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Flotação no tratamento de águas para abastecimento e residuárias. O presente texto trata sobre a operação de flotação, frequentemente empregada no tratamento de águas, com maior incidência para o trato de águas residuárias. Os assuntos abordados encontram-se divididos em seções, da seguinte forma: 1- Introdução e definições; 2- Formação do conjunto bolha-partícula; 3- Técnicas usuais de flotação; 4- Considerações finais. 1- Introdução e definições A flotação consiste em um processo de separação gravitacional no qual bolhas de ar são agregadas a partículas presentes no meio aquoso. Os aglomerados bolha-partícula, possuindo densidade inferior à do líquido, sobem à superfície e se acumulam, formando o produto flotado. Nesta operação, ainda podem ser adicionados agentes floculantes para acelerar ainda mais o processo de flotação. O uso desse processo no tratamento de águas, com maior ênfase no trato de águas residuárias, tem crescido significativamente, devido à alta capacidade de remoção e ao curto tempo de residência envolvido. A aplicação na separação de minerais é o emprego mais convencional da flotação, seguido de seu uso na recuperação de corantes em indústrias de papel, tratamento de água e esgoto. Atualmente, os sistemas de tratamento de águas residuárias, empregam a flotação com os seguintes objetivos: remoção de íons, como fosfato e íons metálicos; separação de óleos e graxas; redução de DBO e DQO e separação de partículas coloidais, finas e ultrafinas. Quanto à remoção de íons, a flotação consiste numa operação alternativa ao método convencional da precipitação química, que envolve a adição de uma base, como Ca(OH)2, para a formação do hidróxido metálico ou um sal de fosfato (hidroxiapatita de cálcio) insolúvel no meio. Apesar de amplamente utilizado, o método convencional apresenta restrições quando comparado à flotação, tecnologia de uso cada vez mais freqüente. A principal vantagem da flotação consiste na rápida cinética de tratamento, que permite a operação de instalações industriais mais compactas. Enquanto na sedimentação, há necessidade de grandes tempos de residência (de 20 min a 4 horas), a flotação opera com tempos que variam de 3 até 5 min. Além desta, a flotação ainda apresenta a possibilidade da redução do volume de lodo produzido, pois nem sempre é necessária a adição de agentes floculantes, dependendo do sólido a ser removido. 2- Formação do conjunto bolha-partícula; A explicação para a formação do conjunto bolha-partícula está no fato de que a superfície das partículas oleosas é hidrofóbica, fazendo com que a tensão superficial da água expulse a partícula do líquido e promova a adesão da partícula na superfície da bolha de ar. Fato que não ocorre com os componentes hidrofílicos, que preferem permanecer no meio líquido em vez de aderir à superfície da bolha de ar. A Figura 1(a) mostra uma representação da formação bolha-partícula. A característica da hidrofobicidade ou hidrofilicidade de uma substância pode ser estimada através da medida do ângulo (θ) formado entre uma gota da substância com o ar, como indicado na Figura 1(b). Este ângulo permite a quantificação dos vários graus intermediários de afinidade entre esses dois casos extremos e irá auxiliar no estudo da viabilidade da técnica de flotação. Figura 1. Formação bolha-partícula (a) e ângulo de contato entre substância e superfície sólida (b). 3- Técnicas usuais de flotação As duas técnicas de flotação a serem descritas são as mais comumente utilizadas na remoção de sólidos suspensos e óleos emulsificados de águas residuárias. A flotação por ar dissolvido encontra maior aplicação no tratamento de efluentes industriais enquanto a flotação por ar disperso é mais comumente encontrada em sistemas municipais de tratamento de efluentes domésticos. 3.1- Flotação por Ar Dissolvido Nesse processo, o ar ambiente é insuflado por auxílio de compressores, sendo então dissolvido no próprio efluente, em um tanque de pressurização (sob alta pressão), sendo em seguida liberado ao tanque de flotação à pressão atmosférica. Em termos práticos, uma parcela do esgoto do tanque de flotação recircula e é recalcado pela bomba pressurizadora que cria uma pressão elevada no tanque de pressurização aumentando a solubilidade do ar. Finamente dividido e solubilizado no esgoto, o ar é então liberado ao flotador, onde as microbolhas acendem até a superfície do tanque, carregando a matéria em suspensão (graxa e sólidos flutuantes) que tende assim a flotar. Essa matéria flutuante forma uma camada superior de escuma, que é raspada continuamente por um braço raspador apropriado e coletada em dispositivos especiais para ser então removida. Em instalações pequenas, toda a vazão de esgoto é pressurizada com ar enquanto nas estações maiores apenas uma parcela da vazão é pressurizada por meio de uma recirculação do efluente. Esta fração recirculada se mistura a parcela de esgoto afluente não pressurizada para então alimentar o tanque de flotação. As microbolhas formadas têm diâmetro na faixa de 10 a 100 mm, facilitando a diminuição da densidade dos conjuntos formados de flocos e bolhas em relação a densidade do líquido. O sistema de flotação é composto de um tanque de pressurização, de bombas de recirculação e de pressurização, dos compressores de ar e do tanque de flotação propriamente dito. A Figura 2 mostra uma vista lateral do tanque flotador, contendo os elementos citados e os fluxos do esgoto e do ar. Figura 2. Esquema da técnica de flotação por ar dissolvido No dimensionamento destas unidades deve se conhecer a razão ideal de ar (A) para massa de sólidos (S), que por sua vez é função da matéria em suspensão que se deseja remover e das condições de pressurização. A eficiência do sistema, em termos de remoção de sólidos suspensos totais, pode variar de 90 a 95% e depende primordialmente da razão A/S. 3.2- Flotação por Ar Disperso No sistema de flotação por ar disperso, as bolhas de ar são introduzidas no meio aquoso diretamente a partir da fase gasosa, através de equipamentos chamados de dispersores, que além de insuflar ar no sistema, promovem uma intensa agitação, fazendo com que haja contato entre partículas e bolhas. Estes equipamentos são instalados no centro do tanque flotador, acima do nível de líquido, para que possam coletar o ar ambiente, e possuem em seu interior placas perfuradas que possuem a função de “quebrar” o gás, formando pequenas bolhas. No parte inferior destes equipamentos, há um sistema de sucção da porção decantada do efluente, que o mistura às pequenas bolhas formadas, aumentando ainda mais o contato entre bolha de ar e partícula e evitando a sedimentação no fundo do tanque, conforme representada na Figura 3. As moléculas de óleo e demais sólidos em suspensão aderem às bolhas e por possuírem densidade menor que a da água, sobem até asuperfície. Figura 3. Esquema da técnica de flotação por ar disperso. Algumas características deste sistema em relação à flotação por ar dissolvido são: (1) baixo custo de instalação e manutenção; (2) alto consumo de energia; (3) alta quantidade de água presente na escuma formada. 4- Considerações finais Pode-se depreender do exposto no texto, que haverá, inevitavelmente, a geração de grande volume de lodo flotados ao final do processo. Este fator é sem dúvidas uma desvantagem do processo, pois torna necessária a instalação de sistemas de tratamento de lodo. Soma-se a isso, os custos com o consumo de energia, especialmente no caso do flotador a ar disperso. No entanto, destaca-se como vantagens da flotação: a elevada remoção de sólidos em suspensão, custo reduzido com reagentes químicos (quando comparada à precipitação química) e a reduzida área ocupada pelos reatores. Portanto, assim como em qualquer outra operação, a decisão de sua instalação deve englobar a análise minuciosa dos custos e dos benefícios associados.
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