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ANESTÉSICOS LOCAIS INTRODUÇÃO Os anestésicos locais compreendem uma série de substâncias químicas localmente aplicadas que são capazes de inibir a percepção das sensações e prevenir o movimento. O primeiro anestésico local a ser utilizado foi a cocaína, mas devido a toxicidade os cientistas procuraram um substituto, que é a procaína. Ela ainda continua sendo utilizada, com menos frequência, devido ao desenvolvimento de novos anestésicos locais. O efeito se dá através do bloqueio de canais de sódio regulados por voltagem, inibindo a propagação dos potenciais de ação ao longo dos neurônios; desse modo, impedem a transmissão da informação para o SNC e através dele. Os anestésicos locais não são seletivos para as fibras de dor, além de poderem bloquear fibras sensoriais, motoras e autonômicas, tanto no músculo esquelético quando no músculo cardíaco. A transmissão da sensação de dor é feita pelas fibras A, B e C, sendo A e B mielinizadas, e C não mielinizada; a mielina forma uma bainha de isolamento elétrico ao redor das fibras e aumenta a velocidade de transmissão dos impulsos. As fibras A conduzem rapidamente as informações da primeira dor, que é aguda, pois o estímulo para excitação das fibras é menor. Já as fibras C transmitem lentamente as informações da segunda dor, que é crônica, ardente, latejante e que permanece até a cessação do estímulo. Frequentemente há uma confusão na compreensão de anestesia e analgesia. Os analgésicos são inibidores específicos das vias de dor, enquanto os anestésicos são inibidores inespecíficos das vias sensoriais periféricas, motoras e autônomas. CLASSES E MECANISMO DE AÇÃO Os anestésicos locais podem ser classificados como tendo ligação éster ou ligação amida; essas ligações influenciam na duração do efeito e efeitos colaterais do fármaco. Um anestésico local efetivo deve distribuir-se e difundir-se na membrana, e por fim, dissociar-se dela; as substâncias que tem mais tendência a sofrer esses processos possuem hidrofobicidade moderada. As moléculas dos anestésicos locais levam ao bloqueio reversível da condução nervosa quando aplicados a uma região circunscrita ao impedir a entrada de sódio. As fibras sem mielina são mais sensíveis ao bloqueio. Eles são injetados fora da bainha para evitar a lesão mecânica do nervo causada pela agulha. A concentração do anestésico local necessária para bloquear impulsos sensoriais sem induzir grande bloqueio motor varia para os diferentes agentes. FARMACOCINÉTICA Após a administração por injeção ou aplicação tópica, os anestésicos locais difundem- se para os seus locais de ação; a quantidade que penetra na circulação sistêmica e sua potência determinam a toxicidade sistêmica do agente. A vascularidade do local, a concentração do fármaco, a adição de um vasoconstritor e as propriedades da solução injetada influenciam a velocidade e a extensão da absorção sistêmica dos anestésicos locais. Frequentemente são administrados vasoconstritores (como a adrenalina) junto com anestésicos locais de curta ou média duração, com o objetivo de aumentar a concentração do anestésico ao longo do nervo e diminuir a concentração máxima alcançada na circulação sistêmica. Desse modo, aumenta-se o efeito do agente e diminui a toxicidade sistêmica. Quando estão na circulação, os anestésicos locais se ligam reversivelmente a duas proteínas principais, que é a albumina e proteína de fase aguda, e também podem se ligar aos eritrócitos. Ele se liga no tecido alvo onde foi aplicado, e quanto mais hidrofóbico, maior a ligação tecidual. Os anestésicos locais com ligação éster são metabolizados rapidamente pelas esterases teciduais e plasmáticas, e os produtos resultantes são excretados pelos rins. Os anestésicos com ligação amida são metabolizados no fígado pelo citocromo P450; os metabólitos retornam a circulação e são excretados pelos rins. O metabolismo é prejudicado em paciente com cirrose ou outras doenças hepáticas, e a dose precisa ser regulada para que não haja toxicidade. TÉCNICAS DE ADMINISTRAÇÃO Nos procedimentos dentários são utilizados um anestésico tópico e outro injetado; o agente tópico permite a penetração indolor da agulha quando se administra o agente injetado, enquanto o agente injetado bloqueia a sensação de dor durante o procedimento. Os anestésicos tópicos são aplicados à mucosa e penetram até uma profundidade de 2 a 3 milímetros. Como os anestésicos tópicos precisam difundir-se através dessa distância, são utilizadas concentrações relativamente altas, e é preciso ter cuidado para evitar a sua toxicidade local e sistêmica. A benzocaína e a lidocaína — dois anestésicos tópicos de uso comum — são insolúveis em água e pouco absorvidos na circulação, diminuindo a probabilidade de toxicidade sistêmica. Os anestésicos injetados são administrados na forma de anestesia infiltrativa local ou bloqueio de campo ou nervoso. Na infiltração local, a solução anestésica é depositada no local onde será efetuado o procedimento dentário; a solução banha as terminações nervosas livres nesse local, bloqueando a percepção da dor. Nos bloqueios de campo e nervoso, a solução anestésica é depositada mais proximalmente ao longo do nervo, distante do local de incisão. Essas técnicas são utilizadas quando há necessidade de anestesiar regiões maiores da boca. TOXICIDADE Quando presentes, os efeitos tóxicos potenciais podem ser observados nos tecidos locais, na vasculatura periférica, no coração e no SNC; também pode existir reações de hipersensibilidade. Os anestésicos locais podem atuar como agentes antiarrítmicos, pois previnem a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular. No SNC, produzem sinais de excitação (tremores, zumbido, calafrios e espasmos musculares) seguidos de depressão. A hipersensibilidade é rara, e quando ocorre é pela utilização de anestésicos locais de ligação éster. AGENTES FARMACOLÓGICOS LIGAÇÃO ÉSTER Procaína: anestésico local de curta duração, que é rapidamente removido do local de administração pela circulação. É degradada por pseudocolinesterases plasmáticas e os metabolitos são excretados na urina; um dos metabólitos é o PABA, que interage com as sulfonamidas, reduzindo a eficiência do antibiótico e exacerbando as infecções bacterianas. Tetracaína: anestésico local de ação longa e altamente potente devido a elevada hidrofobicidade que permite a permanência maior do fármaco no tecido que circunda o nervo. É mais potente que a lidocaína e a procaína; o metabolismo efetivo é lento, e é liberado gradualmente dos tecidos para a circulação. LIGAÇÃO AMIDA Lidocaína: anestésico local de hidrofobicidade moderada que tem ação de início rápido, de duração média (cerca de 1–2 horas) e potência moderada; ela se difunde rapidamente através das membranas e bloqueia rapidamente as fibras. É utilizada nas anestesias infiltrativas, também pode ser administrada como antiarrítmico de classe I. A lidocaína é metabolizada pelo fígado pelo citocromo P450 e os metabólitos possuem atividade anestésica fraca. Os efeitos adversos incluem sonolência, zumbido, espasmo muscular, convulsões, depressão do SNC e cardiotoxicidade com níveis plasmáticos altos. Geralmente está associada com a adrenalina para ter efeito vasoconstritor. Prilocaína: semelhante à lidocaína, porém, apresenta atividade vasoconstritora e não necessita da associação a adrenalina; é uma boa indicação para pacientes em que a adrenalina é contraindicada. Bupivacaína: anestésico local de longa duração, útil no bloqueio espinal, epidural e nervos periféricos, bem como na anestesia infiltrativa. É metabolizada no fígado pelo citocromoP450 e pode ser cardiotóxica em concentrações altas. Articaína: anestésico local singular pela presença de um grupo éster ligado que permite que ela seja metabolizada parcialmente pelas esterases no plasma e também pelo fígado. O rápido metabolismo no plasma pode minimizar a toxicidade potencial do anestésico. INDICAÇÕES Paciente cardiopata: mepivacaína, prilocaína, lidocaína com adrenalina (1:100.000). Paciente hipertenso: felipressina com prilocaína 3%, mepivacaína 3%. Paciente gestante: lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000. Paciente diabético: prilocaína com felipressina. Paciente idoso: articaína. REFERÊNCIAS David E. Golan; Armen H. Tashjian, Jr.; Ehrin J. Armstrong; April W. Armstrong. Princípios de Farmacologia – A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia, cp 10, páginas 133-145, 2ª edição, Guanabara Koogan. Artigo: Como escolher um adequado anestésico local para as diferentes situações na clínica odontológica diária? RSBO v.3, n. 1, 2005, páginas 35-40.
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