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DA EXECUÇÃO PENAL

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DA EXECUÇÃO PENAL: OS HOSPITAIS DE CUSTÓDIA E O TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO. 
							
Juliana Abdala Coni.
7AM – Processo Penal.
Alguns homens, quando cometem fatos definidos como crime, por suas particulares condições biopsicológicas, não sabem nem têm a capacidade de saber que estão realizando comportamentos proibidos pelo Direito. São absolutamente incapazes de entender que seu comportamento é ilícito.
 Essas pessoas são chamadas inimputáveis. Em virtude de doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ou embriaguez total, proveniente de caso fortuito ou força maior, são absolutamente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou, mesmo capazes de entendimento, plenamente incapazes de se determinar de acordo com esse entendimento.
A pena criminal só é aplicada ao que, capaz de entender e de se determinar, podia, quando se comportou, saber que realizava fato proibido e que, nas circunstâncias, poderia ter agido de outro modo. São os que cometeram fatos típicos, ilícitos e culpáveis.
Toda vez que o juiz verificar que o acusado da prática do fato típico e ilícito era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entendimento ou de determinação, deverá absolvê-lo, aplicando-lhe, todavia, uma medida de segurança, que é a resposta penal para o inimputável.
A medida de segurança é a conseqüência jurídica imposta ao agente inimputável de um fato típico e ilícito. Se o inimputável tiver praticado fato típico lícito, deverá ser absolvido por ter realizado um comportamento justificado.
São duas e somente duas as espécies de medidas de segurança previstas no ordenamento jurídico-penal: a internação e o tratamento ambulatorial. 
É a regra do art. 96 do Código Penal:
“As medidas de segurança são: I – internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; I – sujeição a tratamento ambulatorial.”
A internação é uma medida de segurança de natureza detentiva, pois priva o internado de sua liberdade, devendo ele ser submetido a tratamento (art. 9, CP). Será aplicada àquele que tiver praticado fato punível com pena de reclusão (art. 97, primeira parte).
Se o fato for apenado com detenção, a medida será de sujeição a tratamento ambulatorial. Essa medida consiste no comparecimento do sentenciado a um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico em dias predeterminados pelo médico, quando será submetido à terapia recomendada.
São dois os requisitos para a aplicação da medida de segurança: a) a prática de um fato típico e ilícito; b) a periculosidade do sujeito.
Periculosidade, conforme o grande advogado e jurista HELENO FRAGOSO:
“A periculosidade é, em substância, um juízo de probabilidade que se formula diante de certos indícios. Trata-se de juízo empiricamente formulado e, por isso, sujeito a erros graves. Pressupõe-se sempre, como é óbvio, uma ordem social determinada a que o sujeito deve ajustar-se e que não é questionada. O sistema se defende aplicando medidas de segurança a pessoas que sofrem de anomalias mentais e que apresentam probabilidade de praticar novos atos que a lei define como crimes.”
As medidas de segurança só poderão ser executadas após o trânsito em julgado da sentença penal que considerou o agente inimputável, ou que determinou a substituição da pena do imputável com capacidade diminuída (chamado semi-imputável) por uma medida de segurança, e depois da expedição da guia de execução, como determina o art. 172 da Lei de Execução Penal:
“Ninguém será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, ou submetido a tratamento ambulatorial, para cumprimento de medida de segurança, sem a guia expedida pela autoridade judiciária.”
Estabelece o § 1º do art. 97 do Código Penal:
“A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo será de 1 (um) a 3 (três) anos.”
O prazo de duração da medida de segurança é, assim, indeterminado, tendo a lei fixado apenas o prazo mínimo, que variará entre um e três anos. 
Manda o § 2º do citado artigo que, ao fim do primeiro ano, o sentenciado seja submetido a exame médico a fim de se constatar se cessou ou continua seu estado de periculosidade.
Esse exame será repetido anualmente e poderá ser feito a qualquer tempo, por determinação do juiz da execução, de ofício ou a requerimento do sujeito ou do Ministério Público. Se o exame concluir pela cessação da periculosidade, pela convicção de que o sentenciado já não é perigoso, deverá o juiz proferir decisão, determinando a desinternação ou a liberação.
Nesse exame serão respondido alguns requisitos para verificar a sanidade do sujeito: como a incapacidade para entender o caráter criminoso do fato, se a periculosidade enseja internação ou tratamento ambulatorial, o prazo mínimo de internação ou tratamento ambulatorial, classificação do examinado pelos peritos como imputável, semi-imputável ou inimputável e se o examinado pode ser dito perigoso para terceiros ou perigoso para si mesmo.
No Brasil, existem aproximadamente 4 mil pessoas internadas em 23 hospitais de custódia. Segundo o censo clínico, elaborado pela Secretaria de Administração do Sistema Carcerário do Rio de Janeiro, em 2007, o perfil dos pacientes judiciários internados é semelhante ao dos demais presos nas penitenciárias brasileiras. A maioria é formada por homens (80%), em média com 39 anos; solteiros (72%); psicóticos (61%). Em sua maior parte, foram aprisionados após cometerem homicídio (55%); 40% dessas mortes foram cometidas contra um parente de primeiro grau.
No último ano, apenas em três estados brasileiros, foram descobertas cerca de 260 pessoas vivendo em Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico brasileiros por terem perdido o vínculo familiar ou pela falta de uma entidade que faça o acompanhamento social ou de saúde desses internos, segundo dados dos mutirões das medidas de segurança do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Os procedimentos adotados nesses hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico que existem hoje não são muito diferentes dos adotados nos já ultrapassados manicômios judiciários com estrutura ambígua e contraditória. Como dizem Ludmila Cerqueira Correia, Isabel Maria Sampaio Oliveira Lima, e Vânia Sampaio Alves: 
“O manicômio judiciário se caracterizava, portanto, como um lugar social específico para o encontro entre crime e loucura. Desse modo, essa instituição apresenta, desde a sua origem, uma estrutura ambígua e contraditória. Enquanto instituição predominantemente custodial, revela, com grades e intervenções psiquiátricas, a dupla exclusão que sofrem as pessoas com transtorno mental autoras de delitos.”
O primeiro manicômio judiciário do país foi fundado no Rio de Janeiro, em 1921. A instituição foi a segunda do tipo na América Latina, depois da Argentina. Idealizado e dirigido pelo psiquiatra brasileiro Heitor Carrilho, o estabelecimento foi reorganizado pelo Decreto nº. 5.148/27.
Em 1927, São Paulo, através da Lei nº. 2.245, instituiu manicômio judiciário, seguido pelos Estados da Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba.
De acordo com Cristiano Carrilho (2004), atualmente, há dois tipos de instituição de assistência jurídico-psiquiátra no Brasil: o anexo psiquiátrico e o manicômio judiciário, cujas funções não se confundem. Os anexos, em tese, se propõem a tratar o criminoso antes do julgamento, durante a execução da pena e também depois, como vistas a prevenir a reincidência dos egressos.
O manicômio judiciário, por sua vez, segundo Carrilho, possui três finalidades básicas: atuar como um centro pericial de observação e tratamento dos internados, prestar tratamento de saúde aos criminosos inimputáveis e atuar como órgão de defesa social.
O Código Penal e a Lei de Execução Penal determinam a internação do inimputável em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. O especial tratamento curativo é um direito do internadoe uma garantia à sociedade, tendo em vista o caráter preventivo da medida de segurança.
Como já havíamos ressaltado que medida de segurança não é pena, mas não deixa de ser uma espécie de sanção penal. Ela será cumprida, preferencialmente, em hospital psiquiátrico. 
No entanto, são raros os hospitais psiquiátricos existentes. Por isso, o tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97, segunda parte, do Código Penal, também será realizado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada.
O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são obrigatórios para todos os internados.
Tal estabelecimento deverá obedecer aos requisitos básicos de salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana.
Em crítica sobre tais estabelecimentos, Renato Marcão (2007, p. 101) adverte: 
“O que se vê na prática são executados reconhecidos por decisão judicial como inimputáveis, que permanecem indefinidamente no regime fechado, confinados em cadeias públicas e penitenciárias, aguardando vaga para a transferência em hospital. De tal sorte, desvirtua-se por inteiro a finalidade da medida de segurança. Ademais, mesmo nos casos em que se consegue vaga para internação, a finalidade da medida também não é alcançada, já que reconhecidamente tais hospitais não passam de depósitos de vidas humanas banidas da sanidade e de esperança, porquanto desestruturados para o tratamento determinado pela lei e reclamado pelo paciente, desprovidos que são de recursos pessoais e materiais apropriados à finalidade a que se destinam.” 
No entanto, hoje, poucos são os estados brasileiros que dispõem deste tipo de estabelecimento ou, caso os tenha, oferecem precárias condições de funcionamento, em desacordo com a lei, constituindo verdadeiros espaços de exclusão, violência e desrespeito aos direitos humanos. São freqüentes as denúncias de maus tratos nestes estabelecimentos.
De acordo com informações divulgadas nos sítios dos Ministérios da Justiça e da Saúde publicadas em sítios da internet, em 2002, apenas 19 estados brasileiros possuíam hospital de custódia. Em julho de 2007, reportagem publicada em sítio da internet, revelou que esse número aumentou para 29. No entanto, de acordo com a referida reportagem, dos hospitais existentes, apenas quatro dispunham de equipes de saúde para atender os internos, que chegam a quatro mil por estabelecimento.
No âmbito federal, esses hospitais, atualmente, vinculam-se aos Ministérios da Justiça e Saúde, que atuam em conjunto na gestão desses estabelecimentos. Em abril de 2002, foi publicada a Portaria 628, formulada pelos citados Ministérios que, pela primeira vez, aprovando o Plano Nacional de Saúde para o Sistema Penitenciário, reconheceram a população confinada em presídios e manicômios judiciários como uma clientela sob responsabilidade também da área da saúde.
No Brasil, é notória a falência do sistema prisional público, com superlotação das cadeias e outros problemas. Ora, se o poder público ignora os direitos do criminoso imputável, dispensando-o tratamento sub-humano e indigno, o que dizer do infrator doente mental, cujo descaso alcança proporções cruéis e assustadoras.
A Promotora de Justiça Inês do Amaral Buschel (2004) referiu que durante anos, no Brasil, dirigentes de manicômios judiciários enriqueceram às custas dos cofres públicos, trancafiando e mantendo pessoas acometidas por transtorno mental, muitas delas apenas alcoólatras ou dependentes químicas.
Antonio Carlos da Ponte, por sua vez, em Inimputabilidade e Processo Penal, referiu:
 “Não se alegue que os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico não se confundem com os presídios. A realidade tem mostrado que as diferenças se situam apenas no campo teórico. A chance de uma pessoa que acuse perturbação da saúde mental recuperar-se em um desses estabelecimentos é nula.”
Em virtude das atrocidades e irregularidades cometidas nos chamados manicômios judiciários, setores da sociedade vêm se mobilizando num movimento anti-manicomial. Em 2001, a Lei Federal nº. 10. 216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, representou um passo nesse sentido.
Mas a referida lei, de apenas treze artigos, limitou-se em versar sobre a política pública para a saúde mental, silenciando quanto aos internados nos manicômios judiciários. Quanto aos hospitais de custódia, o art. 12 da lei, apenas prevê a criação de comissão de saúde para acompanhar a implementação dos mesmos e mais nada. Inês do Amaral (2004-p. 96) alerta para a necessidade de aprimoramento desta lei, referindo que "a saúde mental pede passagem.
Alguns defendem que o especial tratamento curativo dispensado ao louco infrator deve ser incumbido à saúde pública, e não, à Justiça Penal. Já existem, embora raras, experiências interinstitucionais bem sucedidas no sentido de tratar o doente mental criminoso fora do manicômio judiciário, e sim, na rede SUS extra-hospitalar de atenção à saúde mental, especialmente nos Centros de Atenção Psicossocial.
O que é inadmissível, dada à situação de ilegalidade, é permitir que em virtude da ausência de hospitais de custódia ou de vaga nestes estabelecimentos, o doente mental aguarde preso e cumpra medida de segurança nas cadeias públicas.
Infelizmente, é comum hoje as cadeias públicas brasileiras criarem alas destinadas aos inimputáveis, onde os loucos não recebem o tratamento adequado e previsto na Lei de Execução Penal, o que é inadmissível, dada à situação de ilegalidade, é permitir que em virtude da ausência de hospitais de custódia ou de vaga nestes estabelecimentos, o doente mental aguarde preso e cumpra medida de segurança nas cadeias públicas.

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