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A criatividade orienta o pensar e o expressar de forma relacional: ideal organizacional Renata Mateus Introdução Somos seres inteligentes, com a capacidade de pensar, questionar e argumentar, mas também precisamos estar entre as pessoas, conversando e interagindo. Por isso, o trabalho em grupo é de extrema importância para o desenvolvimento criativo. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender a importância da criatividade na geração de grupos de trabalho; • entender as relações entre o pensamento e a expressão criativa nos vínculos do grupo que redefine o ideal de trabalho nas organizações. 1 Teoria de grupos criativos: coesão, status e conformidade às normas sociais Todo grupo inicia com um objetivo em comum, o qual nos atrai fazendo com que desejemos pertencer a tal grupo. No entanto, é fundamental que haja coesão nesse grupo, para se obter bons resultados. Aqui, vamos entender coesão como todas as forças que atuam sobre os membros de um grupo para que, assim, permaneçam nele, ou seja, é o que liga todos individualmente num todo unificado, partilhando de uma identidade e atração mútua e tendo a oportunidade de participa- rem das decisões. Portanto, a cooperação e a homogeneidade de atitudes conduzirão à atração interpessoal e à coesão, fatores que irão permitir que as pessoas permaneçam juntas, confiem e sejam leais entre si, sintam-se seguras e se deixem influenciar pelo grupo. Dessa forma, quando um grupo se coloca diante de um problema concreto que requer produção de respostas genuínas, ou seja, é um fato comum às pessoas, as quais são, cada vez mais, forçadas pelo mercado de trabalho a serem criativas em grupo. Para Masi (2003, p. 594), na sociedade atual, a criatividade de grupo vem se sobrepondo à criatividade individual, diminuindo o trabalho físico, repetitivo, chato e cansativo e aumentando as atividades de tipo intelectual e criativo. O autor define grupo criativo como “um sistema coletivo em que operam sinergicamente personalidades imaginativas concretas, cada uma contribuindo com o melhor de si, num clima entusiástico, graças a um líder carismático e a missão compartilhada”. Figura 1 – Grupo criativo Fonte: Pressmaster/Shutterstock.com Masi (2003) diz, ainda, que os meios culturais favorecem a criatividade, propiciando a uma mente criativa oportunidades criativas, mas, para que isso ocorra, é necessário que nós estejamos expostos e abertos aos diferentes estímulos culturais, sejam eles contrários ou semelhantes, para absorvê-los. FIQUE ATENTO! O contexto social também ajuda no estímulo à criatividade, proporcionando uma visão transformadora, sem discriminações, com tolerância e aceitando opiniões divergentes. Masi (2003) explica que o grupo criativo é variado, sendo composto de personalidades ima- ginativas e pessoas concretas, e que ele se torna criativo quando são discutidos os critérios para selecionar os membros e líderes, a localização do poder e os métodos de administração. O autor ainda identifica algumas características constantes em uma equipe criativa, veja a seguir. • Individualmente: o foco. • Membros do grupo: forte motivação à atividade criativa e realizadora; habilidades ele- vadas por um forte compartilhamento emotivo, diversidade de interesses e experiên- cias, miscigenação de experiências, no nível do grupo. • Grupo no seu conjunto: aspecto emergente - preeminência de um líder-fundador capaz de uma dedicação quase heroica ao objetivo; convivência pacífica dos membros; equilí- brio de natureza afetiva e profissional; capacidade interdisciplinar; complementaridade e afinidade cultural. SAIBA MAIS! Para aprofundar o assunto, leia o livro “Criatividade e grupos criativos (vol.2): Fantasia e concretude”, de Domenico De Masi. Por fim, o autor reforça que a carência pode tornar-se estímulo à criação para os indivíduos criativos, pois eles possuem uma forte capacidade de adaptação, valorizam recursos, mesmo que mínimos, e conseguem produzir sob estresse. Em oposição a essas situações estimulantes no estresse, temos a contrapartida no ócio, que permite o afastamento dos problemas e propicia que as ideias acumuladas no inconsciente passem para o consciente. 2 A criatividade e os vínculos grupais O pensamento criativo do indivíduo, com suas operações cognitivas e conhecimentos arma- zenados, irá estabelecer novas conexões entre ideias. Como atuamos em rede, nossos pensa- mentos também serão estimulados e influenciados por outros contextos sociais e trabalhos em grupos, nos quais as ideias são construídas a partir da expressão e comunicação do pensamento do outro. Isso ocorre por meio de um processo criativo que estimulará o pensamento criativo e facilitará a comunicação e a interação entre as pessoas. As interações que ocorrem em um trabalho em grupo contribuem para a estruturação e rees- truturação do problema inicial, permitindo a exposição de diferentes pontos de vista e o esclareci- mento de questões indefinidas. Figura 2 – Vínculos grupais Fonte: Solis Images/Shutterstock.com Na sociedade atual, a valorização da atividade criativa é inevitável, já que os trabalhadores estão cada vez mais aculturados, o maquinário pode desenvolver quase todas as funções repetiti- vas e executivas e o mercado exige cada vez mais bens e serviços novos e customizados. O trabalho conjunto de pessoas que se complementam é uma das alternativas que são usa- das como incentivo no ambiente empresarial, compondo, dessa forma, um grupo criativo com diversos perfis, que poderá produzir resultados potencialmente mais amplos. EXEMPLO Observe que um grupo criativo pode ser composto por diversas pessoas, como um humorista, um filósofo, um matemático e um psicólogo, por exemplo. Todos eles jun- tos formam esse grupo, mesmo que um deles não tenha o perfil criativo, será consi- derado como peça fundamental para o equilíbrio do conjunto. Por fim, a comunicação ajuda na busca de um modelo de identidade grupal, construindo os vínculos. Dessa maneira, ao falar sobre criatividade, faz-se necessário o elo, pois ele relacionará a opor- tunidade de refletir, propor, interpretar e avaliar criteriosamente as ideias e seus possíveis fatos em relação à relevância e à capacidade de desenvolver o senso crítico e a busca do conhecimento no dia a dia, gerando e mantendo os vínculos. 3 O grupo e o poder criador O verdadeiro poder criador envolve a capacidade do grupo em lidar com incertezas, com- plexidades e perspectivas que, muitas vezes, são conflitantes. Para isso, os integrantes do grupo precisam manter a mente aberta e devem conectar-se para gerar um ambiente de relação no qual ideias e performances boas possam aparecer. Quando falamos de grupos criativos, é importante estarmos atentos às questões que estão no entorno, como incentivar e não bloquear a criatividade dos membros e dos grupos por meio de uma organização que estimule essa criatividade. EXEMPLO Existem diversos bloqueios à criatividade que podem inibir as pessoas de participa- rem ou criarem grupos criativos. Bloqueios como julgamento de ideias, ambiente hierárquico tradicionalista e estresse, inibem as pessoas de darem ideias e aceitarem novas propostas. Existem diversas técnicas para desenvolver a criatividade, mas ela também tem muitos pres- supostos, veja: • exista um só tipo de criatividade; • que todo o trabalhador é criativo por constituição; • que os trabalhadores individuais estão desprovidos de ideias em consequência de blo- queios psicológicos; • de que sejam necessárias intervenções de formação capazes de derrubar essas bar- reiras psicológicas. Figura 3 – O poder criador Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Veja que a prática em grupo demanda uma complexa rede de relacionamentos in- tergrupais e numa variedadede ideias. Por essa razão, inserir o brincar no currículo provoca o desenvolvimento físico, intelectual, criativo, social e a linguagem. O desenvolvimento da interação social envolve comportamentos manifestos e não mani- festos. Esses comportamentos podem ser reações mentais ou físicas, como rejeição, apoio, pensamentos, sentimentos, ou até mesmo uma aproximação ou afastamento na relação entre as pessoas com o objetivo de dar relevância a percepções e distorções das ideias com o processo de socialização. SAIBA MAIS! Para saber mais sobre o assunto, leia o livro “O poder criador da mente: princípios e processos do pensamento criador e do ‘Brainstorming’”, de Alex F. Osborn, trata em alguns capítulos sobre a colaboração criadora por equipes, colaboração criadora por grupos e explicação da fluência do grupo. Esse processo em que há interação e ao mesmo tempo restrição em consequência dos obs- táculos do dia a dia, provoca a necessidade de uma comunicação interpessoal contínua, conser- vando o intenso conjunto relacional. 4 Ao viver criativamente, se descobre o autêntico ideal de trabalho Na sociedade atual, a necessidade de qualificação profissional e acadêmica aumentou, tor- nando o papel da criatividade essencial e de maior importância, tanto para os indivíduos quanto para as próprias organizações e até mesmo para o país. Alencar (2002) destaca que a criatividade é uma aptidão indispensável, essencial para lidar com as adversidades do dia a dia, proporcionando um bem-estar emocional e consequentemente uma melhor qualidade de vida. Além disso, ela se tornou fundamental ao mercado de trabalho, fazendo com que os colaboradores que chegam ao mercado hoje estejam focados em colaborar e abertos à diversidade. Figura 4 – Ideal de trabalho Fonte: Roman Samborskyi/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! As características dos indivíduos, como a personalidade e as habilidades cognitivas aliados ao ambiente onde está inserido, e aqui inclui-se o ambiente empresarial, atu- am reciprocamente, numa interação dinâmica lúdica, tornando a pessoa criativa. As rotinas do trabalho que usam um sistema de recompensa e punição, o que não facilita o processo de criatividade, e que acabam rejeitando uma nova visão do mundo, precisam se aten- tar à necessidade da manifestação criativa. Para que as pessoas expressem a sua criatividade, é necessário que elas possuam o motivo, os meios e a oportunidade. Há pouco tempo a separação entre trabalho, ócio e jogo era marcante, porém hoje diversas profissões possuem conotações lúdicas, que desenvolvem o ócio e o jogo, e tornam o trabalho produtivo, leve, participativo e harmonioso. Masi (2003) coloca que o trabalho não caracteriza nossa vida e nossa coletividade, mas é caracterizado pela valorização do tempo livre, do jogo para produzir riqueza e conhecimento. Assim, pode-se dizer que o trabalho entrou na vida e a vida entrou no trabalho. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender que a criatividade é importante para os grupos de trabalho, mantendo-os coesos; • compreender a força criativa gerada pelos vínculos dos grupos; • entender o que é o autêntico ideal de trabalho em relação à criatividade. Referências ALENCAR, Eunice Maria Lima Soriano de. O contexto educacional e sua influência na criatividade. Linhas Críticas. Linhas críticas, Brasília, v.8, n.15, jul/dez 2002. MASI, Domenico de. Criatividade e grupos criativos (vol.2) - Fantasia e concretude. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
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