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Arquiteto
faz projeto.
E também
faz...
Idealização Maria Elisa Meira
Coordenação
Kelson Vieira Senra
Eneida Hoelz
FNA
Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas
índice
Apresentação
Diversidade
Depoimentos
Alberto Buncluld
Programação Visual e Gráfica
Alexander Syoei Yamaguti
Coordenação de Trabalhos Comunitários e Ambientais, Projeto e Construção
Ana Mírian Machado /Janice Costa
Arnbientação de Interiores 
Antonia Brasil
Empresária na área de materiais de construção
Antonio Carlos Candia
Criação de Logomarcas, Planejamento Urbano e Regional
Antonio Carlos Lobo Soares
Artes Plásticas, Ambientação de Viveiros e Museólogo
Benny Schvasberg
Planjamento Urbano, Proj. Urbanísticos, Planos Diretores, Ensino
Carlos Newton Júnior
Ensino, Poesia
Cláudio Forte Maiolino
Ensino, Restauração, Projeto e Construção
Claudio-Silveira Amaral
Ensino e Projeto de Escritórios
Daniel Campbell
Desenho de Mobiliário e Ensino
Décio Petersen Cypriano
Projetos Urbanísticos
Elizabeth Raulino Camara
Ensino, Desenho Gráfico e de Jóias, Pintura
Evangelos Christakou
Computação Gráfica, Projetos Residenciais
Giesi Nascimento dos Santos Filho
Perícia Criminalistica, Assessoria Técnica
João Paulo Umpierre Pohlmann
Planejamento Urbano, Ensino,Engenharia de Tráfego
José Alberto Vertura Couto
Montagens Especiais, Ensino
José Antônio Lemos dos Santos
Planejamento Urbano e Regional
José Luiz Schuckovski
Empresário da Construção
José Roberto Bassul
PlanejamentoUrbano
Josenita Araújo da Costa Dantas
PlanejamentoUrbano
Josilcla (Jô) Maria Silva de Carvalho
Pesquisa, elaboração, realização, produção e assessoria a Projetos em Multi meios
Julia Iguti
Ensino e Artes Plásticas
Júlio de Lamonica Freire
Ensino, Patrimônio Histórico e Meio Ambiente
Lino Fernando Bragança Peres
Ensino, Planejamento e Políticas Urbana e Habitacional
Lucio Cabral Albuquerque
Arquitetura de Interiores, Paisagismo e Programação Visual
Luiz Alberto de Campos Gouvêa - O Jacaré
Pesquisa, Ensino, Planejamento Urbano e participação popular
Lurdes Zunino
Conforto ambiental, Ensino, Arquitetura bioclimática
Marco Antonio Gil Borsoi
Projeto, Construção, Ensino
Maria Clara Saboya de Toledo
Perícia e Avaliações
Maria do Carmo Tavares Boulhosa
Administração, Paisagismo, Planejamento Urbano
Maria Helena de Almeida Magalhães
Urbanismo e Habitação Popular, Sociologia e Ensino
Meirian do Socorro Abreu da Silva
Ensino de educação artística, Coordenação de grupo folclórico
Norton Tasso
Plangamento Urbano e Regional, Saneamento
Paulo Corrêa de Oliveira
Ensino,Pesquisa e Teatro
Paulo Kalil
Paisagismo, Habitação, Saneamento e Artes Plásticas
Pedro Lessa
Ensino, Projetos
Raul Pinheiro Machado Filho
Construtor e Empresário
Rejane Jung Vianna
Relatórios de Impacto Ambiental
Ricardo de Gouvêa Corrêa
Moradia Popular, Assessoria Técnica à Organkações Sociais
Roberto Tonera
Pesquisa na área de argamassas e restauração
Projetos de Muliimídia e Computação Gráfica
Rubem-Farias Viegas
Ensino, Pesquisa, Observação
Sérgio Póvoa Pires
Comunicação Visual, Mobiliário Urbano, Desenho de jóias
Pintura, Assessoria de RH, Escritor
Sonia Marques
Ensino, Pesquisa, História da arte e das cidades
Formação Profissional
Wilson Cavalcanti de Moraes
Paisagismo, Escultura, Planejamento Urbano e Regional
Recordando
Apresentação
Kelson Vieira Senta*
A globalização e o avanço tecnológico vem transformando rapidamente as profissões e os modos de produção da sociedade contemporânea. O mercado de trabalho se diversifica e exige cada vez mais profissionais especializados que, entretanto, devem ter compreensão dos processos globais de produção.
As nossas atribuições profissionais de arquiteto levam-nos a ter vantagens neste cenário pois contamos com formação e conhecimentos das áreas tecnológica, social e cultural. Assim, observamos no mercado de trabalho, colegas realizando uma ampla gama de atividades, adaptando-se à realidade regional e às oportunidades que surgem com as transformações da sociedade.
É importante notar que a procura por cursos de arquitetura está crescendo, enquanto diminui, por exemplo, o interesse pela engenharia, dividido em muitas especializações. No entanto, a maioria das escolas de arquitetura continuam a formar profissionais voltados prioritariamente para o projeto de arquitetura de edificações, deixando de lado a realidade profissional, onde existe um mercado de trabalho diversificado e pouco divulgado.
Este livro tem como objetivo demonstrar a diversidade da atuação do arquiteto e urbanista no mercado de trabalho, apontando novas oportunidades para profissionais e estudantes, desmistificando a idéia de que os arquitetos são exclusivamente projetistas de edificações. Assim, indicamos para a sociedade, empresários e administradores públicos, as muitas atividades exercidas com excelência pelos arquitetos, estimulando maior contratação dos nossos serviços.
Nesta publicação encontram-se depoimentos de arquitetos e urbanistas de todas as regiões do país, demonstrando as diversas atividades hoje exercidas pelos profissionais da nossa categoria, respaldados pelas suas atribuições legais. Além de projetos de edificações, os arquitetos que aqui dão seus depoimentos desenham jóias, móveis, mobiliários urbanos, sistemas construtivos e abrigos provisórios na selva. Desenvolvem trabalhos para economia de energia, conforto ambiental e arquitetura de interiores.
Os profissionais que participam deste livro também dedicam-se a questão urbana, elaborando planos, propondo legislações, interagindo com outras profissões e com os cidadãos. Atuam junto à população mais pobre, urbanizam favelas, organizam cooperativas, mutirões, lutam pela distribuição da terra na cidade, contribuem na construção de singelas habitações. Trabalham com o saneamento ...
...na defesa dos recursos naturais e do meio ambiente. Valorizam os recursos regionais, resgatam técnicas e folclores tradicionais, revelam-se museólogos.
Realizam cálculos, criam programas matemáticos, dominam a computação gráfica e investem na informática, aperfeiçoando-se cada vez mais. Elaboram perícias judiciais e avaliações técnicas. Gerenciam fábricas, empresas, órgãos públicos. Administram obras e construções civis. São craques na comunicação visual, na fotografia, na pintura, na escultura e nas artes plásticas em geral. Pesquisam a história da arquitetura, das artes e das cidades, restauram patrimônios e contribuem na preservação da nossa cultura. Dedicam-se ao ensino e à formação de novos profissionais.
Os textos também relatam as trajetórias da vida profissional, as experiências e formas encontradas para superar os obstáculos, para descobrir e aproveitar as oportunidades, os meios utilizados para pavimentar o próprio caminho. É curioso observar o grande número de profissionais que, devido aos vícios de formação, iniciam sua carreira profissional como projetistas de edificações, autônomos ou empregados, e só depois de algum tempo conseguem descortinar outros caminhos.
É possível também perceber nos depoimentos, um pouco da história recente do país. A ditadura, as lutas políticas, a década perdida de 80, os sonhos que se esvaem, a construção de novas perspectivas. As dificuldades de sobrevivência, os baixos salários, os sem-contrato, os períodos de desemprego e luta pela sobrevivência. As várias atividades desenvolvidas ao mesmo tempo, o espirito empreendedor e realizador de alguns profissionais.
São homens públicos, empresários, empregados, funcionários públicos, trabalhadores, todos tendo em comum a formação humanista do arquiteto. Todos dispostos a colocar o seu conhecimento a favor de uma sociedade mais justa e democrática como aliás, poucos se lembram, faz parte do juramento da nossa formatura. Muitos participaram, ou ainda estão em atividade nas entidades de classe, e dão contribuições concretas na luta pela diminuição das desigualdades sociais
A FNA espera que esta publicação venha valorizar o arquiteto e urbanistaindependentemente da atividade por ele exercida, contribuindo para a ampliação do mercado de trabalho. Espera também que este livro sirva como um elemento para a reflexão dos estudantes e profissionais neste fim de século XX.
*Arquiteto e Urbanista, presidente da FNA 
Setembro de 1997
Diversidade
Maria Elisa Meira*
A cada encontro de arquitetos que se realiza, no momento de avaliação e de análise de conjuntura, começam as constatações a respeito da "situação" ou "quadro" do exercício profissional. Do ponto de vista da perspectiva sindical, não tem andado bem as coisas; as épocas se sucederam - do "esperar para dividir o bolo", passando pela "década perdida", para "cairmos na real" -, sem que os trabalhadores tenham saído do sufoco.
O crescimento perverso, concentrado e concentrador, a reengenharia insensível e desumana e a terceirização, descompromissada e desresponsabilizadora, já vinham horrorizando - "em uma ofensiva contra o mundo do trabalho, que vem reduzindo drasticamente a oferta mundial de empregos" -, a vida de muitos, entre eles, muitos de nós arquitetos e urbanistas; primeiro no setor privado e nos estados de economia mais dinâmica, mas logo depois no setor público e nos estados menos dinâmicos. Hoje, as dificuldades são cada vez maiores para arrumar postos de trabalho; trabalhar tornou-se gradativamente mais difícil, exercer uma profissão liberal quase impossível. O desemprego tanto no setor privado como no setor público, desequilibra o cotidiano dos trabalhadores.
Alguns entendem a integração de mercados (Mercosul, União Européia, Nafta) como o ápice da globalização e internacionalização da economia. A tendência é a mundialização (para os franceses) ou globalização (para os americanos e ingleses): a interdependência ou transnacionalização - fluxos econômicos e culturais transcendentes à soberania dos estados -, e a uniformidade e homogeneização cultural.
'Por sua formidável revolta social de dezembro de 1995, os franceses expressaram coletivamente, pela primeira vez, sua recusa a um modelo de sociedade fundada sobre o economicismo, o liberalismo integral, o totalitarismo de mercados e a tirania da globalização. Eles lembraram aos dirigentes um velho preceito republicano: os cidadãos preferem a desordem à injustiça."
Ramonet
Em nossas analises de conjuntura também já percebemos que são poucas as perspectivas de ultrapassar a crise, que ela é, errr verdade, intencional e planejada, e que deve ser enfrentada nessa perspectiva. A chamada globalização chegou e se instalou sem pedir licença, e o impacto foi tão expressivo, que não é possível ignorar o que se passa, mesmo que não estejamos diretamente envolvidos neste exato momento, ou pelo desemprego ou pelo congelamento salarial, logo a seguir seremos envolvidos de uma maneira ou de outra, inexoravelmente.
A sua vez o movimento associativo e sindical se ressente da falta de envolvimento de seus associados na defesa de seus próprios interesses num momento tão crítico; são variadas as explicações para tal fato; nenhuma delas completamente esclarecedora. Quase sempre as razões tem origem e explicação nos "equívocos de direção", e quase sempre, por conseqüência, procura-se mudar a direção que vem sendo dada, para outra considerada mais adequada. Nem sempre surgem os resultados esperados, como por exemplo, maior participação e maior envolvimento dos membros do sindicato ou associação - o que às vezes é chamado de renovação - a esperada renovação dos quadros da direção. É curioso observar que no momento da avaliação sempre aparecem, ou melhor se colocam à disposição, pessoas dispostas "a dar a maior força", que logo em seguida desaparecem tragadas pela "roda da vida".
'E, então, nós dizemos, que a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento estão mais ameaçadas do que se imagina. Pouco apouco começa a de instalar, em escala planetária, esta ideologia que chamo de pensamento único e que impede todo o pensamento dissidente, todo pensamento contraditório. Se você pensa diferente em matéria de economia, se você pensa que o liberalismo não é bom, eles não o publicam mais, você é marginalizado. E, então, pouco a pouco, nós estamos no interior de uma bolha arquitetada por essa nova ideologia que nos envolve. A força política capaz de se opor a isso ainda não tomou consciência. A maioria das forças de oposição da França e de outros países ainda utiliza conceitos de antes da guerra fria para fazer frente à situação atuaL Mas a situação contemporânea é totalmente diferente. O sistema conceituai e paradigmático de hoje nada tem a ver com aquele de 1989. As oposições e as organizações políticas ainda não encontraram a análise e a reflexão necessárias para organizar um pensamento de oposição."
Ramonet
"O que é o pensamento único? A tradução em termos ideológicos da pretensão universal dos interesses de um conjunto de forças econômicas, em particular, do capital internacional. Foi, por assim dizer, formulado e definido a partir de 1944, por ocasião dos acordos de Bretton - Woods. Suas fontes principais são as grandes instituições econômicas e monetárias - Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômi. cos, Acordo Geral sobre as Tarifas aduaneiras e de Comércio, Comissão Européia, Banco da França, etc. - que, através de seus financiamentos, recrutam, a serviço de suas idéias, e através de todo o planeta, numerosos centros de pesqui,sa, universidades, fundações, as quais, a sua vez, afinam e difundem estas idéias.
Este discurso "anônimo" é repetido e reproduzido nos principais órgãos de informação econômica, e notadamente pelas "bíblias" dos investidores das bolsas - The Wall Street journal, Financial Times, The Economist, Far Eastern Economic Review, les Echos, Agence Reuter, etc. -, proprietários, frequentemente, de grandes grupos industriais e financeiros.
A repetição constante, em todas as mídias, deste catecismo, por quase todos os políticos, de direita ou de esquerda, lhe confere uma tal força de intimidação, que ela asfixia todas as tentativas de reflexão livre, e torna muito dificil a resistência contra este novo obscurantismo."
(la pensée /migue! Ramonet - le monde diplomatique/ jan.95)
Os conceitos - chave do pensamento único são conhecidos: a economia é mais importante do que a politica; o mercado é idolatrado, muito particularmente o mercado financeiro; a concorrência e a competitividade, que alegadamente estimulam a modernização; o livre-comércio sem barreiras a mundialização (ou globalização) da produção manufaturada e dos fluxos financeiros ; a divisão internacional do trabalho, que modera as reivindicações sindicais e rebaixa os custos salariais;. a moeda forte dita fator de "estabilização"; a desregulamentação ; a privatização; a liberação, etc. Sempre "menos estado", "estado menor"; urna arbitragem constante em favor das rendas do capital e em detrimento das rendas do trabalho. E uma indiferença para com o ponto de vista da ecologia.
É frente a tudo isto que reagimos. O risco é a cultura de massa planetária e não a macroregião; na macroregião, obrigatóriamente as culturas das partes tem de ser consideradas. A mídia busca os comportamentos humanos no lugar de comportamentos culturais, ou seja estereótipos identificáveis com outros marcos de cultura. Outra característica é que estamos numa sociedade medrática cujo primeiro princípio é a redundância. Assim o radical retomar da identidade local, responde aos processos de globalização das instituições multinacionais da cultura que exercem pressão insuportável no sentido da homogeneização.
Os dados sobre crescimento da demanda por cursos de arquitetura e urbanismo, indicam que existe um perfil - ou pelo menos um imaginário social -, do "ser arquiteto", que desperta interesse. Ao nos interrogarmos sobre o fato, uma das hipóteses poderia considerar a possibilidade da imagem sobre a profissão estar associada ao humanismo, a uma maneira de ser e ver humanista - o arquiteto considera o homem, as questõesdo humano, do lugar A imagem está relacionada ao desenhar bem, às coisas bonitas, às coisas caras; às idéias luminosas e também a bobagens, coisas supérfluas e desnecessárias ; a expressão " isso é coisa de arquiteto", assume muitos significados, inclusive pelo modo e entonações de que vem revestida. Persiste, subentendida na expressão, uma conivência, um consentimento, enfim, uma critica simpática, certo desânimo reinante no meio profissional, e, quem sabe, dominante nas entidades dos arquitetos e urbanistas. Não só contrasta, como também nega as previsões dos meios profissionais. No entanto todos estão certos: os jovens, e outros não tão jovens assim, preferem a arquitetura e o urbanismo porque a consideram mais humana! Que bom, estamos de acordo; realmente, a profissão tem como condicionante básico de seu "métier", o ser humano e suas necessidades. Ou não é assim que os mestres da arquitetura e do urbanismo sempre nos ensinaram. Os profissionais a sua vez, frente às dificuldades advindas dos limites impostos, de maneira geral, pelas políticas de governo, à própria sociedade, e, a eles, em particular, vêm com desânimo .o seu futuro imediato, e se preocupam, com as dificuldades e impossibilidades a que estão sujeitos. Mas, de maneira geral podemos dizer, que apesar de internacionalistas, somos humanistas, e essa condição nos afasta da uniformidade e nos conduz à diversidade.
Outro aspecto a considerar é o limite imposto pelo imaginário profissional a respeito da própria profissão; sobre ele pesa o resquício de olhar com um único olhar a maneira de exercitar a profissão; o "ser arquiteto" dos arquitetos, não incluiu as diversas e várias maneiras, possíveis e necessárias à sociedade, de "ser arquiteto". Ainda que algumas poucas destas maneiras sejam consideradas, somente uma é privilegiada:-"fazer projeto''-, de casa, de sonhos, de obras, não importa, de esperanças, o-Mais comum, de desejos, não interessa, basta que seja PROJETO, assim mesmo, com letra maiúscula, para demonstrar e registrar sua IMPORTÂNCIA para a vida e existência de um....arquiteto e urbanista!
Essa maneira de ver (e de sentir) a profissão, nem sempre foi a mesma, ela foi incluída no discurso dos meios profissionais, nos anos setenta - os do milagre econômico -, e imediatamente absorvida na prática da escola, sem um exercício de crítica, que pudesse mediar as transposições dos interesses de mundo dos profissionais, para o mundo dos aprendizes, naquele momento e no futuro. Afinal, em que se transformou o projeto? Podemos dizer, que em sonhar no papel, o sonho do outro, ou dos oustros! Advinhar o que o outro quer, ultrapassar a realidade, e através do desenho, linguagem do sonho, materializar um desejo, difuso, pessoal, quase secreto, de satisfação e felicidade, por, simplesmente, estar, e estar ali, naquele lugar.
Que resultados práticos, podemos apropriar hoje dessa maneira de ver e sentir a profissão? Um dos mais evidentes, passível de constatação, é que na escola de arquitetos e urbanistas, a resolução tecnológica de um problema de arquitetura e urbanismo perdeu importância, se comparada com a importância dada à resolução conceitual, ou de projeto, do mesmo problema. Os profissionais que desenvolvem outro tipo de atividade diferente de projeto, ou exercem a profissão de...
... e muitos deles internalizam a idéia de que não estão fazendo arquitetura, e nem urbanismo. Estes profissionais, que quem sabe são a maioria, exercem a profissão de arquiteto e urbanista, mas nãt. se dão conta, ou negam, esse fato.
"A arquitetura nunca conheceu paralisações", como adverte Walter Benjamin; o urbanismo, tão pouco, se considerarmos a urbanização acelerada da humanidade. Os registros demonstram como era a situação no início do processo de concentração da população no território, e também, o quadro atual. A tendência dos dados continua indicando o progressivo deslocamento e movimento (das populações) no sentido de viver em concentrações cada vez maiores de pessoas, mesmo tendo de conviver em condições adversas e pouco recomendáveis para a qualidade de vida dos seres humanos.
A arquitetura e o urbanismo ativos ; a sociedade simpática e os jovens interessados na profissão; o que nos falta para enfrentar a adversidade da conjuntura ? Entender a conjuntura é lutar por não concentrar nada ; descentrsiizar, diversificar, são as palavras de ordem para enfrentar os interesses do capital transnacional que querem se impor. Ao discurso da globalização / mundialização, a ação com base no regional/local ; à tentativa de homogeneizar a cultura, a diversidade cultural. Todas as formas são válidas ; deixar de discutir qual é o lugar certo, admitir que será a partir de todos os lugares; e que é a partir do velho que surgirá o novo ( ver Coraggio).
Os sindicatos de arquitetos (e urbanistas) foram criados para abrigar as demandas crescentes de ação de representação sindical no meio da categoria; o assalariamento da categoria se impunha aos segmentos mais jovens da profissão, exigindo organização para a defesa desses interesses, cada vez mais distantes do discurso do arquiteto de escritório, ou seja do discurso relativo ao exercício liberal da profissão. Se havia uma imagem prospectiva que indicava a concentração crescente e eterna, esta se desvaneceu nos anos 90; a globalização obedece aos desejos vorazes dos interesses do capital, mas não privilegiou a "escala"; a reengenharia se encarregou de desmontar as grandes corporações; a terceirização se impôs - "donos de escritório à força" -, o que nos resta fazer?
Reafirmar, reafirmar e reafirmar; três compromissos:
• esclarecer e divulgar o que faz o arquiteto e urbanista;
• dominar os saberes intrínsecos à profissão; saber para valer, da história, da teoria, da tecnologia da arquitetura e urbanismo, e,
• projetar e realizar com compromisso, ou seja, atento às necessidades sociais.
É necessário ajudar a esclarecer e a reafirmar a real necessidade de conhecimentos técnico - científicos para o desenvolvimento das atribuições e atividades do arquiteto e urbanista, evitando as intenções de "reserva de mercado", e apostando na responsabilidade técnica e social da profissão como a verdadeira chave do reconhecimento e valor junto à sociedade.
Do ponto de vista legal, compete ao arquiteto e urbanista o exercício de todas as atividades referentes a edificações, conjuntos arquitetônicos e monumentos, arquitetura paisagística e de interiores, urbanismo, planejamento físico, urbano e regional. É um espectro bastante amplo que exige da educação profissional um esforço capaz de qualificar o arquiteto e urbanista na abrangência de suas competências legais, com o aprofundamento indispensável para que possa assumir as responsabilidades nela contidas.
Para exercer atividades como supervisão, orientação técnica, coordenação, planejamento, projetos, especificações, direção e execução de obras, ensino, assessoria, consultoria, vistoria, perícia, avaliação, necessário se faz que a formação do profissional contemple habilidades complexas e em campos bastante diversificados.
O exercício profissional dos arquitetos e urbanistas é regulamentado (lei 5194/ 66). A habilitação é única, ou seja não existem modalidades na profissão, e se dá pelo registro do-Iploma e histórico escolar, onde devem constar obrigatoriamente a aprovação nas matérias e o cumprimento das exigências do currículo mínimo que qualificam para o exercício profissional. Toda a legislação de regulamentação profissional tem caráter nacional, isto é, cumpridas as diretrizes e exigências curriculáres gerais a as leis de regulamentação profissiorial, os arquitetos e urbanistas podem exercer a sua profissão em qualquer parte do país, independentemente do lugar onde fizeram o seu curso.
Esta publicação, coletânea de depoimentos, objetiva, pelas próprias palavras dos depoentes - arquitetos e urbanistas -, trazer esclarecimentos aos profissionais e à sociedade sobre a profissão. Os profissionais que respondem à pergunta: o que faz um arquiteto, fazem "coisas de arquitetoe urbanista"- ou seja, desenvolvem diferentes atividades entre muitas outras possibilidades existentes. Este livro revaloriza para nós mesmos as nossas próprias atribuições e divulga e difunde a profissão junto à sociedade.
* Arquiteta e Urbanista,
Conselheira Federal/CONFEA,
membro do CEAU/MEC
agosto 1997
Depoimentos
Alberto Bunduki
Atividades:
Programação Visual e Gráfica
São Paulo, SP
A escolha de uma profissão, bem como do curso que nos habilitará a executá-la da melhor forma possível, é uma tarefa que exige, além dos conhecimentos do mercado de trabalho e de abordagem de cada curso, um estudo mais aprofundado da abrangência no campo de atuação de cada atividade profissional.
Existem profissões com limites de atuação bem definidas, assim como há as de atuação diversificada, ou seja, uma formação que te preparará para a execução de diversas atividades nem sempre tidas como afins.
0 curso de arquitetura é, sem dúvida, um exemplo de diversificação profissional, e este fato precisa ser devidamente divulgado para que as portas do mercado de trabalho se tornem mais abertas à atuação dos arquitetos.
Quando comecei a trabalhar, antes mesmo de ingressar na F.A.U. Brás Cubas, já atuava na área de Comunicação Visual como desenhista do setor de Artes e Comunicação do Curso Anglo Latino Vestibulares. Também criava e executava projetos gráficos e ilustração para os cartazes e impressos de divulgação das atividades culturais e esportivas do Clube Atlético Monte Líbano (SP).
Durante a faculdade participei do Concurso Nacional para a criação de cartaz publicitário do III ENEA - Encontro Nacional dos Estudantes de Arquitetura, tendo sido o vencedor.
Após a graduação em 1979, como arquiteto autônomo, trabalhei em área de edificações, executando projetos, fiscalização e administração de obras residenciais, comerciais e industriais. Em paralelo executei projetos de Comunicação Visual para empresas e instituições privadas.
Na Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo durante 5 anos elaborei projetos gráficos de cartazes, "folders" e outros materiais para os eventos culturais realizados por ela. Ainda na Prefeitura coordenei o Núcleo de Arquitetura que tinha como atribuição a elaboração dos projetos arquitetônicos e fiscalização das obras civis complementares. Nesta ocasião realizei o projeto de Sinalização Interna do Centro Cultural nas suas diversas áreas: bibliotecas, teatro e salas de espetáculo, espaço de exposições e dos setores administrativos e de apoio.
Além das atividades já descritas, dei aula de desenho técnico de arquitetura em diversas escolas particulares.
Atualmente, leciono aulas de linguagem artística (LA) no Curso Universitário Vestibulares na cidade de São Paulo e Santo André, para os vestibulandos de arquitetura, comunicação visual, desenho industrial e artes plásticas.
Trabalho, também na CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo, que lida com habitação popular, atuando no desenvolvimento e elaboração de materiais didáticos (manuais, folhetos, cartazes, e audio visuais) voltados à população de baixa renda, bem como ao corpo técnico e gerencial.
Por esta empresa estar ligada a área de construção civil, os conhecimentos adquiridos na faculdade, em planejamento urbano, edificações e tecnologia, contribui de maneira decisiva na execução do material citado pois, para elaborar manuais técnicos de orientação à população alvo é fundamental o domínio das técnicas e conceitos a serem empregados.
A elaboração destes impressos com informações complexas dirigidos a uma população deste nível econômico e social, transforma-se em um verdadeiro desafio à criação, pois há a necessidade do desenvolvimento de uma linguagem adequada ao seu grau de entendimento, sem porém deixar de transmitir um grande volume de dados técnicos. Como dizia Guimarães Rosa: "O simples não é fácil".
É evidente que as informações obtidas na cadeira de Comunicação Visual da faculdade são também utilizadas na elaboração dos trabalhos atuais, porém a experiência profissional, bem como os cursos mais atuais e abrangentes são de grande importância para se chegar a um produto final que atenda os seus objetivos.
Alexander Syoei Yamaguti
Atividades:
Coordenação de Trabalhos Comunitários e Ambientais, Projeto e Construção
São Paulo, SP
A Organização
Assessoria Técnica: este termo ganhou um significado específico para associações de moradia, sem tetos, moradores de favela, encortiçados e pessoas ligadas à habitação de interesse social no município de São Paulo, principalmente a partir do final da década de 80. O termo passou então a designar um técnico de equipe interdisciplinar compromissado com a melhoria da qualidade de vida daqueles que não possuem acesso ao mercado formal, quer seja o de trabalho, quer seja o de habitação. 
Estas equipes inter-disciplinares atuam em ONG's (organizações não governamentais) e são compostas por profissionais de diversas áreas do conhecimento humano: psicólogos, antropólogos, sociólogos, engenheiros civis, agrônomos, advogados, ambientalistas, sanitaristas, biólogos e arquitetos. Contam com a presença de três ou mais profissionais de formação distinta, e não por coincidência, sempre com a presença do arquiteto, já que os primeiros trabalhos foram ligados à produção de moradias.
Alguns exemplos do trabalho destes profissionais estão nos mutirões habitacionais da cidade e do Estado de São Paulo e nos programas de urbanização de favelas e recuperação de áreas degradadas das cidades de Santos, Diadema e São Paulo.
O Profissional
A partir do início da década de 90 passei a trabalhar como assessor técnico do mutirão de Vila Nova Cachoeirinha na condição de estagiário e posteriormente como responsável técnico. Desenvolvemos em conjunto com a Associação de Moradia Unidos de Vila Nova Cachoeirinha a produção de casas com a macro-estrutura em pré-formas de argamassa armada num regime de organização autogestionada (no qual a comunidade é diretamente responsável pela gestão financeira e administrativa do empreendimento), o que poderia ser chamado de 'pré-fabricação por ajuda-mútua".
Neste momento participo da formação de um grupo de arquitetos que atuavam no trabalho com mutirões habitacionais, retomando a discussão sobre os objetivos e necessidades de profissionais e organizações com perfis próprios à implementação de projetos em parceria com segmentos organizados da sociedade.
Em 1993 com esse grupo composto, além dos arquitetos, por profissionais das áreas de direito, sociologia, biologia, engenharia e psicologia, funda-se a Peabiru...
...homem / comunidade / ambiente de forma a resultar na melhoria da qualidade de vida e na ampliação dos direitos de cidadania. Em particular a atuação da Peabiru seguiu sempre alguns pressupostos:
soluções para os problemas discutidas e "encontradas" em parceria com as comunidades assessoradas;
diagnóstico dos problemas.apresentados e planejamento do trabalho definidos por equipe inter-disciplinar, sempre com um projeto técnico-social a ser implementado em conjunto com as soluções físicas (produção de moradias, reurbanização de favelas);
respeito à autonomia das comunidades e incentivo aos processos auto-gestionados;
busca de soluções integradas aos diversos anseios e necessidades das comunidades;
desenvolvimento ambiental equilibrado;
fornececimento de suporte técnico necessário às comunidades nas relações com o poder público e iniciativa privada.
Dentro das equipes de trabalho, a função do arquiteto abrange desde a solução arquitetônica da moradia e do urbanismo dos assentamentos, passando pelo suporte à organização comunitária, implementação e coordenação dos diversos projetos (educação ambiental, infra-estrutura urbana, assessoria à auto-construção, pré-fabricação) chegando à definição do diagnóstico técnico-social em conjunto com os outros profissionais e sistematização das informações, conhecimentose soluções tecnológicas adquiridas no decurso de cada projeto.
Poder participar de equipes inter-disciplinares e de projetos auto-gestionados possibilitou um crescimento profissional e humano que vejo como um amadurecimento da formação técnico-sócio-cultural obtida na escola de arquitetura. Tal formação deixa o arquiteto apto a perceber sutilezas nas inter-relações das pessoas com seu entorno e com sua comunidade, o que contribui para uma melhor abordagem das questões especificas, propondo soluções adequadas e particulares aos diferentes problemas apresentados.
Em função do trabalho desenvolvido na Peabíru constatei que a habitação de interesse social é hoje um grande mercado de trabalho para os arquitetos e urbanistas e se ressente da falta de profissionais com visão ampla da questão, a qual não deve ser encarada como simples produção de moradia e sim, como um processo de crescimento e amadurecimento dos atores envolvidos (estado, sociedade civil, iniciativa privada), objetivando a melhoria das nossas condições de vida.
Alexander Syoei Yamaguti é atualmente coordenador geral da Peabiru-trabalhos comunitários e ambientais e sócio-diretor da AR.YA Arashiro&Yamaguti escritório de arquitetura.
Ana Mírian Machado 
Janice Costa
Atividade:
Ambientação de Interiores
Natal, RN
As Múltiplas Angulações da Arquitetura
Atuar profissionalmente como arquitetas, para nós, não significa apenas executar as atividades para as quais estamos habilitadas. Significa fazê-lo com a consciência da repercussão sócio-economica e cultural do nosso trabalho. Significa realizar hoje com a visão do resultado amanhã. E, mais ainda, representa promover transformações e, com isso, despertar outros profissionais, iniciantes ainda, para as imensas possibilidades que a formação de arquiteto nos proporciona.
Assim é que, dentre as inúmeras coisas que partilhamos em oito anos de exercício profissional dentro do mesmo escritório de arquitetura - o Officio - está uma que nos impulsiona especialmente: a paixão pela descoberta. Temos, ambas, doze anos de graduadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Fomos sócias, anteriormente, em um escritório com mais dois profissionais. No entanto, a afinidade de propósitos acabou por eleger-nos como dupla e, até onde podemos avaliar, com boa receptividade no que consideramos a arte de projetar e ambientar construções humanas.
Conforme entendemos, a finalidade precipua de toda construção, além de abrigo físico é proporcionar a quem usa, bem estar psicológico. Isso inclui não só o conhecimento de condições ambientais e tecnológicas, mas o manuseio coerente e sensível do maior número possível de dados culturais. Desenvolvemos, então, um trabalho diferenciado, que possibilita, ao cliente, visualizar todo o projeto de arquitetura ou ambientação como se ele estivesse pronto. Além da planta baixa, cada móvel é mostrado em perspectiva., inclusive na cor em que será executado, especificamos piso, projetos de gesso, revestimento das paredes, esquadrias, pontos elétricos, bancas e tantos outros detalhes, acompanhando passo a passo, a execução.
Apesar de exercermos a arquitetura também na área de projetos, gostamos, privilegiamos e nos dedicamos muito à arnbientação. É nesse campo da profissão que nos realizamos mais, mesmo tendo a consciência de que quem faz ambientação está optando em trabalhar mais horas sobre um determinado projeto, sem que isso represente mais faturamento - mesmo a tabela apontando que o metro quadrado tem maior valor.
Optar por ambientação é arcar, ainda, como acompanhamento de serviços de terceiros, como gesseiros, vidraceiros e marceneiros, entre outros tantos parceiros.
A ambientação tem mais mercado, é bem verdade. As pessoas já estão mais abertas às vantagens de entregar a um profissional de arquitetura a ambientação do espaço que elas vão utilizar, seja comercial ou residencial. Afinal todos querem conforto e bom gosto, sem desprezar a dinâmica do espaço. Querem estar no escritório à vontade, como se estivessem em casa e, em casa, querem se sentir convidadas a ficar.
Nossa preocupação, nos projetos arquitetônicos, é o resultado de um todo, ao qual buscamos conferir beleza plástica, conforto e harmonia das cores e da iluminação. Com a ambientação, privilegiamos o espaço interno e humanização do espaço construído e não encerramos aí, contudo, nossas atuações. Oferecemos consultoria, orientando o cliente quanto às soluções para os problemas de arquitetura que ele nos apresenta e procuramos estar sempre em consonância com as opções que a evolução da tecnologia e dos materiais modernos nos proporcionam.
A formação do profissional de arquitetura, a valorização desse oficio que tanto respeitamos, também é um interesse nosso. Daí, temos permanentemente três estudantes do curso de arquitetura e uma arquiteta em nosso quadro de funcionários. Esses alunos são substituídos sempre que chegam ao ano de graduação, o que permite a outros arquitetos em potencial o acréscimo da experiência prática ao seu currículo. .
Não acreditamos ter descoberto, com a nossa vivência, todos os ângulos de atividade que a arquitetura pode nos apresentar. Estamos longe disso, e achamos dificil alguém conseguir esgotar tantas possibilidades. Porém, como dissemos no início, a expectativa de estar permanentemente descobrindo novos horizontes, que nos esforçamos por alcançar, é nosso maior estímulo.
Antonia Brasil
Atividades: 
Empresária na área de 
materiais de construção.
E muito por fazer.
O homem vive hoje, mais um momento de crise: social, familiar, afetiva, profissional. O mundo está em crise. Entretanto, é possível superar esse quadro, à medida que esse mesmo indivíduo busca seguir na vida, e se preparar para tal. E,star adolescência profissional é já ter vivenciado algumas experiências e ter a expectativa de vivenciar as outras tantas, e de forma intensa. Dezesseis anos e três experiências, intercaladas com projetos de arquitetura de edificações.
Num primeiro momento, muita busca e algum retorno financeiro e moral "nos projetos". A partir daí, recebi um convite para gerenciar tecnicamente uma indústria de fabrico de esquadrias de alumínio. Foi uma oportunidade de exercitar uma aprendizado acadêmico e de interferir no contexto fisico-social, sugerindo soluções para as mais diversas situações que se apresentavam, tais sejam, divisórias de espaços, coberturas, indicações da forma mais conveniente de funcionamento e distribuição de esquadrias. Concomitantemente a essa atribuição mantive participação societária numa construtora que foi "verdadeira escola, fora dela". Óbvio se afigura que não poderia ter participado desse empreendimento, não fora a formação e informações valiosas acumuladas durante todo um prazeiroso curso.
Considere-se que, analisarmos os últimos anos, podemos constatar a crise econômica que está instalada, volvendo o olhar mais especificamente para nosso país. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de considerar um determinante fator: estamos vivendo um momento de transição; a velocidade com que o processo de informatização vem avançando nos coloca em contato com os fatos e o mundo "em segundos", faz- nos sentir a necessidade de agir de maneira inteligente para que, de momentos críticos, possamos nos valer e sair fortalecidos, não permitindo que os caos ocupe espaço. Obstáculos são possibilidades. Dificuldades se apresentam justamente como meio de nos fazer seguir direções para fortalecer o interior e o exterior do indivíduo.
...mesmo que lhes vem permeando a vida. O homem vive sob constante tensão, medo de não ter e medo de perder. A falta de verdade e de estabilidade são fatores que desequilibram a harmonia de sua vida. Administrar bem um comércio lojista é tarefa que pude desempenhar com sucesso, considerando o embasamento acadêmico de profissional arquiteto. Fundamental, porém, e que se possa desenvolver um trabalho em que cliente e empresário estabeleçam um vínculo de confiança, enquanto ambos cuidam do suprimento de suas necessidades concretas.
A gamade atividades que podem ser desenvolvidas pelo empresário arquiteto é infindável, iniciando cot i a preparação do espaço físico: fachadas, estacionamentos, indicações, disposição interna do mobiliário e, principalmente, distribuição e arrumação das mercadorias paira proporcionar um atendimento eficaz, harmonioso, sereno e produtivo. Outra contribuição de extrema relevância são os contratos com novos fornecedores buscando.inowr diversificar, criar o alternativo e manter o binômio qualidade-preço.
No comércio lojista de materiais de construção, nós arquitetos somos de significativa valia, pois a grande demanda de clientes se considera construtor, advindo daí grande necessidade tanto a nível de esclarecimentos e orientações, quanto a nível de sugestões. A prática do que compreendemos ser o melhor para o cliente, é apenas uma parcela do que temos a desenvolver para atuar. O empresário arquiteto também convive com situações inesperadas e realistas no que diz respeito às suas obrigações financeiras e, com embasamento acadêmico, utiliza ua visão de planejamento e reajusta o cumprimento do contrato.Nos tempos de hoje, é essencial prover a preparação e organização de métodos de venda, e assegurar uma clientela constante. É indispensável que se estabeleça a relação de verdade, e se contemple a necessidade do cliente para que ele venha a ter suas expectativas satisfeitas.
Pesquisas realizadas pela Bain & Co., e pela Andersen Consúlting, demonstram que existe forte correlação entre o índice de fidelidade dos clientes e a lucratividade da empresa. É de fundamental importância que o cliente, quando no momento da compra, se sinta respeitado como ser humano, e que perceba que seu capital está sendo valorizado e bem aplicado. Com o atendimento particularizado, na medida do possível, a serviço do cliente, ele se tornará o próprio veículo de propaganda. A exemplo de: se ele é tratado pelo nome, ele não se sente apenas "mais um". É um marketing individual, voltado para resultados mais amplos e de longo alcance.
O fato de nos "prepararmos" por um período de nossa vida, nos fornece elementos que possibilitam uma organicidade e planejamento com vistas ao sucesso. Nos permite que vislumbremos um alvorecer de novos valores, visto que o poder de transformação do ser humano é imensurável e eterno.
Antonio Carlos Candia
Atividades:
Criação de Logomarcas,
Planejamento Urbano e Regional
Cuiabá, MT
Minha vida profissional
Poucos profissionais saberão, mas eu sei, o dia, a hora e o local em que foi plantada a primeira semente do que viria a ser a minha gratificante vida profissional. Foi no início da tarde de um dia de maio de 63, numa das salas de visitas do Colégio Arquidiocesano de São Paulo quando recebi das mãos de uma psicóloga o resultado de um teste vocacional, realizado com alunos do segundo ano colegial. Hoje tenho muitas restrições quanto a esse tipo de teste, mas na época, estava na moda e era inquestionável.
O convite pessoal da FNA para "prestar um depoimento da minha trajetória profissional", juntamente com arquitetos de destaque de todo o Brasil, é para mim um prêmio, uma honra e uma oportunidade de rever três décadas desse complicado caminho que - para os que querem ganhar a vida com esforço e honradez - tem sido, esse nosso oscilante país.
Cursinho no Rio de Janeiro, vestibular, faculdade (FNA-RJ), cursos noturnos, estágio no escritório de Ricardo e Renato Menescal: o primeiro, meu professor de DML, ambos, exemplo de profissionais competentes a quem muito devo de minha primeira experiência profissional, e a quem, quando formado, procurei imitar.,
Para um mato-grossense, passar no vestibular de uma boa escola do Rio de Janeiro ou de São Paulo era uma questão de honra, dava notícia até em jornal local. Fracassar, nem pensar. A família, os amigos, enfim a sociedade, acompanhavam o seu desempenho, a sua formatura e até o seu retorno. A solidariedade e o apoio estavam sempre presentes e, comigo não foi diferente, basta dizer que para prestigiar a minha colação de grau, foram de Mato Grosso para o Rio, mãe,irmãos, primos, tios, avós, namorada e até meus futuros sogros além de parentes do Rio e de São Paulo.
Ao voltar à Cuiabá, minha cidade, instalei meu primeiro escritório no porão de minha casa e, logo percebi que, apesar de que o estado já vivia uma nova fase de grande crescimento econômico e populacional, não havia mercado de trabalho que sustentasse - especialmente com projetos - os cerca de 10 arquitetos e 150 engenheiros em atividade na região. Os profissionais dessa área, que faziam arquitetura - mais engenheiros que arquitetos - a faziam como "bico" ou como urna segunda atividade, já que, na verdade, eram sempre funcionários públicos, professores ou técnicos de construtoras.
Outra dificuldade nesse início da década de 70, mas que de certa forma ainda se percebe, é que o "engenheiro arquiteto" como era conhecido , era visto como um "artista" que, "desenhava fachadas bonitas nos projetos que os engenheiros construíam". Um acessório de luxo e supérfluo para uso exclusivo de granfinos.
Na minha opinião, esse quadro prejudica muito aqueles que querem, de forma direta, participar do amplo mercado da construção civil, que é de fato o nosso campo de trabalho e que vai desde o projeto do mobiliário ao planejamento das cidades.
Mudar essa cultura não é tarefa fácil uma vez que, a nossa formação universitária - menos na minha escola e mais nas outras - trabalha contra nós quando enfatiza mais o arquiteto como "artista criador" e "homem de cultura" - 'que de fato também é - do que como um técnico capacitado a pensar, planejar, dirigir, construir e organizar os espaços onde o homem venha a exercer suas atividades.
Na início, ainda que formalmente instabdo naquele modesto subsolo com duas pranchetas e um armário de aço, comecei a participar ativamente das associações de classe e de clubes de serviço que me ajudaram a pleitear e conseguir ser contratado como professor da Escola Técnica Federal e técnico da Cohab-MT, atividades que exerci até vir a ser professor fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, cargo que exerço há 27 ano, hoje temporariamente como chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
Durante esses anos, além dó magistério superior e da direção da minha firma de projetos, que constituíram atividades permanentes e prioritárias, exerci altemadamente cargos dos mais diversos na área profissional, oficial e assistencial, como: conselheiro e diretor do CREA, membro do Conselho Técnico Consultivo da Escola Técnica Federal, diretor de operações da Secretaria de Indústria e Comércio, fundador e primeiro presidente da Associação Profissional dos Arquitetos do estado (hoje sindicato), chefe do departamento de projetos da Cohab-MT, diretor da Sociedade Santa Casa de Misericórdia, membro do Conselho Rodoviário Estadual e presidente da empresa de turismo e do Instituto de Engenharia de Mato Grosso.
Como arquiteto, só, com sócios e/ou parceiros, produzimos, tanto na criação, coordenação ou assessoria de projetos, quanto na construção ou fiscalização de pequenas obras, um volume de trabalho por todo o estado de Mato Grosso que eu jamais poderia supor nos meus mais otimistas devaneios de estudante. Nos anos 70, a maioria dos serviços prestados como projetista ou pequeno construtor eram de residências, serviços esses, contratados diretamente com os proprietários. Já nos anos 90, temos trabalhado para incorporadoras planejando edifícios de grande porte destinados à habitação coletiva, comércio e serviços.
Entre uma e outra década, nossa produção se diversificou, indo da criação de algumas logomarcas conhecidas no estado, ao projeto urbanístico de uma das mais novas e promissoras cidades de Mato Grosso - Primavera do Leste. Nesta época participamos também de importantes empreendimentos nos setores de educação, serviço público e saúde, ocasião que, em termos profissionais, passamos da "adolescência para a maturidade" quando, em projetos de grande complexidade, contamos com a parceria ouconsultoria do arquiteto João Carlos Bross que, na condição de professor e "colega com mais tempo de praia", significou para mim uma segunda faculdade ou, uma "pós-graduação prática", dada a alta qualidade técnica e organizacional de sua empresa Bross & Leitner, cuja tecnologia, transferida à minha equipe, guardadas as devidas proporções, muito tem, desde então, servido ao desenvolvimento do meu estado.
Estou convicto de que, se êxito tive na minha vida profissional, isso se deve à combinação de diversos fatores positivos, entre os quais a sólida formação acadêmica que acredito ter adquirido naquela que era considerada por nós, unia das melhores, senão a melhor escola de arquitetura do país, combinada com a motivação pessoal de - qualquer que fosse a profissão - "vencer na vida" dando a minha cota de participação e influência no meio social a que pertenço, numa condição maior do que a de um simples "homem de prancheta". Antonio Carlos Candia - Faculdade Nacional de Arquitetura, RJ - 1969.
Antonio Carlos Lobo Soares
Atividades:
Artes Plásticas
Ambientação de Viveiros e Museólogo
Belém, PA
A minha vida profissional iniciou em 1979, quando ingressei no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Pará, em Belém do Pará, aceitando convite da professora Dina Oliveira para ocupar uma vaga de estágio no Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico, da Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo - SECDET. Acompanhei por um ano as obras de restauro do altar-mor em madeira da Igreja de Santo Alexandre, marco da presença dos jesuítas no Pará, realizadas por carpinteiros e marceneiros vindos de Pernambuco. Aso mesmo tempo que entrava em contato com os conceitos da Arquitetura na Universidade, vivia os primeiros momentos de profissão junto a pessoas simples.
Ao término deste estágio, cuja remuneração mal permitia que eu pagasse o ônibus de ida e volta ao centro histórico de Belém, fui contratado como Técnico em Restauração, ao mesmo tempo que concluía os semestres básicos do curso de Arquitetura.
Durante os dois anos que permaneci nesta função, além de ter tido o privilégio de acompanhar os primeiros tombamentos de bens móveis e imóveis do Estado, participei de um projeto que inventariou e iniciou o restauro de 6 igrejas das mais importantes de nosso Estado. Com a influência do curso de Arquitetura, por meio das disciplinas de desenho e plástica, e de meu pai Roberto de La Roque Soares, engenheiro, artista plástico e arquiteto, iniciei-me nas artes plásticas e criei um núcleo de artes gráficas na Secretaria de Cultura. Produzi mais de trinta impressos dentre capas de livros, cartazes, convites, cartões de natal e folhetos diversos. O contato com os demais segmentos culturais vinculados a SECDET, hoje Secretaria de Estado da Cultura, e o apoio que tive de fido Barbosa Teixeirk um dos poucos museólogos que se aventurou a deixar a Bahia para vir trabalhar no Pará, ampliaram bastante minha percepção de mundo e os conceitos qtre aprendi na Universidade. Foi ali que descobri que a arquitetura não se resume apenas a projetos e que os nossos mitos de sala de aula também são mortais.
Depois de três anos fui parar no Museu Paraense Errulio Goeldi, deixando o cargo de técnico em restauração para assumir urna bolsa de Desenvolvimento Científico Regional do CNPq. Meus colegas não entendiam o porquê de um arquiteto trabalhar em um museu. Mas eles não sabiam quão especial seria este Museu, uma das primeiras instituições de pesquisa do país, fundada por um grupo de amantes da ciência, em 1866. Fazem parte do Museu Goeldi um jardim botânico, um aquário e um jardim zoológico, o primeiro fundado no Brasil, além de um campus de pesquisa com 12 ha e uma estação científica com 33.000 ha na Floresta Nacional de Caxivanã, no município de Melgaço-PA.
No Museu Goeldi tive a liberdade de aplicar tudo que aprendi no curso de Arquitetura em termos de uso do espaço com criatividade. Iniciei na Divisão de Museologia realizando em média 12 exposições temporárias por ano. Ao lado de museólogos, artistas plásticos e uma pequena equipe de técnicos dedicados, planejávamos e executávamos todos os passos de uma exposição, desde a escolha do tema, seleção do acervo e ser exposto e principalmente da elaboração dos programas educativos que complementavam o assunto abordado. O convívio com pesquisadores de alto nível e a facilidade em realizar contatas internacionais fizeram aumentar a minha responsabilidade.
Depois e três anos na Museologia, fui convidado a coordenar o projeto de recuperação física e paisagística do Parque Zoobotânico do Museu, que possui 5,2 ha. Iniciou-se ali outra grande fase de minha vida profissional, quando passei a ter contato direto com o homem, a fauna e a flora amazônicas, representados por coleções arqueológicas e antropológicas, cerca de 1.500 espécimes vivos de animais e 2.000 plantas. Utilizei tudo que aprendi na Arquitetura para realizar o levantamento das condições de viveiros de animais, raízes de plantas, instalações subterrâneas de água, esgoto, luz e telefone. Projetar para humanos é muito mais simples do que para os animais. Os humanos podem reclamar, os animais não. É necessário estudar seus hábitos antes para ver se suas condições de vida melhoram depois da intervenção.
Procurei literatura sobre Museologia e Manejo de animais em cativeiro e muito pouco encontrei em nossa língua. Com apoio de um grande diretor do Museu Goeldi Dr. Guilherme de La Penha, fui fazer um curso de Manejo de Animais Silvestres em Cativeiro, promovido pela Smithsonian Institution de Washington DC - USA, em parceria com a Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Coloquei em prática toda a teoria que aprendi com os professores americanos e canadenses. Foi uma fase de muita satisfação. O índice de mortalidade dos animais no Parque Zoobotânico foi reduzido de cerca de 60% para 11% ao ano. Animais voltaram a se reproduzir, alguns destes ameaçado de extinção como o macaco-aranha (Atelles paniscus) e a tartaruga da Amazônia (Podocnemes expansa). Lembro da intervenção que fiz no viveiro destas tartarugas, com a ampliação da área de insolação e estabelecimento de um sistema de drenagem para a ilha de desova, que ampliou o número de reproduções de 45 em um ano para 650 no ano seguinte.
De repente, eu, que tinha dificuldade em decorar alguns termos técnicos da Arquitetura, me vi obrigado a conhecer os nomes científicos de animais e plantas e estudar seus comportamentos em condições de cativeiro.
Este trabalho de reformulação do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi me rendeu um convite para dirigi-lo, onde permaneci pior três anos. Apresentei-o em Congressos da Sociedade de Zoológicos do Brasil, tendo muito boa aceitação e gerando um conflito para o pessoal que atua nos zoológicos. A exemplo do que ocorre entre os arquitetos e engenheiros, nos zoológicos existem conflitos profissionais que envolvem os veterinários e os biólogos. Acostumados a atirarem entre si, de repente tiveram que conviver com um arquiteto em seu meio, falando em reprodução, alimentação e apresentando soluções no campo da arquitetura para os problemas de manejo de animais em cativeiro. Foi uma fase gratificante, onde conheci profissionais do maior gabarito, abnegados, que não têm hora para trabalhar e quase sempre atuam sem recursos financeiros e materiais. O resultado da atuação na área de zoológicos me rendeu algumas viagens pelo Brasil e duas visitas de estudo por cerca de 30 zoológicos. Hoje, sou mais conhecido pelos animais do Parque Zoobotânico do Museu do que pelos meus pares no Pará., jardins botânicos e museus, de 15 Estados do Leste e do Oeste dos EUA. Hoje, sou mais conhecido pelos animais do Parque Zoobotânico do Museu do que pelos meus pares no Pará.
Depois que entrei no Museu, foram contratados mais cinco arquitetos, sinal do reconhecimento da importância destes profissionais para os museus, zoológicos e jardins botânicos.
Em 1986, com os registros de minha atuação por mais de cinco anos na área de Museologia, solicitei ao Ministériodo Trabalho e fui provisionado museólogo.
Dentre as comissões de trabalho que participei destaco as que criaram o Museu da Universidade Federal do Pará, o Parque Ambiental do Utinga - PA, o Bosque da Ciência no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em Manaus - AM e a que instalou o Museu do Estado do Pará no bi-secular Palácio Lauro Sodré, obra prima do arquiteto Antonio José Landi, em Belém.
Atualmente coordeno o Departamento de Museologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, auxilio a Associação dos Artistas Plásticos do Pará - AAPP como seu Diretor Administrativo e sou Secretario do Conselho Federal de Museologia - COFEM.
A formação em Arquitetura foi fundamental para o desenvolvimento de minhas atividades profissionais. Os meus professores, um misto de técnicos e artistas, com todas as limitações por atuarem em uma região isolada do resto do país, como a região amazônica, souberam transmitir toda a emoção que envolve as pessoas que fazem a opção de estudar Arquitetura.
Benny Schvasberg
Atividades:
Planejamento Urbano,
Projetos Urbanísticos,
Planos Diretores, Ensino
Brasília, DF
Fico feliz em dar este depoimento comemorando meus quarenta anos. Afinal, depoimento de trajetória de vida profissional geralmente é aquela coisa de final de carreira, parecem gravações de velhos artistas no Museu da Imagem e do Som. No meu caso é o contrário, pois dizem que a vida começa aos quarenta. Por ter justamente esta idade, posso dizer que antes mesmo de começar a vida, tenho perseguido meu destino como arquiteto e urbanista vivendo experiências e percorrendo caminhos os mais diversos nestes quinze anos que estou formado.
Comecei a me interessar pela arquitetura nos tempos de ginásio estimulado pelas aulas de desenho geométrico no Colégio Amaro Cavalcanti no Largo do Machado no Rio de Janeiro (agradeço ao professor que com certeza não sabe disso). E fui adiante fazendo o curso de Edificações na Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, onde estudei e pratiquei nas aulas de Canteiro de obras as técnicas de construção. Nesta época fiz um rápido estágio na área de urbanismo na Prefeitura do Rio. Um certo gosto artístico para o lado da escultura, do senho livre e uma aproximação ao teatro me afastaram da engenharia civil me levando mesmo para a arquitetura. Tive a sorte - por ser pública, pelo lugar delicioso e pelos bons professores - de cursar a Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, dividindo (mal) o tempo entre aulas, estágio em escritório como desenhista, dando aulas de desenho arquitetônico para sobreviver e ainda fazendo movimento estudantil. Sem saudosismos, minhas lembranças são muito prazeirosas das aulas (principalmente as discussões de projeto) e dos projetos...
...com o trabalho de desenhista, com o movimento estudantil e as aulas de desenho arquitetônico que dava para menores internos da FUNABEM. O desafio de ensinar o desenho a menores sem formação escolar, sem família e numa situação de reclusão semi-marginal num ambiente controlado, e ainda estimulá-los a criar seus projetos de arquitetura foi uma grande experiência na minha formação humana e profissional.
Com o gosto aberto para o ensino, mesmo antes de me formar arquiteto, entrei para a Rede Pública do Rio de Janeiro onde lecionei desenho e projetos de construção civil para cursos profissionalizantes. Entretanto, desde o começo senti que não poderia ser um bom professor sem ter uma atuação profissional corno arquiteto. Não compartilho da idéia de que só se pode se dedicar ao ensino após uma longa trajetória profissional prática. Se assim fosse só aposentados poderiam das aulas (embora esta seja uma tendência atua face a pouca atratividade salarial da carreira acadêmica). Mas também não acredito que numa área como arquiteta e urbanismo o profissional possa ensinar sem uma experiência profissional prévia e, porque não, concomitante. Daí porque paralelamente ao ensino sempre fiz de tudo um pouco: projetos e obras de reformas de casas, apartamentos, lojas comerciais, shoppings, portarias de prédios, cozinhas, banheiros, etc. Quando me perguntavam "qual é a sua especialidade?", sempre respondi "sobreviver".
Tive a oportunidade de me aproximar do tema do patrimônio histórico e cultural auxiliando a pesquisa sobre o corredor cultural na região do centro histórico do Rio. Esta experiência me foi muito rica pois voltei para analisar, com olhos de adulto e arquiteto, espaços onde nasci e morei até os dez anos. É impressionante como muda a noção de escala quando se volta adulto ao espaço que se vivia quando criança.
Outra rica experiência foi o desenvolvimento do Projeto Parque da Ciência, no Museu de Astronomia localizado no sítio do antigo Observatório Imperial Astronômico, em São Cristóvão no Rio de Janeiro, onde trabalhei com protótipos de brinquedos como equipamentos lídicos de apoio ao ensino de ciências. Este projeto experimental foi premiado pelo IAB-RJ na categoria desenho industrial aplicado à Educação em 1987. Neste mesmo sítio tive oportunidade de retomar o tema da memória e do patrimônio histórico, em atividades de museologia e museografia. Paralelamente, a militância no movimento de associações de moradores me chamou também à reflexão das questões urbanas. Juntando estas preocupações, ingressei no mestrado em planejamento urbano desenvolvendo tese sobre "espaço, memória e equipamentos culturais". Posteriormente, iniciei um doutorado na FAU- USP, que finalmente conclui na área de sociologia urbana na UnB, com tese sobre os rumos da politica urbana no período pós-autoritário.
Retomei a vocação da docência, entrando no então Instituto, hoje Faculdade, de Arquitetura e Urbanismo da UnB em 1992, onde leciono e pesquiso na área de urbanismo e planejamento urbano.
Além da Universidade, atualmente atuo no Governo do Distrito Federal desde 1995, como diretor de projetos do Instituto de Planejamento Urbano e Territorial do Distrito Federal - IPDF. Mais do que trabalho, esta contribuição a um governo democrático e popular tem me proporcionado uma experiência riquíssima de aprendizado no trato das questões urbanísticas. Sobretudo quando se trata de uma cidade como Brasília onde se convive simultaneamente com a problemática urbana, ambiental e patrimonial. Onde segregadas cidades satélites, assentamentos e invasões sub-humanas cercam o território da maior renda per capita do País - o Plano Piloto de Brasília, estigmatizado pela maioria da população brasileira com uma imagem estereotipada de lugar de corruptos e privilegiados. Neste território de enormes desigualdades, marcado ainda pelas práticas populistas de governos anteriores, que produziram um caos fundiário e uma cultura de invasão da terra pública, com predomínio da irregularidade num contexto de normatividade urbanística rígida, temos realizado avanços em termos de planejamento, planos- diretores e projetos urbanísticos com métodos e comprornisos participativos com a população.
Após uma formação e trajetória de vida razoavelmente eclética e diversificada, hoje me defino basicamente como um profissional Cujo tema é a cidade. Tenho bem 'mais incertezas do que certezas quanto às teorias e práticas sobre ela conhe cidas, mas o espaço da cidade é meu tema preferencial, de pesquisa, ensino e extensão na Universidade através de trabalhos com a comunidade, e de intervenção através do planejamento e do projeto. No entanto, se alguém me perguntar "qual é a sua especialidade?", como arquiteto, brasileiro, de esquerda, professor de universidade pública, nestes tempos de neoliberalismo, continuo respondendo sem pestanejar: "sobreviver".
Isto até agora. Mas a vida começa aos quarenta ...
Carlos Newton Júnior
Atividades:
Ensino, Poesia
Natal, RN
Arquitetura e Ensino
Antes mesmo de chegar à metade da graduação em Arquitetura e Urbanismo - cursada na Universidade Federal de Pernambuco, de 1984 a 1988 -, eu já tinha plena consciência de que, no decorrer de minha vida profissional, jamais daria prioridade à prática do projeto. Importante dizer que aquela certezade então, presente ainda hoje, não se vinculava a nenhum rendimento insatisfatório, de minha parte, nesse campo. Muito pelo contrário: o talento para o desenho à mão livre, que descobri possuir desde menino, muito me ajudou a figurar entre os melhores alunos da turma nas disciplinas de planejamento, fosse o arquitetônico ou o urbano. E se não fui um aluno excelente, nessas disciplinas, foi porque, sendo já outro o meu interesse maior, me dedicava a elas apenas o suficiente para ser aprovado com boas notas.
No meu tempo de estudante, não tínhamos ainda o acesso às facilidades da computação gráfica, coisa corriqueira hoje em dia. Assim, o que mais me angustiava, nas disciplinas de planejamento, era o sentimento de perda de tempo com o desenho técnico realizado a nanquim, com paralela, esquadro e normógrafo. Por mais ágil que fosse, não havia como escapar de noites e noites curvado sobre a prancheta, quando todo o trabalho de criação já estava realizado, com escala e tudo. Ao tempo em que me dedicava àquele trabalho, eminentemente braçal, rotineiro e mecânico, pensava em quantos bons livros poderia estar lendo ou o quanto poderia estar escrevendo.
O gosto pela leitura, que adquiri na adolescência, condicionou a escolha do caminho a ser seguido. Mas, determinante, mesmo, foi o encantamento com o estudo da Estética e da História da Arte, inciado na faculdade de Arquitetura. Encantamento que se deveu, principalmente, à atuação de um professor. Um...
...refiro-me ao escritor Ariano Suassuna. Não é por acaso que, há nove anos, ou seja, desde que conclui minha primeira graduação, venho me dedicando à atividade docente, lecionando exatamente as mesmas disciplinas que tive o privilégio de estudar com ele, e dírecionando meu potencial criador para o trabalho literário, seja no campo do ensaio, da poesia ou da ficção, de certa forma seguindo os seus passos. Faço isto por necessidade intrínseca de sobre-vivência, sem nenhuma pretensão de chegar, nessa escalada, ao alto patamar que ele merecidamente alcançou.
Não posso negar que, a princípio, questionei minha permanência no curso de Arquitetura. Ainda possuía a visão estreita de que o arquiteto deveria ser prioritariamente um projetista de edificações. Aos poucos, conversando com professores e colegas, fui me dando conta da diversidade de atuação que o curso pode oferecer ao futuro' profissional. Percebi que, no caso específico do ensino, uma disciplina como História da Arquitetura, por exemplo, fundamental na formação do arquiteto, dificilmente poderia ser ministrada por um professor sem a formação específica em arquitetura. já em 1948, no clássico Saber ver a arquitetura, Bruno Zevi chamava atenção para uma certa ignorância em relação à arquitetura - ignorância no sentido socrático, e não pejorativo - muito comum em pessoas de elevada formação intelectual. Nesse ponto, a atualidade do livro é indiscutível. O espaço, a composição volumétrica, os significados simbólicos da forma, aspectos que devem nortear o juízo sobre a Arquitetura, permanecem e permanecerão comd valores arquitetônicos cujo entendimento é de difícil acesso ao não-arquiteto - que continuará, por muito tempo, identificando a boa arquitetura com a edificação que se destaca pela qualidade dos materiais, pelo luxo e pela ostentação.
A decisão para o ensino, de certa maneira, definiu o complemento de minha formação. Ainda estudante de Arquitetura, ingressei no curso de História da Universidade Católica de Pernambuco, no período da noite. Depois, seguiram-se duas pós-graduações, uma em Teoria da Arte e outra em Literatura Comparada. Na condição em que me encontro, de especialista em idéias gerais, sinto-me muito à vontade para lecionar as disciplinas que venho lecionando. Não vejo como estudar a arquitetura do teatro grego sem considerar aquele teatro enquanto espetáculo, ou seja, sem uma digressão que se inicie nos textos dos principais tragediógrafos e termine no entendimento do edificio, passando pela indumetária e pela pintura dos cenários. Para continuar na Grécia antiga, não entendo como se estuda a pintura grega de vasos e ânforas sem a leitura das principais fontes temáticas dos artistas-oleiros, a Iliada e a Odisséia.
Acredito que o estudo advém de uma paixão, de uma sede de conhecimento que, a rigor, não é saciada por curso nenhum. A bem da verdade, se continue e continuoinvestindo em uma formação acadêmica, o faço muito mais por urna imposição de natureza profissional do que por vaidade em relação a títulos. Com ou sem esses cursos, eu teria estudado do mesmo jeito, lido os mesmos livros* escrito as mesmas coisas. Acontece que, tendo ingressado na carreira docente, a necessidade de titulação aparece como condicionante .a uma ascensão profissional e financeira. E, se todo professor brasileiro é um pouco Campos Lara, personagem do genial Orígenes Lessa, eu, que insisto também em escrever poesia, talvez nem precise dizer o quanto ganho mal, tanto de um lado quanto do outro.
Sou professor do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, desde janeiro de 1990. Como funcionário público, considero-me sempre a serviço da instituição. Assim, algumas vezes, quando convocado, cheguei a assumir cargos administrativos a contragosto, sabendo que seriam um duro fardo, porque em nenhum momento deixei de ministrar disciplinas.
Sendo um latino-americano, um "pensador do chão e da embriaguez", posso dizer que a sala de aula é o palco de minhafista: é lá onde canto e danço, e assim me esqueço, em instantes de qualquer possível calma, da marca trágica provocada pela coroa-de-espinhos que adorna a fronte de todo homem - por um lado forçado a ascender, e, por outro, fortemente preso, pelo destino, pelo tempo e pela ruína, a esse chão seco e pedregoso aqui de baixo.
Cláudio Forte Maiolino
 Atividades:
Ensino, Restauração,
Projeto e Construção
Curitiba, PR
Entrei para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontificia Universidade Católica do Paraná em 1977, sem saber ao certo o que era Arquitetura, mas algo me dizia que era o que eu queria fazer. O pensar em todo o projeto, a concepção em qualquer área sempre me fascinou. Hoje, entretanto, percebo claramente que a função do argui- teto é bastante ampla, e deve realmente preceder o coordenar uma parcela considerável das atividades humanas.
Cursava a Faculdade em uma década em que o milagre econômico brasileiro chegava ao fim. O sonho de que o país do futuro começara a brilhar acabara, pelo menos prá nós, jovens arquitetos.
O curso de arquitetura me dava muito prazer, gostava da maioria das disciplinas, principalmente daquelas ligadas à história da arquitetura, mas mesmo tendo professores de grande desempenho profissional, algo intuitivamente me incomodava. Como poderia ser possível que um curso com bagagem cultural tão vasta, formasse profissionais para tão somente projetar? O que é um projeto, se o mesmo não for realizado, ou como é comum, ser executado por outros profissionais que deveriam desenvolver uma parte específica do todo? Primeiro, precisamos deixar claro que um projeto é a representação gráfica de uma idéia portanto, se não for executado, não passará de um desenho. Coo podemos exigir que nosso cliente, leigo em termos da construção, contrate um profissional caro para produzir um desenho, e deva cuidar e contratar outro profissional para realizá-lo? Não deveriam os arquitetos elaborarem o projeto arquitetônico, coordenarem os demais profissionais e ainda a execução do seu projeto?
O projeto só atinge seu objetivo maior quando realizado.
Em uma analogia simples, poderíamos imaginar um médico cirurgião cardíaco, dizendo como fazer um transplante de coração, entretanto, esse mesmo cirurgião não participar da operação, sendo esta realizada por um anestesista ou radiologista. Acho muito pouco provável que nos submetêssemos a uma situação desta. Em nossa profissão vemos, quase em sua totalidade, colegas que atuam desta mane,ira, ou seja, elaboram um projeto, entregam ao seu proprietário e não mais participamdo processo.
Se voltarmos ao passado não muito distante, vamos observar que o gerente ou mestre de obras veio a se tomar o arquiteto. Em nossa opinião não poderíamos jamais ter nos afastado da obra uma vez que nosso principal objetivo é o espaço construído pelo homem.
Até em nosso país, durante o século XVIII, mesmo não possuindo instituições cie nível superior, o mesmo com a presença dos "Engenheiros Militares" vindos do Reino, arquitetos conduziam seus trabalhos de maneira completa. Poderíamos citar somente dois nomes, Manoel Francisco de Lisboa e Antônio Francisco de Lisboa. Pai e filho, um mestre de obras formado no Reino Português, o outro aprendiz na colônia onde nasceu. Para entendimento completo do significado basta olharmos atentamente a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, construída na segunda metade do século XVIII. A precisão e o esmero da construção, onde dificilmente encontra-se diferença superior a milímetros, comprovam a capacidade de quem a concebeu e a construiu. Sabemos por documentos que Antônio Francisco de Lisboa executou o "Risco" ou projeto para esta igreja e cuidou pessoalmente de sua execução, como atestam os diversos riscos encontrados em escala natural, nas paredes do corredor lateral da sacristia, utilizados na estereotomia do corte das pedras.
Fez este trabalho como fez tantos outros de suas obras, e como tantos mestres arquitetos o fizeram até o século XVIII em nosso país. Recuando ainda mais, vamos encontrar os construtores Romanos, Gregos e até Egípcios, como idealizaciores do plano de obras e condução da execução da mesma. Sempre foi assim e continua sendo desenvolvido esse importante papel por arquitetos, à exceção talvez em nosso país.
Em 1985 tive a oportunidade de estudar na ItMia, onde pude conviver com argui- tetos não só italianos como alemães. Percebe-se claramente que a atuação do arquiteto é desempenhada na plenitude de suas atribuições. O momento é muito oportuno, aNs, para a rediscussão das esrtuturas profissionais de nosso país. Não podemos mais admitir que os mais diversos profissionais façam nosso trabalho.
A globalização tem exigido readequação de costumes incorretos de nosso país, há muito tomados pela sociedade como certo. Para notarmos isto, basta analisar o conhecimento que a sociedade tem do arquiteto, o que faz, qual sua formação e principalmente nem sequer imaginam que diferença faz o planejamento. Considero, entretanto, que se não somos conhecidos, e se outros profissionais atuam livremente em nosso mercado, só o estão fazendo por termos nos afastado da obra. Quando analisamos mais a fundo aspectos históricos que impõem essa cultura brasileira, completa ...
... revoluçao industrial, abraçam nossa área de trabalho. É preciso deixar claro que não colocamos em nenhum momento a profissão do arquiteto como mais ou menos importante que outras, só que numa escala de complexidade, tem uma amplitude de conhecimentos de todo o processo muito maior que determinadas profissões, talvez mais tecnológicas. É natural que com a ampliação dos conhecimentos científicos da humanidade, surjam novos profissionais, especializados em determinado setor.
Mas nunca chegarmos a ponto de ouvir com certa freqüência frases do tipo: Ã arquitetura deveria ser uma especialização da engenharia" Ora, isto é falta de cultura e mostra total desconhecimento da capacitação profissional.
Nos últimos 3 anos tivemos oportunidade de participar do sistema CREA/CONFEA na qualidade de representante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC/Pr. Percebe-se rinramente que o sistema é de complicado funcionamento, e deverá sem dúvida sofrer profundas modificações se quisermos tornar possível a participação do Brasil em nível de igualdade com o resto do mundo. Como o sistema considera a representação no órgão, proporcional ao número de profissionais, é claro que as profissões de engenheiros, pois subdividem-se dia a dia, detêm a grande maioria das decisões do sistema capitaneados pela Engenharia Civil, a quem evidentemente, não aceita sequer discutir o papel dos profissionais. É fácil entender que neste contexto, a inserção de nosso país em padrões internacionais fica bastante dificil. Diante deste quadro, acho que temos muita luta pela frente, principalmente para nos aproximarmos da sociedade. A melhor forma de sermos conhecidos á atuando junto à população.
Temos nos empenhado muito em nossas aulas deArquitetura Brasileira na PUC/ Pr, para mostrarmos aos estudantes que o papel do arquiteto é muito maior do que o que vem sendo desenvolvido em nosso país.
Achamos também que a melhor maneira de colocarmos arquitetura em plena ativicinde no Brasil, é através da participação, empreendimento e principalmente não delegando a outros profissionais trabalho que é de nossa competência.
De nada adianta nos determos em demoradas reuniões em Institutos, Sindicatos e Congressos se não decidirmo-nos por arregaçar as mangas e fazer nosso trabalho.
Participar ativamente da elaboração dos projetos e obras, pois o contato com as pessoas, cliente e profissionais da obra, nos tornará aptos ao preenchimento do importante papel que o arquiteto tem na sociedade.
Gostaria de finalizar, levando não o desânimo aos colegas, mas sim a força para que façamos a nossa parte, e que lutemos sempre a favor desta que é, sem dúvida, uma das mais completas e abrangentes atividades. A arquitetura participa a todo momento da vida das pessoas, do mais singelo abrigo ao sofisticado espaço urbano onde tantas e tão complexas atividades devem ser vividas, para que deixemos a outros profissionais, sem a devida formação, sua realização.
Claudio Silveira Amaral
Atividades:
Ensino e
Projeto de Escritórios
São Paulo, SP
Da trajetória de vida profissional
Formado em 1979 pela Fau/Puc/Campinas. Em 81 ingressei em uma empresa nacional que fabrica e comercializa mobiliário para escritório, cozinha e industria. Vivíamos no país o clima do fim do "milagre brasileiro". Ainda sentíamos o euforismo da política nacional desenvolvimentista iniciada na década de 30.
As empresas fabricantes de mobiliário para escritório cresceram incentivadas pela vinda de empresas multinacionais. O tipo de organização espacial para o trabalho administrativo usado era o escritório panorâmico que exigia um tipo específico de mobiliário basicamente composto por elementos que ao se juntar, formavam uma série de alternativas espaciais. Participei do departamento de Projetos. Foi a partir desta experiência que surgiu meu projeto de pesquisa sobre os Espaços dos Escritórios no Brasil. Publiquei uma série de artigos em revistas especializadas, possibilitando um ganho qualitativo em marketing para a empresa. A partir daí fui designado a compor um departamento exclusivo para pesquisa da história do escritório voltado ao desenho do produto e ao marketing.
Dos 10 anos trabalhados 6 foram com carteira assinada sendo os últimos como prestador de serviços. Estávamos vivenciando a introdução das políticas de flexibilização dos contratos de serviço, assumido hoje amplamente pelo empresariado nacional e internacional. Com isso, se foram os direitos trabalhistas, pois até então, estava vinculado ao sindicato dos metalúrgicos (embora pertencesse ao sindicato dos arquitetos), o que foi vantajoso em termos salariais. Passei a integrar o exército do mercado informal de trabalho Porém aceitei a relação, caso contrário perderia o emprego.
No início dos anos 90, a conjuntura econômica brasileira apresentava sinais de esgotamento do modelo e a chamada "década perdida", anos 80, exigiu de todos os setores empresariais transformações em seus sistemas produtivos/administrativos. No que tange a atividade de pesquisa desenvolvida por nosso departamento esse momento foi rico em conhecimentos porém significou nosso aniquilamento profissional pois fomos demitidos (a atividade de pesquisa se tornou supérflua). Como possuía uma em andamento me matriculei na pós graduação da Fau-USP. Porém a bolsa de estudos propiciada não garantia minha subsistência

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