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Direitos Reais

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Profª Msc. Samira Daud – Direito Civil IV - 2016 
 
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ROTEIRO DE AULA - DIREITOS REAIS 
 
I. Noções Introdutórias 
 
1- Direitos Reais / Direitos das Coisas / Conceito 
 
 Há grande discussão doutrinária acerca do significado jurídico de “coisa”, ora 
igualando a bem, ora diferenciando. A concepção mais aceita tem sido a de Orlando 
Gomes e Clóvis Beviláqua, que compreende o BEM como um gênero que significa algo 
que tenha valor econômico. Já COISA seria uma espécie de bem caracterizada pela 
materialidade, por ser corpórea, e, ainda, passível de apropriação. A posição de Venosa é 
no sentido de que BEM é espécie de COISA; 
 O Direito das Coisas envolvem o estudo da POSSE e dos DIREITOS REAIS (elenco 
do art. 1225, do CC); 
 Os Direitos Reais tem sido conceituados a relação jurídica de poder exercida pelo 
sujeito sobre a coisa, diretamente e com finalidade econômica; 
 Há uma relação de domínio exercida pela pessoa (sujeito ativo) sobre a coisa, 
existindo um sujeito passivo universal indeterminado (coletividade) 
 Teoria Personalista: teoria pela qual os direitos reais são relações jurídicas 
estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. 
 A Teoria clássica ou realista, que se opõe à escola personalista, diz que o direito 
real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra 
todos. 
 A maioria da doutrina brasileira segue a teoria clássica, embora Caio Mário da 
Silva compreenda que, embora a realista seja mais didática, tecnicamente a personalista 
é a mais perfeita. 
 A contemporaneidade demonstra que o futuro é de uma contratualização de todo o 
direito. 
 O código civil de 2002 não prevê a propriedade literária, sendo esta regulamentada 
pela lei nº 9610/98. 
 
2- Natureza Jurídica 
 
 É um direito subjetivo, pois tutela o interesse do indivíduo. Dentre os direitos 
subjetivos ainda se encontram os direitos pessoais, isto é, os direitos obrigacionais (de 
crédito) e os direitos da personalidade. 
 
3- Características dos Dir. Reais / Distinção Dir. Obrigacionais 
 
DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS 
O objeto da relação jurídica é a coisa O objeto da relação jurídica é a 
prestação 
Eficácia Absoluta (erga omnes) - dever 
geral de abstenção 
Eficácia relativa (inter partes) - entre 
os sujeitos da relação jurídica 
Atributivo (exercido diretamente) Cooperativo (exercido pelo intermédio 
do sujeito passivo da obrigação) 
Exclusivo - Titularidade individual 
(condomínio não é exceção) 
Titularidade individual ou coletiva 
Tendência à perpetuação Transitoriedade 
Direito de Seqüela O patrimônio do devedor é a garantia 
 
Profª Msc. Samira Daud – Direito Civil IV - 2016 
 
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Rol Taxativo (numerus clausus) Rol exemplificativo (numerus apertus) 
Adquiríveis por usucapião Não podem ser adquiridos por 
usucapião 
Objeto determinado Objeto pode ser determinável 
 
Os direitos reais tem os seguintes atributos ou características: 
 
a) Absolutismo: os direitos reais são absolutos porque concedem ao seu titular uma 
verdadeira situação de dominação sobre um objeto. O poder de agir sobre a coisa é 
oponível erga omnes, pois acarreta uma sujeição universal ao dever de ab tenção sobre a 
prática de qualquer ato capaz de interferir na atuação do titular sobre o objeto. 
 
b) Sequela: os direitos reais aderem à coisa, sujeitando-a imediatamente ao poder de seu 
titular, com oponibilidade erga omnes, podendo o titular persegui-lo em poder de 
terceiros onde quer que se encontre. 
A seqüela decorre do absolutismo dos direitos reais, pois se posso exigir de todos um 
dever de abstenção, nada me impede de retirar o bem daquele que viola tal comando. 
 
c) Preferência: consiste no privilégio do titular do direito real em obter o pagamento de 
um débito com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. 
Ex. o credor real prefere aos demais credores; execução concursal (falência – art. 83 da 
lei 11101/2005). 
 
d) Taxatividade: os direitos reais são numerus clausus. O rol do art. 1225 do NCC é 
taxativo. 
Há tb a lei nº 9514/97 – alienação fiduciária de imóveis. 
O NCC inovou no rol; excluiu as rendas constituídas em imóvel; excluiu a constituição de 
novas enfiteuses a partir de 11/01/2003, sendo substituídas pelo direito de superfície ( 
art. 1369 NCC). 
Preserva a enfiteuse nos terrenos de marinha (DEc-lei nº 9760/46 e Lei nº 9636/98) 
Trouxe para o NCC a promessa de compra e venda (art. 1361) e a propriedade fiduciária 
(art. 1417). 
 
4- Classificação (de acordo com o art. 12251) 
 
 Direito real sobre a própria coisa (in re propria): Propriedade (art. 1225, I, do CC). 
É o direito real absoluto, que reúne todas as faculdades inerentes aos direitos reais: 
usar, gozar, dispor e reivindicar; 
 Direitos reais sobre a coisa alheia (in re aliena): Os demais (art. 1225, II a XII). 
Dividem-se em: 
a) Direitos de gozo ou fruição: (art. 1225, II a VI e XI e XII – superfície, servidões, 
usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de 
direito real de uso); 
b) Direitos de garantia: (art. 1 225, VIII, IX e X – penhor, hipoteca e anticrese); 
c) Direito de aquisição (art. 1225, VII – promessa de compra e venda). 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Msc. Samira Daud – Direito Civil IV - 2016 
 
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O art. 1.225 do NCC traz todo o rol dos direitos reais na coisa alheia: 
Art. 1.225. São direitos reais: 
I - a propriedade; 
II - a superfície; (direitos reais na coisa alheia de gozo) 
III - as servidões; (direitos reais na coisa alheia de gozo) 
IV - o usufruto; (direitos reais na coisa alheia de gozo) 
V - o uso; (direitos reais na coisa alheia de gozo) 
VI - a habitação; (direitos reais na coisa alheia de gozo) 
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; (direito real na coisa alheia à aquisição) 
VIII - o penhor; (direito real de garantia) 
IX - a hipoteca; (direito real de garantia) 
X - a anticrese. (direito real de garantia) 
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) 
XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) 
 
 
5- Obrigações Propter Rem (ou Ob Rem ou Mistas) 
6- 
 Figura híbrida entre os direitos reais e os direitos obrigacionais, possuindo 
características de ambos; São obrigações (dever de prestação) que acompanham a coisa, 
independente do titular do direito real; 
 Exemplos: dever de conservação da divisória entre prédios vizinhos (art. 1297, do 
CC); despesas de condomínio (art. 1315, do CC); o IPTU; etc. 
 
 Obrigações propter personae ( água, luz, telefone, etc) 
 
 Obrigações com eficácia real 
 
 Ônus Real 
 
 
 
II. DA POSSE 
 
2.1 Teorias 
 
Existem duas grandes teorias que procuram delimitar o conceito de posse: 
 
a) Teoria Subjetiva de Savigny 
 
Para Friedrich Karl Von Savigny, a posse apresenta dois elementos constitutivos: 
a) Corpus: controle material da pessoa sobre a coisa, podendo dela imedaitamente se 
apoderar, servir e dispor, bem como se opor em face de terceiros. 
b) Animus: é o elemento volitivo, é a intenção do possuidor de exercer o direito como se 
proprietário fosse. 
 
Obs: para esta teoria, o locatário, o comodatário, o depositário não são possuidores. 
Portanto, não gozam de proteção direta, não podendo ingressar com as ações 
possessórias. 
 
 
 
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b) Teoria Objetiva de Ihering 
 
Para Rudolf Von Ihering, a posse é mero exercício da propriedade. A posse é o poder de 
fato e a propriedade o poder de direito. 
Para constituir a posse, basta dispor fisicamente da coisa ou mera possibilidade de 
exercer esse contato.Dispensa a intenção de serdono. 
Fórmula P=Corpus 
Corpus – elemento material; único elemento visível e suscetível de comprovação; atitude 
externa do possuidor em relação à coisa, agindo ele como dono. 
 
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL 
 
Nosso Código Civil adotou a teoria objetiva de Ihering, como se depreende do art. 1196 
do CC. 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de 
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes 
à propriedade. 
O possuidor é aquele que, em seu nome próprio, exterioriza alguma das faculdades da 
propriedade, seja ele proprietário ou não. 
 
Atualmente as teorias de Savigny e Ihering encontram-se envelhecidas e dissonantes da 
realidade social presente e à luz dos direitos fundamentais. Função social da 
propriedade. 
 
2.2 Natureza Jurídica da Posse 
 
A posse é um fato ou um direito? 
Para Ihering é um direito, um interesse legalmente protegido. Segundo Clóvis Beviláqua, 
não é um direito, mas simples fato, que é protegido em atenção à propriedade, da qual 
ela é a manifestação exterior. 
Para Savigny, tem natureza dúplice: é fato e direito. Considerada em si mesmo, é um 
fato. Mas pelas suas conseqüências legais, gerando efeitos, é um direito. 
 
Se é um direito, seria um direito real, pessoal ou especial? 
 
a) Quando o proprietário é possuidor do seu próprio bem, a posse é vista como 
direito real; 
b) Quando emanada de um contrato de locação, promessa de compra e venda ou 
comodato, pode ser relação obrigacional. 
c) Quando a posse é emanada de uma situação fática e existencial, de apossamento 
e ocupação da coisa, tem-se a função social da propriedade. 
 
2.3 Conceito de Posse 
 
Para Ihering, posse é conduta de dono. 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou 
não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. 
 
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Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de 
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de 
ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a 
comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra 
pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como 
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar 
a violência ou a clandestinidade. 
 
2.4 Posse e Detenção – Fámulo de Posse 
Para o direito civil, deter não é possuir. 
Fámulo é o servidor, empregado. Não deve ser confundido com o possuidor, pela 
inteligência do art. 1198. 
O fâmulo de posse detém a coisa apenas em virtude de uma situação de dependência 
econômica ou de um vinculo de subordinação. A lei ressalva não ser possuidor aquele 
que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome 
deste e em cumprimento de ordens e instruções suas. 
Exerce sobre o bem não uma posse própria, mas uma posse de outrem, em nome de 
outrem. Como ao tem posse, não lhe assiste o direito de invocar, em nome próprio, as 
ações possessórias. 
 
Ex. dono de estacionamento, bibliotecária, caseiro, empregados em geral. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como 
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de 
cessar a violência ou a clandestinidade. 
Estes representam um indulgen cia pela prática do ato, mas não cedem direito algum. 
Apenas retiram a ilicitude do ato de terceiro. 
A permissão nasce de uma autorização expressa (verbal ou não) do verdadeiro possuidor 
para que o 3º utilize a coisa. 
A tolerância resulta de consentimento tácito ao seu uso. 
Ambas se caracterizam pela transitoriedade e pela faculdade de supressão de uso, a 
qualquer instante, pelo real possuidor, sem erigir proteção possessória. 
Ex. A permite que B utilize sua vaga de garagem. 
 
2.5 Composse 
 
È a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes 
possessórios sobre a mesma coisa. Trata-se de posse em comum, por duas ou mais 
pessoas, sobre a mesma coisa. 
 
Pode ser decorrente de contrato ou de herança. Neste caso, podem usar livremente a 
coisa, conforme seu destino, e sobre ela exercer seus direitos compatíveis com a 
indivisão. 
 
 
Profª Msc. Samira Daud – Direito Civil IV - 2016 
 
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Qualquer dos compossuidores pode valer-se das ações possessórias ou mesmo da 
legítima defesa para impedir que o outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre 
qualquer fração da comunhão. 
Ex: entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de bens ou entre 
conviventes havendo união estável; entre herdeiros antes da partilha do acervo; 
 
Requisitos: 
a) Pluralidade de sujeitos 
b) Coisa indivisa 
 
Espécies 
a) Composse pro indiviso: as pessoas tem parte ideal do bem. Ex 03 pessoas donas 
de um apto. 
b) Composse pro diviso: embora não haja uma divisão de direito, já existe uma 
divisão de fato, onde cada um sabe onde começa e termna a sua parte da coisa. 
Ex: 03 pessoas possuem uma fazenda. Cada um exerce sua posse na sua parte 
delimitada. 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma 
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros 
compossuidores. 
Extinção da Composse: A composse termina com o reconhecimento da partilha, ou 
seja, a partilha que era somente de fato agora é de DIREITO. 
A composse se extingue pelo término da causa que a originou. 
2.6. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
 
A posse é um poder de fato que se manifesta por atos de uso e fruição sobre a coisa, 
servindo-se o possuidor de suas utilidades econômicas, sem que isso implique conexão 
com o direito de propriedade. 
Os elementos objetivos e subjetivos que permeiam a posse exercem influência sobre sua 
eficácia e proteção jurídica. 
 
A) POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA 
- Posse Direta ou imediata: qd o é exercida por quem detém materialmente a coisa; 
pode físico imediato. 
Ex.: posse exercida pelo proprietário, posse exercida pelo locatário por concessão do 
locador 
- Posse Indireta ou mediata: quando é exercida através de outra pessoa. 
Ex.: proprietário que tem a posse através de inquilino; neste caso há duas posses 
paralelas e reais; a do possuidor direto(locatário) e a do possuidor indireto (proprietário) 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, 
em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, 
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 
Locador – posse indireta 
 
 
 
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 A posse indireta é aquela em que o proprietário concede à outra pessoa o direito de 
possuir. Ex: 
 
 
 
B) POSSE JUSTA E POSSE INJUSTA 
- Posse Justa: é a que não é violenta, clandestina ou precária, adquirida de forma 
ilegítima, sem vínculo jurídico externo. (art.1200cc) 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. 
- Posse Injusta: é a posse adquirida viciosamente, por meio de violência, clandestinidade 
ou precariedade. A injusta pode ser: 
a) Posse Violenta: é obtida através de esbulho, por força física (vis absoluta) ou ameaça 
ou violência moral(vis compulsiva). Assemelha-se ao crime de roubo. 
b) Posse clandestina: é a obtida sub-repticiamente, às escondidas, às ocultas, 
assemelhada ao furto. 
c) Posse precária: é a obtida com abuso de confiança, não restituindo a coisa ao final do 
contrato. Assemelha-se ao estelionato ou apropriação indébita. 
Obs. Destes três vícios que maculam a posse, somente um não pode ser convalidado, que 
é a posse precária, os demais se convalidam. 
Posse Violenta= Posse Injusta 
Pergunta: mas o que é posse violenta? 
Resposta: é aquela que você pode se valer, por exemplo, do desforço imediato para conter 
o esbulho. 
Posse Clandestina = Posse Injusta 
 É a posse conseguida às escondidas, de maneira que ninguém percebe, ou seja, 
é a posse estabelecida às ocultas. A doutrina informa que o que se contrapõe a forma 
clandestina é a publicidade. Não é o caso da usucapião, por exemplo, que tem a 
publicidade como característica, que olha pensa que o possuidor é o dono. 
 Posse Precária = Posse Injusta 
 É a posse que surge do abuso de confiança, vez que a pessoa que recebe a coisa tem 
o dever de restituí-la, mas se recusa a fazê-lo. 
Comodante Posse indireta 
Comodatário Posse direta 
 
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 Por exemplo: eu empresto o celular da Aline e depois me recuso a devolvê-lo. No 
início eu adquiro a posse licitamente. 
A posse precária não se convalida. Jamais será concedida a usucapião por esse 
vício. 
 Aquisição do direito só se dá na posse violenta, na clandestina e na precária 
não. 
 Pergunta: O pai tinha a posse precária, ele morre e a filha continua com a posse. É justa 
ou Injusta? 
Resposta: A posse do pai já era injusta, ora, se ele morreu, no caso da filha, a posse 
continua sendo injusta. 
 
C) POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ 
 
-POSSE DE BOA-FÉ: qdo o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem 
a aquisição da coisa ou do direito possuído. Os vícios são a violência, a clandestinidade e 
a precariedade. Neste caso o possuidor tem a convicção de que a coisa lhe pertence; é um 
critério subjetivo. Ocorre em geral com quem tem justo titulo, isto é, um documento 
referente ao objeto possuído. 
 
Ex. contrato de compra e venda, de locação, de comodato, doação). 
 
Nosso direito estabelece presunção de boa-fé a quem tenha justo título. 
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede 
a aquisição da coisa.Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a p 
resunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite 
esta presunção. 
A boa-fé se verifica na convicção inabalável que o possuidor tem no sentido de que a 
coisa de fato lhe pertence. Acredita-o que sua situação é legítima, desconhecendo 
qualquer causa que impeça a aquisição do exercício sobre a coisa. 
- POSSE DE MÁ-FÉ: é a posse viciada por obtenção através da violência, clandestinidade 
e a precariedade. O possuidor tem ciência do vicio. Neste caso, nunca possui o justo 
titulo. Ainda que de má-fé, o possuidor não perde o direito de ajuizar ação possessória 
para proteger-se de um ataque a sua posse. 
 ü A posse de má-fé caracteriza-se pelo conhecimento de ilegitimidade que tem o 
possuidor, em face de vícios ou obstáculos, que sejam inerentes ao exercício de sua 
posse. 
 Boa-fé também entra em Direito Real. 
 Justo título pode ser qualquer documento ou instrumento que o possuidor 
detenha. Englobam-se neste conceito os estados aparentes. Ex. do pai que tem uma casa 
 
Profª Msc. Samira Daud – Direito Civil IV - 2016 
 
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no litoral e vem a falecer, seu filho vai até a casa e encontra um suposto irmão, que o 
será até que se prove em contrário. 
Outro exemplo: é o do companheiro que morreu e se tratava de união estável. Posse de 
boa-fé que passa a ser de má-fé 
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as 
circuns tâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. 
Exemplo do oficial de justiça que fez a citação, então no momento da ciência passa ser 
posse de má-fé. 
 Continuidade da posse 
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com 
que foi adquirida. 
O art. 1203 informa que a característica da posse permanece durante o lapso temporal. 
D) POSSE NOVA E POSSE VELHA 
 
- Posse nova: é a que conta com menos de um ano e um dia. Cabe liminar. 
- Posse velha: é a que conta com pelo menos um ano e um dia. Não Cabe liminar. 
 
E) POSSE AD INTERDICTA E POSSE AD USUCAPIONEM 
 
- Posse ad interdicta: é a que pode ser defendida pelas ações possessórias, mas não 
conduz usucapião. Ex: locatário pode defender a posse de uma turbação ou esbulho, 
mas não tem direito a usucapião. 
- Posse ad usucapionem: é a que se prolonga por determinado lapso de tempo prevista 
em lei, admitindo-se a aquisição do domínio pelo usucapião, desde que obedecidos os 
requisitos legais. Art. 1242 e 1238 cc. 
 
Obs: 1. A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações, não 
contra aquele que se tirou, mas contra terceiros. 
Obs 2: Aquele que detém posse injusta, regra geral, não tem posse ad usucapionem ou 
com vistas a usucapião. 
Obs 3: Na posse injusta, presume-se continuar os mesmo vícios nas mãos do sucessor 
do adquirente. (presunção juris tantum – relativa). 
 
 
2.7 AQUISIÇÃO DA POSSE 
 
Pelo artigo 1204 cc adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o 
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. A posse 
pode ser adquirida de forma: 
a) Originária: Não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Ex: 
acontece um esbulho e o vício se convalesce. Apresenta-se sem os vícios que a 
maculavam em mãos do antecessor; não tem dono anterior. 
 
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b) Derivada: Há anuência do anterior possuidor e essa posse recebe os mesmos 
vícios anteriores. é possível saber quem foi o dono anterior 
 
2.7.1 AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA 
A) APREENSÃO DA COISA: apreensão significa apossamento, pela deslocação da coisa 
para o domínio do possuidor, ou pelo uso da coisa se esta for imóvel. Consiste na 
apropriação unilateral da coisa. Aplica-se: 
- nas coisas de ninguém (res nullius) e abandonadas (res derelictae); 
- nos bens retirados de outrem sem a sua permissão. Mesmo havendo violência ou 
clandestinidade é posse (embora injusta). Isso porque se o primitivo possuidor omitir-se, 
não reagindo em defesa da posse ou não a defendendo por meio das ações, os vícios que 
a comprometiam desaparecem. 
 
B) EXERCÍCIO DE DIREITO: significa estar se utilizando do direito, usufruindo dele Ex: 
linha telefônica, servidão de aqueduto passada por terreno alheio. 
 
2.7.2 AQUISIÇÃO DERIVADA 
A) TRADIÇÃO: entende-se por tradição a entrega da coisa, pressupondo um acordo de 
vontades. Basta que haja a intenção do tradens (o que opera a tradição) e do accipiens (o 
que recebe a coisa). 
A tradição pode ser real (entrega efetiva e material da coisa), simbólica (representada 
por ato que traduz a alienação, Ex. entrega das chaves do carro, do apto) e ficta 
(constituto possessório). 
 
 
B) CONSTITUTO POSSESSÓRIO ou cláusula constituti (art. 1267, parágrafo único 
CC)- é o at o pelo qual aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome de 
outrem. Ex: A, proprietário, aliena seu imóvel e continua residindo nele como inquilino; 
Pelo constituto possessório a posse se desdobra em duas faces: o possuidor antigo, que 
tinha a posse plena como proprietário, se converte em possuidor direto, enquanto o novo 
proprietário se investe na posse indireta, em virtude do contrato. A cláusula constituti 
não se presume. Aplica-se tanto aos bens móveis como imóveis. 
Ex., quando o vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a em seu 
poder, mas agora na condição ou qualidade de locatário. A cláusula constituti não se 
presume. Deve constar inequivocamente do ato ou resultar da estipulação que a 
pressuponha. 
 
Já a traditio brevi manu é exatamente o inverso do constituto possessório, pois se 
configura quando o possuidor de umacoisa alheia passa a possuí-la como própria. Seria 
o exemplo do locatário que adquire o bem. 
 
Em ambas as hipóteses (constituto e traditio) não ocorre exteriorização da tradição. 
Existe pura e simplesmente inversão no animus do sujeito. Há uma modificação 
subjetiva na compreensão da posse pelos sujeitos envolvidos. Aplicam-se tanto aos 
móveis quanto aos imóveis. 
 
 
C) SUCESSÃO NA POSSE: a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual 
possuidor com o de seus antecessores. O adquirente da posse de uma coisa pode somar 
a posse anterior visando usucapião. 
 
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ART. 1206 E ART 1207 CC. 
 
2.10 PESSOAS QUE PODEM ADQUIRIR A POSSE 
Art. 1205 cc: 
- pela própria pessoa que a pretende, desde que capaz; se não tiver capacidade deverá 
ser representada ou assistida. 
- por seu representante ou procurador, com poderes especiais. 
- por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação (gestor de negócios).2 
 
3. EFEITOS DA POSSE 
 
A) FACULDADE DE INVOCAR OS INTERDITOS 
São as ações possessórias, objetivando mantê-lo ou ser-lhe restituída a posse. 
Permite-se que o possuidor possa demandar proteção possessória e, cumulativamente, 
pleitear a condenação do réu em perdas e danos. 
Pode-se requerer a cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho 
(astreintes). 
Se ocorreu o perecimento do bem, somente resta ao possuidor o caminho da indenização 
– conversão da obrigação de fazer e não fazer na obrigação de dar (pagar). Mas se o réu 
se sentir ofendido em sua posse, pode formular, na própria contestação, os pedidos que 
tiver contra o autor, por isso não se admite reconvenção em ação possessória. 
 
A partir de 17 de março de 2016, as ações possessórias serão reguladas pelos artigos 
544 e seguintes do Novo Código de Processo Civil. Todavia, poucas foram as inovações 
trazidas pela Lei 13.105/2015 no que diz respeito ao procedimento a ser seguido por 
estas ações. 
 
Inicialmente, cumpre salientar que o ordenamento jurídico prevê três ações distintas que 
tem o condão de proteger o legítimo possuidor e a sua posse: a ação de reintegração de 
posse, a ação de manutenção de posse, e o interdito proibitório. 
 
A ação de reintegração de posse é o remédio processual cabível quando o possuidor é 
despojado do bem possuído, prática esta denominada esbulho. 
 
A ação de manutenção na posse visa proteger o possuidor que tem o seu exercício da 
posse dificultado por atos materiais do ofensor denominados de atos de turbação. Neste 
caso, o possuidor não perde a disposição física sobre o bem. Trata-se, portanto, de uma 
ofensa de menor intensidade em relação ao esbulho. 
 
A terceira e última ação possessória é chamada de interdito proibitório, e é cabível 
quando o legítimo possuidor do bem sofrer uma ameaça de turbação ou de esbulho. Ou 
seja, embora tais atos – de turbação ou esbulho - não tenham sido praticados, o ofensor 
se encontra na iminência de levá-los a efeitos. 
 
 
2
 Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer 
dos poderes inerentes à propriedade. 
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: 
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; 
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 
 
 
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Cumpre salientar que o novo CPC praticamente não altera as regras hoje existentes 
acerca das ações possessórias, mas acrescenta alguns dispositivos regulamentando, em 
especial, a legitimidade coletiva e a possibilidade de mediação em conflitos derivados da 
posse de bens. 
 
Umas das inovações trazidas se encontra prevista nos parágrafos do artigo 554. 
Conforme o novo dispositivo, no caso de ação possessória em que figure no polo passivo 
grande número de pessoas, será feita a citação pessoal dos ocupantes que forem 
encontrados no local e a citação por edital dos demais; será ainda determinada a 
intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência 
econômica, da Defensoria Pública. 
 
Neste caso, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez e os que não 
forem identificados serão citados por edital. 
 
Ainda, o juiz dará ampla publicidade acerca da existência da ação e dos respectivos 
prazos processuais, podendo se valer de anúncios em jornais ou rádios locais, publicação 
de cartazes na região dos conflitos e de outros meios. 
 
Todavia, conforme já informado, poucas foram as alterações sofridas pelas ações 
possessórias, sendo que alguns dos artigos apenas reproduzem o que hoje já é previsto. 
 
Exemplo disto é o art. 556, que manteve o disposto no atual art. 922, traduzindo a 
natureza dúplice das ações possessórias. Segundo tal artigo, é lícito ao réu, na 
contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória 
e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo 
autor. 
 
Já o artigo 557 reforça a diferenciação entre as ações possessórias, em que se discute 
exclusivamente a posse, e as ações petitórias, que tem como único fundamento a 
propriedade. 
 
Segundo o caput do referido artigo, na pendência de ação possessória, é vedado, tanto ao 
autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão 
for deduzida em face de terceira pessoa. 
 
O novo CPC também manteve inalterada a dinâmica existente entre as ações ajuizadas 
dentro do prazo de um ano e um dia da data do esbulho e turbação, ações estas 
chamadas de força nova. Tais ações continuarão seguindo o procedimento especial, que 
se encontra previsto na Seção II do Capítulo dedicado às possessórias. 
 
Já as ações ajuizadas após um ano e um dia da data do esbulho ou turbação, ações 
estas de força velha, seguirão o procedimento ordinário, sem, contudo, perder o seu 
caráter possessório. 
 
No que diz respeito ao art. 559, o mesmo melhorou a redação do atual artigo 925 ao 
determinar que, deferida a liminar de reintegração ou de manutenção na posse, e 
demonstrando pelo réu que o autor carece de idoneidade financeira para, no caso de 
sucumbência - caso a demanda seja julgada improcedente – responder por perdas e 
danos, deverá o réu prestar caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a 
coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. 
 
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Frisa-se que os artigos 560 a 564 repetem a sistemática atualmente prevista, conferindo 
poderes ao juiz para deferir, sem ouvir o réu, a liminar pleiteada ou, caso entenda 
necessário, designar audiência de justificação para que autor justifique suas alegações, 
devendo o réu ser citado para comparecer a esta audiência. 
 
Salienta-se que tal regra não é aplicável às ações movidas em desfavor das pessoas 
jurídicas de direito público, sendo imperativa a prévia oitiva dos respectivos 
representantes judiciais. 
 
Contudo, a maior inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil está prevista no 
artigo 565, artigo este que dispõe acerca de litígios coletivos pela posse de imóvel. 
 
Segundo o artigo em epígrafe, nos litígios coletivos em que o esbulho ou turbação tenha 
ocorrido há mais de ano e um dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão de 
medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 dias. 
 
Já o § 1o preceitua que caso concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 
1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de 
mediação, seguindo o disposto nos parágrafos seguintes. 
 
Ou seja, a realização de audiência de mediação passa a ser um ato obrigatório quando se 
tratarde litígio coletivo pela posse. 
 
Ainda, nestes casos, o Ministério Público será intimado para comparecer à audiência de 
mediação, e a Defensoria Pública será também intimada sempre que houver parte 
beneficiária da gratuidade da justiça. 
 
Há ainda a previsão expressa da realização de inspeção judicial pelo juiz, que poderá 
comparecer à área do objeto de litígio quando sua presença se fizer necessária à 
efetivação da tutela jurisdicional. 
 
Por fim, o § 4° do referido artigo inova ao prever que órgãos responsáveis pela política 
agrária e política urbana da União, Estados, Distrito Federal e Municípios onde se situe a 
área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem 
sobre seu interesse na causa e a existência de possibilidade de solução do conflito 
possessório. 
 
3.1. Juízo possessório e petitório 
 
Jus possessionis x jus possidendi: No juízo possessório (jus possessionis) a posse é 
discutida como um fato (ou, para os que assim entendem, como um direito pessoal), 
independente de sua causa. No juízo petitório, todavia, a posse é discutida como o 
conteúdo do direito de propriedade. As ações possessórias não podem ser utilizadas no 
âmbito do juízo petitório, pois nelas veda-se a discussão a respeito do domínio. Do 
mesmo modo, as ações utilizadas no juízo petitório (ação reivindicatória por excelência) 
não são adequadas ao juízo possessório, pois demandam prova quanto à propriedade 
enquanto causa da posse. 
 
3.2. Da questão da tutela antecipada nas ações possessórias 
 
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A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 928, CPC. 
Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária. 
O art. 928 c/c art. 924, CPC, exige requisitos especiais para a concessão da medida 
liminar (que poderá ser deferida com ou sem audiência da parte contrária, lembrando 
que quando o réu for ente de direito público, não é possível a concessão de liminar 
inaudita altera parte): 
- prova da posse; 
- caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data em que 
houve o esbulho ou a turbação; 
- que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo). 
É importante ressaltar que, quanto ao terceiro requisito, a concessão da tutela de 
urgência não se limita ao esbulho ou à turbação nova. A interpretação sistemática do 
CPC conduz à conclusão de que caso a agressão tenha ocorrido há menos de ano e dia, a 
liminar concedendo antecipação de tutela seguirá o procedimento especial previsto no 
art. 928, CPC. Caso, porém, a agressão tenha ocorrido há mais de ano e dia, o direito 
fundamental de acesso à justiça e o princípio da inafastabilidade da jurisdição implicam 
na necessidade de tutela jurisdicional adequada à solução das crises de direito material, 
de modo que a tutela de urgência poderá ser concedida, mas na forma do art. 273, CPC 
(aplicação do art. 924, CPC). 
 
 
B) FACULDADE DA LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E DO DESFORÇO IMEDIATO – art. 
1210§ 1º CC 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver 
justo receio de ser molestado. 
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por 
sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, 
não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 
Desforço incontinenti: defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve estar 
assentado no binômio imediatismo-proporcionalidade. O art. 1.210, § 1° tem que ser 
entendido em harmonia com o art. 188, também do Código Civil. 
O desforço próprio, como ação exclusiva do possuidor, deve ser promovido logo e limita-se 
a trazer a situação ao fato anterior à violência. Ou não permiti-lo que se perpetre. Logo, é 
prazo contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite um intervalo, pois 
se este se der, caberá ao interessado buscar as vias ordinárias, ou seja, procurar a 
Justiça, como órgão estatal, a disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE, Roberto J. 
Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195). 
A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies: 
- desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho, em que o possuidor recupera o bem 
perdido. 
- legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação, em que o possuidor normaliza 
o exercício de sua posse. 
 
 
C) PERCEPÇÃO DOS FRUTOS – art. 1214cc 
Bens acessórios: frutos e produtos. Art 95 cc 
Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhes a quantidade, pq 
não se reproduzem periodicamente. 
Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da 
coisa, sem acarretar-lhe a destruição. Ex frutos das arvores, leite, as crias dos animais. 
 
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Dividem-se em naturais, industriais e civis. 
Naturais: se desenvolvem e se renovam periodicamente em virtude da força orgânica da 
natureza. 
Industriais: são os que aparecem pelas mãos do homem, como a produção de uma 
fábrica. 
Civis: são as rendas produzidas pela coisa. 
 
 D) INDENIZAÇÃO DE BENFEITORIAS 
 
Possuidor de boa-fé Possuidor de má-fé 
- tem direito aos frutos percebidos, não 
fazendo jus aos pendentes; 
- não responde por perda ou deterioração 
a que não der causa (dolo ou culpa) 
- terá direito à indenização e retenção por 
benfeitorias úteis e necessárias; 
- tem direito ao levantamento das 
benfeitorias voluptuárias se não ocorrer a 
destruição do bem principal 
- não tem direito aos frutos 
- dever de indenizar os frutos colhidos 
- tem direito as despesas de produção - 
responde por perda ou deterioração ainda 
que acidentais, salvo se provar a exceção 
- tem direito de indenização pelas 
benfeitorias necessárias; 
- não tem direito às benfeitorias úteis ou 
voluptuárias; 
- não há direito de retenção 
 
 
4. PERDA DA POSSE 
O art 520 do cc de 1916 descrevia os modos de perda da posse. 
Já o art 1223 do cc de 2002 enfatiza que perde-se a posse quando cessa, embora contra 
a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual s refere o art. 1196. 
a) Abandono – é a renuncia da posse, intenção de largar voluntariamente o que está em 
sua posse. 
b) Tradição – entrega da coisa de forma definitiva 
c) Perda – o possuidor se vê privado da coisa sem querer. Ex. anel que cai em alto-mar 
d) Destruição- inutilização total decorrente de evento natural ou caso fortuito, 
inundações, incêndios, etc 
e) Colocação fora do comércio ( coisa inaproveitável ou inalienável) 
f) tomada da posse por outrem 
g) constituto possessório 
 
5. SUCESSÃO DA POSSE 
 
A posse pode também ser adquirida em virtude de sucessão inter vivos ou mortis causa, 
tanto a título singular quanto universal. É de se observar os seguintes artigos do CC: 
 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos 
caracteres. 
 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao 
sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. 
 
A segunda parte do artigo 1.207 traz uma exceção à regra de que a posse mantém o 
caráter com que foi adquirida, prevista no art. 1.203 do CC. 
 
 
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A transmissão da posse pela sucessão apresenta duplo aspecto. Na que opera mortis 
causa pode haver sucessão universal e a título singular. Dá-se a primeira quando o 
herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança, fração ou parte-alíquota 
(porcentagem) dela. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como na testamentária. Na 
sucess ão mortis causa a título singular, o testador deixa ao beneficiárioum bem certo e 
determinado, denominado legado, como p.ex. um imóvel. A sucessão legítima é sempre 
universal; a testamentária pode ser universal ou singular. 
 
A transmissão da posse por ato causa mortis é regida pelo princípio da saisine, segundo 
o qual os herdeiros entram na posse da herança no instante do falecimento do de cujus. 
Essa transmissão se opera sem solução de continuidade e de forma cogente, 
independentemente da manifestação de vontade do interessado. 
 
O herdeiro a título universal recebe a posse com os vícios que a maculavam; contudo, o 
legatário, por receber a coisa a título singular, tem a faculdade de abrir mão da posse 
anterior, eventualmente eivada de vícios, iniciando posse sua, nos termos do art. 1.207 
do CC. 
 
A sucessão inter vivos geralmente se dá a título singular, como p.ex. quando alguém 
adquire um bem certo e determinado (um imóvel), mas também pode se dar a título 
universal, como quando alguém adquire uma universalidade (um estabelecimento 
comercial, por exemplo). 
 
Nos termos do já referido art. 1.207, o sucessor a título singular pode unir sua posse à 
do antecessor, quando a mesma permanecerá eivada dos eventuais vícios da posse 
anterior. Caso resolva desligar sua posse da do antecessor, estarão expurgados os vícios 
que a maculavam, iniciando com a posse nova prazo para eventual usucapião. 
 
Em síntese: 
 
A posse do sucessor pode somar-se à posse de seu antecessor para todos os efeitos 
legais. No entanto, na hipótese de haver essa junção, o sucessor recebe a posse antiga 
com todos os seus vícios (continuidade do caráter da posse). 
 
Sucessor a título universal: há obrigatoriamente a soma das posses (acessio 
possessionis). 
 
Sucessor a título singular: pode escolher se inicia uma posse nova ou se soma a sua 
posse com a de seu antecessor. 
 
6. DA EXTENSÃO DA POSSE 
 
O art. 1209, CC fixa presunção de que a posse do imóvel induz à posse dos bens móveis 
que nele estiverem. Essa presunção, obviamente, é relativa, cabendo prova em contrário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PROPRIEDADE EM GERAL 
 
5.1. Propriedade em geral. 
 
5.2. Evolução histórica, conceito e características 
 
 Novo Código Civil – art. 1.228 – usar, gozar e dispor da coisa, e poder de reavê-la do 
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 
 
 Constituição Federal – princípio de ordem econômica. Direito individual. Garantia 
individual que deve atender à função social. (CF/88, art. 5.º, XXII a XXVI; art. 182, § 2.° 
e art. 186) 
 
 O código civil não definiu a propriedade, informando tão-somente suas características 
essenciais, quais sejam, uso (ius utendi), gozo (jus fruendi), disposição (jus abutendi) e 
reivindicação (rei vindicatio), fundada, esta última, no direito de seqüela. Todavia, a 
doutrina procura definir a propriedade: 
 
 - Maria Helena Diniz: direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites 
normativos, de usar, gozar e dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de 
reivindicá-lo de quem injustamente o detenha (Curso de Direito Civil: direito das coisas. 
22.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. pp. 113-114). 
 
 - San Tiago Dantas: direito em que a vontade do titular é decisiva em relação à coisa, 
sobre todos os aspectos. Pode ele decidir tudo a respeito dela: pode, por conseguinte, 
usá-la, pode aproveitar suas utilidades, pode até mesmo, destruí-la e pode dar um fim ao 
seu direito, transferindo-o ao patrimônio de outrem. Por isso, a propriedade é o direito 
em que a vontade do titular é decisiva para a coisa, sobre todos os seus aspectos (apud 
Pedro Elias Avvad. Direito imobiliário: teoria geral e negócios imobiliários. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2006. p. 55). 
 
 Para Carlos Roberto Gonçalves, o direito de propriedade pode ser definido como “o poder 
jurídico atribuído a uma pessoa de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, 
em sua plenitude e dentro dos limites estabelecidos na lei, bem como de reivindicá-lo de 
quem injustamente o detenha” (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro – vol. 
V – direito das coisas. pp. 206-207). 
 
 Extensão do direito de propriedade: 
 propriedade móvel: recai sobre a coisa por inteiro, delimitada espacialmente pelos 
próprios limites materiais da coisa. 
 propriedade imóvel: abrange o solo e o subsolo, em altura e profundidade úteis ao 
proprietário. Não se incluem as jazidas, minas, recursos minerais, energia hidráulica e 
monumentos arqueológicos (propriedade da União). 
 
 O direito de propriedade recai tanto sobre coisas corpóreas quanto incorpóreas. Quando 
recai exclusivamente sobre coisas corpóreas, recebe a denominação de domínio. 
 
 Os poderes elementares do proprietário são enumerados pelo art. 1.228 do CC/2002: 
usar, gozar e dispor do bem, bem como reavê-lo de quem injustamente o possua. 
 
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Corresponde às faculdades que os romanos denominavam jus utendi, fruendi e abutendi, 
além da rei vindicatio. 
 
 Quando todos os elementos estão nas mãos de uma mesma pessoa, diz-se que a 
propriedade é plena; se ocorrer o desmembramento, passando um ou algum deles para 
as mãos de outra pessoa, diz-se a propriedade limitada (exemplo do usufruto). 
 
 Poder de reivindicação: a ação reivindicatória 
 
 O proprietário tem o poder de reaver a coisa das mãos daquele que injustamente a 
possua ou detenha. É a ação reivindicatória, tutela específica da propriedade, que possui 
fundamento no direito de seqüela. A ação de imissão de posse, por exemplo, tem 
natureza reivindicatória. 
 
 Diz-se em doutrina e jurisprudência competir tal ação ao proprietário não-possuidor, 
contra o possuidor não-proprietário. 
 
 Os pressupostos da ação reivindicatória são três: a) a titularidade do domínio, pelo autor, 
da área reivindicada, que deve ser devidamente provada; b) a individuação da coisa, com 
a descrição atualizada do bem, seus limites e confrontações; c) a posse injusta do réu. 
 
 No que diz respeito ao requisito c, carece da ação o titular do domínio se a posse do 
terceiro (réu) for justa, como aquela fundada em contrato não rescindido. O art. 1.228 do 
CC/2002 fala em posse injusta, mas a expressão deve ser compreendida no sentido de 
posse sem título, sem causa jurídica. Não há necessidade que a posse ou detenção tenha 
sido obtida através de violência, clandestinidade ou precariedade. 
 
 A ação reivindicatória é imprescritível, uma vez que a sua pretensão versa sobre o 
domínio, que é perpétuo, somente se extinguindo nos casos previstos em lei (usucapião, 
desapropriação etc.). 
 
 Embora imprescritível, a reivindicatória pode esbarrar na usucapião, matéria que pode 
ser alegada pelo réu em sua defesa (v. Súmula 237 do STF). Acolhida a alegação de 
usucapião, a sentença afastará a pretensão do reivindicante, mas não produzirá efeitos 
erga omnes. Para tanto, é necessária a propositura de ação de usucapião, com citação de 
todos os interessados. 
 
 Podem ser objeto da ação reivindicatória todos os bens objeto da propriedade, ou seja, 
coisas corpóreas que se acham no comércio, sejam móveis ou imóveis, singulares ou 
coletivas, singulares ou compostas, mesmo as universalidades de fato. 
 
 Há, contudo, coisas que por sua natureza são insuscetíveis de reivindicação, como as 
incorpóreas, os direitos, as coisas futuras. 
 
 Legitimado ativo é o proprietário, seja a propriedade plena ou limitada, irrevogável ou 
resolúvel. Quando se tratar de ação real imobiliária, há necessidade de outorga uxória 
para o seu ajuizamento, bem como a citação de ambos os cônjuges se o réu for casado 
(CPC, art. 10). 
 
 
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 Quanto à legitimidadepassiva, a ação deve ser movida contra quem está na posse ou 
detém a coisa, sem título ou causa jurídica. A boa-fé do possuidor não impede a 
propositura da reivindicatória. Aquele que detém a coisa em nome de terceiro deve 
nomear este a autoria (CPC, 62). Pode a ação ser proposta contra aquele que deixou de 
possuir a coisa com dolo, no intuito de dificultar a reivindicação. 
 
5.3 Faculdades inerentes à propriedade: 
 
 Direito de usar – jus utendi - o proprietário pode utilizar a coisa para o fim a que se 
destina; 
 Direito de gozar – jus fruendi - o proprietário pode fruir da coisa todas as sua vantagens e 
benefícios, inclusive explorando-a economicamente; 
 Direito de dispor – jus abutendi - é o poder de abusar da coisa, de modificá-la, reformá-
la, vendê-la, consumi-la, e até destruí-la; 
 Direito de reivindicar – rei vindicatio - abrange o poder de mover demanda judicial para 
obter o bem de quem injustamente o detenha ou possua, mediante a ação 
reivindicatória, principal modalidade da ação petitória, aquela em que se discute a 
propriedade e que não pode ser confundida com as ações possessórias. 
 
Principais Atributos da Propriedade: 
 
 Exclusividade – Art. 1.231 – A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em 
contrário. Lembre-se que o condomínio implica na divisão abstrata da propriedade, e 
cada condômino é senhor absoluto de sua fração ideal. 
 Perpetuidade – não se extingue pelo não uso; 
 Elasticidade e Consolidação - possibilidade de desmembramento e remembramento de 
certas parcelas, distendendo seus elementos constitutivos e criando direitos, 
obrigacionais ou reais, em favor de terceiros. 
 
 
5.4 A propriedade na Constituição de 1988: a visão social 
 
É importante observar que a palavra propriedade é dotada de pluralidade semântica, 
podendo ter, pelo menos, três significados distintos: 
 
A) Propriedade enquanto bem móvel ou imóvel; 
B) Propriedade enquanto direito que recai sobre um bem corpóreo ou incorpóreo; 
C) Propriedade enquanto instituição. 
 
A função social da propriedade, já estudada na unidade referente à posse, refere-se aos 
três significados de propriedade, pois: 
 
a) A locução “função social da propriedade” está relacionada à utilidade conferida ao bem 
(propriedade enquanto bem), seja ele móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo. Essa 
utilidade se dá através do exercício da posse. 
 
b) Por outro lado, o direito de propriedade, assegurado constitucionalmente como um 
direito fundamental, apresenta a função social como elemento estrutural (propriedade 
enquanto direito), de modo que não há proteção constitucional à propriedade exercida 
em desconformidade com sua função social. Em outras palavras, é essencial que o 
direito de propriedade seja exercido funcionalizado pela socialidade. 
 
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c) Por fim, a função social impõe uma série de limitações que devem ser respeitadas pelo 
proprietário. As normas que asseguram o cumprimento da função social, bem como as 
que reprimem seu descumprimento integram o conjunto que representa a instituição 
propriedade no direito brasileiro (propriedade enquanto instituição). 
 
5.5 Função Social da Propriedade: 
 
 O direito de propriedade não é concedido ou reconhecido em razão da função social, mas 
deve ser exercido de acordo com esta. A função social constitui-se, então, em título 
justificativo dos poderes do titular da propriedade; 
 
 O atual Código Civil, no artigo 1.228, § 1º, reafirma a função social da propriedade 
acolhida no art. 5º, XXII e XXIII e artigo 170, III, todos da Constituição Federal de 1988. 
Na verdade, o novo Código Civil vai mais além, prevendo ao lado da função social da 
propriedade a sua função socioambiental com a previsão de proteção da flora, da fauna, 
da diversidade ecológica, do patrimônio cultural e artístico, da águas e do ar, tudo de 
acordo com o que prevê o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 e a Lei da Política 
Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81); 
 
 O artigo 1.228, § 2º, do novo Código Civil, proíbe o abuso de direito ou ato emulativo no 
exercício do direito de propriedade; 
 
5.5.1 Função social da propriedade urbana 
 
 Art. 182, § 2.°, da CF/88 - a função social da propriedade, sendo garantia fundamental, 
não pode ter sua incidência restrita aos municípios que tenham Plano Diretor, como 
aparentemente quis o art. 182, § 2 da C.F. Quando o legislador elevou a referida norma a 
nível de princípio fundamental, portanto jurídico, quis vê-lo sendo aplicado em todas as 
propriedades e não somente naquelas situadas em cidades que tenham Plano Diretor; 
 
 O § 4º do referido dispositivo constitucional possibilita ao Município exigir do particular 
que este utilize a sua propriedade de maneira condizente com o princípio da função 
social, sob pena de sobre ele recair, no caso da não-verificação do correto 
aproveitamento: I - parcelamento ou edificação compulsório; II - imposto sobre a 
Propriedade Predial e Territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com 
pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo 
Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e 
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. 
 
5.5.2 Função social da propriedade rural 
 
 Só a União Federal possui competência material para promover a desapropriação por 
descumprimento da função social do imóvel rural (caput do art. 184, da CF/88), bem 
como para legislar sobre os requisitos a serem atendidos (caput do art. 186, da CF/88); 
 
 O art. 185, da CF/88 estabelece zona de imunidade à desapropriação por interesse social 
para fins de reforma agrária, mesmo que a função social não esteja sendo observada, em 
relação: (a) à pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu 
proprietário não possua outra; e (b) à propriedade produtiva; 
 
 
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 O preenchimento da função social do imóvel rural (art. 186, da CF/88) exige a presença 
simultânea de requisitos espalhados em três óticas: (a) econômica, ligada à 
"produtividade" do imóvel rural, ou seja, seu aproveitamento racional e adequado; (b) 
social, abraçando as disposições que regulam as relações de trabalho e as que 
contemplam o bem-estar dos que exploram a terra (incluídos aí não só os proprietários e 
trabalhadores, mas os que detém a posse direta do imóvel); (c) ecológica, relacionada 
com a preservação do meio ambiente, concebido como direito fundamental de terceira 
geração, garantido-o à presente e futuras gerações. 
 
 
5.6. Exclusividade e ilimitabilidade da propriedade 
 
A propriedade é direito real por excelência, possuindo, assim as características inerentes 
aos direitos reais (absoluta, exclusividade, plenitude, perpetuidade, exclusividade, 
elasticidade). É, também, direito fundamental, tal qual previsto na Constituição (art. 5°, 
XXII). Os caracteres da propriedade são, portanto, a plenitude, a exclusividade e a 
perpetuidade (art. 1.231, CC). 
 
A propriedade é considerada plena quando se encontraram nas mãos do proprietário 
todas as faculdades que lhe são inerentes (usar, gozar e dispor), estando o mesmo sujeito 
apenas às limitações impostas no interesse público. 
 
A exclusividade significa que a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e 
simultaneamente a duas ou mais pessoas. O direito de um sobre determinada coisa 
exclui o direito de outro sobre a mesma coisa. Isso não se choca com a idéia de 
condomínio, pois cada condômino é proprietário, com exclusividade, de sua parte ideal. 
 
A propriedade é perpétua, pois não se extingue pelo não-uso. Não estará perdida 
enquanto o proprietário não a alienar ou ocorrer algum dos modos deperda previstos em 
lei, como a usucapião, a desapropriação, o perecimento etc. 
 
5.7. Restrições legais de interesse particular e público 
 
Na verdade, é mais correto falar em delimitações ao direito de propriedade, pois tais 
limites acabam por lhe conferir os seus contornos, e não restringir. São várias as 
restrições, impostas pela Constituição Federal, pelo Código de Mineração, Florestal, Lei 
de Proteção ao Meio Ambiente etc. 
 
Há ainda limitações que decorrem dos direitos de vizinhança e de cláusulas impostas 
voluntariamente nas liberali dades, como inalienabilidade, impenhorabilidade e 
incomunicabilidade. 
 
Todo esse conjunto traça o perfil da propriedade no direito brasileiro, afastando em parte 
a idéia de propriedade como direito absoluto e enfatizando o seu viés social. 
 Contrapondo-se a noção de propriedade plena, acima abordada, temos a propriedade 
limitada, que se caracteriza: a) quando estiver sujeita a algum ônus real; b) quando for 
resolúvel. 
 
A extensão da propriedade é definida pelo critério da utilidade, nos termos do art. 1.229 
do CC/2002: a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, 
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a 
 
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atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não 
tenha ele interesse legítimo em impedi-las. 
 
Ainda no que diz respeito à extensão do direito de propriedade, é de se ter em mente o 
art. 1.230 do Código Civil: a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais 
recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e 
outros bens referidos por leis especiais. 
 
Limitações constitucionais: 
 O espaço aéreo e o subsolo pertencem ao proprietário do solo, até a altura e 
profundidade que lhes seja útil, dentro das limitações legais. O dono do solo será, 
também, o dono do subsolo, para construção de passagens, garagens subterrâneas, 
porões, adegas, etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações. Pelo artigo 
176 da Constituição Federal os recursos minerais e hidráulicos constituirão propriedade 
distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio 
da União. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais 
somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União. Todavia a 
própria Constituição garante ao dono do solo a participação nos resultados da lavra. 
 Desapropriação por necessidade ou utilidade publica e por interesse social (artigo 5º, 
inciso XXIV e artigo 184 da Constituição Federal), mediante previa e justa indenização 
em dinheiro. 
 Requisição – uso da propriedade alheia em caso de perigo iminente (artigo 5º, inciso XXV 
da Constituição Federal) ou em circunstancias especiais, assegurando-se ao proprietário 
o pagamento de indenização. 
 Confisco de terras onde se cultivem ilegalmente plantas psicotrópicas – artigo 243 da CF. 
 Os artigos 216, I a V, §§1º a 5º; 23, III e IV e 24, VII da CF colocam sob proteção especial 
do poder publico os documentos, obras e os locais de valor histórico ou artístico, os 
monumentos e as paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas arqueológicas – o 
proprietário tem o uso e gozo da coisa, mas não tem a disponibilidade, uma vez que sua 
alienação depende de autorização do Departamento Histórico e Artístico Nacional. 
 Proteção do Bem Ambiental, segundo prevê o artigo 225 CF, confirmada pelo artigo 1228, 
§1º do Novo Código Civil. 
 
Limitações administrativas: 
 Coisas tombadas (decreto nº 25/1937) 
 Ocupação de terrenos vizinhos as jazidas (servidão compulsória) 
 Restrição sobre floresta (Código Florestal) – certas arvores, devido a sua beleza e raridade 
podem ficar imunes ao corte. 
 Restrições sobre alinhamento, altura, etc. de construções, por razoes estéticas, 
urbanísticas e higiênicas; pode haver obrigação de murar terrenos, calçar passeios. 
 Zona de proteção dos aeroportos – proibição de construir acima de certa altura, dentro 
do setor de aproximação de aviões. 
 
Limitações militares: 
 Requisição de moveis e imóveis necessários as Forças Armadas (decreto-lei nº 
5451/1943) e a defesa do povo. 
 Transações de imóveis particulares situados nas faixas de até 150 km ao longo das 
fronteira. 
 
Limitações advinhas do Código Civil: 
 
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 O direito de vizinhança, que impede que o vizinho seja prejudicado quanto a segurança, 
ao sossego, saúde; direito de passagem forçada para imóvel encravado. 
 
Todas essas restrições acabam traçando um novo perfil do direito de propriedade em 
vigor, deixando de apresentar características de direito absoluto e ilimitado para se 
transformar em um direito de finalidade social. 
 
O Código Civil atual inova ao trazer, nos §§4º e 5º do artigo 1228, a 
Desapropriação Judicial por Posse-Trabalho, situação em que um considerável 
numero de pessoas ocupa uma extensa área, por cinco anos, existindo nessa 
extensa área obras consideradas pelo Magistrado de relevante caráter social. 
 
No caso de uma ação reivindicatória proposta pelo proprietário, os ocupantes 
poderão alegar tal desapropriação como matéria de defesa, desde que paguem (os 
ocupantes), uma justa indenização ao reinvidicante. Vale ressaltar, assim, que a 
indenização não deverá ser pago pelo Estado, pela natureza privada da inovação. 
 
O instituto em questão não se confunde com a usucapião coletiva, eis que a 
indenização deverá ser paga para que os ocupantes tenham direito a esta 
desapropriação privada. 
 
Observa-se que o instituto esta relacionado a vários conceitos legais 
indeterminados eis que o dispositivo não menciona qual seria esta “extensa 
área”, qual o número de pessoas, e principalmente, quais seriam as obras tidas 
como de “relevante caráter social”. A fixação da “justa indenização” também 
dependerá do poder discricionário do Juiz da Causa. 
 
Acreditamos que esta desapropriação judicial está fadada ao insucesso pois não 
visualizamos hipóteses em que os ocupantes pagarão indenização ao 
proprietário. 
 
Traz o Código Civil regra do Direito Intertemporal pela qual, até dois anos de 
vigência da atual codificação (até 11 de janeiro de 2005), o prazo de 5 anos para 
a configuração do instituto aqui estudado sofrerá acréscimo de mais dois anos 
(artigo 2029 e 2030 CC). Desse modo, até 11/01/2005 a alegação de 
desapropriação judicial por posse-trabalho só caberá se os ocupantes tiverem na 
posse do imóvel reivindicado por 7 anos. 
 
 
5.8 Classificação da Propriedade 
 
 Propriedade plena (ou alodial) – quando o proprietário tem o direito de uso, gozo e 
disposição plena enfeixados em suas mãos, sem que terceiros tenham qualquer direito 
sobre aquele bem. Todos os elementos estão reunidos nas mãos do seu titular. 
 Propriedade limitada (ou restrita) – quando a propriedade tem sobre ela algum ônus 
(exemplos: hipoteca, servidão e usufruto), ou quando for resolúvel (se extinguirá com um 
acontecimento futuro). Um ou alguns dos poderes da propriedade passa(m) a ser de 
outrem, constituindo-se em direito real sobre coisa alheia. 
 
Na verdade, o direito de propriedade é composto de duas partes descartáveis: 
 
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o Nua-propriedade: corresponde a titularidade, ao fato de ser proprietário e ter o 
bem em seu nome. Costuma-se dizer que a nua propriedade é aquela despida dos 
atributos do uso e da fruição, tendo direito a essência, a substancia da coisa. A 
pessoa recebe o nome de nu-proprietario, senhorio direto ou proprietário direto. 
o Domínio útil: corresponde ao direito de usar, gozar e dispor da coisa. Dependendodo direito que tem, recebe o nome diferente: enfiteuta, usufrutuário. 
 
Desta forma, uma pessoa pode ser titular, o proprietário, ter o bem registrado em seu 
nome e outra pessoas pode ter direitos de usar, gozar e até dispor daquele bem, em 
virtude de um contrato (exemplos: usufruto, servidão, habitação; pode este terceiro ter 
direito real de garantia sobre aquele bem, como hipoteca, penhor e anticrese). 
 
Assim, se o domínio útil e a nua propriedade pertencem a mesma pessoa, temos 
a propriedade plena. Caso contrario, temos a limitada. 
 
CUIDADO! 
 
Na posse: 
 Possuidor direto: detenção material da coisa (exemplo: locatário) 
 Possuidor indireto: posse exercida através de outrem (exemplo: locador) 
 
Na propriedade: 
 Proprietário direto: tem a titularidade do bem, porem nem sempre tem a 
posse. Assim, o locador é o proprietário direto e também o possuidor 
indireto. Mas o locatário é o possuidor direto. 
 
 
5.9 Modos de Aquisição da Propriedade Imobiliária: 
 
 A quisição da propriedade é a incorporação dos direitos de dono em um titular. 
 A aquisição da propriedade pode ser originária ou derivada; é originária quando a 
propriedade é adquirida sem vínculo com o dono anterior (ex: acessão, usucapião e 
ocupação); a aquisição é derivada quando decorre do relacionamento entre pessoas (ex: 
contrato registrado para imóveis, contrato com tradição para móveis, sucessão 
hereditária). 
 
5.9.1 Registro 
 Romano 
 Francês 
 Alemão 
 Brasileiro 
 
 Os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis tem de ser 
feitos por escritura publica, se o imóvel tiver valor superior a trinta salários mínimos (art. 
108 CC). Os contratos criam os direitos e obrigações, mas a transmissão da propriedade 
imóvel só se opera com o registro de transferência. 
 A transcrição é o registro da escritura feito no Registro de Imóveis. Vale a partir da 
prenotação, que é um apontamento protocolado que assinala a entrada em cartório de 
um documento. Só o registro transfere o domínio do imóvel. 
 Art. 1245, §1º CC 
 
 
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25/60 
 
 5.9.1.1 Atributos do Registro 
 
 Constitutividade 
 Prioridade ou Preferência 
 Força Probante 
 Continuidade 
 Publicidade 
 Legalidade 
 Especialidade 
 
 5.9.1.2 Efeitos do Registro do Título 
 
a) Publicidade: pelo registro torna-se conhecido o direito de propriedade. 
b) Legalidade: só se efetua o registro se não houver irregularidades nos documentos. 
c) Força probante: fé publica do registro, presume-se pertencer a pessoa que 
transcreveu. 
d) Continuidade: se o imóvel não estiver registrado no nome do alienante, não poderá 
ser transcrito em nome do adquirente. 
e) Obrigatoriedade: indispensável para a aquisição da propriedade imóvel. 
f) Retificação: o registro não é imutável, pode ser modificado se não exprimir a 
realidade dos fatos ou a jurídica. 
 
5.9.1.3Distinções Terminológicas 
 Matrícula 
 Registro 
 Averbação 
 
 
5.10 Usucapião 
 
 Também é chamado, impropriamente, de prescrição aquisitiva. 
É a situação de domínio pela posse prolongada, transformando-se em uma situação 
jurídica. 
 Garante a estabilidade e segurança da propriedade, fixando um prazo, além do qual não 
se podem mais levantar dúvidas a respeito de ausência ou vícios do titulo de posse. 
 Modo de aquisição de posse, independente da vontade do titular anterior. Ocorre quando 
alguém detém a posse de uma coisa com animo de dono, por tempo indeterminado, sem 
interrupção e sem oposição, desde que não seja posse clandestina, violenta ou precária. 
 A sentença declaratória proferida pelo Juiz valerá como titulo e será registrada no 
Registro de Imóveis. 
 Não podem ser usucapidas as coisas fora do comercio, como o ar, a luz solar, os bens 
públicos, os imóveis com clausula de inalienabilidade. 
 O possuidor pode, para fim de contar o tempo exigido, acrescentar a sua posse a do seu 
antecessor, contando que ambas tenham as mesmas características (art. 1243 CC). 
 Sem posse não há usucapião. 
 Consiste num modo originário de aquisição3 da propriedade, seja de bem móvel ou imóvel, 
em que pese alguns posicionamentos em contrário, a exemplo de San Tiago Dantas, que 
 
3
 Não há consenso na doutrina se a usucapião é um modo originário ou derivado de adquirir a propriedade. Para os 
defensores, entre eles Caio Mário da Silva Pereira. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São Paulo: Saraiva. 2005, 
 
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considera, equivocadamente, um modo derivado de aquisição de propriedade. (ARAÚJO, 
2013, p. 104 e 105) 
 O código civil de 2002, em seu art. 1238, reafirma a usucapião como modo originário de 
aquisição de propriedade imobiliária. 
 Como a posse é o poder de fato sobre a coisa, a propriedade é o poder de direito nela 
incidente. O fato objetivo da posse, unido ao tempo e a constatação de outros requisitos, 
confere juridicidade a uma situação de fato, convertendo-a em propriedade. (CHAVES; 
ROSENVALD, 2009, p. 322) 
 Como se trata de aquisição originária, não há vínculo entre o atual e o antecessor possuidor, 
razão pela qual a usucapião opera um efeito liberatório, ou seja, o nascimento do novo 
direito de propriedade para o possuidor, fazendo desaparecer qualquer gravame incidente 
sobre o bem, inclusive constituindo-se uma nova matrícula no registro imobiliário. 
(ARAÚJO, 2013, p. 105) 
 Na usucapião, o mais importante é a posse exercida com animus domini sobre o bem, de 
forma mansa, pacífica, ininterrupta e sem oposição, por determinado lapso de tempo. 
 Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 263-274) que para 
adquirir a propriedade por usucapião se faz necessário preencherem os seguintes aspectos: o 
pessoal, o real e o formal. 
 Assim, classificam-se como requisitos pessoais aqueles referentes ao possuidor que pretende 
adquirir o bem e ao proprietário que irá sofrer desfalque em seu patrimônio. Há necessidade 
de averiguar a capacidade e a qualidade do adquirente. 
 Os requisitos reais são aqueles referentes aos bens e direitos suscetíveis de serem 
usucapidos, uma vez que nem todos os direitos e todas as coisas são passíveis de usucapião. 
 No tocante aos requisitos formais, tem-se que são aqueles que compreendem os elementos 
necessários e comuns do instituto: “animus domini” (intenção de dono); a posse prolongada 
(lapso temporal que está exercendo a posse); a posse contínua (posse sem intervalo que deve 
 
p. 138-139, o modo de aquisição é derivada, pois no caso da usucapião do imóvel antes de adquirir a propriedade ela 
pertencia a alguém, ou seja, os adeptos da idéia afirmam que não há surgimento de um novo direito, mas a substituição 
dos direitos qe o titular anterior tinha sobre a coisa. Já para os que definem, entre eles Maria Helena Diniz. (DINIZ, 
Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 145), que se tratra de um 
modo de aquisição é originária, pois quem transmite a propriedade não é o antecessor (quem consta do registro como 
proprietário), mas a autoridade judiciária que reconhece e declara a forma de aquisição. José Carlos de Moreira Salles 
(SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, 
p. 50-52). Darcy Bessone (BESSONE, Darcy. Direitos reais. 2ª. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 168. RIZZARDO, 
Arnaldo. Direitos das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2004,p. 243-246). Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES, 
Carlos Roberto. Curso de direito civil brasileiro. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 235). 
 
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ser exercida pelo possuidor) e a posse justa (posse sem vícios). Já como pressupostos 
especiais, têm o justo título e a boa-fé. 
 A aquisição da propriedade por usucapião só ocorrerá se preenchido os requisitos 
determinados que possam ser divididos em: a) requisitos essenciais 1) a posse qualificada, 
com privilégio ou sem privilégio; 2) objeto hábil; 3) o lapso temporal; 4) a sentença judicial 
e o Registro; b) requisitos especiais 1) o justo título e; 2) a boa-fé. 
 
 
 Usucapião Ordinária 
 Aquisição a non domino 
 Erro no modo de aquisição 
 Posse: 
o Mansa e pacifica: exercida sem contestação de quem tenha legitimo 
interesse, ou seja, do proprietário. 
o Continua, sem intervalos, porem admite sucessão (art. 1243). 
o Justa: sem vícios de violência, clandestinidade ou precariedade. Se a 
situação de fato for adquirida por meio de atos violentos ou clandestinos, 
não induzirá posse, enquanto não cessar a violência ou a clandestinidade, 
se for adquirida a titulo precário tal situação jamais convalescer 
 
 Efeitos da Usucapião 
 
 Declaratória 
 Reivindicatória 
 
Modalidades de Usucapião 
 Usucapião Ordinária 
 Posse mansa, pacífica e ininterrupta com animus domini por 10 anos. 
 O prazo cai para 05 anos se o imóvel foi adquirido onerosamente, desde que os 
possuidores nele estabelecerem sua moradia ou fizerem investimentos de 
interesse social e econômico (posse-trabalho). 
 Justo titulo, ainda que contenha irregularidades. 
 Boa-fé: ignorância do defeito do titulo; crença de que a coisa realmente lhe 
pertence. 
 Sentença judicial registrada no Cartório de Registro Imobiliário. 
 
Usucapião Extraordinária 
(art. 1238) 
 Posse pacífica, ininterrupta, com animus domini e sem oposição por 15 anos. 
 O prazo cai para 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia 
habitual ou houver realizado obras ou serviços de caráter produtivo (posse-trabalho). 
 Não é necessário provar boa-fé ou justo titulo. 
 Sentença judicial registrada no Cartório de Registro Imobiliário. 
 
 
 
 
 
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Usucapião Especial ou 
Constitucional 
 Urbano ou “Pro 
misero”: 
 
Usucapião Especial ou 
Constitucional 
 Rural ou “Pro labore”: 
 
Usucapião coletiva (art. 10º do 
Estatuto da Cidade – Lei 
10.257/2001) 
 
Área não superior a 
250 m2. 
Posse: 05 anos 
ininterruptos sem 
oposição. 
Para moradia ou de 
sua família. 
Não ser proprietário de 
outro imóvel rural ou 
urbano. 
Apenas uma vez. 
Imóveis públicos – 
proibição. 
Sentença judicial 
registrada no Cartório 
de Registro Imobiliário. 
 
Área não superior a 50 
hectares. 
Posse: 05 anos ininterruptos 
sem oposição, com animus 
domini. 
Utilização para subsistência 
(trabalho) – agricultura, 
pecuária ou extrativismo. 
Não ser proprietário de outro 
imóvel rural ou urbano. 
Tornar produtiva por força de 
seu trabalho ou de sua família. 
Apenas uma vez. 
Imóveis públicos – proibição. 
Sentença judicial registrada no 
Cartório de Registro Imobiliário 
 
 Extensão área urbana, superior a 
250 m2. 
 Posse: 05 anos ininterruptos sem 
oposição. 
 Famílias de baixa renda, utilizando 
o imóvel para moradia. 
 Ausência de possibilidade de 
identificação de área de cada 
possuidor. 
 Não ser proprietário de outro imóvel 
rural ou urbano. 
 Apenas uma vez. 
 Imóveis públicos – proibição. 
 Sentença judicial registrada no 
Cartório de Registro Imobiliário, 
atribuindo o juiz a fração ideal de 
cada possuidor. 
 Há ainda a possibilidade de um 
condomínio especial e indivisível, 
não passível de extinção. 
 Partes legítimas para a propositura 
dessa ação: 
a) Os possuidores, isoladamente 
ou em litisconsórcio. 
b) Possuidores, em composse. 
c) Associação de moradores da 
comunidade, regularmente 
constituída (substituto processual). 
Usucapião Familiar 
 
 Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse 
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros 
quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, 
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que 
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
 § 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. 
 § 2º No registro do título do direito previsto no caput, sendo o autor da ação judicialmente 
considerado hipossuficiente, sobre os emolumentos do registrador não incidirão e nem serão 
acrescidos a quaisquer títulos taxas, custas e contribuições para o Estado ou Distrito Federal, 
carteira de previdência, fundo de custeio de atos gratuitos, fundos especiais do Tribunal de 
Justiça, bem como de associação de classe, criados ou que venham a ser criados sob qualquer 
título ou denominação. 
 
 
Não podem ser objeto de usucapião os bens públicos. 
 
 
OBS: O prazo da aquisição pode ser interrompido ou suspenso pelas mesmas causas que 
suspendem ou interrompem a prescrição em geral. 
 
 
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ATENÇÃO! 
 
Usucapião Extrajudicial da Lei nº 11977/2009 – Minha Casa Minha Vida 
A usucapião administrativa ou extrajudicial corresponde a uma inovação trazida 
pela Lei nº 11.977/2009, com as alterações da Lei nº 12.424/2001, que instituiu o 
programa Minha Casa, Minha Vida. 
O referido instituto visa retirar do Poder Judiciário a sua necessidade de 
intervenção para regularização de assentamentos urbanos de interesse social, sem 
afastar as suas atribuições, dentro dos critérios estabelecidos na lei. 
Concebe-se uma novidade capaz de provocar muita disputa e discussão no 
mundo jurídico, pois estrutura uma forma rápida e aparentemente eficaz de usucapião 
administrativa, que prescinde, por óbvio, de qualquer intervenção judicial, incumbindo à 
Administração Pública, mediante impulso próprio, assim como de interessados e 
entidades privadas (art. 50), prerrogativas para, através da demarcação e da legitimação 
de posse – instrumentos voltados à outorga da titulação dominial –, declarar o direito à 
propriedade beneficiando população de baixa renda. 
A usucapião administrativa não afasta a comprovação dos requisitos elencados 
no artigo 183 da Constituição Federal. O seu diferencial reside no fato de que a 
comprovação dos requisitos se faz perante o Poder Público Municipal, 
administrativamente, sem a necessidade de intervenção do Poder Judiciário, a pedido da 
parte interessada. 
Após isso, será dado inicio ao procedimento administrativo para a concessão do 
título de legitimação da posse, em áreas de interesse social, já ocupadas irregularmente, 
podendo até atingir áreas de preservação permanente, tudo isso em razão do princípio da 
primazia da realidade subjacente. (ARAÚJO, 2013, p. 387) 
A demarcação urbanística e legitimação da posse são dois novos instrumentos 
introduzidos pela Lei nº 11.977/2009 e por ela conceituadas, para compor a política 
pública habitacional, auxiliando nas ações de regularização fundiária de áreas urbanas, 
permitindo maior celeridade na regularização jurídica, antes só possível por meio de 
ações judicias de usucapião. 
A concessão do título de legitimação de posse, como referido na lei, inova no 
ordenamento e atende reivindicações de um procedimento mais célere para regularização

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