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Obrigação como processo em linhas gerais

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Obrigação como Processo – em linhas gerais
Obrigação como processo consiste na possibilidade de ver a relação obrigacional com dinamicidade. Os princípios que dão base para o nascimento do vínculo obrigacional, isto é, o princípio de autonomia da vontade e da boa-fé e o princípio de separação de planos, que caracterizam o desenvolvimento para o adimplemento da obrigação, são os elementos garantidores da dinâmica obrigacional. A autonomia da vontade é a faculdade e possibilidade que os particulares têm de resolver conflitos, criar associações, efetuar escambos de bens, ou seja, o poder de vincular-se e desvincular-se uns com os outros. O princípio da boa-fé tem relação com a valorização do comportamento ético das partes, do dever de consideração para com o outro (alter) e os deveres nascentes desse princípio são secundários, por óbvio a boa-fé só existe em atos lícitos; por mais que a boa-fé pareça um elemento de ampla aplicação, até porque advém de cláusulas gerais, ele tem um limite de aplicação que é a função social, o limite dado pelo Estado. No que concerne a separação de planos devemos visualizar esse preceito com clareza, pois consiste em uma divisão bem nítida entre (I) nascimento e desenvolvimento obrigacional e entre (II) o fim da obrigação, o adimplemento, visto que, a obrigação liga os particulares (direito obrigacional) e o adimplemento os afasta (forma-se direito real). [2: Deveres secundários: não se trata de dever para consigo mesmo, mas em favor do outro. São os deveres de notificar, auxiliar, esclarecer, de guardar segredo e de pagar (pagar é o maior ato de boa-fé que o devedor pode dar ao credor).]
Teoria da Causa: “Não há atribuição sem causa”. Isto significa que toda obrigação é criada por um motivo, por uma função. A finalidade obrigacional concretizada no adimplemento total é, em verdade, a união da função mais o ato final. A teoria da causa vem para garantir que a vontade das partes seja alcançada, que a função que gerou a obrigação tenha seu ato final, tenha o seu adimplemento. 
Os princípios processuais obrigacionais agem sob as fontes do Direito Obrigacional. Há diversos tipos de atos que serve como fonte de ligação entre os particulares formando uma relação obrigacional, uma obrigação. Os principais atos que são fontes de obrigações, são: Negócio Jurídico (casamento), atos em sentido escrito (deste vem a negação da boa-fé, são casos de nulidade, anulabilidade, vícios da vontade, etc), atos-fatos (aquisição de posse, concretizar bem infungível), contrato social (quando há ato ilícito vê-se a quebra do contrato social – Hobbes, Rousseau, Beccaria), atos existenciais (costumes) e atos de direito público formativos de direito privado (Estado tomar posse de bem de particular – ação de contrato ditado). A crise das fontes decorre da concepção de que por mais completo que um código seja não consegue regulamentar tudo, não consegue abranger e proteger todas as qualificações de fontes obrigacionais. [3: Contrato ditado: é o tipo contratual que nasce em governos totalitários. Atualmente esse tipo de ato é proibido e inconstitucional, pois vivemos em um Estado de Direito que resguarda a liberdade dos indivíduos da sociedade.]
Teoria da subsunção: consiste basicamente na decomposição da norma em três premissas: sujeito (suporte fático), predicado (efeito jurídico) e imputação do predicado ao sujeito (efeito jurídico sob suporte fático). Por esta razão coloca-se, até automaticamente, a ideia de que “se A existe, B deve existir”, em outras palavras, se existe crédito em inadimplemento, deverão existir ações para que este se torne adimplido. Entretanto, nada é tão simples e lógico no mundo jurídico, e nem poderá ser, haja vista que no próprio sistema há cláusulas abertas (cláusulas gerais e lacunas) para as interpretações atualizadoras que permitem sair, poucamente, da predominância dedutiva do sistema e pensar casuisticamente (pensar no caso concreto e gerar o resultado mais justo para este e para o bem comum). 
A estrutura e a intensidade do processo obrigacional são dois elementos: o débito e a responsabilidade. Aprioristicamente, a responsabilidade ocupava o âmbito principal da obrigação (Roma Antiga, responsabilidade da palavra), quem respondia a dívida era o corpo do devedor ou de terceiro, só que com a evolução das relações humanas a responsabilidade passou a derramar-se nos bens do devedor, de forma mais objetiva, o débito tornou-se o objeto mais importante da relação obrigacional. Por isto, a contemporaneidade, vê o débito como prestação primária, o objeto da obrigação e a responsabilidade como prestação secundária, as perdas e danos. A responsabilidade aparecerá quando e se a prestação primária/débito não for adimplida. Desta forma, percebemos que tanto as obrigações perfeitas (de dar, de restituir, de fazer e de não fazer) quanto às obrigações imperfeitas/naturais (de jogos e apostas, de honra e as de crédito com pretensão prescrita) apenas serão extintas se o débito for pago devidamente, por consequência, deixando o credor satisfeito. 
Teoria da impossibilidade: é a impossibilidade da prestação que poderá levar ao inadimplemento. A impossibilidade pode ser inicial ou superveniente e apenas será verdadeira se for absoluta (impossibilidade absoluta da prestação). Todos os atos e fatos que gerarem a destruição ou perda do débito e que tornarem impossível a prestação ou por já haver mora, ou por o bem ser infungível, gerarão soluções jurídicas que terão como objetivo adimplir com coisa diversa ou minimizar os prejuízos (de maneira equivalente à prestação perdida) da parte lesada pela ocorrência da impossibilidade. 
Teoria do risco: advém da impossibilidade superveniente da prestação e a quem tange suportar os riscos (responder, ter responsabilidade sob o bem). Nos contratos bilaterais o risco corre por conta do devedor da prestação e o perigo transfere-se com a tradição. Já nos contratos unilaterais o risco corre para o credor. 
Por fim, a obrigação como processo pode não ser vista aos olhos do leigo no ato negocial, porém é de suma importância unir os princípios com as fontes, as teorias (aqui vistos) e as normas para fazer nascer, desenvolver e findar a obrigação, visualizando-se, assim, a relação obrigacional como algo dinâmico. Nas obrigações simples de dar (coisa certa ou genérica), restituir, fazer e não fazer vê-se a aplicação de procedimentos já positivados que têm como base os princípios e as teorias obrigacionais que acabam por reger cada fase da relação de maneira dinâmica e sequencial. Mesmo nas obrigações complexas, que abrangem as simples mais outras tipologias de deveres (como por exemplo, obrigações alternativas e com facultas alternativa, obrigações duradouras, entre outras), percebe-se que o processo se faz presente, agindo desde o nascimento obrigacional como algo que segue uma linha procedimental para alcançar, além do adimplemento desejado, a equidade em toda a relação obrigacional.

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