Leitura e produção de artigos de opinião, cartas de leitor e comentários de fórum de discussão, tematicamente orientados em função de determinadas condições de produção. 4.3. Produção e apresentação de esquemas de textos lidos no curso, visando à habilidade de filtragem e articulação conceitual. 4.4. Leitura e produção de resumos de textos lidos no curso, enfatizando a capacidade de filtragem/articulação conceitual e de gestão das vozes (pontos de vista). 4.5. Leitura e produção de comentários e resenhas de textos teóricos, com ênfase na capacidade de argumentação crítica e de gestão das vozes (pontos de vista). BIBLIOGRAFIA BÁSICA ANTUNES, I. Análise de Textos – fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola, 2010. COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. ELIAS, Vanda Maria; KOCH, Ingedore Villaça. Ler e escrever – estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2010. EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto – redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração Editorial, 2012. ILARI, Rodolfo., BASSO, Renato. O português da gente – a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2009. KOCH, Ingedore G. V; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coerência Textual. São Paulo: Contexto, 2012. KOCH, Ingedore. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997. MACHADO, Ana Raquel. et al. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. _____________. Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. SILVA, Ana Virgínia. Recursos linguísticos em resenhas acadêmicas e a apropriação do gênero. Curitiba: Appris, 2011. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. _________. Muito além da gramática – por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis: Vozes, 1992. FIORIN, J. L. Lições de texto. São Paulo: Ática, 2000. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998. KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1998. _______. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2011. 5 Os materiais abaixo indicados são sugestões que lhe fazemos para futuras aquisições, visando à composição de sua biblioteca particular de obras de consulta e referência quanto à norma padrão da língua escrita, o que é de grande valia para o profissional de qualquer área de conhecimento. Vale destacar, no entanto, que, mesmo de posse desses títulos, no momento da escrita é necessária a adequação do gênero textual à situação comunicativa(interlocutores envolvidos, objetivo pretendido, conteúdo abordado etc.), o que significa considerar mais do que o uso da norma padrão. Bom proveito! HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. (Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda.). Disponível em versão impressa ou digital, O dicionário Houaiss foi desenvolvido por uma equipe formada por mais de 150 especialistas - CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do Português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Esta Gramática é uma descrição do português atual em sua forma culta, ou seja, da língua como a têm utilizado os escritores brasileiros, portugueses e africanos do Romantismo para cá, como privilégio concedido aos autores de nossos dias. 6 Rodolfo Ilari e Renato Basso, seguindo uma tradição iniciada nos anos 1920 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral, oferem-nos, em O português da gente, um estudo da língua que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de aula e fora dela. (Mário A. Perini) A Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo, oferece as informações necessárias para quem quer entender mais o português e comunicar-se melhor. Trata da língua de maneira clara e incorpora o uso já estabelecido da escrita. Oferece também ferramentas para interpretação e redação de texto. Apresenta todas as variedades como formas válidas de expressão, tendo como foco a variedade padrão da língua, a norma culta, cujo emprego é requerido na maior parte das situações formais. LIVROS GRÁTIS!! Um guia de bibliotecas virtuais Domínio Público, Brasiliana, Arquivo do Estado de São Paulo: essas e outras bases de dados reúnem milhares de clássicos da literatura. No site, você navega por um guia com os melhores acervos vrituais para ler e baixar. Como acessar? Digite na busca acervos virtuais públicos. Fonte: Revista Nova Escola n. 251, abril de 2012. 7 FORMA SENTIDO ortografia, pontuação e acentuação ? coerência e contradição [ ] estruturação sintática inadequação vocabular colocação pronominal, concordância e regência argumentação articulação conceitual ] 8 CONCEITOS BÁSICOS: Nesta unidade, trataremos de conceitos básicos para se tornar um bom produtor e leitor de textos, tais como: língua, linguagem, texto, variação linguística. Para começar a refletir sobre tais conceitos, leia os textos 1 e 2, presentes no ANEXO I: Texto 1: Conceito de língua, linguagem e texto (Solange Bonomo Assupção). Texto 2: O que é linguagem. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídio à Proposta Curricular ao ensino de Língua Portuguesa. São Paulo. SE/CENP, 1988. Para aprofundar a sua reflexão, vejamos os posicionamentos de dois linguistas acerca de algumas noções básicas sobre o nosso objeto de estudo, apresentados em entrevistas publicadas na obra Conversas com Linguistas (2003) 1 . JOSÉ LUIZ FIORIN O que é língua? “Olha... isso é uma coisa difícil, porque cada vez mais eu tenho dúvidas a respeito do que seja a língua por causa da complexidade. Veja, não me satisfazem definições como instrumento de comunicação, ou como um sistema ordenado com vistas à expressão do pensamento, nada disso. Eu penso, na verdade, que linguagem humana é a condensação de todas as experiências históricas de uma gramática, ela tem um léxico, eu não estou negando isso, mas, para mim, o aspecto mais relevante a verificar é que a língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente situado. Uma língua é isso.” Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade? “A língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta. A linguagem humana é essa faculdade de poder construir mundos. Isso para mim é o relevante. A linguagem dá ao homem uma possibilidade de criar mundos, de criar realidades, de evocar realidades não presentes. E a língua é uma forma particular dessa faculdade de 1 CORTEZ, Suzana; XAVIER, Antônio Carlos. Conversas com lingüistas. São Paulo: Parábola, 2003. 9 criar mundos. A língua, nesse sentido, é a concretização de uma experiência histórica. Ela está radicalmente presa à sociedade, quer dizer eu não nego a existência de um sistema de regras gramaticais, eu não estou negando isso, isso é evidente. Mas digo que, para o meu trabalho, o que profundamente me interessa é exatamente essa vinculação da língua com a sociedade, como a língua foi condensando todas as experiências de uma dada comunidade humana.” INGEDORE KOCH O que é língua? “Olha, essa pergunta é muito difícil de responder, porque eu vejo a língua simultaneamente como um sistema e como uma prática social. Eu não consigo dissociar essas duas coisas. A língua é um sistema, ela é um conjunto de elementos inter- relacionados em vários níveis, no nível morfológico, no nível fonológico-morfológico, sintático. Mas ela só se realiza enquanto prática social, quer dizer, os seres humanos nas suas práticas sociais usam a língua e a língua só se configura nessas práticas e é constituída nessas práticas.” Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade? “Eu já falei para você o que eu entendo por língua. Agora linguagem eu acho algo mais amplo. Linguagem é para mim a capacidade do ser humano de se expressar através de um conjunto de signos, de qualquer conjunto de signos. Então, eu acredito numa linguagem pictórica, numa linguagem sonora, numa linguagem verbal etc. Então, linguagem é todo meio de expressão do ser humano através de símbolos. E a sociedade nessa relação é essencial. Sem sociedade não há língua. A língua se configura através das práticas sociais de uma sociedade, de uma comunidade. Então, a língua se configura dentro do meio social, como expressão do meio social, lugar de interação entre os membros de uma sociedade e nesse lugar de interação é que se constituem as formas lingüísticas e todas as maneiras de falar que existem numa determinada época, numa determinada sincronia.” 10 Com base nos pontos de vista apresentados acima, analise os exemplos a seguir e elabore um comentário de um ou dois parágrafos. Exemplo1: Exemplo 2: 11 1) Leia e reflita sobre a interação comunicativa presente na tirinha abaixo: Adaptado da tirinha de Adão Iturrusgarai) 1- De acordo com a tirinha, o personagem Otto não consegue entender o que o primo da Aline está dizendo. Por que isso acontece? Que elementos lingüísticos presentes na fala do primo dificultaram a compreensão de Otto? 2- Transforme a fala do primo, no segundo quadro, adequando-a ao padrão culto da língua portuguesa? 3- Depois da transformação da linguagem caipira, no segundo quadro, você acha que a compreensão da tirinha continua a mesma? Justifique. LEMBRE-SE: o uso da língua variaconforme a situação de comunicação em que o texto está inserido (e-mail, relatório acadêmico, notícia, etc.), os participantes envolvidos (médico, professor, adolescente, etc.), os objetivos subjacentes ao texto (informar, opinar, entreter, convencer etc. Portanto, não convém dizer que um determinado uso da língua está certo ou errado, pois tudo dependerá de uma série de fatores interdependentes e não somente de um determinado padrão de uso ou mesmo dos preconceitos que circulam na sociedade com relação às várias formas de comunicação. O importante é saber usar a melhor forma (oral, escrita, formal ou informal) de acordo com situação de comunicação, a fim de ser o mais bem sucedido possível em suas interações cotidianas. A nossa maneira de falar faz parte da nossa identidade, pois revela boa parte de nossas características, tais como, a nossa idade, sexo, profissão, grau de escolaridade, região de nascimento e isso deve ser respeitado. Porém, é importante aprendermos a utilizar a linguagem formal em algumas de nossas interações, como é o caso dos textos do universo acadêmico-profissional, das entrevistas de emprego, dos textos jornalísticos, etc. 12 Como forma de ajudá-lo(a) a ler e a compreender os conteúdos propostos na Unidade 1, propomos, a seguir, algumas sugestões de atividades, orientando a leitura do artigo de Marcos Bagno, abaixo transcrito. Considere-as como um roteiro de trabalho, um possível caminho para compreender o texto e os conceitos ali discutidos. a) Em primeiro lugar, faça uma leitura do artigo abaixo. Para aproveitá-la melhor, vá ‘dialogando’ com o texto. Grife as partes que julgar mais importantes com caneta marca-texto (Não vá manchar tudo de amarelo fluorescente!!), tome notas nas bordas, assinale com ponto de interrogação quando surgir uma dúvida em algum trecho específico, use o ponto de exclamação para assinalar uma passagem importante, circule palavras ou expressões etc. http://www.ceale.fae.ufmg.br/noticias_ler_coluna.php?txtId=182, acesso em 12/07/2011. Os dois lados dos "erros de português" Marcos Bagno Uma das conseqüências da concepção normativo-prescritiva da língua foi o surgimento, há mais de 2.300 anos, da velha doutrina do erro, tão arraigada em nossa cultura. Evidentemente, não se trata propriamente de “língua”, mas de uma idealização nebulosa de correção lingüística, à qual se dá geralmente o problemático nome de “norma culta”. Essa “norma culta” acaba sendo identificada, no senso comum e na prática pedagógica tradicional, com a própria noção de “língua portuguesa” ou de “português”, numa equivocada sinonímia de graves conseqüências para o indivíduo e para a sociedade: o uso que não está consagrado nessa “norma culta” (o uso que não está abonado nas gramáticas normativas e nos dicionários) simplesmente “não existe” ou “não é português”. Esse modo de conceber os fatos de linguagem condena ao submundo do não-ser determinadas manifestações lingüísticas não-normatizadas, rotuladas automaticamente de “erro” — e, junto com as formas lingüísticas estigmatizadas, condena-se ao silêncio e à quase-inexistência as pessoas que se servem delas. Ora, já está mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente científico, não existe erro em língua — o que existe é variação e mudança, e a variação e a mudança não são “acidentes de percurso”: muito pelo contrário, elas são constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. Além disso, as línguas não variam/mudam nem para “melhor” nem para “pior”, elas não “progridem” nem se “deterioram”: elas simplesmente (e até obviamente, eu diria) variam e mudam... O português brasileiro, por exemplo, não vai nem bem nem mal, ele simplesmente vai, isto é, segue seu impulso natural na direção da variação e da mudança (que, insisto, são simplesmente variação e mudança, e nada têm a ver com “progresso” ou “decadência”). Desse modo, tudo aquilo que é classificado tradicionalmente de “erro” tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável. A noção de erro em língua é inaceitável dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem. Afinal, 13 nenhuma ciência pode considerar a existência de erros em seu objeto de estudo (os erros, falhas e equívocos podem ocorrer nas metodologias de pesquisa, nos procedimentos de análise, na elaboração de construtos teóricos, nos preconceitos de natureza ideológica que o cientista pode assumir consciente ou inconscientemente, mas não no objeto em si). No entanto, mesmo que tenhamos tudo isso muito claro, é preciso sempre lembrar que, do ponto de vista sociocultural, o “erro” existe, e sua maior ou menor “gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das classes sociais, que é também uma pirâmide de variedades lingüísticas. Quanto mais baixo estiver um falante na escala social, maior número de “erros” as camadas mais elevadas atribuirão à sua variedade lingüística (e a diversas outras características sociais dele). O “erro” lingüístico, do ponto de vista sociológico e antropológico, se baseia, portanto, numa avaliação negativa que nada tem de lingüística: é uma avaliação estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, no seu poder aquisitivo, no seu grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua origem geográfica, nos postos de comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, no seu sexo e outros critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais. Por isso é que, muitas vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética” quando surge num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das classes privilegiadas, e como um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua” quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente. Do ponto de vista estritamente lingüístico, não existe diferença funcional (nem, muito menos, erro) entre dizer os menino tudo veio e os meninos todos vieram, mas do ponto de vista social a regra é avaliada negativamente e rotulada de “erro”, rótulo que, automaticamente, é aplicado a todas as demais características físicas e psicológicas, bem como a todos os outros comportamentos sociais do falante que se serve dela. Tem havido muitos equívocos no tratamento da questão do “erro” gramatical. Poderíamos classificar esses equívocos em dois grandes grupos. No primeiro, estão as atitudes das pessoas que, fascinadas pelos avanços da pesquisa científica, se limitam a considerar os “erros” exclusivamente do ponto de vista lingüístico e negam totalmente sua existência, uma vez que todos os fenômenos divergentes da norma-padrão codificada podem e devem ser explicados à luz de teorias lingüísticas consistentes. No segundo grupo, estão as atitudes daquelas pessoas que só consideram o ponto de vista sociocultural e se deixam comover por uma boa intenção baseada na ilusão de que o domínio da tal “norma culta” permite “ascensão social”: assim, elas têm consciência de que o não-respeito às formas gramaticais normatizadas pode ser prejudicial ao futuro do indivíduo que as desobedece, e acreditam que é preciso substituir essas formas não- normatizadas pelas formas canônicas, que gozam de prestígio na sociedade. Ora, não podemos perder de vista a “dupla personalidade” daquilo que tradicionalmente se chama de “erro”. O erro é uma moeda, e como toda moeda, ele tem duas faces: uma face lingüística e uma face sociocultural. Como já disse, do ponto de vista estritamente lingüístico não existe erro na língua, uma vez que é possível explicar cientificamente toda e qualquer construção lingüística divergente daquelaque a norma- padrão tradicional cobra do falante. Mas, do ponto de vista sociocultural, o erro existe, sim, e não podemos fingir que não sabemos do peso que ele tem na vida diária dos falantes. É na face sociocultural dessa moeda que está impresso o valor que se atribui ao suposto “erro”. Uma das tarefas de um ensino de língua mais esclarecido seria, então, discutir os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística, enfatizando a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua 14 produção lingüística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa. b) Depois de ‘dialogar’ (tomar notas, marcar trechos lidos, etc) com o texto, faça um parágrafo, posicionando-se com relação aos dois lados dos “erros de português” apresentados por Bagno. PARA SABER MAIS! Leia fragmentos dos textos: ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2009 e CASTILHO, Ataliba T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010. ANEXO I Finalizando o comentário sobre variação linguística, vejamos os dois textos abaixo: Texto 1 A Peda de Oro Tinha um viúvo que tinha treis rapaz e o pai já era bastante avançado na idade, já num trabaiava mais. Os treis rapaz dentro de casa era muito obidiente do pai. Intão fazia lavora e tudo... Um dia os rapaz ta lá trabaiano na roça e passo um home. Chego ‘sim, oiô ês: - Bom dia! - Bom dia! - Uai! - Ta trabaiano, né, os minino? - É, nós ta trabaiano aqui, mas nosso pai ta bastante avançado na idade, coitado, num pode fazê mais nada. Agora nós é que trata dele. Nós faz tudo pa meu pai. O home assunto ‘ sim. Falo: - ó, ocês é besta, moço! Ces ta pa saí pó mundo, pocês trabaiá, arrumá suas vida. Se ocês ficá mais seu pai toda vida, cês num ‘ruma nada. Cês fica só dentro de casa trabaiano pa seu pai, cês num ruma nada procês não. E dispidiu dês e saiu. O rapaz suntô aquilo. - Ô, moço, aquel’home é que ta certo. Se nós ficá aqui só trabaiano, tratano de nosso pai, nós num ruma nada não. Nós vamos saí. É mesmo como ele falo. Dipois que nós saí, de num achá nós, ele dá o jeito dele. Antão saiu os treis rapaz, deixo o veio. Viajano, viajano, viajano... Chego num artura, passano assim dentro da mata. Deu um grito lá dento da mata. Deu um grito lá e ês cá. - Ôooo” - Cá ôooooo! Se ocês qué vê o laço do capeta, vem aqui! Mais o rapaz assunto assim, um conformo cuns os Oto. - Ô, moço, vamo lá pa nós vê de que jeito que é esse laço do capeta. Antão entro todos treis na mata. Lá vai, lá vai, lá vai... Foi quês deu cum home, o mesmo home que tinha tido mais ês lá na roça. - Ó, aqui essa peda de oro aqui procês, ó. É procês, cês treis aí. Se ocês ficá lá mais seu pai, cês arrumava fortuna? Arrumava de jeito ninhum. Isso aí é seus. Ah! Dexa os rapaz luitá pa pega a peda. Pelejava, pelejava, a peda num saía do chão. O Oto vinha, luitava cum a peda, luitava. Nada! A peda tava queta no chão. Ês foi luitao, cuessa peda, foi luitano cuessa peda, foi, um peso ‘sim. Falô: - Ô, moço, se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda. 15 O Oto falô: - Pois é mesmo, moço. Se nós bebesse uma cachaça, nós pegava essa peda. Ô, moço, tem uma venda qui perto. Falô: -Ô, nós vai em dois lá e fica m aqui oiano a peda. Antão saiu dois pá i lá no buteco e fico o Oto oiano a peda. O que fico oiano a peda fez um caírco. Falo: - Quando ês chega cum a cachaça aqui, deito fogo nês todos dois e mato ês, bebo a cachaça e pego a peda pa mim sozin. Antão saiu os dois. Quanto tava pa chegá no buteco, um deu vontade d entrá no mato, entro no mato, e o Oto foi dipressa lá na venda, compô a cachaça e compô um veneno e pÕs dento da cachaça e veio vortano. Topo cum Oto inhante de chegá lá no buteco e falo: - Uai, moço, ocê já foi lá? - Já, moço, fui lá, já comprei, já lá vô vortano. Toma aqui um poco. Deu ele a garrafa. Ele viro na boca assim. Quando ele viro na boca assim, ele caiu cum a garrafa e tudo. Pulo pa garrafa e bateu a tampa, pôs dento do imbornale e siguiu. Falô assim: - Chega lá, eu dô a cachaça. A hora quele caí eu vô ficá cuessa peda. Intão lá vai, lá vai, lá vai. E o Oto lá no mesmo sintido: - Logo quês chegá aqui, eu deito fogo nÊs aqui e bebo a cachaça e eu pego a peda pra mim só. Aí, quando o Oto foi chegano, deito fogo no Oto, pôs o Oto no chão. Deu um pulo no imbornal dipressa e pego a garrafa e viro na boca e assim caiu cum garrafa e tudo. Morreu todos treis e a peda de oro fico lá. 16 Texto 2 Folha de Minas – Terça-feira, 02 de março de 2003 - Página 12 CADERNO GERAL Jovens irmãos se matam no Buraco Fundo Desconfia-se de envolvimento com o tráfico de drogas Adriana Melo No domingo, 29 de fevereiro, às 16h30minutos, foram encontrados mortos os irmãos Galdino, 22 anos, Gualberto, 24, e Guilherme Moreira, 20. Os rapazes não traziam no corpo escoriações, cortes ou quaisquer outras marcas que indicassem uma briga. Foram encontrados estirados à beira de uma estrada, num lugar conhecido como Buraco Fundo, próximo à cidade de Fé Cega. Segundo os habitantes da região, o local é ermo e dado a aparições fantasmagóricas e demoníacas. Um dos rapazes estava com o corpo queimado e desconfia-se que tenha sido assassinado pelos irmãos. Segundo o pai dos rapazes, eles se encontravam fora de casa há algumas semanas e haviam sido aliciados por um homem muito suspeito para transportar uma carta misteriosa. A polícia local imagina tratar-se de tráfico de drogas. Os objetos encontrados no local onde os corpos foram deixados são: uma garrafa de cachaça vazia, uma caixa com palitos de fósforos e uma pedra. O homem que aliciou os irmãos está foragido e suspeita- se que o mesmo possua explicações sobre o que aconteceu realmente. “Eles eram bons meninos. Nunca me deram trabalho. Apenas foram ingênuos.” A polícia iniciou perícia no local do crime e mandou os três corpos para o IML, onde serão submetidos à necropsia para elucidação do caso, uma vez que há suspeita de overdose, como causa da morte de dois dos irmãos. O pai dos rapazes mortos, Idelfonso Moreira, mostrava-se muito abalado com a morte dos garotos. Depois de chorar, ao reconhecer os corpos dos filhos, declarou: “eles eram bons meninos. Nunca me deram trabalho. Apenas foram ingênuos”. O erro dos três irmãos foi fatal. Segundo o Sr. Idelfonso Moreira, os meninos foram embora para ver a cidade, ganhar dinheiro, viver coisas novas. Talvez os irmãos tenham se envolvido com o tráfico de drogas e não tenham tido estrutura ou maldade suficientes para lutar com os patifes que comandam o crime nas grandes cidades. A polícia está trabalhando no sentido de deslindar o mistério e dar uma reposta ao pai dos rapazes sobre a causa dessas mortes, aparentemente sem sentido. 17 Agora que você já substituiu a dicotomia certo x errado por adequado x inadequado, com relação aos textos que circulam na sociedade, é preciso avançar um pouco mais, no intuito de desenvolver a sua competência comunicativa, ler e produzir textos adequados a situações de comunicação específicas. Para ajudá-lo nessepercurso, introduziremos outros conceitos importantes. 1) As condições de produção e recepção de textos Esta noção refere-se aos elementos que condicionam o processo que os interlocutores desenvolvem, isto é, as suas estratégias de recepção e produção de textos orais ou escritos. Alguns desses elementos são discriminados em função de uma situação de comunicação* específica. 1.1 Objetivo de produção: Na produção de textos orais e escritos, o objetivo é aquilo que o autor de um texto pretende alcançar, no leitor, através de seu texto. Pode ou não ser consciente. Mesmo que um autor não tenha consciência de suas motivações, há algo que, com certeza, deseja alcançar escrevendo ou falando: informar, persuadir, polemizar, convencer, refletir, lembrar, emocionar, divertir, etc. dependendo da perspectiva teórica, o objetivo do autor é também denominado “intenção” ou “efeito buscado”. Os termos também são utilizados em estudos sobre a recepção de textos orais e escritos para designar aquilo que o leitor busca ao interagir com o outro. Procure estabelecer os objetivos de produção/recepção para os textos abaixo: Texto 1 Os ingredientes: 1 copo de arroz 1 dente de alho amassado ou [muito bem picado]² Opcional: 1/6 de uma cebola média, picada 3 copos de água Sal 10 ml de óleo (de novo, lembre-se: o suficiente pra melar o fundo da panela). Modo de Preparo Enquanto você coloca a água pra ferver, vá descascando e picando (ou amassando, no caso do alho) a cebola e o alho. Em outra panela já pré-aquecida de leve, você vai dourar os dois (lembre-se da ordem alho-cebola) no óleo. Caso você já tenha visto sua mãe lavando o arroz, aqui vai uma informação: eu perguntei a uma doutoranda em nutrição e ela me confirmou que não há necessidade em fazer isso. Objetivo de produção/recepção_______________________________________________ *Esse termo se refere às condições linguísticas e extralinguística s que organizam uma interação comunicativa. 18 Texto 2 Objetivo de produção/recepção_________________________________________ Texto III Objetivo de produção/recepção__________________________________________ 19 Observe a página abaixo, retirada do minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. Objetivo de produção/recepção__________________________________________ Leia o texto abaixo. Em seguida, reúna-se em grupo com alguns colegas e aguarde as instruções do professor. Esta atividade irá ajudá-lo a refletir sobre estratégias de leitura e produção de textos, no que tange aos objetivos projetados pelo autor e pelo leitor. 20 A CASA DE EDUARDO Os dois garotos correram até a entrada da casa. “Veja, eu disse a você que hoje era um bom dia para brincar aqui, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa na quinta-feira”, ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os meninos podiam correr no jardim extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que a sua casa era tão grande”, disse Marcos. “É, mas ela está mais bonita agora, desde que meu pai mandou revestir com pedras essa parede lateral e colocou uma lareira. Havia portas na frente, atrás e uma porta lateral que levava à garagem, que estava vazia exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas aí. Eles entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela ficava sempre aberta para suas irmãs mais novas entrarem e saírem sem dificuldade. Marcos queria ver a casa, então Eduardo começou a mostrá-la pela sala de estar. Estava recém pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o som: o barulho preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está a meio quilômetro daqui, gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao observar que nenhuma casa podia ser vista em qualquer direção além do enorme jardim. A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar para brincar: os garotos foram para a cozinha onde fizeram um lanche. Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e mofado uma vez que o encanamento arrebentara. “Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de selos e moedas raras”, disse Eduardo enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório, havia três quartos no andar superior da casa. Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre trancado onde havia jóias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante, exceto pela televisão com o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era que o banheiro do corredor era seu, desde que um outro foi construído no quarto de suas irmãs. Não era tão bonito como o de seus pais, que estava revestido de mármore, mas para ele era a melhor coisa do mundo. Traduzido e adaptado de Pitchert, J. & Anderson, R. Taking different perspectives on a story. Journal of Educational Psychology, 1997, p. 69. 1.2) Os interlocutores e suas identidades Ao produzir ou ler um texto oral ou escrito, lançamos mão do conhecimento que temos sobre nossa identidade. Na linguagem escrita de caráter público (livros, jornais, artigos, etc.), em que não podemos contar com a presença física de quem escreveu o texto, as identidades, tanto do autor quanto do leitor, referem-se não propriamente às pessoas concretas que leem ou escrevem, mas a uma hipótese de leitor ou de autor que construímos, através dos conhecimentos e disposições que esperamos que nossos interlocutores possuam e de ‘marcas/pistas’ deixadas no texto que produzimos ou lemos. Todo texto é produzido por alguém para ser lido/ouvido por alguém, mas nem todas as pessoas podem produzir qualquer tipo de texto. Por exemplo, só um sacerdote pode dizer “Eu te batizo”. Só um Juiz pode dar uma sentença. Só o presidente da república pode sancionar uma lei. Cada situação de comunicação exige que assumamos uma identidade específica. Se o mesmo Padre estiver em uma consulta médica, ele se torna paciente. Se ele 21 estiver em uma loja de produtos religiosos, ele se torna um cliente e, em função disso, adéqua o seu discurso à situação de comunicação. Assim, o grau de formalidade, a entonação, as escolhas lexicais, dentre outros aspectos, vão depender das identidades projetadas no discurso e da situação de comunicação em que essas identidades se inscrevem. Uma entrevista de emprego exige uma linguagem formal e uma postura do candidato que não fazem a menor diferença em uma conversa cotidiana entre amigos de infância. Um texto acadêmico, por exemplo, exige ser escrito na norma culta, de acordo com normatização técnica apropriada, além de demandar a apresentação de termos técnicos da área, citação de fontes de consulta, etc. 1) Identifique as identidades projetadas nos textos abaixo. Justifique a sua resposta, utilizando marcas linguísticas dos textos. Texto 1 RADICAIS LIVRES E OS PRINCIPAIS ANTIOXIDANTES DA DIETA Maria de Lourdes Pires BIANCHI1 Lusânia Maria Greggi ANTUNES2 RESUMO Durante a redução do oxigênio molecular, espécies reativas de oxigênio são formadas e existe a necessidade permanente de inativar estes radicais livres. Os danos induzidos pelos radicais livres podem afetar muitas moléculas biológicas, incluindo os lipídeos, as proteínas, os carboidratos e as vitaminas presentes nos alimentos. As espécies reativas de oxigênio também estão implicadas nas várias doenças humanas. Evidências têm sido acumuladas indicando que uma dieta ricaem antioxidantes reduz os riscos das principais doenças humanas. Esta revisão discute a importância dos antioxidantes da dieta sobre as estratégias de defesa dos organismos contra os radicais livres. Termos de indexação: radicais livres, antioxidantes, dieta, vitaminas. Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n2/v12n2a01.pdf Resposta:_________________________________________________________________ 22 06/08/2011 gays sem chatice Acho absurda (ver post anterior) a iniciativa de criar o Dia do Orgulho Hétero. Mas as reações ao projeto talvez estejam indo pelo caminho errado. Essa coisa de fazer abaixo-assinados, de apelar por um veto do prefeito, me parecem sérias demais. O bom da Parada Gay é sua leveza, seu espírito de brincadeira. Se os adversários do Dia Hétero começarem a ficar chatos e sérios, tudo estará perdido. Sou a favor de um boicote pelo humor. Pode-se inventar uma série de palavras de ordem cretinas para o evento. Pode-se criar um site só de piadas e charges a respeito. Pode-se tornar tudo tão ridículo que não valerá a pena para ninguém aderir ao Orgulho Hétero. Por muito menos do que isso, o movimento do “Cansei”, inventado pela Fiesp, esvaziou-se. Militância chata, nunca, por favor. Escrito por Marcelo Coelho às 11h47 Resposta:_________________________________________________________________ http://www2.uol.com.br/josesimao/colunafolha.htm, acesso em 14/08/2011. América! O cartão estourou! Com a craise americana, prefiro investir em cintos. Cinto muito, mas suas ações despencaram. Rarará! Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha essa placa na praça da Árvore, aqui em Sampa: "Cuida-se de crianças! Desde que não seja mal-educada, corintiana ou que goste de samba". Rarará! E encontrei o pai do ano: o jornalista desportivo argentino Walter Rotundo, que batizou as duas filhas gêmeas de Mara e Dona! Isso é coisa que se faça com as filhas? Se eu tivesse gêmeos, eu ia botar: Ká e Ká! E essa expressão "zona do euro" tá errada. Porque o euro tá uma zona! E a crise americana? E o Buraco Obama? A craise tá crazy! Americanos em baixa! Pedi um americano na padoca e veio sem ovo! Rarará! E o discurso do Obama em Wisconsin? Conclusão: acabou o dinheiro, o cartão estourou! Resumo da crise: O CARTÃO ESTOUROU! E a placa no portão da Casa Branca: "Alugo quartos para estudantes, solteiros, republicanos, mexicanos, CORINTIANOS E IRANIANOS". Rarará! E a Bolsa? A Bolsa Ioiô! Como disse uma amiga: "Com a queda das bolsas, melhor investir em sapatos". Mas eu prefiro investir em cintos. Cinto muito, mas suas ações despencaram. Rarará! 23 E eu já disse que os Estados Unidos viraram um país socialista: querem socializar os prejuízos com o resto do mundo! E eu tenho a foto de um americano fantasiado de Tio Sam jogado na calçada e com o cartaz: "I want you! Pra me emprestar US$ 12 trilhões". E a novela "Insensato Coração"! Insensato não é o coração. Insensato é o autor. Não é possível! Eu tô apaixonado por Natalie, Douglas, Bibi e a biba que grta: "SUGAR"! E adorei a charge do Salvador: "Prenderam algum ministério hoje?". Não se prende mais ministro, agora prende logo o ministério! E essa: "Americanos fazem fila pra pegar greencard brasileiro". E o site Sensacionalista: "Golpe do Baú! Obama deixa Michelle e pede Dilma em casamento". Rarará! E eu estava no México na Semana Santa quando um americano me disse: "My boss is Brazilian! Meu patrão é brasileiro". Aí falei: "Mas não devia ser o contrário, como sempre? Patrão americano e funcionário brasileiro?". Resposta: "Não, porque os Estados Unidos estão indo pra baixo e o Brasil tá bombando". "Brazil is booming!", foi o que ele me disse! Ueba! Nóis sofre, mas nóis goza!Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! jose_simao@uol.com.br Resposta:_________________________________________________________________ Leia os horóscopos abaixo: Horóscopo 1 24 25 Horóscopo 2 26 Horóscopo 3 2- Estes horóscopos foram retirados de três revistas: Carícia, Cláudia e Marie Claire. Descubra em qual dessas revistas cada um deles foi encontrado. 3- Aponte os elementos que te levaram a essa conclusão. 4- Você pode imaginar como seria um horóscopo para uma revista masculina? E para uma revista infantil? E para um jornal rural? E para uma revista para surfistas ou para jogadores de futebol? Ou ainda, para alunos do curso de Letras ou Serviço Social? Escolha um público definido e escreva um horóscopo para um determinado signo. 5-Alguns de vocês serão escolhidos para ler o horóscopo para os colegas. Se eles acertarem o público a que se destina seu texto, é porque você cumpriu muito bem a sua missão. 27 1. 3. Conhecimentos prévios A noção é usada para designar o conhecimento que possuímos em nossas mentes e que nos possibilita compreender o mundo e a linguagem. Também é designada através de termos como “estrutura cognitiva”, “memória de longo termo” ou, num sentido um pouco mais restrito, “enciclopédia”. Possui vários componentes relacionados entre si de modo imbricado, dentre eles o nosso conhecimento do mundo e nosso conhecimento lingüístico. Embora o nosso conhecimento sobre os interlocutores da interação lingüística seja um aspecto de nossos conhecimentos lingüísticos e de mundo, ele também será detalhado aqui a seguir. 1.3.1. Conhecimento de mundo Trata-se dos conhecimentos que possuímos a respeito do mundo que nos rodeia, de seus objetos e eventos, organizados em categorias relacionadas. É ele que está na base de toda a nossa compreensão e que nos permite receber e produzir textos. No entanto, é ele, também, que é alterado quando aprendemos algo, através ou não da escrita. 1.3.2. Conhecimento linguístico Assim como nosso conhecimento de mundo, o termo recobre um conjunto de categorias e “regras”. São essas categorias que nos permitem produzir e receber textos orais ou escritos, funcionando como uma espécie de processador de estímulos visuais (na escrita) ou sonoros (na fala). Possui três elementos mais gerais: nosso conhecimento pragmático, nosso conhecimento semântico e nosso conhecimento gramatical. O componente pragmático refere-se ao saber que possuímos a respeito da situação concreta em que produzimos ou compreendemos textos (como por exemplo, a respeito da relação entre os interlocutores) e, ainda, ao saber que possuímos sobre a relação entre os recursos expressivos de uma língua e a situação de seu uso. O componente semântico diz respeito às significações e aos referentes que atribuímos às palavras e aos enunciados de nossa língua. O componente gramatical refere-se aos recursos formais da língua que utilizamos, em seus níveis fonológico e morfossintático. A utilização desses dois últimos componentes é filtrada pelo componente pragmático. Todos os falantes de uma língua possuem esses conhecimentos, antes mesmo de entrar para a escola. É que todos nós possuímos uma competência lingüística e comunicativa que nos permite construir esses conhecimentos no contato com os outros e vivenciando interações. Ao longo de nossa vida, apenas ampliamos esses conhecimentos, com base nas novas interações que experimentamos. 28 Observe os textos a seguir e procurem perceber que tipo de conhecimentos eles exigem do leitor para o sentido seja processado. Texto 1 Bipirizil e outros malesRubem Braga Uma delicada leitora me escreve, não gostou de uma crônica minha de outro dia sobre dois bipirizantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica: paciência. Mas o que a leitura estranha é que o cronista “qualifique o bipirizil, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda”. E, diz mais: “Não é possível que o senhor não biripize, e que, bipirizando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo”. Não, minha senhora, não bipirizo ninguém; o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último bipirizil, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – “incômodo”. Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o bipirizil, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande bipirizil pode deixar apenas uma lembrança mesquinha: daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu. Não sei se vale a pena lhe contar que minha bipirizada era linda; não, não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e gabita – e não me tinha, nem de longe, bipirizil algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias. A história acaba aqui: é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter cotado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Figicou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou. Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco: era uma cafu que eu carregava o dia inteiro e no qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como sudica. Eu já tive um mês de sudica, minha senhora: dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra sudica, mas não volte nunca um bipirizil como aquele. Sudica é uma dor burra que dói, mesmo, e vai doendo; a dor do bipirizil tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma tapada numa pedra. É a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de importância, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a “vontade de chorar e de morrer”, de que fala o samba? Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escreve, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa sudica. 29 Texto 2 Editorial O DESCARALHAMENTO DAS RESPONSABILIDADES Perry White O país atravessa um momento de buraco. Somente com a retomada do buraco e o reaquecimento do buraco poderemos alcançar a otimização do processo de buraco. A pressão do buraco internacional é intolerável. Nossa classe trabalhadora já deu sua cota de buraco. A trimestralidade do buraco é uma realidade. As Forças Armadas não permitirão, em hipótese alguma, uma revisão do Buraco. O exemplo do Buraco argentino não deve ser buraco aqui. Temos que dar todo nosso apoio ao governo do Novo Buraco do presidente José Buraco, no que diz respeito ao corte no buraco. Cidadãos, é hora de buraco! Em 15 de buraco todo eleitor consciente, munido de seu buraco se dirigirá ao buraco eleitoral e depositará o seu buraco no buraco, escolhendo livremente o buraco de seu buraco! 1. Estratégias de produção e de recepção de textos A noção refere-se ao trabalho que desenvolvemos para produzir e compreender textos orais ou escritos. No caso da recepção de textos, a noção procura designar os processos que desenvolvemos para integrar a informação visual ou sonora ao nosso conhecimento prévio. No caso da produção de textos, refere-se aos processos que empregamos para selecionar o que e como dizer. Em ambos os casos, a noção recobre, na verdade, o processo de articulação que promovemos entre as condições de produção e de recepção de textos e os produtos nelas gerados: a significação que produzimos, as imagens que construímos de nós mesmos, dos outros e para os outros, do mundo e de seus fenômenos. É isso, afinal, o que a relação de interação lingüística nos possibilita: não apenas a comunicação e a recepção de nossas idéias, sentimentos e emoções, mas, sobretudo, a própria produção de nós mesmos, do outro e do mundo, ainda que essa produção seja sempre provisória e instável. 30
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