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ANÁLISE FINITA E INFINITA (1937) I A terapia psicanalítica é um trabalho de longo prazo. Por isso, desde o início foram realizadas tentativas de reduzir o tempo das análises. Nessas tentativas ainda havia um resquício do desdém com que a Medicina via as neuroses. Se é necessário se ocupar delas, que isso seja feito no menor tempo possível. Antes da Primeira Guerra Mundial, Freud trilhou um caminho para acelerar um tratamento analítico. Um jovem russo tinha ido a Viena procurar tratamento e ao longo de alguns anos foi possível restabelecer boa parte de sua autonomia e despertar seu interesse pela vida, mas esse progresso estagnou. Se reconhecia claramente que o paciente considerava o seu estado muito agradável naquele estágio, não querendo dar nenhum passo que o aproximasse do fim do tratamento. Nessa situação Freud optou por estabelecer um prazo fixo para a análise. Com isso as resistências do paciente enfraqueceram e nos últimos meses ele conseguiu reproduzir todas as lembranças e encontrar todas as relações que pareciam necessárias para que compreendesse a sua neurose. Terminado o tratamento, Freud considerou o paciente curado profunda e duradouramente. Com o tempo isso não se mostrou correto. Quando o paciente, perto do fim da guerra, retornou a Viena como fugitivo, Freud o ajudou, durante alguns meses, a dominar uma parte não resolvida da transferência. Mais uma vez o paciente “se sentia normal e se portava de forma exemplar”. Nos 15 anos seguintes o paciente foi acometido por diversos episódios de doença que por vezes estava relacionado a resquícios da transferência ou o material patogênico era composto de fragmentos da história de sua infância, que durante a análise com Freud não tinham vindo à tona. A medida de estabelecer um tempo para a análise pode ser eficaz desde que se encontre o tempo certo para ela. Mas não é possível garantir que a tarefa seja concluída. Enquanto uma parte do material se torna acessível sob a pressão, outra parte permanece reclusa. Além disso, não se pode afirmar qual é o momento certo para a aplicação desse recurso agressivo, fica a cargo do tato. II Pode- se entender por fim de análise: - Quando analista e paciente não se encontram mais para o trabalho. Isso acontecerá quando duas condições forem cumpridas: 1 O fato de o paciente não sofrer mais com os sintomas e ter superado as suas angústias e inibições. 2 O fato de o analista julgar que tantas coisas recalcadas se tornaram conscientes para o paciente, tantas coisas incompreensíveis foram esclarecidas, que não se precisa temer a repetição dos processos patológicos. - Quando o influenciamento do paciente foi levado a tal ponto que uma continuidade da análise não pode prometer nenhuma outra mudança. Todo analista tratou certos casos com um final satisfatório. Ele conseguiu eliminar o distúrbio neurótico existente, que não retornou e não foi substituído por nenhum outro distúrbio. Nesses casos o Ego do paciente não mudou de forma evidente e a etiologia do distúrbio era essencialmente traumática. A etiologia de todo distúrbio neurótico é mesclada. Trata- se de pulsões excessivamente fortes (que se rebelam contra a domação do Ego) ou do efeito de traumas precoces (que ocorreram antes do tempo), dos quais um Eu imaturo não conseguiu se apoderar. Dois fatores podem prejudicar o efeito da análise: - A força pulsional constitucional e - A alteração desfavorável do Ego adquirida na luta defensiva, no sentido de uma distorção e limitação. Perguntas a serem respondidas: 1 É possível resolver de forma duradoura e definitiva, através da terapia analítica, um conflito entre a pulsão e o Eu, ou uma exigência pulsional patogênica em relação ao Eu? 2 Durante o tratamento de um conflito pulsional podemos proteger o paciente contra futuros conflitos pulsionais? 3 É adequado despertar um conflito pulsional não manifesto naquele momento com a finalidade de profilaxia? III Nesta parte, Freud se direciona a explicar a Força Pulsional Constitucional. Entende-se como "constitucional" aquilo que é congênito, ou seja, bio característico do indivíduo desde ou antes de o nascimento. Freud levanta a pergunta: "É possível resolver de forma duradoura e definitiva, através da terapia analítica, um conflito entre a pulsão e o Ego, ou uma exigência pulsional patogênica em relação ao Ego?". Certamente isso não significa que a pulsão desapareça, de forma que nunca mais de sinais (até porque isso não seria possível, nem desejável). O que Freud busca entender é se é possível domar a pulsão. Domar a pulsão quer dizer que ela foi acolhida completamente na harmonia do Ego e é acessível através de outras aspirações no Ego, nao trilhando mais os seus próprios caminhos em busca de satisfação. A resolução duradoura de um conflito pulsional depende dessa força pulsional. Neste caso, para uma pessoa normal, vemos que toda decisão de um conflito pulsional só vale para uma determinada força pulsional, ou seja, existe uma relação entre a força da pulsão e a força do Ego. Assim, se a força do Ego diminui devido a doença ou esgotamento, todas as pulsões domadas poderão voltar a anunciar as suas exigências, almejando satisfações através de caminhos anormais. A força pulsional adquire múltiplas formas, apresenta característica plural, porém a decisão de um conflito pulsional só vale para uma determinada força pulsional. Freud traz dois exemplos de intensificações da pulsão ao longo do desenvolvimento individual: na puberdade e na menopausa nas mulheres. A dominação das pulsões que, até então tinham funcionado com uma intensidade menor dessas pulsões, agora fracassa com sua maior intensidade. As intensificações das pulsões se originam a partir de novos traumas. O exemplo desses dois casos mostram uma intensificação das pulsões, isso pode ocorrer em qualquer outro momento da vida através de influências acidentais (traumas, impedimentos impostos). Diante disso, surge um outro questionamento: o que faz a terapia analítica senão algo que já não acontece automaticamente em circunstâncias normais e favoráveis, na relação entre o Ego e a pulsão?. Isso se baseia na ideia que diz que todos os recalques acontecem na primeira infância, são medidas primitivas de defesa do Ego imaturo e fraco. Nos anos posteriores, entao, nao sao mais executados recalques novos, os antigos se mantém. E os seus serviços continuam sendo solicitados pelo Ego para dominar as pulsões. Assim, os novos conflitos são resolvidos com um "recalque anterior". Ou seja, a defesa produz por retroação um inconsciente. Mas esse inconsciente deixa "restos" não assimiláveis a respeito do trauma. A lógica do recalque posterior diz que é no segundo tempo que o primeiro é ativado e ao mesmo tempo constituído. A análise, por sua vez, permite que o Ego amadurecido e fortalecido possa proceder a uma revisão desses recalques antigos. Alguns deles serão desmontados, outros reconhecidos porémreconstruídos com material mais sólido. Estes possuem durabilidade diferente dos antigos, são mais resistentes. A terapia contribui aqui para findar a supremacia do fator quantitativo em relação a correção posterior do recalque originário. Freud assume o interesse da clínica que está muito mais atrelado a uma transformação qualitativa, nos esquecendo do fator quantitativo. Ou seja, nos voltamos apenas para o resultado, costumamos nos esquecer que tais processos normalmente transcorrem de modo incompleto, que são transformações parciais. E, por isso, sempre há o fenômeno residual, os resquícios. Ainda na configuração definitiva podem continuar existindo restos das antigas fixações da libido. Não há nada supostamente superado que não tenha deixado restos, que não continue em nós hoje. Há uma irregularidade de sucesso da terapia analítica, isso responde a pergunta inicial. A transformação até dá certo, mas às vezes apenas parcialmente pois partes dos mecanismos antigos permanecem intocados pelo trabalho analítico. A capacidade analítica, então, passa pelo esforço auxiliar ao Ego, o resultado final depende sempre das relações de forças relativas das instâncias em combate mútuo. IV São feitas duas perguntas: se durante o tratamento de um conflito pulsional podemos proteger o paciente contra futuros conflitos pulsionais e, se é possível e adequado, que o analista desperte um conflito pulsional não manifesto naquele momento com finalidade de profilaxia. Freud diz que a primeira tarefa só parece ser resolvida cumprindo a segunda, transformando um conflito possível no futuro em um conflito atual pela influência da análise. A conclusão que se chega é que quando um conflito pulsional não é atual/não se manifesta/não é trazido para a análise pelo próprio paciente, também não pode ser trazido pelo analista. Não devemos "despertar cães adormecidos". Se as pulsões provocam distúrbios, os “cães" (conflitos pulsionais) acordariam. Mas se eles estão dormindo, se nem as pulsões conseguiram os acordar, não está em nossas mãos acordá-los. Mesmo assim, Freud diz que temos como recursos para tornar atual um conflito pulsional latente/adormecido: provocar situações em que ela se torne atual ou nos contentar com falar desse conflito e sua possibilidade dentro da análise. Provocar situações pro conflito se tornar atual: podemos fazer isso pela realidade ou pela transferência. Na transferência expomos o paciente ao sofrimento real pelo impedimento e pela estase da libido. Colocamos o conflito na sua forma mais aguda para aumentar a força pulsional que vai levar a sua solução.“Ao tentar melhorar o que já está bom, só pioramos”, mas o analista, na transferência, já trabalha com o impedimento e atua colocando conflitos novos ao lutar contra a inércia do paciente que se contentaria com uma resolução incompleta da análise, por exemplo. No entanto, se tratando em trazer conflitos pulsionais não atuais pela realidade , não só teríamos que lidar com o sofrimento já existente e inevitável (demanda do paciente), como faríamos surgir um novo sofrimento. Isso seria um experimento cruel com os seres humanos em prol da profilaxia (ex: destruir um casamento). Essas intervenções sugeridas não são consideradas na análise, são deixadas por conta da vida/destino. O analista não tem o poder totalitário que essas intervenções exigem e, também, o sujeito não iria querer participar dessas intervenções. Além disso, a análise funciona melhor quando as vivências patogênicas se encontram no passado, de forma que o Ego tenha conseguido se distanciar delas. Em estados de crises agudas e muito atuais, a análise é quase impraticável, porque o Ego está completamente voltado pra realidade dolorosa, sem deixar espaço para a análise. Assim, criar um novo conflito só prolonga e dificulta o trabalho analítico, não seria uma ação profilática digna. Uma ação de proteção não pode colocar a pessoa na mesma situação de perigo que a doença oferece, apenas muito mais branda, como uma vacina, por exemplo. Assim, só podemos considerar dois outros métodos para lidar com a profilaxia analítica dos conflitos pulsionais: criação artificial de novos conflitos na transferência e despertar os conflitos na imaginação. Criar novos conflitos na transferência: é difícil, porque há limitação na escolha das situações pra transferência. O analisando não pode acomodar todos os seus conflitos na transferência. O analista não pode despertar todos os possíveis conflitos pulsionais do paciente na transferência, pode fazer com que ele sinta ciúmes ou passe por decepções amorosas, mas isso costuma surgir espontaneamente e não por orientação técnica. Além disso, esses eventos causam antipatia contra o analisando - prejudica a transferência positiva, que é o motivo mais forte para a participação do analisando no trabalho analítico. Despertar conflitos na imaginação: falar dos possíveis conflitos e familiarizar o analisando com a probabilidade (fazer o analisando cogitar) de que eles ocorram com ele. Espera-se que esse alerta ative nesse paciente alguns dos conflitos sugeridos, em menor escala, mas suficiente para o tratamento. Porém o resultado esperado não acontece porque o paciente ouve a mensagem, mas ela não faz eco: “isso é interessante, mas não sinto isso, não é sobre mim”. Ex: nas leituras psicanalíticas, o leitor só se sente estimulado nas partes em que se reconhece, se sente atingido e que se referem a conflitos que naquele momento estão presentes nele. Ex: nos esclarecimento sexuais a crianças (não significa que é desnecessário, mas o efeito profilático é supervalorizado) ao explicarmos de onde vem os bebês, as crianças recebem uma informação nova, mas não vão fazer nada com isso que aprenderam. Além da pergunta “como encurtar o tratamento analítico?” analisamos se podemos alcançar a cura perene ou afastar a doença futura pelo tratamento profilático. Para o sucesso terapêutico é fundamental reconhecermos as influências da etiologia do trauma, a força relativa das pulsões e a alteração do ego. Analisando a força relativa das pulsões, reconhecemos a importância do fator quantitativo (catexia). V Na quinta parte Freud trabalha a alteração do Eu e seu papel na análise. A situação analítica consiste em nos associarmos ao Eu da pessoa-objeto, para incluir porções não dominadas do seu Isso (ou id) na síntese do Eu. E esse trabalho só se torna eficaz quando realizado em um Eu “normal” (mesmo sendo uma normalidade fictícia). Toda pessoa normal é apenas medianamente normal, pois seu Eu aproxima-se do Eu do psicótico em um ou outro aspecto, em maior ou menor grau. A distância entre a ponta mais próxima e a ponta mais afastada do Eu do psicótico seria o que nos daria a medida da “alteração do Eu”, indefinidamente caracterizada. Os tipos e graus variados da alteração do Eu vêm de origem ou são adquiridos. Quando adquiridos, o tratamento é mais fácil, e certamente essaaquisição ocorreu ao longo do desenvolvimento desde os primeiros anos de vida. Pois desde os primórdios o Eu tenta fazer a mediação entre seu Isso e o mundo externo a serviço do princípio do prazer e protegendo o Isso dos perigos do mundo externo. Quando nesse processo o Eu aprende a adotar uma postura defensiva em relação ao Isso e a tratar as reivindicações pulsionais do Isso como perigos externos é porque, entende que a satisfação pulsional o levaria a conflitos com o mundo externo. Nessa mediação, o Eu, sob a influência da educação, interioriza os possíveis conflitos, dominando-os internamente, para que eles não se tornem externos. Nessa batalha o Eu se utiliza de vários procedimentos, denominados mecanismos de defesa, para evitar o perigo, a angústia e o desprazer. Um desses mecanismos é o recalque. Para exemplificar o funcionamento do recalque em relação aos outros mecanismos de defesa, Freud compara-os às censuras de um livro. Imaginemos uma época onde livros não eram impressos, mas escritos um a um e que um livro desses contenha informações que fossem indesejadas em uma época posterior. A censura confiscaria e eliminaria cada um dos exemplares da edição. Haviam vários métodos de inutilização da obra. Ou as passagens em questão eram retiradas, fazendo com que o próximo copista fornecesse um texto com lacunas. Ou então, para não mostrar o retalhamento, deformava-se o texto, tirando palavras ou substituindo-as, formando novas frases ou novas passagens, que contradizem os originais. O próximo copista fornecia, dessa maneira, um texto insuspeito. A relação do recalque com os outros mecanismos de defesa é como a relação de exclusão e a deformação do texto. A tendência daquele que censura representa a compulsão do princípio do prazer. Evitamos a todo custo o desprazer, portanto quando a realidade trouxer desprazer ela precisa ser sacrificada. Por um tempo conseguimos nos defender do desprazer fugindo e evitando situações de perigo, até nos tornarmos fortes o suficiente para modificando a realidade. Mas não podemos fugir de nós mesmos, por isso os mecanismos de defesa do Eu estão condenados a falsificar a percepção interior e nos possibilitar um conhecimento falho e distorcido do Isso. Os mecanismos de defesa servem para afastar o perigo, mas podem representar o perigo. Às vezes o Eu paga um preço muito caro pelo serviço dos mecanismos de defesa. O esforço dinâmico despendido para a manutenção desses mecanismos sobrecarrega a economia psíquica, bem como os impedimentos sofridos pelo Eu nesse processo. Esses mecanismos também não são deixados de lado depois de cumprirem sua função, eles permanecem. Uma pessoa não usa todos os mecanismos de defesa possíveis, mas apenas alguns selecionados, mas esses irão se fixar no Eu, sendo repetidos sempre que uma situação semelhante a original acontece. E o Eu fortalecido do adulto continua se defendendo de perigos que não existem mais, podendo até criar situações as quais possa reagir de acordo com os mecanismos já existentes. O analisado repete essas formas de reação também na análise. Essas formas de reação não tornam a análise impossível, elas determinam a primeira metade da tarefa analítica. A outra metade consiste no revelar daquilo que se oculta no Isso. Dessa forma, como um pêndulo, a análise oscila entre tornar consciente algo do Isso e corrigir algo do Eu. Os mecanismos de defesa reaparecem no tratamento como resistências contra a cura. Essas resistências, embora pertençam ao Eu, são inconscientes, estando ilhadas dentro do Eu. O analista as identifica mais facilmente do que faz com o material oculto do Isso. Poderíamos tratá-las como partes do isso e, tornando-as conscientes e relacionando-as com o Eu. E assim, metade da análise estaria feita. Porém, durante o trabalho sobre as resistências, o Eu se tira do acordo em que a situação analítica se funda. Ele deixa de apoiar nossos esforços para revelar o Isso, opondo-se a eles e não permite que novos derivados do reprimido aflorem. Através do desprazer, as transferências negativas assumem o poder, suspendendo a situação analítica. Assim, percebemos que há uma resistência contra a revelação das resistências. O trabalho analítico, portanto, depende do quão forte e quão profundamente enraizadas estão as resistências nas alterações do Eu. Isso demonstra a importância do fator quantitativo e somos lembrados de que a análise com determinada e limitada quantidade de energias, que terão que medir forças com as inimigas. VI (Nesta parte Freud vai discorrer mais uma vez sobre as dificuldades do trabalho analítico que podem ser um empecilho para o final de análise) ● Freud começa explorando as heranças arcaicas do psiquismo, discorrendo sobre as possíveis heranças hereditarias de determinados conteúdos psíquicos, como a simbologia, que podem passar de geração em geração de um povo, por exemplo (possível influência da obra de Jung) “As propriedades do Eu, que sentimos como resistências, podem ser tanto hereditárias quanto adquiridas” ● Isso representa uma dificuldade para o final de análise, pois se tratam de questões que vão além do indivíduo Diversidades do Isso (ID): ● Viscosidade da libido (tratamento discorre mais lentamente, por se tratar de pessoas que não conseguem liberar os INVESTIMENTOS LIBIDINAIS de um objeto e transferi-lo para outro) ● Tipo oposto (que a libido transita com facilidade: ora investida num objeto, ora em outro), nesse caso os resultados da análise serão menos duradouros, muito mais frágeis * é como trabalhar com pedra dura (no primeiro caso, mais trabalhoso e por horas quase impossível, mas mais confiável) e com argila maleável (no segundo caso, muito mais fácil, porém menos confiável, as vezes parecendo água corrente, e não argila) ● Outro grupo de casos: esgotamento da plasticidade, da capacidade de mudança do sujeito (mesmo em sujeitos bem jovens), tornando quase impossível o trabalho analítico Diversidades do Eu (Ego) -> resistências do ego à análise “Não há impressão mais forte das resistências durante o trabalho analítico do que aquela de uma força que se defende da cura com todos os meios possíveis e que a todo custo se quer manter na doença e no sofrimento” (parte disso é a consciência da culpa e necessidade de punição, localizados entre o Eu e o SuperEu) - Mas existem manifestações diversas dessas resistências a cura, dependendo de cada pessoa, e elas revelam a impossibilidade dos acontecimentos psíquicos serem explicados exclusivamente pela aspiração ao prazer - (indicam a presença da pulsão de agressão ou de destruição, dependendo de seus objetivos, deduzidos a partir da pulsão de morte) * embate das duas pulsões primevas: EROS e PULSÃO DE MORTE (esse embate não é apenas patológico, mas constituinte do psiquismo) QUESTÃO DA HETEROSSEXUALIDADE ● Freud vai explorar a questão da bissexualidade e da heterossexualidade, revelando que existem pessoas chamadas bissexuais em que o desejo por ambos sexos convive sem maiores disputas, mas que, para as pessoas que supostamente desejam apenas um sexo (segundo ele, o caso mais comum), vão haver disputas no psiquismo ● Utiliza como exemplo a heterossexualidademasculina, em que o desejo homossexual latente está sempre presente, mas precisa todo o tempo ser encoberto (e destruido, eliminado) pela heterossexualidade, ou seja, há uma disputa de forças posta, assim como uma agressividade latente ● “No trajeto evolutivo do homem primitivo para o homem civilizado ocorreu uma internalização da agressão” CRIPTOMNÍSIA ● O embate entre eros e pulsão de morte já havia sido sinalizado por um filósofo grego (Empedócles de Ácragas) com o nome de criptomnísia. ● Empedócles acreditava que no universo havia sempre uma disputa de forças, a disputa entre Philia (amor, força de aglutinação, junção) e Neikos (discórdia, força de disperção, fragmentação, separação) e que ora uma ganhava, ora outra, mas que estavam sempre disputando ● Isso se assemelha muito a nossa ideia de luta entre pulsão de vida (eros, mesclagem dos componentes pulsionais) e pulsão de morte (difusão dos componentes pulsionais) ● Freud sinaliza então que essa disputa é sempre presente no psiquismo e o analista deve estar ciente para trabalhar a análise. VII Conhecimento técnico adequado + paciência -> conduzida a um término natural. A meta não deve ser o encurtamento, mas o aprofundamento da análise. Ferenczi diz que: é fundamental que o analista aprenda com seus próprios “enganos e erros” adquirindo domínio sobre os “pontos da própria personalidade” Assim, não é apenas a constituição do Ego do paciente, mas também da peculiaridade do analista que tem um lugar importante entre os momentos que influenciam as perspectivas do tratamento analítico ep dificultam dependendo do tipo das resistências. Fala da necessidade de um grau mais elevado de normalidade psíquica e correção e uma certa superioridade para funcionar como modelo para o paciente em determinadas situações analíticas e em outras como professor, por fim deve se atentar para a aparência e para o falseamento pq toda relação analítica se baseia no conhecimento da realidade e no amor à verdade. A dificuldade de se ocupar esse lugar coloca o fazer analista num ideal do impossível, de antemão já se sabe do resultado ineficiente. *educar e governar. Não se pode exigir essa a priori completude, porém, quando submetido a análise, o analista pode se preparar para essa atividade. De acordo com Freud essa análise, por razões práticas, só poderá ser breve e incompleta. Sua finalidade é possibilitar um juízo ao professor para avaliar se o candidato pode ser aprovado para continuar a formação. O trabalho do professor, estará terminado quando trouxer para o aprendiz a convicção segura da existência do inconsciente, quando lhe transmitir as autopercepções no aparecimento do recalcado e por fim, quando lhe mostrar a técnica que só se consolida na atividade analítica. Espera-se que as motivações iniciadas na análise não se esgotem com seu término, mas que os processos de reformulação do eu continuem se atualizando. Isso vai acontecendo de fato e habilita o analisando a se tornar um analista. Rixa entre analistas: como utilização inapropriada dos mecanismos de defesa, que permitem desviar do ego/ pessoa, conclusões e exigências da análise. Voltando-se contra outros, para que possa se esquivar da influência crítica e corretora da análise. Esse trabalho com o futuro analista seria um trabalho prioritariamente com o recalcado, porém isso pode despertar outras demandas pulsionais que do contrário poderiam continuar reprimidas A análise do terapeuta deve ser retomada periodicamente (sugestão de a cada 5 anos) Seja qual for a vertente teórica: o fim da análise diz de uma questão prática Por fim, a análise deve criar as condições psicológicas mais favoráveis para as funções do eu; assim sua tarefa estaria cumprida. VIII Tantos nas análises terapêuticas quanto nas análises de caráter existe uma regularidade em relação ao gênero, apesar da diversidade de conteúdo trazido pelos pacientes. Na mulher há a inveja do pênis - a aspiração positiva por possuir um genital masculino - e para o homem, a aversão contra a postura passiva ou feminina em relação a vida. O que há de comum é o comportamento diante do complexo de castração. No caso do homem, a aspiração de masculinidade desde o início é totalmente sintônica com o Eu, a postura passiva é recalcada de forma enérgica, uma vez que pressupõe a aceitação da castração. Também no caso da mulher, a aspiração de masculinidade durante determinado momento é sintônica ao Eu, principalmente na fase fálica, antes do desenvolvimento da feminilidade. Depois, ela é submetida aquele significativo processo de recalque, dependendo dos destinos da feminilidade. É a oposição ao outro sexo o que sucumbe ao recalque. O que se trabalha na análise a partir disso: instar as mulheres a desistirem de seu desejo pelo pênis, por ele ser impraticável e quando queremos convencer os homens de que uma postura passiva em relação a outro homem nem sempre significa uma castração e em muitas relações na vida é indispensável. Mas também aprendemos a partir daí que a forma sob a qual a resistência aparece não é importante, seja como transferência ou nao. O que é decisivo é que a resistência não permite que se produza uma modificação, deixando tudo como está. Para o psíquico, o biológico realmente tem o papel de pano de fundo. Será difícil dizer se e em que momento consegfuimos dominar esse fator no tratametnto analitico. Consolamo-nos com a certeza de que oferecemos ao analisado todo estímulo possível para que ele pudesse examinar e mudar sua postura em relação a ele.
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