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TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA A tratativa dada às turbinas é similar à destinada às bombas. Uma vez que tratamos de transformação de energia mecânica em hidráulica e vice‐versa, as únicas diferenças serão os conceitos (designações) envolvidos, mas os princípios fundamentais são os mesmos. A seção de saída "3“ da figura a seguir nas turbinas chama‐se tubo de sucção. Ao considerar a saída (“3”) após o tubo de sucção, esta região torna‐se parte integrante da máquina, participando da transformação de energia. É razoável considerar que do ponto “3” ao ponto “4” não há perda de energia, logo, ao utilizar Bernoulli, as energias nos dois pontos podem ser consideradas iguais. Esquema de turbina de reação Altura estática de sucção (Hgeos) É a diferença de nível entre o centro do rotor e o nível de jusante. A Figura mostra algumas posições de turbinas e respectivas alturas estáticas de sucção. Altura estática de sucção para turbinas (adaptado de: Souza et al., 1983) Altura de queda bruta (Hgeo) É a queda topográfica, ou diferença de cotas entre os níveis de captação da água e o poção, ou canal de fuga, quando a turbina está fora de operação (Q=0). Hgeo = z1 −z4 Altura de Queda (H) A altura de queda é a porção da altura de queda bruta aproveitada pela turbina, ou seja, a diferença entre a energia na entrada e na saída da turbina. A porção da queda bruta não aproveitada pela turbina é aquela consumida por atrito hidrodinâmico ao longo da tubulação forçada. Para calculá‐la são possíveis dois métodos, no primeiro, considera‐se que é a energia de queda bruta menos as perdas de carga da tubulação forçada (Hpctf). Com base neste método, OBS.: Outras nomenclaturas: queda disponível, altura efetiva, queda efetiva, altura de queda útil (net head). Altura Disponível ou Queda Hidráulica Disponível Representa a energia disponível na entrada da turbina. H = Hb −H p Queda disponível nominal - Hn Queda disponível H para a qual o rendimento da turbina é máximo na rotação prevista. Com o distribuidor totalmente aberto, a vazão de admissão é plena e a turbina opera a potência máxima. Altura ou Queda Útil Energia na saída da turbina, disponível para o gerador. É avaliada como a altura de queda motriz menos as perdas mecânicas dissipada pelos mancais e equipamentos auxiliares acoplados a árvore da turbina. H u =H motriz−J mec = H −(J h + J m ), Jm representa as perdas mecânicas na turbina. Altura Motriz ou Queda Motriz Representa a energia hidráulica realmente fornecida para a turbina. Determina-se com a queda disponível menos as perdas hidráulicas no sistema: H m= H −J h A perdas hidráulicas são compostas pelas perdas por atrito e perdas volumétricas. Jh=Jatrito+Jvol. Jatrito- Dissipação de energia por atrito no interior da turbina. Perda de carga na turbina. Jvol- Dissipação de energia por vazamentos entre o rotor e a carcaça da turbina. Perdas volumétricas. A outra forma é o chamado processo manométrico, que leva em conta as análises de energia na entrada e saída da máquina. Neste enfoque, verifica‐se quanto o fluido entregou de energia à turbina. Porém, só é possível o cálculo desta forma para instalações em funcionamento. Desta forma, a conceituação da altura de queda de um aproveitamento hidroelétrico, composto de uma turbina de reação e demais equipamentos complementares, é feita através do balanço de energia entre as seções de entrada e saída da máquina, ou de outra forma. Aplicando o trinômio de Bernoulli entre 3 e 4, é razoável supor que não existe perda neste trecho, logo: Pode‐se usar o ponto “4” para calcular a altura de queda, e lembrando que p4=patm=0 (pressão manométrica), e a cota z4=0, logo, Para turbinas de ação, aplica‐se a equação de energia entre os pontos “2” e “3”, considerando que o ponto “3” está localizado na linha de “2”, logo após transferir a energia para a pá do rotor. Sabendo que p3=patm=0 (manométrica), que V3=0, que z2=z3, resulta: Sabendo que p3=patm=0 (manométrica), que V3=0, que z2=z3, resulta: Esquema de turbina de ação PERDAS E RENDIMENTOS Na transformação da energia hidráulica em trabalho mecânico nem toda energia é realmente convertida de uma forma em outra, como seria o ideal, existindo uma parcela desta energia que acaba sendo perdida em processos irreversíveis, que degradam formas de energia mais nobres (mecânica) em formas de energia de qualidade inferior (calor e energia interna). Estas perdas que ocorrem nas turbinas podem ser classificadas como internas e externas. As internas estão localizadas no interior da carcaça da máquina, resultado da movimentação do fluido nesta região. As externas são as encontradas fora da carcaça, como o atrito do eixo com mancais, anéis de vedação e outras, que não estão relacionadas com o movimento do fluido em seu interior. Dentre as possíveis perdas que ocorrem, as mais significativas são: • Hidráulicas (perda interna) • Volumétricas (perda interna) • Mecânicas (perda externa) Perdas A seguir serão analisadas cada uma dessas perdas e a forma de estimar seus valores. Perdas Hidráulicas Ocorrem dentro das turbinas desde a seção de entrada até a de saída e são as mais significativas. São provocadas pelo: • atrito de superfície entre o fluido e as paredes da máquina (canais de rotor e sistema diretor); • deslocamento de camada limite provocado pela forma dos contornos internos das pás, aletas e outras partes constitutivas; • pela dissipação de energia por mudança brusca de seção e direção dos canais que conduzem o fluido através da máquina; e • pelo choque do fluido contra o bordo de ataque das pás, que ocorre quando a máquina funciona fora do ponto nominal (ponto de projeto). Estas perdas devem ser consideradas nos cálculos das alturas de queda, resultando: • “Ht“ é a altura de queda/elevação teórica desenvolvida pelo rotor; • “H” é a altura de queda/elevação; • “Jh” é a altura de perda de pressão; e O rendimento hidráulico considera as perdas de pressão no interior da máquina. Como é muito difícil a obtenção do termo “Jp” na eq.6.6, faz‐se uma relação que define o rendimento hidráulico (hydraulic efficiency) o que permite avaliar as perdas. Altura da Perda de Carga - Hp • Representa a parda de carga no sistema composta por a perda de carga dos acessórios e da tubulação. No caso de centrais hidrelétricas a perda de carga por tubulação é obtida utilizando a equação de HazenWilliams definida como: Perdas Volumétricas São as perdas que ocorrem devido à “fuga” de fluido pelos espaços entre o rotor e a carcaça, e entre a carcaça e o eixo, nos labirintos das turbomáquinas. Estas perdas não afetam muito a altura de queda. Os labirintos são os espaços entre o rotor/carcaça e eixo/carcaça da máquina, sendo sua função evitar o atrito sólido (contato) entre estas partes e ao mesmo tempo minimizar a fuga de fluido. São formados por anéis de desgaste renováveis, alojados na parte fixa da máquina ou no rotor, ou em ambos. Estes anéis permitem diminuir a folga e substituição destas partes quando gastos, sem que esse desgaste afete diretamente as partes fixas e móveis da máquina. Os anéis de desgaste são em geral de materiais menor resistentes que o da máquina. Alguns tipos de labirintos Verificando é possível identificar dois pontos de fuga de fluido. Uma parcela (qe) se dá pelo labirinto “Lae” para fora da máquina (eixo/carcaça), e em geral é muito pequena dependendo do labirinto utilizado entre o eixo e a caixa da máquina (engaxetamento ou selo mecânico), podendo ser muitas vezes desprezada. A outra perda (qi) se dá pelo labirinto (Lai) entre o rotor e a carcaça. Esta fuga ocorre no sentido da região de alta pressão para a de baixa pressão, ou seja, nas turbinas ocorre antes de chegar ao rotor, sendo queesta parcela de fluido não participa da transferência de energia. Esquema de perdas por fuga de fluido pelos labirintos nas máquinas de fluxo Desta forma a vazão que realmente passa pelo rotor e participa efetivamente das trocas de energia: • “Qt“ é a vazão teórica • “Q” é a vazão considerada no cálculo das alturas de queda e elevação • “qi” é a vazão perdida Considera as perdas por fuga de fluido e para determinar isto é: Perdas mecânicas São as perdas externas e representam principalmente as perdas por atrito em mancais, gaxetas e atrito do ar nos acoplamentos e volantes de inércia. Para as turbinas deve‐se considerar ainda as perdas devido ao consumo de energia do regulador de velocidades. Como as perdas mecânicas são de difícil quantificação, utiliza‐se o conceito de rendimento mecânico para estimá‐la. Rendimento total A potência efetiva relaciona‐se com a potência hidráulica através do rendimento total da instalação, que é sempre menor que 1. Como é difícil a determinação das perdas, é usual adotar‐se outra grandeza denominada de rendimento total, a qual permite avaliar estas perdas. A tabela mostra os rendimentos orientativos para turbinas: Rendimento do gerador (ηge) Tem a relação mostrada a seguir e fica na faixa de 90 a 97%. Rendimento da transmissão (ηTR) O rendimento da transmissão diz respeito às perdas provocadas pela potência entregue pelo eixo da turbina e a potência recebida pelo gerador. Neste processo pode‐se ter perdas caso a transmissão seja feita por polias e correias, ou outro elemento de transmissão que possa ser usado. Rendimento de geração (ηG) O rendimento de geração está relacionado com as perdas no gerador, que fazem com que a potência elétrica entregue pelo gerador seja diferente da potência recebida por este. Rendimento global (ηG) de geração de turbinas hidráulicas POTÊNCIAS Potência eficaz (total) Conforme já mencionado é natural que ocorram perdas hidráulicas no interior das máquinas hidráulicas e perdas mecânicas pelo atrito mecânico que ocorrem externamente entre as suas partes fixas e girantes. Assim, nem toda energia cedida ou recebida pelo fluido pode ser transformada em trabalho mecânico no eixo da máquina, tem-se então a potência eficaz ou efetiva é que expressa pela potência entregue/recebida do fluido, mais as potências perdidas no processo. • “Pef“ é a potência eficaz no eixo da máquina • “Pi“ é a potência interna • “Ppm” é a potência perdida mecânica A potência efetiva ou eficaz (Pef) é definida como sendo a potência entregue pela turbina ao. Todas as perdas internas e externas produzem uma perda de potência que reduz a entrega, ou aumenta a necessidade, de potência eficaz das máquinas. Unidades: 1 HP=1,0138 CV = 745,7 W 1 CV = 0,9863 HP = 735,5 W Potência interna (Pi) Considerando somente as perdas internas obtêm‐se a potência interna: Potência hidráulica ou Potência Disponível Aplicando o conceito físico, definimos a potência hidráulica como sendo o produto do peso de fluido que passa através da máquina, na unidade de tempo, pela altura de queda ou elevação; portanto este conceito é útil tanto para bombas como para turbinas hidráulicas: Assim pode‐se escrever: • γ:peso específico em [N/m3] • Q: vazão em volume [m3/s] • H: altura de queda ou elevação [m] • Ph: potência hidráulica [W] • g: gravidade (adota‐se o valor de 9,81 m/s2) • ρ: massa específica [kg/m3] Então, potência hidráulica é a potência entregue à máquina motora (turbina) pelo o fluido. Esta potência difere da potência efetiva devido a perdas que ocorrem nas transformações de energia. Potência bruta Conceito utilizado para turbinas, é a potência contida no desnível topográfico da instalação, sendo uma função da queda bruta. Potência no gerador elétrico Conceito utilizado para turbinas, é a potência elétrica nos terminais do gerador. É a potência hidráulica multiplicada pelo rendimento da turbina (ηt), rendimento de transmissão (ηTR) e rendimento do gerador (ηge). O produto dos três rendimentos é o rendimento global (ηG). Potência no Eixo da Turbina Potência determinada com a potência útil da turbina. Pote =ρgQHu Número de Especifico de Rotações Para selecionar o tipo de turbina adequado para uma determinada queda de água com uma descarga conhecida, podemos utilizar como parâmetro de seleção a denominada rotação específica (nqA). n - Rotações por segundo da turbina - rotações por segundo (rps) Q -Vazão o descarga da turbina (m3/s) H - Q ueda disponível (m) Valores típicos de nqA para diferentes turbinas hidráulicas Fonte: Henn - Máquinas de Fluido -2001 Tipo de turbinas Faixa de nqA Pelton 5 a 70 Francis lenta 50 a 120 Francis normal 120 a 200 Francis rápida 30 a 320 Michell-Banki 30 a 210 Dériaz 200 a 450 Hélice e Kaplan 350 a 1000 Quando se trabalha no sistema técnico de unidades se utiliza a seguinte expressão: Onde: N - Rotações por minuto da turbina (rpm) Q - Vazão o descarga da turbina (m3/s) H - Queda disponível (m) Representa a velocidade de rotação de uma turbina protótipo cujo modelo semelhante opera com parâmetros unitários com Q=1,0 m3/s e H=1,0m. A relação entre ambas velocidades é nqA = 3nq nq é importante já que permite reconhecer que necessitamos uma máquina lenta, normal ou rápida. As turbinas Pelton são máquinas lentas já que operam com bom rendimento em centrais onde o salto é grande e a vazão é pequena, com o qual fornece valores baixos de nq. As turbinas Kaplan são denominadas máquinas rápidas já que operam com bom rendimento em centrais que apresentam baixa altura ou queda e grandes vazões ou descargas fornecendo valores de nq altos. Número Especifico Utilizando a Potência Também existe uma caracterização do tipo de turbina utilizando um número especifico que leva em consideração a potência da turbina definido como: n Rotações por minuto da turbina (rpm) P Potência no eixo da Turbina. (cv) H Queda disponível (m) Representa o número de rpm de um modelo com potência P=1 kW e altura H=1,0m. Tal equação esta relacionada com o número especifico de rotações por minuto. Valores típicos de ns para diferentes turbinas hidráulicas são resumidas na Tabela. A relação entre a rotação especifica da potência (ns) com a rotação especifica nq é dada como: Tipo de Turbina ns Fluxo Cruzado 20 a 90 Turgo 20 a 80 Pelton de 1 jato 10 a 45 Pelton de 2 jatos 10 a 45 Kaplan 350 a 1000 Hélice 600 a 900 Francis 70 a 500 Valores de ns Fonte: Boyle Renewable Energy.1998 EXERCÍCIOS 1. Calcule a altura de queda e a potência efetiva do aproveitamento hidroelétrico esquematizado na Fig.1, sabendo que o rendimento total é de 89% e conhecendo‐se: Vazão de 0,4 m3/s Diâmetro na tubulação de entrada: 300 mm Largura do tubo de sucção na saída: 500 mm Altura do tubo de sucção na saída: 200 mm Velocidade no canal de fuga: desprezível Altura do manômetro: 1 m Determinar a altura de queda e a potência hidráulica da turbina Francis esquematizada pela Figura, sabendo que: Vazão de 56,2 l/s Pressão indicada no manômetro: 3,2 mca Diâmetro da entrada da máquina: 280 mm Velocidade na saída: desprezível Determinar a potência hidráulica e efetiva de uma turbina de ação (Pelton) sendo: Q=150 l/s Pressão do manômetro da entrada: 455 mca Diâmetro externo do injetor na seção de medida de pressão: 30 cm Diâmetro interno do injetor na seção de medida de pressão: 15 cm Correção de instalação do manômetro: desprezível Rendimento total: 85% Determinar a vazão e a altura de queda com que está trabalhando uma turbina radial, da qual são conhecidos apenas os seguintes dados: Potência efetiva no eixo: 15,9 CV Rendimentototal: 79,5% Rendimento hidráulico: 85,8% Altura da pá no rotor na entrada: 0,06 m Ângulo entre as velocidades absoluta e tangencial na entrada: 21,6º Rotação: 750 rpm No aproveitamento hidroelétrico da Figura, deseja‐se saber o valor da vazão turbinada; da perda de carga no medidor de vazão; da perda de carga total na tubulação forçada; e a altura de queda bruta, conhecendo‐se : Pressão na entrada do manômetro: 93,44 mca Velocidade da água no canal de fuga: 0,88 m/s Relação entre as áreas do medidor de vazão e da tubulação forçada: 0,55 Diâmetro do bocal: 0,89 m Diferença de pressão no bocal: 5% de H Relação entre a perda de carga na tubulação forçada e a altura de queda: 0,10 O diâmetro de entrada da turbina é igual ao da tubulação forçada Considerar a diferença de pressão no bocal, como perda de carga
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