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Apostila- Contratos em geral

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S U M Á R I O
1. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS – p. 4
1.1. Conceito de contrato – p. 4 
Função social do contrato – p. 4 
Elementos constitutivos e pressupostos de validade do contrato – p. 6
1.4. Princípios contratuais – p. 7
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS – p. 13
2.1. Contratos quanto à natureza da obrigação entabulada – p. 13
3. DA INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS – p. 19
4. DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS – p. 23
Vontade – p. 23
Silêncio – p. 23
Negociações preliminares – p. 23
Proposta – p. 24
Conceito e características – p. 24
A força vinculante da oferta – p. 25
4.4.3. Proposta não obrigatória – p. 25
4.4.4. A oferta no Código de Defesa do Consumidor – p. 27
4.5. Aceitação – p. 28
Conceito e espécies – p. 28
4.5.2. Hipótese de inexistência de força vinculante da aceitação – p. 29
5. LUGAR EM QUE REPUTA CELEBRADO O CONTRATO – p. 29
5.1. Contrato entre presentes – p. 29
5.2. Contratos entre ausentes – p. 29
Lugar da celebração – p. 30
5.4. Formação dos contratos pela Internet – p. 30
6. DAS ESTIPULAÇÕES EM FAVOR DE TERCEIRO – p. 31
Conceito – p. 31
Natureza jurídica – p. 32
A regulamentação da estipulação de terceiro no Código Civil – p. 32
7. DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO – p. 33
7.1. Conceito – p. 33
Inovações introduzidas pelo Código Civil – p. 33
8. DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS – p. 34
8.1. Conceito – p. 34
8.2. Fundamentos jurídicos – p. 35
Requisitos para a caracterização dos vícios redibitórios – p. 36
Efeitos. Ações cabíveis – p. 37
8.4.1. Espécies de ações – p. 37
Prazos decadenciais – p. 38
Consumidor tem direito a reparação de falha oculta até o fim da vida útil do produto e não só durante garantia – p. 39
8.4.2.1.1. Obsolescência programada – p. 40
Hipóteses de descabimento das ações edilícias – p. 41
Coisas vendidas conjuntamente – p. 41
Inadimplemento contratual – p. 41
Erro quanto às qualidades essenciais do objeto – p. 41
Coisa vendida em hasta pública – p. 42
8.4.4. Disciplina no Código de Defesa do Consumidor – p. 42
9. DA EVICÇÃO – p. 43
Conceito e fundamento jurídico – p. 43
Extensão da garantia – p. 44
Requisitos da evicção – p. 44
Verbas devidas – p. 45
9.5. Da evicção parcial – p. 47
DOS CONTRATOS ALEATÓRIOS – p. 48
10.1. Conceito e espécies – p. 48
 Venda de coisas futuras – p. 49
10.2.1. Risco concernente à própria existência da coisa: emptio spei – p. 49 
 Risco respeitante à quantidade da coisa esperada: emptio rei speratae – p. 49
 Venda de coisas existentes, mas expostas a risco – p. 50
11. DO CONTRATO PRELIMINAR – p. 50
Conceito – p. 50
Evolução da promessa de compra e venda no direito brasileiro – p. 50
12. DO CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR - p. 51
Conceito – p. 51
Natureza jurídica – p. 51
Aplicações práticas – p. 52
Disciplina no Código Civil – p. 52
13. DA EXTINÇÃO DO CONTRATO – p. 53
 Do modo normal de extinção – p. 53
 Extinção do contrato sem cumprimento – p. 53
13.2.1. Causa anteriores ou contemporâneas à formação do contrato – p. 53 
Nulidade absoluta e relativa – p. 53
Cláusula revolutiva – p. 55
Direito de arrependimento – p. 56
Causas supervenientes à formação do contrato – p. 57
Resolução – p. 57
Resolução por inexecução voluntária – p. 57
Exceção de contrato não cumprido – p. 58
Garantia de execução da obrigação a prazo – p. 59
Resolução por inexecução involuntária – p. 60
Resolução por onerosidade excessiva – p. 61
A cláusula “rebus sic stantibus” e a teoria da imprevisão – p. 61
A onerosidade excessiva no Código Civil – p. 62
 Resilição – p. 64
Distrato e quitação – p. 64
Resilição unilateral: denúncia, renovação, renúncia e resgate – p. 65
 Morte de um dos contratantes – p. 66
 Rescisão – p. 66
BIBLIOGRAFIA – p. 68
1. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
1.1. Conceito de contrato
O contrato é a mais comum e a mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo jurídico. 
Fonte de obrigação é o fato que lhe dá origem. Os fatos humanos que o Código Civil considera geradores de obrigação são: 
os contratos; 
as declarações unilaterais da vontade; 
os atos ilícitos, dolosos e culposos.
É a lei que disciplina os efeitos dos contratos, que obriga o declarante a pagar a recompensa prometida e que impõe ao autor do ato ilícito o dever de ressarcir o prejuízo causado.
O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas pessoas. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral.
Com efeito, distingue-se, na teoria dos negócios jurídicos, os unilaterais, que se aperfeiçoam pela manifestação de vontade de apenas uma das partes, e os bilaterais, que resultam de uma composição de interesses; estes últimos, resultantes de mútuo consenso.
O fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação de direitos e obrigações. O contrato é, pois, um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. 
Sempre, pois, que o negócio jurídico resultar de um mútuo consenso, de um encontro de duas vontades, estaremos diante de um contrato.
Essa constatação conduz à ilação de que o contrato não se restringe ao direito das obrigações, estendendo-se a outros ramos do direito privado, como é o caso do casamento, por exemplo, que é considerado um contrato especial, um contrato do direito de família. Também é o caso dos contratos celebrados em seara do direito público, celebrados pela Administração Pública.
O Código Civil disciplina, em vinte capítulos, vinte e três espécies de contratos nominados (Art. 481 a 853) e cinco de declarações unilaterais de vontade (Art. 854 a 886 e 904 a 909), além dos títulos de crédito, tratados separadamente (Art. 887 a 926). Contém, ainda, um título referente às obrigações por atos ilícitos (Art. 927 a 954).
Função social do contrato
O contrato tem uma função social, sendo veículo de circulação da riqueza, centro da vida dos negócios e propulsor da expansão capitalista. 
O Código Civil tornou explícito que a liberdade de contratar só pode ser exercida em consonância com os fins sociais do contrato, implicando os valores primordiais da boa-fé e da probidade.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
O Código Civil procurou afastar-se das concepções individualistas que nortearam o diploma anterior para seguir orientação compatível com a socialização do direito contemporâneo.
O princípio da socialidade por ele adotado reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana.
Com, efeito, o sentido social é uma das características mais marcantes do atual Código Civil, em contraste com o sentido individualista que condicionava o Código de 1.916. 
Há uma convergência para a realidade contemporânea, com a revisão dos direitos e deveres dos cinco principais personagens do direito privado tradicional: o proprietário, o contratante, o empresário, o pai de família e o testador. É isso que dispõe o Art. 421, descrito anteriormente.
A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Por identidade dialética, guarda intimidade com o princípio da função social da propriedade, previsto na Constituição Federal.
Tem por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes.
A função social do contrato constitui, assim, princípio moderno a serobservado pelo intérprete na aplicação dos contratos.� �
A função social do contrato serve, precipuamente, para limitar a autonomia da vontade, quanto tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de contrato obrigatório. 
Tal princípio desafia a concepção clássica de que os contratantes tudo podem fazer, porque estão no exercício da autonomia da vontade. Essa constatação tem, como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros, que não são propriamente partes do contrato, possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. 
 
A função social do contrato somente estará cumprida quando a sua finalidade -- distribuição de riquezas -- for atingida de forma justa, ou seja, quando o contrato representar uma fonte de equilíbrio social.
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
Como a função social é cláusula geral, o juiz poderá preencher os claros do que significa essa ‘função social’, com valores jurídicos, sociais, econômicos e morais. A solução será dada diante do que se apresentar, no caso concreto, ao juiz. 
Para tanto, o juiz pode, inclusive, agir ex officio¸ ainda que a parte não tenha solicitado, modificando cláusula de percentual de juros, por exemplo, caso entenda que deve assim agir para adequar o contrato à sua função social. 
Assim agindo, autorizado pela cláusula geral expressamente prevista em lei, o juiz poderá ajustar o contrato e dar-lhe a sua própria noção de equilíbrio, sem ser arbitrário.
 
Elementos constitutivos e pressupostos de validade do contrato
Da conjugação de duas ou mais declarações de vontades coincidentes ou concordantes nasce a norma convencional, pois o contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral.
Todo contrato requer o acordo de vontade das partes contratantes ou o consentimento, que não constitui somente um requisito de validade, mas também um pressuposto de sua existência, de tal sorte que sem o mútuo consenso, expresso ou tácito, não haverá qualquer vínculo contratual. 
Se houver manifestação volitiva de apenas um dos contraentes, ter-se-á mera emissão, sem força vinculante, visto que o acordo de vontades, emitidas por duas ou mais partes, é requisito básico ou essencial à formação do contrato. 
Só ele tem a virtude de produzir os correspectivos direitos e deveres. Logo, não é com o mero consentimento unilateral de uma das partes que surge o contrato perfeito e acabado. 
É indispensável o encontro de vontades que tendem ao mesmo fim. 
É necessário que as vontades de duas ou mais pessoas isoladas sejam convergentes e se encontrem para, com uma conciliação de interesses, poder atingir o objetivo a que se propõem.
É preciso ressaltar que não é a vontade como expressão de querer interno, porém a já manifestada que interessa à ordem jurídica, como elemento essencial à constituição do contrato válido, idôneo a produzir efeitos jurídicos.
Enquanto não se exteriorizar a vontade, não terá relevância no mundo do direito.
Antes de se estabelecer o acordo, há informações preliminares, mas apenas no momento em que as vontades concordarem é que se firmará o contrato. 
Esse acordo dependerá necessariamente de duas fases: a oferta ou proposta e a aceitação que, apesar de serem dois fatores distintos, por emanarem de pessoas diversas, são interdependentes, por terem o mesmo conteúdo e serem coexistentes, fato é que a aceitação formulada com modificações transforma-se em proposta.
Como na formação do contrato temos de considerar duas declarações de vontades sucessivas, e é sempre uma das partes que toma a iniciativa, manifestando à outra seu desejo de celebrar o contrato. Sua declaração recebe o nome de ‘proposta’, enquanto a da outra parte chama-se ‘aceitação’. 
Portanto, a ‘oferta’ e a ‘aceitação’ são elementos indispensáveis à formação de qualquer contrato, visto que o consentimento de cada um dos contratantes, convergindo para um ponto, se encontra e forma o nexo contratual.
Entre esses dois extremos gira toda a controvérsia sobre a força obrigatória do contrato e sobre o momento exato em que ambos se fundem para produzi-lo.
Considera-se contrato entre presentes aquele em que as partes, pessoalmente ou por meio de representante, ditam seu consentimento, que é dado pelo aceitante no mesmo ato em que é feita a proposta, mesmo que estejam até distanciadas por continentes, pois o contrato por telefone ou por meio de comunicação semelhante se considera realizado entre presentes.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
1.4. Princípios contratuais
Os princípios contratuais são os seguintes:
a) ‘Autonomia de vontade’, no qual se funda a liberdade contratual dos contratantes, consistindo no poder de estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.
Esse poder de auto-regulamentação dos interesses das partes contratantes, condensado no princípio da autonomia da vontade, envolve liberdade contratual, que é a de determinação do conteúdo da avença e a de criação de contratos atípicos, a liberdade de contratar, alusiva à de celebrar ou não o contrato e à de escolher o outro contratante.
Além da liberdade de criação do contrato, abrange, portanto:
 a.1. A liberdade de contratar ou não contratar, isto é, o poder de decidir, segundo seus interesses, quando estabelecerá com outrem uma relação jurídica contratual. Todavia, o princípio de que a pessoa pode abster-se de contratar sofre exceções, como, por exemplo, quando o indivíduo tem obrigação de contratar imposta por lei, como é o caso dos seguros obrigatórios de veículos automotores.
a.2. A liberdade de escolher o outro contraente, embora às vezes a pessoa do outro contratante seja insuscetível de opção, como, por exemplo, nas hipóteses de serviço público concedido sob regime de monopólio, das empresas concessionárias de serviço público. 
a.3. A liberdade de fixar o conteúdo do contrato, escolhendo qualquer uma das modalidades contratuais reguladas por lei (contratos nominados), introduzindo alterações ou cláusulas (RT-481:120) que melhor se coadunem com seus interesses e com as peculiaridades do negócio, ampliando ou restringindo os efeitos do vínculo contratual, ou adotando novos tipos contratuais, distintos dos modelos previstos pela ordem jurídica, conforme as necessidades do negócio jurídico, dando origem, assim, aos contratos inominados. 
O conteúdo do contrato pertence livremente à determinação das partes contratantes, embora alguns deles se formem pela adesão de uma das partes às cláusulas impostas pela outra.
É preciso não olvidar que a liberdade de contratar não é ilimitada ou absoluta, pois está limitada pela supremacia da ordem pública, que veda convenções que lhe sejam contrárias e aos bons costumes, de forma que a vontade dos contraentes está subordinada ao interesse coletivo.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.�
O contrato deverá ter, portanto, por finalidade e por limite, a sua função social. 
Com efeito, repelido está o individualismo, nítidaé a função institucional do contrato, visto que limitada está a autonomia da vontade pela intervenção estatal, ante a função econômico-social daquele ato negocial, que o condiciona ao atendimento do bem comum e dos fins sociais. Com isso, consagrado está o princípio da socialidade.
E nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.�
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
Assim, os contratantes deverão sujeitar sua vontade: 
às normas de ordem pública, que fixam, atendendo os interesses da coletividade, as bases jurídicas fundamentais em que repousam a ordem econômica e moral da sociedade; 
os bons costumes, relativos à moralidade social, de forma que sejam proibidos, por exemplo, contratos de versem sobre exploração de casas de tolerância; corretagem matrimonial; usura; locação de imóvel em zona residencial para fins empresariais, venda de produto ou de serviço mediante propaganda enganosa; alienação de bens, fraudando credores; concorrência desleal; negócio simulado para prejudicar terceiro; turismo sexual por agência de viagens, dentre outros, por contrariarem os bons costumes. 
O Estado intervém no contrato, não só mediante a aplicação de normas de ordem pública (RT-516:150), mas, também, com a adoção de revisão judicial dos contratos, alterando-os, estabelecendo-lhes condições de execução, ou mesmo exonerando a parte lesada, conforme as circunstâncias, fundando-se em princípios de boa-fé, hipótese em que a vontade estatal substitui a dos contratantes, valendo a sentença como se fosse declaração volitiva do interessado.
A ação do Estado também pode ocorrer em forma de revisão judicial dos contratos, nos casos graves quando a superveniência de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, por ocasião da formação dos pactos, torna sumamente onerosa a relação contratual, gerando a impossibilidade subjetiva de se executarem esses contratos, com a consequente quebra do justo equilíbrio que deve existir entre os contraentes (RF-113:92; 150:250). É o caso da cláusula rebus sic stantibus, apresentada modernamente como ‘teoria da imprevisão”.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
A Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) também prevê a possibilidade de revisão contratual, não se exigindo imprevisibilidade e extraordinariedade, por se tratar de relação de consumo:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.
b) ‘do consensualismo’, segundo o qual o simples acordo de duas ou mais vontades basta para gerar o contrato válido, pois não se exige, em regra, qualquer forma especial para a formação do vínculo contratual.
Embora alguns contratos, por serem solenes, tenham sua validade condicionada à observância de certas formalidades, estabelecidas em lei, a maioria deles é consensual, pois o mero consentimento tem o condão de criá-los, sendo suficiente para sua perfeição e validade.
c) ‘da obrigatoriedade da convenção’, pelo qual as estipulações, feitas no contrato, deverão ser fielmente cumpridas (pact sunt servanda), sob pena de execução patrimonial contra o inadimplente. Isto é assim porque o contrato, uma vez concluído livremente, incorpora-se ao ordenamento jurídico, constituindo uma verdadeira norma de direito, autorizando, portanto, o contratante a pedir a intervenção estatal para assegurar a execução da obrigação porventura não cumprida segundo a vontade que a constituiu.
O contrato é intangível, a menos que ambas as partes o rescindam voluntariamente ou haja a escusa por caso fortuito ou força maior. 
O contrato é lei entre as partes, desde que estipulado validamente (RT-543:243, 478:93), com observância dos requisitos legais.
O que não pode existir é a desigualdade entre as partes, com o enriquecimento ilícito de um dos contraentes, pois se isso ocorrer poder-se-á decretar a resolução do contrato.
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
Portanto, hodiernamente, para a lei, a doutrina e os tribunais, ante o dirigismo contratual (atuação do Estado), o princípio pact sunt servanda não é absoluto, por estar limitado pelo princípio do equilíbrio contratual. Logo, a cláusula rebus sic standibus é uma ressalva ao princípio da imutabilidade dos contratos, de aplicação excepcional e restrita.
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
d) ‘da relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual’, visto que não aproveita nem prejudica terceiros, vinculando exclusivamente as partes que nele intervieram. 
O contrato somente produz efeitos entre os contraentes. O ato negocial deriva de acordo de vontade das partes, sendo lógico que apenas as vincule, não tendo eficácia em relação a terceiros.
Assim, ninguém se submeterá a uma relação contratual, a não ser que a lei o imponha oua própria pessoa o queira.
e) ‘da boa-fé’, intimamente ligado não só à interpretação do contrato -- pois, sendo ele, o sentido literal da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida das declaração de vontade das partes -- mas, também, ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes deverão agir com lealdade, honestidade, honradez, probidade, denodo e confiança recíprocas. Isto é, proceder com boa-fé, esclarecendo o conteúdo das cláusulas, procurando o equilíbrio nas prestações, respeitando o outro contratante, não traindo a confiança depositada, procurando cooperar, evitando o enriquecimento indevido, não divulgando informações sigilosas, etc..
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
É uma forma que requer o comportamento leal e honesto dos contratantes, sendo incompatível com quaisquer condutas lesivas, tendo por escopo gerar, na relação obrigacional, a confiança necessária e o equilíbrio das prestações e da distribuição dos riscos e encargos, ante a proibição do enriquecimento sem causa. 
Trata-se, portanto, da ‘boa fé objetiva’. Logo, se um dos contratantes não cumprir seu dever, estará ofendendo a boa-fé objetiva, caracterizando o inadimplemento do ato negocial, independentemente de culpa.
O princípio da boa-fé objetiva privilegia o respeito à lealdade. Deverão ser evitadas as cláusulas abusivas e desleais, sob pena de nulidade.
Todos os princípios contratuais estão ligados ao do respeito e proteção à dignidade da pessoa humana, dando tutela jurídica aos contratantes para que se efetivem a função social da propriedade, a do contrato e a justiça social.
Art. 1º (CF) A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 170. (CC) Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Art. 421 (CC). A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
2.1. Contratos quanto à natureza da obrigação entabulada
Quanto aos seus efeitos, os contratos poderão ser:
a) Unilaterais: quando só um dos contratantes assumir obrigações em face do outro, de tal sorte que os seus efeitos são ativos, de um lado, e passivos, do outro, pois uma das partes não se obrigará, não havendo, portanto, qualquer contraprestação.
É o que se dá com a doação pura e simples, em que do concurso de vontade nascem obrigações somente para o doador, enquanto o donatário apenas auferirá vantagens.
É o que ocorre, ainda, com o depósito, o comodato, o mandato, pois esses atos negociais criam obrigações unicamente ao depositário, ao comodatário, ao mutuário e ao mandatário. Assim sendo, os contratos unilaterais, apesar de requererem duas ou mais declarações volitivas, colocam um só dos contraentes na posição de devedor, ficando o outro como credor.
b) Bilaterais: cada um dos contraentes é simultaneamente e reciprocamente credor e devedor do outro, pois produz direitos e obrigações para ambos, tendo como característica principal o sinalagma, ou seja, a dependência recíproca de obrigações. Daí serem denominados contratos sinalagmáticos. 
É o que sucede com os contratos de compra e venda, de locação predial, de prestação de serviços, de troca, etc.. 
Mas, também podem ser plurilaterais, se contiverem mais de dois contratantes com reciprocidade de obrigações, como é o caso do contrato de consórcio ou de sociedade, por pretenderem atingir um objetivo comum.
Hás certas vantagens práticas que decorrem dessa distinção, pois:
A exceptio inadimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido), cláusula resolutiva tácita que somente se prendem ao contrato bilateral. 
Isto é assim porque o contrato bilateral requer que as duas prestações sejam cumpridas simultaneamente, de forma que nenhum dos contratantes poderá, antes de cumprir sua obrigação, exigir o implemento da do outro, que não é cabível no contrato unilateral. 
Ou seja, o contraente que não cumpre sua obrigação não tem direito, ante o princípio da equidade, de reclamar o implemento por parte do outro (RT-184:664, 188:188, 191:213, 178:735, 669:136, 674:163, 670:71, 640:130).
 Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode 
 exigir o Implemento da do outro.
A teoria dos riscos só é aplicável ao contrato bilateral, porque apenas se deverá apurar qual dos contraentes sofrerá as consequências da perda da coisa devida ou da impossibilidade da prestação. 
Nos contratos bilaterais ou onerosos, responde cada uma das partes por culpa (RT-101:624), salvo as exceções previstas legalmente.
Dispõe o Art. 477, do Código Civil:
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
Desse modo, se não for oferecida tal caução, nem satisfeita a prestação prometida, o contrato resolver-se-á, conduzindo as partes para o estado em que antes dele se encontravam.
c) Onerosos: são aqueles que trazem vantagens para ambos os contraentes, pois estes sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito almejado. Por exemplo, na locação de coisa, o locatário paga aluguel para poder usar e gozar do bem, e o locador entrega objeto que lhe pertence para receber aquele pagamento.
d) Comutativos: Comutativo ou pré-estimado, é aquele em que cada contraente, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar, de imediato, essa equivalência. 
Portanto, nesse contrato, cada contraente se obriga a dar ou a fazer algo que é considerado como equivalente àquilo que lhe dão ou que lhe fazem, embora algumas vezes corram riscos relativos à coisa ou à oscilação do seu valor, o que, contudo, são circunstâncias independentes do contrato. Exemplo: contrato de compra e venda.
e) Aleatórios: Deriva de sorte, perigo, azar, incerteza de fortuna, indicando, portanto, um ato dependente do acaso. 
É o contrato em que a prestação de uma ou de ambas as partes dependeria de um risco futuro e incerto, não se podendo antecipar o seu montante. Logo, os efeitos do negócio submetem-se a esse acontecimento incerto. No contrato de seguro, por exemplo, o segurado, em troca do prêmio, poderá receber a indenização, se ocorrer o sinistro, ou nada receber, se aquele não advier.
Se o risco ficar a cargo somente de uma das partes, nulo será o negócio, pois é inadmissível a celebração desse contrato por uma das partes na certeza de ganhar.
Exemplos: a rifa, o bilhete de loteria, a constituição de renda vitalícia (Art. 806), o jogo e a aposta (Art. 814 a 817), o seguro (Art. 757 a 802), o contrato de garimpo ou de pesquisa, a venda de coisa esperada (colheitas futuras), a compra de peixe que vier na rede do pescador, o contrato de sociedade em que ativo e passivo fiquem para o sócio que sobrevier, o contrato de exploração de petróleo a risco, etc..
Nesses contratos não se aplica a teoria da lesão, nem estão eles sujeitos aos efeitos de vícios redibitórios, arras e outros institutos que tutelam o equilíbrio contratual.
Há duas espéciesde contratos aleatórios:
Os que dizem respeito a coisas futuras, que podem ser:
Emptio spei: Um dos contratantes, na alienação da coisa futura, toma para si o risco relativo à existência da coisa, ajustando um preço, que será devido integralmente, mesmo que nada se produza, sem que haja dolo ou culpa do alienante. Por exemplo: se alguém comprar de um pescador, por preço certo, os peixes que este retirar de sua rede, assumindo o risco de nenhum peixe ser apanhado. Neste caso, o pescador terá direito ao preço integral, mesmo que nada pesque, desde que tenha agido com a diligência habitual.
Outro exemplo é a venda de colheita futura, pois o adquirente assumirá o risco de nada ser colhido.
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
Emptio rei speratae: Ocorre se a álea (risco) versar sobre quantidade maior ou menor da coisa esperada.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.
Neste caso, o risco assumido pelo adquirente concerne à maior ou menor quantidade da coisa, sendo devido o preço ao alienante, desde que este não tenha culpa, mesmo que o objeto venha a existir em qualquer quantidade. 
Assim, se nada existir, nula será a alienação, porque o contrato, estará sem objeto. Por exemplo, se se comprar de um pescador o produto do lanço de sua rede, assumindo apenas a álea de se retirar maior ou menor quantidade de pescado, o adquirente liberar-se-á da obrigação, se a rede nada contiver. 
Da mesma forma, se alguém adquirir a safra de café do ano vindouro, seja qual for a quantidade; se nada colher, desfeito estará o contrato, porém, se colheita houver, ainda que ínfima, o contrato produzirá efeito e o vendedor receberá o preço estabelecido, se não tiver concorrido culposamente para esse resultado.
Os que versam sobre coisas existentes, sujeitas ao risco de se perderem, danificarem, ou, ainda, sofrerem depreciação. 
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. 
É a hipótese da mercadoria embarcada que é vendida, assumindo, o comprador, a álea de ela chegar ou não ao seu destino. Mesmo que ela desapareça por ocasião do contrato, devido a naufrágio do navio, a venda será válida e o vendedor terá direito ao preço, se ignorava o sinistro. Se sabia do naufrágio, anulada será a alienação.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.
f) Condicionais: A existência e a eficácia do contrato estão na dependência de evento futuro e incerto, ao passo que, no aleatório, ter-se-á o contrato perfeito desde logo, embora surja o risco de a prestação de uma das partes ser maior ou menor, de maneira que a incerteza atingirá apenas a extensão das vantagens e das perdas dos contraentes, estando o contrato em si, perfeito e acabado.
No condicional, ambas as partes poderão ter lucros, sem que o ganho de um represente, necessariamente, prejuízo do outro. No aleatório, em regra, a vantagem de um acarretará perda para o outro contratante.
No condicional, o acontecimento deverá ser sempre incerto e futuro para que os contratos produzam efeitos jurídicos, e, no aleatório, a circunstância casual de que depende o lucro ou a perda não precisará ser futura, bastando que seja ignorada ou desconhecida pelas partes, embora já tenha sido realizada.
g) Paritários: São aqueles em que as partes interessadas, colocada em pé de igualdade, ante o princípio da autonomia de vontade, discutem os termos do ato negocial, eliminando os pontos divergentes mediante transigência mútua. 
h) Adesão: Constituem uma oposição à ideia de contrato paritário, por inexistir a liberdade de convenção, visto que excluem a possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes, uma vez que um dos contratantes se limita a aceitar as cláusulas e condições previamente redigidas e impressas pelo outro (RT-795:234, 519:163), aderindo a uma situação contratual já definida em todos os seus termos. Exemplo disso são os contatos de seguro (RT-487:181), os de venda das grandes sociedades, os de transporte, os de fornecimento de gás/eletricidade/água (estes são tidos como contratos coativos), os de diversões públicas, os de consórcio, os de financiamento bancário, etc..
Neste caso, consagrada está a ideia de repúdio a quaisquer cláusulas abusivas, iníquas ou desarrazoáveis, por provocarem o desequilíbrio de direitos e deveres.
Protege-se o aderente ante a superioridade situacional do contratante, que estipula as cláusulas pré-elaboradas, dos perigos resultantes de sua simples utilização, impedindo abusos.
É aquele contrato em que a manifestação de vontade de uma das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da outra.
Este contrato deverá ser impresso com fonte de tamanho mínimo 12. Não pode ter redação confusa, contendo terminologia técnica, conceitos vagos ou ambíguos, nem cláusulas desvantajosas para um dos contratantes, para que haja facilidade de entendimento do aderente.
Vale dizer que as cláusulas ambíguas ou contraditórias serão interpretadas em favor do aderente.
Os contratos por adesão supõem: 
Uniformidade, predeterminação e rigidez de oferta;
Proposta permanente e geral, aberta a quem se interessar pelos serviços do proponente, dirigindo-se a um grupo indeterminado de pessoas.
Aceitação pura e simples do contrato, simplificando, desse modo, a maneira de produzir-se o consentimento.
Superioridade econômica de um dos contratantes, que desfruta de um monopólio de fato ou de direito.
Cláusulas do contrato são predispostas e fixadas unilateralmente e em bloco por uma das partes, visto que se dirigem a um número indeterminado de pessoas.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Pelo Art. 112, do CPC, “a nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu”.
 
i) Consensuais: Também chamados de não-solenes, são os que perfazem pela simples anuência das partes, sem necessidade de outro ato. 
A ordem jurídica não exige, para que se aperfeiçoem, senão o acordo das partes (RT-502/218), não impondo, portanto, nenhuma forma especial para a sua celebração. 
Basta o consentimento dos contratantes para a sua formação. É o caso, por exemplo, da compra e venda de bens móveis, da locação, da parceria rural, do mandato, do contrato de transporte, etc..
j) Solenes ou formais: Consistem naqueles para os quais a lei prescreve forma especial para a sua celebração, que lhes dará existência, de tal sorte que, se o negócio for levado a efeito sem a observância da forma legal, não terá validade.
Ser-lhes-á, portanto, insuficiente o simples encontro de duas ou mais vontades, pois será mister que a exteriorização do acordo se processe por meio de formas estabelecidas pela lei, por serem requisitos essenciais à sua validade. Por exemplo, a compra e venda de um imóvel dependerá nãosó da escritura pública (Art. 108), mas, também, de assento no Cartório de Registro de Imóveis (Art. 1.245). 
Na doação, deverá ser feita escritura pública ou instrumento particular, salvo se versar sobre bens móveis ou de pequeno valor, hipótese em que poderá ser verbal (Art. 541, § único). A fiança deverá ser feita por escrito (Art. 819), o mesmo acontecendo com o contrato de seguro (Art. 758). 
l) Reais: São aqueles que apenas se ultimam com a entrega da coisa, feita por um contraente a outro, como, por exemplo, o mútuo, o depósito (RT-531:266), as arras, o penhor e a anticrese. 
O simples concurso de duas ou mais vontades não tem o condão de estabelecer o vínculo contratual, que só se forma com a tradição efetiva do objeto do ato negocial, por ser requisito essencial à sua constituição. 
Antes da entrega efetiva da coisa, ter-se-á mera promessa de contratar e não um contrato perfeito e acabado.
m) Nominados: São os típicos e abrangem as espécies contratuais que servem de base à fixação dos esquemas, modelos ou tipos de regulamentação específica da lei. 
Inserem-se numa figura que tem disciplina legal, pois recebem da ordem jurídica uma regulamentação. 
Possuem, portanto, uma denominação legal e própria, estando previstos e regulados por norma jurídica, formando espécies definidas. 
O Código Civil rege e esquematiza vinte e três tipos dessa espécie de contrato, tais como compra e venda, troca, doação, locação e coisas, empréstimo, prestação de serviços, empreitada, depósito, mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, transporte, constituição de renda, seguro, jogo, aposta, fiança, sociedade, transação e compromisso.
n) Inominados: São os atípicos e afastam-se dos modelos legais, pois não são disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde que não contrariem a lei e aos bons costumes, ante o princípio da autonomia da vontade em que envolvem as relações contratuais.
Os particulares poderão, dentro dos limites legais, criar as figuras contratuais que necessitarem no mundo dos negócios.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
Exemplos: 
contratos de exploração de lavoura de café, por ser um complexo de locação de serviços, empreitada, arrendamento rural e parceria agrícola, não se ajustando a nenhum desses tipos de contrato isoladamente, embora participe um pouco de todos (RT-513:257 e 259);
cessão de clientela; 
a troca e uma coisa por obrigação de fazer; 
a constituição de servidão, mediante o pagamento de certa quantia; 
contrato e locação de caixa-forte, misto de locação e depósito; 
contrato de hospedagem, misto de locação de coisas e de serviços e depósito de bagagens).
o) De execução imediata: São os que se esgotam num só instante, mediante uma única prestação. Exemplo disso é a compra e venda de uma coisa à vista, a troca, etc..
p) De execução continuada: São os que se prolongam no tempo, caracterizando-se pela prática ou abstenção de atos reiterados, solvendo-se num espaço mais ou menos longo de tempo. 
Por exemplo, no contrato de compra e venda a prazo, ante a circunstância de os contraentes terem convencionado pagamento parcelado, a prestação não poderá ser satisfeita contemporaneamente à formação do contrato, pois o comprador recebe o que comprou para pagá-la em certo número de prestações futuras.
A locação é também um desses contratos, visto que a prestação do aluguel libera as partes senão da dívida correspondente a certo período, continuando o vínculo contratual até que ocorra uma causa extintiva. 
Também aqui se incluem os contratos de prestação de serviços, o de locação de coisas e o de fornecimento de matéria-prima, pois as prestações, como consequência do ato negocial, só poderão ser realizadas em tempo futuro e periodicamente.
q) Pessoais ou intuito personae: São aqueles em que a pessoa do contraente é considerada pelo outro como elemento determinante de sua conclusão. 
A pessoa do contratante, nesses contratos, tem influência decisiva no consentimento do outro, que tem interesse em que as obrigações contratuais sejam por ele cumpridas, por sua habilidade particular, competência, idoneidade, etc..
r) Impessoais: São aqueles em que a pessoa do contratante é juridicamente indiferente. Pouco importa quem execute a obrigação; o único objetivo é que a prestação seja cumprida.
s) Principais: São os que existem por si, exercendo sua função e finalidade independentemente de outro.
t) Acessórios: São aqueles cuja existência jurídica supõe a existência do principal, pois visam a assegurar a sua execução. Exemplo disso é a fiança, contrato estabelecido para garantir a locação, que é contrato principal, motivo pela qual a fiança não subsiste sem a locação. 
3. DA INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS
O contrato, como todo negócio jurídico, decorre de manifestação de vontade dos contratantes, e visa a realizar certo objetivo, criando direito subjetivo, com base em norma jurídica, e impondo, por outro lado, obrigações jurídicas.
Dele nasce, portanto, uma situação jurídica inteiramente nova. Infere-se daí a grande semelhança entre contrato e lei: ambos decorrem de atos volitivos e ambos são normas de direito, gerando efeitos análogos, distintos apenas pela sua extensão.
O contrato, por ser originário de declaração de vontade, requer, como a lei, uma interpretação, dada a possibilidade de conter cláusula duvidosa ou qualquer ponto obscuro ou controvertido.
A interpretação do contrato é indiscutivelmente similar à da lei, podendo-se até afirmar que há certa coincidência entre as duas.
Além de se analisar o contrato e suas cláusulas, dever-se-á examinar a intenção comum das partes contratantes. 
A atividade interpretativa do contrato é uma operação difícil, que requer saber e prudência, devendo o intérprete guiar-se pelo sentimento jurídico, que o impedirá de cair em interpretações alheias à vida jurídica.
Dever-se-á buscar, na tarefa de interpretação contratual, os princípios da boa-fé objetiva (Art. 422) e o da conservação ou do aproveitamento do contrato, procurando presumir que os contratantes agiram com probidade e fazendo com que, havendo dúvida, prevaleça a diretriz interpretativa conducente à produção de algum efeito ou à sua exequibilidade. 
O Código Civil contém cinco normas interpretativas, não tendo nenhum capítulo relativo à interpretação do contrato:
Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção do que ao sentido literal da linguagem.
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Assim, o intérprete do sentido negocial não deverá ater-se, unicamente, à exegese do contrato, isto é, ao exame gramatical de seus termos, mas, sim, à fixação da vontade dos contraentes, procurando seus efeitos jurídicos, indagando sua intenção, sem se vincular, estritamente, ao teor linguístico do ato negocial. 
O intérprete deverá reconstituir o ato volitivo dos contratantes, pesquisando qual teria sido a sua real intenção e os fins econômicos visados por eles, corrigindo sua manifestação, escrita ou verbal, erroneamente expressa (RT-518:229, 510:133, 115:717, 125:573, 146:703).
Os contratos benéficos ou gratuitos deverão ser interpretados restritivamente, isto é, o juiz não poderá dar aos contratos interpretação ampliativa, devendo limitar-se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes, vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto.
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
A fiança se dará por escrito e não admitirá interpretação extensiva (RT-476:157, 489:240, 663:136, 715:217, 799:283), de modo que ofiador só responderá pelo que estiver expresso no instrumento da fiança (RT-463:134, 525:162, 530:157), e se alguma dúvida houver, deverá ser solucionada em favor dele.
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
Os negócios jurídicos deverão ser interpretados conforme a boa fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Nos contratos por adesão, com cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (RT-194:709, 144:691, 142:620).
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
A Lei n. 8.078/90, no Art. 47, dispõe que as cláusulas contratuais deverão se interpretadas de modo mais favorável ao consumidor�.
A Lei n. 9.610/98, no Art. 4o., prescreve que “interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais”.
Em relação aos contratos, é preciso ater-se à boa-fé, às necessidades do crédito e à equidade (RT-145:652, 180:663).
Nos contratos ou nas cláusulas que contiverem palavras que admitam dois sentidos, deve-se preferir o que mais convenha à sua natureza e ao seu objeto, de modo que possa produzir efeito jurídico; enfim, interpretar-se-á em atenção ao que é exequível (RT-144:691).
Nos contratos de compra e venda, no que se atina à extensão do bem alienado, deve-se interpretar em favor do comprador (RT-158:194), porém todas as dúvidas deverão ser interpretadas contra o vendedor (RT-159:173).
No caso de ambiguidade do texto contratual, dever-se-á interpretá-lo de conformidade com o costume do país ou do lugar em que foi estipulado.
No que concerne a vocábulo que se encontre no final de uma frase contida no contrato ou em qualquer de suas cláusulas, dever-se-á interpretá-lo como parte da frase toda e não somente da que precede imediatamente, desde que compatível, em gênero e número, com toda a frase.
Na interpretação gramatical, considerar-se-ão as normas jurídicas correspondentes.
Nas estipulações negociais, dever-se-á interpretar do modo menos oneroso para o devedor.
Em relação aos termos do contrato, considerar-se-á que, por mais genéricos que sejam, só abrangem os bens sobre os quais os interessados contrataram e não os de que não cogitaram.
No conflito entre duas cláusulas contratuais, a antinomia prejudicará o outorgante e não o outorgado.
Nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que se deve favorecer quem se obriga (RT-142:620 e 194:709).
Nas cláusulas contratuais que apresentarem modalidades impostas pelos usos locais ou usos do respectivo negócio, examinar-se-á se a cláusula duvidosa tem o sentido de qualquer desses usos.
No que concerne às cláusulas do contrato, estas deverão ser interpretadas uma pelas outras, quer sejam precedentes, quer sejam seguintes uma às outras, isto é, dever-se-á considerá-las em conjunto e não isoladamente (RT-147:194).
Nas cláusulas inscritas nas condições gerais do contrato, formuladas por um dos contratantes, como ocorre nos contratos por adesão, interpretar-se-á, havendo dúvida, em favor do aderente (RT-237:654, 546:106).
Nos contratos gratuitos, a interpretação deve proceder-se no sentido de fazê-lo o menos pesado possível para o devedor, e, nos onerosos, no de alcançar um equilíbrio equitativo entre os interesses das partes.
Na dúvida sobre a gratuidade ou onerosidade do contrato, presumir-se-á esta e não aquela.
Nas convenções que tiverem por objeto uma universalidade de coisas, compreendem-se nela todos os bens particulares que a compõem, mesmo aqueles de que os contraentes não tiverem conhecimento.
Nos contratos quer contiverem expressões que de modo algum possam ter qualquer sentido, estas deverão se rejeitadas como se nunca tivessem sido escritas.
No contrato de locação que apresentar dúvidas, será mister resolvê-las contra o locador (RT-200:306, 204:173).
Na dúvida entre cláusula impressa e datilografada, prevalecerá a segunda.
No contrato, dever-se-á interpretar em favor do promitente e contra o estipulante que, podendo ser claro, não o foi (RT-178:277, 182:283, 185:839, 194:709, 214:436).
No contrato, a melhor interpretação é a que atende à conduta dos contraentes, ou seja, ao modo pelo qual eles o vinham executando anteriormente, de comum acordo, pois a observância do ato negocial é uma das melhores formas de demonstrar a interpretação autêntica da vontade das partes, servindo de guia para solucionar as dúvidas lançadas por qualquer delas (RT-166:815).
No contrato seguido de outro, que o modifica parcialmente, a interpretação deverá considerar ambos como um todo orgânico.
Em caso de haver má-fé do contratante, contra ele dever-se-á interpretar a cláusula, cujo vício ou obscuridade teve origem em sua culpa.
4. DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
Vontade
A manifestação de vontade é o primeiro e mais importante requisito de existência do negócio jurídico. A vontade humana se processa inicialmente na mente das pessoas. É o momento subjetivo, psicológico, representado pela própria formação do querer.
O momento subjetivo é aquele em que a vontade se revela por meio da declaração. Somente nesta fase ela se torna conhecida e apta a produzir efeitos nas relações jurídicas. 
Por isso se diz que, a rigor, é a declaração da vontade, e não ela própria, que constitui requisito de existência dos negócios jurídicos e, consequentemente, dos contratos.
Silêncio
A manifestação de vontade pode ser expressa ou tácita. Será tácita quando a lei não exigir que seja expressa. Expressa é exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mímica, de forma inequívoca.
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
O silêncio pode se interpretado como manifestação tácita da vontade quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa, e também quando a lei autorizar (doação pura, venda a contento, praxe comercial, etc.), ou ainda quando tal efeito ficar convencionado em um pré-contrato. Nesses casos o silêncio é considerado circunstaciado ou qualificado.
Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.
Art. 512. Não havendo prazo estipulado para a declaração do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Negociações preliminares
Contrato resulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação. A primeira, também chamada de oferta ou policitação, dá início à formação do contrato e não depende, em regra, de forma especial.
Nem sempre, no entanto, o contrato nasce instantaneamente de uma proposta seguida de uma imediata aceitação. 
Na maior parte das vezes a oferta é antecedida de uma fase, às vezes prolongada, de negociações preliminares, caracterizada por sondagens, conversações, estudos e debates, também denominada de ‘fase de puntuação’.
Nesta, como as partes ainda não manifestaram a sua vontade, não há nenhuma vinculação ao negócio. 
Qualquer delas pode afastar-se, simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim não há vinculação das pessoas. 
Tal responsabilidade só ocorrerá se ficar demonstrada a deliberada intenção, com a falsa manifestação de interesse, de causar dano ao outro contraente,levando-o, por exemplo, a perder outro negócio ou realizando despesas.
O fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada não é, nesse caso, o inadimplemento contratual, mas a prática de um ilícito civil.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, obrigações para qualquer dos participantes, elas fazem surgir, entretanto, deveres jurídicos para os contraentes, decorrentes da incidência do princípio da boa-fé, sendo os principais os deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção e cuidado e de sigilo. 
A violação desses deveres durante o transcurso das negociações é que gera a responsabilidade do contraente, tenha sido ou não celebrado o contrato. 
Isso ocorre quando um deles induzir o outro à crença de que o contrato será celebrado, levando-o a despesas ou a não contratar com terceiro, etc., e depois recuar, causando-lhe dano. Essa responsabilidade tem, porém, caráter excepcional.
Portanto, o Art. 422, do Código Civil, não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé, nas fases pré e pós-contratual.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Proposta
Conceito e características
Nem toda iniciativa ou manifestação de vontade, no sentido de dar vida a um contrato, é oferta em sentido técnico, mas só a declaração de vontade dirigida por uma parte à outra, com a intenção de provocar uma adesão do destinatário, é proposta.
A oferta traduz uma vontade definitiva de contratar nas bases oferecidas, não estando mais sujeita a estudos ou discussões, mas dirigindo-se à outra parte para que a aceite ou não, sendo, portanto, um negócio jurídico unilateral, constituindo elemento da formação contratual.
Pode-se dizer, então, que ‘proposta’, ‘oferta’, ‘policitação’ ou ‘oblação’ é uma declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa à outra (com quem pretende celebrar contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar.
Distingue-se das negociações preliminares, que não têm esse caráter e não passam de estudos e sondagens, sem força obrigatória.
A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento, prazo de validade, etc.. Deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente. 
Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio, necessários ao esclarecimento do destinatário e representando a vontade inquestionável do proponente.
A força vinculante da oferta
Dispõe o Art. 427, do Código Civil:
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
Portanto, desde que séria e consciente, a proposta vincula o proponente. 
A obrigatoriedade da proposta consiste no ônus, imposto ao proponente, de mantê-la por tempo certo a partir de sua efetivação e de responder por suas consequências, por acarretar, no oblato, uma fundada expectativa de realização do negócio, levando-o, muitas vezes, a elaborar projetos, a efetuar gastos, a promover liquidação de negócios e cessação de atividades, etc..
A lei abre, entretanto, várias exceções a essa regra. Dentre elas não se encontram, todavia, a morte ou a interdição do policitante. 
Nesses dois casos, respondem, respectivamente, os herdeiros e o curador do incapaz pelas consequências jurídicas do ato. Com efeito, a morte intercorrente não desfaz a promessa, que se insere como elemento passivo da herança. 
A proposta se transmite aos herdeiros como qualquer outra obrigação. Estes somente poderão retratar-se na forma do Art, 428, IV, do Código Civil.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
4.4.3. Proposta não obrigatória
As exceções referidas no item anterior encontram-se na segunda parte do Art. 427: “[...] se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”.
A oferta não obriga o proponente, em primeiro lugar, “se contiver cláusula expressa a respeito”. É quando o próprio proponente declara que não é definitiva e se reserva o direito e retirá-la. 
Muitas vezes a aludida cláusula contém os dizeres: “proposta sujeita a confirmação” ou “não vale como proposta”. Neste caso, a ressalva se incrusta na proposta mesma e o aceitante, ao recebê-la, já a conhece e sabe da sua não-obrigatoriedade. 
Se ainda assim a examinar e estudar, será com seu próprio risco, pois não advirá nenhuma consequência para o proponente se optar por revogá-la, visto que estará usando a faculdade que a si mesmo se reservou.
Em segundo lugar, a proposta não obriga o proponente em razão da natureza do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público, que se consideram limitadas ao estoque.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
E por último, a oferta não vincula o proponente em razão das circunstâncias do caso. Não são portanto, circunstâncias quaisquer, mas aquelas a que a lei confere esse efeito.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.
A proposta deixa de ter um poder vinculante a quem a faz na hipótese de conter evidente erro material na veiculação do seu anúncio.�
A oferta no Código de Defesa do Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) regulamenta, nos art. 30 a 35, a proposta nos contratos que envolvem relações de consumo. 
Preceituam eles que deve ser séria, clara e precisa, além de definitiva, como também o exige o Código Civil. Entretanto, naquele a oferta é mais ampla, pois normalmente dirige-se a pessoas indeterminadas. 
No tocante aos efeitos, a recusa indevida de dar cumprimento à proposta dá ensejo à execução específica, consistindo opção exclusiva do consumidor a resolução em perdas e danos. 
Além de poder preferir a execução específica (CDC, Art. 35, I), o consumidor pode optar por, em seu lugar, “aceitar outro produto ou prestação de serviços equivalente” ou, ainda, por “rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos” (CDC, Art. 35, II e III).
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituiçãode quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
O Art. 34, do CDC, por sua vez, estabelece solidariedade entre o fornecedor e seus prepostos ou representantes autônomos.
Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.
Em conformidade com o Art. 30, do CDC, toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio e comunicação, com relação a produtos ou serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor, integrando o contrato. 
A oferta deve ser clara, precisa, veiculada em língua portuguesa e de fácil entendimento.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
A proposta aberta ao público, por meio de exibição de mercadorias em vitrines, catálogos, anúncios nos diversos meios de divulgação, vincula o ofertante.
O fornecedor deve assegurar não apenas o preço e as características dos produtos e serviços, mas também as quantidades disponíveis em estoque. 
Deve, assim, atender à clientela nos limites do estoque informado, sob pena de responsabilidade.
Aceitação
Conceito e espécies
Aceitação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade imprescindível para que se repute concluído o contrato, pois somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se transforma em contrato. 
A aceitação consiste, portanto, na formulação da vontade concordante do oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida.
Para produzir o efeito de aperfeiçoar o contrato, a aceitação deve ser pura e simples. Se apresentada fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, importará nova proposta, comumente denominada ‘contraproposta’. 
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
Como a proposta perde a força obrigatória depois de esgotado o prazo concedido pelo proponente, a posterior manifestação do solicitado ou oblato também não obriga o último, pois aceitação não há, e, sim, nova proposta. 
O mesmo se pode dizer quando este não aceita a oferta integralmente, introduzindo-lhe restrições ou modificações.
A aceitação pode ser ‘expressa’ ou ‘tácita’. A primeira decorre de declaração do aceitante, manifestando a sua anuência. A segunda, de sua conduta, reveladora do consentimento.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Se, por exemplo, um fornecedor costuma remeter os seus produtos a determinado empresário, e este, sem confirmar os pedidos, efetua os pagamentos, instaura-se uma praxe empresarial. 
Ainda com relação a situação ‘b’, do art.. 432, há a hipótese do turista que remete um fax a determinado hotel, reservando acomodações, informando que a chegada se dará em tal data, se não receber aviso em contrário. 
Não chegando a tempo a negativa, reputar-se-á concluído o contrato.
4.5.2. Hipótese de inexistência de força vinculante da aceitação
Embora o contrato se aperfeiçoe com a aceitação, o Código Civil trata de duas hipóteses em que tal manifestação de vontade deixa de ter força vinculante:
Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente (Art. 430, primeira parte, do CC);
Se antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante. Verifica-se que a lei permite também a retratação da aceitação. Neste caso, a declaração da vontade, que continha a aceitação, desfez-se antes que o proponente pudesse tomar qualquer deliberação no sentido da conclusão do contrato.
5. LUGAR EM QUE REPUTA CELEBRADO O CONTRATO
5.1. Contrato entre presentes
Se o contrato for realizado ‘entre presentes’, a proposta poderá estipular ou não prazo para a aceitação. Se o policitante não estabelecer nenhum prazo, esta deverá ser manifesta imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculativa. 
Se, no entanto, a policitação estipulou prazo, a aceitação deverá operar-se dentro dele, sob pena de desvincular-se o proponente.
5.2. Contratos entre ausentes
A dificuldade para se precisar em que momento se deve considerar formado o contrato aparece na avença ‘entre ausentes’, efetivado por correspondência, com ou sem a intervenção dos serviços de correio. 
Divergem os autores a respeito do momento em que a convenção se reputa concluída. Para a ‘teoria da informação’ ou da ‘cognição’, é o da chegada da resposta ao conhecimento do policitante, que se inteira de seu teor. 
Tem o inconveniente de deixar ao arbítrio do proponente abrir a correspondência e tomar conhecimento da resposta positiva. 
Não basta a correspondência ser entregue ao destinatário. O aperfeiçoamento do contrato se dará somente no instante em que o policitante abri-la e tomar conhecimento do teor da resposta.
A segunda teoria, a da ‘declaração’ ou da ‘agnição’, subdivide-se em três: 
da declaração propriamente dita
O instante da conclusão coincide com o da redação da correspondência. Obviamente, tal entendimento não pode ser aceito, porque além da dificuldade de se comprovar esse momento, o consentimento ainda permanece restrito ao âmbito do aceitante que pode destruir a mensagem em vez de remetê-la.
da expedição
Não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato. É considerada a melhor, embora não seja perfeita, porque evita o arbítrio dos contraentes e afasta dúvidas de natureza probatória.
da recepção
Exige que além de escrita e expedida, a resposta tenha sido entregue ao destinatário. Distingue-se da teoria da informação porque esta exige não só a entrega da correspondência ao proponente, como também que este tenha aberto e tomado conhecimento de seu teor.
O Código Civil acolheu expressamente a ‘teoria da expedição’, ao afirmar que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Observa-se que há três exceções à regra de que o aperfeiçoamento do contrato se dá com a expedição da resposta.
Lugar da celebração
Dispõe o Art. 435, do Código Civil:
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
Denota-se que o legislador preferiu a uniformização de critérios, levando em conta o local em que o impulso inicial teve origem. Ressalve-se que, dentro da autonomia da vontade, podem as partes eleger o foro competente (foro de eleição) e a lei aplicável à espécie.�
5.4. Formação dos contratos pela Internet
Contrato eletrônico é aquele celebrado por meio de programas de computador ou aparelhos com tais programas. 
Dispensa a assinatura ou exige assinatura codificada ou senha. A segurança de tais contratos vem sendo desenvolvida por processos de codificação secreta, chamados de criptologia ou encriptação. 
Tal método vem sendo aperfeiçoado, porque foi verificado que certos técnicos mal-intencionados (hackers), conseguem descobrir as senhas e penetrar nas contas ou operações secretas, inclusive transferindo dinheiro de contas bancárias.
A Medida Provisória n. 2.200, de 28/06/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, como a garantia da comunicação com os órgãos públicos por meios eletrônicos, disciplina a questãoda integridade, autenticidade e validade dos documentos eletrônicos.
No entanto, o contrato de consumo eletrônico internacional obedece ao disposto no Art. 9o., § 2o., da Lei de Introdução do Código Civil, que determina a aplicação, à hipótese, da lei do domicílio do proponente. 
Por essa razão, se um brasileiro faz a aquisição de algum produto oferecido pela Internet, por uma empresa estrangeira, o contrato então celebrado rege-se pelas leis do país do contratante que fez a oferta ou proposta.
O empresário brasileiro que anunciar os seus produtos no comércio virtual deve atentar para as normas do nosso Código de Defesa do Consumidor, especialmente quanto aos requisitos da oferta. 
Podem ser destacadas as que exigem informações claras e precisas do produto, em português, sobre o preço, qualidade, garantia, prazos de validade, origem e eventuais riscos à saúde ou segurança do consumidor (Art. 31), e as que se referem à necessidade de identificação dos fabricantes pelo nome e endereço (Art. 33). 
Se as informações transmitidas são incompletas ou obscuras, prevalece a condição mais benéfica ao consumidor (Art. 30 e 47). 
E, se não forem verdadeiras, configura-se vício de fornecimento, sendo que a disparidade entre a realidade do produto ou serviço e as constantes na mensagem publicitária, caracteriza vício de qualidade (Art. 18 e 20).
Anote-se que essas cautelas devem ser tomadas pelo anunciante e fornecedor dos produtos e serviços, como único responsável pelas informações veiculadas, pois nem o titular do estabelecimento eletrônico onde é feito o anúncio, nem o provedor de cesso à Internet, não responde pela irregularidade.
O Código Civil, em harmonia com o Art. 9o., da Lei de Introdução ao Código Civil, estabelece que o direito aplicável aos contratos em geral é aquele do lugar de onde emanou a proposta, a teor do Art. 435.
É certo, porém, que o Código de Defesa do Consumidor dispõe que consumidores brasileiros têm o direito de promover ações fundadas na responsabilidade do fornecedor perante o foro de seu próprio domicílio. 
Desse modo, o consumidor poderia promover a ação no Brasil, mas o direito a ser aplicado pela corte brasileira teria que ser do país de onde se originou a proposta.
Como se pode perceber, essa situação traz inúmeros problemas.
6. DAS ESTIPULAÇÕES EM FAVOR DE TERCEIRO
Conceito
Dá-se a estipulação em favor de terceiro quando uma pessoa convenciona com outra que concederá uma vantagem ou benefício a outra pessoa, que não é parte no contrato. 
Nela, como se vê, figuram três personagens: o estipulante, o promitente e o beneficiário; este último estranho à convenção. Por conseguinte, a capacidade só é exigida dos dois primeiros, pois qualquer pessoa pode ser contemplada com a estipulação, seja ou não capaz.
O Art. 793, do Código Civil, todavia, interpretando ao contrário, estabelece uma restrição, nos contratos de seguro, proibindo a instituição de beneficiário inibido de receber a doação do segurando, como a concubina.
A peculiaridade da estipulação em favor de terceiros está em que estes, embora estranhos ao contrato, tornam-se credores do promitente, independentemente do consentimento deste, muito embora tenha a faculdade de recusá-la.
Natureza jurídica
Diverge a doutrina a respeito da natureza jurídica da estipulação em favor de terceiro. Várias teorias são propostas para defini-la. 
A primeira e mais simples é a da ‘oferta’, segundo a qual a estipulação em questão não passa de mera proposta ou oferta, dependente de aceitação do terceiro beneficiário. O contrato só surge com a anuência deste.
Alguns vislumbram na estipulação em favor de terceiro uma ‘gestão de negócio’, que é espécie de ato unilateral pelo qual alguém, sem autorização do interessado, intervém na administração de negócio alheio, sem mandato, no interesse deste (Art. 861, CC).
Há, em terceiro lugar, quem considera a estipulação em favor de terceiro uma ‘declaração unilateral de vontade’
Aparece em quarto lugar a ‘teoria do direito direto’, que reconhece a natureza contratual na estipulação, afirmando que o terceiro não participante do negócio jurídico recebe a repercussão de seus efeitos, sendo o benefício prometido uma espécie de contrato acessório.
A teoria mais aceita, finalmente, é que considera a estipulação em favor de terceiro um ‘contrato sui generis’, pelo fato de a prestação não ser realizada em favor do próprio estipulante, como seria natural, mas em benefício de outrem que não participa da avença.
O terceiro não precisa ser desde logo determinado. Basta que seja determinável, podendo mesmo ser futuro, como a prole eventual.
Tem diversas aplicações práticas, especialmente no campo do seguro, em várias de suas modalidades, em que o segurado (estipulante) convenciona com o segurador (promitente) pagar ao beneficiário (terceiro) o valor ajustado, em caso de sinistro.
É bastante frequente em caso de separações judiciais consensuais, nas quais o cônjuge varão promete à varoa, por exemplo, transferir determinado imóvel para o nome dos filhos, bem como nas doações onerosas ou modais, quando o donatário se obriga com o doador a executar o encargo a benefício de pessoa determinada ou determinável.
Ocorre, também, na ‘constituição de renda’, pela qual o promitente recebe do estipulante um capital e obriga-se a pagar, a terceiro, uma renda por tempo certo ou pela vida toda.
A regulamentação da estipulação de terceiro no Código Civil
A disciplina da estipulação em favor de terceiro encontra-se nos Art. 436 a 438, do Código Civil.
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.
7. DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO
7.1. Conceito
Prescreve o Art. 439, do Código Civil:
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.
Trata-se do denominado ‘contrato por outrem ou promessa de fato de terceiro’. O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. Isso porque ninguém pode vincular terceiro a uma obrigação. 
As obrigações têm como fonte somente a própria manifestação da vontade do devedor, a lei ou eventual ato ilícito por ele praticado.
Aquele que promete fato de terceiro assemelha-se ao fiador, que assegura a prestação prometida. 
Se alguém, por exemplo, prometer levar um cantor de renome a uma determinada casa de espetáculos ou clube, sem ter obtido dele, previamente, a devida concordância, responderá por perdas e danos perante os promotores do evento, se não ocorrer a prometida apresentação na ocasião anunciada. Se o tivesse feito, nenhuma obrigação haveria para quem fez a promessa.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.
Inovações introduzidas pelo Código Civil
O Código Civil de 2.002, depois de reproduzir, com idêntica redação, o Art. 929, do Código Civil de 1.916, editou duas regras novas para completar o capítulo em pauta. A primeira veio compor o § único, do Art. 439, recebendo a seguinte redação:
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde

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